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VIDAS FR�GEIS

Ol�, Ellie.

-Est�s �ptima.
-Tu tamb�m.

Que bom que podemos fazer isto.

Fazer o qu�, Adam?

Estar juntos sem zangas.

Est� bem.

-Vamos come�ar.
-Est� bem.

Deseja alguma coisa, senhor?

-Papas de aveia, caf�.
-�ptimo. Volto j�.

Pois, que bom. Que bom.

Ent�o...

...como tens estado?

-O que tens feito?
-Ocupada.

-Muito ocupada.
-Eu tamb�m.

Tive de voltar � pressa de Paris
para uma palestra na escola nova.

Aquelas pequenas f�rias
j� parecem uma mem�ria distante.

Adam.

N�o te perguntei o que tens feito.

N�o me interessa
a tua estadia em Paris.

-Tudo bem.
-Aqui tem as papas de aveia.

A pr�xima vez que nos virmos ser�

na festa de licenciatura da Maud.

Ainda n�o lhe disse.
Tenho um compromisso em Londres.

O Teatro Gielgud vai reencenar
o Sonho Espanhol.

Estreia nesse fim de semana, ent�o...

-...� uma pena.
-N�o � uma pena.

� inaceit�vel.

N�o preciso de uma dose
da tua superioridade moral, Ellie.

Apoio totalmente a Maud.
At� est� no meu apartamento

-a trabalhar neste momento.
-O desespero por aplausos � tanto?

Vais perder o dia
mais importante da vida da tua filha

por causa de uma pe�a
que escreveste h� 20 anos?

Nem vou responder.
Tenho uma obriga��o, ponto final.

Se calhar tens,
ou � como aquilo em Praga,

onde comeste
a Miss Rep�blica Checa

no Hotel Chodska
durante duas semanas.

Por amor da santa, Eleanor,
fazes o favor de crescer?

-Estava a ver porque pedi isto.
-Ei.

Pronto, muito bem. Que lindo.

Muito, muito ao estilo do James Cagney.

Vamos sair daqui.

Sim.

Vamos.

-Importas-te de n�o me observar?
-Porqu�?

Enervo-te?

N�o.

� um trabalho muito minucioso.

Foi o m�ximo
que me disseste a semana toda.

J� pensava que tinhas feito
um voto de sil�ncio ou assim.

Com licen�a.

Pronto. De volta ao trabalho.

Foi bom conhecer-te, Sam.

At� � pr�xima.

-Ol�, Ruthie. Como est�s?
-Ol�, Ellie.

-S� tenho um segundo.
-Falaste com o Adam?

N�o, n�o falei,
mas digo-lhe que precisas de falar.

-Tenho deixado mensagens.
-Est� bem.

Eu certifico-me de que ele te contacta.

-Elle, o que foi?
-A Ruth est� sempre a ligar.

-Diz que te deixou mensagens.
-Sim, eu sei.

� a esposa do teu melhor amigo.
Liga � mulher.

O Vincent morreu h� cinco anos.

Bem, est� sozinha
e de cora��o partido.

Ningu�m morre de cora��o partido.

-Liga-lhe, mas �.
-Pronto, sim. Est� bem.

Estou no gin�sio.

Os la�os que nos unem.
N�o h� como escapar.

Ol�, Jenny.

Ele n�o faz ideia
do que se passa dentro de mim.

E porque acha
que n�o lhe diz?

Ele n�o responde bem
a necessidades emocionais.

Fecha-se e fica carrancudo.

Pode dar-se ao luxo de se calar porque...

...ele n�o est� � vontade na intimidade?

Estou sempre com vontade
de deixar de tomar a p�lula,

s� para o castigar.

Dev�amos discutir como
o castigar a iria ajudar.

Ol�.

Desculpa. Um segundo.

Meu Deus. Finalmente tive uma ideia
que ficou na p�gina.

Pois.

Estava com medo
de ser uma grande fraude.

Somos todos fraudes at� termos
uma boa ideia. A� somos g�nios.

-Como correu com a m�e?
-Espl�ndido.

Estas situa��es nunca s�o f�ceis,
mas correu como seria de esperar.

Boa.

Isso � bom.

S� espero que ela caia de p�,
como tu.

A tua m�e �
uma mulher extraordin�ria.

Temos uma liga��o muito forte,
e sempre teremos.

Sim. Isso � bom.

Bem, tenho de ir.

Est� na hora de me ir queixar
ao meu orientador de tese.

Tens planos especiais
para amanh� � noite?

-O que h� de especial amanh�?
-� sexta � noite.

Jantar, dan�ar?

Conviver com algu�m especial?

Eu n�o convivo.

E algu�m especial?

Tens raz�o. N�o tem garra.

� superficial.

N�o era isso que ia dizer, Maud.

A moralidade importa. A forma como
nos tratamos uns aos outros importa.

A tua f� na humanidade � inspiradora.

Mas n�o acrescenta nada � conversa.

Ouve, Maud,
vejo isto todos os anos.

Os alunos chegam ao fim da tese
e s�o os piores cr�ticos.

N�o fa�as isso.
Concentra-te e termina.

Est� bem.

Se o dizes.

Eu digo.

Posso sair este fim de semana.

Tenho saudades tuas.

Fazes-me falta.

Brian...

Acabou.

-Esperava que mudasses de ideias.
-N�o vou.

Est� bem?

Sinto-me uma hip�crita do pior.

Escrevo uma tese sobre moralidade e
tenho um caso com um homem casado.

� de loucos.

Por isso...

Acabou. Ponto final.

N�o o fa�as.

N�o lixes a tua vida.

Mas n�o lhe disseste isso?

Claro que n�o, mas...

-Queria.
-Porqu� t�o zangada com esta paciente?

Porque � fraca.

Passiva.

Sim. Continua.

E tenho de me esfor�ar imenso
para n�o projectar a minha vida na dela.

Sempre a torcer para que o deixe,
como eu devia ter feito h� anos.

A tua vida teria sido muito diferente.

N�o importa agora.

Assin�mos os pap�is
hoje de manh�. Muito civilizados.

Embora tenha tentado esmagar
uma toranja na cara dele.

-N�o.
-Sim.

Que bom para ti.

Chegou a dizer-me que eu era
a Estrela Polar da vida moral dele.

Mas tem uma musa nova.

Uma nova companheira de sexo.

E aos 58, posso recome�ar.

Muito assustador, n�o �?

Muito assustador.

Eu sei.

Mas est�s viva neste momento.
Muito viva.

Fabulosa.

Desculpe, este banco est� ocupado?

Sim, receio que sim.

Bem, se calhar est� livre afinal.

-Posso pagar-te uma bebida?
-Sim.

Um belo Ch�teauneuf-du-Pape
de uma vila perto de Avinh�o, como eu.

� isso. A palavra-passe.

Damos 10 minutos ao idiota.

Quando eu disser:
"� um belo Ch�teauneuf",

v�s as horas e dizes que
tens de ir ter com os primos de Avinh�o.

-Os meus primos s�o de Montpellier.
-Montpellier ent�o.

Porque viemos ter com este idiota?

� o cr�tico mais importante
do teatro americano.

Dizem que est� a escrever um livro.

Pediu para me ver. N�o sei porqu�.
Arrasou as minhas duas �ltimas pe�as.

Talvez tenha um cap�tulo sobre mim.

-Talvez o livro todo.
-Sim. Uma �pera, talvez.

Chegou.

-Um belo Ch�teauneuf.
-Os primos de Montpellier.

Robert.

Ol�, est�s fant�stico.

-Que bom ver-te.
-Sandrine, bon ami.

-Robert Gordon.
-� um prazer.

-Prazer em conhec�-la.
-Mike, mais um.

Obrigado por te dispores, Adam.

� o m�nimo, por quem fechou as minhas
�ltimas duas pe�as na antestreia.

Espera. Fui duro
com as tuas obras recentes,

mas tamb�m j� lhe dei
�ptimas cr�ticas.

Sim, s� te estou a fazer suar.
Toma, bebe um copo

e contai ao rei
o que sabeis da batalha.

Bem, estou a escrever um livro.

N�o fazia ideia. Conta-me mais.

Custou, mas convenci o pessoal
da Encore Publishing

a apoiar uma biografia cr�tica

do grande e falecido Vincent Frank.

Espl�ndido.

-J� estava na hora, certo?
-Sim.

Quem � Vincent Frank?

Vincent Frank � um tesouro nacional.

Escreveu cinco das pe�as
mais brilhantes

e inclassific�veis
do teatro americano do s�culo XX.

E cresceu no Bronx com o Adam

e sempre falou do Adam
como sendo o seu melhor amigo

e a sua consci�ncia liter�ria.

E, n�o te esque�as,
o seu maior concorrente.

Por isso � que a tua participa��o
seria t�o crucial para o livro.

Ent�o, o que tens em mente?

Uma s�rie de entrevistas.

O que sabes do processo criativo dele.
Seria impag�vel.

Estou extremamente ocupado
com a minha nova pe�a, mas farei...

-Farei o que puder para ajudar.
-Maravilhoso.

-T�o generoso.
-O privil�gio � todo meu.

� um belo Ch�teauneuf.
N�o �, querida?

Sabe um pouco a rolha.

Sabe?

As horas que j� s�o.

Detesto ser...

-Desmancha-prazeres?
-Obrigada.

Mas os meus primos
de Montpellier est�o c�.

Sim, n�o podemos desertar
os franceses, n�o �?

A ousadia daquele est�pido.

"Uma s�rie de entrevistas."

Liga ao Charlie Rose, Bob.

Liga � porcaria do 60 Minutes.

Que homem estranho.

Est� t�o pouco � vontade
com ele mesmo.

Disse de uma pe�a minha: "Uma obra
insignificante de um escritor dotado."

� o estilo dele.

Uma no cravo e outra na ferradura.

N�o tens de ajudar.
N�o lhe deves nada.

N�o, mas devo ao Vincent.

Se n�o fosse ele,

ainda estaria a ensinar Ingl�s
no secund�rio em Yonkers.

Fiquei com a gl�ria toda.

Mas invejava-o.

Ele era mais profundo,

mais original,

sem ceder nos seus princ�pios.

Aquele sacana.
At� na campa me ganha.

Bem...

...esta noite...

...tens vantagem sobre ele.

Ruthie. Est�s maravilhosa.

Ol�, Adam.
Que bom que vieste.

Fiz caf�. Vai sentar-te.

Deves estar a pensar
porque fui t�o...

...persistente.

Tenho novidades excitantes
sobre o Vincent.

Lembras-te da irm� dele, a Lillian?

Morreu no ver�o passado.

N�o. N�o sabia.

Os filhos esvaziaram a casa
e encontraram

uma arca cheia de pap�is do Vinnie.

N�o eram s� cartas e cadernos.

T�o Tarde, T�o Cedo
Por Vincent Frank

Ele disse que o tinha destru�do.

E � brilhante.

� a pe�a que a agente dele
sempre lhe pediu, que o teria lan�ado.

-Ligaste � Judith?
-N�o me devolve as chamadas.

N�o leves a peito.
Demora uma semana a responder-me.

Quero que a leias primeiro.

Se for t�o brilhante
como penso que �,

podias tratar disso com a Judith.

Claro, Ruth.

Se a pudesses ler em breve,
seria um favor especial para mim.

Sim, eu leio. Farei...

Farei o que puder.

Leio-a todas as noites.

Tenho o original ao lado da cama.

� como se ele estivesse
comigo outra vez.

Ol�, m�e.

Meu Deus, est�s t�o gira!
Tens um encontro?

Por favor.
J� tenho este vestido h� anos.

S� vou jantar com o teu tio Paul.

-O tio Paul est� c�?
-Uns dias, a trabalhar para o sindicato.

H� que adorar o tio Paul.
Ainda a lutar pela classe trabalhadora.

Tens aquele vestido giro que compraste
em Espanha com as flores vermelhas?

Sim.

Boa.

Parece que tu � que tens
um encontro escaldante.

-N�o com o professor, espero.
-N�o, sa� dessa.

Sim. Avancei para coisas melhores.

-�ptimo.
-Sim.

Quem � o sortudo?

N�o sei.

Nunca fala e n�o sorri.

E pode n�o aparecer.

Mas n�o se pode ter tudo.

Obrigado.

Obrigada.

Sopa de am�ijoa � Manhattan.

O meu prato favorito.

Desculpa, Maud.
N�o quero ser t�o antip�tico.

Mas n�o devia estar aqui.

Acho que n�o seria um bom par
para ningu�m neste momento.

Quem falou em pares?

Para mim era bom
se pud�ssemos s� comer a sopa.

� uma bela ambi��o.

-Vamos tentar comer a sopa.
-�ptimo.

Como foi o resto
do teu dia, Samuel?

Bem, �...
N�o � "Samuel", por acaso. � Samir.

Samir. Que... � lindo.

Sim, os meus pais s�o do L�bano.

Eu nasci e fui criado em Seattle.

Ent�o porque � que

um liban�s jovem e atraente como tu
n�o quer ter um par?

�s do tipo cavaleiro solit�rio?

Ou uma ex-namorada psicopata
incendiou-te a casa? Qual � a...?

Estive casado oito anos.

N�o gozes.

A intriga complica-se.
Porque n�o resultou?

Nem sempre as coisas resultam na vida.

-Havia algum segredo horr�vel?
-N�o � um segredo.

Mas � horr�vel.

Desculpa.
N�o devia ser t�o superficial. Desculpa.

N�o faz mal.

Ainda temos muita sopa.

N�o fazia a mais pequena ideia.

A mais pequena ideia.

Estou espantada.

N�o, fingimos que estava tudo bem
at� a Maggie ir para a universidade.

Assim que a instal�mos no quarto,

a �ltima coisa que me disse:

"Pai, obrigada por me trazeres.

Tu e a m�e podem parar
de fingir que s�o casados."

N�o lhes passa nada ao lado.

Nada mesmo.

Mas, sinceramente,
o casamento estava morto h� anos.

A paix�o tinha...

Tinha esmorecido.

� t�o triste.

Sabes, a verdade libertou-nos aos dois.

Voc�s pareciam t�o indestrut�veis.

Como o sindicato.

Bem, era exactamente
o que eu achava de ti e do Adam.

Agora enfrento um futuro excitante
como solteira velha.

N�o digas isso.

N�o digas isso.

�s uma mulher extraordin�ria, Eleanor.

O mundo vai-se abrir para ti
de formas que nem imaginas.

N�o sei se concordo
com a tua aprecia��o, mas �...

� querido da tua parte.

O Adam � um homem not�vel.

Tem talento. Adoro-o.

� meu irm�o.

Mas quando me disse que voc�s
se iam separar, perdi o respeito por ele.

Paul, n�o tens de me defender.

D�s-me licen�a?

Claro.

Perdeste...

...a porcaria da cabe�a?

Isso foi totalmente inapropriado.

O que pensaste?

Desculpa, Eleanor.

Esperei 35 anos por este momento.

Esperei pelo momento certo,
aguardei outra oportunidade.

Outra oportunidade?

Est�s louco?

Namor�mos cinco minutos
h� uma vida atr�s.

Como te atreves a aproveitares-te
de mim no meu estado?

Desculpa.
N�o queria chocar-te, mas...

...nunca deixei de te amar.

Ainda te amo.

Paul.

Como tua amiga de muitos anos,
como tua ex-cunhada

e como terapeuta experiente,
posso dar-te um conselho?

Paul, trata de arranjar ajuda.

Como te sentes? O banho ajudou?

Um bocado.

O meu queixo ainda est� inchado,
mas tomei um comprimido e n�o d�i.

Se quiseres aproveitar-te de mim,
� a tua oportunidade.

Vantagem Weller.

� o Dr. Yates.

Devia atender.

-Ol�, Dr. Yates.
-Como se sente?

Muito melhor, obrigada.
J� n�o sangra.

-Se o incha�o n�o passar, use gelo.
-Sim.

-Ainda bem.
-Est� bem.

Vejo-o na sexta para mais divers�o.

Sim, claro. O Adam est�?

Est� aqui. Quer dizer ol�?

Sim, claro. Por favor.

Ol�, Kenny.

Est�s a falar como meu dentista
ou produtor?

Ambos. E parab�ns por Londres.

Sim, obrigado.

Sim, sim, � excitante.

O Sonho Espanhol no West End.

J� era hora, n�o?

-Bem que o podes dizer.
-Ouve... Sim.

Ouve, Kenny.

Seria o momento perfeito
para voltar � Broadway.

N�o � m� ideia.
Vou falar nisso na pr�xima reuni�o.

-Espl�ndido.
-�ptimo.

Muito bem, fala nisso ao grupo.

E falamos na festa do Players Guild.

-Eu falo. Eu falo.
-Est� bem. Feito.

Pareceu prometedor.

Sim, veremos.

N�o quiseram
as minhas �ltimas duas pe�as.

Mas uma reposi��o em cena
ganhava-me algum tempo.

Estou seco.

Se desapareces tempo demais,

ningu�m te quer tocar.

N�o te pressiones tanto.

Vais escrever algo brilhante
e vais voltar ao topo.

Sim. Talvez.

Ou talvez seja s�
o comprimido a falar.

Talvez tenhas raz�o.
Estou morta.

Seu velho sacana.

Passas 40 anos a escrever pe�as
que ningu�m quer ver.

E depois levas
uma obra-prima para a campa.

Perfeito.

Perfeito.

-Queres entrar?
-Posso confiar em ti?

-D�s-me o casaco?
-S� vou ficar um minuto.

Eu compreendo.

N�o podia deixar as coisas
como ficaram ontem.

N�o, n�o. Ainda bem que vieste.

N�o tinhas o direito
de me p�r naquela situa��o.

Sei que est�s num momento confuso,

mas isso...

...n�o � desculpa para trair
anos de confian�a entre n�s.

N�o tenho desculpa.

Lamento.

Espero que me perdoes.

Sempre gostei de ti, Paul.

�s um amigo querido e...

E n�o quero que nada
estrague a nossa amizade.

Nem eu.

Que bom que nos entendemos.

�s um bom homem, Paul Weller.

Sim.

Sim, mas n�o era essa a ess�ncia
do g�nio do Vincent?

A forma como recusou
o abrigo da ilus�o?

O Vincent era implac�vel nesse aspecto.

Tinha a capacidade de nos levar
ao fundo do nosso sofrimento.

Mas tudo para transmitir

as possibilidades incr�veis
da natureza humana.

Sim, sim. � perfeito.

Sabes?

-Olha as horas.
-A trag�dia � que a sua melhor obra

podia ter estado � frente dele.

Sabes que mais, Robert,
podes ter raz�o.

Mas como o Vincent adorava dizer:
"As coisas est�o contra n�s."

Bem, muito bem.

Adam.

Adam.

Desculpa, mais uma coisa, Adam.

Seria demais pedir
que me apresentasses � Ruth?

N�o me queria impor
sem a tua recomenda��o.

Para dizer a verdade,
a Ruth � extremamente privada.

E ainda � muito doloroso para ela
sequer falar sobre o Vinnie.

Posso tentar convenc�-la...

...mas n�o fiques com esperan�as.
Est� bem?

Deixa-me levar-te � porta.

� muito severo.

E admiro a pureza dele,
mas �s vezes s� quero

agarr�-lo pela t�nica
e dizer: "Lucius, querido,

relaxa um pouco.

Nem tudo � t�o mau."

Estou a ver.

Mas por outro lado,

soube por fonte certa que

S�neca gostava
de um geladinho de vez em quando.

�s escondidas.

Ent�o, era outro hip�crita.

Sim. Provavelmente.

At� o pai do estoicismo
n�o conseguiu ser coerente.

Costumava perder-me aqui
quando era mi�da.

Era aterrador.

Tu queres-me.

Eu achava que sim.

Eu disse-te, j� fui casado.

Tivemos uma filha.

Chamava-se Zahra.

Nasceu com uma doen�a do sangue.

E morreu aos 6 anos.

Lamento muito.

O corpo dela aceitou as c�lulas.

Ficou mais forte.

Todos os sinais eram encorajadores.

Depois...

Depois apanhou uma gripe
que invadiu o corpo dela.

N�o teve for�as para a combater.

Paul, por favor. � o meu bairro.

Tenho saudades tuas.
J� passou mais de uma semana.

Pareces um adolescente apaixonado.

Pois, eu sinto-me
um adolescente apaixonado.

Sinceramente, Paul,
que grande confus�o.

Se me estivesse a tratar,
aconselhava-me a fugir.

-Por medo.
-Ent�o?

N�o te digo como organizar
os trabalhadores.

N�o me fales em escolhas por medo.

Acabei de me separar do homem
com quem passei a maior parte da vida.

-Mesmo sendo um idiota ego�sta.
-Claro, eu percebo.

E juntar-me ao irm�o do meu marido
ser� um grande sinal.

N�o, ambos sabemos
que isso n�o � verdade.

Paul, acorda.

N�o me conheces.

Est�s a viver uma fantasia.

Sei que tens muito em que pensar.

E tens d�vidas.

Mas eu n�o tenho.

Ent�o?

Qual � o veredicto?

N�o aguento o suspense.

Ruthie.

Eu queria que esta pe�a fosse boa. Eu...

Eu queria de todo o cora��o.

O Vincent escondeu-a por uma raz�o.

� o tipo de sentimentalismo
que passou a vida toda a combater.

Mas as personagens s�o
t�o ricas e vivas.

-� po�tico.
-Exactamente.

� um poema de amor �pico
� vida linda que tu e o Vinnie partilharam.

E custa-me dizer,
mas o p�blico n�o o iria perceber.

N�o concordo, Adam.

Penso que o p�blico
precisa de ouvir estas palavras.

Est�s a ler com os olhos do amor.

A minha responsabilidade � ler
com os olhos de um cr�tico.

Pensei que ele tinha conseguido
desta vez.

Mas tamb�m sempre pensei
que tudo o que ele fez era genial.

Eu tamb�m.

Eu tamb�m.

Ol�, marujo.

Devo admitir que est�s elegante
com essa pala no olho.

Arranhei a c�rnea
a aplainar uma mesa.

Que chatice.

Maud...

Mas, sabes, sempre quis
ser vista em p�blico com um pirata.

Acho que seria bom
para a minha reputa��o.

Desculpa, Maud,

mas porque est�s aqui?

Quero dar-te uma coisa.

O qu�?

Sexo.

Sem compromisso.

Sem conversa.

Sem consci�ncia.

Sem vergonha.

Sem caras.

Sem alma.

Sem amor.

Aqui...

...tens sexo.

O que quiseres.

O que achas disso, Samir?

Est� ali o Kenny.

-Vamos l� dizer ol�...
-Deixa-o vir ter connosco. � melhor.

Est� bem. Vem a�.

Est� com cara de quem traz
boas not�cias?

-Est� a reluzir.
-Porque viu uma francesa gira.

Uma francesa gira que precisa
de duas coroas e outra desvitaliza��o.

Ken Yates, o solteiro
mais cobi�ado do teatro americano.

Que distin��o duvidosa.

Bonsoir, Sandrine.
Est� fant�stica.

Quem diria?
O bom m�dico fala franc�s.

Com um sotaque perfeito,
devo acrescentar.

-Cresci com uma ama francesa.
-Que desafio � imagina��o.

Para.

Olha, Adam, trago m�s not�cias.

Apresentei a tua ideia de repor
em cena o Sonho, mas n�o colou.

Est�o decididos
a apoiar uma pe�a nova.

Bem, obrigado pela ajuda.

Sem receios, Ken. Conheces-me.

Estou sempre a trabalhar na pr�xima.

Estou ansioso por a ler
quando estiveres pronto.

Espl�ndido.

V�m este fim de semana
� minha gala pelo Lincoln Center?

-N�o a perder�amos.
-Acho bem.

-Como se sente?
-Muito melhor, obrigada.

-�ptimo.
-Obrigada.

O que tens feito, Weller?

Ainda a limpar o p� �s velhas ideias
para uma reposi��o?

Deus sabe que n�o tens feito muito
ultimamente.

Estou a trabalhar numa pe�a
para um homem

baseada na tua carreira brilhante, Walter,
mas encalhei no primeiro ato.

Algu�m d� uma bebida ao Walter.
Parece ter perdido o pio.

Desculpa, querida.

� a Eleanor de novo.
Deixa-me ver o que quer.

-Sim, Ellie, o que se passa?
-Tenho m�s not�cias.

Est� bem. O qu�? O que foi?

A Ruth faleceu ontem � noite.

� imposs�vel. Vi-a h� umas semanas.
Parecia �ptima.

Parece que o cancro
voltou h� uns meses.

E n�o contou a ningu�m.

Meu Deus. N�o acredito.

N�o acredito que morreu.

Ela morreu mesmo.

Deve haver uma cerim�nia.

Pois, vais ter de falar.
Parece que ser�s a estrela.

A s�rio? Era necess�rio?

N�o, n�o era. Eu...

-Esquece.
-Perdoa-me.

Pronto, obrigado pelo telefonema.
Tenho de desligar.

Ainda h� umas semanas
passei uma bela tarde com a Ruth

e ela falou com tanto orgulho
dos filhos, a Shelly e o Ethan.

E a devo��o feroz
que tinha pelo seu amado Vincent

� uma luz que ela manteve
sempre forte e a brilhar.

Somos todos mais ricos
por termos partilhado as nossas vidas

com algu�m t�o imbu�da

da subst�ncia total do amor.

Ruthie...

...j� temos saudades.

N�o � a melhor altura,
mas tenho de te dizer.

Tenho not�cias desapontantes.

Londres n�o vai acontecer.

N�o o digas.

Cancelaram o Sonho.
Houve altera��es na companhia.

Querem ir noutra direc��o,
ou algo do g�nero.

Lamento.

Bravo, Weller.

Parecia que ela estava c�.

S� gostava de poder ter feito mais.

O que mais podias ter feito?
Ela tinha cancro.

Bem, podia ter sido um amigo melhor.

Fazemos o que podemos.

Presumo que sim.

Est�s com �ptimo aspecto.

Como est�o as coisas?
Algo de novo e excitante?

N�o. Nada de novo, nem excitante.

E tu?

Como vai a escrita?

O mesmo de sempre.

A tentar manter-me optimista
nesta actualidade cultural depravada.

De certeza que as coisas
te v�o correr bem.

Talvez sim, talvez n�o.

Estou de bra�os abertos
� aleatoriedade do universo.

Bom proveito.
Foi um prazer p�r a conversa em dia.

Sim.

Shelly, como te est�s a aguentar?

N�o consigo acreditar.

Achei que ia tomar conta de mim
para sempre.

Pronto. Est� tudo bem.

Estamos todos a sofrer.

Vou mostrar-te as coisas
com que a m�e queria que ficasses.

Claro, sim.

Tudo o que ele achou
que valia a pena guardar.

Nunca li nada dele.

A escrita dele...

...sempre me ultrapassou.

Devia ter tentado mais.

N�o. N�o sejas t�o dura contigo.

Foste uma filha fant�stica.
Ambos tinham muito orgulho em ti.

Obrigada.

E n�o te preocupes com a arca.
Vou falar com o porteiro do pr�dio.

�s um her�i.

Estou um caco.

-Devia voltar.
-Claro.

Mant�m-te forte, Shelly.
Tamb�m isto passar�.

Com licen�a.
Vou ter de me despedir.

-Adeus.
-Fica bem.

Adam, o que se passa?
Estou a ligar h� horas.

Merda. Devo ter tirado o som.

N�o est�s pronto?
Dev�amos estar l� h� 15 minutos.

-Estar onde?
-A gala do Ken.

-O qu�? Quem?
-O Ken Yates.

O Dr. Yates, no Lincoln Center.

Credo! Era hoje?

Est�s bem, Adam?
Est�s muito estranho.

-Andaste a beber?
-N�o. N�o.

Nada disso.
Estou perto de conseguir algo.

� o melhor que j� escrevi em anos.

Tenho... Tenho de continuar.

Adam, dissemos que �amos.

-Temos de ir. Estou toda arranjada.
-E est�s fant�stica.

-Devias ir.
-Sozinha? N�o conhe�o ningu�m.

V� l�, conheces o Ken.
Querida, preciso que v�s.

Diz-lhe que consegui.
� a pe�a por que tem esperado.

Adam, isso � esquisito.

Diz-lhe em franc�s.

-Vai ficar encantado.
-Pois.

-Sabes como te olha.
-De que falas?

-N�o.
-Excita-o.

F�-lo ficar excitado com a pe�a.
Preciso que fa�as isto.

-Est� bem. Eu vou.
-Preciso que fa�as isto.

Obrigado. Vai.

Mas v� l� se � boa.

Sen�o mando-te a Toulouse
visitar a minha tia Monette sozinho.

Vou ver a tua tia Monette
e os primos de Avinh�o.

S�o de Montpellier.

Diz-lhes para se mudarem para Avinh�o,
� mais f�cil para mim.

Engra�adinho.

Sei de algo
que n�o queres que eu saiba.

Tu pensas em mim.

Acordas duro a pensar em mim.

Pensas em mim a chupar-te a pila.

Pensas em foder-me.

Sou o teu lar, Samir.

Olha para mim.

Sou o teu lar.

"N�o me importava
se nunca aparecesse.

A noite est� deslumbrante tal como est�."

Sa�mo-nos bem, Vincent.

Onde � que a foste buscar?

A ideia para a tua disserta��o.

E porque � t�o importante para ti?

"Da natureza torta da humanidade
nunca nada se fez direito."

-O qu�?
-Uma cita��o de Kant.

Interessa-me saber porque somos
da maneira que somos.

� uma boa qualidade.

Sim.

Est�s a estragar-me o trabalho.

Vi tr�s vezes o rel�gio.

-Dez minutos at� ao pr�ximo paciente.
-� melhor despacharmo-nos.

Sem preliminares? Sem carinho depois?

Tu mandas.

Sou t�o lorpa.

Ent�o, como � o teu dia?

Passeio no parque, ver o Frick,

almo�ar, contemplar a Lua.

Que rica vida.

Podes crer.

N�o te posso ajudar na biografia.

-Meu Deus.
-De repente,

reviver todas essas mem�rias,

sabes, �...

� demais.

Isso � um golpe devastador, Adam.

As entrevistas iam ser
a parte central do meu livro.

Eu...

Talvez possamos recome�ar
daqui a umas semanas.

Est�s a dar-me cr�dito demais, Robert.

N�o, n�o.

Continua.

Vais encontrar tudo o que precisas
nas p�ginas das pe�as do Vincent.

N�o te levantes.

Trabalho at� �s 20 horas.

Jantar tardio?

Parece bem.

Acho que dev�amos convidar o Adam.

O que te poderia levar
a pensar isso?

Quero que isto se saiba.

Eu n�o.

Disse logo que teria de ser
segundo as minhas condi��es.

Sim, mas, querida,
isso j� foi h� mais de um m�s.

Se isto � real, porqu� escond�-lo?

Claro que � real. Que obsess�o � essa
de contar ao Adam?

Est�s a tentar ajustar contas?

Ellie, n�o h� contas a ajustar.

Mas quando sa�mos, � sempre...

...uma mesa ao canto
nalgum s�tio escuro.

Como se estivesses
a tentar esconder-me.

A n�o ser, claro,
que a verdadeira raz�o seja...

...porque ainda amas o Adam.

N�o sejas rid�culo.

S� quero jantar sozinha contigo.

Tu espantas-me.

Tu espantas-me.

Achas que � assim t�o boa?

Ouve-me.

� espantosa.

V�o ter esta pe�a em cena
daqui a cem anos.

Estou t�o contente por teres gostado.

Transformaste-te.

A tua escrita, tem uma...

...ternura que nunca vi no teu trabalho.

Sou tua agente h� qu�? H� 20 anos

e, de repente, intimidas-me.

Sempre quis intimidar-te, Judith.

Est�o loucos na editora.
O Ken vai-se passar.

O grupo dele vai querer meter-se nisto.

-Achas?
-Meu Deus, sim.

Tenho de sair daqui...

...e fazer o meu trabalho.

Mas toma.

O Adam Weller voltou.

Parab�ns.
Vai ser uma grande aventura.

Ouve, quero que comeces
a pensar nos atores.

Muito bem. Temos um �xito.

O papel do Michael � perfeito para ti.

Se leres, acho que vais concordar.

Foi simp�tico ter pensado em mim,
Mr. Weller.

Mas n�o, obrigado.

Sam.

Esta sacana � a melhor pe�a
de teatro americano dos �ltimos 10 anos.

Estou a oferecer-te
uma oportunidade de fazer parte.

Bem, obrigado.

Mas deixei os palcos.

Est� bem, olha...

...todos sabemos o que passaste.
Os nossos cora��es partiram por ti.

Por isso te mantivemos por perto.

Por isso te contrat�mos
para renovar as cozinhas

e construir os cen�rios.

Mas �s um actor.

� quem tu �s.

-Est� na altura de voltares.
-Est� a exceder-se.

Agrade�o a oferta,
mas n�o estou interessado.

O que pensas?

Que �s a �nica pessoa
que j� sofreu uma perda terr�vel?

Que direito tens
de guardar o teu dom...

...e ficar escondido para sempre?
Isso n�o � luto, amigo.

Isso... Isso � arrog�ncia...

Tenho de trabalhar.

-Sam?
-Sei o que queres.

Queres controlar-me,
queres vergar-me, n�o te deixo.

N�o te quero. Enojas-me.

Fica longe de mim.

Meu Deus.

Est� tudo bem.

Espl�ndido.
N�o podia estar mais feliz por voc�s.

Ao meu querido irm�o
e � minha amada ex.

As duas pessoas
mais moralmente correctas que conhe�o.

Estou esfomeado.
Vamos arranjar uma mesa.

N�o. N�s dev�amos ir indo.

N�o sejas rid�cula. V� l�.

� preciso celebrar, certo?

Vou pagar-vos o jantar.
E n�o aceito um "n�o".

J� se comia.

Pronto. Est� decidido.

As Blue Points s�o incr�veis aqui.
Ele adora ostras.

Vamos personalizar isto, sim?

Como se relacionam especificamente
com o imperativo categ�rico de Kant

de que temos de encontrar
uma forma de nos reconhecer?

Olho � minha volta
e vejo muito pouca empatia.

Toda a gente se usa. �...

A vida � mesmo isso, n�o �?

Bem, sabes, por isso � que
Schopenhauer est� no programa.

Est� l� para nos lembrar
que tudo acaba no nada

e a vida �...
� desprovida de significado.

E com isso em mente,
desfrutem do fim de semana.

Muito bem. Obrigada.

-Bom fim de semana.
-Igualmente. Adeus.

Adeus.

N�o pedi ch�.

N�o queres?

N�o, quero.

Desculpa.
Vou deixar-te voltar ao trabalho.

Obrigada.

-� s� ch�.
-Eu sei.

O tio Paul.

-O pai sabe?
-Sabe.

Sabes bem mudar as coisas!

J� h� muito tempo
que n�o estava t�o feliz.

� dif�cil habituar-me.

Que problema bom de se ter.

N�o � que queira superar
as tuas boas not�cias, mas...

-Conta-me.
-Vamos s� dizer

que tenho um pequeno...

...fil�sofo...

...a crescer na minha barriga.

Que not�cias enormes.

N�o sabia que estavam
a tentar come�ar uma fam�lia.

N�o est�vamos. Aconteceu.

Ama-lo?

Sim.

Acho mesmo que sim.

Ele � muito inteligente,
e � generoso. E ele...

Sente tudo muito profundamente,
e nunca finge.

Acho que vais ser
uma m�e extraordin�ria.

Quando chegar a hora certa.

Est�s pronta para isto?

No passado, houve coisas menores
que te deixaram assoberbada.

Sim, eu sei. Simplesmente...

Mas isso eram dores de crescimento.

Estou bem h� anos,
e isto parece-me t�o certo.

Sinto-me num estado de gra�a.

Obrigada.

Estou gr�vida.

Vamos pensar no assunto.

No dia em que te conheci
Rasguei todos os meus mapas

O qu�?

O meu pai costumava
traduzir poesia �rabe.

E havia um poema.

Era sobre um homem
a quem o amor tinha dado a volta.

Diz outra vez.

No dia em que te conheci
Rasguei todos os meus mapas

� lindo.

Lembro-me de pensar

e ficar a imaginar se

o amor era mesmo assim.

Se alguma vez
iria sentir isso por algu�m.

Acho que foi �ptimo
termos trope�ado um no outro.

Sabes que mais? Eu tamb�m.

Olha, gostaste mesmo do ad�gio?

Sim, achei-o encantador.

-Obrigada. Muito bom trabalho.
-Foi um prazer conhecer-vos.

Melanie, podes ir.
Acab�mos por hoje.

-Bem, a busca continua.
-Receio que sim.

-Quem diabos sobra?
-Precisam que eu fique?

-H� mais um.
-N�o, j� acab�mos. Acab�mos.

-Diz que conhece o Adam.
-Claro que conhece.

N�o, se tem a coragem
de aparecer assim, deixa-o tentar.

N�o. N�o, nem pensar.

Se calhar dev�amos procurar em L.A.

E Chicago.

E Moscovo.

-Fico contente por teres vindo, Sam.
-Eu tamb�m.

Sua sortuda!

-Ele � um sonho.
-Sim.

� inteligente, � lindo.

Mi�da, v�o ter beb�s lindos.

Arrasaste, mi�da.

Olha s� para ele a mexer-se.

Sim, � um grupo interessante
de homens.

Maud, tenho boas not�cias.
Quero partilh�-las contigo.

-Sim?
-Sim.

Que bom. Adoro boas not�cias.

O teu pai contratou-me
para a pe�a nova.

-Contratou?
-Sim.

Que fixe.
Vais fazer os cen�rios?

Por acaso, vou entrar na pe�a.

Como assim, vais entrar?

Quero dizer que vou ser actor.

Boa. Sim.

E eu vou jogar a base pelos Knicks.

N�o estou a brincar.

�s actor?

Era. Eu...

Desculpa.
N�o quis esconder-te nada.

O tipo de quem n�o arranquei
uma frase completa

nos �ltimos tr�s meses � actor?

-Sim.
-� imposs�vel.

Isso n�o pode ser.

Bem, depois da Zahra morrer, eu...

N�o consegui voltar aos palcos.

Mas depois o Adam insistiu
que lesse a pe�a nova dele.

Era a �ltima coisa
que eu esperava, mas li.

Sabia que tinha de a fazer.

�s actor.

O meu pai escreveu uma pe�a boa?

Quer dizer, �... � linda.

-Porqu�?
-N�o consegui ir embora.

Andas a conspirar contra mim
desde que o teu pai conseguiu.

O que � que queres
que eu fa�a, exactamente?

Devias ir.

J� cumpriste o teu dever
e est�s livre.

Acho que n�o dizes isso a s�rio.

Ol�.

Ol�, Maudy,
que agrad�vel surpresa.

Como vai o netinho?

Bem. Ele anda a dar pontap�s,
como sempre.

Claro. � um Weller.

Como v�o os ensaios?

O Sam est� a arrasar.
� incapaz de um momento falso.

Isso � bom.

Pelo menos um de n�s
est� no seu melhor.

N�o sejas rid�cula.
Tamb�m est�s a ser �ptima.

N�o tenho tanta certeza.

�s brilhante,
�s linda, est�s gr�vida

e o teu homem est� prestes
a conquistar a cidade.

Pois.

Pronto.
Quando estiverem prontos.

Algu�m se anda a mexer muito hoje.

Parece que ela gosta
de chuchar no dedo.

O qu�?

Est� a ver ali?
Tem o polegar na boca dela.

Disse: "dela".

N�s vamos ter um menino.

Na �ltima ecografia disse
que �amos ter um menino.

Disse que pensava
que iam ter um menino.

Mas tal como expliquei,
as imagens iniciais n�o s�o conclusivas.

Disse que viu os tomates dele.

Os l�bios vaginais podem
parecer um escroto, no in�cio.

Mas a amniocentese � definitiva.

Tem uma menina
muito saud�vel, Maud.

Maud?

Ol�.

-Ent�o, est�s bem?
-Sim. Sim.

Estou bem.

J� acabei.

Sei que te sentes horr�vel
neste momento, mas...

...lembra-te do que disse a Dra. Lin.

Isto � normal.

Vai passar.

Ela tamb�m disse
que �amos ter um menino, por isso...

...o que diabos � que ela sabe?

Espera, o qu�?

Recebemos os resultados
da amniocentese. � uma menina.

Uma menina?

Isso � maravilhoso.

Sim. Dizes isso agora, mas...

N�o, Maud.

� nossa filha.

� irm� da Zahra.

Ela �...? � saud�vel?
A m�dica disse que � saud�vel?

Sim, � forte e robusta.
Tem 10 dedos nas m�os e nos p�s.

E tem uns l�bios grandes
que parecem um escroto.

N�o sejas tonta.
N�o vais querer ir at� ao JFK.

Com prazer.
D�-nos outra hora juntos.

Sim, e depois passas
duas horas na Grand Central

em hora de ponta
a voltar para a cidade. � loucura.

N�o te posso deixar ir sozinho.

N�o h� nada mais triste
do que um homem com uma mala

a atravessar o aeroporto sozinho.

Olha para a minha cara.
Ningu�m me vai achar triste.

Porque tens de ir sequer?

H� muito dinheiro a apoiar
estes sacanas que atacam o sindicato.

Sabes, tenho de ir l� armar confus�o.

Tu e o Adam n�o podiam
ser mais diferentes?

N�o somos assim
t�o dissemelhantes.

Ambos gostamos da multid�o,
de receber aplausos.

Mas ele ganha mais dinheiro.

Eu volto.

Deixa uma luz acesa.

Ol�, querida!

Est�s acordada?

Agora estou.

-Trouxe-te uma sandu�che.
-M�e.

Fazemos isto todos os dias.
N�o tenho fome.

� importante tentares
manter algo a� dentro.

A beb� tamb�m precisa de comida.

Bem, se ela tem fome,
devia sair.

N�o sei de que diabos
est� � espera.

M�e, n�o fa�as isso.
Por favor.

-Deixa s�...
-Est� um dia lindo.

Um pouco de ar fresco
e luz do sol

pode inspirar-te
a sair da cama e dar um passeio.

Para de me tratar
como uma crian�a.

Queres dar-me bons conselhos?
Devias t�-lo feito h� oito meses.

Agora n�o estaria
nesta porcaria desta confus�o.

Eu dei-te bons conselhos.

Disse que serias
uma m�e maravilhosa na hora certa.

E tu disseste que estavas
num estado de gra�a.

E tu acreditaste nessa?

Claro.

-Tenho o m�ximo de respeito por ti.
-Ent�o a culpa � toda minha.

Ningu�m tem culpa, Maud.

N�o h� culpas.

Se calhar sentes que n�o podes falar
abertamente comigo agora.

Eu percebo isso.

Se quiseres,
posso recomendar algu�m.

Porqu�?

Porque achas que
vou abaixo outra vez?

Vou ter esta beb�
e vai correr tudo bem.

Eu sei que sim, querida.

Vai correr tudo bem.

Tenho a certeza.

Ol�?

Maud?

-Ol�, Sam.
-Ol�, Eleanor.

Como est�? � bom v�-la.

-Como vai o espect�culo?
-Bem. Est� a evoluir.

-Que bom.
-Ol�.

-Ol�.
-Olha para essas flores.

Lindas.

Bem, tenho de ir indo.

O Paul volta esta noite
e quero estar l� quando chegar.

-Eu levo-a � porta.
-Obrigada.

Ainda bem que cheguei
antes de sair. Queria ligar-lhe.

Tamb�m queria falar contigo.

O que se passa com ela?
Pensava que isto lhe passava.

Assim que chegue a beb�...

...tenho a certeza de que ser�
o grande amor da vida da Maud

e toda esta tristeza vai fazer sentido.

Pois.

Claro.

Entretanto, fica por perto.

Est� bem. Assim o farei.

Obrigado, Eleanor.

Adeus.

Sei de algo
que n�o queres que eu saiba.

Para.

-Pensas em mim.
-N�o.

-Acordas a pensar em mim.
-N�o acordo. Podes calar-te, por favor?

Aonde vais?

Passear.

-Eu vou contigo.
-N�o.

Maud, v� l�.
Quero ir contigo.

-Vamos dar um passeio.
-N�o.

N�o suporto o som da tua voz.

Vou andar para me afastar de ti.

-Maud?
-O qu�?

Sabes, isto tamb�m � dif�cil
para mim.

Certo.

Certo, isto � sobre ti.

-Do qu�o dif�cil isto � para ti.
-N�o percebo.

-Quando come�aste a odiar-me?
-N�o te odeio. N�o te conhe�o.

Tu conheces-me. Tu amavas-me.

-Tu salvaste-me.
-Eu n�o te amava.

Eu tive pena de ti.

E agora estou presa
com esta beb� dentro de mim.

N�o digas isso.
Sei que n�o o sentes.

Queres afastar-me.

N�o me vais afastar.
Eu amo-te.

Se me amas, deixa-me em paz!

Nada como uma refei��o caseira
ap�s uma semana de buffets e caf�s.

Para dizer a verdade,
encomendei a comida no Fairway.

Sam, est� tudo bem?

A Maud entrou
em trabalho de parto.

-A s�rio? Meu Deus.
-Sim.

-Ligaste � Dra. Lin?
-Sim. Liguei-lhe.

-Pronto, boa.
-At� j�.

Estou a caminho.

A Maud entrou em trabalho de parto.

Paul, desculpa.
Acho que devia ir sozinha.

-N�o sejas tonta. Vou contigo.
-Preferia ir sozinha.

-� uma situa��o muito delicada.
-Por isso vou contigo.

Desiste, Paul. Isto n�o � negoci�vel.

Por favor, d�-me um beijo
e deixa-me ir andando.

Vai l�.

-Estarei aqui se precisares de mim.
-Obrigada por perceberes.

-Pronto. At� j�.
-Est� bem, at� j�.

Acredites ou n�o,
aqui este jovem vai ser av�.

-Parab�ns. Isso � maravilhoso.
-Sim, tenho de ir para o hospital.

Porque n�o vens?

Acho que n�o.
Devia ser um momento de fam�lia, n�o?

Gostava de te ter l�.

Gostavas porque n�o gostas
de situa��es emocionais.

Culpado.

Dava jeito ter um tamp�o.

Nunca quiseste
que conhecesse a tua fam�lia antes.

� justo. J� percebi.

-N�o sou um adere�o, Adam.
-Meu Deus.

Calma, espera a�.
Onde...? De onde veio isso?

� tudo t�o casual contigo.

Certo, exactamente.
Por isso funcionamos t�o bem.

-Para onde vamos com isto?
-V� l�, Sandrine.

Foi isto que acord�mos.
N�o estraguemos uma coisa boa.

De repente, est�s a ser
muito pouco francesa.

Vai l�.

Vai conhecer a tua neta.
� giro.

Est� bem, deseja-me sorte.

Adam.

Est�s a ressonar.

Quanto tempo dormi?

Uma hora. N�o sei.

Como estamos?

Ela est� a fazer for�a h� duas horas.

Se calhar devia ir ver como est� e...

Eleanor, senta-te.

Queres caf�?

-Leite, sem a��car.
-Elle.

Eu sei como gostas do caf�.

Ol�, Rosie.
� t�o bom conhecer-te.

Amamos-te tanto.

Bem-vinda ao nosso mundo
de loucos, mi�da.

Que os caminhos se abram para ti

e o Sol aque�a o teu rabinho.

Minha querida.

-O que se passa?
-Nada. Estou t�o feliz.

Sinto-me t�o aben�oada,
� s� isso.

N�s somos aben�oados.

Vamos deixar os mi�dos a s�s.
Deix�-los descansar.

Mereceram.

Anda l�.

Foram l�grimas de alegria,
n�o foram, Adam?

Teve o primeiro beb�. Preocupava-me
se n�o estivesse emocionada.

Choraste durante uma semana
quando ela nasceu.

Ei!

Pronto. Este � para ti.

Olhe, d�-me um minuto.

Olha,

brincadeiras � parte...

...foste uma m�e incr�vel.

Carregaste esta fam�lia �s costas.

-Tamb�m fizeste a tua parte.
-Sejamos sinceros.

Tu fizeste a parte pesada.

E estou grato.

-Sinceramente.
-Obrigada, Adam.

Isso significa muito para mim.

Vamos para a Riverside
e a Rua 91, por favor.

Bem, isto foi...

...inesperado...

...mas incr�vel.

Pois foi.

Sabes o que me fez lembrar?

Williamstown.

Ver�o de 76.

A tua primeira pe�a.

Que desastre.

Mas tu e eu fizemos ali
uns recordes, n�o foi?

Eu lembro-me.

Olha, Elle.

Dev�amos fazer isto outra vez.

Juntarmo-nos de vez em quando.

Tipo... Tipo voltar a casa.

N�o me parece.

Estou contente por termos passado
este tempo juntos.

Eu tamb�m.

Como correu?

-Est� tudo bem?
-Est� tudo �ptimo. �ptimo.

O nome dela � Rose.

Tr�s quilos, 230 gramas.

E ela �... Ela � linda.

Que maravilhoso.
Que bom que tudo correu bem.

Obrigada, Paul.

Sabes, para ser sincero, eu...

Achei que me ias ligar
quando a beb� nascesse.

Estava preocupado.

Passaste a noite toda fora.

Estava na casa do Adam.

Passei a noite na casa do Adam.

Desculpa.

-Est�s apaixonada por ele?
-N�o, eu...

Estou livre dele.

E onde � que isso nos deixa?

A Maud e a Rosie precisam de mim.

Eu posso ajudar-te com isso tudo.

� isto que eu quero, Paul.

-Quero estar sozinha.
-Ent�o, � assim?

-Vais deitar isto tudo fora?
-Por favor, Paul.

Isto tamb�m � doloroso para mim.

�?

Usas-me para qu�, para amparar
a queda? E agora sou descart�vel.

Sabias desde o in�cio que
isto era muito confuso para mim.

Tu amas-me, Eleanor.

Tu amas-me.

E assusta-te.

E vais seguir o caminho f�cil.

Se calhar vou.

Sabias que podia viver com o facto
de teres dormido com o Adam?

Magoa e humilha-me,
mas conseguia perceber.

Mas nunca imaginei
que fosses t�o cobarde.

Os meus mamilos est�o a rasgar.

Ela est� a tentar mamar.

Ela s�... Ela quer um biber�o.

-Ela quer um biber�o.
-Vou buscar um.

O que queres? O que queres?

Toma.

Que menina grande.

Que menina grande.

J� est� a fechar os olhos.

E se a levasse a dar um passeio?

Dava-te umas horas.

Se calhar podes voltar � tua tese.

Sobre o que trata a minha tese?

Como as pessoas se tratam?
Porcamente.

Maud.

-N�o sentes isso.
-Lixei tudo.

A minha tese � uma grande mentira
porque eu...

Eu herdei um...
Um gene de boa menina de ti, sabes?

�s t�o �tica e t�o consciente
das necessidades dos outros.

E mal consegues defender-te
a ti pr�pria.

Por isso tens um fetiche
em cuidar de pessoas fracas.

N�o � vergonha sentir-se fraco.

�ptimo. Isso � bom.
Mais encorajamento falso.

Vai para casa.
Por favor, vai para casa, sim?

Depois de tratar da roupa.
A m�quina de secar est� cheia.

Esquece a roupa.
N�o preciso que trates disso.

Vai para casa, por favor.
Pareces um guarda prisional.

Vou esperar at� o Sam chegar.

O que acabaste de dizer?

� isso que pensas?

Que sou um perigo para mim?
Que a minha beb� n�o est� segura?

-N�o disse isso.
-Por favor, vai para casa.

Arranja uma vida.
Vai para casa, por favor!

Desculpa.

Mil desculpas.

Eu adoro-te. Desculpa.
Eu adoro-te, m�e.

Desculpa.

Est� bem.

Sim.

Vou deitar a Rosie e vejo-te amanh�.

Aqui vamos n�s.

Ser� vis�vel a qualquer minuto.

Espero que n�o acabe
como o Kohoutek.

Kohoutek, o que foi isso?

Era suposto ter sido
o maior cometa de sempre.

O espect�culo do s�culo,

mas, quando chegou perto da Terra,
esmoreceu.

Maud?

Maud.

Est�s bem? A Rosie est� a gritar.
N�o a ouves?

Pronto. Pronto.

Tem a fralda cheia.

Ela est� bem. Estava a dormir a sesta.

Tem fome.

Eu tento, mas ela n�o mama.

-Queres tentar outra vez?
-N�o.

Ela n�o me quer.

Est� tudo bem, beb�. Tudo bem.

O pap� est� aqui.

Mam�.

Estou aqui.

Estou a ir abaixo outra vez.

Eu sei.

N�o faz mal.

N�o consigo fazer isto.

Agora n�o.

Eu sei.

Eu tentei.

Claro que tentaste.

Tenho de falar com o Sam.

Ele est� com a Rosie.

Tenho um historial de...

...me sentir assoberbada.

E...

...de precisar de descansar.

De...

...precisar de ir para longe
para descansar.

Eu amo-te.

Eu amo-te.

E amo a Rosie, a s�rio. Eu...

...espero mesmo que sim.

Mas eu...

N�o o consigo sentir.

Maud, estamos prontos
para a receber de volta.

Quer que a sua fam�lia a leve ao quarto?

N�o.

N�o se levantem, por favor.

ADAM WELLER
VIDAS FR�GEIS

Quando um her�i grego morria,
os deuses punham-no no c�u.

-Mostra-me.
-Bem...

Consegues ver Perseu,

mesmo acima do horizonte, e...

...Andr�meda est� escondida
por baixo da curva do...

Desculpa.

-Eu trato disto.
-Est� bem.

Sam, amigo, est�s bem?

Ela n�o me quer ver.

-N�o quer ver a Rosie.
-Olha, olha...

Ouve-me.

Ela � dura.

Ela vai ficar bem.

Olha, Sam.

Confia em mim.

J� vi isto antes.

Vai passar.

Ela vai superar isto.

-Certo. Certo.
-Certo.

N�o podes deixar
que isto te afunde.

Cheg�mos longe demais
para deixar estragar isto.

N�o, Adam.

-N�o sei...
-Nem o digas.

Nem o penses.

Porque aconte�a o que acontecer...

...este espect�culo tem de continuar.

Estamos esclarecidos?

Sim.

-Sim, estamos.
-Sim.

Est� bem.

Penso sempre numa frase
que Kafka escreveu:

"N�o se deve roubar ningu�m,

nem mesmo roubar o mundo
da nossa vit�ria."

�...

O mundo est� a dar cabo de mim.

Que se lixe o Kafka.

O que � que ele sabe, afinal?

Estou sempre a convencer-me
de que posso sair desta a pensar.

Sabes? N�o penses tanto.
N�o lutes contra a mar�.

Nada de lado durante algum tempo.

Pois.

Se for abaixo,
vou abaixo a lutar.

N�o vou ser assim t�o educada.

Sabes?

-Terapia daqui a cinco minutos, Maud.
-Obrigada, Louise.

-De nada.
-Obrigada. � a minha deixa.

Podes...

...dizer ol� � Rosie por mim?

-Claro.
-Est� bem. Boa. �ptimo.

Achei que podias gostar de ter isso.

Ent�o, o que soa melhor?

Praia de areia branca nas Bahamas,

ou uma cabana entre
os pinheiros do Vermont?

-Porqu�?
-T�m sido umas semanas loucas.

Ap�s a estreia, apanhamos um voo
para longe deste manic�mio.

-Adam...
-Mike. Sim, u�sque com umas...

N�o. Ilhas gregas,
o hotel Blue Aegean, sim?

Adam, temos de falar.

Isto � muito dram�tico.

Ando com uma pessoa.

A s�rio?

Algu�m que eu conhe�a?

Bem, sim, por acaso.

O Ken.

O Ken...

...Yates?

Ken Yates. Isso n�o � poss�vel.

Desculpa.

N�o podes falar a s�rio.
� dentista, por favor.

N�o podes...

-N�o podes deixar-me por um dentista.
-� teu produtor.

� um diletante.

-N�o � justo. � um bom homem.
-Meu Deus.

Est� bem, olha, Sandrine,

admito que estive distante
estes �ltimos meses.

Estou obcecado com a pe�a.

-Vamos abrandar um minuto.
-Adam...

...passaste o �ltimo ano a garantir
que n�o nos aproxim�vamos.

� o que tu queres.

F�cil, casual.

Eu quero algo mais profundo.

N�o...

N�o desistas de n�s.

Fica feliz por mim.

-Ol�.
-Ol�, meu pai.

Desculpa ter demorado
umas semanas a vir c�.

As coisas est�o fren�ticas
com a pe�a.

N�o faz mal. N�o te preocupes.

N�o perdeste muito.

Bem, parece que fizeram
renova��es desde a �ltima vez.

Sim. Sim. �...
N�o est� mal para um manic�mio.

A melhor parte � que consigo dormir.

Pela primeira vez em meses,
tenho sonhado.

Se n�o vamos tentar fugir,

trouxe o teu favorito � socapa.

Pastrami quente.

�s o meu her�i.
Vou guardar para mais logo.

E tamb�m trouxe material de leitura.

A New York Magazine tinha
pouco conte�do este m�s.

REPARANDO
REACENDENDO - REAVIVANDO

Deviam ter de encher espa�o.

"De volta ao palco principal,
Adam Weller volta � Broadway."

Pai.

-�s incr�vel.
-Pois.

Metade � uma ilus�o.

E a outra metade, sorte.

Ent�o, Maudy?

Maudy...

...o que foi?

Gostava de poder ser como tu.

Pegas em tudo o que a vida te atira
e voltas ainda mais forte.

Desculpa.

Estava s� a exibir-me.

Queria que ficasses orgulhosa de mim.

A verdade � que eu gostava
de ser mais como tu.

�s t�o destemida.

Sentes tudo t�o intensamente.

Fez-me muito bem.

Trocava isso
por um bocadinho da tua for�a.

N�o.

N�o sou t�o forte como pensas, Maud.

Fui um marido ego�sta
e um pai ausente.

N�o, n�o sejas t�o duro contigo.
Meu Deus, deste o teu melhor.

-Tu sempre...
-Para, Maud. Para.

Para de me defender.

Menti-te sobre quem sou.

E tu pensas que falhaste
em compara��o.

N�o. Vim ter aqui sozinha, pai.
N�o tens de ficar com as culpas.

A verdade � que...

...sou uma grande fraude.

Sim?

Uma fraude com um espect�culo
na Broadway de que todos falam.

Bem, o meu grande regresso,

o meu espect�culo da Broadway
de que toda a gente fala...

...n�o � meu.

O que queres dizer?

Quero dizer que...

...eu n�o...

Eu roubei-o.

Roubaste-o?

Isto �, n�o roubei literalmente.

Foi um presente do universo.
Foi-me dado.

Na sua forma completa,
e eu aceitei.

O meu nome est� l�.

Mas n�o � mesmo meu.

Mas estavas pronto para ele.

Tu... E agarraste-o

e transformaste-o em algo belo.

Ouve-me.

O pouco que sei de beleza...

...aprendi contigo.

MAJESTIC
VIDAS FR�GEIS

Antes sabia as constela��es todas.

Quando um her�i grego morria,

os deuses punham-no no c�u.

Mostra-me.

Aquela � Cefeu.

Casou-se com a bela Cassiopeia.

Ela est� ali.

Tiveram uma filha, Andr�meda.

N�o a consegues ver agora.

Est� escondida por baixo
da curva da Terra.

Mas ir� mostrar-se no Outono.

Anda. Est� quase na hora.
Vai chegar a qualquer minuto.

Espero que isto n�o acabe
como o Kohoutek.

Era suposto ser o maior cometa
de sempre, o espect�culo do s�culo.

Mas quando chegou perto da Terra,
esmoreceu.

Espero que este n�o esmore�a.

N�o me importava se nunca aparecesse.

A noite est� deslumbrante tal como est�.

Bravo!

Adam!

Adam!

-Bravo. Muito bem.
-Bravo.

Adorei. Chorei o tempo todo.

Obrigado, Sandrine,
fico lisonjeado.

E, Kenny,
n�o o pod�amos ter feito sem ti.

-Ken.
-Ol�.

-Parab�ns.
-Obrigado.

Importam-se que roube o autor
por um momento?

-Sou eu.
-Bem, por um minuto.

-Tem muitas pessoas para ver.
-Vamos beber.

Adam, foi lindo.

-Obrigado, Ellie. Muito obrigado.
-T�o sentido, t�o comovente.

Bem, isso...
Isso significa muito para mim.

E tu n�o a escreveste.

Desculpa? O qu�?
O que disseste?

N�o escreveste aquela pe�a.

Est�s louca?
Claro que escrevi.

Vivi contigo 35 anos,
li cada palavra que escreveste

e n�o podias ter escrito aquela pe�a,
nem pensar.

Como te atreves?

-Que acusa��o ultrajante.
-� demasiado sincera.

� demasiado vulner�vel.

N�o podias escrever
sobre amor t�o profundamente

porque nunca sentiste amor
t�o profundamente.

Essa � a tua prova?

Fui um marido horr�vel?
Sou um idiota ego�sta?

Tens raz�o.

Mas sou um escritor muito bom.

E sabes que mais?
� isso que os escritores fazem.

Inventamos porcarias,
mesmo o que n�o sentimos.

N�o me olhes assim, Ellie.

Eu escrevi aquela pe�a, Eleanor.

Estava numa caixa...

...com os pap�is velhos do Vincent.

Claro.

O Vincent.

Eu estava seco.

Estava vazio.

-N�o � desculpa.
-O Vincendo est� morto.

A Ruth est� morta.

-Os mortos n�o se importam.
-� trabalho do Vincendo.

N�o � teu.
� a hist�ria de amor dele com a Ruth.

Trabalhei duro naquela pe�a.
Reescrevi-a por completo.

-Tornei-a minha.
-A� est�s tu, seu filho da m�e.

Sabes como te sa�ste?

Sabe o que ele fez?

Partiste o meu cora��o,

Adam.

Estou sem palavras.

Ver-te...

...arriscar uma abertura emocional
que nunca arriscaste antes.

Estou espantado.

-Obrigado, Robert.
-Obrigado eu.

N�o, � uma honra que te sintas assim.
Conheces a minha ex-mulher, Eleanor.

-Claro.
-Prazer em v�-lo.

O Robert est� a escrever
um livro sobre o Vincendo Frank.

Que bom que algu�m
vai manter a mem�ria dele.

Embora deva confessar que,
ap�s esta noite,

fiquei a pensar se estarei
a escrever sobre o autor certo.

Nem penses nisso, Robert.

Que prazer raro nos deste.

-Obrigado.
-O que posso dizer?

-Foi bom v�-la.
-Igualmente.

Era a tua oportunidade. Porque n�o
lhe disseste que sou um impostor?

-N�o tenho inten��o de te destruir.
-Pois, � claro.

Porque queres ter
a vantagem moral.

Apanhaste-me, venceste.

Agora j� podes pensar o pior de mim.

Pensei que era isso que queria,
mas n�o �.

N�o suportava a ideia
de ser irrelevante.

Estava desesperado.

Assustado.

Bem-vindo ao clube.

-Bravo!
-Bravo.

Bravo!

Ent�o?

Adam, obrigado.

-A s�rio, devo-lhe tanto.
-N�o, Sam, obrigado eu.

-T�o maravilhoso.
-Abanaste o meu mundo.

Que noite estupenda.

Porque tu est�s aqui.

Est�s aqui.

Pessoal. Senhoras e senhores.

Enviaram-me uma c�pia
da cr�tica do New York Times.

Diz: "Ontem � noite, Adam Weller
voltou em gl�ria � Broadway

com uma nova pe�a inspiradora
que � determinada,

diabolicamente bem observada
e dolorosamente po�tica."

E s� fica melhor a partir daqui.

Uma salva de palmas
para o nosso escritor destemido.

Adam! V� l�, vem c�.

Anda, anda.

Anda. Anda.

Bem, todos n�s sabemos, n�o �?

Todos n�s que dedic�mos tudo

a esta bela e enlouquecedora demanda

de captar o ef�mero.

Sabemos o qu�o raro �

conseguir alinhar
todos os elementos naquele palco

e produzir uma revela��o

sobre a hist�ria humana.

Bem, esta noite � a nossa noite.

-Obrigado a todos.
-Obrigada, Adam.

Perdi a minha paragem e...

...acabei em Cincinnati.

Pois, j� me aconteceu.

VIDAS FR�GEIS

Tradu��o das legendas:
Paula Beatriz Ribeiro

Ripadas por:
n0Te