All language subtitles for Spector.S01E03

Pare de gravar por um segundo.

- Beleza.
- Só por um...

- Ou podemos fazer outra hora.
- Não, vamos fazer isso...

A BBC me perguntou se eu estava
interessado em fazer um filme

sobre Phil Spector,

já que o julgamento dele
estava chegando.

Falei que só iria
se eu pudesse falar com ele.

Eu sabia que, historicamente,

ele sempre recusou
documentaristas na casa dele.

Até o Mick Brown,

ele evitou entrevistas
por cerca de 30 anos.

Quer tomar uma água?

Mas enviei um bilhete para ele
de meia página,

e, naquela noite,

curiosamente,
recebi um e-mail dele dizendo:

"Você parece uma pessoa honesta.
Venha ao castelo."

Está pronto?

E tive uma conversa amistosa
com o Phil.

Ele acreditava
que tudo que dizia era verdade.

Posso passar pelo julgamento

sem nenhum tipo de problema.

A única coisa que me preocupa

sobre o julgamento

é o veredito.

Todo o resto do julgamento
do júri não me preocupa.

Supero isso tranquilamente.

É o veredito que me preocupa.

Há um questionário para o júri
que eles preenchem.

E 45% do júri escreveu

que acredita que sou culpado.

E 20% escreveram
que eu era maluco.

Só espero termos
alguns jurados que escutem...

Não contamos a nossa versão
há quatro anos.

Temos uma história
muito interessante,

abrupta,

sincera

e precisa

para contar

que prova, além de qualquer
dúvida razoável ou possível,

que é impossível
eu estar perto da falecida

quando ela morreu.

19 DE MARÇO DE 2007
A SELEÇÃO DO JÚRI COMEÇA

CENTRO DE JUSTIÇA CRIMINAL
CLARA SHORTDRIDGE FOLTZ

CONDADO DE LOS ANGELES

Quando se entra no tribunal,

nunca se sabe como será o júri.

Não conhecemos a pessoa

que vai estar conosco
pelos próximos meses.

Ou, em alguns casos,
pelos próximos anos.

Quando processamos Phil Spector,

ficamos limitados

pela ideia

de Phil Spector ter escrito
a trilha sonora

da juventude
de muitos dos jurados.

Havia poucas pessoas de idade
no júri

que não sabiam quem ele era
ou não conheciam a música dele.

Dá para esquecer uma pessoa,
mas não uma música,

se nos conectamos com ela.

A música e genialidade dele

tinham uma forma
de infectar e penetrar

em muitos aspectos da vida
de muitos dos jurados.

E esse era um dos desafios.
Procuramos jurados

que não se abalariam
com a notoriedade dele,

que sentariam
e julgariam os fatos.

Gravando.

O meu nome é Ricardo Enriquez.

Fiz parte do júri.
Eu era o jurado número nove.

Eu não conhecia Phil Spector.
Na verdade,

nunca liguei muito para música.

Então quando eu soube

que era um produtor musical,
pensei:

"Legal. Nunca ouvi falar."

Mas ele era famoso, obviamente.

E havia repórteres
por todos os lados,

como um desfile de câmeras.

Direto do tribunal
de Los Angeles,

temos Beth Karas, da Court TV,
que está acompanhando o caso.

Acompanhei o julgamento
de Phil Spector em 2007

como repórter da Court TV.

E quando uma celebridade precisa
trocar uma cadeira como esta

por uma do tribunal?

Não há dúvidas

de que um acusado famoso

aumenta a pressão
para a acusação.

E, em Los Angeles,

com as absolvições
por assassinato de O. J. Simpson

e Robert Blake,

era preciso provar que...

as celebridades iam pagar
pelo que fizessem.

Foi um grande furo
em Los Angeles.

Passava na TV todos os dias.

- O julgamento de Phil Spector...
- Spector...

- Suspeito de homicídio...
- Ele tem um ar perigoso.

Um homem com histórico violento.

A forma
como a mídia o estava retratando

era de alguém
que tinha uma reputação.

Ele parecia

mais perturbado internamente

sabendo que havia
essa percepção pública dele

que não era verdade.

Esse não era ele de verdade,

principalmente
quando eu era mais jovem.

Os meus pais se conheceram

acho que no final de 1964.

O meu pai estava saindo
com Ronnie Spector na época.

Minha mãe
ainda estava no Ensino Médio

e era vendedora na Sunset Strip.

Meu pai
estava fazendo compras lá,

meio que dançando,
sendo engraçado.

E a minha mãe pensou:

"Quem é esse homenzinho?"

Ele perguntou quais eram
os discos favoritos dela,

e ela citou "Da Doo Ron".

Mas ela não fazia ideia
de quem ele era.

Eles eram dois jovens

que se encontraram

e tiveram uma grande amizade,
e, depois, um romance.

Com o fim
da carreira dos discos,

ele vendeu
a casa de Beverly Hills

e se afastou
de muitos amigos antigos,

de grande parte
da vida de rock dele,

se mudou para Pasadena

e teve filhos com Janis.

Quando criança,

éramos só eu,
minha mãe, meu pai,

e meu irmão gêmeo, Philip.

O meu pai era muito engraçado,

incrivelmente generoso.

Ele era muito esperto,
muito mesmo.

A mente mais inteligente
que já conheci.

Ele sempre me desafiava
intelectualmente,

nunca me subestimou.

Éramos uma família unida

que vivia junta
de forma muito harmoniosa.

Acho que ele era
muito dedicado aos filhos,

os amava muito.

A Janis foi uma ótima influência
para estabilizar a vida dele.

Ele estava começando a aceitar

a própria condição mental,

que para mim, era real,

e que seguiu assim
por muitos anos.

Ele, com certeza,
estava tentando se afastar

daquele passado caótico

e tentando encontrar
uma estabilidade

e um tipo de refúgio

na imagem
de uma vida normal em família.

E aí, a tragédia interveio.

A Nicole tinha

um irmão gêmeo

que morreu aos dez anos.

E...

E tem sido difícil.

Muito difícil.

Philip, o filho dele,
morre de leucemia,

e isso acaba deixando Phil
completamente no limite.

Ele não soube lidar com isso,

acabou se alienando
e se fechando.

A Nicole e eu passamos
por muita coisa.

Ela perdeu o gêmeo,
e eu perdi um filho.

No caso de gêmeos,

meio que...

Sempre olham
como se fosse uma pessoa só.

Ninguém os reconhece
como indivíduos.

Ter uma parte e não a outra

fez tudo desmoronar.

O meu pai foi morar um tempo
em Nova York,

e nós ficamos em Los Angeles.

Os meus pais não conseguiam mais

ter um relacionamento.

Todos os meus amigos próximos
de toda a minha vida,

Lenny Bruce
e John Lennon morreram,

eu os perdi.

E, assim,

todos com quem eu podia falar
se foram!

Então eu meio que segui
lutando sozinho.

Não sei como eu seria
se o Phillip estivesse vivo.

A minha vida poderia ter sido
totalmente diferente.

Na verdade,

não sei,
eu poderia ser alguém diferente.

A morte do filho

finalmente o convenceu
de que a vida...

De que viver é estar no inferno.

Não sei se algo o tirou

tanto de rumo

quanto a morte do filho.

E todos os costumes antigos
começam a voltar:

as bebidas,

as loucuras,

a instabilidade.

Em 1989, Spector foi nomeado

membro do Hall da Fama
do Rock and Roll.

Ele chegou ao palco cambaleando.

Não estou entendendo, cara.
Não estou entendendo.

Ele tinha que ferrar tudo.

Ele não conseguia evitar!

E fui embora na inauguração...

Não conseguia mesmo.

Vamos chamar de lado negativo,
ou sombrio, do Phil.

Era quase...

inevitável.

Acredito que qualquer um

que trabalhou
ou socializou com ele

foi exposto

a esse lado do cérebro dele.

Eu não sabia nada
sobre a reputação excêntrica

de Phil Spector
em Los Angeles e Hollywood.

Era preciso ser alguém de dentro
de Hollywood

para saber essas coisas.

Phil Spector tinha
um padrão de comportamento.

E não havia ninguém
que fosse imune a ele.

Principalmente a Lana Clarkson.

Suas janelas
estão acabando com sua grana?

Que bonito!

Lana foi uma atriz ativa

pelos 20 anos que a conheci.

E, nesses 20 anos,

havia épocas de baixas

e épocas de altas.

Faço um pouco de tudo por aqui.

Em Hollywood,
há um prazo de validade

para atrizes.

A Lana sabia que os papéis
iam diminuir com o tempo.

Na década de 1980,
ela fez séries de comédia.

Não! Calma, calma.

Mas, na década de 1990,

ela estava se preparando
para seguir outra direção,

fazendo muitos comerciais.

- Somos os Jeffreys.
- Direto da praia.

Como estão?

Estamos ótimos.

Patê? É da França.

Ela fez comerciais de cerveja,

da Playtex, de carros.

Ela estava desenvolvendo
personagens diferentes.

Incrível.

Ela queria entrar
para o stand-up comedy

e escreveu um roteiro.

Achei mesmo que eu seria ótima
na época do sistema de estúdios,

crescendo para o estrelato.

E tive a sorte de trabalhar

com a adorável
Sra. Esther Williams.

Ela é incrível e me contou

tudo sobre os dias na MGM,

como eram incríveis.

Mas acho
que eu ia acabar estrelando

os filmes do Ed Wood.

Ela estava tentando fazer
um bom trabalho,

escrevendo muito,

pensando no que fazer
com a carreira.

Ela era assim
naquela altura da vida.

A Lana decidiu

que não seria mais ingênua

e que ia produzir um programa
que ela mesma criou.

Ela então lançou
o Lana Unleashed,

o programa solo dela.

Roy está aqui nesta manhã
para um anúncio importante.

Bom dia, Roy,
bem-vindo ao programa.

É, Kathy, valeu.

A ideia por trás
de produzir esse programa

era gravá-lo em fita,

mandar para produtoras,
diretores,

agentes,

e esperar receber trabalhos
com isso.

Era para as pessoas a olharem
de uma forma diferente

e começarem a pensar
em papéis diferentes para ela.

Acho que foi uma forma

de afastar

a aposentadoria forçada
que acontecia

com muitas atrizes jovens
de Hollywood.

Ela pegava
latas antigas de rolo de filme

e colocava

veludo vermelho por dentro,
cortava onde ficava a fita

e colocava uma foto dela
como capa.

Mandamos as fitas

para diretores e produtores
no final do ano.

Foi um grande investimento

de dinheiro, tempo e dedicação.

E então aconteceu o acidente.

Ela estava na casa
de uma amiga muito querida.

Estavam fazendo uma bela festa
de véspera de Natal.

Todos os adultos
estavam curtindo,

e ela estava com as crianças

fazendo dança irlandesa.

Ela estava usando
um salto de 15 cm,

e o tapete enroscou
embaixo do salto.

Ela colocou as mãos para trás
para amortecer a queda,

e como resultado

quebrou os dois pulsos.

Foi catastrófico.

Quando a Lana quebrou os pulsos,
acho que levou um ano

para ela se recuperar.

Ela não conseguia fazer nada,
entrevistas, segurar telefone.

Todos os esforços dela foram
pelo ralo.

A Lana entrou
em uma fase de introspecção

e sobrevivência.

Não era só não saber
como pagaria o aluguel,

mas também não saber
como reestabelecer a carreira,

como manter o nome em evidência.

Não imaginava o futuro.

Ela não gostava da ideia
de um trabalho comum,

mas queria trabalhar em um lugar
para ver e ser vista

e para encontrar pessoas
que já conhecia

e deixar claro
que ela estava de volta.

E foi nesse ano

que ela aceitou
o trabalho na House of Blues.

O meu primeiro contato
com a Lana

foi na House of Blues,

que pertencia a Dan Aykroyd.

A Foundation Room foi
uma das primeiras

salas VIP de luxo
de Los Angeles.

Eu me lembro de a Lana entrar

e falar:

"Quero essa vaga."

"Como assim? Que vaga?"

"Quero a vaga da porta,

porque vou conhecer todos."

Tudo isso foi
uma jogada de carreira,

basicamente, para ver

se ela conseguiria outra chance

para um trabalho diferente
no entretenimento.

A Lana sempre queria
conhecer pessoas.

Ela adorava pessoas,
conhecer qualquer um.

E ela sabia que, logo,

outra oportunidade iria surgir.

25 DE ABRIL DE 2007
O JULGAMENTO COMEÇA

As declarações iniciais foram
em 20 de abril de 2007.

Mais de quatro anos
haviam se passado

desde o assassinato de Lana.

A equipe de defesa de Spector
tinha recursos ilimitados.

Robert Shapiro foi
o advogado de defesa principal

durante toda a acusação inicial.

Mas, em algum momento,

Bruce Cutler virou
o advogado principal

junto com Linda Kenney Baden

e outros advogados
muito talentosos.

- Com licença, por favor!
- Com licença. Para trás!

Ficou bem claro, muito rápido,

que a pessoa que queria

que o julgamento
virasse um teatro

era Phil Spector.

Nunca houve
um julgamento de homicídio

onde a atenção de todos

não estava tanto no crime em si,

mas no cabelo do réu.

Phil Spector
com um penteado novo...

Os penteados de Spector

eram o assunto do julgamento.

Olha só. Foi o grandão, pessoal!

Em Hollywood,
tudo era entretenimento.

E Phillip tinha
um senso de humor.

Ele sentiu

que iam tentar pegá-lo,
de qualquer jeito.

Acho que tudo isso
foi um esforço

para usar
a condição de celebridade dele

e o julgamento

como um teatro particular.

Para mim,

foi um grande erro

por parte da defesa

permitir que Phil Spector
se portasse daquela maneira.

Para mim,
demonstrava falta de respeito.

Os jurados o estavam julgando

em todos os níveis,

da hora em que ele entrava
no tribunal,

como ele ficava sentado,

como se vestia.

Cada momento na frente do júri

é um momento de julgamento.

Não sou do tipo, e nunca serei,

de fazer
o cliente mudar de roupa.

Era o Phillip Spector.

Ele era daquele jeito,
se vestia assim mesmo.

Eu queria que os jurados vissem
quem ele era.

Falei com ele sobre o cabelo

e até pensei
em gravar um trecho sobre isso.

Eu disse:
"Phil, quero que coloque

todas as suas caixas de perucas

em ambos os lados.

E, com a câmera em você,
você vai, com sua sobrecasaca,

atravessar o quadro
com perucas diferentes.

Vai ser uma cena engraçada."

E o cômodo ficou
completamente frio e assustador.

Phil disse:

"Que perucas?"

Falei que ele deveria ter
muitas perucas.

E ele perguntou

com quem eu andava falando.

Os guarda-costas
pararam de jogar

e ficaram em alerta,
como um cachorro.

E eu disse:

"Todos sabem que tem perucas.
Está em toda a internet."

Ele disse: "Não uso peruca,

é meu cabelo natural,
sempre foi."

Depois,
o Phil apareceu cheio de fotos.

Ele foi correndo até mim,
com as fotos caindo,

e começou a mostrá-las, dizendo:

"Olha, viu? É meu cabelo.
E este aqui, e este..."

Ele estava convencido
de que era o cabelo dele.

Eu o vi na TV com aquele afro.

Não achei que fosse
o estilo certo para ele.

Recebi uma ligação
uma semana depois, eu acho.

E ele me disse...

Ele chegou e me disse:

"Não quero esse estilo."

Perguntou se eu podia ajudá-lo,
e respondi: "Claro."

E quando ele veio,
tentamos suavizar o visual.

Um visual

com mais classe, menos estufado,

mais Phil Spector.

E eu fiz...
Esta é uma peruca dele.

Eu a guardei

porque ele vinha toda semana,

já que não sabia cuidar
do próprio cabelo.

Então ele sempre trocava
de peruca.

Acho que acabei fazendo
oito ou nove perucas para ele.

Com toda aquela bagunça,
todo o caso,

e ele ainda estava preocupado
com o cabelo?

Mas, bom, era o meu negócio,
eu não podia falar

para ele ir embora,
que eu não queria.

PERUCAS MASCULINAS

Era difícil tirar
um sorriso do rosto dele.

Porque, como eu disse antes...

Como eu disse antes,

ele sabia o que viria.

Dava para ver o medo
nos olhos dele o tempo todo.

O tempo todo.

Ele deu uma suavizada no visual.

E, é claro,
isso se espalhou pela mídia.

Pensei: "Mas que droga,
é um julgamento de homicídio!

O sistema judiciário merece
essa dignidade?"

Não gosto da ideia

de as pessoas acharem
que não estou levando a sério.

Porque o juiz,
toda vez que vou ao tribunal,

não gosta de mim.

Ele já disse: "Alguém morreu."

E ele fala isso
toda vez que entro lá.

Para os jurados,
a primeira coisa que ele disse:

"Lembrem-se: estamos aqui
pois alguém morreu."

Por que ele tem que falar isso?

Ele é um filho da mãe
que não gosta de mim.

- Com licença.
- Com licença, por favor.

Com licença, pessoal. Para trás!

- Com licença.
- Para trás!

Era um caso com envolvimento,

era um pouco mais complicado.

A causa da morte

era no que se resumia o caso.

"Como chamamos isso?

Ela fez isso com ela mesma?

Ou foi um homicídio?

Morte pelas mãos de outro?"

A posição da acusação,

com base na investigação,

era de que Phil Spector era
o autor do homicídio.

Em fevereiro de 2003,

Phil Spector já estava
muito isolado.

Ele estava vivendo
em uma mansão de 33 cômodos,

em Alhambra,
no Castelo de Pyrenees.

Fica no alto da colina,
com 88 degraus,

como as 88 teclas do piano,

desde o portão da frente.

Por algum motivo,

na noite
de 2 de fevereiro de 2003,

ele decidiu sair.

Ele havia rompido o silêncio
falando com Mick Brown,

antes de Lana Clarkson morrer.

ENCONTRADO:
O GÊNIO PERDIDO DO POP

Quando o artigo foi publicado,

ele foi chamado
de "o gênio perdido do pop".

Não consigo deixar de pensar

que o artigo de Mick

mostrou ao Phil

o verdadeiro reflexo
do que ele se tornou.

GÊNIO LOUCO, TIRANO,
EGOCÊNTRICO, CONTROLADOR

Phil estava sem consumir álcool

há cerca de dez anos, eu acho.

Mas, um dia depois
que o artigo saiu,

ele começou a frequentar bares.

Naquela noite,

ele decidiu sair
com Rommie Davis.

Rommie Davis era amiga
de Spector desde o Ensino Médio.

Ele a pegou às 19h30

e a levou até o The Grill
para jantarem.

Ele usou os serviços
de Adriano de Souza,

um motorista particular

que ele havia contratado
para a noite.

Eles vão jantar,

e as provas levadas
ao julgamento

mostram
que ele estava bebendo muito.

Ele estava muito diferente.

Phillip não costumava beber
quando eu saía com ele.

Pedi para ele não beber.

Como estava tomando remédio,
era melhor não misturar.

Mas ele discordou
e fez o que quis.

Phil Spector levou
Rommie Davis para casa

e depois voltou ao restaurante

para levar
a garçonete Kathy Sullivan,

que trabalhava lá,

para o Trader Vic's.

E o que aconteceu?

Pedimos bebidas.

O que você pediu?

Pedi um amaretto sour.

E sabe
o que o Sr. Spector pediu?

Ele pediu um navy grog.

Um navy grog

é o equivalente a seis drinques.

Era uma quantidade altíssima
de álcool.

Ele ficou cada vez mais bêbado
com o passar da noite.

E aí, do Trader Vic's,

eles foram para o Dan Tana's.

No Dan Tana's,

Phillip Spector pediu
outro navy grog.

Durante o jantar,

eles pediram
outra rodada de bebidas.

Já era quase meia-noite.

O Sr. Spector pensava
em ir para outro lugar?

- Sim.
- Fale sobre isso.

Ele queria ir ao House of Blues.

Eu me lembro
da última vez que vi a Lana.

Ela precisava de sapatilhas,
só tinha saltos.

Estávamos correndo,
passamos por algumas lojas,

e acho que comprei
cerca de sete pares para ela.

Ela deixou os sapatos no carro
e me disse:

"Ai, mãe, eu te amo.
Obrigada pelos sapatos."

E ela foi para o House of Blues.

Naquela noite de domingo,

eu me lembro da Lana na porta.

Eu me lembro de me chamarem
no rádio falando:

"Kim, vá até a porta,
o Phil está lá."

E me lembro de ir até a porta.

Phil estava bravo
porque não conseguia entrar,

a Lana o havia parado
porque não sabia quem ele era.

Ela disse: "Perdão,

mas quem é você?"

E, é claro, ele berra a frase

tão usada em excesso
em Hollywood:

"Não sabe quem eu sou?"

E ela diz: "Não, senhora.
Perdão, não sei quem é."

Ela achou
que ele fosse uma mulher.

Ele estava com uma peruca longa

e com uma jaqueta longa.

E eu disse: "Não, não, não, não.
É o Phil Spector.

É amigo do Dan, trate
como se ele fosse Dan Aykroyd."

Era 1h30, quase 2h.

A essa hora, Kathy Sullivan
queria ir para casa.

Mas Phil Spector
queria continuar bebendo.

Estava querendo beber muito.

E Kathy Sullivan
não queria beber tanto assim.

O garçom perguntou
o que ele queria beber,

e ele respondeu que queria rum.

E você pediu algo?

Pedi água.

Isso enfureceu o Phil

e ele a mandou

para fora do House of Blues.

Pouco antes de fechar,

Lana Clarkson foi à mesa dele.

"Quer algo mais, Sr. Spector?
Sinto muito pela confusão.

Se precisar de algo, me chame.

O meu nome é Lana."

E Phil Spector disse:

"Quer saber?
Sente e tome um drinque."

Ela disse que não podia beber,
estava trabalhando.

Mas ele insistiu.

E as provas vão mostrar
que ela achou

que devia tratá-lo como o dono.

Se o dono diz
para ela tomar um drinque,

ela precisa confirmar.

Então ela chamou no rádio
e perguntou ao gerente:

"Spector quer que eu tome
um drinque. Posso?"

O gerente disse que não.

Então ela falou
que não podia beber com ele.

E vamos mostrar que ele disse:
"Bom, talvez mais tarde."

Era por volta de 2h30,

o movimento estava diminuindo.

Eu estava no meio do bar.

Eu me lembro de ver
o Phil andando

como se quisesse ir embora,

e lembro de alguém me falar:
"O Phil quer falar com você."

Phil e eu estávamos conversando
ao lado dos elevadores,

e lembro que, de repente,
a Lana apareceu por ali.

Ele olhou para ela e disse:

"Você não me deixou
entrar hoje."

E ela disse:
"Sinto muito, Sr. Spector.

Vou lembrar do senhor
na próxima vez."

Sendo a típica boa anfitriã.

Eu me lembro
de eles entrando no elevador.

Ela me deu um beijo e um abraço

e falou: "Até amanhã."
Me lembro disso.

A porta do elevador fechou,
e foi a última vez que a vi.

Aquela é Lana Clarkson
acompanhando Phil Spector

até o carro dele.

Dá para ver
que ela é a pessoa mais alta,

e Phil Spector é a menor.

Quando eles chegaram ao carro,
senhoras e senhores,

Phillip Spector
começou a insistir

para que Lana Clarkson fosse
à casa dele.

"Vamos ao meu castelo,
quero mostrá-lo para você.

Tenho um castelo em Alhambra.

Você precisa ver o castelo,
vamos lá.

Tome um drinque comigo
no castelo."

Ela não queria ir à casa dele

nem queria tomar um drinque
com ele.

Era tarde, ela tinha trabalhado.

Estava com a bolsa no ombro
e pronta para ir para casa.

Ele a pressionou tanto
que disse:

"Ai, por que não?"

Ela entra no Mercedes.

E antes de Adriano de Souza
fechar a porta para ela,

ela olha para ele
e diz em voz baixa:

"Tudo bem,

só vou tomar um drinque.

Só um drinque."

E ele ficou bravo com ela:
"Não fale com o motorista.

Não fale com o motorista,
fale só comigo."

Com os dois no carro,

fechei as portas
e dirigi até a casa de Spector.

Spector tem
um videocassete no carro,

e ele colocou um filme
para assistirem na volta.

Um filme do James Cagney:

O Amanhã Que Não Virá.

O AMANHÃ QUE NÃO VIRÁ

Eles chegaram ao castelo.

CASTELO PYRENEES

Os portões eletrônicos se abrem.

CÂMERAS DE VIGILÂNCIA 24 HORAS
COM GRAVAÇÃO DE VÍDEO

O Spector pediu
para que o motorista parasse

bem no início dos degraus,

e pediu para a Lana Clarkson
subir com ele.

Eram 82 degraus,
e ele estava muito bêbado,

então ela o ajudou a subir.

De Souza foi para os fundos,

achou que não iria
demorar muito.

Era uma noite escura,
sem carros por perto.

Era no alto da montanha.

Não havia barulho ao redor.

E, por volta das 5h,

escutei um barulho.

Tentei investigar
o que houve, abri a porta.

Olhei para ver
se tinha vindo de fora.

O chafariz estava ligado.

Tudo nos conformes.

Então voltei para o carro
e fechei a porta.

E aí, ele abriu a porta.

Assim que abriu a porta,
eu pulei,

fui para a porta de trás,

e ele estava parado na porta
com a arma na mão.

- Reconhece este item da foto?
- Sim.

- É a arma que o Spector tinha?
- Sim.

Pode mostrar aos jurados

como exatamente o Sr. Spector
segurava a arma?

Claro. Deste jeito.

Sr. de Souza,
quando viu o Sr. Spector lá fora

com a arma na mão,

a que distância estava dele,
aproximadamente?

Aqui.

Assim.

- Bem aqui?
- Isso.

Então a 1,5 m. Obrigado.

Ele disse:
"Acho que matei alguém."

Perguntei a ele o que aconteceu

e entrei na mansão
para ver o que tinha acontecido.

E vi...

o corpo da Lana na cadeira.

Comecei a correr por um tempo,
mas me lembrei do carro.

Voltei, peguei o carro

e comecei a dirigir para baixo.

Só tentei fugir de lá.

Adriano de Souza entrou
em pânico,

não sabia o que fazer.

Assim que chegou
em um local seguro,

chamou a polícia.

911, qual é a sua emergência?

Oi, meu nome é Adriano.
Sou o motorista do Phil Spector.

Acho que o meu chefe
matou alguém.

Por favor,
poderiam mandar uma viatura?

Acha que o seu chefe
matou alguém?

Sim, senhor.

Cobri o julgamento
pelo The Daily Telegraph.

Sentei no tribunal, assistindo
ao depoimento do Adriano.

E, como todos na sala,

fiquei pensando:
"Que extraordinário."

Dava para sentir
uma mudança evidente na energia.

E quando olhei para o Spector,

algo tinha acontecido com ele.

O rosto dele estava diferente.

Ele parecia desnorteado,

perdido,

assustado,

como se não acreditasse

no que estava acontecendo
com ele.

Adriano de Souza, obviamente,
era uma testemunha decisiva.

Era a única testemunha ocular,
a única testemunha auricular,

e a primeira pessoa
a ver o resultado

do assassinato de Lana Clarkson.

O depoimento dele
foi consistente

em cada audiência
em que testemunhou,

em cada relato que deu,

em cada palavra e frase.

Eu estava
prestando atenção nele.

Na expressão dele:
"Acho que matei alguém."

E aí, vi as pernas lá.
Eu me inclinei e vi o corpo.

- Você o ouviu claramente?
- Ouvi.

Entendi.
E viu a arma na mão dele?

Isso.

O depoimento dele foi
devastador para a defesa.

Eles teriam que pensar
numa saída para aquilo.

O senhor teve

algum tipo
de certificação ou avaliação

que mediu a sua capacidade
de comunicação no nosso idioma?

Não.

A língua materna de Adriano
é o português.

Ele é do Brasil.

Ele era
um oficial militar brasileiro,

muito estudado e competente.

A defesa queria

explorar o fato

de ele não ser deste país,

que o inglês era
a segunda língua dele,

para rotulá-lo
como um estrangeiro limitado

com um sotaque pesado.

Disse que achou ter ouvido
o Sr. Spector dizer algo.

- Sim, ouvi.
- E se lembra do que ele disse?

"Acho que matei alguém."

Certo.

Tudo bem.

Você tem certeza
de que ele disse isso?

Tenho.

Certeza absoluta?

- Sim.
- Sem dúvidas?

Isso.

Acha que pode ter ouvido errado?

Não. As palavras
que ouvi foram claras.

Certo.

Uma pergunta:
acha que pode ter ouvido

"acho que alguém foi morto?"

Não.

Alegaram que a frase

"acho que matei alguém"
foi, na verdade,

"acho que alguém foi morto".

Ou seja:
"Poxa, ela acabou de se matar,

e acabei pegando a arma
que estou segurando agora."

Talvez o meu sotaque
seja pesado mesmo,

mas eu entendo tudo,
consigo ler tudo.

Na verdade,
era uma frase bem simples.

Pelo fato de ele não falar
inglês perfeitamente,

ou sem um sotaque pesado,

então, talvez, ele não ouvisse

sem o sotaque, talvez ouvisse...

Que palhaçada.

Fiquei ofendido, mesmo.

Em outras palavras,
se tenho sotaque,

então eu escuto com meu sotaque?

Não, é mentira.

Nunca iam acreditar nisso.

Acho que nenhum jurado
acreditou,

nem os jurados suplentes
ou o público.

Eu não acreditei.

Quando a defesa é pega

em uma situação em que o cliente

é basicamente pego
cometendo o crime,

com a arma na mão,

tendo confessado
ter matado alguém,

ela precisa fazer algo.

Então tentaram adicionar
o máximo de problemas possíveis.

Havia um som ambiente

naquela área da entrada.

- Não havia?
- Havia.

- E é do chafariz, certo?
- Certo.

- O som do chafariz é alto, não?
- É.

O senhor fez uma reconstituição
do evento no dia seguinte, não?

Sim, fiz.

E aí...

ele me disse:
"Acho que matei alguém."

O chafariz...

- Dá para ouvir ao fundo.
- Dá.

A questão é que,
quando mostraram no tribunal,

ao colocar os microfones
mais perto do chafariz,

capta mais o chafariz
do que outros sons ao redor.

Tentaram fazer isso

para insinuar
que eu não tinha ouvido nada.

Como a defesa
estava assumindo a postura

de que Adriano
não tinha credibilidade,

e que, obviamente,
Clarkson foi até a casa dele,

fuçou por todo o saguão,

achou uma arma
e atirou em si mesma,

tínhamos que refutar isso.

Para entender melhor,
no quadro geral,

por que Phillip Spector
teria feito o que fez,

como Lana Clarkson
se tornou vítima

desse homem,

vocês serão apresentados
às provas

do extenso
histórico de violência

do acusado.

Um histórico de violência
contra mulheres,

envolvendo armas.

Por favor, diga e soletre
seu nome e sobrenome.

Stephanie Jennings.

Conheci Phil Spector

em 1994 no festival
Philadelphia Music Alliance.

Eu estava fotografando o evento.

Pouco mais de um mês depois,

eu estava jantando no Elaine's
com uma amiga

e vi o Phil Spector lá.

E falei:

"Oi, acabei de te fotografar
no Philadelphia Music."

Então ele me convidou
para ir à mesa

com ele e alguns amigos.

Ele era
muito encantador e engraçado.

Começamos um relacionamento
quase que no mesmo dia.

Há uma diferença na senhora hoje
em relação àquela época.

Pode explicar ao júri?

Sofri um acidente de carro.
Foi totalmente destruído.

Sinto muito.

Quero chamar a sua atenção

para janeiro de 1995.

A senhora recebeu algum tipo
de convite de Philip Spector

para as cerimônias de nomeação
do Hall da Fama do Rock...

- Desse evento, não.
- Não?

Certo.

E em qual hotel

o Sr. Spector conseguiu
um quarto para a senhora?

No Carlisle.

O que aconteceu
no final daquela noite?

Quase todos tinham ido embora,

e eu estava cansada,
pronta para ir.

- E voltou para o quarto sozinha?
- Isso.

E o que fez
quando voltou para o quarto?

Fui dormir.

O que aconteceu depois?

Bateram na porta,

e era o guarda-costas dele.

Phil queria vê-la e mandou
o guarda-costas para buscá-la,

mas era tarde, e ela disse:

"Não, falo com ele
no café da manhã."

Ele voltou uma segunda vez

e disse que Phil insistia
que eu fosse lá.

E eu disse: "De jeito nenhum!"

Fechei a porta
e voltei para a cama.

Mas houve uma terceira batida.

Abri a porta, e era o Phil.

Ele estava bêbado, com certeza,

falando alto e dando ordens.

Ele disse que estava
pagando pelo quarto.

Se quisesse
que eu fosse para o quarto dele,

então eu tinha que ir
para o quarto dele.

Eu disse: "De jeito nenhum".

E as coisas foram

de 0 a 100 muito rápido.

Ele começou a gritar
que eu ia pagar pelo quarto

se eu não fosse
até o quarto dele.

E falei que não teria problemas,
que ia embora.

Então comecei
a guardar as minhas coisas.

Fui até o banheiro,
estava guardando minhas coisas,

e o Phil entrou atrás de mim.

Ele me agarrou.

Eu o empurrei,

e ele caiu na banheira
com a cortina o cobrindo.

Ele se levantou
e saiu do quarto em silêncio.

O que aconteceu
quando o Sr. Spector voltou?

Ele estava com uma arma

e pegou uma cadeira,

a colocou na frente da porta

e disse
que eu não ia a lugar nenhum.

Pensei: "Vou morrer

a tiros pelo Phil Spector."

Eu estava sentada
na cama com minhas bolsas,

e ele estava sentado na porta.

Peguei o telefone

e liguei para a emergência.

Ele achou que eu estava ligando
para minha mãe.

Não sei por quê. E ele disse:

"Pode ligar para sua mãe,
mas ela não pode te ajudar."

"Mulher ameaçada, agressão.

Arma envolvida.

Ela teve medo de falar."

"Socorro, por favor.

Ele está ao lado do telefone.

É uma grande celebridade.

O nome dele é Phil Spector."

Essas são as informações

que Stephanie Jennings
estava passando

à polícia

enquanto estava sendo mantida
na mira de uma arma.

Em algum momento,
a polícia foi ao seu quarto?

Sim. E me trataram como
se eu fosse garota de programa.

Não estavam levando
o assunto a sério.

- Disse que envolvia o Spector?
- Sim.

E parecia que eles sabiam
quem Phillip Spector era?

Parecia.

Chamaram o gerente do hotel,

e ele me deu dinheiro

para o trem de volta
para a Filadélfia.

Achei que isso
tivesse sido deixado para trás,

mas, no final de dezembro,

ele me ligou e me chamou
para a festa

de aniversário dele.

Eu não fui,

e ele não aceitou muito bem.

- Ele deixou mensagens?
- Deixou.

É a última vez que vou dizer,
já ouvi as suas sete mensagens.

Vou fazer tudo ao meu alcance

para você nunca mais trabalhar
na Filadélfia.

De qualquer forma,
foi muito bom te conhecer,

mas você é uma cretina
e uma mentirosa desgraçada.

Então, não mexa comigo,

porque você vai se ferrar
se tentar.

Não mexa com quem
você não aguenta, pirralha,

porque vou acabar
com a sua carreira.

Vou fazer
todo o possível para isso

e garanto que vou conseguir.

Você sabe quem é.

Acredite,
sou muito bom no que faço.

Adeus, pirralha. E vá se ferrar!

Eu queria começar

descreditando

a ideia dos jurados

de que Phil Spector

era um velhinho gentil
que não mataria uma mosca

e que entrava em estúdios
e fazia magia.

Eu precisava demonstrar
quem ele era de fato,

o que ele fazia

e do que era capaz.

Boa tarde.

Quero chamar a sua atenção
para o ano de 1982.

Para maio de 1991.

Julho de 1993

Durante esse ano,

em algum momento, conheceu
um homem chamado Phil Spector?

Sim, senhor.

A assistente dele me ligou
e disse:

"O Sr. Spector queria saber

se gostaria de jantar com ele
esta noite."

Phillip pedia que Donna,
a secretária, ligasse...

"O Sr. Spector gostaria de vê-la
esta noite no Ritz Towers."

Fomos jantar e nos divertimos.

Ele era muito encantador.

- Era engraçado.
- Foi uma noite muito agradável.

Phil Spector sabia ser charmoso.

Era muito rico, poderoso

e muito generoso
com o dinheiro que tinha.

Ele era assim.
Então muitos falavam:

"É, ele é um cara charmoso."

Essas mulheres foram
vítimas disso.

E então, depois do jantar,

fomos para a casa dele.

A casa dele era cheia
de coisas interessantes.

Batemos papo, conversamos.

Ele tocou piano.

Dançamos e nos divertimos.

Ele estava um pouco bêbado,
com certeza.

A garrafa estava acabando.

Houve algum momento

em que decidiu
que queria ir embora?

Sim, eu falei:

"Phillip, preciso ir para casa.

Tenho que trabalhar amanhã,

e está tarde."

E ele...

Não queria que eu fosse embora.

Quando eu disse:
"Estou cansada, quero ir",

ele virou, olhou para mim,
apontou o dedo e disse:

"O quê? Quer ir embora?"

E então, naquela hora,

vi que o comportamento dele
havia mudado.

Ele virou
e começou a vir até mim,

gritando para eu voltar
para dentro da casa.

Ele não tinha
nenhum tipo de limite,

nada era violento demais
para ele,

e o único motivo disso

era o poder e o controle.

Era disso que se tratava.

Ele foi até mim
e colocou a arma no meu rosto,

bem entre meus olhos e disse:

"Se tentar sair, eu te mato."

Ele colocou
uma arma no meu rosto,

algum tipo de pistola.

Ele apontou a arma para mim.

Eu gritava para ele:
"O que acha que está fazendo?"

E então, com a mão direita
que estava segurando o revólver,

me bateu na lateral da cabeça
e disse:

"Mandei você voltar
para dentro da casa!"

Ele queria
que eu subisse com ele.

Sabe? Para o quarto dele.

Ele falou para eu tirar a roupa
e subir para o terceiro andar.

- Enquanto apontava a arma?
- Sim.

Ele estava com a arma.

Eu estava na frente dele,

ele andando atrás de mim.

E subimos as escadas
até o quarto dele.

Eu estava chorando e disse:

"Phil, não me obrigue a isso.
Não quero. Por que isso?"

Eu sabia que ele ia me matar
se eu tentasse fugir.

Aquele não era o meu Phil.

Era como se fosse um demônio.

Amanheceu, e o que aconteceu?

Vi a porta do banheiro aberta,

e ele estava cantando
no chuveiro,

como se nada tivesse acontecido.

Ele perguntou
se eu queria café da manhã.

E corri pela porta.

Dirigi por alguns quarteirões
e chamei a polícia.

E o que a polícia te falou
na delegacia?

Que Phil disse a eles
que eram brigas comuns de casal,

que eu sempre chamava a polícia,
que eu era assim.

E então começaram a falar

sobre a guitarra do John Lennon
na casa e outras coisas.

É chocante. Apavorante.

Como fazer algo assim
com alguém que se diz amar?

Essas são as histórias

de cada uma dessas mulheres.

E em cada um
de todos esses casos,

a receita era a mesma:

bebida, sexo, rejeição,
ir embora, arma.

Não posso falar
da experiência delas.

Não posso.

Eu não estava lá,
não conheço essas pessoas...

Sabe?

Eu defendo os sobreviventes,

mas não acho
que esses casos tenham a ver.

Foi injusto o que fizeram,

essas ações foram
coisas de 30 anos.

Muitas coisas acontecem
com as pessoas com o tempo.

Se você tem um acusado,
e há atos anteriores

que a acusação supõe
que sejam similares,

os jurados vão ouvir isso
e pensar:

"Ele é uma pessoa má,
é claro que é culpado."

- Não quero...
- Nunca apontei arma para elas.

- Vamos falar disso.
- Que fique claro.

Nem podíamos investigar,

porque não havia registros.

Mas elas vieram,

e tivemos que lidar com elas.

Eu obviamente considerei

se isso pode ter acontecido.

Será que ele estava
com tanto medo

que não falou a verdade?

Talvez ele não se lembre
do que aconteceu.

Mas assim que comecei
a procurar provas,

logo ficou claro que ele
não podia ter puxado o gatilho.

A posição da defesa

foi de que tudo se resumia
à ciência forense,

e que Lana Clarkson
havia se suicidado.

Temos
uma testemunha incontestável

cujas provas vão mostrar

que ela não apoia
ou é contra alguém.

Ela não tem motivos

para mentir por ninguém
ou contra alguém,

ela não tem problemas de memória

e não tem problemas
com o nosso idioma.

E essa testemunha
se chama "ciência".

Fizeram uma interpretação
das provas forenses

dizendo que era possível, sim,

haver
um ferimento autoinfligido,

que a cena foi mal interpretada
pela acusação.

Não havia nenhuma prova física
sobre Phillip ter atirado.

Não foram encontradas digitais,

não havia
DNA de Phillip na arma.

Não tinha
resíduo de pólvora nele.

Quando se dispara uma arma,

há muita combustão.

O resíduo vai para trás,
para cima,

para baixo, para frente,

em até 76 cm.

Lana Clarkson tinha muito
resíduo de pólvora nas mãos,

o que poderia indicar
que ela estava segurando a arma.

E se Phil tivesse disparado
com essa arma,

ou se estivesse
na região do disparo da arma,

também teria resíduos nele
da mesma forma que nela.

E ele não tinha.

E também há
o padrão de mancha de sangue.

Ao dar um tiro
na região de dentro da boca,

a mancha iria voltar,

podendo ir muito para trás,
até três metros.

Quando uma arma dispara,
há muitos gases.

Mas se há um ferimento intraoral

sem uma saída,

os gases ficam presos
na cavidade da cabeça.

Eles não têm para onde ir.

E o que acontece

é que a pessoa se torna
quase um esquilo.

Elas expelem tudo para frente.

E havia mancha nela.

Ela tinha uma grande quantidade
de manchas na jaqueta,

assim como nos pulsos
e nas mãos.

Achamos que as manchas de sangue
que estavam em Lana Clarkson

deveriam estar igualmente
em Phillip Spector.

Phil Spector estava usando
uma jaqueta branca.

Se ele estava a 60 cm dela,

que é o que o criminologista
do Estado disse,

teria ficado coberto.

Se ele estivesse lá,

deveria ter manchas e sangue
por todo o corpo,

como ela.

Mas não estava.

Naquele momento,
a promotoria pensou:

"Houston, temos um problema."

O início e fim desse caso
deve estar na jaqueta branca.