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Você fala que sim

Que me compreende

Você fala que não

Que não me entrega
Que não me vende

Que não me deixa
Que não me larga

Mas você deixa tudo

- Deixou!
- Você deixa mágoa

- Deixou!
- Você deixa frio

- Deixou!
- E me deixa na rua

- Deixou!
- Você jura, jura

- Jurou!
- Você me despreza

- Prezou!
- Você vira a esquina

- Esquinou!
- E me deixa à toa

Tô, tô, tô

Você

Passa mal

Toma Sonrisal

Se engana, mas vai em frente

Pra mim

Não tem jeito

Não tem beijo final

E não vai ter happy end

E não vai ter happy end

E não vai ter happy

E não vai ter happy end

E não vai ter happy

E não vai ter...

Esta foto de Alcir Lacerda.

É dos anos 60,

da praça da igreja
de Boa Viagem, zona sul do Recife.

Este é o hotel Boa Viagem,

que era um ponto marcante

até a sua demolição,
na década de 2000.

O hotel Boa Viagem
pode ser visto nestas imagens

com Janet Leigh e suas filhas,

numa visita ao Recife,
no início dos anos 60.

A praça mudou muito.

Na década de 70,

minha pequena família
veio morar nessa área da praia.

Na verdade, a 250 metros da praia.

Bem aqui, onde antes era mangue.

Apartamento 102...

...edifício Pioneiro, número 207,

na rua José Moreira Leal,

bairro de Setúbal, no Recife.

O prédio, de 1972,
só tem um andar, sem pilotis.

Uma construção sólida e discreta.

O apartamento fica em cima,
atrás, longe da rua,

onde é mais silencioso.

São três quartos
nesse apartamento.

Uma suíte, sala,

banheiro social...

...copa-cozinha.

Antigamente, o apartamento
tinha quarto de empregada,

que minha mãe, Joselice,

transformou, abrindo uma parede.

Primeiro, em um escritório.
E, depois, em um lugar para ver filme.

Eu tinha dez anos quando a gente
veio morar nesse apartamento,

que minha mãe comprou pela
Caixa Econômica Federal, em 1979.

E essa casa nova significou

um recomeço de vida
para minha mãe,

logo depois da separação
do meu pai, Kleber.

Joselice, minha mãe,
era historiadora.

Ela estudou os abolicionistas

Joaquim Nabuco e André Rebouças,
no Brasil do século 19.

Na Fundação Joaquim Nabuco,
onde trabalhava,

brincavam que ela traía
Nabuco com Rebouças,

de quem ela tinha uma gravura
emoldurada na parede de casa.

Joselice dizia que essa piada
tinha uma carga bem forte de Brasil.

Anos depois de sua morte,
eu recebi essa fita

de um colega de trabalho dela,
na Fundação Joaquim Nabuco.

Um puta presente.

É uma reportagem da Globo, de 1981,

onde ela fala sobre
a técnica da história oral.

Joselice, como é que vai ser a pesquisa
da Chesf e sua história oral?

Através da história oral,
nós colhemos informações

que não ficaram na história.

Parte para fazer uma avaliação
da vida do entrevistado,

uma parte assim, digamos,
um tanto quanto autobiográfica.

E, em seguida, parte-se
para a verificação

e apanhar os dados que a gente
está propondo apanhar daquela pessoa.

Pode parecer
que estou falando de metodologia,

mas eu estou falando de amor.

Hoje, quando eu lembro
da minha mãe,

e, também, desse apartamento,

eu entendo como esse lugar
foi alterado radicalmente por ela.

Duas vezes.

A primeira vez foi
no final dos anos 80.

E eu acho que tinha ali

um sentimento de euforia
e de incertezas.

Eu com minha mãe na rua,
perto de casa,

nas eleições de 1989.

A gente votou juntos
outra vez, em 1994.

Um ano antes de minha mãe
morrer, aos 54 anos de idade.

Quando Joselice adoeceu,

em 1992,

eu vi que ela tinha
nesse apartamento

uma extensão da força dela.

E foi assim que Joselice fez
uma segunda reforma nesse lugar.

É como se o apartamento
tivesse virado uma casa.

Como se tivesse passado
por uma cirurgia

agressiva e, também, reparadora.

Joselice entregou
ao meu irmão, Múcio,

na época um estudante
de arquitetura com 20 anos de idade,

a missão de alterar a nossa casa.

Foi o primeiro projeto
que meu irmão desenhou.

Um lindo trabalho, com pelo menos
uma referência jovem a Oscar Niemeyer.

Na década de 2000,

esse lugar mudou outra vez.

E nesses anos todos,

eu fui aprendendo como o tempo
vai alterando os lugares.

Olha que foto bonita.

Martin e Tomás, ó. Aqui, Tomás!

Eita! Que foto bonita, danada!

Olha.

Eu quero ver!

De uma forma ou de outra,

eu vivi nesse lugar durante 40 anos.

Ok!

Gravando!

Corta.

Esse apartamento foi também

o lugar onde
eu comecei a fazer filmes.

- Menos susto, né?
- É.

Eu devo
ter feito entre dez e treze filmes.

A praia significa o paraíso...

O foco dessa câmera
tá zero, viu, Kleber?

Tá bom.

- Tá bom.
- Tá bom, o tapete já foi.

Ele foi filmado,
acho, que de todos os ângulos,

em todos os cômodos,

durante

vinte anos, eu diria.

Algumas pessoas viam
meus filmes e perguntavam...

"O que tu tanto vê naquela rua,

naquele bairro de Setúbal,
naquele apartamento?"

Sidiclei, acorda!

A resposta é porque
era o lugar onde eu morava, né?

Era porque Joselice
estimulou que eu fizesse

meus filmes, da maneira
que pudesse fazer meus filmes.

Era a nossa casa, estava à mão.

Ê! Aqui, pra posteridade.

Os vizinhos faziam pontas.

Achavam engraçado, eu acho.

Corta.

A gente também filmou

no apartamento da vizinha de porta.

Era bom transformar a casa

numa aglomeração,
numa oficina, num estúdio.

Eu tinha
falado pra Pedro Sotero

e Fabrício Tadeu, os fotógrafos
de O Som ao Redor,

que eu queria tentar
fotografar a rua à noite,

sem lua especial de cinema,

que é uma ideia
meio boba, na verdade.

Eles me mostraram que é possível.

Mas, quando eu vi as imagens,
achei melhor iluminar a rua toda.

É quando você junta o normal
com a imagem do cinema.

E aí fica com a cara de um filme.

Vem trabalhar um pouquinho.

Mariá, essa é Sofia.

- Sofia, Mariá.
- Tudo bem, Sofia?

Tudo joia.

- Tem café, Mariá?
- Tem, tô terminando de fazer.

Eu tô precisando.

Teve uma vez
que Maeve veio jantar.

...com esses óculos,

tentando se achar mais inteligente.

E eu achei engraçado

que ela estava sentada
no mesmo lugar

da cena do jantar, em O Som ao Redor.

Que isso?

Que isso?

Um cara
tinha entrado na casa vizinha

para roubar o botijão de gás.

E, mais tarde, claro, a gente dramatizou
o que tinha acontecido, com o telefone.

Durante muitos anos, fotografei
o apartamento e a vizinhança.

E uma vez eu tirei a foto
de um fantasma, uma presença.

A foto era na sala do apartamento,

mas com uma figura
que eu não sei quem é.

Eu não sei até hoje como essa figura

veio parar na minha câmera,
nem no meu filme.

O que eu sei é que essa imagem
começou a circular

e amigos e conhecidos quiseram
me levar num centro espírita.

Eles achavam que eu era um médium.

Psiu!

Uns anos atrás, eu cheguei do cinema

com a Emily, num domingo à noite.

Sentei na mesa da cozinha
pra fumar um cigarro

e, de repente, eu ouvi um latido
que fazia anos que eu não ouvia.

Era o latido de Nico,
o cachorro da casa vizinha.

Só tinha um problema:
Nico tinha morrido.

Ele morreu uns dois anos depois
de O Som ao Redor ficar pronto.

Não tá conseguindo dormir, mãe?

Não.

Ele vai ficar latindo...

Eu me levantei,
ouvindo os uivos e latidos de Nico

e, de repente, eu entendi que o filme

estava passando na Rede Globo,
em rede nacional,

e que os vizinhos
estavam assistindo ao filme.

E Nico...

tinha virado um fantasma.

Nico fez uma ponta também

num outro filme meu, espontaneamente.

Eu devo
ter gravado o som de Nico latindo

e uivando durante alguns anos.

Às vezes, eu...

não conseguia acreditar
como é que um cachorro latia tanto.

Ele latia porque passava
o final de semana sozinho,

ou seja, ele passava
o final de semana

latindo.

Eu tentei falar com os donos
da casa, mas não deu em nada.

Os vizinhos achavam
sempre uma maneira de dizer

que Nico não era um problema
e, na verdade, era uma vantagem.

Eles argumentavam
que se o Nico late...

...não tem ladrão.

Esse plano de Nico deitado
apareceu agora há pouco.

Olha isso aqui.

A casa dos vizinhos
foi tomada por cupim,

que terminou
contaminando o nosso prédio

e, também, o nosso apartamento.

Desgraçado.

E os cupins foram parar

no meu outro filme: Aquarius.

Aconteceu que a casa
vizinha com piscina,

construída nos anos 70...

...foi tomada por cupim,

que derrubou
todo o telhado da cozinha.

E, depois de tantos anos,

a casa ficou careca,

bem na frente da nossa sala.

E a casa foi entrando em decadência,

e a natureza percebe isso,

vai ocupando o espaço.

Eu gosto muito de bicho.
Gosto de cachorro, de gato.

Mas, esses gatos, tomaram conta
e encheram o saco. Puta que pariu!

Essa rede
na janela é por causa dos gatos.

E, finalmente, isso.

A transformação da casa num bunker.

Pra mim, a casa não foi
mais a mesma depois de Nico.

Os filmes foram fotografando
o comportamento do bairro.

E a câmera se aproxima...

Éramos tão jovens...

...não sabíamos o que era
a vida, e o que era o amor.

Só sabíamos...

Só sabíamos dos Rolling Stones.

Serra Talhada

Você não sai
Dos meus pensamentos...

Éramos tão jovens...

Não, esse prédio
aí está bem. É o prédio do lado.

Aí! Esse aí, ó.

Piorou muito,
dá uma girada na bandeira aí.

- Tudo bem, liga o max.
- Liga o max.

Liga essa porra desse max.

Onde antes
não tinha grade, passou a ter grade.

Antigamente, você vinha da rua
e entrava no prédio. Não tinha portão.

Seu Clodoaldo.

- Obrigado, dona Bia.
- De nada.

Boto no recibo seu nome ou do Ricardo?

- Não vou precisar, não.
- Obrigado pelo café.

De nada. Que isso?
Precisando, o senhor avisa.

Sempre achei estranho,

porque o bairro
de Setúbal nunca me pareceu

especialmente perigoso.

Câmera.

Foi.

Essa casa
sempre foi a minha preferida na rua.

A única na área que tem
uma cerquinha de um metro,

os janelões de vidro não têm grades.

É um fenômeno.

Na época da filmagem
de O Som ao Redor,

a proprietária me disse
que, por causa da cerca baixa,

e dos janelões de vidro
que dão para o jardim,

nunca ninguém, jamais,
tentou entrar na casa dela.

Pois bem. Meu nome é
Clodoaldo Pereira dos Anjos.

Muito prazer. Tudo bom?
Seu nome?

Às vezes, as pessoas perguntam

se o que elas veem
no filme é direção de arte.

Não. Não é direção de arte.

Ou, dependendo da situação,
eu às vezes mentia.

"Claro que é direção de arte."

E a pessoa olhava impressionada.

Olha essa outra casa,
atrás do muro.

Aqui morava uma amiga, nos anos 80.

Quando fui procurar
imagens da minha casa

pra fazer essa montagem,

eu vi que tem
o apartamento da vida comum

e o apartamento de cinema.

Teu, todo teu

Minha, toda minha

Juntos, essa noite

Quero te dar todo meu amor

- Toda, minha vida
- Sim!

Eu, te procurei

Hoje, sou feliz

Com você
Que é tudo o que sonhei

Ah, eu te amo

Oh, eu te amo
Meu amor

Ah, eu te amo

E o meu sangue ferve
Por você

Oh, eu te amo

Oh, eu te amo
Meu amor

Oh, eu te amo

E o meu sangue ferve
Por você...

Eu amo o centro do Recife.

Eu amo o centro do Recife.

Eu cortei e depois coloquei de volta

duas vezes no filme essa fala,

achando que era
redundante dizer isso.

Mas depois eu lembrei que a gente
tem que falar quando gosta de alguém.

O centro de uma cidade pode
lembrar muitas outras cidades.

Katia Mesel.

Essa minha relação
com o centro passa pelos cinemas.

Entre os 13 e os 25 anos
de idade, mais ou menos,

eu ia ao centro ver filmes
várias vezes por semana.

Garganta Profunda 2.

O centro é um lugar

que uma parte da cidade
parece ter esquecido que existe.

Tem um clima decadente,
de quem foi abandonado

sem grandes explicações.

Tem muita gente jovem
que nunca nem veio ao centro.

Nem no carnaval.

Mas uma coisa que não dá pra negar
é que o dinheiro foi pra outro lugar.

Eu ouvi uma pessoa dizer uma vez

que o problema do centro
é que não tem ar-condicionado.

Eu tenho um mapa sentimental
do centro da cidade.

Separado pelo rio Capibaribe, sujo,

e marcado por ruas e cinemas.

O Art Palácio e o Trianon
ficavam na rua do Sol...

...de frente para o grande rival,
no outro lado do rio,

o São Luiz, na rua da Aurora.

Frente a frente, os três se olhando,

cara a cara, no Sol e na Aurora.

A maior parte dessas salas
não existe mais, claro.

Esse é Joaquim Nabuco,

o abolicionista.

Esse mapinha cobre uma área da cidade

que tem ruas como a rua da Saudade,

a rua do Hospício e a das Ninfas.

O Beco da Fome e o Beco do Fotógrafo.

A Livro 7, uma grande livraria,
também não existe mais.

"A liberdade para o cliente
escolher o seu livro."

Virou igreja.

Mas o centro também é todo despachado.

Tem um clima
de "se não gosta de mim, foda-se".

Tem gente que pensa
que o centro da cidade morreu.

Uma amiga
escreveu uma vez que o centro do Recife

tem cheiro de maré,

fruta

e mijo.

Jomard Muniz de Britto
e Antônio Cadengue.

O centro devia ter esse cheiro

até quando o dinheiro
rolava solto aqui.

Cláudio Assis
e Matheus Nachtergaele.

Janet Leigh e Tony Curtis.

Eu descobri essas imagens:

eu, no hall de entrada do Art Palácio,

na semana de fechamento do cinema,

em julho de 92.

Hum...

Uns 30 anos depois,

eu recebi essas fotos
do mesmo lugar,

mas tiradas alguns dias antes
de o cinema ser inaugurado, em 1940.

Por baixo, umas 30 milhões de pessoas

passaram por esse lugar,
em mais de 50 anos.

Eu acompanhei os últimos
dois anos do Art Palácio,

fotografando e filmando
o lugar com uma câmera VHS.

Na época, eu era estudante.

- Tem dois cruzeiros?
- Tem, não.

Tem mil cruzeiros?

Era um pouco como

estar num navio que está sendo
preparado pra ser afundado.

Às vezes, parecia uma fábrica
cheia de máquinas antigas.

Foi no Art Palácio que eu conheci
Alexandre Moura. Seu Alexandre.

A cabine de projeção era quente
e não tinha ar-condicionado.

Seu Alexandre, às vezes,
trabalhava sem camisa

e sentava ou deitava no chão,

que era mais refrescante
do que ficar na cadeira.

Tá entrando mais um
ventinho, assim a gente não vai morrer.

Eu passei aqui O Poderoso Chefão.

Trabalhei O Poderoso Chefão,

passou aqui uns quatro meses.

Não passou outro dia
na televisão O Poderoso Chefão?

Né, meus filhos?

Eu fiquei tanto com a música

que eu não podia ouvir.

No último dia de passar
O Poderoso Chefão, eu não suportei.

Foi aquela...

Foi aquela ansiedade
de terminar o filme.

Aí eu fui pro Trianon.

E naquele tempo eu era moço!

Fui pro Trianon, o rapaz
do Trianon veio pra cá

pra poder terminar o filme,
porque eu não aguentava.

Você passar quatro meses
assistindo a um filme.

Nunca esqueci
o seu Alexandre contando

como lidou com a censura na ditadura.

Aí chegou dois camaradas.

"O filme tá preso, viu?"

Abriu a cabine. "Quem é o senhor?"

"Sou da Polícia Federal.
O filme tá preso."

"Não tem importância,
é bom que eu largo cedo."

Eu tive um sonho uma vez,

onde seu Alexandre abria
a tampa do projetor

e a luz fazia ele desaparecer,
tipo...

Como no Exterminador do Futuro 2,

que ele projetou na estreia,
com o cinema lotado.

Seu Antônio?

Puxa vida, não tem ninguém.

Antônio!

Antônio!

Depois de tantos
anos, nunca consegui permissão

pra entrar e ver
as ruínas do Art Palácio.

Tem um lado bom nisso.

Quando eu lembro desse cinema,
eu lembro logo de seu Alexandre,

que faleceu em 2002.

Eu já lhe disse
pra que serve aquela janela?

- Pra que servia?
- Não.

Pro locutor.

Quando é filme de arte.

Quando é filme de arte fica um locutor
ali da Rádio Jornal, ou de qualquer...

Qualquer rádio. Agora,
um locutor que fale bem, sabe?

E ele falava quando?

Quando estava
sendo exibido o filme.

O filme sendo exibido
e ele falando durante a sessão, né?

- Pra dentro do cinema?
- Pra dentro do cinema.

Não era pra rádio, não. Era pra dentro
do cinema, para o expectador.

Agora, aquele filme de arte, né?

Só tinha gente...

Ele falava o que, exatamente?

Sobre...
Falava sobre o filme, né?

O filme faz isso, aquilo, né?

Aquele filme de reich,
aquele negócio fora de série.

- Coisa estranha...
- É.

Quando anunciaram
o fechamento do Art Palácio

e do vizinho, Trianon,

eu perguntei a seu Alexandre

se ele viria trabalhar
na última noite do cinema.

Uma terça-feira, sou eu.

Sou eu que vou fechar.

Vou fechar o cinema
com a chave de lágrimas.

É, meu filho. Tá chorando!

Vou fechar o cinema com...

a chave de lágrimas.

Seu Alexandre
me falou uma vez

de um gerente alemão
do Art Palácio, durante a guerra.

Fazendo esse filme agora,
eu finalmente juntei as peças.

Que história sensacional!

O Art Palácio foi projetado
pra ser um cinema da Ufa,

o grande estúdio alemão que era braço

da propaganda nazista
de Goebbels e Hitler, nos anos 30.

Os alemães viram a possibilidade
de expandir a propaganda nazista

em duas cidades
estratégicas do Brasil:

São Paulo e Recife,

durante o governo
de Getúlio Vargas,

que tinha simpatia
pelo regime nazifascista.

Recife recebeu também 67 vezes,

entre 1930 e 1937...

as máquinas alemãs
Graf Zeppelin e o Hindenburg.

São Paulo e Recife, cada uma
com seu Art Palácio, da Ufa,

projetados pelo arquiteto
Rino Levi, que era, aliás, judeu.

O escritório antigamente era aqui.

- Não é ainda?
- Não, é. Mas era de modo geral.

Seu Alexandre
falava do gerente alemão, na época.

Gunter, se não me engano.

É um esconderijo aqui,
que vai sair lá no balcão, né?

No tempo da guerra, o alemão
se escondia ali debaixo também.

Qualquer pau, ele se escondia.

Jogava "tudo em casa", né?

Com a guerra,

os planos de o Art Palácio,
no edifício Trianon,

ser um projeto da Ufa
foram abandonados.

De toda forma,
o espaço foi explorado

pela exibidora
e distribuidora Art Films,

do imigrante italiano
Ugo Sorrentino,

que, desde 1931,

era o distribuidor exclusivo
de filmes da Ufa no Brasil.

E continuou sendo, até 1941.

Meses depois,
o Brasil finalmente cortou

relações comerciais
com a Alemanha de Hitler.

Esses prédios ficaram
de pé nos anos 40,

e o dinheiro todo
estava concentrado aqui.

Os espaços de poder da cidade

foram todos muito bem planejados.

Nos anos 70, começou a perder
seu prestígio, um pouco como os cinemas.

E parece que estacionamento
foi uma questão.

Aos poucos, o dinheiro
foi embora pra zona sul.

Ali, em Boa Viagem.

É a mesma coisa que aconteceu
em tantas cidades,

no mundo afora.

Cartucho e toner de impressora.

Curso de inglês.

Escritório.

E algum tipo de prótese.

Dá quase pra imaginar as intrigas,

espiões americanos e nazistas.

Brasileiros a favor e contra

a neutralidade do país
em relação à guerra.

Todo mundo tramando.

O carnaval.

Dá também pra imaginar esse prédio
virando moradia boa pra muita gente.

Aqui funcionou
o Consulado dos Estados Unidos,

inclusive durante a guerra.

Um outro tipo de consulado americano

ficava nesse outro prédio,
não muito longe dali.

Todos os estúdios de Hollywood
ficavam aqui nesses cinco andares.

Metro, Universal, Columbia Pictures,

Fox, Paramount, Warner,
United Artists, Disney.

Tinha espaço até
pra empresas "estrangeiras"

como Atlântida,
Cinédia e Embrafilme.

Ou, pelo menos,
era como se sentiam

as distribuidoras
brasileiras nesse prédio.

Plano nove, tomada dois.

Essas imagens,
do filme Eisenstein,

são os únicos registros
da central de cópias

que abastecia cinemas
no Norte e Nordeste do Brasil.

Filmes de ficção
são os melhores documentários.

Com a internet,

os escritórios dos estúdios
fecharam, na década de 2000.

E a distribuição de filmes
ficou concentrada em São Paulo,

a quase dois mil
quilômetros de distância.

Outro dia, eu passei
no edifício Alfredo Fernandes

e o novo administrador
me informou, com muita autoridade,

que nunca existiu nenhuma
empresa de cinema naquele lugar.

Essas empresas só ocuparam
o edifício durante mais de 70 anos.

Por sorte, eu guardei
algumas lembranças

das distribuidoras
do edifício Alfredo Fernandes.

Bem atrás do prédio, ficava o lixo.

Bem ali,

ficava o lixo de Hollywood.

Cartazes americanos
de alta qualidade, trailers,

fotos, lobby cards, pressbooks.

Toda semana, centenas
de materiais eram jogados fora.

Um segredo bem conhecido.

E muita coisa era revendida
por seu Paulo Barbosa,

que ele levava
pra calçada do Trianon.

Essas imagens
já têm mais de 30 anos.

Os cinemas foram extintos, né?

O pessoal pobrezinho,
que não tem dinheiro, compra.

Compra. Às vezes,
até dou material a eles,

porque o que tem duplicata aqui,
eu dou. É material pra eles.

Muitos não têm dinheiro,
ficam só de olhar.

Paulo Barbosa
vendia lembranças de cinema,

mas era também portuário.

E foi um dos heróis que
salvou o Recife de uma tragédia.

Em 12 de maio de 1985,
ele soltou as amarras

de um navio-tanque
em chamas, no porto.

É muita história.

"13º Salário: Cinco Mortos."

"Sra. Ricardo Pessoa de Queiroz."

"Sra. Julio."

"Sra. Antiogenes."

Esse jornal de 1977.

King Kong, com Fay Wray, 1933.

A Fuga de King Kong, no Trianon.

O São Luiz estava com King Kong,
de Dino De Laurentiis.

Aí lá embaixo tem
O Homem de Hong Kong

e Costinha e o King Mong.

A febre King Kong, em 77.

E Sônia, no Boa Vista,
com Dona Flor. Terceira semana.

Umas 150 mil pessoas viram Sônia
em Dona Flor, só no Moderno.

Eu terminei filmando
uma cena com Sônia Braga

no lugar onde era o Moderno,

para o filme que nós fizemos
juntos: Aquarius.

Nessa parede lateral
do cinema Moderno

tinha vitrines, que foram tampadas.

Cada janela tinha um cartaz
de um filme e duas fotos.

Era a primeira imagem
que se via de um filme.

Parecia uma exposição,
só que era na rua.

Foi assim que descobri,
eu era "pirraia",

que tinham feito um outro filme
de Guerra nas Estrelas,

chamado O Império Contra-Ataca.

Vadinho? Vadinho?

Vadinho?

Vadinho? Vadinho?

Vadinho...

O que te fizeram, Vadinho?

Vadinho!

Deixe de brincadeira.
Vai ver é molecagem dele.

Vadinho!

Alguns anos atrás,

eu entrei na cabine
de projeção do Moderno.

Tá aí uma coisa analógica.

Manual.

A marquise de cinema.

Na digitalização dessas imagens,
aconteceu uma coisa estranha.

A imagem da marquise,
guardada durante tanto tempo,

começou a sofrer
uma mutação digital.

É como se o letreiro do Moderno
quisesse me falar alguma coisa.

A árvore cobre parte da marquise

e parece que o filme
vira outro filme.

Às vezes, a marquise parecia

uma mensagem secreta para alguém.

Quem é esse Frankie?

Quem é esse Johnny?

"Meu nome é ninguém."

"Meu nome é terremoto."

A paisagem da cidade era marcada
por palavras de fantasia.

"Vejam Barbarella mandando brasa."

"Você gritará de pavor, saltará
do seu lugar quando assistir Tubarão."

Uns recados soletrados
com cuidado e com malícia.

Eu gosto dessa sequência de retratos

tirados na ponte Duarte Coelho,

em décadas diferentes.

Sempre com o cinema
São Luiz ao fundo.

Johnny Guitar, a foto é de 57.

Pink Floyd, The Wall,
e O Enigma do Mal, março de 83.

Essa aqui, com O Quatrilho,
nos anos 90.

Marcélia Cartaxo e Suzana Amaral.

"Arnold Schwarzenegger."

"Chuck Norris."

Eu filmei isso em Super 8

e só de ver essas imagens
eu fico tonto.

Como é que pode
eu lá em cima, nessa marquise,

sem nenhuma segurança,

a dez metros de altura?

Que doidera!

Ivan Cordeiro.

"007 - Marcado para a Morte."

Eu vi aí no São Luiz.

Fernando Spencer.

As marquises são
marcadoras de tempo.

Essa foto do Jornal do Brasil,
no Rio de Janeiro,

é de quando os milicos
baixaram o AI-5.

À Queima Roupa, de John Boorman,
passando no Pathé,

e a merda correndo solta
na Cinelândia.

Os letreiros de cinema,
de certa forma,

comentavam a vida no mundo.

Foi uma perda
para as cidades, eu acho.

Você fala que sim

Que me compreende

Você fala que não

Que não me entrega
Que não me vende

Que não me deixa
Que não me larga

Mas você deixa tudo

- Deixou!
- Você deixa mágoa

- Deixou!
- Você deixa frio

- Deixou!
- E me deixa na rua

- Deixou!
- Você jura, jura

- Jurou!
- Você me despreza

- Prezou!
- Você vira a esquina

- Esquinou!
- E me deixa à toa

Tô, tô, tô

Pra mim

Não tem jeito

Não tem beijo final

E não vai ter happy end

E não vai ter...

Foi coincidência
que o letreiro do Veneza dizia:

"Golpe Fulminante"
na noite do seu fechamento?

...E não vai ter...

Será que é coincidência?

Cinemas que não existem
mais mostrando filme de fantasma?

Dezembro de 1970.

A inauguração do cinema Veneza,
na rua do Hospício.

O filme da noite de inauguração:
Aeroporto, da Universal.

Em 70 milímetros.

Alguns dias antes,

uma sessão especial
de Tora! Tora! Tora!, da Fox,

foi oferecida às Forças Armadas.

Banda militar, governo militar.

O dono, Luiz Severiano Ribeiro Junior,

recebe aqui o governador
de Pernambuco, Nilo Coelho,

e a sra. Nilo Coelho.

Na verdade, o nome dela é
Maria Tereza Coimbra de Almeida Brennand.

A empresa Severiano Ribeiro
foi a maior exibidora de cinema

do Brasil, durante o século 20.

No Veneza,
eles não economizaram nada.

É meio triste se apegar
a um produto.

O problema é que você
passou anos da sua vida...

...indo nesse cinema.

Aí a relação fica emotiva e confusa.

Eu acho que foi no Veneza onde
eu comecei a perceber o som no cinema.

Até hoje, os mais velhos
falam da experiência

de imagem e som que foi
ver Hair, de Miloš Forman,

em 70 milímetros, no Veneza.

Eu não tinha idade pra ver o filme.

O governo militar, que definhava
na época, deu censura de 18 anos.

Eles acharam Hair
subversivo e "antimilico".

O filme virou
um fenômeno no Recife,

maior do que em qualquer
outra cidade do Brasil.

Mais de 200 mil pessoas

viram Hair, no Veneza,
em quase seis meses.

A indústria monta
a estrutura de distribuição

e depois joga tudo fora.

Estavam fazendo
um minishopping center dentro do cinema,

sem exatamente demolir o cinema.

Essa coisa se alojou dentro do Veneza,

como um organismo alienígena,
e o cinema virou hospedeiro.

A cidade
se transforma a cada ano, isso é certo,

com muita demolição.

Mas eu nunca vi uma mutação tão
estranha como essa, dentro do Veneza.

Visto de longe, o Veneza
ficava nesse prédio aqui,

com essas vigas.

E aqui era o Colégio Marista,

uma escola tradicional
que foi extinta.

Também vai virar outro shopping.

O Shopping Marista,

assim batizado em respeito
à memória da escola que fechou.

Um pouco como os cinemas.

Essas são imagens do filme
A Seita, de André Antônio,

um filme que se passa
no Recife do futuro.

São as únicas imagens
que sobreviveram daquela escola.

Filmes futuristas
também são documentários.

Ai, ai, ai, ai

Quanto é bom envelhecer

Assim como eu

Ser brasileiro
Nascido em Pernambuco

E fazer frevo

Com a inspiração
Que Deus me deu

Ai, ai, ai, ai...

Essa é uma
das minhas ruínas preferidas.

...Assim como eu

Ser brasileiro

Nascido em Pernambuco
E fazer frevo

Com a inspiração
Que Deus me deu

Ter lindas manhãs
Com a mesma aurora de sempre

O nome do meu pai

No meu filho Luiz

Ser "voinho" tão feliz

De Simone, Nelsinho, Moema

Três versos compondo
O mais terno poema

Olhar o meu Recife...

O cinema Polytheama.

...E a graça da bondade
Sempre me concedeu

Vivendo um mundo assim

De ternura e beleza

Quanto é bom envelhecer

Assim como eu

Ai, ai, ai, ai

Quanto é bom envelhecer

Assim como eu

Ser brasileiro

Nascido em Pernambuco
E fazer frevo

Com a inspiração
Que Deus me deu

Ter lindas manhãs
Com a mesma aurora de sempre

O nome do meu pai

No meu filho Luiz

Ser "voinho" tão feliz

De Simone, Nelsinho, Moema

Três versos compondo
O mais terno poema

Olhar o meu Recife

Amar a sua gente

E a graça da bondade
Sempre me concedeu

Vivendo um mundo assim

De ternura e beleza

Quanto é bom envelhecer

Assim como eu...

Umas 50 milhões de pessoas

passaram pelo São Luiz,
em 70 anos.

Eu não conheço um
lugar tão unânime como esse, no Recife.

Amin Stepple.

Por dentro, o São Luiz
aumenta a fantasia.

Mas, na saída,
ele te devolve pra rua.

Um cinema pode ser
um espaço de gentilezas.

Eu sempre ouvi as pessoas

se referindo ao cinema São Luiz
do Recife como um templo.

Uma parte da cinefilia

usa imagens católicas
pra falar do São Luiz.

Eu já ouvi coisa, tipo:

"Ver um Glauber ou um Hitchcock
só se for de joelhos, em louvor".

O cinema como uma igreja.

Talvez sejam
os vitrais de flor-de-lis...

...muito famosos.

É irônico que o São Luiz
e o prédio Duarte Coelho, em cima,

foram construídos
no lugar de uma igreja.

A capela da Santíssima Trindade,
dos ingleses.

O dinheiro britânico no Recife

já não tinha tanta importância
como no século 19,

ainda mais depois da guerra.

Demoliram uma igreja anglicana,

de 1838,

pra fazer um cinema, em 1952.

A decoração celebra
o rei francês Luís 9º.

É tudo montado
como uma tenda nas cruzadas,

com dezesseis escudos nas paredes.

A flor-de-lis está
em toda parte e nos vitrais.

Luiz Severiano Ribeiro,
o patriarca,

também não economizou
nada nos salões.

Jesus

O nome é Jesus...

Eu vi
de perto dois cinemas

que deixaram de ser cinemas
e viraram igrejas evangélicas,

no final dos anos 80.

O Eldorado, em Afogados,
e o Albatroz, em Casa Amarela.

A transição levou algumas semanas,

pois as salas seguiram intactas.

Cadeiras, decoração
e até as telas ficaram.

Cinemas que
morreram e voltaram como templos.

...na minha vida,
o nome do Senhor Jesus.

Senhor Deus, em nome de Jesus...

Quando eu revi essas imagens,

eu vi que elas revelam o início
de mudanças profundas

na relação do Brasil com a religião.

Os católicos perdendo espaço

e a tomada de poder dos evangélicos.

Eles compraram os cinemas.

Quando eu era criança, eu vi
nessa mesma tela do Albatroz

uma Paixão de Cristo,
com Fernanda Montenegro.

Filme de Semana Santa.

Há formas diferentes hoje
de sair do transe.

De deixar o templo.

De sair do filme.

Miguel e Bruno.

O cinema São Luiz é uma sala pública,

que não tem mais a lógica
de uma sala comercial.

Nem deveria ter.

Um cinema como esse
ajuda a construir caráter.

Geraldo Pinho.

Gustavo Coimbra.

Filmes têm uma queda
natural para o melodrama.

Muitas vezes,
isso já está na imagem.

Mas também faz sentido
abraçar o "melô".

É feito ouvir a "Evocação",
de Nelson Ferreira.

Eu descobri, numa sala
fechada do São Luiz,

um dos projetores do antigo
Trianon, o vizinho do Art Palácio,

guardado como uma doação...

...e sucata.

O Edifício Trianon,

do outro lado do rio,

onde seu Alexandre trabalhava.

Boa noite!

- Boa noite. Tudo bom?
- Tudo bem.

Tá com o endereço aí?

Essas três paradas aqui
é pra pegar alguém mesmo

ou o senhor botou pra enganar
o aplicativo e dar um rolê por aí?

Eu tô querendo burlar
o aplicativo pra dar um rolê.

Às vezes, eu gosto de voltar
pra casa, espairecer,

e dar um rolê no Uber.

Só que se você colocar o seu endereço,

o Uber vai escolher uma rota
muito careta e sem graça.

E aí, pra evitar chateação...
Uma vez, eu tive uma...

discussão com o motorista
do Uber que ia seguir à risca

a rota que o aplicativo dava pra ele,

e eu pedi pra ele ir
por outro lugar, enfim...

Quer que tire a música?

Não, não. Tá boa.

Quem é?

É Herb Alpert.

Esse cara tem me ajudado pra caramba.

E ele tá te ajudando como?

Ele serve de inspiração, né?
Tô aprendendo a tocar trompete.

Aí eu ouço muito ele, assim.

Porque o cara é bom, né?

E você toca em algum lugar?

Eu tô tocando
numa orquestra de frevo.

Música de carnaval, né?

Que é a energia
pra cima, assim. Eu gosto.

Que massa.

E o senhor trabalha com quê?

Eu trabalho com cinema.

- Com cinema?
- É.

Mas é em um cinema,
ou o senhor faz filmes, essas coisas?

Eu...

trabalho com a sala de cinema,
mas eu faço filmes.

Eu escrevo e dirijo filmes.

Eita, que massa!

O senhor é ator? Quero tirar
uma foto depois, viu?

- Você vai tirar uma foto?
- É, quero tirar uma foto com o senhor.

Não é todo dia que a gente
tem artista no carro, né?

Eu tiro uma foto sua também.

O senhor já fez novela?

Não. Não fiz novela, não.

Deve conhecer
gente famosa que só, né?

Eu conheço umas pessoas famosas, sim.

Cinema é massa.

Esses dias, até descobri
que eu tenho um superpoder.

- Você tem o quê?
- Superpoder.

Você tem um superpoder?

- É.
- É?

Poder de ficar invisível.

Você fica invisível?

É, mas não é de sumir, assim...

De, tipo, teletransporte. De sair
e ir pra outro lugar, entendeu?

Mas, assim, fico invisível,
mas estando no mesmo local.

E aí, quando eu quero,
eu reapareço.

Entendeu?

E...

E você fica...

Você fica invisível
na hora que você quer

ou você, de repente, fica invisível
no meio de uma conversa?

Isso. Às vezes, eu sumo
sem querer também.

Mas...

eu tento programar
os momentos de ficar invisível

e de reaparecer, entendeu?

- Você tá aí, né?
- Tô aqui, tô aqui.

Tá alto o som? Quer que eu diminua?