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Durante muito tempo,
n�o conseguia esquecer aquela cena.

As cenas das v�timas...

... desmembradas, o sofrimento
por que tinham passado.

Foi incrivelmente dif�cil.
Ainda � dif�cil.

Foi o primeiro assassino em s�rie
que entrevistei pessoalmente.

Estava muito motivado.

Ele orgulhava-se de sentir

que controlava o analista de perfis.

Era uma guerra psicol�gica.

Pode dizer-se que sim.

Assim que o conheci,

era �bvio que se orgulhava da forma
como a imprensa falava dele.

Dava para ver pelas express�es faciais
e pelo tom de voz.

Perguntei-lhe porque marcou o local
onde as v�timas foram enterradas

e ele disse que n�o queria cavar
o mesmo s�tio duas vezes...

... por ter de enterrar
as futuras v�timas.

Ele p�s marcadores que s� ele reconhecia.

Nunca mais ouvi palavras
t�o cru�is na minha vida.

Foi ent�o que percebi

que, para entender os criminosos,

temos de entrar na cabe�a deles.

A experi�ncia foi t�o devastadora

que acreditei que nunca mais
voltaria a ser a mesma pessoa.

UMA S�RIE DOCUMENTAL NETFLIX

UM HOMEM RELIGIOSO

Eu j� fui um homem
profundamente religioso.

Nem sei como consegui entrar...

... num caminho t�o sinuoso.

O corpo de um vendedor de Hwanghak-dong
foi encontrado queimado na sua carrinha.

O corpo estava queimado.

O corpo dele ficou esturricado.
Foi assim que morreu.

Fiquei muito chateado com aquilo,
entre muitas outras coisas.

A pol�cia suspeitou dos irm�os.

Pode soar estranho eu dizer isto,

mas o n�vel da pol�cia
neste pa�s era muito mau.

Esse foi o caso
que motivou a pol�cia a melhorar.

A pol�cia n�o conseguiu
identificar a v�tima

por estar tudo queimado.

N�o havia nada
que pudesse ser identificado.

Queriam encontrar impress�es,
mas n�o conseguiram

porque tinha ardido tudo.

Eu agarrei-me ao pulso e rezei.

"Ajuda-me, por favor.

Espera s� mais um pouco.

Vamos apanh�-lo em breve."

S� de pensar, ainda me parte o cora��o.

Quando fiz 30 anos,

s� me restava �dio e a raiva.

V�rios casos ficaram por resolver,

causando ainda mais ansiedade no p�blico.

Agora era uma disputa
entre a equipa forense e os criminosos.

Estes casos revoltaram o pa�s inteiro.

Todos os casos de que estou a falar,

ainda os vejo em panorama
diante dos meus olhos.

Acredito que posso ter

algumas gotas de sangue louco
a correr-me pelo corpo.

Vou falar-vos da s�rie de homic�dios

que tinham indiv�duos ricos
de Seul como alvo.

A minha rotina di�ria

consiste em encontrar-me
e entrevistar criminosos

que est�o presos ou detidos.

Eu produzia relat�rios anal�ticos

com base nas minhas entrevistas.

Quando se deu o primeiro caso,

era o que estava a fazer
no meu escrit�rio.

Parei o que estava a fazer

e dirigi-me ao local do crime
quando ligaram para a Central.

N�o pensei que aquele dia
fosse ser especial,

visto haver muitos homic�dios em Seul.

9 DE OUTUBRO DE 2003, 14H00

POL�CIA

Recebemos um pedido de despacho.

"Houve um homic�dio.
Precisamos de voc�s no local."

Fomos a correr para o local
quando recebemos a chamada.

Antes de mim,

a equipa de investiga��o
era composta s� por homens.

Na altura, fui a primeira mulher
a ser enviada para o local.

Recebi uma chamada sobre um homic�dio.

Normalmente, fico dentro
da nossa �rea de jurisdi��o.

Na altura, era uma das zonas
mais ricas da Coreia.

SEUL

GUGI-DONG

O marido da v�tima reportou o crime
depois de voltar do trabalho,

logo, o corpo foi encontrado � noite.

PASSADA PROIBIDA
SOB INVESTIGA��O

Eu fui a todos os homic�dios em Seul.

Tive um pressentimento

sobre aquela cena em particular.

Tinha um ar sinistro...

Dava arrepios na espinha.

Foi o que me fez sentir.

Ainda hoje n�o consigo
esquecer esse sentimento.

N�o fui s� eu.

Os investigadores seniores
que estavam no local tamb�m o sentiram.

Se estivessem l�, saberiam,

mas a atmosfera era dif�cil de descrever.

Ao entrarmos,
vemos a entrada da casa de banho.

Onde a av� estava ca�da no ch�o.

Ao avan�ar, havia uma cozinha

e havia um aqu�rio em frente � cozinha.

Mais � frente, a nora estava ca�da,

no ch�o, � frente do lava-loi�as.

O cr�nio dela estava t�o esmagado

que nem percebia
o que � que o agressor tinha usado.

Tivemos de ir ao segundo andar,
mas fomos dominados pelo medo...

... quando vimos escadas
cobertas de sangue.

Ach�mos que o agressor
ainda podia estar escondido l� em cima.

Fez-nos sentir como se o agressor

estivesse l� em cima,
escondido, com a arma na m�o.

Deu-me muito medo
e provocou-me um arrepio na espinha.

Ao subir as escadas e ao virar da esquina,

encontr�mos o corpo do filho,
que parecia ter sido atacado ao descer.

Atingiram-no tantas vezes na cabe�a
que havia c�rebro por todo o lado.

A cabe�a dele rebentou e o c�rebro
estava espalhado por todo o lado.

Foi extremamente macabro.

Quando �amos ao local do crime,
p�nhamos blocos para pisar

e para nos aproximarmos
das �reas principais,

para n�o contaminar o local.

Mas havia tanto sangue

que n�o encontr�vamos espa�o
para p�r os blocos.

Como os p�s do agressor
tinham de tocar no ch�o

para se deslocar,

por mais que tentasse remov�-las,
haveria provas, sem d�vida.

Acab�mos

por recolher duas pegadas t�nues.

Primeiro, vimos se eram dos sapatos
usados por algu�m da fam�lia.

Se n�o fossem, pertenceriam ao agressor.

N�o identificar�amos o agressor,
mas ajudaria na investiga��o.

O que n�o fazia sentido

era n�o haver sinais
de as v�timas terem retaliado.

Parecia muito unilateral.

Por isso, questionava-me

como � que uma coisa destas
teria acontecido em plena luz do dia.

Como � �bvio, n�o t�nhamos escolha

sen�o investigar o marido
e as pessoas � sua volta.

O Ko Jung-won era um empres�rio
relativamente bem-sucedido.

JORNALISTA E AFILHADO DE KO JUNG-WON

Eu e o Sr. Ko Jung-won
desenvolvemos uma rela��o especial.

Conhe�o-o h� mais de dez anos.
H� quase 14 anos.

E, no in�cio, conhecemo-nos
como realizador de document�rios

e como personagem principal.

Mas, mais tarde, tornei-me afilhado dele.

Como jornalista, tenho de deixar
um registo das pessoas que filmo.

Ele � muito trabalhador e humilde.

Ele sabe ser atencioso.

� uma pessoa muito gentil.

Por isso � que foi um choque
para muitos que o conheciam.

De repente,
perdeu a m�e, a esposa e o filho.

Mas no caso de um homic�dio t�o cruel,

de quem � que pol�cia
desconfiaria primeiro?

O Sr. Ko, que era marido, pai e filho,

foi o primeiro a ser suspeito.

Nem todos acreditavam
que ele era inocente,

sobretudo a pol�cia.

Investig�mos toda a gente
que tivesse algo que ver com ele.

O que fez o Ko Jung-won naquele dia

e algu�m guardava rancor contra ele?

Teria rela��es extraconjugais

ou outros problemas
que pudessem levar � sua fal�ncia?

Ele s� perguntava: "Porque me fazem isto
quando a minha fam�lia est� morta?"

Mas fazia parte
do processo de investiga��o.

Ele pediu perd�o
� esposa, � m�e e ao filho.

Lamentava n�o os ter conseguido proteger.

Disse-o repetidamente enquanto chorava.

Ele fazia perguntas aos peixes
como se tivesse enlouquecido.

"N�o viste quem foi?

Quem foi? Porque o fizeram?

Como � que morreram?"

E...

... para mim, foi de partir o cora��o.

Ele estava profundamente desolado
pela perda da fam�lia,

por isso, foi dif�cil
identific�-lo como assassino.

N�o encontr�mos ningu�m
que guardasse rancor contra ele.

N�o era pessoa
de ficar ressentido com os outros.

Enquanto questionava
porque acontecera tal homic�dio,

reparei em algumas pessoas estranhas
que entravam e sa�am do bairro.

Ent�o, perguntei aos detetives:

"Quem s�o aquelas pessoas?
N�o s�o suspeitos?"

Disse-lhes para investigarem

e, afinal, eram detetives
da Pol�cia de Gangnam.

GUGI-DONG, SEUL

Perguntei porque estavam c�
os detetives de Gangnam

e disseram-me que tinha havido

um caso parecido em Sinsa-dong,
por isso � que estavam ali.

Na altura, n�o sab�amos
do caso de Sinsa-dong.

Quando eu era chefe da Pol�cia de Gangnam,

era o respons�vel pelo maior
distrito econ�mico da Coreia do Sul.

Isso deu-me um sentimento
de orgulho e motiva��o

para dar o meu melhor.

CHEFE DA POL�CIA DE GANGNAM

Tinha apanhado
muitos suspeitos de homic�dio.

Isso permitiu a promo��o do meu pessoal.

Det�nhamo-los com facilidade.

POL�CIA DE GANGNAM

N�s t�nhamos uma grande equipa
de investiga��o com 200 pessoas.

Na �poca, t�nhamos de considerar
que todos os casos tinham liga��o.

O caso de Gugi-dong foi quase id�ntico
ao caso de Sinsa-dong.

9 DE OUTUBRO DE 2003, 14H00

24 DE SETEMBRO DE 2003, 01H00
2 SEMANAS ANTES

SEUL, GUGI-DONG

SINSA-DONG

Mudou completamente.

Mudou tudo.

Na altura, era uma casa velha
feita de tijolos vermelhos.

Havia um muro aqui.

Havia um port�o de ferro.

Um casal de idosos foi morto aqui.

O marido era
um professor universit�rio reformado.

Eles eram muito ricos. Eram abastados.

Foram atacados com uma arma afiada

e esburacaram-lhes os cr�nios.

Mas este caso foi bastante invulgar

porque havia um ba�
de tr�s gavetas no arm�rio.

O dinheiro que estava na gaveta
estava intacto.

Se tivesse sido um assalto,
teriam levado com os objetos de valor.

Levou-me a crer
que n�o era um caso de assalto,

mas o ato de algu�m
que conhecia as v�timas.

Isto � um caso t�pico na criminologia.

Num caso destes,
apanhamos o assassino numa semana

se investigarmos
as pessoas pr�ximas das v�timas.

Quando soubemos do caso Gugi-dong,

suspeitei que o agressor
era conhecido das v�timas,

algu�m que as conhecia.

Mas como chefe da Pol�cia de Gangnam,

n�o podia fazer muito,
por ter ocorrido fora da minha jurisdi��o.

Como tamb�m t�nhamos um caso por resolver,

a resposta deles teria sido:

"V�o resolver o vosso caso."

Fui ao local do crime, em Sinsa-dong.

N�o podia entrar,
ent�o, dei uma olhadela de fora.

Algo n�o batia certo.

Normalmente, cada esquadra

ficaria a cargo do caso
que ocorreu no seu distrito.

E o que era �nico para n�s

era o sistema de promo��es
da pol�cia na Coreia.

Se houvesse muitos crimes
e deten��es insuficientes,

receber�amos uma m� avalia��o.

N�o � que fossem manter
o caso por resolver,

mas mantiveram o caso em segredo

at� terem a certeza
de que podiam fazer a deten��o.

Eles s� falariam sobre um caso

depois de terem detido o agressor,

para o caso se refletir melhor
na avalia��o.

Por isso, grande parte das vezes,
nem sab�amos dos casos

que ocorriam fora da nossa jurisdi��o.

Estavam cerca de 200 pessoas no caso.

Nessa altura, concentr�mo-nos
apenas em casos de homic�dio.

Pequenos crimes, como agress�o,
eram postos de lado

e s� est�vamos focados em resolver
crimes mais violentos e homic�dios.

Os nossos detetives interrogavam
as pessoas individualmente.

Perguntavam �s pessoas
se tinham visto algu�m suspeito na �rea.

Era o m�todo
de investiga��o mais primitivo.

Uma completa anedota
para os padr�es de hoje.

Apesar do esfor�o cont�nuo,
o caso continuou por resolver

e come��mos a pensar que t�nhamos
de abordar este caso de outra forma.

Espero que estejam curiosos

sobre o motivo do aparecimento
dos perfis criminais.

Eu fui o primeiro,
na pol�cia coreana, a apresentar

uma t�cnica de investiga��o
chamada caracteriza��o.

Sou o primeiro analista de perfis
da Coreia.

Na Coreia, sou o �nico qualificado
para ser mestre de caracteriza��o.

Os analistas de perfis v�o
ao local do crime com o CSI

e, enquanto a eles recolhem provas,

os analistas fazem
an�lises comportamentais

dos eventos
que aconteceram no local do crime.

At� aos anos 80,
os crimes na Coreia do Sul

n�o requeriam agentes forenses
ou analistas criminais.

Nessa altura,
todos os crimes tinham um motivo claro.

Mas a partir de meados dos anos 90,

come�aram a surgir crimes

em que os agressores descarregavam
as frustra��es em indiv�duos aleat�rios.

A sociedade coreana sofreu uma grande
mudan�a num curto espa�o de tempo.

Nos �ltimos 100 anos,
antes da moderniza��o,

a Coreia estava
sob a regra colonial b�rbara do Jap�o.

No final da Segunda Guerra Mundial,
a pen�nsula da Coreia estava dividida.

Durante muito tempo,
vivemos juntos em harmonia,

mas depois, houve uma guerra
em que nos mat�mos uns aos outros.

A economia tamb�m foi devastada.

De 1963 a 1980,

a Coreia do Sul
cresceu imenso economicamente,

conhecido como o Milagre no Rio Han.

Houve uma altura em que todos pensavam

que era um dos pa�ses mais desenvolvidos.

Mas esse pensamento foi destru�do
no in�cio da d�cada de 2000

e a sociedade caiu num abismo profundo.

A moeda coreana perdeu valor

e o c�mbio internacional descambou.

O governo acabou por tomar a decis�o

para pedir fundos de emerg�ncia ao FMI.

Espera-se que o governo

se candidate a receber
cerca de 30 mil milh�es de d�lares.

Ap�s a d�vida ter sido paga e superada,

quem sobreviveu � situa��o
estava apenas a colher

o fruto do sucesso,

enquanto quem ficou para tr�s
n�o sabia como seguir em frente.

Est�vamos numa situa��o
em que n�o havia rede de seguran�a.

Quem ficou para tr�s
n�o tinha para onde ir.

O FMI � DESEMPREGO

Muitas pessoas ficaram sem casa,
perderam o emprego

e foram parar �s ruas.

Separaram-se fam�lias
e aconteceram coisas horr�veis.

Depois disso,

os ricos ficaram mais ricos

e os pobres ficaram mais pobres.

Esta sensa��o de priva��o
n�o era o problema,

mas sim a forma como essa priva��o
se transformou em aliena��o.

Uma sensa��o de que algo est� errado

e que estamos privados de certas coisas

acaba por levar
a um sentimento de aliena��o que se sente

quando somos privados de participar
como membros da sociedade.

Isso faz com que as pessoas
n�o se sintam culpadas

quando atacam outros
devido � frustra��o que sentem.

Foi uma era de grandes contrastes.

POL�CIA

SERVI�OS DE RESGATE DE SEUL

Lembro-me disso como a �poca
em que a agress�o aumentou.

Casos que envolviam o rapto
de crian�as e mulheres

ocorriam com frequ�ncia.

Os casos de rapto pediam resgates altos.

Eu lidava com g�ngsters,
logo, o perigo andava sempre � espreita.

Eu acolchoava o peito, por baixo da roupa,

para a eventualidade
de ser atacado com uma faca.

Os crimes que ocorriam
em grandes pa�ses capitalistas,

como os EUA, o Jap�o ou a Europa,

estavam a ocorrer tamb�m na Coreia.

Estou chateado
por n�o ter matado quem merecia.

Deviam morrer mais pessoas.

Muitos psic�logos criminais
chamam-lhe "crime indiscriminado".

Isto inclui homic�dios em s�rie.

Tamb�m se chama crime sem motivo.

A sociedade era assim,

mas nenhum cidad�o se apercebia na altura.

Mas a pol�cia estava ciente disso.

Por fora, estava em sil�ncio...

SIL�NCIO

... mas, por dentro, estava revoltado.

TROV�O

Fi-lo para matar a sociedade.

Mesmo historicamente,
quando a sociedade estava em tumulto,

havia revoltas em que as pessoas
tomavam medidas pelas suas pr�prias m�os.

REVOLTAS

Quando finalmente percebi

que o dinheiro
era a �nica coisa importante,

at� eu pensei em aplicar a puni��o.

A equipa de investiga��o
n�o via progresso.

Quando ocorreu o segundo incidente,

suspeitava que os dois casos
estavam ligados.

SEUL

No entanto, n�o havia provas conclusivas.

Era dif�cil ter a certeza
de que os dois casos tinham sido cometidos

por um �nico agressor.

1.� CASO, SINSA-DONG
2.� CASO, GUGI-DONG

A tarefa em m�os � como resolver
um puzzle, pe�a a pe�a.

Tentar apanhar um assassino em s�rie
como analista de perfis

n�o � t�o empolgante
e cheio de reviravoltas como imaginam.

Saber que haver� mais mortes

e a culpa
de n�o conseguir evitar essa morte

fazem parte da experi�ncia.

Eu fui o �nico analista
a ser mandado ao local.

Ao analisar o segundo caso,
o meu primeiro pensamento foi...

Nunca tinha visto aquele tipo de arma.

Estava focado
em encontrar a arma do crime.

T�nhamos sempre muitas suspeitas
sobre a arma do crime.

Obt�nhamos v�rias ferramentas
e pendur�vamo-las na parede

para adivinhar qual seria a arma do crime.

Junt�vamo-nos e fal�vamos sobre isso.

N�o encontr�mos a arma do crime
entre as ferramentas dispon�veis.

Mesmo algo como um martelo

n�o seria capaz de deixar
uma marca assim no cr�nio.

Que raio era a arma do crime?

CENTRO DE CONTROLO

Na altura, em Seul, como �ramos
a Pol�cia Metropolitana de Seul,

�ramos mobilizados para todos os casos
de homic�dio que ocorriam na cidade.

Comunic�vamos muito de perto
com as equipas de investiga��o.

�amos repetidamente aos locais,
onde havia poucas provas.

Como os locais eram bem preservados,

faz�amos mais testes para encontrar provas
que nos teriam escapado.

Vi todos os casos de homic�dio

que aconteceram no pa�s
nos �ltimos 30 anos

e observei as estat�sticas.

As armas que usaram em cada parte do corpo

e que partes do corpo foram mais atacadas.

Resumindo, a cabe�a

era mais atacada em crimes
de raiva ou ressentimento.

Cheguei � conclus�o de que o agressor
era motivado emocionalmente

para expressar a sua raiva.

N�o havia provas
de que procurasse artigos de valor

e deixava o dinheiro intacto.

Por isso, conclu�
que n�o era como os outros criminosos.

No meio da investiga��o,

procur�vamos suspeitos

com problemas mentais.

Havia um hospital p�blico
em Junggok-dong, em Seul.

Era um hospital gerido pelo governo

que tratava pessoas
com dist�rbios comportamentais.

Visit�mos esse hospital.

L�, pergunt�mos se tinha havido pacientes

com tend�ncias t�o violentas,

mas n�o se lembraram de ningu�m
com aqueles tra�os e naquela faixa et�ria.

Est�vamos num beco sem sa�da.

Est�vamos frustrados.

Lembro-me de estar muito preocupado

com o que sab�amos ou n�o
sobre este assassino.

Est�vamos t�o preocupados

que eu e os meus colegas
at� t�nhamos dificuldade em comer.

Mas depois veio o terceiro caso.

16 DE OUTUBRO DE 2003, 13H00

SEUL, GUGI-DONG, SINSA-DONG

SINSA-DONG

SAMSEONG-DONG

Quando os analistas v�o ao local,

vamos com o cora��o frio.

Deixamos os sentimentos pessoais
para tr�s, como compaix�o ou horror.

Serve para tirar conclus�es precisas
e determinar o que aconteceu.

Por isso, mantemos a compostura,
para nos podermos controlar.

O procedimento para ir ao local do crime

� ter cinco agentes do CSI
a trabalhar com um analista.

Somos enviados juntos
quando h� casos novos.

Se houver um homic�dio,
somos os primeiros a chegar.

Ele entrou na casa...

... arrastou a av� para a casa de banho...

... e atacou-a l�.

Havia muito sangue.

Era como se aquele ar frio

que enchia a casa durante o crime
ainda estivesse no local.

POL�CIA

At� os detetives seniores que iam subir
voltaram para tr�s.

Question�vamos o que se passava connosco,

pois todos sent�amos o ar sinistro
que pairava sobre o local, na altura.

O local do crime
era aterrador e assustador.

Revist�mos o local minuciosamente.

Depois, continu�mos
a inspecionar o exterior da casa

e repar�mos na unidade de AC.

A unidade estava presa � parede.
Examin�mo-la de perto.

E quando olh�mos com aten��o,

encontr�mos uma pegada
muito t�nue na unidade do AC.

"Ser� que o assassino pisou
a unidade de AC

para ver melhor a casa?

Ter� pisado a unidade de AC
para entrar na casa?"

Foram os pensamentos
que me passaram pela cabe�a.

SEUL, GUGI-DONG, SINSA-DONG, SAMSEONG-DONG

Descobrimos duas pegadas.

Uma do crime em Samseong-dong
e outra de Gugi-dong.

Olhando para o padr�o das duas pegadas...

... eram iguais.

SEUL

Durante o primeiro caso, em Sinsa-dong,
n�o encontr�mos pegadas.

Mas, pelo formato das feridas,
parecia terem usado a mesma arma

em Samseong-dong, Gugi-dong e Sinsa-dong.

GUGI-DONG, SINSA-DONG, SAMSEONG-DONG

Depois, pensei

que foram crimes cometidos
por um assassino em s�rie

com um motivo desconhecido.

Houve uma s�rie de homic�dios

contra idosos a viver
num bairro rico em Gangnam.

As v�timas foram atacadas na cabe�a
com uma arma contundente.

O dinheiro e bens foram deixados intactos.

Os cidad�os come�am a ficar mais ansiosos.

A Pol�cia de Seul negava

que os casos estivessem ligados.

Mas os jornalistas j� acreditavam
que era o mesmo assassino.

Senti que tinha de ter mais cuidado
e trancar as portas.

At� trancava as portas da casa de banho.

No in�cio, pensava: "Poder� ser
um caso de assass�nio em s�rie?"

Mas � medida que surgiam mais casos,
tivemos a certeza

de que eram cometidos por uma pessoa,
de que era um assassino em s�rie.

O comiss�rio disse: "H� outro?"

Quando disse que podia ser em s�rie,
ele passou-se e disse:

�Qu�o ansiosos acha
que os cidad�os ficariam

se houvesse
um assassino em s�rie em Seul?"

Ele disse-me
para n�o voltar a falar disso.

Eu usei o termo "assassino em s�rie".

Mostrei os documentos que imprimi
aos chefes da pol�cia

e um dos meus colegas ligou-me e disse:

"Porque andas a dizer
que � um assassino em s�rie?"

Mandou-me n�o dizer disparates.

Especulamos que o assassino
seja um conhecido da fam�lia.

Para a pol�cia local,

n�o devia ser visto
como um crime relacionado.

Foi um erro da parte da Pol�cia de Seul.

Um erro, de facto.

18 DE NOVEMBRO DE 2003, 12H00

Ouvi dizer que o QI de um peixe � de 0,7.

Ent�o, qual � o QI do pescador
que n�o apanha o peixe?

Uma em cada dez pessoas morre diariamente,

mas a pol�cia s� faz patrulhas.

Esfor�am-se tanto
para apanhar os assassinos,

s� para se perderem repetidamente.

De que pa�s achas que s�o estes pol�cias?

Hoje, pelas 15 horas,
deflagrou um inc�ndio

numa moradia de dois andares
em Hyehwa-dong, Jongno-gu, Seul.

GUGI-DONG, HYEHWA-DONG
SINSA-DONG, SAMSEONG-DONG

Tanto Kim, o dono da casa, de 87 anos,

como Baek, uma empregada de 50 anos,
foram encontrados mortos.

� o meu pai. O que aconteceu?

Falei com ele ao telefone de manh�.

Na sala, um menino de um ano sobreviveu

debaixo do seu cobertor
e foi levado para o hospital.

Como algu�m incendiou a casa,

ach�mos que era diferente
dos primeiros tr�s casos.

De in�cio, foi o que pens�mos.

A julgar pelos danos causados
ao cofre no segundo andar

e pelo facto de a casa
estar localizada numa zona abastada,

a pol�cia suspeita que foi um assalto
e homic�dio que acabou em fogo posto.

O dono da casa estava na cama
com golpes pelo corpo todo

e sinais de traumatismo na cabe�a.

Ambas as v�timas foram encontradas
parcialmente queimadas.

Havia sinais de que o assassino tinha
tentado abrir o cofre, mas s� isso.

A prova crucial

era a pegada que encontr�mos
no caso Hyehwa-dong.

O CSI confirmou que a pegada
encontrada em Gugi-dong

e a encontrada em Samseong-dong,
durante o terceiro caso,

correspondiam a esta nova pegada.

GUGI-DONG, SAMSEONG-DONG, HYEHWA-DONG

Como come�aram a surgir essas provas,

conclu�mos que os casos
estavam relacionados.

A partir desse momento,

o termo "assassino em s�rie"
foi usado pela imprensa.

Ele pode ter tentado enganar-nos
ou livrar-se das provas.

Ou podia estar a brincar connosco.

Foi montada
uma sede de investiga��o conjunta,

mas manteve-se confidencial.

As equipas de investiga��o das esquadras

uniram for�as para formar uma unidade

e come�aram a trabalhar juntas
na investiga��o dos homic�dios.

Obtivemos os registos dos telem�veis
que tinham localizado perto dos locais.

Todos os detetives

das tr�s esquadras
procuravam diariamente o seu paradeiro.

Foi um processo longo e aborrecido.

Sinceramente, n�o foi o melhor,

mas havia poucas provas.

� noite, bloque�vamos as estradas,

par�vamos os carros
e revist�vamos as malas.

Durante o dia,
se v�ssemos pessoas suspeitas,

revist�vamos as malas
para ver se tinham um martelo.

Estas buscas aleat�rias

devem ter sido
muito desagrad�veis para o p�blico.

Foi uma estrat�gia de conten��o primitiva.

Verific�mos o tipo de sapatos
com um padr�o semelhante na sola.

Eram sapatos da marca Buffalo.

Conseguimos confirmar
que o assassino usava estes sapatos.

Tent�mos prever o pr�ximo homic�dio,
usando o alfabeto coreano.

Gugi-dong.

"Gu" e "Gi" come�am ambas
com a mesma consoante.

Sinsa-dong.
"Sin" e "Sa" t�m a mesma consoante.

Samseong-dong tamb�m tem
a mesma consoante.

Pens�mos que o assassino
s� cometera crimes

em bairros cujos nomes
tinham a mesma consoante.

Hyehwa-dong tamb�m tem.

Era um caso muito estranho.

Ent�o, ach�mos que poderia atacar

em Suseo a seguir.

Os chefes de pol�cia das esquadras
com consoantes id�nticas

come�aram a ficar ansiosos.

Por�m, n�o deu em nada

e and�vamos �s voltas

sem qualquer progresso.

Pensei: "Como vamos resolver isto?

Qu�o ansiosos ficar�o os nossos cidad�os
se voltar a acontecer um caso assim?"

Era o que mais me preocupava.

Na altura, faz�amos turnos de 24 horas.

Trabalh�vamos imenso.

Eu n�o ia a casa.
Comia e dormia no escrit�rio.

Mas os resultados n�o refletiam
o quanto me esfor�ava.

Eu tinha um objetivo claro

e, embora fosse chocante,

o objetivo era aproximar-me do assassino
de qualquer forma poss�vel.

Nessa altura,

trabalh�vamos sem parar,
em vez de entrarmos e sairmos do trabalho.

POL�CIA METROPOLITANA DE SEUL

Quando estava no escrit�rio,

estava sempre a ver
os v�deos e fotos dos locais

para ver se me tinha escapado algo.

Est�vamos muito frustrados.

Na altura,
estes casos eram in�ditos na Coreia

e n�o faz�amos ideia

do tipo de pessoa que o assassino era,

ent�o, foi muito esgotante,
tanto mental como fisicamente.

Tudo era incerto
e sent�amo-nos impotentes.

A minha autoestima caiu

porque n�o sabia o que tinha de fazer.

Acabei por me sentir culpado

porque haveria outro homic�dio
se n�o consegu�ssemos resolver o caso.

Era prov�vel
que houvesse mais v�timas idosas

no futuro.

Na altura, quase n�o havia
c�maras de vigil�ncia em Seul.

Mas na estrada principal
para o quarto local de crime,

havia um edif�cio enorme.

Nesse edif�cio,

instalaram uma c�mara de vigil�ncia
para monitorizar os funcion�rios

a entrar e a sair do edif�cio.

A c�mara estava virada
para o interior do edif�cio,

ent�o, s� aparecia parte da estrada.

No entanto, havia imagens gravadas...

... que mostr�mos � fam�lia das v�timas.

Pergunt�mos-lhes
se j� tinham visto aquela pessoa.

Disseram que n�o reconheciam a pessoa
porque estava de costas

e fora filmado � dist�ncia,

mas reconheciam a roupa dele.

O casaco pertencia ao marido da v�tima.

Ent�o, pudemos determinar
que este homem foi o assassino.

Nas imagens, ele s� aparecia de costas.

Precis�vamos que mostrasse a cara dele,

mas as imagens n�o mostraram nada.

N�o conseguimos identificar
o assassino pelas imagens.

Ainda assim, era a prova

de que o assassino era uma pessoa real
e n�o um fantasma.

Podiam ter passado muitas pessoas,

mas, felizmente, o assassino passou
pela frente do edif�cio nessa altura,

expondo as costas � c�mara.

Fic�mos divididos,
depois de encontrarmos estas imagens,

sobre se dev�amos usar as imagens
para emitir um alerta.

Havia opini�es divergentes
na equipa de investiga��o.

Todos tinham opini�es diferentes.

N�o se tratava
de tornarmos isto p�blico ou n�o.

Se divulg�ssemos as imagens, o assassino
poderia mudar os padr�es ou os m�todos

e segui-lo tornar-se-ia
ainda mais dif�cil.

Ou poderia parar,

se o assust�ssemos com a ideia
de poder ter sido filmado.

Isso poderia lev�-lo psicologicamente
a parar de cometer mais homic�dios.

A decis�o de tornar as imagens p�blicas

deveu-se a n�o podermos fazer mais nada.

De certa forma, era o �ltimo recurso.

Apesar de terem sido
s� cinco a dez minutos,

pareceram 500 ou at� 5 mil anos.

Est�vamos mesmo sob stress,

porque tomar a decis�o errada

poderia levar a mais v�timas.

Foi uma decis�o
extremamente dif�cil de tomar.

A pol�cia est� mais perto
de identificar o suspeito

da s�rie de homic�dios
contra idosos de Seul.

Um homem na casa dos 20 anos,
que se cr� ser o culpado,

foi captado por uma c�mara
perto de uma das cenas.

Eu queria fazer um comunicado p�blico
para dizer ao assassino

que as suas a��es podiam ser filmadas
enquanto cometia os crimes,

onde quer que ele estivesse.

A pegada encontrada no local corresponde

�s dos casos de Gugi-dong e Samseong-dong.

A pol�cia est� a investigar
a possibilidade de um assassino em s�rie.

Por fim, o termo "em s�rie" tinha de sair.

No momento, foi muito noticiado.

Com uma recompensa de 50 milh�es de wons,

a pol�cia distribuiu 10 mil panfletos
a n�vel nacional

a mostrar uma foto deste homem.
Estima-se que tenha 1,68 m.

A investiga��o tornou-se muito tranquila.

Quando ele parou...

N�o sei porqu�, mas as mortes pararam.

Continu�mos a analisar as cenas,

� procura do que deveria ser considerado
e de como interrogar�amos testemunhas.

Na altura, sent�amos

que n�o havia mais nada para investigar.

O assassino j� tinha parado,

n�o t�nhamos mais nada a fazer.

Est�vamos sob muita press�o
porque n�o t�nhamos prendido o assassino.

Esses homic�dios ocorreram

e continuavam por resolver.

Mas aguardava-nos outro caso terr�vel.

POL�CIA

Ol�.

� o humano desprez�vel,

Yoo Young-chul.

Queria que os raios incendiassem tudo

e que uma tempestade engolisse tudo.

Por causa dessa loucura,
senti a forte vontade de destruir

e magoar pessoas como um louco.

E estava inebriado pelo ato
sem me aperceber.

GUGI-DONG, HYEHWA-DONG,
SINSA-DONG, SAMSEONG-DONG

SEUL

Legendas: Daniela Senra Gomes