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Entardecer

Que pesada.

Annette, o anel...

Voc� tomou seus medicamentos?
- Confie em mim.

N�o me pergunte sempre.
E cansativo.

Isso � tudo que voc� quer saber sobre
mim?

N�o devia acordar voc�
quando voc� est� dormindo.

Acho que seria terr�vel te acordar.

Mas voc� est� apenas dormindo.

Ent�o, por que voc� quer me acordar?

Tudo bem, tudo bem. N�o quero.

Ent�o, onde � que est� o problema?

Voc� � jovem e eu sua �nica
companhia.

N�o � isso.
- Ent�o, o que �?

Voc� est� com bloqueio?
- Na escrita? N�o.

N�o consigo parar.

Estou com medo de parar.

N�o � normal.

N�o ag�ento isso.

N�o sinto mais nada.

Como vai voc�?

Se voc� n�o vai bem,
eu tamb�m n�o.

Mas voc� n�o precisa de mim, precisa?
- Preciso.

De que uma pessoa precisa?

De coragem e de bom senso. Esperan�a.

Cren�a.

Em que voc� acredita?

Em momentos especiais.

Na maioria das vezes, inesperados.

As coisas s�o mais f�ceis
quando se � modesto.

Estou exigindo demais?

Sim, mas o qu�?
- N�o estou exigindo nada.

Estou tentando dar alguma coisa.
Entende?

Voc� me entende?

Azul.
- Oi, maninho.

Oi.

Posso jogar?

Ela pode jogar?
- Logo.

De novo.

Quanto tempo falta para acabar?
- N�o sabemos.

Mimmi est� ganhando de mim.

Onde est� o tapete?

Na tinturaria?

Vermelho.

Estou com fome.

Azul.

Mimmi ficou com o meu quarto.
N�o sabia.

N�o me perguntaram.

Eles deveriam ter telefonado
e me perguntado.

Mas quando Mimmi quer alguma coisa...

Peguei o quarto de h�spedes.

J� n�o tenho um quarto direito.

N�o consegui dormir na �ltima noite.

E quando adormecia, acordava de novo.

Era uma e meia
e acordei novamente.

Quando � imposs�vel ficar quieto
e tudo co�a,

e voc� est� exausto e suando...

Entrei no quarto de Mimmi.

Vi que a luz no seu quarto
j� estava apagada.

E me deitei
perto da Mimmi na minha antiga cama.

E voc� p�de dormir?
- Pude.

Ia acordando
mas n�o foi t�o ruim.

A� os passarinhos come�aram a cantar
e clareou.

Ent�o voltei r�pido
para o outro quarto.

N�o queria que me encontrassem l�.
Mas � bobagem.

Agora est� tudo diferente.

Oi, m�e.

Voc� est� aqui.

N�o sabia o que comprar.

Da pr�xima vez trago alguma coisa.
- Tem iogurte.

Cad� a Agnes?
- Est� l� fora.

Do que voc�s est�o a fim?
- De nada.

Vou tomar banho.

Querem comer alguma coisa?
- Agora, n�o.

Olhe as flores.

J� as vi.
S�o para mim? Obrigada.

Vou tomar banho.

M�ezinha.
- Estou aqui.

Adivinhe quem ganhou.
- Alex.

N�o. Eu tinha duas vezes quatorze.

Porque antes eu tinha um zero,

e trocamos as cartas
Alex queria.

E ent�o o Alex colocou o azul
um quatro azul.

Eu tinha um zero azul
a� trocamos as cartas.

Antes Alex tinha duas de quatorze,
depois eu.

Eu tinha cinco cartas ruins,
depois o Alex ficou com elas e eu ganhei.

Voc� entende? O que voc� est� fazendo?

Vou consertar minha bicicleta
e depois vou � ag�ncia de viagens.

Qual ag�ncia de viagens?

O colarinho est� desprendendo.

N�o posso jog�-la fora.

Acho que tenho de
comprar mais camisas para o Alex.

Voc�s est�o se entendendo?

O que voc� quer dizer com isso?

Voc� e Alex, est�o se entendendo?

Diga alguma coisa?

Acho que sim.

O que significa isto?

N�o se preocupe.
Estamos nos entendendo.

N�o sei o que voc� pensa...

Alex parece terr�vel.
- N�o?

Sim, se voc� n�o
o viu por um per�odo.

Diga alguma coisa.
- Ele concentrou-se no essencial.

O qu�?

Voc� n�o est� ouvindo.

O m�dico vem regularmente?

Vem. Ele n�o tem nada,
est� fraco, isso � tudo.

E ficar� ainda mais fraco,
precisamos ser atenciosos com ele.

Algumas pessoas enfraquecem aos 8O,
outras aos 6O.

E outras, quem sabe quando.

E onde est�o os tapetes?
- Vendidos.

Voc� n�o est� falando s�rio?

Est�o na tinturaria.

Ent�o qual?
- Eu os vendi.

Mas a gente est� se virando.

E o que voc� fez com o dinheiro?
- M�e.

Aqueles tapetes antigos.

Aquele do seu quarto ainda est� l�.
- E o dinheiro?

Nada m�e.
O que voc� vai fazer com o dinheiro?

Umede�a esta camisa,
sen�o voc� levar� horas para pass�-la.

Normalmente as passo quando est�o �midas
mas no momento est�o secando t�o r�pido.

Por que voc� passa roupa?
Eu nunca passei.

Pode ser.

N�o pod�amos mais ver
os tapetes.

N�o pod�amos mais
v�-los.

N�o ganhamos dinheiro nenhum.
Eles est�o � venda por comiss�o.

Ent�o eu poderia ir peg�-los.

Se eu disser onde � a loja.

Alex foi deitar?
- Provavelmente.

Quanto tempo ele dorme?
- At� �s quatro e meia .

Voc� ainda est� comendo?
- N�o.

Agnes, o pai est� procurando voc�.
- O que ele quer?

Posso pegar algumas cerejas?
- Claro.

Voc� precisa lav�-las.
- Elas s�o do jardim.

Que t�dio. Vamos nadar?
- Mais tarde.

O que o pai queria?

Voc� pode ir. Eu termino isso.

Vou levar o lixo para fora.

Por que o carro n�o liga?

Por que voc� quer o carro?

Um encontro.

Na cidade?
- �, na cidade.

E o seu carro?
- Por que voc� n�o pega um t�xi?

Um t�xi?

S�o muito caros.
E tenho de voltar.

Ou de trem.
- Eu poderia cancelar.

Me empreste o carro, tomo cuidado.
- Toma mesmo cuidado.

Vou entrar.

Para qu�?

Voc� empresta para m�e, mas n�o para
mim. -N�o queria emprestar para ela.

Ela arranjou um novo amante.
- Eu sei.

E agora o carro tamb�m.

Se eu desse pra voc�,
Nunca mais o veria de novo.

Voc� o trataria como uma camisa nova.

Voc� o receber� quando eu morrer.
- Quando voc� morrer? - �.

O que est� acontecendo?
- Nada, s� estou procurando a chave do carro.

Sim, mas ela n�o est� aqui.

Sim, mas n�o posso ajud�-la.
Contate o agente dela.

Lamento, n�o posso ajudar.

Alex?

Por que est�o todos dormindo?

N�o durma n�o.

O que voc� est� fazendo?

Estou corrigindo os erros.
Mas n�o h� muitos.

J� li isto tantas vezes,
n�o deveria restar nada.

Voc� deveria entreg�-lo.

Por que voc� n�o o entrega?

Voc� est� lendo?

Estou.

De quando �?
-De quando?

De agora.

""Com as pernas arranhadas, fit�vamos
o mar aberto atrav�s das ameias.""

Este � o fim?

Estou assombrando voc�.

Vou fazer um pouco de sombra para voc�.

Voc� n�o quer sombra?

Quero.

Este chap�u est� caindo aos peda�os.

Quatro e meia.

O que voc� faz
nestas longas tardes?

Escrevo.

�s vezes jogo xadrez com o Alex.

Estive vendo
recentemente os pap�is e as contas dele.

Por assim dizer, o que sobrou deles.

�s vezes durmo.

E penso em voc�.

Me pergunto o que voc� est� fazendo
e vestindo.

Com quem voc� est� falando?

E tenho certeza
que voc� n�o pensa em mim.

Tenho certeza que perdi voc�.

� uma sensa��o estranha
de perder algu�m, uma pessoa.

N�o sabia.

O qu�?

Que voc� havia me perdido.

Voc� n�o notou.

Voc� sabe, � terr�vel.. .

Diga.

Sua auto-confian�a.

Voc� � sempre t�o auto-confiante.

Isso n�o entedia voc�?

Mas voc� nunca est� entediado.
Voc� n�o sabe o que � t�dio.

Como isso � deprimente.

Ent�o por que voc� veio?

Por causa das f�rias.

� claro que eu viria.

A prop�sito, vi a Irene no teatro.

Eu a via na sua nova pe�a.

Voc�?
- �.

Voc� n�o est� interessado?
- Estou.

Foi �timo.

Havia uma cena na qual
ela brincava com um cachorro.

Voc� j� a tinha visto?

Muito tempo.

Nunca a tinha visto
brincando com um cachorro aqui.

E nunca tinha visto ningu�m
encenar com um cachorro no palco.

Foi estranho.

Acredito.

Mas o cachorro estava �timo.
E ela atuou muito bem.

Como se n�o estivesse no palco,

mas fora, no campo
completamente s� com o cachorro.

Ela n�o tinha nada.
Nenhum pauzinho ou bola.

Parecia estar arremessando
alguma coisa.

Que o cachorro trazia de volta.
Mas ele tamb�m n�o tinha nada.

Ela o acariciava
e segurava algo diante dele.

Voc� sabe o que quero dizer?

N�o sei como ela fazia.
� um mist�rio.

N�o estou mais interessado
na minha m�e.

Foi maravilhoso.
- Voc� est� me ouvindo?

Voc� envelheceu.

Envelheci?

H� um monte de coisas interessantes.

� sempre assim, nunca mudar�.

Quando estou sozinha,
vejo tantas coisas.

Todas as coisas girando ao meu redor
e estou feliz.

E penso que preciso encontrar
algo decisivo que me leve para adiante.

E se falo com algu�m,
isto n�o � algo decisivo.

Mas sei que est�
escondido em algum lugar.

Poderia ser em qualquer lugar.
Voc� nunca sabe.

� alguma coisa que tem a ver comigo.

Surgiu porque questionei

o que ningu�m questionou ainda.

Porque meus pensamentos s�o s� meus.

Eles surgem atrav�s daquilo que vejo.

Quando vou dormir
fico contente de poder acordar.

Estava esperando vir aqui.

Porque � uma parte de mim.

Pensei sobre respirar melhor

reconhecendo
e experimentando tudo de novo.

O lago e o gramado,
meu antigo quarto, a casa de voc�s, tudo.

Mas...

Mas � tudo s� um cansa�o,
e voc� � como uma pedra no meio.

� t�o entediante.

Mas tamb�m estou vivo.

Eu sei.

Veja o seu rosto.

Eu o conhe�o h� tanto tempo.

E conhe�o a sua voz
e o seu corpo inteiro.

Conhe�o tudo isso.

E tudo isso � uma parte de mim.

Mas quando n�o estou aqui � muito f�cil,
� como se eu fosse nova.

Mas quando vim, de repente
me senti paralisada.

Desculpe.

Desculpe.

� s� um momento, vai passar.

Tenho de me acostumar novamente a tudo.

Que tudo � t�o calmo
que n�o h� nada aqui.

Que voc� est� sentado aqui como sempre.

Como se sempre estivesse sentado aqui.

Me larga.

Me larga.

Voc� sabe o que ele escreve?

Pe�as de teatro.

Tudo bem?

Oi.

Onde voc� est� indo? Esta � a Agnes.

Ela mora ao lado.
Quero dizer, ela morava.

Ela est� na universidade.

Max Hruby.

Muito prazer.

O Konstantin est� l� em cima?

Devo ir cham�-lo?
- Voc�s dois v�o fazer algo?

Vamos para o lago.
Voc� gostaria de vir tamb�m?

Poder�amos ir nadar, se voc� quiser .

Temos sempre roupas de banho
extras.

Vou perguntar se ele quer vir.

A �gua deve estar morna.

O que voc� disse?

Vou me trocar.

N�o o encontrei.
Onde est� a Irene?

Em algum lugar l� dentro.
Voc� gostaria mesmo de ir nadar?

E voc�?

S� preciso ir para casa.

Onde �?
- Ao lado.

N�o � longe.
- Ent�o, v�.

V�!

O que voc� est� fazendo? Harakiri?

M�e.

Merda.

De onde vem este sangue?

� meu ou seu?
- N�o sei. Seu, eu acho.

Acho que � minha m�o.

Voc� perdeu a cabe�a?
Voc� est� louco?

Vou pegar um esparadrapo.
Um chega?

Est� em toda parte.

Me mostre a sua camiseta.
Voc� precisa troc�-la.

Por qu�?

Voc� tem visitas?

Temos.
Temos visitas.

Imagine, temos visitas.

Pare com isso, m�e.

Qual � o problema?
Qual � o problema com voc�?

Vou me trocar.

Vou buscar um esparadrapo.

Aonde voc� vai?

Pensei que est�vamos indo para o lago.

O que voc� quer fazer l�?

Irene nos chamou para nadar.

Aonde voc� vai?

O que voc� disse?

N�o tem �nibus.

Eu e voc� nunca tivemos animais.

Todo mundo tem animais.

Todo mundo que tem jardim, tem animais.

Um cachorro ou um gato.

� s� coincid�ncia.

Alex tem um gato agora.

Sim, agora.

� verdade.

� um vinho caro.

Porque o compramos em um restaurante.

� caro em qualquer lugar.

Ent�o, por que voc� o comprou?
- Voc� n�o entende.

Como assim?

� caro e gostoso,
e copos de pl�stico s�o horr�veis.

Voc� poderia ter dito logo.

Arrumei uma amiga.

Falei para ela sobre voc�.

Ela queria ver uma foto,
mas eu n�o tinha nenhuma.

Desculpe, mas voc� sabe que horas s�o?

N�o tenho rel�gio.
- Eu tamb�m n�o.

N�o sei
se o trem ainda est� funcionando.

Desculpe, Voc� sabe que horas s�o?

A mo�a quer ir para casa.

Que horas s�o?

Agora ela ficou com medo.

Sim, ela est� com medo.

Eu sou um monstro.

Voc� se tornou um monstro.
- N�o.

J� nasci um monstro.

Voc� � t�o grande e t�o pesado.

Me ame.

Me ame.

Onde ele est�?

N�o sei. No lago, eu acho.

Espero que ele se sinta em casa.

Pare com isso.

Voc� nunca o viu.

Eu conhe�o os livros dele.

Ao menos um.

� melhor que suas coisas?

N�o o terminei.

Claro, s� leio aquilo que gosto.

Eu sei.

Todo esfor�o em v�o.

Voc� nunca fez um esfor�o.

Fiz sim, m�e.

Mas n�o posso ficar
seguindo-a como um cachorrinho.

N�o sou um cachorro.

Voc� quer comer alguma coisa?

N�o, n�o estou com fome.

Mas o caf� � bom.

Vou fazer companhia para voc�
enquanto voc� estiver s�.

Voc� n�o acha que...
- N�o.

Acho
que n�o dever�amos falar de nada.

Eu deveria ir embora e se n�o vou

voc� deveria me respeitar,
me deixando em paz.

Isso se chama de compaix�o.

Tenha compaix�o comigo.

E n�o assim com falsidade.

Verdadeira compaix�o.

Sofra comigo.

Como est� a sua m�o?

Enfaixada.

Voc� acha que eu deveria ir ao m�dico.
- � profundo?

Vou tirar isso.

D�i?

D�i.

Deveria ter levado ponto.

Tarde de mais.
- Voc� deveria ir ainda ao m�dico.

Aonde voc� vai?

Vou me vestir.

E dif�cil demais. Konstantin tem
o jogo com os bal�es. Posso?

O que?
- Entrar.

N�o sei o que Konstantin est� fazendo.
- Posso ir ver, por favor?

Pode.

Voc� est� trabalhando?

N�o, � s� apar�ncia.

Ou o que voc� quer dizer?

Se voc� veio para
trabalhar, aqui fora.

N�o sei.

Provavelmente s� quero
uma casa no campo.

Mas n�o adquiri nenhuma.

E estou longe de ter uma.

Quando vim para c� pensava:
como � longe.

Muito longe.

S� posso ser provavelmente um visitante
ou h�spede.

Um h�spede sem recursos.

Tamb�m n�o t�nhamos dinheiro.

A casa pertence � Astrid.

A minha m�e faleceu,
por isso meu pai se casou com a Astrid.

Minha m�e era bailarina.

Tenho fotos dela dan�ando.

Em algumas ela est� rindo.

Mas o corpo dela � sempre o mesmo.

Seus membros me lembram um cord�o.

Eram perfeitos.

Como luz, cord�es ondulantes.

Quando tinha oito anos
ouvi algu�m dizer na cantina

bailarina n�o pode ficar gr�vida,
o treino � muito duro.

Queria dizer que n�o � verdade,
mas n�o conhecia as pessoas.

Mas se voc� � escritor.. .
- O que?

Voc� faz sucesso, n�o?

Ou � bobagem? Isso n�o � importante?
- Claro.

Voc� faz algo
e as pessoas te adoram por isso.

Mas assim � a vida,
para isso voc� n�o precisa escrever.

Voc� faz algo,
e quer ser amado por isso.

Toda crian�a � assim.

Claro... Mas isso soa um pouco...

N�o sei.
�s vezes voc� n�o tem escolha.

Voc� n�o pode sempre
fazer coisas para agradar.

Voc� pode? N�o sei.

Foi s� uma coincid�ncia
ter nos encontrado.

S� estou aqui nas f�rias.
Fui embora daqui.

E voc� n�o se arrepende?
- N�o.

No outono passado.

Voc� n�o teve medo?

N�o, de qu�?

Se voc� se refere ao Konstantin...

Como?

Konstantin.
Porque ele estava aqui.

Ele ficou, mas tinha seus
motivos. Ele n�o tinha medo.

N�o sei porque
� dif�cil entender.

N�o conhe�o Konstantin.
Nunca o vi.

Quais s�o os motivos dele?

Ele acha que sua vida
est� ligada aqui.

Talvez seja isso. Talvez seja isso.

� casa � no lago.
E porque aqui ele pode escrever.

Voc� tamb�m � escritor,
talvez voc� possa entend�-lo.

Seria �timo
se voc� fosse amigo dele.

Talvez voc� pudesse
dar alguns conselhos a ele.

Que tipo de conselho?

Tamb�m n�o estava
pensando no Konstantin.

Nem mesmo o conhe�o.

Perguntei se voc� estava com medo
de deixar este lugar

e o homem que voc� ama.

E sua fam�lia tamb�m.
Esta era a minha quest�o.

N�o acho que medo
seja algo para se envergonhar.

Nada � mais f�cil de se entender
do que medo.

Somos mais ou menos
feitos de medo.

N�o s�, claro, mas em parte.

Voc� n�o acha?

Feitos de medo?

Talvez eu esteja exagerando, mas...

�s vezes n�o sinto
nada al�m de medo.

Medo de qu�?

De qu�?

De estar desperdi�ando minha vida,
desperdi�ando minha vida.

De n�o ser capaz
de aceitar a d�diva de viver.

Medo do fracasso,
de ser in�til, de tudo ter sido em v�o.

Quantos anos voc� tem?

Dezenove. E voc�?
- Trinta e dois.

Incr�vel.

Por que?

N�o sei.

O importante
� fazer o que voc� quer.

N�o tenho realmente medo.

Mas tenho a sensa��o
de ter de fazer o que quero.

Voc� entende?

� nisso que creio.

N�o nasci para fazer
o que os outros querem que eu fa�a.

N�o nasci para isso.
N�o tive de nascer para isso.

Isso parece simples.

E o que voc� quer?

� uma quest�o dif�cil.

N�o.

Ent�o, o que voc� quer?

N�o posso... N�o posso dizer.

Gostaria de ser feliz.

Realmente.. .

Gostaria de falar com voc�.

Gostaria que voc� soubesse o que penso
mesmo que eu mesma n�o saiba.

Queremos ser reconhecidos.

De tempos em tempos. Por algu�m.

Como assim?

Queremos reconhecimento.

A alma.

A alma.

Quando reconhecida se modifica.

Torna-se mais bonita.

O que voc� quer?

Voc� precisa de mim?
- N�o.

Ent�o me deixe descansar um pouco mais.

Posso trazer alguma coisa?

Tem caf� da manh� l� em baixo.
- Vou descer.

Por que voc� n�o se levanta?

Faz tempo que voc� n�o vai � cidade.

Voc� precisa ir de vez em quando.

Poder�amos ir hoje. O que voc� acha?

Deixe-me ajudar voc�.

Sou devagar de manh�.

Onde est� a Mimmi?
- Ela quer vir conosco.

Vamos tomar sorvete.
- Konstantin, Max.

Voc� vem? Tem lugar.
S� se voc� quiser. E a Mimmi?

Acho que ela quer vir. Pode ser?

Com ela ao meu colo,
podemos ir todos.

Vou ficar aqui.

Pena. Queria perguntar
ao seu pai sobre o CD.

Qual CD?

Passamos por uma loja de discos?

Ontem � noite
ouvi uma m�sica t�o bonita.

E voc�?
- De Rachmaninov.

Vamos.
- Voc� vai entrar?

Tchau meu anjo.

A Irene vem ou temos de ir busc�-la?
- Ela queria vir para c�.

Ela n�o sabia quanto tempo
levaria no m�dico.

Morango.

Chocolate.

Baunilha.

Framboesa.

Bel ange.

Lim�o.

Nozes, p�ra.

P�ssego.

Eles t�m tudo.

Podemos olhar l� dentro
e voc�s podem escolher. - Sim.

Caf�.

Por favor.

Voc� gosta dele? Do Max.

N�o me interesso mais por pessoas.

O que?
- S� por quem j� conhe�o.

Konstantin, Agnes e a pequena.

Estou perdendo
o interesse em voc�.

Mas eu n�o em voc�.

Tem a ver com o envelhecimento.

N�o acho ruim.

N�o quero chegar a este ponto.

N�o fale besteira. Nem tudo.

Sofro, mas algumas coisas
me s�o indiferentes.

Algumas coisas sempre me foram indiferentes.
- Eu sei.

Agora voc� vai soltar algum veneno.

Voc� � podre.

N�o � verdade
- Voc� n�o est� s�, mas voc� est� s�.

Aqui � t�o quieto.
Pensava que n�o havia ningu�m aqui.

O que voc� est� fazendo?
- Tomando notas para me lembrar.

Voc� sabe onde est� a Agnes?

N�o a vi. Mas faz pouco tempo
que estou aqui.

Voc� quer esperar?
- Acho que n�o faz sentido.

Voc� aceita alguma coisa?
- N�o, obrigado.

Est� fresquinho aqui.

Voc� tem muito o que fazer.

S� uma coisinhas, mas tenho de
resolv�-las antes de partirmos.

Quando voc�s v�o?
- Na semana que vem.

Qual � o problema?
- N�o sei.

Estou t�o exausto.

N�o sei onde ela est�.

Na sua casa?

At� mais.

Aonde voc� vai?
- A lugar nenhum.

Aonde voc� vai?
- A lugar nenhum.

Com quem voc� estava falando?

Com o Martin, pai da Agnes.
Ele ligou da esta��o. Ela foi embora.

Ela fez as malas e lhe pediu
para lev�-la � esta��o.

E foi o que ele fez.

Ela foi embora.

N�s ainda n�o comemos nada hoje.

Vamos ver o que h� para comer,
estou com fome.

Algu�m limpou o meu quarto ontem?

N�o, quem deveria?

Estou procurando a correntinha da Agnes.
Estava aqui ontem.

N�o fa�o id�ia.

N�o consigo encontr�-la.

J� vou ajudar voc�. Espere.

N�o sei, procurei em toda parte.

N�o encontro.

Quando voc� a viu pela �ltima vez?
- Na cama.

Eu olhei em toda parte.

Martin ligou.
Ele levou a Agnes � esta��o.

Ela foi embora.

Embora?
- �. N�o sei por que.

Como � a corrente?

Cinza claro, com pedras
quase transparentes.

Voc� a viu v�rias vezes.

N�o encontro.

Mas ela tem de estar aqui.

Ela caiu aqui?

Sozinha? N�o.

Bem, n�o sei.

N�o entendo.
- N�o sei mais onde olhar.

Bom. Talvez ela apare�a.

Posso fazer mais alguma
coisa por voc�?

O que voc� disse?

Vou cozinhar.
Por favor, coma conosco.

A sopa est� mais
gostosa hoje que ontem.

N�o acha?

N�o sei, n�o me lembro.

Tomamos sopa ontem, esta aqui.

E o que voc� acha?
Est� melhor do que ontem?

Ontem estava mais faminto.

Antes eu tinha uma editora.

Especializada em registro civil.

Por que voc� est�
nos contando isso agora?

Foi um grande neg�cio.

Gigantesco.

Me parece louco agora
todos aqueles documentos.

Voc� aceita um pouco de vinho?
- Aceito.

Todos aqueles pap�is.

A casa estava sempre
cheia de pap�is.

Documentos.

Era uma loucura.

Aquela papelada
us�vamos de rascunho.

Mas ningu�m precisa
de tanto rascunho.

Era uma pena jogar
tudo aquilo fora.

E voc�? Acho que nunca li nada seu.
- N�o importa.

E ainda n�o vi
a nova pe�a da Irene.

Ainda est� em cartaz?
- No momento n�o.

Perdi de v�-la.

Esta tarde
eu queria mesmo um sorvete.

Mas enquanto estava sentado l�,

perdi o apetite de repente.

Foi uma pena.
Tinha estado com tanta vontade.

J� havia imaginado:

o gosto, a consist�ncia na l�ngua,

a suavidade e o frio.

O gosto suave da baunilha.

N�o sei porque
n�o queria mais.

Por que voc� n�o queria mais?
-Estou te dizendo, n�o sei.

Agora � tarde demais,
ou temos?

Talvez. Devo ir ver?
- Poderia tomar um pouco agora.

N�o. J� est� velho demais.

Voc� escreveu romances, n�?
- Escrevi, dois.

Dois? J� � alguma coisa.

Extenso?
- N�o, mas n�o eram fininhos.

Embora tamb�m n�o fossem finos.
Um tem quase 30O p�ginas.

Depende da impress�o.
- Claro, a impress�o.

Espero que minhas perguntas
n�o sejam demasiado simples.

Mas h� realmente uma diferen�a
entre um livro espesso...

... e um menos espesso.
Gostaria de descrever isto corretamente.

Voc� tem toda raz�o.
- Ele sempre tem raz�o � sua maneira.

Porque estou velho.
- E.

Voc� mora s�?
- Moro, s� no meu apartamento.

� l� que tamb�m escrevo.
- E quando voc� precisa sair?

Como assim? Tomar ar fresco?

N�o, mudar de ares.

Geralmente visito meu irm�o.

Ele cultiva tomate na Proven�a.
Foi o que voc� me disse, n�?

Meu irm�o se casou com uma francesa.
Eles moram em Paris.

Ela est� na universidade.
Ele � professor da prim�ria.

Nunca mencionei a Proven�a.

Professor de escola prim�ria.

Por que voc�s n�o est�o comendo l� fora?
Est� fazendo sol.

Quem tinha tomate na Proven�a?

Voc� sonhou com isso.

Paris � em todo caso maravilhosa.

Voc� adora Paris, n�o � Irene?

Eu adoro Paris?

Pensava que sim.

Voc� esteve em Paris com o Konstantin.

Faz muito tempo.

Quando ele era pequeno.

Isso, quando ele era pequeno.

Ele tinha seis meses.

Ele nasceu no inverno
e foi no ver�o.

Fui com ele de trem para Paris.

Eu o carregava no colo.

Ele era t�o leve, foi f�cil.

Eu era forte e Konstantin era leve.

Meus seios estavam enormes.

Mas eu s� parecia diferente.
- N�o t�o diferente. - Parecia sim.

Quanto tempo voc� passou l�?

Tr�s semanas.

E sempre fora.
Na rua e nos parques.

Eu olhava no mapa
e ia a todos os parques.

Todo dia um novo parque.

Gente em toda a parte.
Quanto mais melhor.

E eu no meio.
Com o meu filho.

Com o meu filho.

Foi maravilhoso.

Era como se eu tivesse renascido.

Voc� pode entender.
Eu n�o podia entender .

N�o podia acreditar
ser outra pessoa.

Voc� n�o sabe. Voc� n�o estava l�.

Ningu�m estava l�. Est�vamos sozinhos
e Konstantin n�o pode se lembrar.

Portanto, n�o h� testemunhas.

Ningu�m que saiba
que antes eu era outra pessoa.

Naqueles tempos
voc� realmente teria me amado.

Naqueles tempos.

A mim.

Tradu��o: Algrama Sprachen

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