All language subtitles for Spector.S01E01

3 DE FEVEREIRO
ALHAMBRA, CALIFÓRNIA

911, qual é a sua emergência?

Oi, meu nome é Adriano.
Sou o motorista do Phil Spector.

Acho que o meu chefe
matou alguém.

Por favor,
poderiam mandar uma viatura?

Acha que seu chefe matou alguém?

Sim, senhor.

Sou o motorista,
estou esperando aqui fora...

Não sei o que ele...

- Por favor, poderiam mandar...
- Certo. Onde você está?

Grand View Drive, 1700.
Por favor.

Grand View Drive, 1700?

Isso.

E por que você acha
que ele pode ter matado alguém?

Pois há uma mulher no chão,

e ele está com uma arma na mão.

Certo.
Fique na linha, não desligue.

A polícia de Alhambra
tinha pouca informação.

Só sabiam
que alguém foi baleado.

Não sabiam de nada,
nem quem era a vítima.

Então,
fizeram uma entrada tática

e, em algum momento,

um dos agentes tomou
uma decisão muito sensata:

ele pegou um gravador,
colocou em cima da lareira

e gravou
o que eu diria que foram

declarações bem incriminatórias
do Spector.

Sinto muito
por isso ter acontecido.

Não sei como aconteceu.

Mas aconteceu.

Sinto muito.

Não estou bêbado nem sou burro.

Posso falar o que aconteceu!

Não precisa me algemar,
posso falar o que aconteceu.

Qual é o problema de vocês?

Por que estão fazendo isso?

Meu Jesus amado!

Tire as mãos de mim!

Que idiotice!

Sinto muito
por ter uma mulher morta aqui.

Sinto muito, mas aconteceu.

Ela trabalha na House of Blues.

Eu errei.

Ainda não sei
qual é o problema de vocês!

A arma disparou acidentalmente.

Meu Deus...

O papel de qualquer investigador

é obter o máximo de informações
de todas as fontes possíveis,

de qualquer testemunha ocular
do local,

e depois coletar
as provas concretas.

Quando entramos
pela porta da frente,

já vimos

a cena do disparo.

Uma moça muito bonita estava
em uma cadeira,

na exata posição
em que estava ao ser baleada.

Havia uma bolsa
pendurada no ombro dela.

As pernas estavam esticadas
na frente dela,

e a arma estava no chão.

Naquele momento,

eu nem sabia
quem era Phil Spector.

Mas eu ia aprender

muita coisa sobre ele.

Ele parecia ser bem tranquilo.
Raramente...

Só o vi umas quatro
ou cinco vezes

dentro do carro Prowler dele.

A polícia de Alhambra conduziu
uma investigação preliminar.

E, com base nessa investigação,
ele foi preso.

Ele era um fantasma, uma sombra,
um gênio do rock esquecido.

E ele quase nunca fala
com a mídia,

mas, semanas antes do incidente,

ele conversou sinceramente
com o jornalista Mick Brown.

É, eu sabia muita coisa
sobre o Phil Spector.

Para a minha geração,
que gosta de rock and roll,

ele era lendário.

Foi o responsável
pelas Crystals, The Ronettes,

pelos Righteous Brothers, claro,

e a Tina Turner.

Ele produziu
o último álbum dos Beatles.

Para um suposto recluso,

para alguém
que tinha a reputação

de ser doido, maluco,

ele foi muito franco e honesto.

Foi quase

como se ele estivesse esperando

a oportunidade de falar.

Então, saí daquela entrevista

achando que tinha sido

uma das mais sensacionais
da minha vida.

E acontece que também foi
a mais fatídica.

MICK BROWN
JORNALISTA E AUTOR

Acho que, cinco semanas depois,
Lana Clarkson foi assassinada.

Lembro que,
quando cheguei em Alhambra,

nos aproximamos
do portão eletrônico,

e o carro parou.

E o chofer,

Adriano de Souza,
como eu soube posteriormente,

falou que o Spector não queria
carros entrando.

CÂMERAS DE VIGILÂNCIA 24 HORAS
COM GRAVAÇÃO DE VÍDEO

Havia uma atmosfera
de esplendor,

digno de um barão.

Havia uma escadaria
bem comprida,

com 88 degraus
cercados de pinheiros e árvores

que levavam até o castelo
lá no topo.

Coloquei o meu gravador na mesa,
entre a gente,

e ele começou a falar.

Testando, testando.
Um, dois, três, quatro.

Quando percebeu
que você era diferente?

Bem novo.

Bem novo mesmo.

Bem novo, eu tinha...

É, sempre fui diferente.

Phil nasceu em Nova York,
em 1939.

E Ben, o pai dele,
era metalúrgico.

A mãe se chamava Bertha.

E ele tinha uma irmã mais velha
chamada Shirley.

Parece que ele era
uma criança feliz.

Não havia problemas na família.

Mas, quando ele tinha nove anos,
algo terrível aconteceu.

O pai dele saiu para trabalhar
um dia,

parou em uma ruazinha,

enfiou um cano do escapamento
até dentro do carro,

e morreu asfixiado.

Claro que isso foi uma bomba
na vida do Phil Spector.

E não gosto

de falar sobre o passado.

É difícil para mim.

Uma época difícil.

Perdi o meu pai,

é algo muito sensível.

Eu era muito jovem para entender

a importância
da perda do meu pai.

E...

Mas tem idade para sentir...

Para sentir a perda,

mas eu só fui valorizar
a figura paterna

quando tinha mais idade.

É muito doloroso, muito mesmo.

Quando o pai do meu pai morreu,

aquilo moldou
a personalidade dele.

Foi um trauma que eu acho

que ele nunca enfrentou
de verdade.

Acho que crescer naquela época,

no fim da década de 1940,

não existia isso

de mandar o filho
para a terapia,

ou usar mecanismos de ajuda
indicados nos dias de hoje.

Não se sabe
por que o Ben se matou.

Mas há a hipótese

de que ele tinha
problemas financeiros.

Mas, para mim, o mais plausível

é a ideia

de que ele sofria
de algum transtorno mental,

talvez fosse bipolar.

Isso porque

a Shirley, irmã do Phil,

passou a manifestar
doenças mentais.

Aliás, ela entrou e saiu
de várias instituições.

Quando as emoções
controlam suas ações,

isso afeta não só você,
afeta as pessoas ao seu redor.

A dinâmica da família
era claramente desequilibrada.

A mãe e a irmã do Phil
se alternavam

nas críticas
e na repressão a ele.

Parecia que era
um jogo em dupla.

"Vá maltratar o Phil."

"Não, é a sua vez!"

E, às vezes, as duas o atacavam
ao mesmo tempo.

Pareciam aqueles pássaros
cantando no fio do poste,

tipo...

É claro que o Phil também tinha

seus próprios
problemas psicológicos.

Então acho que isso indica

uma doença hereditária
na família.

Eles não tinham dinheiro
e estavam abandonados.

Basicamente,
era uma família operária.

Acho que meu avô trabalhou
na construção civil.

Eles não tinham recursos.

O meu pai
sempre foi muito precoce,

um jovem muito ambicioso.

Eles foram morar em Los Angeles,

e a ideia era
que ele faria muito sucesso.

Há gente que chama
de "escola do rock".

Mo Ostin estudou lá, na Fairfax,

assim como eu e Steve Berry.

E um cara que era dos Safaris,

da música "Image of a Girl",
também estudava lá.

O timing é essencial para tudo.

- Há um fator de sorte...
- Claro.

Em tudo.

Em quem você é,
onde está, o que é...

Mas chamo de timing

eu estar em Los Angeles em 1958.

Eu me lembro
de quando nos conhecemos.

Eu devia ter

cerca de 13 anos.

Com o passar do tempo,

fui ficando
mais próximo do Phil.

Ele tinha
um carisma inacreditável.

Era muito inteligente,
muito engraçado e encantador.

Fazia piada com trocadilhos,
era muito afiado.

Só que ele também mentia,

muito mesmo, e sem necessidade.

Uma vez,
ele tinha um compromisso,

e estávamos na minha casa.

Ele ligou para a pessoa e falou:

"Sofri um acidente de carro,
não deu para ir."

Ele inventava as coisas.

A verdade era

meio vaga às vezes.

Ele era uma criação de si mesmo.

Eu costumava achar

que estava perdendo muito
não sendo normal,

e isso meio que complicou
a minha vida.

Mas também justificava tudo.

"É, há um motivo
para todos me odiarem.

Pareço estranho,

faço coisas
e músicas estranhas...

Então há um motivo
para me odiarem."

Porque eu me sentia odiado.

Eu me sentia excluído.
Nunca senti que eu fazia parte.

Acho que foi o Kim Fowley
que disse

que o rock é o tipo de música

que gente solitária faz
para outros solitários.

O rock é feito por quem fica
trancado no quarto.

O Phil Spector era desse tipo,
ele ficava trancado no quarto.

Começou a ouvir música,

principalmente as estações
de jazz e R&B de Los Angeles,

e ficou
completamente apaixonado,

todo entusiasmado.

Ele não tinha carreira musical,

mas era
um ótimo guitarrista de jazz.

Ele fazia parte
de uma comunidade de artistas,

e começou a compor músicas.

E o Phil Spector cantava...

Eu lembro que o Phil contava
duas versões sobre o pai dele.

Ele não falava muito
sobre o pai,

mas, em uma versão,

ele tinha se matado
com uma arma.

E foi o Phil que o encontrou.

Na outra versão, ele tinha...

Acho que o termo
era "morrido asfixiado".

Sei que isso afetou muito
o Phil.

Foi isso
que o fez seguir esse caminho.

Quando o pai dele se suicidou,

parecia que tinham arrancado
os sentimentos dele,

ou qualquer sentimento
que ele pudesse ter

ele colocava na música.

O Phil tinha um círculo social

e namorava a minha amiga Donna.

Estávamos no último ano
antes do ensino médio.

Um dia, o Phil veio
e falou para mim:

"Adoro a sua voz."

Beleza. Faltavam seis meses
para eu fazer 17 anos.

Ele falou que ia escrever
uma música para minha voz

e que eu poderia entrar
no grupo musical dele.

Duas semanas depois,
o telefone toca, e era o Phil.

Fomos para o estúdio.

Antes de eu começar a cantar,

o Phil falou...

Ele já agia como produtor.

Foi a primeira música
que ele compôs.

Ele falou:

"Cante como se fosse
para o seu namorado."

Mas falei
que eu não tinha namorado.

E ele respondeu:
"Cante pensando no seu pai."

No ensaio
do The Perry Como Show,

quando fui cantar
a nota mais alta,

no máximo
da minha extensão vocal,

a minha voz falhou.

E eu morri de vergonha,
quase caí durinha.

O Phil me encostou na parede
e falou:

"Se estragar a minha música,
eu te mato!"

Quando fomos cantar a música,
dá para ver na gravação,

há um momento
antes de eu cantar a nota alta

que a minha cara é de:

"Meu Deus, por favor,
me deixa alcançar essa nota."

Era uma nota muito alta,
mas eu consegui.

E a música acabou ocupando
o primeiro lugar

no mundo todo.

Foi a que ficou mais tempo
nas paradas em 1958.

Ficamos em primeiro lugar

por cerca de cinco semanas.

Foi meio irônico ele pedir
para eu cantar

pensando no meu pai,

porque ele tirou a frase
da lápide do pai dele:

"Conhecê-lo era amá-lo",

e a transformou
em um lamento adolescente.

"Conhecê-lo é amá-lo."

Quando um pai ou uma mãe
se suicida,

uma criança pequena...

A criança é o centro
do próprio universo,

então ela assume
o peso dessa responsabilidade.

"Devo ser responsável,
de alguma forma.

A culpa deve ser minha
eu ter sido abandonada."

Há uma noção
de abandono e culpa,

tudo ao mesmo tempo.

Acho que ele carregou esse peso.

Eu me motivava
na ideia do "destino".

Quando eu ouvia algo diferente,

eu imaginava
uma música diferente.

Quando os Teddy Bears foram
para Nova York, na turnê,

a Bertha decidiu

que a Shirley ia gerenciar
o Phil,

ia gerenciar o grupo.

A Shirley virou
a nossa empresária.

Muito obrigada!

Então ela viajava com a gente
às vezes.

Era só o que me faltava!

Ele obedecia à mãe e à irmã.

Elas se meteram demais
quando Phil era dos Teddy Bears

na época
da "To Know Him Is To Love Him".

Eles brigavam com frequência.
Por quê? Não sei, mas gritavam.

A relação deles era complicada,

era explosiva.

Chegou em um ponto

que o nosso agente não conseguia
dar conta da Shirley Spector.

Ele não aguentava mais.

Ela dava medo.

Eu não estava acostumada
com aquele tipo...

de raiva constante.

Eu não estava acostumada.

Era um verdadeiro pesadelo.

Aqueles dois irmãos

discutiam, brigavam,

e a instabilidade mental latente
da Shirley

acabou se revelando.

Eu nunca havia ouvido
tanta cacofonia de barulhos.

Eram só gritos,
gritos e mais gritos.

Lembro que eu sempre...
Eu não aguentava

aquela gritaria.

Era muito intenso.

Parecia que eles não...

O volume era sempre alto!

Eles não falavam normalmente.

Depois do grande sucesso
dos Teddy Bears,

ele queria muito sair

desse ambiente familiar
sufocante e problemático.

O Phil ainda morava

com a Bertha e a Shirley,

com a dupla do bullying.

Ele estava ansioso
para se livrar daquilo.

Phil finalmente se mudou

e voltou para Nova York

para trabalhar como aprendiz

do Jerry Leiber
e do Mike Stoller,

que, na época,

eram os maiores produtores
de música pop.

Lembro que ele chegou
no escritório,

fomos apresentados,

e foi aí que começamos
a trabalhar juntos.

A gente se divertia muito.

Não havia como não se divertir

compondo músicas

com 20 anos.

Não era um hobby.

Era um trabalho sério,

com dedicação, com certeza.

Naquele momento,
o Phil começou a se conhecer,

começou a acreditar em si mesmo.

Ele ainda não tinha 21 anos,

mas queria dinheiro
para criar a própria gravadora.

A mãe dele não o deixava usar
o dinheiro,

porque ainda não tinha 21 anos.

Então tive que ir ao tribunal
com o Phil

para ser uma das pessoas
que falariam em favor dele,

para ele pegar o dinheiro.

A mãe dele começou a falar
e não parou mais.

"Ele não é de confiança.
Precisamos desse dinheiro."

E ela só falou
coisas horríveis e humilhantes.

O juiz só balançava a cabeça,
até que bateu o martelo, enfim.

"Já ouvi o suficiente",
ele falou.

"Dê o dinheiro a ele.

Se ele é esperto para ganhar,
deve ficar com o dinheiro."

Acho que o Phil,

depois do sucesso
de "To Know Him Is to Love Him",

percebeu que precisava controlar
absolutamente "tudo".

E foi isso que ele fez.

A indústria da música,
naquela época...

Muitos dos poderosos do ramo

eram um pouco mais velhos.

Eles não queriam ter
o território invadido,

não queriam
nenhum jovem espertalhão,

como o Phil Spector,

chegando
e invadindo o território.

E ele fundou

a própria gravadora.

O nome era Philles,
se eu não me engano.

Antes de 1950,

os jovens e os adolescentes

não eram um mercado.

Eles não tinham dinheiro.

Então ninguém criava
música para eles,

só se criava música
para os adultos.

Os jovens começaram
a escrever para outros jovens.

Conheci o Phil Spector
com 13 anos,

porque o ele produziu
o nosso disco

em Nova York.

Eu adorava as roupas dele.

Eu achava legal.

Eu me lembro

que ele afundava naquela cadeira

do estúdio

quando estava pensando

junto com a música.

Parecia um transe.

Eu queria estar
no segundo plano.

Mas eu também queria ser
alguém importante,

o centro de tudo.

Eu não me importava de produzir
as músicas dos outros,

de reescrever, nada disso.

Eu me preocupava

com o produto final e a arte,

pois eu tinha um som específico
na minha cabeça.

Naquela época,

o Phil tinha
um grupo estável de artistas,

como The Paris Sisters,

as Crystals, o Bob B. Soxx
e The Blue Jeans.

Ele estava procurando
outra música para as Crystals,

e um compositor e artista
chamado Gene Pitney

tinha composto uma música
chamada "He’s a Rebel".

O Phil cismou que queria gravar,

mas decidiu

que ia gravar em Los Angeles.

Nos encontramos no Gold Star.

Ele se apresentou

e falou que tinha um grupo
chamado Crystals,

só que elas eram muito novas

e não podiam vir
para a Califórnia gravar.

Então ele estava procurando
um grupo e uma cantora

para gravar uma música,
e ele pediu para eu cantar.

Para começar,

ele chegou de terno,

usando gravata

e sapato de salto.

Então fomos para o estúdio,

e ele me mostrou
a música "He’s a Rebel".

Quando ele falou
que eu ia ser a voz principal,

falei que seria mais caro
se eu fosse a principal.

Achei a música bonitinha, sabe?

Todas as músicas da época
eram bonitinhas.

Chamávamos de música chiclete.

As Crystals estavam em um show.
Éramos cinco na época.

Estávamos em uma apresentação,

e o rádio vivia ligado

para ouvirmos
as dez músicas mais tocadas.

E ouvimos "He’s a Rebel".

Ninguém falou nada,

até que o locutor falou

"As Crystals",
e ficamos sem entender nada.

A música não era minha,
e eu sabia disso desde o início.

É por isso
que nunca fiquei chateada,

nem me senti enganada nem nada.

Quando entrei no estúdio
para gravar "He’s a Rebel",

eu sabia que não seria minha.

Sou ótima no palco.

Tenho muita potência.

Eu conseguiria imitar
a voz da Darlene,

sem ninguém ficar decepcionado.

Então a minha preocupação
não era ficar insegura.

Só fiquei com muita raiva

porque ele tinha usado
o nome das Crystals,

e já éramos famosas.

Não tinha desculpa nenhuma

para não gravarmos

aquela música,
ainda mais com a minha voz.

Ficamos chateadas
quando ele fez aquilo.

Muito chateadas. Demais.

Tínhamos um empresário,
o Joe Scandore.

Ele não brincava em serviço,

porque ele era da máfia,
tinha contatos,

e era o nosso empresário.

E o Joe ficou furioso!

Um dia, fui ao escritório dele,

e ele estava dando risada
com o Jim,

o segurança brutamontes dele,

e ele falou
com aquele sotaque italiano:

"Jim, conte para a La La
o que fez."

E o Jim falou que tinha acabado
de voltar da Califórnia.

"Joguei o Phil
do outro lado da mesa.

Falei para ele que,
se não gravasse com vocês,

eu ia matar a mãe dele

e cortar as pernas dele!"

O Phil ficou com medo

e, daquele dia em diante,

ia para todo lado
cercado de guarda-costas.

- O outro bar é o mesmo?
- É, vamos...

Depois que gravamos
"He’s a Rebel",

o Phil queria fazer
algo especial para mim.

Estávamos nos preparando
para gravar uma música para mim.

Comecei a aprender
"Da Doo Ron Ron",

que era outra música

que eu ia gravar,
não as Crystals.

Phil nunca quis gravar
"Da Doo Ron Ron" com a Darlene,

porque ela tinha voz de adulta.
É só ouvir a letra.

Era para crianças, adolescentes.

Já começa por aí.

Outra...

ele não ia colocar a Darlene
em outra música das Crystals.

Eu só conseguia pensar

no Jim

e no Joe Scandore.

O Phil nunca me contou,

mesmo quando a gente se via.

E nos encontramos várias vezes
na Califórnia,

ele produzindo.

Ele nunca me chamou
em um canto e falou:

"La La,
sabe o que o Joe Scandore fez?"

Então não sei
o quanto isso abalou o Phil,

que impacto isso teve nele,

porque ele guardou segredo.

Acho que o Phil não deu
nenhuma explicação

porque ele me mandou

lá para a Califórnia,

gravei "Da Doo Ron Ron",

e foi um dos maiores sucessos.

Eu estava voltando
de uma gravação,

dirigindo tranquila,

e o locutor falou no rádio:

"A próxima música
é do grupo Crystals."

Era a mesma música,
no mesmo tom,

com o mesmo arranjo, igualzinha,

só que ele não colocou
minha voz.

Os discos que ele produzia

não eram discos das Crystals
ou da Darlene Love,

eram discos do Phil Spector.

O produtor era maior
do que as estrelas.

O produtor ficou maior
do que os sucessos.

Ele era o sucesso.

E ele dominava

o cenário musical
com aquela muralha de som.

A gente realmente não compunha
para nenhum artista específico.

Qualquer um que fosse
o próximo a lançar um single

levava a próxima música.

Foi isso que o fez ser
uma grande estrela,

o fato de ele ser
o criador desse som.

A muralha de som tinha
a cacofonia de quatro pianistas

tocando o mesmo trecho,

cinco guitarristas tocando
o mesmo trecho,

só que ampliando.

Eu falava que éramos
a "bagunça" dos discos dele.

Estávamos em um estúdio
chamado Gold Star,

e ele tinha uma câmara de eco

que era um dos segredos
do som exclusivo do estúdio.

E se soubesse usar direitinho,

como o Phil sabia,

aquilo ampliava o som
em dez vezes.

Phil falava: "Vamos tentar isso,

vamos jogar para cá,
jogar para lá..."

A gente entrava na cabine,
ouvia o playback,

e era incrível

o que ele conseguia fazer
com aquelas músicas.

E todas as gravações têm

aquele som pleno,
quase sinfônico.

Ele era o mestre desse estilo.

Acredito que, de certa forma,
ele estava em um palco.

Aquilo era o teatro dele.

E é preciso ter o controle

ao comandar um projeto.

Ele reverenciava e respeitava
os músicos.

As cantoras, que eram crianças,
basicamente...

Acho que a La La Brooks tinha
uns 16 anos

quando gravou
"Then He Kissed Me".

Ele, com certeza,

exigia toda a atenção para ele,
e conseguia.

Acho que era a intenção dele:

tentar ofuscar o artista,

controlá-lo por meio do contrato
e de todas as outras formas,

para que ele fosse a estrela,
e não o artista.

Ele nunca foi grosso
com os músicos.

Ele era bem direto,

mas tínhamos senso de humor
e retribuíamos na mesma moeda.

Mas o jeito que ele falava
com as cantoras

podia ser bem grosso,

e aquilo me incomodava.

Elas não gostavam,

mas acabavam aceitando,

porque, no fim das contas,
eram pagas para isso.

Era um pouco cruel,

para falar a verdade.

Ele não as tratava
como artistas,

elas eram ferramentas.

Elas não o enfrentariam

do jeito que os músicos faziam.

Elas não podiam retrucar nada.

Olha, The Paris Sisters,

que eram uma cópia minha...

O Phil tocou para elas
"To Know Him Is To Love Him"

e falou:

"Quero que vocês façam
exatamente o que ela fez.

É isso que quero registrar."

Aquele tom doce, delicado...

A primeira vez que ouvi,

eu estava dirigindo,

estava chovendo,

e o rádio estava ligado.

Por um milésimo de segundo,

achei que fosse eu cantando.

Realmente achei que era eu.

E aí...

a ficha caiu.

Parei no acostamento
e comecei a chorar,

porque eu sabia
que ele tinha a fórmula,

e eu não fazia parte dela.

ESTÚDIO A

Estar à vontade e ser racional

é muito importante para mim.

Muito importante mesmo.

Porque quase nunca estou
à vontade comigo mesmo,

e quase nunca me sinto racional.

Eu me sinto à vontade
no estúdio.

Então sentei e falei:

"É como as músicas."

Eram o amor da minha vida
quando eu as fazia.

Eu vivia para aquelas músicas.

Por isso nunca tive
relacionamentos que duraram.

As músicas eram a minha vida.

Eram mais importantes
do que qualquer coisa.

As minhas músicas, meus discos,
eram a minha vida.

Nada se comparava a elas.

Nunca,
na história da música popular,

a indústria da música

esteve tão dominada
pela juventude do país.

Esse novo tipo de música
é descrito

como "amor jovem"
e "música simples".

Essas novas músicas
costumam tratar de términos

e amores impossíveis.

As letras são
simples e repetitivas.

O som é alto e estranho,
o máximo que dá.

Quem canta é jovem
e não tem experiência.

A nova geração transformou

Tin Pan Alley
em "Teen" Pan Alley.

O meu próximo convidado,
Sr. Phil Spector,

ex-membro do grupo adolescente
de rock and roll,

os Teddy Bears.

O Sr. Spector tem 23 anos

e é um dos compositores
de maior sucesso da indústria.

As músicas mais famosas dele
são "Spanish Harlem",

"Secondhand Love,"

"Da Doo Ron Ron,"

e muitas outras.

O Sr. Spector é o único dono
da Philles Records,

que deve faturar
US$ 2,5 milhões este ano.

- Agora, Sr. Spector...
- Socorro...

Baseado na longa história
da música popular americana,

isso não deve continuar
por tanto tempo...

É preciso dar crédito ao diabo,

e o Phil era brilhante.

Ele tinha
a faca e o queijo na mão.

E, nossa, ainda acho

que ele era um gênio
quando se trata de música.

Ele compunha pequenas sinfonias

com as músicas,
e elas se tornavam

os nossos mantos,

de todos os adolescentes.

"He’s a Rebel",

todas elas.

Sabe?

"Be My Baby."

The Ronettes foram
no The T.N.T. Show.

Que música linda.
Adorávamos aquela música.

Era gloriosa.

"Be My Baby",

que música fantástica.

Foi um enorme sucesso
do Phil Spector.

E foi o início

de uma longa rodada de sucessos
das Ronettes.

A Ronnie sempre foi a baixinha,

então ela tinha que gritar mais.

Ela tinha que ficar no meio

para conseguir ouvir
tudo que rolava ao redor dela.

Quando ouvi a voz da Ronnie,

fiquei besta, e as irmãs dela...

Eu adorava
as músicas das Crystals.

"He’s a Rebel"
e "Da Doo Ron Ron".

Mas a Ronnie era outro nível.

Então, rapidinho,

as Crystals são jogadas
para escanteio,

e as Ronettes se tornam
o centro das atenções dele,

principalmente
a Veronica Bennett,

que ficou mais conhecida
como Ronnie Spector.

O Phil ficou de olho na Ronnie
desde o início.

Eu não via problema nisso.

Não era comigo!

Eu me lembro
que eu pensava isso.

"Nem se atreva
a olhar para mim."

Mas, infelizmente,
ele era casado, então...

E na primeira noite
que entramos,

só estava ele no piano.

Ele olhou para mim,
trocamos olhares,

e ele me falou
para cantar uma música.

E eu comecei a cantar.

Mas o Phil me parou e falou:
"É a voz eu que eu procurava!"

Naquele momento,
o Phil não estava solteiro.

Ele tinha se casado em Nova York

com uma moça muito bonita,
que parecia uma elfa,

chamada Annette Merar.

É claro que ele amava a Annette.

E mesmo depois
de a trair várias vezes,

ela ainda falava dele

com um carinho imenso.

O Phil tinha outras qualidades:
carisma, charme e humor.

E sempre gostei de gênios,
de poetas, desse tipo de gente,

porque preciso disso,
não sei por quê.

Ele fez
a minha alma se apaixonar.

Quando fui ouvir as fitas,

eu me dei conta que, nossa...

Claro,
ela já tinha seguido a vida,

se casado, formado uma família,

mas uma parte dela
ainda era apaixonada por Phil.

Ela nunca o superou.

E uma prova do amor
que ele sentia por ela

era que,
na parte lisa dos discos,

ele riscava "Phil + Annette".

O primeiro disco
que ele não fez isso

foi com a música "Be My Baby",
das The Ronettes.

Quando descobri
que ele era casado,

eu sabia que era errado.

Crescemos com certos princípios.

Não seríamos abençoados
se fizéssemos algo errado.

O jeito que ele tratava a esposa

me deixava muito mal.

O Phil nem fazia
o tipo da Ronnie.

Ele era inseguro demais

por causa da altura dele e tal.

Então,

por que ela daria bola?

A não ser
que tivesse alguma vantagem.

Acho que a Ronnie

queria ser uma estrela.

Ela queria ser famosa,
queria ter sucesso.

E o Phil Spector era
o caminho para isso.

Se tem um cara de olho em você,

ele é mais velho

e fica falando:
"Posso fazer qualquer coisa",

dá para entender
que é muito atrativo.

Mas não dá para saber
no que está se metendo.

No caso do Phil Spector,

o egoísmo,

a forma como ele lidava
com essas situações,

acho que isso exibe um padrão.

Era muito comum naquela época,
e foi bem recorrente.

Havia pessoas
que eram úteis para ele,

que ele podia usar
e depois dispensar.

Acho que é
um dos traços mais desagradáveis

que o Spector exibiu
ao longo da vida:

considerar
as pessoas descartáveis.

As mulheres, principalmente.

Eu... controlava tudo.

Eu era muito controlador.

É preciso dominar a si mesmo,

se controlar por completo.

Eu tenho

demônios dentro de mim
que brigam comigo.

E eu sou o meu pior inimigo.

No sentido prático,

relativamente,
eu diria que sou louco.

A sensação foi extraordinária.
Foi quase como uma confissão.

Ele não dava

uma entrevista formal
há cerca de 25 anos.

E a última coisa que eu esperava

era ele falar comigo

com tanta sinceridade
e honestidade

como fez,

revelando
emoções realmente cruas.

No fim das contas,
enquanto o sol se punha,

saí daquela entrevista pensando

que tinha sido algo sensacional.

A última conversa que tive

com a assistente pessoal
do Spector foi:

"Adoraríamos ver uma cópia
da reportagem quando sair."

E respondi que sim.

Assim que a edição
chegou na redação,

mandei um exemplar direto
para a casa do Phil Spector

para que ele pudesse ler

ao mesmo tempo que era publicado
na Grã-Bretanha

no sábado de manhã.

Na segunda-feira,

calhou de eu estar
na sala do telégrafo,

e alguém apareceu falando:

"O que você escreveu
para irritar o Phil Spector?"

Perguntei o motivo,

e ele me falou
para ligar a televisão.

E vimos aquela clássica imagem
do helicóptero sobrevoando

o Castelo Pyrenees,
onde eu o havia entrevistado

quatro ou cinco semanas antes,

mas, desta vez,
com as fitas amarelas em volta,

as viaturas
com as sirenes ligadas,

os investigadores de terno
entrando e saindo da casa.

E ouvimos a notícia
de que uma mulher desconhecida

havia sido encontrada morta
na casa do Phil Spector.

E então

olhei para o Casper,

o editor que encomendou
a matéria,

e pensamos
exatamente a mesma coisa.

"Meu Deus, ele leu a matéria,

ficou enfurecido

e matou a assistente dele."

Foi isso que pensamos,

que ele tinha, simplesmente,

surtado depois de ler.

Eu estava em uma aula
sobre realismo fantástico.

Estávamos lendo alguma obra,
não lembro qual era.

Bem que eu queria lembrar.

Mas havia uma frase
que a professora repetia.

Ela falava:

"Levaram o meu pai.

Levaram o meu pai."

Ela falava que precisávamos
sentir essa frase.

E apareceu uma mulher,

que entrou de fininho na sala
e me tirou da aula.

Logo pensei
que os meus pais tinham morrido.

Eu era muito apegada
aos meus pais.

Eu estava tremendo
de tanto medo,

porque esse sempre foi
o meu maior medo.

Mas ela logo falou
que eles estavam bem.

E respondi: "Ai, graças a Deus".

E aí, ela falou:

"Porém,

aconteceu uma coisa.

Uma mulher morreu
na casa do seu pai.

Está em todos os noticiários.

Você precisa sair daqui.

Não sabemos quem foi,
não sabemos de nada.

Mas é melhor
você não ficar na escola."

Perguntei onde o meu pai estava,
e responderam:

"Levaram o seu pai".

E eu fiquei pensando:

"Levaram o meu pai,
levaram o meu..."

Exatamente como na aula,

a frase que a professora
ficou repetindo.

Ela me levou para uma cafeteria.

Estava passando o noticiário,
um circo na casa do meu pai,

e fiquei

sem conseguir acreditar.

Era tudo

muito surreal.

Era uma obra ruim
de realismo fantástico.

Já sabíamos
que seria um circo midiático.

Desde o início.

Foi um circo midiático,
uma loucura.

Phil Spector, que ajudou
a definir o rock and roll,

foi preso na segunda-feira

após descobrirem uma mulher...

Conhecido tanto
pelo comportamento bizarro

quanto
pela genialidade musical...

Recebemos telefonemas

durante a nossa investigação

informando que o caso
já estava em todos os canais.

Na época,

a impressão geral em Los Angeles

era...

de que nenhuma celebridade
jamais seria condenada por nada.

Foi após
os julgamentos do O.J. Simpson

e do Robert Blake.

Ele era um homem acostumado

a sempre estar no comando.

Quando isso aconteceu,
foi a primeira coisa que pensei:

um produtor muito famoso
está sendo investigado

por assassinato.

Lá vamos nós,
era o próximo caso O.J. Simpson.

O mais interessante

é que não sabíamos
quem era a vítima.

Posteriormente,
recebemos um telefonema

de um funcionário
do House of Blues

afirmando que tinha visto
o Phil Spector sair de lá

com uma colega dele,
a Lana Clarkson.

A vítima, uma linda atriz
de filmes de baixo orçamento,

chamada Lana Clarkson,

com aparições em 17 filmes

e um site próprio.

Lane Clarkson
estaria escrevendo um livro

sobre os homens
que ela conheceu em Hollywood.

As primeiras informações eram
de que eles não se conheciam.

Isso agora está em xeque,

com fontes dizendo
que já se conheciam há um tempo.

No dia seguinte
do acontecimento,

o meu pai me ligou falando:

"Estou bem.

Está tudo bem.

Não se preocupe comigo.

Cabeça erguida."

Ele queria falar que estava bem,
que tudo ia ficar tudo bem,

que tinha sido
um grande mal-entendido,

que já estavam dando um jeito.

Eu não...

Eu só queria perguntar
se ele estava bem.

Nunca foi

uma possibilidade
ele realmente ter matado alguém.

Conversamos algumas vezes,
e ele falava:

"Não sei o que está acontecendo.
A mulher entrou na minha casa.

E parece que ela se matou."

E...

Ele estava perplexo.

Tínhamos que ser justos
com o Phil Spector

e a versão dele.

Tínhamos que investigar
a Lana Clarkson.

Havia pedaços dos dentes dela...

Os dois dentes da frente dela

tinham estourado com o tiro,

e pedaços foram encontrados
no chão.

E acho que havia
um pedacinho até na escada,

a cerca de três metros
de distância.

Havia toalhas ensanguentadas.

E uma delas era uma fralda,
na verdade.

Por fim, coletamos tudo

e enviamos ao laboratório
de criminalística.

Havia vários indícios,

mas não havia
prova definitiva de nada.

Tínhamos que investigar

como a pessoa estava no dia,
o passado dela,

como ela estava, o humor,

o dia no trabalho.

É preciso investigar
todos esses detalhes.

Se a pessoa é suicida ou não.

Como podemos determinar isso?

Fazendo o que chamamos
de análise forense da vida dela.