All language subtitles for Historia De Un Clan E07

Historia de un Clan
� um programa de fic��o

inspirado numa hist�ria real
ocorrida na Argentina na d�cada de 80.

V�rios personagens, nomes
e situa��es foram modificados.

UMA S�RIE ORIGINAL NETFLIX

J� te apercebeste
do que acab�mos de fazer?

Sim.

Uma cova.

Est�s bem, Alex?

N�o.

O que te fiz eu?

Nada.

Lixaram-se por terem muito dinheiro
e todos saberem.

Porque enquanto tu tiveres muito
e outros n�o tiverem nada...

... vai haver viol�ncia.
- Sonhei que havia um traidor.

Vamos ter problemas com este bufo.
Lembra-te do que te digo.

O velho est� com o cora��o nas m�os.

Eu n�o gosto de problemas.

Arqu�medes, n�o quero chatices.
Porque n�o o matamos?

Posso fazer isso.

Quando posso ver-te?

N�o sei.

Para qu�? Est�s com a M�nica.

N�o sabia que tinhas
tanta confian�a com a Paula.

O qu�? Conhe�o-a tanto como tu.

O que pensas de n�s?

N�o sei.

H� algo que me queiras contar?

Estou apaixonada.

N�o me matem.

Sofreu?

Nem se apercebeu.

E achou que ia viver.

Se isso te deixa mais tranquilo,
fico contente.

Os mortos n�o sofrem.

Quem sofre somos n�s.

Olha como est� esta casa. Ouve.

Ouve o sil�ncio em que est�.

Toma, conta-as.

Para mim, s� h� isto?

S�o quatro mil.

E n�o me podes dar cinco, pelo menos?

Ouve...

Quatro � melhor do que cinco.

Como me fodeste o ju�zo, Bonomi!

Quando te conheci,

pensei que eras um tipo �s direitas,
com os tomates no s�tio.

Acabaste por me sair um chato.

Agradece,

porque n�o tinha de te dar nada.

Entregaste um tipo
que tinha menos dinheiro do que parecia.

Quanto te deram?

N�o confias na minha palavra?

Vou dizer-te uma coisa que n�o devia.
Metade desse dinheiro...

... fui eu que o pus.

N�o te preocupes.

N�o te vou abandonar.

Vou contar contigo para o pr�ximo.

Para o pr�ximo qu�?

O que havia de ser?

O pr�ximo churrasco.

Toma isto de oferta.

Ficou-me da charcutaria.
� um Malbec maravilhoso.

Bebe-o com a tua namorada.

Afoga-lhe as m�goas.

Anda, meu amor.

Anda, por favor.

Senta-te ao meu lado, anda.

Tens de ficar tranquila.
Vai correr tudo bem.

Era s� o que faltava na minha vida.

Mais um morto.

N�o sejas pessimista.

Eu � que devia ter morrido.

N�o o meu neto.

Mas como sabes que est� morto?

N�o sei.

Pressinto-o.

Deixa ver que eu fa�o.

Est� quieto.

Eu gosto que tu me dispas.

N�o o contr�rio.

- J� sabes o que vais dizer?
- N�o. N�o sei as perguntas.

N�o quero que digas
que sou a luz dos teus olhos,

mais importante que qualquer jogo,

ainda que fosse muito cavalheiresco.

Queres que diga isso?

Tenho ci�mes por sa�res nas revistas.
Todas te v�o querer.

- Todas me v�o querer?
- Bem, quase todas.

Agora �s tu a ciumenta?

- Sou sempre eu, e agora �s tu.
- Bem, deixa-me ser eu agora.

Se eu te pusesse diante de 100 tipos,

quantos achas que diriam
que n�o te comiam?

Depende.

- Se forem meio maricas, como tu...
- N�o!

Todos bem machos.

Gosto de ganhar a pensar:

educaram-me assim e treinaram-me assim.

� importante somar pontos
e ganhar campeonatos, mas...

Para mim, � mais importante o jogo.

Eu acredito que...

... as pessoas que t�m um dom
para um desporto ou para o que for,

t�m uma b�n��o.

Porque o que se sente
quando uma jogada funciona

e agarras a bola
e corres como se fosses um ladr�o,

seguido pela pol�cia aos tiros,
que corre pela sua vida e da sua fam�lia

� uma sensa��o
que n�o se pode comparar com nada.

Eu c� gosto de estar muito tranquilo,

em casa com eles,

ou com essa adrenalina.

N�o gosto de pessoas que ficam no meio.

Aborre�o-me.

Adriana?

E querem casar-se e ter filhos?

- Na verdade, sim.
- � o que mais queremos.

Em qualquer momento.

Lavaste os dentes?

Sim.

Est�s com mau h�lito.

O h�lito n�o se v� na foto, m�e.

E saber que �s ou sentires-te bom
gera-te uma miscel�nea de sentimentos?

Fa�o por n�o prestar aten��o a isso.

Mas, quando est�s no campo,
pensas nisso de outra maneira.

L�, paras um segundo,
olhas para os teus companheiros,

olhas para onde est�o os teus rivais
e tens de tomar

a �nica decis�o que fa�a
com que essa jogada termine em ensaio.

E � num segundo

que fazes isso tudo.

E depois dizes: como fiz isto?

N�o sei.

Boa, Alexei.

Alexei? � assim que te tratam?

N�o, este inventa-me nomes.

E de onde vem o amor por este desporto?

H� tradi��o de jogadores
de r�guebi nesta fam�lia?

N�o.

Para mim, os jogadores de r�guebi
s�o uns prostitutos,

uns fodilh�es disfar�ados,

que passam o dia a olhar
para os berimbaus no duche,

ainda que depois saiam
com as namoradinhas nas revistas.

E passam as forma��es ordenadas
e apalparem-se todos que nem loucos.

� ou n�o �, Alex?

Diz a verdade a este jornalista de merda.

H� algo pior do que ser jornalista?

Mas toda a verdade.

H� tradi��o de jogadores
de r�guebi nesta fam�lia?

O Alexandre foi o primeiro.

Juntamente com o irm�o, o Daniel.

Eu sou um zero � esquerda
para os desportos.

Mas o que � certo � que h� tradi��o
de trabalho de equipa na fam�lia.

E incuti-lhes isso desde pequeninos.

A entenderem que a fam�lia

� uma equipa.

E o r�guebi � uma fam�lia.

E dizem que a tua m�e e as tuas irm�s
s�o as tuas f�s n�mero um.

E o teu pai?

O meu pai �...

... a minha refer�ncia.

O meu... modelo a seguir.

Tudo o que tenho,
inclusivamente jogar no CASI...

Tudo o que sou, devo-lhe a ele.

Podes mostrar um pouco mais de educa��o?

E pores-te direito para sa�res...
bem nas fotos, sem corcunda?

N�o me chateiem ou na pr�xima foto
mostro o p�nis e fa�o uma surpresa.

D�s-nos � um desgosto.

Mas nem penses nisso, Daniel, sim?

Quem n�o gosta de uma surpresa?
At� sou bem dotado.

N�o sei se ser� da parte do teu pai,
porque da parte do meu...

Basta.

Sim?

Podes dizer ao rapaz do quiosque

para reservar todas as revistas
que receber, por favor?

Quero comprar 20.

Para qu� tantas?

Para reparti-las entre os nossos amigos.

Mas n�s n�o temos amigos.

"A INTIMIDADE DO NOVO CRAQUE"

UMA NAMORADA INCONDICIONAL

MEMBROS DA FAM�LIA PUCCIO

Que tal, Arqu�medes?

Desculpa o atraso.

N�o h� problema.

Vi o artigo do Alex.
Imagino o orgulho que sentes.

Muito obrigado.

No outro dia, foi � loja com a namorada.

Ela � linda. E ele vai chegar muito longe.

O r�guebi c� n�o � grande coisa.
� um desporto amador.

Por isso � que a tua proposta
me interessou.

Ele quer progredir economicamente
e � um craque.

Mas, se quer faturar, tem de ir para fora.

Desculpa trazer-te a este bar da treta.
Mas � o �nico que fica perto de mim.

Adorei o bar.

Vem a� o meu secret�rio.

Apresento-te o meu homem
de maior confian�a.

Ariel Salas.

Tudo bem?

O que queres?

Um caf�.

Por favor.

Dois caf�s para os senhores.

Antes de mais nada,
quero felicitar-te pela roupa.

Acho excelente a roupa que fazes.

� a marca que uso,
mas, evidentemente, n�o a trouxe hoje,

porque iria parecer um lambe-botas.

- Come�ou tudo numa sapataria de bairro.
- Eu sei.

- E agora � um imp�rio.
- N�o, n�o gosto de imp�rios.

Eu tamb�m n�o.

Gosto que seja tudo pessoal,
de fazer tudo.

N�o � a mesma coisa
usar um fato feito com amor

ou um feito por empregados.

Que est�o l� pelo ordenado.

Que n�o t�m a mesma paix�o.

Al�m disso, pago-lhes o melhor que posso,
mas n�o t�m o sonho na cabe�a.

Conta-lhos. Conta-lhes os teus sonhos.

O trabalhador est� destinado a fracassar.

E, de repente, encontra
um homem como tu, generoso.

Fracassar � sempre o mais prov�vel.
� o que est� mais � m�o.

Mas � melhor trabalhar mal para ti
do que trabalhar bem para outro.

Mas nem todos podem ser pilotos.
Alguns s�o passageiros.

� esse o grande segredo.

N�o fa�o ideia qual � o segredo.
� como diz o Alex a� no artigo.

O que faz algo bem
n�o sabe porque o faz.

Nasceu diferente e ponto final.

Ent�o, vamos ao que interessa.

Eu e a Juliana, a minha mulher,
queremos que a cara da linha masculina

de roupa, sapatos e perfumes
seja um desportista.

Mas conheces os desportistas
mais famosos da Argentina.

Porqu� o meu filho?

Gost�mos do perfil dele, da vis�o
da vida e do desporto, da fam�lia.

Da namorada.

Se continuares a falar assim,
o modelo vai sair-te caro.

Al�m disso, ach�mos que nos sairia barato.

Nem sabes como te vai sair caro.

N�o, ent�o?

Caso a resposta seja sim,
os detalhes s�o com a Juliana.

- Eu s� trato da financeira.
- Tens uma financeira?

H� um prov�rbio turco que diz
que um lago se constr�i gota a gota.

Mas tem de chover.

Por favor. N�o, nem penses nisso.

Nem penses nisso, por favor.

Encantado.

O que � que acham?

Parece um bom tipo.

Como tu gostas, um tipo feliz.

� um perigo ser-se feliz, hoje em dia.

O que queres mais, idiota?

- Tens vontade de discutir, Danielzinho?
- Contigo, tenho sempre.

N�o entendo porque est�s aqui.

Como explicas a algu�m
que n�o percebe nada que n�o percebe nada?

Trata dele.

Espera por mim no carro.

Est� exposto.

Sem armas, sem guardas.

Sem carro blindado. N�o � desconfiado.

Tem acesso imediato a dinheiro vivo.

Com boa vontade da outra parte,
numa semana arrumamos o assunto.

Olha, Daniel...

Eu n�o tenho nada pessoal contra ti.

Eu tenho.

N�o entendo
porque te pegaste comigo no bar. Porqu�?

- J� te expliquei.
- Porqu�?

Tamb�m te expliquei
porque n�o ias perceber o que expliquei.

E nem isso tu percebeste.

Portanto, n�o falemos mais nisso, sim?

Eu sou amigo do teu pai.

O meu pai n�o tem amigos.

Tem fam�lia e c�mplices.

E eu tamb�m n�o quero ter amigos.

- Portanto, acaba l� com a conversa, sim?
- Est� bem.

Eu acabo com a conversa.

Comigo passa-se o mesmo que contigo.

Nem mais nem menos. Eu...

N�o me meti nisto s� pelo dinheiro.

Eu gosto disto.

Parece-me que � um trabalho digno.

Bem, n�o sei se � digno, mas...

Mas, da pr�xima vez,

dev�amos assegurar-nos
de que h� mais dinheiro.

A financeira tem dinheiro.
Isso � um facto.

H� que negociar com a mulher.

H� sempre uma cona no meio de tudo.

� incr�vel.

O que fazem os homens mais velhos?
Falam de neg�cios?

- Ol�, meu amor.
- Ol�, pai.

Este � o Tom�s.

Tratam-no por Tom.

Que tal vai isso, Tom & Jerry?

Ol�.

Ol�.

Adriana.

Ol�, Tom.

No que trabalhas?

E tu?

No que trabalhas?

Vamos, Tom.

Respond�o, o Tomson.

Porque perguntaste no que trabalha?

Que caralho te importa no que trabalha
o amiguinho da minha filha?

Diz-me...

Est�s a insinuar que o Tom & Jerry

quer pinocar com a minha filha?

Olha...

Se n�o for este,
um dia algu�m h� de o querer fazer.

� tudo muito bonito,
mas a festa � uma seca.

Sabes o melhor desta gente?

O que o pobre mais lhes inveja
n�o � o dinheiro.

Sim, j� sei. � pinarem bem.

Pinam muito bem.

Est�o todos muito bem papados,
estes chulos.

Estes sorrisinhos
n�o se conseguem s� com dinheiro.

N�o.

Mas, se o tiveres, � tudo mais f�cil.

Com cus destes, tudo � mais f�cil.

� uma pena n�o podermos levar
uma destas para o s�t�o.

� mais f�cil negociar com os homens
do que com as mulheres.

Mas como fazes para n�o te apaixonares?

Um homem pode resistir a muitas coisas.

Menos aos encantos de uma tot�.

- Est� tudo bem?
- Sim.

Esta casa � um sonho, Juliana.

- O jardim � incr�vel.
- Sim.

Para encher de pequenitos.

Bem, dois j� � mais do que suficiente.

A Paz nasceu e j� n�o posso sair de casa.
Fa�o tudo pelo telefone.

Tive de deixar de ir trabalhar.

Come�aste a trabalhar, queres tu dizer.

Bem, sim, podemos dizer isso.
Estou com as mi�das o dia todo.

Ando com uma colo
e a mudar a fralda � outra. N�o paro.

Eu quero isso.

Nem que depois me arrependa.

N�o te vais arrepender.
Como podias arrepender-te de ter filhos?

- Certo, Epifan�a?
- N�o, mas criar filhos d� trabalho.

Tens de te dedicar s� a ser m�e.

N�o podes fazer outra coisa,
sen�o n�o to perdoam.

- E as filhas s�o mais dif�ceis.
- Sim?

- Os rapazes s�o mais obedientes.
- Eu gostava de me dedicar a isso.

Acho muito divertido.

� divertido.
Eu e o Emir divertimo-nos muito.

Tenho a certeza
que a casa influencia muito. � perfeita.

Bem, nada � perfeito, digamos.

Mas esta casa...

... � perfeita.

E n�o tens medo de ficar sozinha � noite?

Com este jardim t�o grande?

N�o.

Na verdade, n�o.

A Juliana � que se ocupa de quase tudo.
N�o � s� da casa.

Eu trabalho o dia todo
e n�o fa�o metade do que ela faz.

A mulher � o lar.

Imaginem o que seria
eu viver aqui sozinho.

N�o sejas banana, Emir.

J� sabemos que deves tudo � Juliana.

V�nhamos a falar disso.
O dinheiro n�o � o mais importante.

N�o s� n�o � o mais importante
como te mete em muitos problemas.

Ter demasiado dinheiro � um problema.

Um milh�o de d�lares est� bem.
Dois � muito.

E tr�s � pouco.

Essa � boa. Gostei.

Se tiveres tr�s, queres quatro
e assim sucessivamente.

Nunca mais acaba.

O ser humano � um animal doente.

Por isso � que, de vez em quando,
temos de nos distanciar

para vermos em que p� estamos.

Sobretudo no que toca ao dinheiro.

Por isso � que eu gosto
de viver nesta casa.

Faz-me esquecer um pouco
a loucura do trabalho.

Uma pessoa torna-se um pouco insaci�vel.

� ou n�o �, Alex?

A ti deve acontecer-te o mesmo,
quando jogas.

Sim, � verdade.
Ainda mais, se gostas do que fazes.

A minha vida n�o foi f�cil.

Creio que nisso somos muito parecidos.

E no facto de gostarmos os dois de leite.

N�o � o amor que nos une.

� o espanto, meu coronel.

O espanto e o leite.

Creio que a sua vida
foi muito mais dif�cil do que a minha.

Agora, eu, como puta,
se ficar manca, estou acabada.

Acabada vais ficar n�o tarda nada.

Ai sim?

- � o progn�stico para hoje?
- Sim.

Leite e ternura.

Isto � uma prova de amor.

Que feio que �, coronel.

Nunca vi nada t�o feio.

O que � que te deu, prostituto?

A vida fez justi�a consigo.

Ao dar-lhe esse corpo imundo.

E tu achas o qu�?
Que �s a Sofia Loren, larilas de merda?

Olha que n�o estamos de lua de mel, sim?

Podes ir � merda e desandar da minha casa.

Ou queres que te d� cabo do olho do cu?

Pira-te!

V�, caralho!

Tem um p�nis muito grande
e um cora��o muito pequeno, coronel.

Mas v�-se no olhar que ningu�m o quer.

Nem a sua mulher
nem os seus filhos nem os seus amigos.

Nota-se que � um homem sozinho.

E que vai morrer sozinho.

Nunca vai conhecer o amor.

Mata-me.

Nem louca.

Logo agora � que me vais falhar?

Bebeste tanto leite e olha como ficaste.

Larga isso.

O u�sque � mais saud�vel.

Olha o que te aconteceu
por ficares nervoso.

Ou estiveste a papar alguma parvinha?

Olha, coronel, que em certa idade
n�o se ama nem se papa.

S� se recorda.

A coisa est� a correr bem.

A presa j� est� em ponto de rebu�ado.

S� faltam umas coisinhas e dar o golpe.

Mas temos de nos despachar.
O tipo vai de viagem com a fam�lia.

Na tua parte n�o se mexe.

� para ti.

Somos s�cios nisto, at� na desgra�a.

Bem...

Que cheiro a mofo, n�o?

O pai pediu para procurares o qu�?

Roupa lavada...

Roupa interior. V� se h� a�.

N�o creio que encontre. Que nojo!

Pobre homem.

N�o tem ningu�m.

Se acontece alguma coisa,
s� nos tem a n�s.

Por isso � que � t�o importante
ter uma fam�lia, menina.

N�o me imagino
a p�r uma arrastadeira ao pai.

O qu�?

Quem achas que vai morrer primeiro?

Ele ou tu?

Porque pensas nessas coisas?

Estou sempre a pensar nisso.

Prefiro que seja ele.

- Ou algum de n�s.
- Cala-te, por favor.

Gabarola N. 3

Muito bem.

E agora vais ao colo de quem?

Um dia, Estelita Puccio
conheceu o negrinho Papuza.

Estelita Puccio?

�s tu?

Sim.

Estelita Puccio, a pr�pria.

Estelita!

H� tanto tempo que andava � tua procura.

Ol�, negrinho.

Ouvi falar tanto de ti.

- Sim?
- Estelita, abre as m�os.

Ai, negrinho!

Est�s a p�r-me nervosa.

A s�rio, Estelita.

Tenho uma coisa
muito importante para te dizer.

Diz.

Diz, estou a ouvir.

Tenho o cora��o dispon�vel para ti.

Todinho.

A s�rio?

N�o pensei que me fosses dizer isso.

Estelita, aproxima-te.

O que �, negrinho?

Estelita...

Posso dar-te um beijo?

Est�s chateado, Tom?

Gosto de ti.

Tomson, n�o �?

- Tom�s.
- Tom�s.

Nunca sei se o Tom...

Era o gato ou o rato?

- O gato.
- O gato.

Mas tu tens cara de rato.

Bem, n�o importa.

H� tantos ratos nesta cidade que,
mais um, menos um, ningu�m vai dar conta.

O meu pai vai reparar.

Mas eu ponho p�nis na boca do teu pai.

E cago em cima da tua m�e.

O que � que queres?

Que n�o te aproximes da Adriana.

Mudas de bairro, de col�gio, desapareces,
atas a ponta como um bal�o,

mas n�o te aproximes da Adriana,

pois vou estar a vigiar-te
e, se o fizeres, engravido-te.

Penetro-te, engravido-te
e obrigo-te a abortar.

Est� bem. Juro que n�o.

� uma brincadeira.

� uma brincadeira, Tom�s. Estava a gozar.

N�o ficaste chateado, pois n�o?

Vou dizer � Elsinha que v� limpar
um pouco aquele lugar onde vive.

Falta l� uma mulher, n�o �?

Vi uma foto sua vestido de militar.

Voc� deve ter sido terr�vel.

Com as mulheres, quero eu dizer.

Sempre pedi para n�o envelhecer sozinha.

Causa-me p�nico.

Por isso � que quis ter tantos filhos
e quero ter muitos netos.

Dizem que os corpos j� n�o s�o corpos
quando uma pessoa fica velha.

Conhece a fam�lia Seguel?

O empres�rio Emir Seguel? Conhece-o?

A quem est�s a fazer a cama?

N�o podes estar aqui.

- � a minha casa, menino.
- O teu pai n�o quer aqui ningu�m.

Ent�o, porque est�s aqui?

Para que s�o essas correntes?

O meu pai manda-te espantar
os meus namoradinhos, �?

Ou fazes isso porque �s violento
e est�s cheio de ci�mes?

- Ai era teu namorado?
- Responde � pergunta.

O teu pai n�o me manda fazer nada.

Ou seja, fizeste isso por ci�mes.

Eu n�o fiz nada.

N�o acredito em ti.

Assustaste o Tom & Jerry
para que n�o viesse ver-me mais.

Jamais faria isso.

Isto � muito dif�cil para mim.

Pensei que tinhas percebido.

O tempo passa
e continuas a fazer tudo mal.

Tu e eu n�o podemos ser nada.

�s muito novo para mim.

Tens uma alma velha, obscura e retorcida.

Tens o pior de uma crian�a
e o pior de um velho.

E, ainda por cima, �s lento.

O pai do Tom & Jerry � um militar
que vai encher-te de tiros, tot�.

� o chefe de Acassusso.

Cuidado com isso.

D� c� isso.

- Est� carregada.
- N�o estou cagada.

A arma est� carregada.

N�o tenho medo de ti.

Porque tiveste de esfregar-me
o teu namoradinho na cara?

Magoou-te?

Muito.

E agora? Tens medo?

Tens medo?

Tens medo?

Pensei que agora
pod�amos estar descansadas.

Ter intimidade.

N�o estamos sozinhas.

E tu? Quem �s?

N�o sabes, n�o?

Ningu�m sabe quem �.

Minha lindeza.

Ningu�m nunca te abra�ou?

A vida � maravilhosa.

Mas a morte tamb�m.

N�o vais sentir falta de nada.

Pelo contr�rio.

� l� que est� tudo.

Vou aproveitar
para ir � capela do hospital.

O qu�? Tens de ir j�?

Tenho atividades na par�quia.

Podemos ficar juntas at� � noite,
sem ningu�m nos incomodar.

Est� a olhar para n�s.

Isto � um segredo, coronel.

Como os que voc� tem com o meu pai.

Est�s bem?

Est�s bem?

Tive um pesadelo.

O que � que sonhaste?

Que entrava algu�m pelo jardim.

Vai ver.

N�o, n�o � nada, amor. � um sonho.

- V�, deita-te.
- Vai ver na mesma.

O que se passa?

- Ai, para!
- Est�s bem?

Para!

- Est�s bem?
- O que se passa?

Est�s bem, Arqu�medes?

Agora, vamos sequestrar-te, filho da puta.

- Agarra-o, cona da m�e!
- Filho da puta!

- Filho da puta!
- Para!

Filho da puta!

O que � que fizeste, cona da m�e?

N�o tenho fome.

Tens de comer alguma coisa, filha.

Comeste o teu irm�o
e n�o vais comer esta del�cia?

M�e.

Porque tens de falar nisso
se sabes que a incomoda?

H� que encarar as coisas.
Basta de hipocrisias na fam�lia.

Como? Perd�o?

Nunca me chegaste a explicar bem.

Tu n�o comeste o teu irm�o, meu amor.

Quando ainda n�o estavam formados,
tu... absorveste-o.

Ainda n�o era uma pessoa.
� normal. Acontece em muitas gravidezes.

Como ia chamar-se?

Carlos.

Carlos Puccio?

N�o tinha nome.

N�o sabia que ia ter g�meos.

J� viste, Moni, a cicatriz
que ficou por onde comi o meu irm�o?

N�o, deixa ver.

Que sensual, Adri.

Lamentamos informar
o repentino e violento falecimento

do empres�rio de sucesso Emir Seguel,
dono de um neg�cio de cal�ado e vestu�rio.

Este homem de bem foi assassinado
violentamente e a sangue-frio,

em plena luz do dia,
quando ia para o trabalho, como habitual.

Os investigadores
acreditam na hip�tese de roubo,

porque Seguel,
al�m de ser um pai e marido exemplar,

n�o tinha problemas com ningu�m
e era muito respeitado.

- N�o acredito.
- Parece ter sido abordado...

Coitada da mulher e das filhas.

... e, ao resistir ao roubo ou sequestro,
levou um tiro no peito.

- O ferimento foi mortal...
- Est�pidos de merda!

Para! Quero ouvir.

Adriana, se n�o comes,
desliga a TV e vai para o quarto.

Mas, pai, mataram o Seguel.

Estamos a comer.

Seguel deixa
duas filhas pequenas sem pai,

uma mulher destro�ada

e uma fam�lia inteira
reclamando desesperadamente...

Agora, est� com melhor cor, coronel.

Voc� ouve o que lhe digo, n�o?

Percebe o que lhe digo?

Estamos todos de luto, sabe?

Ainda estou impressionada.

Assassinaram um conhecido nosso.

Inesperadamente.

Estivemos em casa dele h� uns dias.

Com a mulher.

Com as filhas.

E, assim do nada...

... mataram-no.

Voc� conhece-o.

Voc� entende o que eu digo, certo?

Agora � que eu me apercebi.

Um homem jovem.

Com a vida inteira pela frente.

Mataram-no por resistir a um roubo.

Temos de agradecer todos os dias
por estarmos vivos.

Ningu�m � imune a nada.

S�o coisas que acontecem, n�o �?

H� que continuar.

Deus sabe o que faz.

Agora � que eu me apercebi.

Gabarola N. 3

PR�XIMO CAP�TULO

O p�o nosso de cada dia nos dai hoje.

Perdoai-nos as nossas ofensas,

assim como n�s perdoamos
a quem nos tem ofendido

e n�o nos deixeis cair em tenta��o,
mas livrai-nos do mal.

�men.

Sabes quem � a dona da funer�ria?

N�o.

A Ang�lica Bolena, uma alta, songamonga.

Como sabes?

Disse-me o coronel.

Antes de morrer, disse: "Fa�am l�
o funeral. Podem recolher informa��es."

O velho foi generoso.

Deixou-nos este neg�cio
sabendo que n�o podia participar.

N�o contes comigo.

N�o estou a consultar-te.

Vais deixar o sustento
para mim e para o pai?

Quando � que come�aste
a gostar tanto do mal?

Na mesma altura que tu.

Metes um ped�filo em tua casa.

Deixa-lo sozinho com as tuas filhas.

E o traidor sou eu?

Agrade�o-te a preocupa��o.

J� sab�amos.

Fizeste o pior que podias fazer.
Meteste-te com a minha filha.

A Silvia p�s-se a falar
com um homem no rio.

Ofereceu-lhe o corpo.

Que homem?

Um desconhecido.

A gente que desprezas
e a quem chamas perigosa n�o � violenta.

Os que matam andam
de banho tomado e bem vestidos.

Nesta fam�lia, n�o vamos criar um beb�

fruto de um arrebatamento m�stico,
de uma loucura.

Desculpe, senhora.

Tem troco de mil?

- Como?
- Se tem troco de mil.

Isto vai acabar mal.

Claro que vai.

� isso que queremos ou n�o?

Porque est�o a fazer isto?

N�o sei.

Porque n�o podemos parar.