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ESTA � UMA OBRA DE FIC��O

QUALQUER SEMELHAN�A COM A REALIDADE
� MERA COINCID�NCIA

N�o sabia que voc� havia chegado.

Eu estava lendo quadrinhos.

Desculpe.

Desculpe?

Preciso que me ajude.

N�o posso fazer tudo sozinho.

Se quiser, eu lavo a lou�a.

Eu me mato trabalhando o dia todo

para chegar aqui
e encontrar a casa assim?

Voc� j� est� grande.

Contra a parede.

Contra a parede.

O que foi? N�o escuta?

Contra a parede, eu disse.

A MENTE DO PODER

S�o convic��es priorit�rias
na minha gest�o.

Confian�a cega no meu pa�s,
nos meus parceiros

e na minha equipe
que me ajuda a prosseguir

as negocia��es por este acordo.

Agora a �ltima?

- Acu�a?
- Obrigada.

O que � mais complicado para sua equipe?

Negociar com a oposi��o

ou com as empresas extratoras de l�tio?

O importante � entender
o que � melhor para o pa�s.

Deixar de lado a mesquinhez.

Sempre falamos de atrair investimentos,
de gerar trabalho.

� um objetivo
que todos n�s temos e defendemos,

inclusive a oposi��o.

A menos que os interesses defendidos
n�o sejam os do povo.

Muito obrigada, Sr. Presidente.

Os jovens est�o descontentes.

Est�o pensando em fazer uma a��o
contra a reforma.

Alguma coisa concreta?

N�o, por enquanto n�o.

Mas tenho gente l� dentro,
n�s vamos saber.

Certo.

Preciso que voc� agilize
o assunto de Wuhan Lithium.

Porque os da Lit Corp est�o dentro,
mas os chineses s�o muito duros.

- E esse sorriso?
- J� falei com os chineses.

Robertson est� ciente e deu o aval.

E como voc� n�o me avisou antes?

Achei necess�rio ganhar tempo.

Ainda mais para ficar � frente da S�enz.

Se eu estiver errado, pe�o que me avise.

Voc� deveria ter sido o meu vice.

Eu mataria por um caf�.

Com a��car?

Com informa��o e resultado, por favor.

Recuperei o Victor, sabia?

Essa � sua �nica not�cia?

O Noriega ainda est� no poder.

Entendo minha tarefa t�o claramente
quanto suas amea�as.

N�o precisa ficar assim.

Eu nem mencionei a Sofia.

Muito bem.

Adoro ver voc� no controle.

Agora bem, qual � o seu plano de a��o?

Precisa minar o entorno do Victor.

Destrua-o at� o �mago.

Seu vice-presidente.

O vice � nosso.

Seus lacaios s�o Ana e Luciano.

Ent�o � disso que se trata?

De enrolar o Victor,

de isol�-lo,

de deix�-lo sozinho,

com falta de ar.

E, quando ele perder o controle
e n�o tiver onde se apoiar,

n�s fazemos o nosso trabalho.

Acredito que sei por onde come�ar.

Me avise quando tiver plant�o.

Sen�o fico preocupada.

Voc� n�o respondeu �s minhas mensagens.

O que houve, Sofi?

Nada, querida.

Seu pai. Mais uma vez?

Tudo vai ficar bem, vai ver.

Mas tente n�o pensar tanto
na hist�ria com seu pai, querida.

Sinto que est� presa nos piores anos,
no pior de sua rela��o com ele.

E tudo o que � bom?

Voc� e ele eram insepar�veis.
Voc� me contou isso uma vez.

Sim, minha m�e sempre nos dizia isso.

Que �ramos iguais.

Mas eu juro que eles eram
como se fossem uma pessoa s�.

Isso me irritava.

Porque quando minha m�e
come�ou a piorar,

apareceu um tratamento
que podia cur�-la.

Uma droga experimental,

que aqui estava proibida
e era impag�vel.

E apareceu tamb�m esse cara,
que tinha...

- Tinha os contatos.
- Quem era esse cara?

O Noriega.

J� era paciente do meu pai
naquele momento.

E o que aconteceu?

E... Nada.

Nada, n�o aconteceu nada, como sempre.

Falsas expectativas.

Sim, mas voc� tem raz�o.

Estou me enrolando
em todas as coisas ruins.

Talvez eu precise
me distanciar um pouco.

Vai dar tudo certo, vai ver.

Voc� poderia trocar esse sof�.

Da �ltima vez,
voc� tamb�m estava desconfort�vel.

Te incomoda vir aqui?

N�o vou mentir.

�s vezes penso que o presidente
tem coisas melhores para fazer

do que ficar preso no tr�nsito
duas vezes por semana.

� por isso que � importante
que voc� venha,

para que seu sistema de cren�as
n�o seja distorcido.

Pensei que era s� um jogo de poder.

�, mas � um jogo com voc� mesmo.

Tem que demonstrar a voc�
que meu tempo vale.

Agora que voc� � presidente,
o problema n�o � o poder.

� a onipot�ncia.

Senti sua falta, Dorrego.

Como est� com seu pai?

Cada vez melhor.

Mas ainda estou com raiva.

Tenho discuss�es imagin�rias
o tempo todo.

Brigas.

Enquanto tomo banho,

ando de bicicleta.

� um processo lento, Victor.

Mas vem melhorando.

Continua pensando naquele encontro?

N�o.

Est� no passado.

Com a Ana, como est�o?

Bem.

Sei l�...

E no trabalho?

Agora voc� se interessa por pol�tica?

Falo de suas rela��es,

de seu c�rculo de confian�a.

Confian�a � uma palavra importante
para o mundo em que vivo.

Luciano?

N�o o vejo como pol�tico.

� minha m�o direita.

Seus interesses s�o os meus.

Como um empregado?

Um amigo?

Tamb�m n�o.

Eu diria...

Como um irm�o?

N�o, n�o iria t�o longe.

O que voc� anota nesse caderno?

Eu adoraria ver.

Voc� iria se decepcionar.

Tente n�o idealizar o Luciano.

Ningu�m � perfeito.

Achei que viesse aqui
para ter uma perspectiva.

Sem perspectiva,
� muito dif�cil ver que a f�

e o medo s�o dois lados da mesma moeda.

Em geral, os la�os mais estreitos
costumam ser

os mais prejudiciais.

Eu seria cauteloso.

Os parlamentares radicais
n�o querem ceder.

Voc� disse que n�o haveria problema.

Sempre h� problemas.

Se o seu chefe continuar me sacaneando,
vai custar caro para todos n�s.

Ajude-a.

Ajude a Renata a recobrar o ju�zo.

O presidente tem que mostrar avan�os.

Avan�os? E o que ganho com isso?

Se chegarmos a um consenso,
voc� ter� seus privil�gios.

Quero um cheque em branco.

Sim, e uma casa em Miami tamb�m?

N�o, s� um cheque em branco.

Vou me encarregar de amolecer a Renata.

Direi a ela que o presidente demonstrou
interesse em nos aproximar.

- Concorda?
- Gostei.

Certo.

Voc� parou de beber?

Vai come�ar com isso de novo?

Reduz seu desempenho. Sei bem como �.

Lidamos com muita press�o.
Temos que estar bem.

Press�o teve meu av�, Luciano.

Exatamente.
Cuide-se, porque isso � heredit�rio.

Com essa terminamos, Sr. Presidente.

O decreto entrou?

Estar� pronto amanh� de manh�.

O que � isso?

� uma carta aberta dos ativistas da TGA
que se manifestam contra a reforma.

- Vou ler mais tarde. Obrigado.
- Tudo bem.

E quando a Ana vai voltar?

J� est� voltando.

Pronto.

PRIMEIRA-DAMA VISITA
AS FAM�LIAS DAS V�TIMAS

ESPOSA DO PRESIDENTE RESOLVE O CONFLITO

Se precisar de algo,

estou aqui para voc�.

Obrigado.

Com licen�a.

Bom, aqui encontrei duas passagens.

Paris, escala Amsterd�.

N�o est� se apressando demais?

N�o quer vir, n�?

Com voc�, vou at� o fim do mundo, amor.

Mas agora estamos em algo importante,

vamos apresentar este comunicado
no Congresso.

Se n�o pararmos o projeto agora,
n�o teremos chance.

Sim.

Penso em meus problemas o tempo todo.

Fa�a uma coisa, compre sua passagem.

Quando as coisas se acalmarem aqui,
irei para l�.

Tem certeza?

Para chegar longe, tem que se mover.

No in�cio, fiquei preocupada.

Eles me olhavam
como se eu fosse o dem�nio.

Respirei fundo. Tomei coragem.

Falei direto
que voc� n�o se sente culpado,

mas se sente respons�vel.

Que tudo a partir de agora ser�
para reparar os danos de uma situa��o

com a qual ningu�m soube lidar.

Um argumento arriscado.

Mas funcionou.

As mulheres sabem
que seus maridos eram agitados

e estavam um pouco b�bados
na noite dos tumultos.

Talvez o ex�rcito
tenha feito um favor a elas.

Jamais repita esse coment�rio
na frente de ningu�m.

- � piada.
- Pela qual pode ser crucificado.

Sim, eu sei.

Agora vamos relaxar.
Vamos aproveitar a vit�ria.

Estou cansada, o avi�o me faz mal.

Renata S�enz concorda em encontr�-lo
pessoalmente amanh� de manh�.

� necess�rio?

- Fundamental.
- Fundamental.

Se quisermos que a lei avance
sem mais atrasos e gere consenso,

acho que � aconselh�vel, sim.

Certo, vamos fazer isso.

Quero jornalistas, fotos, c�meras.

Que seja visto como um grande passo.

Eles pararam com isso em muitos pa�ses.

O problema � que esses filhos da m�e
acham que aqui,

no fim do mundo, todos temos um pre�o.

� assim mesmo, cara.

Como acha que aprovaram
o desmatamento no norte?

Est� agendado para quinta-feira.

- Para quando?
- Na quinta-feira, os canais n�o podem,

porque precisam ir a C�rdoba.

S�bado.

Sinto que no s�bado
as coisas estar�o melhores.

Prefiro, � melhor.

Volto j�, s� um segundo.

O que est� fazendo aqui?

N�o pude encontr�-la
e fiquei preocupado.

- Vamos fazer as pazes.
- N�o precisamos fazer as pazes.

- Como sabia que eu estava aqui?
- Pelas redes sociais.

Pe�o desculpas. Sei que deveria
ter dito que voltei a ver o Victor,

- mas n�o tive escolha.
- N�o me importa.

N�o me importa o que voc� faz
ou deixa de fazer com ele.

Al�m disso, j� � tarde.

Tarde para qu�?

Eu vou embora.

Por alguns meses.

Para a Fran�a.

- Para a Fran�a?
- Pai, n�o diga nada.

N�o vamos falar sobre isso agora,
este n�o � o lugar.

Tchau.

Gal�ndez, Vilela e Raimondi
nos garantem o centro.

E temos os Navarros,
que nos trazem todos os votos do sul.

E no interior do estado?

O cachorro.

Um imposs�vel.

Que encorajador!

Las S�enz colocou
todo o norte contra n�s.

Aproveite seu u�sque.

Eu cuidei da bancada da Renata.

O qu�?

Eu me antecipei, como aconteceu
com Robertson. Isso n�o o incomodou.

N�o me preocupa que voc� se precipite.

O ponto � com quem.

Ela nos conhece muito.

Por isso a reuni�o de amanh�
� importante.

Renata � espuma, grito, raiva.

Mas ela perde a vota��o e sabe disso.

Certo.

Quero ver voc� quando chegar a hora.

Ele vai conciliar.

Confie em mim.

Ficamos at� tarde hoje.

Por isso n�o gosto de te ver � noite.

S�o s� 11h da noite.

Para minha rotina,
� como se fosse tr�s da manh�.

Voc� tem a desculpa do plant�o.

Antes de esquecermos, voc� trouxe?

Antes de esquecermos?

Como se n�o estivesse pensando nisso
desde que chegou.

Como fez enquanto estive fora?

Fui aos poucos.

Voc� parece tranquilo.

Gosto disso.

O que est� fazendo?

N�o tenho mais, vou fazer uma receita.

Voc� me ligou ontem
de um n�mero desconhecido?

N�o, voc� atendeu?

Sim.

E ontem me ligaram de novo.

Na mesma hora.

Mas desligam.

N�o d� import�ncia a isso.

N�o vou.

Est� na medida,

ent�o nos veremos em breve.

Amor...

Como voc� est� bonito.

Voc� est� t�o bonito.

Pedro?

Voc� se sente bem?

� mais f�cil se me disser a verdade.

Foi um acidente.

Minha filha deixou
o computador aberto e...

N�o fiquei muito tempo. Eu juro.

Vi que as criptomoedas
estavam caindo e...

N�o sei o que aconteceu.

- E comecei.
- Come�ou com o qu�?

Comecei com tudo.

Com criptomoedas, pornografia e hacks.

Tive que liquefazer alguns LPS,
tive que vender alguns Axis.

Roubei alguns v�deos de uma garota.

Estava muito f�cil.
N�o consegui aguentar.

Se isso vier � tona,

afetar� os pre�os das a��es
da minha fam�lia.

Acalme-se, Pedro.

Est� angustiado. Respire.

Isso pode ter consequ�ncias.

Voc� est� em liberdade condicional.

Preciso que voc� assine os pap�is.

N�o posso viver assim.

N�o sei explicar o que acontece.

Sinto n�useas
e tenho pensamentos sombrios.

Estou com medo.

Estou com muito medo.

Acalme-se, olhe para mim.

Acredite, sei exatamente
como voc� se sente.

Sei que � uma ang�stia indescrit�vel.

Um vazio f�sico, certo?

Mental, espiritual.

Preciso que voc� assine os pap�is.

Preciso acabar com essa tortura,
por favor.

Outro dia, eu disse a um paciente
que o medo e a f�

s�o dois lados da mesma moeda.

Voc� confia em mim?

Sim.

Acho que a abstin�ncia total
n�o est� funcionando.

Talvez possamos tentar
uma terapia de exposi��o.

Permitir gradualmente o contato
com a tecnologia

para que voc� aprenda
a controlar seus impulsos.

Talvez seja um pouco audacioso.

Audacioso?

Tenho um paciente
que � um risco para si mesmo.

E acho que ele esconde algo de mim.

N�o sei bem o que �.

Voc� poderia investig�-lo.

Poderia fazer isso daqui,
do meu computador.

Voc� estaria seguro,
e eu poderia supervision�-lo.

E voc� assina os pap�is?

Claro, se a terapia funcionar, assino.

Posso ser �cido e at� hip�crita,
mas n�o sou um idiota.

Estou nesse barco desde o in�cio.

Fui um dos primeiros a apoiar Victor

quando ele fez da megaminera��o
o ponto central de sua campanha.

Eu paguei o custo pol�tico.

- Achei que isso era s�rio.
- � s�rio.

Mas essa � uma ordem direta
do presidente.

Figueroa,

vai me dizer que n�o pediu por isso.

Eu tenho uma fam�lia.
N�o podem fazer isso comigo.

Est�o me obrigando a me retirar.

Deixe esfriar e, em alguns dias,
trarei o assunto de volta.

Sim? Vamos encontrar uma solu��o.

Com licen�a, um minuto.

- Ana.
- Sim.

- Voc� tem um minuto?
- Sim, fale. Obrigada.

Gostaria de parabeniz�-la.

O que voc� fez no norte
n�o foi pouca coisa.

Essas pessoas nos incomodavam.

Nem todas as rela��es nascem
sem problemas, voc� sabe disso.

Refere-se � nossa rela��o?

Nossa rela��o?

De repente, somos amigos?

N�o, n�o, claro que n�o.

Mas somos aliados.

Luciano, deixe-me esclarecer algo
para voc�.

Voc� � um profissional nisso,

o que eu valorizo e respeito.

Mas eu, al�m de ser a primeira-dama,

sou a arquiteta da constru��o
do poder do meu marido.

N�s n�o tivemos um bom come�o.

Nem durante a campanha
nem durante o mandato.

Mas Victor precisa de n�s juntos.

Concordo plenamente.

- � melhor esclarecer as posi��es, n�o �?
- Muito melhor.

As grandes decis�es
�s vezes s�o demoradas.

Veja, quando decidi descentralizar
o governo,

fui criticado por todo mundo.

Hoje ningu�m questiona a efic�cia
da minha gest�o.

As grandes decis�es sempre precisam
de consenso, n�o � mesmo?

E tamb�m que voc� inclua
o meio ambiente.

A lei do l�tio inclui o cuidado
com o meio ambiente, Renata.

Inclui?

E quanto �s cl�usulas secretas?

N�o h� cl�usulas secretas, Renata.

Podemos pensar de forma diferente,
mas, no fundo,

sabemos que n�o somos muito diferentes.

Por favor, n�o me diga isso.

N�s n�o temos nada a ver,
n�o me coloque no mesmo saco.

Com essa hostilidade,
voc� ficar� sozinha.

At� mesmo os parentes das v�timas
que voc� supostamente defendeu

est�o agora do nosso lado.

Confesso que as fotos s�o realmente
impressionantes, muito convincentes,

mas esse foi um crime aberrante
cometido com as leis do Estado.

E quero que saiba que vou
denunci�-lo ao Tribunal Internacional.

Ent�o, por que veio aqui?

Porque quero ver voc� cair.

Fotos?

Alguma declara��o
para a Ag�ncia Nacional de Not�cias?

Sim, gostaria de dizer
que sou muito grata ao Presidente

por nos permitir participar
da elabora��o do projeto de lei.

Muito obrigado.

N�o entendo a quest�o dos im�veis.
Como �?

Em 2002, o patrim�nio de Luciano
se multiplicou por cinco.

Essas declara��es de propriedade
s�o volunt�rias.

Ou seja, se n�o solicitar
detalhadamente,

n�o aparecer�o em lugar nenhum.

Ele fez um grande neg�cio
ou obteve um retorno pol�tico?

N�o. E � a� que entra o registro.

Procurando os n�meros de registro
dos lotes que est�o em nome de Luciano,

consegui acessar
as escrituras originais.

Essas s�o de San Jos�, Entre Rios.

Com o IP que o munic�pio usa
para carregar a documenta��o na nuvem,

consegui baixar tudo e filtrar
as informa��es com o MSP.

E foi a� que encontrei
esses quase 100 hectares,

que antes estavam no nome
do pai de Luciano Giancara.

Heran�a?

N�o � t�o simples assim.

Dois meses antes da morte
do pai de Luciano Giancara,

ele recebeu uma doa��o em vida

da totalidade do patrim�nio de seu pai.

Ele fez os registros estaduais
e ficou com tudo.

Pouco tempo depois,
o pai morreu em um inc�ndio.

Em 2002, esse tipo de tecnologia
n�o existia,

e acho que hoje tamb�m n�o existe
em San Jos�.

Mas veja s�.

� falsificado.

� mais do que isso, Marcos.

H� cart�rios fraudulentos aqui.

H� muita evas�o fiscal
para n�o pagar imposto sobre heran�a,

h� registros fraudulentos.

Isso n�o pode ser coincid�ncia.

As evid�ncias est�o a�.

S� que ningu�m conseguiu junt�-las.

Obrigado por vir at� aqui.

Depois do que falamos no outro dia,
isso � muito importante.

Sim, eu sei. Sen�o, eu n�o teria vindo.

Voc� tinha raz�o.
O idiota do Luciano fez cagada.

- Eu usei essas palavras?
- N�o importa.

Mas ele subestimou os advers�rios.

Fui l� pensando
que encontraria uma tr�gua

e acabei encontrando um duelo.

Agora S�enz sabe
que estou disposto a negociar.

Com quem voc� est� bravo, Victor?

Lembra que outro dia eu perguntei
se Luciano era como um irm�o para voc�?

�s vezes, os la�os de trabalho
se tornam la�os familiares

e a pessoa perde a objetividade.

Mas tamb�m julgamos nossos irm�os
e os condenamos.

Luciano tem uma hist�ria muito dura.

N�o cabe a mim conden�-lo.

Posso ser como um irm�o para ele, mas...

N�o digo que voc� o condene.

S� digo que se permita olhar
para ele de outro �ngulo.

Se d� a op��o da d�vida.

Assim, voc� poder� analis�-lo
como se n�o fizesse parte da fam�lia.

Entendo.

Est� me pedindo para ser objetivo?

Prudente.

Para que seus passos n�o sejam em falso.

Eu deveria investig�-lo.

Investig�-lo pode ser demais.

Al�m disso,
eu nunca diria a voc� o que fazer.

Mas voc� diz que Luciano
� capaz de me prejudicar?

Quero falar com voc� um instante.
Pode ser?

Sim, claro que sim.
Voc� sempre tem prioridade.

Bem, com voc� eu sinto que...
Como posso dizer?

� algo que flui naturalmente, n�o �?

Mas com o Victor � dif�cil, � inc�modo.

O que voc� me pediu para fazer
n�o vai dar certo.

Uma garota como voc�?

T�o linda, t�o interessante, t�o...

Culta.

O que voc� acha t�o dif�cil?

N�o me sinto confort�vel.

� isso.

Quero dizer, posso fazer meu trabalho,
mas com o Victor...

N�o posso dar esse passo.

Seu trabalho

� o que n�s combinamos.

Voc� e eu temos

um acordo.

Voc� trabalha aqui.

Ganha bem.

Continuamos com nossos neg�cios...

- Mas...
- N�o fa�a isso comigo.

Voc� tem alguns minutos?

Assim.

Conhe�o a Renata h� anos.

Sei exatamente como lidar
com pessoas como ela.

Ela parece amea�adora,
mas s� quer assust�-lo.

Voc� vai me deixar?

O qu�?

Vamos usar a m�dia para mostrar
que estamos abertos ao di�logo.

N�o vamos negar nada.

Enquanto isso, pe�o uma reuni�o

e deixo claro que as comunidades
est�o fora de perigo,

que os recursos ser�o bem administrados

e que a investiga��o judicial nos isenta

de qualquer responsabilidade
por essas mortes.

Tente, pode funcionar.

Estou muito incomodado.

E preciso que voc� seja honesta.

Voc� acha que o Luciano � confi�vel?

Voc� n�o encontrar� outro como ele.

Ele � brilhante.

Ele � l�cido.

Tem reflexos r�pidos.

Ele antecipa cada jogada.

O que h� nele que voc� n�o gosta?

No Minist�rio da Sa�de,
assim que o conheci,

percebi que ele era um cara

que prestava aten��o,
observava e ouvia tudo.

Bem, e voc� teve a lucidez
de se tornar o chefe pol�tico dele

depois que ele abandonou o Minist�rio.

Ou ele me escolheu?

Tem medo de que a hist�ria se repita?

� normal duvidar
das pessoas ao seu redor

quando voc� exerce tanto poder.

Venha, podemos relaxar um pouco?

Sem press�o, sem nada.

Convide-me para um spa.

Voc� cairia no sono.

Quero que nos divirtamos.

Sim.

Um jantar rom�ntico amanh� � noite.

- Adoraria.
- Gostou?

Sim.

Eu cuidarei disso.

- O que faz acordada?
- Quero terminar isso.

O pedido de cidadania
me pede alguns documentos

da minha m�e que eu n�o tenho.

Eu ajudo voc� amanh�.

Procuramos por eles e fazemos isso.

N�o, est�o na casa do meu pai.

Ligue para ele e pergunte.

N�o quero contar a ele
que quero tirar a cidadania.

Ele j� sabe que voc� vai embora.
O que muda?

Ele vai pensar que quero ficar l�.

E n�o quero contar isso a ele.

Bom...

Pare um pouco com o orgulho, Sofia.

Pode deixar. E n�o se meta
na minha rela��o com meu pai.

Pode deixar.

Entre, Hern�ndez. Desculpe-me pela hora.

Sem problema, Sr. Presidente.

Luciano Giancara.

Eu vou investig�-lo.

Toda a hist�ria dele.

Entrarei em contato
com os servi�os agora mesmo.

Com sigilo.

Reporte-se diretamente a mim.

Entendido, Sr. Presidente. Com licen�a.

Por que n�o avisou que viria?

S� preciso de uns documentos
da minha m�e.

Como voc� entra desse jeito?

Bem, tamb�m � minha casa.

Documentos para qu�? Para a viagem?

Sim.

Podemos conversar?

J� chega.

Sobre o que quer falar? Sobre isto?

Voc� acha que isso n�o � dif�cil
para mim, n�o �?

Voc� est� se irritando
com a pessoa errada.

� mesmo?

E com quem voc� quer que me irrite?

Com a mam�e?

Eu adoraria. Mas ela est� morta.

- Eu s� queria conversar.
- Sim.

Esse � o seu terreno.

O das palavras.

Mas nem tudo se resolve
conversando, sabia?

E, para mim, � ruim ver voc� assim.

Ent�o, se voc� n�o vai fazer nada
para melhorar, prefiro ficar longe.

Sim?

Vou subir.

- Voc� queria me ver?
- Por favor, sente-se.

Qual delas?

� a mesma coisa.

"Eu, Luciano Giancara, no cargo
de secret�rio pessoal do presidente,

pe�o a demiss�o imediata do meu cargo."

O que � isso?

Voc� mandou que me investigassem.

Por um boato?

Aparentemente, foi mais do que isso.

Quem mandou voc� fazer isso, Victor?

O que ganhamos ao remexer no passado?

Voc� ganhou.

Terrenos, fazendas...

O que mais estava em jogo?

Voc� n�o pode acreditar nisso.

Acredite que estou resistindo.

Sei que voc� � ambicioso,
mas n�o por coisas materiais.

Sua ambi��o � por outra coisa.

Lideran�a, controle, poder...

� mentira?

Quando Freud falou em matar o pai,
tratava-se de uma met�fora.

Luciano foi muito al�m
e levou isso ao p� da letra.

Voc� est� dizendo que...

N�o, ningu�m sabe de nada, � claro.

Ele estaria apodrecendo na cadeia.

Que ato mais grotesco!

Como deve ser a sensa��o
de matar o pr�prio pai?

Voc� me deixou sem palavras, Victor.

O que voc� vai fazer?

Primeiro, garantir
que essa informa��o n�o venha � tona.

Consegue imaginar?

O bra�o direito de Victor Noriega,
assassino parricida.

Mas o que vai fazer com o Luciano?

Pedi a ele que se demitisse.
Ele n�o me deixou escolha.

Mas fiquei intrigado
e tive que perguntar a ele o motivo.

Eu precisava entender.

Achei que sabia tudo sobre voc�.

Percebi tarde demais
que n�o o conhe�o de fato.

Mais do que voc� pensa.

Voc� est� certo.

N�o foi por gan�ncia.

Mas tamb�m n�o foi por poder.

Meu pai tinha o poder na cidade.

Nunca tive interesse em disput�-lo.

Meu irm�o.

Irm�o?

O relat�rio diz
que voc� n�o tem fam�lia.

N�o com o mesmo sobrenome.

Meu irm�o mais novo, na verdade,
decidiu mudar o sobrenome.

Meu pai...

Meu pai abusou de mim
quando eu era crian�a.

Eu tinha sete anos quando isso come�ou.

Consegui resistir.

Aqui estou eu.

Mas quando eu cresci...

E ele mexeu com meu irm�o,
jurei que nunca o perdoaria.

N�o seja covarde, Luciano.

Qual �, os homens s�o criados
na inf�ncia.

H� algo que nunca contei a voc�,
Dorrego.

Por vergonha.

O abuso do meu pai tamb�m
n�o se limitava � viol�ncia verbal.

Por isso, pergunto a voc�.

Eu deveria banir o Luciano?

Sim. Deveria.

Mas...

Posso?

N�o, porque eu o entendo.

CENA DE CRIME
N�O PASSAR

Eu o admiro.

Eu o invejo, at� mesmo.

Ele teve a coragem de fazer
o que eu nunca consegui.

E eu n�o fui impedido pela piedade...

nem pela empatia.

N�o fiz isso porque teria sido o fim
de minha presid�ncia.

Do meu casamento.

E da minha liberdade.

S� por causa disso.

Sabe o que acontece, Marcos?

Somos animais.

E alguns de n�s est�o feridos.