All language subtitles for Tales of Irish Castles (2014) t01e06

Os castelos são os nossos monumentos
mais dramáticos da Idade Média,

construídos como monumentos
ao domínio e ao poder.

Espalhados pela paisagem irlandesa,

estas construções ancestrais,
com grandes muralhas e torres altas,

não deixam dúvidas
sobre a sua missão militar e defensiva.

Espero termos trazido uma escada.

Os aristocratas anglo-normandos
que invadiram a Irlanda no século XII

construíram os seus castelos
para controlar e intimidar os irlandeses.

Após a consolidação do domínio inglês,

os castelos serviram
como centros administrativos,

guarnições e prisões,

bem como luxuosos lares
para os senhores ingleses.

Nesta série, vou contar-vos histórias
sobre cercos dramáticos,

batalhas sangrentas,
estilos de vida luxuosos,

assombrações,

famílias em conflito e senhores feudais.

Afinal, a história dos castelos irlandeses
é a história da própria Irlanda.

O fim do século XIX
viu o conceito de império posto em causa,

à medida que a pressão
do governo local irlandês crescia,

aumentava também a desagregação
do sistema feudal.

O Ato da União de 1800,

quando o parlamento irlandês
foi fundido com Westminster,

tinha visto muitos senhorios
anglo-irlandeses virar as costas ao país.

E as finanças dos que tinham ficado
eram precárias.

Estão sempre a pensar
em como aumentar os seus bens.

Prof. Jane Ohlmeyer - Dep. de História
Moderna, Trinity College Dublin

Como lucrar mais com as rendas,

ganhar mais terras, liquidar ativos.

Porque é necessário
toda a terra e rendimentos possíveis

para suportar o estilo de vida
de um grande senhorio.

Com o desenrolar do século XIX,

uma população a crescer,
verões pobres e, por fim, a fome

exacerbaram as condições desesperadas
dos agricultores rendeiros.

A Irlanda rural,
bem como o castelo irlandês,

estava num declínio terminal.

A fome na segunda metade da década de 1840

levou muitos senhorios ao limite,
uma vez que não conseguiam qualquer renda.

Assim, tinham muito poucos rendimentos.

No século XIX,

ao lermos cartas e romances,

Robert O'Byrne - Autor e Vice-Presidente
Sociedade Georgiana Irlandesa

um nobre irlandês

é sinónimo de um aventureiro sem tostão,
em geral.

Muitos estavam cheio de dívidas,
outros eram...

Ia dizer, "quase animais".
Por outras palavras, não se importavam.

A única coisa que queriam fazer

era livrar as suas terras de pessoas
que já não eram produtivas.

Deus abençoe os coitadinhos dos senhorios.

Quero dizer, devia ser impossível
manter uma qualidade elevada

quando se tratava de 14 quartos de dormir,
oito casas de banho, quatro salões,

cavalariças e jardins murados.

Para não falar dos jardineiros, mordomos
e criadas dos andares de cima e de baixo.

Quando o rendimento das terras acabou,

muitas das casas caíram na ruína.

Muitas foram vendidas ou fechadas,

quando a pequena nobreza anglo-irlandesa
fez as malas e regressou a Inglaterra.

Prof. Terence Dooley
Dep. de História, NUI Maynooth

Mesmo sem a fome,

a probabilidade
era que muitos ficassem falidos.

Assim, fundou-se uma organização chamada
Tribunal de Bens Onerados.

Era uma espécie de NAMA daquela época.

Precisamente para ficar
com a responsabilidade

desses bens endividados e vendê-los.

Os bens endividados eram vendidos

a uma nova raça de industriais,
cheios de dinheiro.

Os mais famosos
eram a dinastia Guinness de Kildare,

conhecida pelo fabrico de cerveja,
comércio bancário

e restauração de castelos e casas de campo

em toda a extensão do país.

Condado de Mayo
Castelo de Ashford

Uma das suas compras foi o lindo Castelo
de Ashford na fronteira Mayo-Galway.

Em cada século,
há novas pessoas a fazer dinheiro.

E quando temos dinheiro,
queremos comprar um título.

Queremos comprar estatuto
através da aquisição de um castelo chique.

Assim, vemos gerações de arrivistas,
de novos-ricos, que surgem.

Tivemos os Boyle de Cork no século XVII,

e tivemos os Guinness no século XIX.

Podiam fazer o dinheiro que quisessem

com o fabrico de cerveja.

Mas não tinham
estatuto social ou político.

Isso vinha da posse de terras.

Na altura,
muitos olhariam com algum desdém

para o que era considerado dinheiro novo,
principalmente, ganho com o comércio.

E quando os Guinness, a começar
por lorde Ardilaun, obtiveram um título,

eram conhecidos como os Beerage,

por ser uma forma depreciativa
de se referir à família.

Compravam os títulos,
sem qualquer vergonha.

Não digo que não os "merecessem",

mas o melhor é não glorificarmos títulos
neste período.

A maioria é comprada
ou dada como uma espécie de recompensa.

Os novos donos modernizaram as casas,

em muitos casos, escondendo
os castelos normandos originais.

Os restantes senhorios, com poucos
rendimentos sem ser as fracas rendas,

lutavam, literalmente,
para manter um telhado sob as cabeças

e os lavradores longe da porta.

Condado de Offaly
Castelo de Leap

No condado de Offaly, o Castelo de Leap
é uma tapeçaria de estilos arquitetónicos,

abarcando 700 anos da história irlandesa.

A torre original,
construída no século XIV,

assemelha-se
a uma casa torreada irlandesa,

mas quando Cromwell a deu como recompensa
ao oficial inglês Darby,

teve de ser transformada numa casa
apropriada à nobreza anglo-irlandesa.

No entanto, os Darby ganharam mais
do que um mero legado arquitetónico.

O Castelo de Leap era conhecido
pelas histórias de aparições e fantasmas,

uma herança dos donos originais,
o clã O'Carroll.

O clã O'Carroll
era um grupo violento e hostil,

com a reputação
de lidarem com os seus inimigos

de forma decidida.

Membros da família problemáticos
eram liquidados sem cerimónia.

Eram atirados das muralhas,
para dentro de masmorras.

Eram desmembrados, esventrados.

Ou decapitados,

sendo as cabeças ostentadas como troféus.

Não admira que digam que os seus fantasmas

ainda andam pelos corredores
e torres do Castelo de Leap.

De todos os castelos na Irlanda,

Leap é um lugar
onde a imaginação anda mesmo à solta.

Quando ouvimos
as histórias do clã O'Carroll

e a sua macabra história,

percebemos de onde vem a sua reputação
como o castelo mais assombrado na Irlanda.

O aspeto essencial
das histórias que ouvimos

é estamos numa divisão
e sentirmos que mais alguém está lá.

Não sabemos,
mas ficamos com essa sensação.

E, depois, ouvimos um barulho,
ou sentimos uma brisa ou um vento.

Alguns vislumbraram
uma senhora de vermelho.

George Cunningham
Autor e Historiador

Alguns descrevem
como a sua roupa de cama foi retirada.

Conta-se também uma história sobre criadas

que não queriam entrar em certos quartos,
porque nunca conseguiam fazer as camas.

Porque as roupas de cama
eram sempre retiradas.

A partir dessas histórias,

houve a necessidade de arranjar um nome.

Foi por isso que a propriedade
foi chamada de O Elemento ou A Coisa.

Quando a propriedade
passou para Jonathan Darby,

foi quase o fim de uma era.

As guerras pelas terras tinham começado

e a Guerra da Independência
estava a chegar.

Jonathan Darby herdou as terras e os bens,

mais de 1.600 hectares, em 1880.

Solteiro. Do que se conhece dele,

era um homem impetuoso e arrogante.

Tal como qualquer senhorio na Irlanda,

há uma geração benevolente
e um tirano na seguinte.

Um dos pontos de viragem

na relação entre senhorios e rendeiros

é, obviamente, a Guerra pela Terra,
que começou em 1879.

Caracterizada por...

Um agravamento da violência agrária,

pela invenção do boicote,

por greves às rendas,
por despejos da parte do senhorio...

E o senhorio é visto como o instigador

de todos os males sociais,
políticos e económicos.

Consequentemente, a casa é frequentemente
representada como um símbolo da opressão.

Jonathan Darby
era característico da época,

rico em bens, mas pobre em dinheiro.
E a população local não gostava dele.

Uma esposa rica
resolveria os problemas de dinheiro,

por isso, em 1889,
uma Mildred Dill veio morar para Leap.

Aparentemente, tiveram quatro
ou cinco filhos,

e as coisas começaram a dar para o torto.

Ela era demasiado obstinada,

ele estava à espera de uma mulher dócil,
que soubesse o seu lugar.

Mas ela não era nada disso.

Era um espírito muito independente
e queria ser escritora.

Era muito solidária
com a situação difícil dos irlandeses.

Sentia que os ingleses tinham errado,

tinham dominado
durante todos aqueles séculos

e, agora,
estavam a pagar o preço pelo seu domínio.

Por isso, ela estava do lado
dos lavradores irlandeses.

Mildred sentia-se inspirada
pela atmosfera de Leap.

Começou a organizar
sessões espíritas no castelo,

e, depois, sem o conhecimento do marido,

começou a escrever romances
e artigos góticos sobre o sobrenatural.

Se ela ouviu falar
das histórias do Elemento

ou dos eventos em Leap, isso não sabemos.

Mas começou a escrever,

sempre sob um pseudónimo,
o nome masculino Andrew Merry.

Ninguém sabia na altura que era
uma mulher quem escrevia essas histórias.

Estavam cheias de masculinidade,

de linguagem masculina, etc.

Mas uma senhora vitoriana não podia

escrever sob o seu próprio nome.

Os seus livros descrevem o Elemento
com pormenores sinistros,

como uma figura sub-humana vampírica,
com buracos como olhos,

uma bocarra a babar-se
e um cheiro rançoso e nauseabundo.

Quando o marido descobriu,
manifestou-se totalmente contra.

Ele diz-lhe: "Olha.

"Os únicos espíritos deste castelo
estão nas adegas.

"São os únicos. Não há mais nada assim."

Jonathan Darby fez valer o seu poder,

proibindo a mulher
de escrever mais livros.

Acho que ela era uma mulher solitária,

que, ao escrever,
conseguia encontrar algum contentamento.

Suspeito que muitos dos seus escritos
sobre o Elemento

tinham a ver
com os problemas que tinha com o marido.

Talvez estivesse a tentar vingar-se.

Nos últimos anos do século XIX,

o Castelo de Dublin,
ainda o centro da autoridade inglesa,

foi o local
da sucessão de vários vice-reis

e o cenário de toda a pompa
que acompanha a vida na corte.

A visita da rainha Vitória, em 1900,
foi uma tentativa de ganhar apoio,

face à agitação crescente
do seu governo local.

No entanto, quando a Grã-Bretanha
entrou na Primeira Guerra Mundial em 1914,

o movimento nacionalista
tinha-se radicalizado

QUEM RECEIA FALAR
DA SEMANA DA PÁSCOA?

e os voluntários estavam na rua.

Quando a revolta de 1916 rebentou,

o castelo era um hospital da Cruz Vermelha
para soldados das batalhas em França,

homens que lutavam pelo império,

na crença de virem a ser recompensados
pelo seu sacrifício.

O GOVERNO PROVISÓRIO
DA REPÚBLICA IRLANDESA

PARA O POVO DA IRLANDA.

Após a Revolta de 1916 e o seu rescaldo,

Prof. Terence Dooley
Dep. de História, NUI Maynooth

a política radicalizou-se muito mais na
Irlanda, com o crescimento do Sinn Féin.

E, depois,
rebenta a Guerra da Independência em 1920.

Durante esse período,

mais de 300 casas foram destruídas.

Acho que não podemos fugir ao facto

Prof. Jane Ohlmeyer
História Moderna, Trinity College Dublin

de os castelos e as grandes casas

serem símbolos de colonialismo,
império e imperialismo.

Eram alvos óbvios para qualquer rebelde.

Em 1641, 1798 e, de novo,
durante a Guerra Civil.

Em Offaly,

a má relação entre Jonathan Darby
e os seus rendeiros

tornou Leap um candidato a ser incendiado.

Foi difícil para algumas famílias
seguirem em frente,

porque elas próprias eram objeto de ódio.

Jonathan Darby, na altura,
não era um senhorio popular.

O IRA, na altura, tinha como alvos
pessoas como Jonathan Darby.

E elas sabiam que ia acontecer.

Não estavam aqui. Fugiram.

Com os Darby em Inglaterra,
foi o encarregado que foi acordado

na madrugada de um domingo de junho,
em 1922.

Apontaram-lhe uma arma e deram-lhe

vinte minutos
para tirar a mulher e o filho do edifício,

antes de este ser encharcado em gasolina
e incendiado.

Foi pilhado, incendiado e perdeu-se tudo.

Incluindo o arquivo,
que devia ser fabuloso.

Jonathan Darby nunca voltou a viver aqui.

Pediu 35.000 libras de indemnização
pela perda do castelo.

Ao contrário de Leap,
nem todos os castelos foram incendiados.

Castelo de Leslie
Condado de Monaghan

A história foi mais branda para os Leslie,
no condado de Monaghan,

onde, apesar das políticas
antigoverno local de John Leslie,

o legado da sua avó viu o castelo
ser poupado e a família sobreviver.

Foi maravilhoso. Christina Leslie geriu...

Uma senhora viúva geriu o lugar
durante a fome.

Construiu a muralha da fome para dar
trabalho a pessoas de outras classes.

E essa muralha

protegeu o castelo

de uma forma que ela nunca poderia
ter imaginado, porque...

Mark Leslie
Arquiteto Narrativo

em 1922,
os nossos vizinhos foram queimados.

Chegaram os Lucas-Scudamore,

crianças aterrorizadas,
com roupões cheios de fuligem.

Um regimento apoderou-se da aldeia,
mas não tinham gasolina.

Foram ao posto de correios e disseram:
"Queremos pedir à cidade de Monaghan

"gasolina para queimar o castelo."

Os aldeões cortaram as linhas telefónicas
e disseram: "Não."

E disseram: "Mas é Sir John Leslie,
da UVF. Lorde Carson."

Disseram: "Muralha da fome.

"A sua avó alimentou-nos a todos

"durante os anos da fome.
Vão incendiar outro lugar."

PARA CHARLES POWELL LESLIE, MP,
PELOS SEUS GRATOS RENDEIROS

Ter o senhorio certo,
na comunidade certa, na altura certa,

podia ser a diferença entre uma família
sobreviver para a geração seguinte ou não.

Os que eram solidários
com a causa nacionalista

eram protegidos pela comunidade local.

Obviamente, os que não eram solidários,
não eram.

Após três anos de lutas amargas
entre a Inglaterra e a Irlanda,

acordaram-se tréguas em 1921.

O Tratado Anglo-Irlandês foi assinado
em dezembro de 1921.

Um mês depois, a 22 de janeiro de 1922,

Michael Collins chegou para receber
a transferência do Castelo de Dublin.

A história conta
que o vice-rei o repreendeu

por estar sete minutos atrasado.
A resposta de Collins foi:

"Esperámos 700 anos.
Podem ter mais sete minutos."

The Irish Times relatou
que o Castelo de Dublin,

tendo sobrevivido aos ataques
de gerações de rebeldes,

foi pacatamente cedido
a oito cavalheiros em três táxis.

No entanto, a paz não duraria muito.

Com o início da Guerra Civil
em junho de 1922,

a destruição da nossa herança continuou.

Durante a Guerra da Independência
e a Guerra Civil,

cerca de 300 casas foram destruídas.

Mas, as décadas seguintes,
os anos 20, 30 e 40,

foram muito mais prejudiciais
para os castelos na Irlanda.

Foram abandonados e permitiu-se
que caíssem em abandono e declínio.

O material foi, por vezes, reciclado e,
por vezes, usado para construir,

por exemplo, centrais elétricas locais,
estradas, casas para os trabalhadores.

De tal forma que...

...provavelmente, nas décadas de 80 e 90,

só existe uma fração
do número original de casas.

Os números variam, mas, normalmente,
anda à volta dos 10 por cento.

Castelo de Kilkenny
Condado de Kilkenny

Em Kilkenny,
os últimos Butler de Ormonde,

a dinastia que reinara durante séculos,

entregou o castelo ao Estado em 1935.

Só levou 10 dias a ser vendido num leilão

o que levou aos donos 800 anos a acumular.

Quando a família saiu em 1935,

fez um leilão público,

para vender todo o conteúdo,
mas não o castelo,

que ficou vago durante mais de 30 anos.

John Burke
Guia Principal, Castelo de Kilkenny

Depois, Arthur Butler, o sexto marquês,
deu-o à cidade por um valor simbólico,

50 libras irlandesas.

-50 libras?
-50 libras?

-Não é mau por um castelo, certo?
-Não é, não.

O problema dos Butler

é que não conseguem ter um herdeiro.

E para se ser um grande senhor,
tem de se ter um herdeiro e outro a mais.

E eles não conseguiram ter
nem o herdeiro nem o a mais,

ou seja, tinham o problema
da sucessão de um herdeiro,

o que, combinado com... Estão falidos.

Por isso, muito sensatamente, entregam-no.

Sabem que chegaram ao fim da linha.

Quando esteve aqui o último Butler?

1935. Arthur Butler, o sexto marquês.

Como era, enquanto casa de família?

Estava em mau estado nessa altura?

Deveria estar.

Lembre-se, claro,
que o número de residentes

não era nada comparado
com o que havia existido.

Quantas pessoas estariam
neste grande edifício em 1935?

Diria que uma família de seis, talvez.

A sério?

Como é que teria sido?

É claro que, quando o cavalheiro
que cedeu o castelo à cidade

infelizmente morreu,

o seu título passou para um familiar
que vivia em Chicago,

Charles Butler VII,
e o último marquês de Ormonde.

Sendo os títulos direito de primogenitura,
passam para um filho, não para uma filha.

E ele tinha duas filhas.

O Castelo de Kilkenny representa

centenas de anos da nossa história,
tanto boa como má,

e deixar que isso fosse destruído
seria uma autêntica anedota.

Agora, restaurámo-lo,

criámos uma excelente atração turística
que gera receitas,

mas, mais importante,

é uma poderosa lembrança do que somos.

Nem todos os grandes castelos
tiveram tanta sorte.

Em Limerick, o novo Estado irlandês
encontrou um uso original

Castelo do Rei João
Condado de Limerick

para a melhor propriedade real
nas margens do Shannon.

Uma das curiosidades
do Castelo de Limerick

é que quando estes monumentos
aos nossos conquistadores ingleses

caíram em desgraça
depois da independência,

decidiu-se que se derrubaria
uma das muralhas

para se construir uma urbanização.

Enquanto criança, devia ser bem fixe

ter um castelo como quintal,

já para não falar
de ter um endereço bem chique.

Na corrida para as eleições de 1932,

de Valera prometeu fazer algo em relação
à crise habitacional em Limerick.

Sob pressão do governo,

a corporação construiu 22 casas
dentro do castelo anglo-normando.

O Estado irlandês também tem muita culpa

no que diz respeito à destruição de alguns
dos nossos maiores castelos medievais.

Acho que,
por estes edifícios simbolizarem tanto

o imperialismo, o colonialismo,

não houve interesse
da parte do Estado em dizer:

"Na verdade, vamos investir neles.

"Tornemo-los parte
da nossa herança comum."

Parece bizarro,

a não ser, claro,
que se fosse uma criança a crescer aqui.

E Simon Spratt foi exatamente isso.

-Então, viveu aqui, Simon, até quando?
-1991.

-Que sítio maravilhoso para se viver.
-Foi fantástico.

Consegue acreditar
que neste espaço existiam 22 casas?

Vinte e duas casas...

E três gerações de famílias.

As pessoas que viviam aqui
estavam contra e diziam:

-"Não vamos sair daqui"?
-Claro. Porque sairíamos?

Que sítio para se crescer.
Que belo parque de recreio.

Sim, foi fantástico.

Se pensarmos nisso,

é um sonho viver no pátio de um castelo.

Outras pessoas veriam isso num filme

ou leriam sobre isso num livro.
Enquanto crianças, experienciámo-lo.

-Estavam no castelo?
-Sim, estávamos no castelo.

Onde ficava a sua casa?

Simon, a nossa casa estava basicamente

em linha
com o que considerávamos o portão.

-Certo.
-Então, é ali em baixo,

onde se vê a vedação e o arco.

-Mais ou menos ali.
-E, em relação

a saírem daqui,

foi algo gradual, casa a casa, ou...

Foi muito difícil.
Quero dizer, ninguém queria sair daqui.

-Não.
-Aqui, Simon, tínhamos

uma verdadeira aldeia.

Uma comunidade local muito forte
e uma verdadeira sensação de pertença.

É difícil,
porque os meus avós terão vivido aqui

e terão morrido aqui.

Foi apenas na década de 80

que a atitude relativamente
a estes edifícios começou a afrouxar.

As famílias que viviam
no castelo de Limerick foram realojadas,

permitindo uma enorme
escavação arqueológica,

e recentemente foram gastos milhões
num centro de visitantes,

para dar vida
à dramática história do castelo.

Durante 800 anos, os castelos simbolizaram
conquista, colonização e poder inglês.

Agora, são apenas símbolos,
e a forma como os tratamos definir-nos-á.

Acho que a Irlanda cresceu.

Estamos num mundo pós-colonial, agora.

Prof. Jane Ohlmeyer
Trinity College Dublin

Somos independentes.
Celebraremos 100 anos de independência.

Por isso, estas construções são parte
da nossa história, do nosso passado.

Podem ter conotações desagradáveis,

o que não quer dizer que as escondamos.

Temos de nos ligar a elas
e ao que a sua história representa

para compreendermos melhor
quem somos hoje.

Nenhum castelo resume esse sentimento
melhor do que o de Luttrellstown,

a uma curta distância de Dublin,

nas margens do Liffey,
perto de Castleknock.

Castelo de Luttrellstown
Dublin

Esta casa, e os terrenos onde está,

é provavelmente um dos melhores locais
de Dublin.

A rainha Vitória visitou-a duas vezes.

Sir Geoffrey Luttrell
foi o primeiro Luttrell a vir à Irlanda.

Era originário de França.

Jim Lacey
Escritor e Historiador Local

O nome Luttrell vem de loutre,

"lontra" em francês.

Os primeiros que vieram eram muito bons,

mas os que vieram depois degeneraram.

E está a ser simpático.

Henry Luttrell era infame, o traidor

responsável pela derrota dos irlandeses
na Batalha de Aughrim.

E membros da família que lhe seguiram
tinham fama de libertinos.

O filho de Henry, Simon,

era membro da sociedade escandalosa

conhecida como Hellfire Club.

Eram responsáveis
pelos mais horríveis deboches.

Um amigo de Luttrell,
lorde Barry of Santry,

deitou brandy sobre um empregado de mesa

e incendiou-o

por ter derramado algum brandy nele.

O empregado acabou por morrer.

Era o tipo de coisas que acontecia.
E eles saíam incólumes.

A linhagem Luttrell extinguiu-se em 1829,

e um livreiro e empresário abastado
de Dublin, Luke White,

comprou a propriedade por 180.000 libras.

E depois, quase 100 anos mais tarde,

foi oferecido a uma
das mulheres mais glamorosas do mundo.

Quando pensamos na Irlanda dos anos 50,

costumamos pensar
num lugar sombrio e cinzento.

Robert O'Byrne - Vice-Presidente
Sociedade Georgiana Irlandesa

Mas havia alguns pontos altos

e Luttrellstown teria sido um deles.

Mark Leslie - Arquiteto Narrativo

O meu pai dizia
que algumas cidades tinham uma zona verde.

Dublin foi planeada com uma zona Guinness.

Nesta altura, os Guinness
eram uma das famílias mais ricas do mundo.

Ernest Guinness, de Dublin,
geria o fabrico de cerveja,

e as suas três filhas eram conhecidas
pela sua beleza e inteligência.

Ao tornarem-se adultas,

ficaram conhecidas como

as Raparigas Guinness de Ouro,

sobretudo devido...

Às expetativas da grande riqueza
que possuíam,

à extravagância das suas personalidades

e ao facto
de nenhuma ser avessa a publicidade.

Michael de las Casas, neto de Aileen,

tem muitas boas recordações
das visitas ao castelo.

A história conta, e é verdade,

que quando era pequena, veio aqui
e sentou-se no banco dos desejos

no vale, como lhe chamávamos.

É um arco gótico,
que tem um banco dos desejos.

Ela sentava-se nele,
tinha uns cinco ou seis anos,

e desejava que Luttrellstown fosse dela.

E a verdade é que, em 1928,

o pai dela comprou-lhe Luttrellstown
como prenda de casamento.

Assim, o seu desejo realizou-se.

Aileen era a mais velha
das três Raparigas Guinness de Ouro,

e, sem dúvida,
a mais chique e com mais estilo.

E tinha muito bom gosto.

É algo absolutamente certo
em relação a Aileen,

mas não, necessariamente, nos homens.

Na véspera de Ano Novo
havia sempre um grande baile.

A semana do espetáculo equestre tinha
sempre uns bailes, ou no mínimo um grande.

Ela chamava-lhes bailes, e não festas.

Até fez uma festa na cozinha uma vez,
um sítio ao qual ia poucas vezes.

E havia um sem número de festas em casa,

para as quais convidava
as pessoas mais interessantes

do mundo inteiro.

Quem sobrevivia até aos anos 60,

tendo conseguido manter a casa
e fundos suficientes,

tinha tendência, frequentemente,
a importar o seu entretenimento.

Nos anos 60,
quando o twist se tornou moda,

ela organizou uma festa do twist aqui
e trouxe o Chubby Checker.

Trouxe o Chubby Checker,
que era um perito em twist, da América,

para ensinar o twist.

Tenho boas recordações disso
enquanto miúdo.

E ela convidava
os mais nobres embaixadores da Irlanda,

presidentes, estrelas de cinema e assim.

E também convidava pessoas locais.

Ela não se dava
com apenas um tipo de pessoa.

Deve ter feito estas escadas
umas 100 vezes, não?

Mary Lawless foi dama de companhia
de Aileen durante 20 anos.

-E vão todos dar ao quarto da senhora?
-Ao quarto da senhora, sim.

Quarto de Aileen Plunket

-Então, este é o quarto da senhora?
-O quarto da senhora. Sim.

Olhe para isto, é lindo.

E por aqui fica o quê?

Por aqui, fica a casa de banho.

-Isto é que é uma casa de banho, Mary.
-É a casa de banho.

Porque há tantos armários?

Tinham toda a sua roupa pessoal.
Todos os seus vestidos...

-A sério?
-Sim, aqui.

-Todos os vestidos estavam aqui.
-Certo.

E havia certos vestidos
para certas ocasiões.

Isto era um lavatório.

-Vejam bem!
-Era um lavatório.

Esta era dela e aquela era dele.

-Sanitas diferentes.
-Sim.

Isto é uma porta de ligação
para outro quarto.

-Vai dar a outro quarto.
-Vai dar a outro quarto.

As Gloriosas Raparigas Guinness,

porque todas gostavam de festas
e tiveram muitos "amigos".

Amigos masculinos, durante as vidas delas.

Certo. E aonde vai dar isto, Mary?

Isto vai dar a...

-Isto é outro quarto.
-É outro quarto.

Perguntaram uma vez à minha avó Aileen:
"Podemos escrever a sua biografia?"

E ela disse:
"Isso é impossível, meu querido,

"porque a maioria das esposas
dos meus amantes estão vivas."

Por isso, a biografia nunca foi feita.

Nos anos 70, a vida era muito semelhante
aos anos anteriores.

Mas no fim dos anos 70
e certamente no início dos anos 80,

para alguém como Aileen Plunket,

em Luttrellstown,
era tempo de seguir em frente.

Ela vivia acima das suas possibilidades

e estava a desvalorizar a sua fortuna.

Porque a única coisa que ela sabia fazer
era organizar festas excelentes.

Esse tipo de vida já não era sustentável.

Por isso, em 1983,

teve lugar o maior leilão da altura,

captando a imaginação do público.

O castelo, com os seus 230 hectares,

deve render
quase três milhões e meio de libras,

e os conteúdos da casa,
cerca de um milhão.

Felizmente, o novo dono
comprou quase toda a mobília

e, assim, o castelo parece-se
ao que era no tempo de Aileen.

A Irlanda tem muita sorte

por as pessoas
que compraram Luttrellstown à minha avó

terem-no, na verdade, recuperado de novo.

As casas antigas
necessitam de cuidados e atenção.

Acredito que havia bastante sujidade,
podridão e assim.

Mas eles recuperaram-no
para as próximas centenas de anos.

Parafraseando Monty Python:

"O que é que os anglo-normandos
alguma vez fizeram por nós?"

Bem, deram-nos os coelhos,

os veados, os cavaleiros,

o canhão, algumas carnificinas,
umas quantas pilhagens

e milhares de castelos.

Espalhados pelas zonas rurais,

marcam a transição
de uma forma de vida antiga

para o que muitos reconheceriam
como a Irlanda de hoje.

E, lembrem-se, as cidades cresciam e os
negócios faziam-se à volta dos castelos.

Nos últimos 30 anos,

parece que nos estamos a reconciliar
com a sua tumultuosa história

e que começamos a valorizar
estas fantásticas construções

pelo seu aspeto romântico e grandiosidade.

Sim, são símbolos
dos nossos conquistadores ingleses,

mas são também monumentos
a um passado muito original

e a todos os arquitetos e artesãos
que os construíram.

São construções
que deviam ser valorizadas e estimadas.

O problema dos castelos é que os vemos
como objetos românticos.

Robert O'Byrne - Vice-Presidente
Sociedade Georgiana Irlandesa

Na verdade,
é por isso que tantos castelos na Irlanda

foram construídos
no fim do séc. XVIII, início do séc. XIX,

porque eram entendidos
como sendo românticos.

E todos olhamos
para esse tipo de construções,

acasteladas, com muitas torres e torreões,

como se nos desse acesso instantâneo
a um passado muito romântico.

Acho que é essa a razão do seu encanto.

Prof. Jane Ohlmeyer
História Moderna, Trinity College Dublin

Nada é mais romântico
que um castelo medieval.

Olhemos para o Castelo
de Carrickfergus, ou para o de Trim,

outro exemplo esplêndido
de um grande castelo medieval.

Temos o Castelo de Dunluce,
que é absolutamente fabuloso.

O Castelo de Kilkenny.

Pensemos no de Lismore,
no condado de Waterford.

São, todos,
construções extraordinárias e lindas,

ótimos exemplos
da arquitetura daquela época,

que foram maravilhosamente restaurados
e são grandes atrações turísticas.

Todos, tanto irlandeses como turistas,

adoram visitar um castelo,

quer seja as centenas de ruínas
que salpicam a paisagem,

quer seja os que sobreviveram intactos
como casas de família ou luxuosos hotéis.

O Castelo de Leslie
atraiu as atenções do mundo em 2002,

quando o segundo casamento do ex-Beatle
trouxe a imprensa mundial em força.

Castelo de Leslie
Condado de Monaghan

Todos conhecem o Castelo de Leslie

desde que Sir Paul McCartney casou lá.

Lembram-se disso? Ele também não.

Não é suposto dizer nada a ninguém.

Vamos, basicamente,
fazer um casamento familiar.

Vamos convidar família e amigos.

E vamos divertir-nos um pouco.

Também ouvi falar de Sammy Leslie,

a mulher que transformou
uma propriedade rural degradada

numa das maiores entidades patronais
de Monaghan.

Ela restaurou o Castelo de Leslie
para o que era nos séculos XVII e XVIII,

uma propriedade de família próspera
e de trabalho.

E quero saber como o fez.

Uma das grandes façanhas

dos Leslie é,
obviamente, ainda lá estarem.

Noutros países,

isso podia não parecer
uma façanha por aí além.

No contexto irlandês,
é uma façanha enorme.

Só manter a propriedade já é de valor.

Não é mau, pois não?

Mas diria que custa uma fortuna aquecê-lo.

Originalmente dado ao bispo Leslie por
derrotar um exército de Cromwell em 1642,

a história do castelo
é tão complicada como original.

Desde políticos nacionalistas
a heróis de guerra britânicos,

de líderes da UVF a OVNI,

de Winston Churchill ao Dr. Who,

e a um tio que, com 97 anos,

DISCOS VOADORES ATERRARAM

ainda vai ao clube noturno local,

os Leslie são sinónimo
de excentricidade e persistência.

Dizem que o castelo teve
a primeira banheira interior da Irlanda.

-Este é o Ninho da Águia.
-Pois é! É das minhas divisões favoritas.

Como muitos dos meus antepassados,

sinto fascínio pela canalização vitoriana.

Esta divisão teve a primeira banheira
de água quente canalizada na Irlanda.

E o mais incrível é
que era para o pessoal e para as crianças.

-Não era para a família?
-Não...

-Porquê?
-A canalização era muito espirituosa.

Nunca ouvi canalização
ser descrita como espirituosa.

-Este é o quarto Mauve, como pode ver.
-Lindo.

Com a lista de hóspedes deste lugar,

alguns génios
devem ter ficado neste quarto.

Este era um
dos quartos principais da casa,

foi remodelado em 1906,

quando a duquesa
e o duque de Connaught vieram cá.

Ele era o filho mais novo de Vitória
e padrinho do meu pai.

-Certo.
-Pessoas como o rei e a rainha da Suécia

ficaram aqui, ao longo dos anos.

Ficaram aqui reis e rainhas.
Quem mais ficou?

A estranha estrela de rock, Mick Jagger,
veio cá nos anos 60.

-A sério?
-Infelizmente, enquanto estava aqui,

umas estudantes locais vinham
do piquenique anual no convento local.

Esquecemo-nos disso e o pobre Mick
estava a passear pelo jardim.

Quando as raparigas o viram,
correram atrás dele,

com as freiras de hábitos a voar
a correr atrás delas,

e temos tudo nas filmagens de família.

Que espetáculo!

Quando elas conseguiram,
por fim, apanhá-lo,

aceitaram deixá-lo inteiro
se ele lhes desse autógrafos.

Que outras estrelas de rock ficaram aqui?

Devem ter tido grandes celebridades aqui.

Sim, mas após os anos 60,
traçámos uma linha.

-É o regulamento de Chatham House.
-Ou seja?

O que acontece dentro destas paredes
fica dentro destas paredes.

-Nem me pode sussurrar um nome?
-Não.

Teria de lhe tirar
as unhas dos pés se o fizesse.

Mark Leslie - Arquiteto Narrativo

A Sammy tem sido fantástica,
porque tem explorado...

Posso dizer isto
sobre a minha irmã mais nova.

A Sammy tem sido fantástica,

porque tem explorado um modelo sustentável
de desenvolvimento social

que envolve toda a comunidade,

para que a aldeia e a propriedade
voltem à relação simbiótica

que desenvolveram durante 400 anos.

Qualquer pessoa na Irlanda podia ir lá
e dizer: "Quero dormir na cama

"em que dormiram o príncipe Pierre
do Mónaco, ou W.B. Yeats, ou Mick Jagger."

Está aberto a todos.

Isto é que é uma sanita, Sammy.

Esta é uma das primeiras sanitas
com autoclismo interiores da Irlanda.

E esta, tal como a banheira,
estava lá em cima para o pessoal,

amas, governantas e crianças.

E o brasão da nossa família.

AGARRAR DEPRESSA

Quis trocar o "S" por um "R",
mas acobardei-me.

Penso que ela tem noção
de que, numa casa de família,

o que as pessoas mais estimam
é o facto de ser uma casa de família.

Quem fica aqui quase não se sente
como um hóspede que paga,

mas como amigo da família.

A geração do meu pai
descia as escadas de tobogã,

com os tabuleiros de chá
de prata georgianos.

E a nossa traquinice era dar a volta
sobre o rebordo até chatearmos os pais.

Deviam assustá-los de morte.
Vinham parar aqui.

Então, a casa era o vosso recreio.

Era um grande recreio.

E esta é a biblioteca. Cheia de livros.

Dean Swift queixou-se de o Castelo
de Leslie ter filas de prateleiras,

onde estavam muitos livros que os Leslie
tinham escrito sobre eles mesmos.

E isso foi no fim do século XVIII.

Por isso,
aproveitaram para escrever mais uns 200.

Shane escreveu 56 livros,
folhetos e panfletos.

E estes são os seus três filhos.

O pequeno à direita é o meu pai, Desmond.

A minha tia Anita
e o meu tio Jack, à esquerda, com a arma.

O tio Jack de Sammy faz parte
de uma longa linha de Leslie excêntricos,

e ainda vive no castelo.

Jack, fale-me da ligação da sua família
à família de Churchill.

A mãe de Churchill
e a mãe do meu pai eram irmãs.

Jerome.

Jennie Jerome, a mãe de Churchill.
Leonie Jerome, a minha avó.

E fale-me do seu pai, Jack.
Fale-me sobre Shane.

-Ele esteve em Gallipoli.
-A sério?

-No terrível desastre de Gallipoli.
-Sim.

No regimento Ox and Bucks.
Ele teve um esgotamento nervoso.

E o senhor também prestou
serviço ativo durante a guerra?

-Na Segunda Guerra Mundial.
-Sim.

Fui capturado em Dunkirk.

Fiquei preso durante cinco anos.

-Ficou preso durante cinco anos?
-Cinco anos certos.

Fui capturado na guarda irlandesa,
em Bolonha.

A tentar impedir os alemães
de chegarem a Dunkirk.

E o que sente em relação
à sua casa ser agora...

Agora, tem tantas visitas do mundo todo.

-O que sente em relação a isso?
-Eu gosto.

A casa estava sempre cheia
de pessoas a ir e a vir.

Muitos criados. Havia sempre movimento.

O espetáculo continua.

-Ainda continua.
-Sim.

Que sítio maravilhoso onde crescer, Sammy.

Sem dúvida.

Que sítio para brincar, lá fora.

Era incrível.

E acho
que o maior privilégio ao crescer...

Bem, houve duas coisas.
Uma era a liberdade enquanto crianças,

porque estávamos sempre lá fora.

Desaparecíamos depois do pequeno-almoço
e voltávamos ao jantar.

A última fase da inocência como criança,

quando podíamos desaparecer o dia todo.

Acho que o mais interessante é
as propriedades poderem ser como empresas.

Ou são bem geridas
ou são meramente vistas como algo

para tirar dinheiro ao país e financiar
um estilo de vida noutro lugar.

Mas acho que uma propriedade bem gerida
é como uma empresa,

-o dinheiro continua a entrar.
-Sim.

Há uma relação profissional muito boa

e todos fazem parte do processo.

O mais interessante
é as propriedades que permanecem

serem as propriedades bem geridas,

com uma boa relação profissional.
Por isso, ainda cá estão.

Aquilo que temos de valorizar
em todas as construções antigas

é terem sido construídas
por artesãos irlandeses.

Não importa quem vivia nelas.

Quem as criou? Os nossos antepassados.

Os nossos antepassados foram responsáveis
por colocar uma pedra em cima da outra,

por conceber, muitas vezes, as casas,
pelo trabalho interior,

por colocar o chão,

por todos os pormenores do edifício.

Foram os nossos antepassados,

e devíamos celebrar as suas capacidades
e o seu talento

e valorizar, consequentemente,
tudo o que conseguiram

e agarrarmo-nos a isso, porque,
comparado com muitos outros países,

a nossa herança arquitetónica
é muito pequena, devido à nossa história

de desinteresse e hostilidade.

Por isso,
devíamos estimar o que nos resta.

Cabe-nos a nós certificarmo-nos
de que preservamos a nossa herança física

e a nossa herança escrita
para as gerações futuras.

Não vamos repetir os erros
dos nossos antepassados.

Confesso que, como a maioria,
não tinha noção

da profunda história
por trás destes castelos.

Mas durante as últimas seis semanas,
fiquei fascinado e diverti-me

com as histórias de cercos e batalhas,

de famílias em conflito,
histórias de amor e fantasmas.

E espero que, como eu,
tenha gostado da viagem.

Mas, mais importante,

nunca deixe de valorizar
estes fantásticos monumentos

e o papel importante
que desempenharam na nossa história.