All language subtitles for History of the Eagles 2013

- Quase em sintonia.
- Não foi mau.

Só faltam dois minutos.
Façam o que têm a fazer.

Temos de ir.
Preciso de uma fita para o pulso.

É uma coisa
que não podemos fazer para sempre.

Não é uma carreira
que possamos seguir toda a vida.

Não é?

Obrigado e boa noite.

Somos os Eagles, de Los Angeles.

Um, dois, três, quatro.

As pessoas estão sempre a dizer-me:
“És como uma pessoa normal.”

E eu digo sempre: “Claro.”

Muito bem!

Talvez sejamos mais viajados
do que alguns destes miúdos.

Devemos ter menos inocência do que eles.

Mas eu como, durmo, apaixono-me,
deixo de ficar apaixonado, trabalho.

Faço praticamente o mesmo.

Vimos um cartaz nosso,
de quando fizemos o On the Border.

Todos parecíamos uns miúdos.

Tínhamos vinte e poucos anos.

Ninguém tinha rugas e olheiras.

Como um presidente, quando assume o cargo.

Quatro ou cinco anos depois,
ele sai e tem o cabelo grisalho.

Os olhos descaíram
e está completamente esgotado.

A primeira coisa que acontece
é que somos catalogados de uma forma.

Temos de estar à altura
mas deixamo-nos apanhar por isso.

E esqueci-me de qual é a segunda coisa.

É difícil, é como viver duas vidas.
Tenho uma família, com três filhos.

É difícil viver nessa fronteira,

estando na estrada, fora durante um mês.

Talvez não queiramos continuar,
talvez não possamos continuar

ou talvez ninguém queira saber
se continuamos a fazer isto.

Obrigado.

Não, eu insisto. Tu primeiro.

Viva.

Entra e tranca-a.

Aquele era um grupo animado...

Motorista, tranque a porta, está bem?

Vamos já.

Nunca se sabe o que os miúdos vão fazer.

Caramba.

- Que tal uma cerveja?
- É para já, irmão.

Não te magoes, jovem América.

- Queres uma?
- Sim, quero uma.

Esta noite, vou beber.

Acho que eles sentem-se
como se estivessem lá,

em cima do palco.

Porque somos parecidos a eles,
vestimo-nos como eles.

Em parte, é isso e há os discos.
Eles gostam das canções.

Acho que é 50-50, parece-me.

Vejamos quanto tempo
nos aguentamos no cimo da montanha.

É muito apertado e ventoso, cá em cima.

Devemos poder continuar a fazer o que
fazemos, desde que as canções apareçam.

É a única coisa que nos assusta,
deixarmos de conseguir fazer isso.

Estaríamos metidos em sarilhos.
Até agora, tudo bem.

Acho que conseguimos manter isto
mais alguns anos. Não vejo porque não.

Outros conseguiram. The Rolling Stones,
The Who e Led Zeppelin...

Quase disse “The Led Zeppelin”...

Os Chicago conseguiram.

As bandas duram mais tempo do que antes.

A merda não se aguenta.

PRIMEIRA PARTE

Noventa por cento do tempo,
pertencer aos Eagles foi demais.

Estava a viver um sonho.

Nunca, nos nossos sonhos
pensámos ter tanto sucesso e durar tanto.

Éramos um grupo de rapazes
em digressão pelo país.

Tínhamos um pequeno avião privado.

Fazíamos festas depois dos concertos.

Divertíamo-nos muito
e começávamos a ganhar algum dinheiro.

Finalmente, tínhamos três guitarristas
e podíamos fazer algum rock.

Foi um bom período para mim e para o Don.

Todos estavam muito felizes.

Na altura.

Estava a andar muito depressa,
talvez demasiado depressa.

Havia agitação dentro da banda.

Púnhamos muita pressão sobre nós.

Como o Glenn dizia:
“Tivemos êxito e ele devorou-nos.”

É difícil estar num grupo.
É como estar num casamento,

se o quadruplicarem ou quintuplicarem,
no nosso caso.

Perguntaram ao Don, quando
os Eagles acabaram: “O que sentiu?”

E ele disse: “Foi um alívio horrível.”

E acho que isso o resume bastante bem.

És um verdadeiro profissional, Don.

Tu também, como lidas com as pessoas.

Menos a quem pagas.
Mas ninguém quer saber disso.

Vai-te lixar. Ando a pagar-te
há sete anos, seu imbecil.

Houve muita coisa
que simplesmente aconteceu.

Há um filósofo que diz...

... que, enquanto vivemos a nossa vida...

... parece só haver...

... anarquia,
caos e acontecimentos aleatórios...

... não relacionados, que chocam
uns com os outros e causam esta situação.

Então, isto acontece e é esmagador.

E parece que:
“Mas o que é que se passa aqui?”

Mais tarde, quando olhamos para isso...

... parece um romance bem elaborado.

Mas, na altura, não parece.

E muita da história dos Eagles é assim.

Eu vou matar-te.

Mal posso esperar.

Mal posso esperar.

É melhor começarmos pelo princípio.

Eu cresci em Detroit, no Michigan.

O meu pai trabalhava numa fábrica e a
minha mãe cozia tartes na General Motors.

Comecei a ter aulas de piano
aos cinco anos.

Isso bastava para levarmos porrada,
nos subúrbios de Detroit.

CIDADE DOS ÊXITOS, EUA

Detroit era a Motown
e tocavam todos os sucessos da Motown.

Era o género de coisas que ouvíamos.

Parei de tocar piano aos doze anos.
Era demais, queria fazer outras coisas.

E acho que a febre das miúdas
também estava a começar.

Então, apareceram os Beatles

e a minha tia levou-me
a ver os Beatles no Olympia.

Foi uma loucura.

Lembro-me de uma rapariga que estava
de pé, em cima da cadeira à minha frente,

que caiu para trás, nos meus braços,
a delirar: “Paul, Paul.”

E eu pensei: “Meu Deus.”

Tenho uma recordação muito clara
de ver os Beatles com os meus pais

no nosso antigo televisor Admiral.

Foi como levar com um raio.
Teve um impacto enorme em mim.

Foi revolucionário.

E foi um impacto que duraria uma vida.

Sei que também teve
um impacto enorme no Glenn,

embora não nos conhecêssemos na altura.

CORREIOS DOS ESTADOS UNIDOS

Linden, Texas, é a minha terra natal.
É uma pequena cidade do nordeste do Texas.

Quando estava a crescer,
a população era de cerca de 2500, 2600.

É sobretudo uma região agrícola.

Algumas pessoas trabalhavam na fundição.

Era simplesmente
uma pequena povoação típica do Texas.

Há um velho tribunal,
do tempo da Guerra Civil

e um semáforo.

Como no A Última Sessão, sabem?

Era um sítio musicalmente excelente,
porque ficava num cruzamento cultural.

Fica onde o Velho Sul encontra o Oeste.

Linden, Texas, foi a terra natal
de Scott Joplin e T-Bone Walker.

Os meus pais adoravam música
e tínhamos muitos discos em casa.

Fui exposto a música
de todo o tipo desde cedo.

Música country e western,
música western swing, gospel, blues.

Johnny Cash, Hank Williams e Patsy Cline.

Havia uma estação de rádio
de 50 000 watts em Nova Orleães

e ouvia coisas nessa estação
que não ouvia noutros sítios.

Por isso, tinha acesso a muita rádio.

Quando acompanhava o meu pai ao trabalho,

ele ouvia uma estação
de Shreveport, no Louisiana, a KWKH.

E essa estação tinha um programa
chamado Louisiana Hayride,

onde o Elvis Presley
fez a sua estreia na rádio, em 1954.

O primeiro disco de rock and roll
que comprei foi do Elvis Presley.

Tocar bateria foi um processo orgânico.

Comecei a bater nos livros da escola
com os dedos e os lápis.

Batia pequenas cadências
e enlouquecia os meus colegas com aquilo,

até que, um dia,
o meu amigo Richard Bowden me disse:

“Porque é que não começas
a tocar bateria?”

Consegui improvisar uma bateria
com tambores velhos,

que encontrei guardados nas traseiras
da sala da banda da secundária.

E, um dia, a minha mãe disse:
“Anda, entra no carro.”

Levou-me a uma cidade
a uma hora e meia de distância,

chamada Sulphur Springs, Texas,
à McKay Music Company.

Para minha surpresa, ela comprou-me
uma bateria Slingerland vermelha,

que ainda tenho.

Devo muito aos meus pais.

Ofereceram-me aquela bateria,
apesar de não a poderem realmente pagar.

A primeira banda em que estive foi com
o meu amigo Richard Bowden, da secundária,

e outro amigo da secundária,
o Jerry Surratt,

e tocávamos Dixieland jazz.

Ninguém cantava, só tocávamos música.

Fui a uma festa da secundária.

Havia quatro miúdos caloiros
que estavam a tocar.

Eu estava no 11º ano,
trazia duas cervejas e disse:

“Conhecem a ‘Satisfaction’?
’Porque eu sei cantá-la.”

E tornei-me o vocalista dos Subterraneans.

Cantei nos Subterraneans algum tempo.

Depois, cantei noutra banda,
chamada Mushrooms.

A coisa mais importante que me aconteceu
quando estava em Detroit

foi conhecer o Bob Seger.

Ele tomou conta de mim.

Convidou-me para as sessões
de gravação dele,

para eu ver como os discos eram feitos.

Era o mentor dele. Ele era tão novo.

Gostei logo dele,
porque era muito engraçado.

Tinha um grande sentido de humor
e, como eu,

via-se que era muito ambicioso.

Ele queria mesmo estar na rádio.

Ele gravou uma canção
chamada “Ramblin’ Gamblin’ Man”.

Deixou-me tocar guitarra acústica
na faixa base e ser vocalista de fundo.

Conseguimos ouvir o Glenn
expressar-se no primeiro refrão.

Ele surge bem alto, com um vigor tremendo.

Foi um sucesso nacional para nós,
o que foi muito porreiro.

O Bob foi o primeiro tipo que conheci
que escrevi e gravava as suas canções.

Ele disse: “Se queres vingar,
tens de escrever as tuas canções.”

Eu disse: “E se forem más?”
E ele respondeu: “Bem, vão ser más.”

Ele disse:
“Continuas e continuas a escrever.

Acabarás por escrever uma boa canção.”

Íamos ter uma banda juntos.
Eu ia ser o baixista dele.

Não se concretizou.

A minha mãe encontrou-me a fumar erva
com um amigo meu na cave de alguém,

telefonou ao agente do Seger,
o Punch Andrews, e disse:

“Espere um pouco. Mais devagar.”

Antes da Grande Depressão, o meu pai
teve de deixar a escola, depois do 8º ano.

Teve de trabalhar no campo, com o irmão
e a irmã, para ajudar a família.

O seu desejo, aliás, o objetivo da sua
vida era que eu fosse para a universidade.

Todos os sábados à noite,
ele trazia sete moedas de 25 cêntimos

e púnhamo-las num mealheiro.

Quando essas moedas somavam 100 dólares,

levava-me ao banco e comprávamos títulos
de dívida do Tesouro dos Estados Unidos

e guardávamo-los
para a minha universidade.

UNIVERSIDADE DO NORTE DO TEXAS

Entre o que o meu pai poupou
e o que eu ganhava

a fazer concertos no Texas, Arkansas
e Louisiana, aos fins de semana,

paguei três anos e meio da universidade.

Têm um departamento de música mundialmente
famoso, no qual não me distingui.

Frequentei uma cadeira de música.
Acho que foi iniciação à teoria.

À qual chumbei. Tive um F.

Mas não importava,
porque estava no curso de Inglês.

Depois dos Mushrooms, convidaram-me
para uma banda chamada The Four of Us.

Comecei a entrar
em algumas bandas da Califórnia,

The Byrds, Buffalo Springfield,
The Beach Boys.

Sempre quis ir à Califórnia.

Quando cheguei lá, fiquei passado.

A vegetação...
Nunca tinha visto palmeiras.

Era um sonho que se realizava.

A primeira celebridade que vi
foi o David Crosby.

Tinha aquele chapéu de abas direitas,
que usou no segundo disco dos Byrds.

Usava uma pequena capa
e eu olhei e pensei:

“Meu Deus, é o David Crosby.”
E passámos por ele.

E a primeira pessoa que conheci
foi o John David Souther.

Nós queríamos pedrar-nos e tocar música.

Ambos tínhamos guitarras.

Ouvíamos muita daquela...

combinação de rock and roll
e música country e western,

que havia no sul da Califórnia,
na altura...

COMPOSITOR

... com os Byrds, Dillard & Clark,
Burrito Brothers e Poco.

Havia muita música excelente,
desse género, na época.

Somos os Longbranch Pennywhistle.
Devem querer saber o que o nome significa.

Bem, temos uma coisa a dizer,
que é: “Tragam as mulheres jeitosas.”

As canções não eram muito boas.

Acho que eu e o Glenn
não éramos bons compositores, na altura.

Éramos um grupinho engraçado,
mas demos concertos.

Conseguimos tocar
em alguns clubes de folk em LA.

O Golden Bear e o Ash Grove.

Encontrámos o Kenny Rogers por acaso,
um dia, em Dallas, no Texas.

Estava de passagem pela cidade com
os First Edition. Estavam na berra, então.

Lembro-me como se fosse ontem.

Apareceu um miúdo,
que disse: “Sr. Rogers.”

Disse: “Chamo-me Don Henley
e pertenço a um grupo chamado Felicity.

Vamos dar um concerto esta noite
e gostávamos que nos fosse ver.”

Eu respondi:
“Desculpa, mas eu não faço isso.

Não vou aos clubes ver bandas.”

Ele disse:
“Acho mesmo que ia gostar de nós.”

Eu pensei: “Isso é muito porreiro,” e fui.

O Kenny é um rapaz do Texas
e procurava bandas para produzir.

Trouxe-os para LA

e viveram literalmente na minha casa
durante uns quatro meses.

Mudámos o nome deles para Shiloh.

Foi muito divertido
levá-los para o estúdio.

Fizemos um disco como Shiloh,
que teve um single chamado

“Simple Little Down Home Rock and Roll
Love Song For Rosie”.

Não é um título pequeno.

Na altura, não sabíamos muito
sobre o negócio.

Éramos bastante ingénuos.

Percorremos os clubes de LA
por algum tempo, tocámos no Whisky,

tocámos em alguns clubes
na área de South Bay.

E não nos aconteceu nada.

Eu e o JD procurávamos
um sítio qualquer onde tocar.

Ouvimos falar de um tipo
chamado Jackson Browne.

Ele tocava nos mesmos sítios que nós
mas nunca o tínhamos visto atuar.

Califórnia, eis o Sr. Jackson Browne.

Obrigado.

Eles conseguiam uns concertos
e eu conseguia outros.

Eles apareciam nos meus concertos
e eu nos deles.

Tornámo-nos muito bons amigos.

Começámos a conversar:
“Onde vives e o que fazes?”

E o Jackson disse:
“Sabem, deviam ir para o Echo Park.

A renda é muito barata.”

O Glenn ficou com o apartamento
ao lado do meu.

E esse apartamento custava
uns 125 dólares por mês, ou por aí.

E eu precisava de poupar.

Por isso, mudei-me para a cave
por baixo da casa do Glenn,

que podia ter por 35 dólares por mês.

Só tinha uma porta.
Era um sítio ilegal, só um cubículo.

Era onde o Jackson vivia,
com o JD e eu por cima.

Era só isso. Havia uma aparelhagem,
um piano, uma cama, uma guitarra

e uma chaleira.

Acordávamos tarde, nesses tempos.

Mas, por volta das nove horas da manhã,
ouvia a chaleira do Jackson Browne

a começar a assobiar, ao longe.

E depois ouvia-o a tocar piano.

Na verdade, não sabia compor canções.

Sabia que queria compor canções,
mas não sabia exatamente...

Esperávamos que a inspiração viesse?
Como é que era?

Aprendi, pelo teto do Jackson
e pelo meu chão, a compor canções.

O Jackson levantava-se, tocava
a primeira estrofe e o primeiro refrão,

e tocava-os umas 20 vezes,
até ficarem mesmo como ele queria.

E depois havia silêncio.

Depois, voltava a ouvir a chaleira.

A seguir, havia silêncio
durante dez ou 20 minutos.

Depois, recomeçava a tocar
e era a segunda estrofe.

Ele trabalhava na segunda estrofe
e tocava-a 20 vezes.

Depois, voltava ao início,
tocava a primeira estrofe,

o primeiro refrão
e a segunda estrofe mais 20 vezes

até se sentir muito seguro daquilo.

E mudava uma palavra, aqui ou ali.

E eu estava em cima, a pensar:

“Então, é assim que se faz.”

Trabalho árduo.

Tempo, reflexão, persistência.

Às vezes, apetecia-me matá-lo.

O Jackson tocou o mesmo verso
do “Doctor My Eyes” durante seis semanas.

O mesmo com o “The Pretender”.
Eu queria matá-lo.

Foi nessa altura que conheci o Glenn Frey,

porque estávamos na mesma editora,
que se chamava Amos Records.

O que me admirou, quando conheci o Glenn,
foi o que tínhamos em comum.

Os nossos pais tinham trabalhado
na indústria automóvel.

Eu e o Glenn adorávamos carros antigos,
em particular dos anos 50.

Ele tinha um Chevy de 55,
a que chamava Gladys.

E andávamos por Los Angeles na Gladys.

Vejam novos talentos.
Não há sítio melhor na cidade

para ver novos cantores e compositores
do que na Hoot Night de segunda à noite.

No famoso Troubadour, de Doug Weston,
esta noite.

O clube Troubadour
era o centro do universo musical.

Foi um local seminal.
Era o sítio para ver e ser visto.

Às segundas à noite,
tinham o palco aberto.

Chamava-se Hoot Night.

O Troubadour era o local aonde ir,
se éramos novos, ambiciosos...

FUNDADOR DA ASYLUM RECORDS

... e tentávamos entrar
no mundo da música.

Estava na moda.

Vi muitos concertos excelentes
no Troubadour.

TROUBADOUR APRESENTA CAROLE KING

Assisti à estreia americana
do Elton John, em 1970.

Quem era alguém, na altura,
tocava no Troubadour.

E claro, a Linda, que ainda é
uma das minhas vozes preferidas de sempre.

O Troubadour é realmente responsável
por toda a cena musical.

Tudo o que consegui foi por...

... atuar no palco ou no bar, sabem?

Tinha começado a ser agente da Linda
e a Linda ia ser uma estrela.

AGENTE

Tinha uma voz enorme.

Ninguém na sala
queria saber de outra coisa.

Uma noite, estávamos no Troubadour
e o John Boylan veio ter comigo...

Era o agente da Linda Ronstadt.

Disse: “Vou levar a Linda em digressão.
Precisamos de quem saiba cantar.

Queres tocar guitarra e cantar?”

Propus-lhe 250 dólares por semana
e ele aceitou.

Fui ter com ele e disse...

“Podes dar-me já
uma parte desse dinheiro?”

Acho que me deu 50 dólares.

E depois descobri o Don,
de uma banda chamada Shiloh.

Ouvi-o tocar no Troubadour.

Estava a procurar trabalho
e o Glenn apresentou-me ao John Boylan.

Fiz a audição na casinha dele,
em Laurel Canyon.

Eu tinha ouvido o disco dela
centenas de vezes

e conhecia as canções
de trás para a frente.

E acho que passei na audição,
porque consegui o trabalho.

Aprendi muito com a Linda. Foi uma
experiência muito formativa para mim.

E ela aguentava-se com os rapazes.

Bebia tequila connosco e aguentava-se.

Era muito improvisado.

Tínhamos uma carrinha,
púnhamos o material na bagageira.

Entrávamos, conduzíamos
até à universidade e tocávamos lá.

Para cortar custos, os elementos da banda
tinham de partilhar quarto.

Eu e o Glenn partilhávamos quarto.

- O que é que comeram?
- Comi uma tigela de cereais.

Senhoras e senhores, Linda Ronstadt.

Parece que apanho as pessoas
numa fase crítica do seu desenvolvimento

e elas ganham traquejo.

Nada faz ganhar traquejo
como tocar todas as noites.

A Linda e o John Boylan gostavam muito
da forma como eu e o Henley tocávamos,

gostavam muito de como eu cantava com ela
e começaram a ter a ideia

de formar um supergrupo
para apoiar a Linda,

os melhores músicos de country rock,
e nós íamos fazer parte dele.

Lembro-me de falar com o Don
e o Don disse:

“Preferia estar numa banda só contigo.”

E eu disse: “Eu também.
Preferia estar numa banda contigo.”

Por isso,
fomos ter com a Linda e dissemos:

“Agradecemos-te
tudo o que fizeste por nós,

foi muito importante
e adoramos tocar contigo,

mas gostávamos de ter a nossa banda.”

Acho que muitas pessoas
ficariam chateadas com isso e diriam:

“Espera aí, eu trouxe-te aqui.

Dei-te um trabalho
quando não conseguias pagar

as tuas bebidas no bar do Troubadour
e agora queres sair?”

A Linda foi muito amável
quanto àquilo tudo,

como o John Boylan.

Não ficaram nada ressentidos
ou ofendidos. Foram impecáveis.

Aliás, eles apoiaram-nos.

Começaram a falar em formar uma banda

e dissemos-lhes
que deviam ir buscar o Bernie Leadon.

Pertenci a várias bandas, em LA.
Conheci a Linda.

Depois, trabalhei no Dillard & Clark,
o Doug Dillard, o tocador de banjo,

e o Gene Clark, dos Byrds.

Estava numa ramificação
do mundo dos Byrds.

Isso originou um convite
dos Burrito Brothers, do Chris Hillman,

para me juntar a eles
no segundo disco, da A&M.

Ainda estava nos Burritos,
mas tinham ficado sem o Gram Parsons

e tinham mudado,
o que me fez perder o interesse.

O Bernie era um tocador de banjo
muito talentoso

e também sabia tocar guitarra
no que chamávamos o estilo bendy lick.

Foi começado
por um tipo chamado Clarence White.

Depois, o Glenn falou-me
de um tipo chamado Randy Meisner,

que estivera numa banda chamada Poco.

O Randy conseguia cantar bem agudo
e tocava baixo.

O Glenn perguntou-me se estava interessado
em começar um grupo com ele.

Ele tinha o Henley e o Bernie.

Esses foram os primeiros Eagles.

O plano era eu e o Glenn
tentarmos recrutar o Bernie e o Randy,

para depois
todos irmos ter com o David Geffen

e ver se ele nos dava
um contrato para gravarmos.

Nos anos 70, a Asylum Records
era considerada o som de LA.

Joni Mitchell,
Crosby, Stills, Nash & Young,

Jackson Browne.

David Geffen, que fundou a Asylum,
é o nosso patrono, sabe?

Um Médici... Um Médici do rock and roll.

É uma empresa virada para os artistas
e nós apoiamos o que eles querem fazer.

Se acreditamos neles,
apoiamo-los, consigam ou não vingar.

O Jackson era a nossa ligação
ao David Geffen.

Foi o primeiro a assinar pela nova
editora do Geffen, a Asylum Records.

Entrámos no gabinete do Geffen
e dissemos: “Aqui estamos.”

O Bernie Leadon teve a audácia de dizer
ao Geffen: “Então, querem-nos ou não?”

Estavam ansiosos por assinar comigo.

Acho que eram muito ambiciosos,
em particular o Glenn.

O Glenn queria ter uma banda de sucesso.
Adorava a maneira como o Don cantava.

Todos tínhamos esperança nela.

De repente, tínhamos assinado
com a editora do Geffen.

Mandaram-nos de volta à estaca zero.

Disseram: “Têm de ensaiar mais.
Precisam de escrever algumas canções.

Ainda não estão preparados para gravar.”

E mandaram-nos para Aspen, no Colorado.
Podia ter sido pior.

Havia lá gente muito mais pedrada
do que alguma vez nós estivéramos.

Na altura, era uma cidade
muito aberta, sem lei.

Tocámos num clube chamado Gallery,
que ficava no sopé das Montanhas de Aspen.

Não tínhamos um grande catálogo
de canções nossas.

Ainda estávamos a começar.

Precisávamos de aprender a tocar juntos,
como uma banda, e aprendemos.

Depois, precisámos de fazer um disco.
Quem é que vamos buscar, para o produzir?

Queríamos o melhor que pudéssemos ter.

O Glenn Frey lembrou-se do Glyn Johns.

Glyn Johns era um nome que estava sempre
a aparecer nos discos que adorávamos.

A primeira vez que os ouvi foi em Aspen.

Não fiquei impressionado, sinceramente.

Achei que estavam confundidos.

PRODUTOR

O Glenn Frey queria estar
numa banda de rock and roll

e o Bernie Leadon, por outro lado,

era um dos melhores músicos acústicos...
dos melhores músicos country.

E havia alguma confusão.

Não percebi
porque é que havia tantas expetativas.

Por isso, recusei.

Ficámos: “Bolas, o que”...

Não era o que esperávamos.

Ele trabalhara com os Led Zeppelin,
The Who, os Stones.

Ele vinha daí e disse logo:

“Vocês não são isso.”

Nem sempre é fácil identificar
o que se distingue num grupo,

se os formos ver tocar.

Podemos vê-los numa noite má.
Pode não ser a melhor forma de o fazer.

Por isso, pensei: “Bem, o melhor a fazer
era ir vê-los num ambiente de ensaio,

onde pudéssemos conversar,
eles tocassem para mim

e eu pudesse interrompê-los.”

Eles tocaram o que tinham tocado em Aspen
e soava praticamente igual.

Eu pensei:
“Não percebo. Ainda não percebo.”

Então, decidimos parar para almoçar

e, ao sairmos, alguém disse:

“Porque não tocamos aquela balada?”

E eu fui completamente surpreendido.

Estava ali, era aquele som.

Uma mistura de vozes extraordinária,
uma harmonia maravilhosa.

Espantoso.

E foi assim. Aceitei sem reservas.

Mas o Glyn Johns não queria vir
para os Estados Unidos trabalhar.

Queria trabalhar em Londres,
nos estúdios que ele conhecia.

Por isso, mandaram-nos para Inglaterra.

Acho que nenhum de nós, exceto o Bernie,
tinha saído do país.

Por isso, para nós foi como irmos à Lua.

Eu estava entusiasmado.

Estava a pensar:

“Vou ao país dos Beatles,
com o Glyn Johns.

Vou gravar no mesmo estúdio onde
os Led Zeppelin fizeram a ‘Rock and Roll’.

Meu Deus, mal posso esperar.”

Gravámos nos famosos Olympic Studios,

onde foram feitos muitos discos lendários.

O Glyn Johns... ele tinha um estilo
de gravação que era muito orgânico.

Limitava-se a pôr alguns microfones
na sala e começávamos.

Em vez de, por exemplo,
pôr um microfone em cada tambor,

punha três microfones na bateria.

Estava habituado a gravar pessoas
como o John Bonham, dos Led Zeppelin.

Eu disse: “Quero o bombo mais alto.”

Ele disse: “Se queres mais alto,
bate com mais força.”

Batia o mais que podia, mas não conseguia
bater com tanta força como o John Bonham.

Ele tinha algumas regras
que não eram do meu agrado,

nem do agrado de alguns dos outros.

Não nos podíamos pedrar no estúdio,
não podíamos beber no estúdio.

Concordei totalmente com o Glyn Johns,

em relação às drogas
e ao álcool no estúdio,

para conseguirmos trabalhar mais e melhor.

Quando tive a oportunidade
de produzir e de estar ao comando,

decidi que ia deixar de permitir isso.

Alguém me disse

que era sempre eu que conduzia,
nos anos 60 e no início dos anos 70.

O Glyn trabalhara com os Rolling Stones
numa altura em que iam para o estúdio

e não faziam nada
exceto esperar pelo Keith,

que ia para a cave tocar a sua guitarra,
até inventar um riff.

Por isso, o Glyn ficava impaciente.

Os Stones tinham-no esgotado,

nisso de pedrarem-se no estúdio
e esperar que algo aconteça.

Vamos lá. Estamos a gravar.

Um, dois, três.

Houve três singles populares
no primeiro disco.

“Peaceful Easy Feeling”
foi escrita pelo Jack Tempchin,

que é nosso amigo e colaborador frequente.

“Peaceful Easy Feeling”
capta o período, capta esta atitude.

COMPOSITOR

Conseguimos sentir
o vento do deserto a soprar.

O segundo êxito foi a “Witchy Woman,”
que escrevi com o Bernie.

“Witchy Woman” começou por ser
uma sequência de guitarras.

Estávamos a improvisar, um dia,
e todos estavam a gostar.

E o Henley apareceu
no dia seguinte com a letra.

Na altura em que os Eagles
estavam na estrada com o primeiro álbum,

tínhamos acabado de viver os anos 60,
o Movimento dos Direitos Civis,

1968, todos os assassinatos,
todos os motins.

A Guerra do Vietname ainda decorria.

Nixon, Watergate.

Agradeço esse tipo de escrutínio.

Acho que parte do motivo por que
os Eagles tiveram o sucesso que tiveram

foi porque o país e as pessoas,
os jovens, precisavam de sentir

que as coisas estavam bem.

E apareceu aquela canção, “Take It Easy”.

O Jackson tinha uma canção
chamada “Take It Easy”.

Não conseguia acabar a canção.

Estava parado no segundo verso.

Tinha “Estou de pé numa esquina
em Winslow, Arizona.”

E eu completei-a: “É tão bom ver,

é uma miúda, Senhor, num Ford,
a abrandar para olhar para mim.”

Miúda, Senhor, Ford... Toda a redenção.

Miúdas, carros e a redenção,
tudo numa só frase.

É muito “caprichocoso”.

Sabem, “caprichoso”? Caprichoso.

Ele também é “caprichocoso”.

Muito bem!

Falaram ao Stephen Stills dos Eagles

e a resposta dele foi:
“Eles queriam ser nós.”

Na altura de fazer as capas dos discos,

sugeriram que usássemos
o Gary Burden e o Henry Diltz.

Tinham feito a primeira capa
do Crosby, Stills & Nash

e algumas coisas para a Joni.

Lembro-me melhor da dos Mamas and Papas.

Estão todos sentados na banheira.

Era uma das capas deles.

Esses eram os tipos fixes,
para trabalharem no nosso disco.

O Gary Burden tinha cerca de 40 anos,

barba grande, cabelo comprido,
grisalho e ondulado, olhos muito azuis.

O Henry era uma espécie
de fotógrafo mágico e não invasivo.

Para os Eagles,
foram os espíritos do peiote.

FOTÓGRAFO

Os Índios Americanos comiam peiote
e tinham experiências muito espirituais.

Podiam encontrar o seu totem animal
ou obter a sua busca de vida.

O meu método sempre foi
tirar as bandas da sua zona de conforto.

ARTISTA

Afastá-los das namoradas, dos telefones,

de tudo, e tê-los sob o meu controlo,

para que as coisas
acontecessem sem interferências.

Por isso, fazíamos viagens.

Como este plano surgiu, concretamente...
Hoje, nem sei o que pensar,

mas o plano era este.

Íamos todos para o Troubadour
e ficávamos lá até à hora de fechar.

Depois, conduzíamos até ao Joshua Tree.

Tínhamos um saco de botões de peiote,
frutos secos,

alguma tequila, alguma água e cobertores.

E nós os sete fomos para o Joshua Tree.

Devemos ter chegado lá
por volta das 4h30 da manhã,

estacionámos num sítio especial,
que não sei como encontrámos, no escuro.

Cada um tirou um botão de peiote,
meteu-o na boca

e começou a andar até ao sítio
onde tínhamos combinado ir.

Quando estávamos
a chegar ao local do acampamento,

a preparar a fogueira
e a fazer chá de peiote,

estavam todos a mascar os primeiros botões

e a droga começou a fazer efeito
enquanto o sol nascia.

Acho que todos ficaram mais pedrados
do que imaginaram ser possível

e isso foi uma coisa boa.

Nós pretendíamos estar na vida
mais profundamente, melhor,

mais e entregarmo-nos.

Tive de ir à casa de banho.
Por isso, deixei o acampamento...

... e ouvi o pessoal gritar,
do acampamento: “Águia! Águia!”

Olhei para cima
e estava a pairar sobre mim.

Uma envergadura enorme.

Eu estava atrapalhado
para vestir as calças,

escorreguei, caí,

e o pássaro como que diz: “Eagles?

Não me parece.”

Acho que as imagens da capa
do primeiro álbum marcaram o tom

para o que os Eagles são, visualmente.

O Gary concebeu a capa do álbum
para se desdobrar num cartaz.

Em baixo, temos os Eagles
à volta da fogueira.

Depois, em cima, temos o céu
e a águia lá em cima.

Mas o David Geffen achou que era confuso
e, sem nos consultar, ao Gary, aos Eagles

ou quem quer que seja, disse-lhes:
“Fechem-no com cola.”

Assim, depois de o colarem,
ficámos com este álbum, frente e verso.

Quando o abríamos,
ficava de pernas para o ar,

o que não fazia qualquer sentido.

“‘TAKE IT EASY’ DOS EAGLES
É O MELHOR SINGLE DE ROCK

LANÇADO ESTE ANO.”

O sucesso do primeiro álbum
assustou-nos bastante.

Porquê eu e não um tipo qualquer da rua?

Porquê eu e não alguns amigos meus,
que são tão bons como eu?

Porque aconteceu comigo e não com eles?

Não sei.

O sucesso pode ser tão desconcertante
e assustador como o fracasso,

especialmente quando temos dúvidas
em relação ao nosso valor e capacidades.

Chegou a altura de fazermos outro álbum.

Eu e o Don decidimos tentar compor
algumas canções juntos.

Eu estava em Aqua Vista.

Eu vivia no sofá.
Estava deitado a tocar guitarra

e comecei a...

Pensei: “Isto é porreiro,
do tipo Roy Orbison ou mexicano.

Sim, gosto disto.”

E mostrei-lhe este riff de guitarra.

Disse: “Devíamos fazer
alguma coisa com isto.”

Foi em canções como “Desperado”
e “Tequila Sunrise”

que eu e o Glenn começámos a colaborar,

e foi quando nos tornámos
uma equipa a compor.

No início desse ano, alguém dera ao
Jackson Browne o “Livro dos Pistoleiros”.

O ÁLBUM DOS PISTOLEIROS

Tinha todos os grandes grupos
de fora-da-lei... Frank e Jesse,

o Bando Doolin-Dalton.

Todos estávamos fascinados
por aqueles tipos

e pensámos que daria
uma excelente analogia.

Por exemplo, vivíamos
fora das leis da normalidade.

Também, normalmente...
Nos discos e nos assaltos a bancos,

costumávamos ouvir falar destes tipos
antes de os vermos.

PROCURADO - JESSE JAMES

Tinham cartazes de procurados,
para as pessoas verem.

PROCURADO - BANDO DALTON

EAGLES EM DIGRESSÃO

Parecia haver algum paralelo.

Nós não éramos como os fora-da-lei

mas acho que eles tinham
as suas características nobres.

Começámos a falar sobre isso.
“Nós devíamos fazer

um álbum só sobre rebeldes.”

Começámos este álbum dos fora-da-lei,

tínhamos oito canções terminadas
e precisávamos de mais duas.

O Randy teve a ideia
de como ele se tornou fora-da-lei

e guitarrista.

Eu comecei-a,
que era o que costumava acontecer.

Fazia um ou dois versos, ficava por ali
e eles preenchiam os espaços.

Ninguém esperava
que fosse um álbum conceptual

com música western de cowboys.

O Don Henley era do Texas.
Ele era um cowboy.

O Glenn era de Detroit.
Ele queria ser cowboy.

Como sabia que todos eles
tinham um pouco de cowboy neles,

levei-os à Western Costume e disse apenas:
“Escolham a vossa personagem.”

A premissa deles era que,
se tivessem vivido 100 anos antes,

por volta de 1872,
provavelmente, teriam sido pistoleiros.

Vão disparar na direção
deste edifício aqui.

Jackson, JD, Boyd,
têm de estar mais juntos.

Preparados?

Um, dois, três!

E disparámos tanta pólvora seca
que ficou uma nuvem de fumo

sobre aquela cidade do Oeste
e apareceram os bombeiros,

porque pensaram que havia um incêndio.

Continuem a disparar!

Éramos só um grupo de miúdos,
estávamos só a brincar.

A fotografia que está no verso do álbum...
ela contém muita verdade.

Todos os agentes, gestores
e pessoal de digressão,

todos os que não tocavam estão de pé,
vivos, com distintivos e armas.

E os quatro Eagles da altura,
eu e o Jackson estamos mortos,

atados como costumavam fazer,
quando apanhavam os fora-da-lei.

Eles expunham-nos de pé.

As pessoas nunca se cansam de olhar
para o cadáver de um bandido.

Todos sentimos, enquanto o fazíamos
e quando foi concluído,

que era outro disco
realmente notável da banda.

Era realmente extraordinário.

Eu e a banda estávamos
muito contentes com ele.

Eles carregaram-me
para fora da sala de controlo.

Carregaram a minha cadeira
para fora da sala.

O Desperado sai e é um fracasso.

O Jerry Greenberg era vice-presidente
da Atlantic Records.

Eles estavam entusiasmados
por terem o segundo álbum dos Eagles.

Passámos-lhe o Desperado e ele disse:

“Isso é, sim, é agradável,
é bom, é agradável,”

para depois se virar e dizer:
“Céus, fizeram um disco de cowboys.”

Senti-me extremamente lisonjeado
por a Linda ter gravado a “Desperado”.

Foi ela que popularizou a canção.

A versão dela era muito pungente e bonita.

Há muitos artigos e outras coisas
que me identificam com o som de LA.

Sou eu, o Jackson Browne e os Eagles.

Todos nós estamos sempre a procurar
outras influências musicais.

O chamado som do sul da Califórnia
estava em desenvolvimento.

Era novidade, era diferente, era único.

Era uma amálgama,

as pessoas vinham de todo o país
para viverem o seu sonho...

Atores, músicos, aspirantes
a gestores e a agentes, como eu.

GESTOR DOS EAGLES

Peguei no telefone
e liguei ao David Geffen,

que estava a começar a Asylum Records.

Resumindo, fiquei a trabalhar
como gestor na Asylum.

Estava intrigado.

Queria saber mais dos Eagles
e conhecê-los, porque era um fã.

Emergências.

Recebi uma chamada.

Era o Glenn Frey.

“Precisamos de dinheiro para o Natal.
Podes agendar concertos?”

Agendei alguns concertos.

Então, meti-me num avião
e fui conhecê-los.

Para começar, o concerto foi fantástico.

O público não tinha comparação com
o que vira um ano ou um ano e meio antes.

Boa noite,
bem-vindos à versão de Portland de...

Águia Aberta.

Esta noite, o promotor deu-nos pauzinhos.

Acho que nunca demos entrada num hotel.

Saímos de lá para uma festa
de uma república de estudantes.

Uma coisa levou à outra,
e nunca tinha visto nada assim.

Não nos davam bebidas.

Tentámos que nos dessem bebidas,
mas fizeram asneira.

Ainda vamos pegar fogo àquilo, não sei.

Acho que não nos deitámos.
Era a Eagle-mania.

Depois, partimos para Inglaterra para
gravar o On the Border com o Glyn Johns.

LONDRES, 1973

Eram muito recetivos a serem produzidos.

Como é compreensível, isso mudou.

Começaram a ter mais opiniões
e a serem menos inseguros.

Queríamos tocar rock and roll,

ou pelo menos uma versão
mais rock and roll de música country,

e o Glyn Johns era da opinião
de que não éramos capazes de o fazer.

Acho que ele fora bombardeado por rock
and roll alto e agressivo durante anos.

Naquela fase da sua vida,
ele queria pessoas suaves e música suave

e nós não estávamos propriamente...

... na mesma fase da vida.

O Frey tomou mais as rédeas.

Ele tinha o desejo de ser algo

que eu sentia que eles
não eram capazes de fazer.

Ele e o Glenn Frey
eram como água e azeite.

Chocavam frequentemente.

No estúdio, o Glyn Johns
era, no fundo, um precetor.

Ele empurrava, empurrava,
empurrava, percebem?

E depois dizia:
“Pronto, já está bom. Vamos avançar.”

“Não são uma banda de rock and roll.

The Who é uma banda de rock and roll
e vocês não são isso.”

Depois de cada um desses discos,
a banda passara-se e dissera:

“Cometemos um grande erro.
O Glyn Johns fez asneira.”

Nós tínhamos conversado.

O Desperado não tivera
tanto êxito como o primeiro álbum.

Nenhum deles estava contente
com o som do disco.

Queríamos contribuir mais para a forma
como os nossos álbuns eram feitos.

Queríamos contribuir mais
para o processo de gravação.

Eu e o Don achávamos
que as vozes eram demasiado húmidas.

Tinham demasiado eco.

E ele disse: “Desculpem, é o meu eco.

É a minha marca, é o meu eco. Isto fica.

Não me dizem o que fazer.”

Precisávamos de fazer uma mudança.

Fui para a Marinha no pico da Guerra Fria.

Uma das coisas que eles faziam mais
era procurar submarinos russos.

ENGENHEIRO DE GRAVAÇÃO

Isso faz-se usando sonares.

Quando saí,
tinha aprendido muito sobre eletrónica.

E arranjei trabalho num estúdio
de gravação, aqui em Nova Iorque.

A primeira sessão a que assisti,
no primeiro ou segundo dia,

foi uma demo da Carole King.

Ela sentou-se e tocou piano,
e eu pensei: “Ena, isto é divertido.

Estas pessoas estão a divertir-se.”

Fui progredindo na minha carreira

e, depois de ser engenheiro de gravação
durante quatro ou cinco anos,

pensei: “Consigo produzir melhor do que
alguns destes tipos para quem trabalho.”

Na altura, estava a gerir o Joe Walsh
e passei-lhes música do Walsh...

... que eu pensava ser um exemplo
de como podia ser mais ousada.

Eu e o Joe
tínhamos acabado um álbum chamado

The Smoker You Drink, the Player You Get.

Eles ouviram aquilo e disseram:
“É assim que queremos soar.”

O Irving marcou-nos
uma reunião com o Bill Szymczyk.

Na verdade, só lhe
queríamos fazer duas perguntas...

Importas-te que tenhamos algo a dizer
quanto à quantidade de eco nas vozes?

E queríamos alguém
que pusesse um microfone

em todos os tambores,
para termos mais controlo na mistura.

Ele respondeu que sim às perguntas
e soubemos que era o tipo ideal para nós.

Eu disse: “Está bem, com uma condição.

Tenho de telefonar ao Glyn
e assegurar-me de que ele não se importa.”

Telefonei-lhe e eu disse:
“Glyn, os Eagles querem que os produza.”

“Antes tu que eu, amigo.”

No fundo, era o que eu sentia.

Tinha sido um final bastante desagradável.

Bem, lá se acabou a terra dos Beatles
com o Glyn Johns.

Vamos dar uma grande salva de palmas,
nesta tarde de calor, para os Eagles.

Com o terceiro álbum,

estava a sentir algumas dificuldades
em comunicar com a banda

e comecei a pensar
que, a dada altura, devia sair.

Ainda tinham um desejo não concretizado

de serem uma banda rock popular
e não apenas uma banda de vozes.

Mas acho que queriam seguir
numa direção mais agressiva.

O Bernie Leadon
era um guitarrista com bases de country

mas, sempre que eu queria fazer
uma canção de rock and roll...

... ele era o guitarrista principal.

Sempre que queríamos tocar
algo country, que o Bernie cantava,

eu devia ser o guitarrista principal
e estava longe de ser um músico country.

Sentia sempre que precisávamos
de um terceiro guitarrista.

Conhecemos um amigo do Bernie,
um tipo chamado Don Felder.

Tocámos em Boston
e ele foi visitar o Bernie.

Estávamos a tocar no camarim

e aquele tipo
andava por todo o braço da guitarra.

Ele trouxe uma grande técnica.

Nós chamávamos-lhe Dedos, Felder Dedos,
porque era um guitarrista incrível.

Fizemos aquela sessão.
Acho que durou três horas.

Depois, arrumei as coisas e fui para casa,
pensando apenas que fora mais uma sessão.

No dia seguinte, o Glenn ligou-me
a perguntar se queria entrar para a banda.

Eu respondi: “Claro.”

- Pronto, vamos...
- Estou no céu.

- Vamos fazer outra.
- Vá, faz isso bem!

ESTÚDIOS CRITERIA, 1974

As provocações entre takes eram delirantes

e eu mantive as gravações,
para apanhar estas parvoíces.

Éramos jovens com hormonas
enraivecidas e algo a provar.

No contexto dos tempos e da profissão,

a forma como nos comportámos
não foi extraordinária.

O impulso criativo
vem do lado negro da personalidade.

Por isso, saímo-nos bem.

Fizemos muitas coisas estúpidas
e dissemos muitas coisas estúpidas.

Eram os anos 70.

Havia drogas por todo o lado.

O DR. DISCO DIZ: “UMMM, UMMM...”

Aí têm.

Bem, a mágoa da psoríase

volta a cair
sobre a experiência adolescente,

e vemo-nos mais tarde.

Vemo-nos no concerto esta noite.

A questão era, quem conseguia aguentar?

Quem conseguia funcionar?
Quem ia aparecer?

Havia sempre raparigas.

Havia muitas oportunidades, na estrada,

para nos entretermos,
com uma coisa ou outra.

Por isso, começámos a aperfeiçoar
as festas pós-concertos

e inventámos algo
chamado o terceiro encore.

Fazíamos dois encores no concerto
e o terceiro era a festa.

Todos na banda e na equipa
tinham um conjunto de crachás

e só dizíamos o seguinte: “Nada de
malucos ou de pessoal esquisito, sim?

Se vão dar um crachá a alguém,
que valha a pena.”

É demais.

Estão a acontecer cenas maradas,
senhoras e senhores.

Um membro do movimento intestinal pop
do Andy Wartolas

acaba de tentar entrar na nossa festa.

- O que...
- Bem-vindo ao Águia Aberta de Pittsburgh.

Vamos perguntar a estas miúdas porque
é que acham que têm de sair às duas.

Para já, ele cheira a cerveja.

Enchíamos as banheiras de Budweiser e
dávamos uma festa depois de cada concerto.

- O teu nome, por favor.
- Tammy Farley.

Tammy, Tammy, Tammy... Fogelberg!

Temos aqui a Karen, que tem 20 anos.

- Correto?
- Sim.

Como te chamas, querida?

Que se foda, meu.

Perdão? Que se foda.
Ela chama-se que se foda, meu.

Quero falar sobre sexo e drogas.

Quem quer começar?

Tenho muito a dizer
sobre os dois assuntos.

O sexo e as drogas apareceram
como um grande pacote nos anos 60.

Parecia que toda a gente...
A revolução sexual e as drogas

devem ter começado juntas.

Não começaram?

Eu e o Don tentámos manter relações,
enquanto éramos membros dos Eagles,

mas era como se os Eagles
estragassem tudo.

Quando os Eagles tiveram sucesso,
desafiámos todas as regras.

Como quando o David Geffen deixou a Asylum
Records e vendeu tudo à Warner Brothers.

E começou o seu novo império.

Sejamos francos.

Quando assinámos aquele contrato,
éramos idiotas.

Não sabíamos nada sobre o negócio.

Éramos mal representados legalmente,
ninguém olhava por nós.

Lembrem-se, as bandas
nunca recebem royalties dos discos.

Ganham dinheiro com as digressões,
mas também recebem os direitos.

Logo no início, uma das coisas
que o Geffen fez, que achei ótimo,

foi que fizemos
uma empresa para os direitos da banda.

Todo o dinheiro da banda ia para aí.

O problema era que o Geffen
tinha a outra metade.

Metade dos direitos dos Eagles,
metade dos meus direitos,

metade dos de todos os artistas
que assinara foi para a Warner Brothers...

... mas ele conseguiu
que me devolvessem os meus.

O Jackson levara-me aos Eagles.

Ele levara-me a muitos artistas
e eu senti que lhe devia alguma coisa.

E isso, não é de admirar,

não era algo
que fizesse sentido aos Eagles.

Há alguma ira, sabem? Do género...

“Mas que raio?

Nós não recebemos
os nossos direitos de volta.”

Havia a questão dos direitos e o facto

de os gestores e os advogados
serem todos os mesmos.

Se houvesse um conflito, quando surgisse
um problema, de que lado estariam?

Ficamos a sentir que somos carne.

Começou como uma aventura
tão pessoal e afetuosa,

com o Sr. Geffen a dizer:
“Eu vou protegê-los.

É por isso que vou chamar
à minha editora ‘Asylum’.

Vai ser um santuário
para os verdadeiros artistas.”

Uma vez, ele disse ao Irving Azoff:

“Irving, este seria um excelente negócio,
se não fossem os artistas.”

O Irving foi quem
realmente acreditou em nós,

quem eu pensei que nos pudesse ajudar.

Contratei um advogado,
que consultei depois de dizer

que os Eagles
queriam os direitos de volta,

o que obviamente recusaram.

Ele estabeleceu um limite
e declarou guerra

e eu senti, para a minha sobrevivência
como gestor deles,

que precisava de provar-lhes que não
tinha medo do Geffen e ia defender-me.

O processo foi apresentado
em último recurso.

Acho que o David não gostou
de ler o seu nome num processo.

Achei que tinham sido
incrivelmente ingratos

e que deturparam os factos, mas tudo bem.

Acabámos por chegar a acordo
fora do tribunal e não demorou muito.

Ele só queria livrar-se de nós.

Este é o nosso novo contrato.

É só papel.

Então, partimos para destino desconhecido
com o Irving Azoff ao comando.

Este jogo de cartas chama-se Eagle Poker.

É uma variação do Red Dog.

Inventei-o em Detroit, Michigan,
em 1947...

... um ano antes de nascer.

Éramos grandes jogadores.
Estávamos sempre a jogar póquer.

Caramba.

Não me deviam ter dado dinheiro.

Então, decidimos ir às Bahamas jogar.

Todos menos o Don levavam drogas.

Eu tinha umas quatro ganzas num saco,
metido numa meia, na minha bota de cowboy.

Durkin, o piloto, tinha uma ganza.

O Irving tinha cerca de 30 Valiuns
numa embalagem de açúcar.

Havia lá dois oficiais da alfândega

que nos pediram para recolhermos
as malas e nos aproximarmos.

Queriam revistar-nos,
porque estávamos medonhos.

Tínhamos os cabelos compridos,
remendos nas calças,

barbas e não tínhamos dormido.

Eu estava a passar-me.

O Bernie estava a passar-se.
O Irving estava a passar-se.

- O Henley estava chateado.
- Não me toques.

Bem, o tipo começa
por nos meter a todos numa sala

e começa a revistar-nos, um a um.

O meu maior medo era ficar fechado
numa cela com o Bernie Leadon.

Nesta altura, o Irving intervém,

leva um dos tipos
da alfândega para um dos lados

e tem uma conversa com ele.

Ainda hoje não tenho a certeza
do que o Irving lhe disse.

Quando dei por isso,
tinham-nos deixado passar sem problemas.

Foi algo milagroso, sinceramente.

Porque pensei
que íamos mesmo acabar na prisão.

Foi pura sorte, que o fulano tenha
acreditado e não os tenha revistado.

Foi então que decidi que o Irving Azoff
era o melhor gestor de rock and roll

e que nunca faria nada
sem o ter ao meu lado.

Eu tinha o único lugar
do combate para o título...

Eu ficava sentado lá, sabem,

quando diziam uma letra
e depois ouvia uma canção.

Vi o processo criativo de muitas pessoas,

mas nunca vi da forma
como tudo se conjugava, com eles.

Lembro-me de ver
escreverem a “Lyin’ Eyes”.

O Glenn tinha jeito
para arranjar uma frase, sabem?

Ele tinha escrito uma espécie de melodia
e estavam sentados no Tana’s, uma noite,

a olhar para uma miúda nova
com um tipo mais velho, no bar,

e o Glenn disse:
“Olhem para aqueles olhos mentirosos.”

Assim do nada. Aí está a canção.

Era sobre aquelas miúdas
que iam ao Dan Tana’s muito bonitas,

ficavam lá das oito à meia-noite,
jantavam e bebiam com o pessoal do rock

e depois iam para casa,
porque eram mulheres reservadas.

Quando estávamos a fazer
o álbum One of These Nights,

já tínhamos gravado três álbuns

e as únicas pessoas que tinham cantado
nos êxitos eram eu e o Don.

E o Randy sempre sentira
que também era um vocalista principal.

E eu sentia o mesmo.
Eu gostava da voz dele.

Ele trouxe o início
da “Take It to the Limit”,

que se tornou o primeiro
single número um dos Eagles.

A frase “Take it to the limit”
era sobre continuar a tentar

antes de chegarmos
a um ponto da vida em que sentimos

que fizemos e vimos tudo.

Sabem, como quando envelhecemos.

É ir aos limites mais uma vez,
todos os dias,

e continuar a querer mais.

Essa era a frase e, a partir daí,
a canção tomou um rumo diferente.

Acho que todos nos Eagles
fizemos o melhor que podíamos.

Têm de se lembrar de como éramos novos,

do facto de ninguém ter nada,
quando começámos,

e de termos tanta coisa à disposição.

Também estávamos sempre em digressão.

É muita coisa.

Para o Bernie, qualquer tipo de sucesso
queria dizer que nos tínhamos vendido.

Queria que continuássemos
uma banda desconhecida.

Tínhamos os nossos problemas com o Bernie
e ele tinha os seus problemas connosco.

Uma parte era ele
conseguir ter uma voz nos Eagles

e gravar as canções que ele queria,
da forma que ele queria.

Éramos cada vez mais uma banda de rock

e acho que o Bernie
estava cada vez menos contente com isso.

Ao ponto de, uma vez, termos
trabalhado toda a noite numa canção.

Era uma canção de rock

e estávamos sentados atrás da mesa,
no dia seguinte,

a ouvir as várias takes

e a tentar decidir
de qual gostávamos mais.

O Bernie não dissera nada.

Então, perguntei-lhe, sobre a mesa:
“Bernie, o que achas?”

Houve uma longa pausa,
ele levou-se, espreguiçou-se

e disse: “Acho que vou fazer surf.”

E foi-se embora.

Fiquei entre eles muitas vezes.
Às vezes, concordava com o Bernie

mas, na maioria das vezes,
concordava com o Glenn.

Eu e o Glenn queríamos
que a banda fosse um híbrido,

que abrangesse bluegrass,
country e rock and roll.

Havia uma parte do Bernie
que resistia muito a isso.

Pouco depois, tornou-se um grande problema
em particular entre o Bernie e o Glenn.

Por fim,
estávamos no Orange Bowl, em Miami.

Estávamos nos bastidores,
a conversar sobre...

... qual seria o próximo passo,
quais seriam os nossos planos,

e eu estava animado

e convicto do que precisávamos
de fazer a seguir.

O Bernie aparece, derrama
uma cerveja na minha cabeça e diz:

“Precisas de relaxar, meu.”

Não faço ideia, foi uma coisa espontânea.

Agora, eu levo
esse incidente muito a sério.

Foi uma atitude muito desrespeitosa.

Obviamente, a intenção era humilhá-lo

e é algo de que não me orgulho.

Mas ilustrou um ponto de rutura.

Nessa altura, fizemos alguns concertos
de abertura para os Rolling Stones

e o Irving geria o Joe Walsh.

O Joe Walsh era um genuíno
guitarrista de rock and roll.

Para alguns desses concertos,
só para os encores,

púnhamos o Joe Walsh numa caixa
e, ao voltarmos para fazer o encore,

empurrávamos a caixa

e, como a modelo que sai do bolo,
abríamos a mala das guitarras

e lá estava o Joe Walsh
com a sua Les Paul.

E ele saía da caixa, ligava-a

e os Eagles...
Nós tocávamos a “Rocky Mountain Way”.

Adorava a maneira como ele tocava.

Adorava o James Gang
quando estava a crescer, em Detroit.

Então, comecei a pensar:
“O Joe Walsh pelo Bernie Leadon.”

Pronto, as vozes não vão ser tão boas
mas nós vamos arrasar.

Acho que uma das coisas
que eu trouxe para a banda,

que foi boa para a banda,

foi aumentar o volume
quando tocávamos ao vivo,

fazer o pessoal mexer-se
mais um pouco, percebem?

Vá lá, DC, quero ouvi-los.

Fui a um concerto talvez oito meses depois

e a banda estava a interagir entre si
exatamente como fazia comigo em palco.

Só que, em vez de estar eu, estava o Walsh
e foi muito, muito estranho

estar a assistir
e não fazer parte daquilo.

Até saí desse concerto.

Foi do género: “Isto é demasiado bizarro.”

Então, ficámos com o Joe Walsh na banda.

Foi outra aventura, porque o Joe era
um grupo interessante de personalidades.

Façam o seguinte.
Se têm fogo-de-artifício,

guardem-no até chegarem a casa,
tranquem-se no roupeiro

e acendam tudo o que têm, está bem?

Obrigado, Joe.

Ele trouxe muita leveza
a tudo o que acontecia,

o que precisávamos, na altura.

Cara ou coroa?

Cara.

Então, chega aqui a tua cara.

Naqueles dias, não sabíamos
o que ele ia fazer a seguir.

Era divertido na maior parte do tempo,
embora não sempre.

Era divertido,
conforme o que tivéssemos bebido,

ver uma televisão
sair da varanda do 14º andar

e cair na piscina,
desde que ninguém se magoasse.

O Joe Walsh era o rei americano
da destruição de quartos.

Ele aprendera com alguns dos melhores.

Uma das coisas
mais assustadoras que me acontecera

foi que o Keith Moon
decidira que gostava de mim.

Todas as histórias
sobre o Keith Moon são verdade.

Aquele tipo era completamente doido

e nunca sabíamos o que vinha a seguir.

O Keith foi o meu mentor do caos,
de ir preso, das palhaçadas,

das partidas, de destruir quartos.

O REI DA CAUTELA DIZ: “ESPERO
QUE NÃO TE SINTAS COMO PARECES...”

Uma vez, demos-lhe uma serra elétrica
pelos anos, como piada.

Nesta fase, comíamos em restaurantes bons,

comprávamos vinhos caros
e ficávamos em excelentes hotéis.

Houve muitos hotéis
a que não nos deixaram voltar.

Estávamos em Chicago
e ficámos nas Astor Towers.

Em Chicago, aconteceu o seguinte.

Bateram à porta e entrou o John Belushi.

O John quis mostrar-me
os melhores restaurantes de Chicago.

Fomos ao restaurante e não nos deixavam
entrar, porque estávamos de jeans.

Ele deu uns 300 dólares
de suborno ao empregado

e mesmo assim não nos deixavam entrar.

E o John disse: “Eu sei o que fazer.”

Quando dei por mim,
estávamos de pé, no corredor,

ele pintou-me os jeans de preto
com um spray e eu pintei os dele,

voltámos e entrámos.

Sentámo-nos numas cadeiras no estilo
Rainha Ana, que tinham bordados,

e, quando nos levantámos,
estava tudo preto,

e os rabos das calças
tinham voltado a ser ganga.

Por isso, tivemos de sair
às arrecuas e depressa.

Mas foi o início de tudo.

Por isso...

... nessa noite, com muito regozijo...

... o Joe tentou bater o recorde mundial
de destruição de quartos.

Eu e o John fizemos 28 000 dólares
em danos no quarto.

O Glenn e o Don não aprovavam realmente
os estragos no quarto,

mas compreendiam.

Eles queriam respeito enquanto roqueiros
e o Joe trouxe esse respeito.

Eu estava sempre inseguro e assustado.

Por isso, escondia-me
atrás das minhas inseguranças com o humor.

Sentia uma admiração total
pelo Don e pelo Glenn.

Sentia-me intimidado pelo Don e pelo Glenn
porque eles cantavam tão bem

e escreviam coisas
que eu seria incapaz de escrever.

Depois de termos uma série
de sucessos com o One of These Nights,

ficámos sob todas as atenções.

Todos iam ouvir
o próximo disco que fizéssemos

e ter uma opinião.

Eu e o Don pensámos:
“Meu, isto tem de ser bom.”

Olha para aquilo.

Vai ser uma bela guitarra.

Felder, vês isto?

Quem afinou isto?

Bem, não tem pestana.

Com o Joe na banda comigo,
eu queria escrever alguma coisa,

musicalmente,
que se adequasse a dois guitarristas,

que pudesse desafiar-nos a tocar.

Estava sentado num sofá em Malibu,
numa casa arrendada que tinha na praia.

Estava a tocar viola
e surgiu esta introdução, esta progressão.

Continuei a tocá-la três ou quatro vezes.

Tinha um gravador de rolo antigo,

que rebobinei,
gravei a introdução dessa canção

e registei essa progressão,
fiz uma mistura com isso,

pu-la numa cassete com, não sei,

as outras 14 ou 15 peças de música
que tinha reunido.

Dei uma cópia da cassete ao Don
e outra ao Glenn.

O Don Felder mandava, a mim e ao Henley,
cassetes instrumentais, ideias de canções.

Noventa e cinco por cento delas
eram só licks de guitarra.

Íamos ouvir aquelas coisas e pensávamos:

“Onde é que cantamos?”

Quando eu e o Don estávamos a ouvir
uma das cassetes, surgiu uma canção

e ambos dissemos: “Isto é interessante.”

A música soava-me a algo como uma mistura

de música espanhola e reggae
e essa chamou-me logo a atenção.

Então, dedicámo-nos a escrever uma canção
com aquela progressão.

De certeza que foi ideia do Henley,
ter uma canção chamada “Hotel California”.

Acho que a composição de letras
do Henley e do Glenn chegara ao auge.

Eles tinham-se tornado
autênticos compositores.

Durante a gravação,
pensei que tínhamos algo ali.

Sabia que tínhamos algo ali.

Estávamos numa fase muito criativa

e por acaso o Bill Szymczyk
carregou no botão para gravar.

Graças a Deus.

Perguntaram-me um milhão de vezes:
“O que significa esta canção?”

Eu e o Don éramos adeptos
de significados escondidos e profundos.

Escrevíamos canções
e púnhamo-las cá fora, no mundo...

E talvez haja algo naquela canção
que seja apenas nosso,

que nunca consigam perceber.

Houve uma quantidade
de especulações absurdas

sobre essa canção ao longo dos anos.

Ela ganhou uma vida
ou uma mitologia próprias.

Era como o rumor da morte do Paul
ou “Quem era a morsa?”

Foi denunciada por evangélicos.

Fomos acusados
de todo o tipo de coisas estranhas,

como de sermos membros da Igreja de Satã.

As pessoas veem coisas
na capa do álbum, que não estão lá.

Coisas lunáticas.

A minha explicação simples
é que é uma canção sobre a viagem

da inocência à experiência.

É só isso.

Se o Felder
era tecnicamente muito, muito bom,

o Walsh trouxe-lhe espontaneidade

e os dois a tocar em conjunto
era simplesmente brilhante.

Por termos tanto respeito um pelo outro,

sempre houve alguma competição
entre mim e o Felder.

Sempre tentámos superar-nos
mutuamente, sabem?

E isso é muito saudável.

As canções ficaram sempre melhores
quando dissemos:

“Ai é? Ouve só isto.”

Chegámos ao fim, quando as guitarras
harmónicas estão a tocar juntas

e o Joe disse: “Devíamos fazer algo
que fosse do tipo ‘da-da-da, da-da-da.’”

O final da “Hotel California”

é um dos pontos altos
de toda a minha carreira musical.

Ter um single número um
com sete minutos era inédito.

A discográfica disse: “Têm de a cortar”

e todos dissemos:
“Não, é pegar ou largar.”

E eles pegaram.

Não fazíamos ideia de que aquela canção

viesse a afetar tantas pessoas
no planeta como afetou.

Obrigado.

O resto do álbum
desenvolveu-se à volta dessa canção.

Podemos dizer que, no geral,
é um álbum temático, conceptual.

Como o Desperado,

Hotel California foi a nossa reação
ao que nos estava a acontecer.

Em todos os álbuns que fizemos,

houve uma espécie de comentário
sobre a indústria da música

e sobre a cultura americana em geral.

O próprio hotel
pode ser visto como uma metáfora,

não apenas da criação do mito
que é o sul da Califórnia,

como a criação do mito
que é o sonho americano,

porque há uma fronteira ténue
entre o sonho americano

e o pesadelo americano.

Todas as canções que compusemos para
este álbum enquadram-se neste conceito.

Assim que o resto
do pessoal da banda percebeu

sobre o que era
a canção “Hotel California”,

tornou-se uma espécie de tema

e começaram a alterar a sua escrita
para se adaptar a ele.

Acho que os Eagles começaram a separar-se
nas gravações do Hotel California.

Havia tensões criativas,
mas havia sempre tensões sérias.

Quando fomos gravar o Hotel California,

se a canção não fosse suficientemente boa
para justificar o tempo

que lhe dedicámos no disco,
ela não entrava.

A perfeição não é um acidente.

O nosso objetivo era sermos
o melhor que pudéssemos ser.

Queríamos melhorar
como compositores e intérpretes

e trabalhámos nisso.

Eu e o Don sentimos
que agora não havia espaço para lastro

e o Don Felder, embora tenha muito talento
como guitarrista, não é um cantor.

O Felder queria compor mais, cantar mais,

e o Felder tinha exigido: “Vou cantar
duas canções no Hotel California.”

Todos éramos alfas

e éramos muito assertivos
e poderosos, à nossa maneira.

Podíamos trazer uma grande faixa
ao Don e ao Glenn

e estarmos muito entusiasmados.

Isto aconteceu ao Felder.

Escrevi a faixa do “Victim of Love”.

Ia ser a canção que se seguiria
ao disco Hotel California

e era para eu cantar.

Não me recordo de ter sido prometido
o que quer que fosse.

A “Victim of Love” não chegou à banda
como uma canção completa.

Era apenas outra progressão de cordas
que o Don Felder trouxera.

Não tinha título, letra ou melodia.

Eu, o Glenn e JD Souther sentámo-nos
e fizemos o que faltava.

Deixámos o Sr. Felder cantá-la.

Ele cantou-a dezenas de vezes
ao longo de uma semana,

uma e outra vez.

Mas não correspondia aos padrões da banda.

A “Victim of Love” tinha sido gravada
com o Felder como vocalista principal

e a minha tarefa era levar o Don Felder
a almoçar ou jantar

enquanto eles iam para o estúdio
e punham o Henley a cantá-la.

O Irving saiu comigo
e disse-me que todos na banda

pensavam que era melhor
que o Don a cantasse.

E foi algo difícil aceitar isso.

Senti que o Don
estava a tirar-me aquela canção.

Tinham-me prometido
uma canção no álbum seguinte.

Mas não havia discussão possível,
entre a minha voz e a do Don Henley.

Não havia discussão possível,
entre a voz de qualquer um da banda

e a do Don Henley.

A exigência do Felder
em cantar aquela canção era o equivalente

a eu exigir que fosse o guitarrista
principal na “Hotel California”.

Não fazia sentido.

Se analisarem
a minha participação vocal nos Eagles

ao longo dos anos 70,
eu cantei cada vez menos.

Foi intencional.

Tínhamos o Don Henley.

A posição do Don e do Glenn era:
“Isto é o melhor para os Eagles.”

E o Don Felder nunca se esqueceu disso.

Corre, corre!

Merda.

Isto é muito saudável,
promove sentimentos bons

entre... o pessoal, e impede-nos
de nos matarmos uns aos outros.

Onde está a minha luva?
Quem tem a minha luva?

Se gritarmos uns aos outros
no campo de baseball,

não teremos de gritar
uns aos outros quando trabalhamos.

Liberto todas as frustrações.

Que frustrações?

Não tenho feito sexo.

Tentamos sair e jogar softball com
o pessoal, quando temos um dia de folga.

Lá vai ela, lá vai ela.

Algo que ajude a libertar a tensão.

É o que eu faço, para não enlouquecer.

Como é que fazes
para não enlouqueceres, Joe?

Bem...

Eu digo-te, eu...

Na imprensa e nos média,

parecia que estávamos
constantemente em guerra

e não posso dizer
que tenha sido exatamente assim.

Estávamos a interagir
e todos éramos intensos.

Uma vez, o Glenn disse-me:

“Às vezes, fico maluco e peço desculpa.”

Olá, Joe.

Mas essa tensão estava muito ligada

ao agitar do fogo artístico.

Haver essa dinâmica era importante,
para fazer a música.

Estávamos nos ensaios
e, antes de começarmos a tocar,

o pessoal estava apenas a aquecer,

a ligar os amplificadores e assim,
ouvimos o Joe...

Sabem, e todos fizeram:

“O que tocaste? Toca outra vez.”

Era um exercício que eu fazia,
por uma questão de coordenação.

É como fazer assim.

Eu fiz aquilo para aquecer
e eles disseram: “Bem, o que é isso?”

Eu respondi: “É só uma coisa que eu tenho.

Aí têm.”

Esse é o lick.

Devíamos construir a canção à volta disso.

Ia à boleia num Corvette,
com um traficante de droga,

a caminho de um jogo de póquer.

E, quando dei por mim,
íamos a cerca de 150 km/h,

cheios de drogas.

A seguir, eu disse:
“Meu, o que estás a fazer?”

Ele olhou para mim, sorriu
e disse: “É a vida na via rápida.”

E eu pensei imediatamente:
“Aqui está o título de uma canção.”

Depois, lançaram os grandes êxitos.

Houve um período em que vendemos
um milhão de discos durante 18 meses.

É um facto pouco conhecido

que os Eagles tiveram o álbum
mais vendido do século XX.

Mas a indústria da música
nunca é sincera de boa vontade.

Nenhuma discográfica chegou a um artista
e disse: “Fizeste um excelente trabalho.

Vamos aumentar as tuas royalties.”

Por isso, criámos
a nossa empresa de promoção.

Criámos a nossa empresa de gestão.

Criámos a nossa agência de reservas.

Para quando quiseres.

Conseguimos um sucesso tal

que ultrapassava tudo
o que tínhamos imaginado...

... e o Randy tinha problemas com isso.

O Randy costumava ter dificuldades
em cantar a nota aguda

no final de “Take It to the Limit”.

Sim, eu sentia-me sempre com medo.

“E se não a cantar bem?”
Era uma nota bem aguda.

E, quando a música desvanecia,
ele aumentava o volume.

“O quê?”

O Randy conseguia fazer isso
mas se o obrigassem...

“Não, meu, eu”...

Obrigado.

Randy Meisner.

Ele ligava ao diretor
de digressão e dizia:

“Diz ao Glenn que não quero continuar
a cantar a ‘Take It to the Limit’.”

Confrontei-o com isto.
Chamei-o e disse-lhe:

“Randy, há milhares de pessoas
à espera que cantes essa canção.

Não podes dizer:
‘Que se fodam. Não me apetece.’

Achas que me apetece cantar ‘Take It Easy’
e ‘Peaceful Easy Feeling’ todas as noites?

Estou farto dessas canções,
mas há pessoas no público

que esperaram anos
para nos ver cantar essas canções.”

Nós fartámo-nos daquilo e dissemos:

“Está bem, não a cantes.

Porque é que não desistes?

Se dizes que estás insatisfeito, desiste.”

O Randy nunca soube como era bom.

Não era um alfa.

As confrontações eram difíceis, para ele.

Só quero ver cinco tipos
contentes por tocarem juntos

e é isso que faz a música.

Estávamos nos bastidores
e a multidão estava ao rubro.

A nossa canção do encore
era “Take It to the Limit”.

As pessoas adoravam a canção, enlouqueciam
quando o Randy cantava as notas agudas.

Mas o Randy não queria cantá-la.
Estivera acordado toda a noite

com duas mulheres e uma garrafa de vodca.

O Glenn tentou convencê-lo.

“Meu, as pessoas querem ouvir
essa canção, tens de a cantar.”

E o Randy continuava a dizer: “Não.”

Depois da terceira
ou quarta recusa do Randy,

o Glenn afastou-se uns passos e disse:
“Então, vai-te foder!”

Havia polícias,
que estavam nos bastidores,

e, quando nos viram em vias de facto,
começaram a avançar.

O Henley virou-se para os polícias
e disse: “Não se metam nisto.

Isto é pessoal e é privado...
mesmo privado.”

Era uma questão de tempo,
até o Randy sair.

Só havia uma pessoa
que podia substituir o Randy Meisner

nos Eagles, na minha opinião,
e era o Timothy B. Schmit.

Ele substituiu-o no Poco...

... entrou e cantou as mesmas partes.

Lembro-me de estar
com o Irving e de dizer:

“Acho que devíamos ir buscar
o Timothy Schmit.”

Ele disse: “Vi o Timothy há pouco.
Estive na estrada,

quando o pessoal do Poco
estava no bar do hotel,

e o Timothy estava completamente pedrado.

Ele estava passado. Tens a certeza disso?”

Eu disse: “Irving,
se estivesses há 11 anos numa banda

e ainda ganhasses 250 dólares por semana,
a trabalhar 40 semanas por ano,

talvez também ficasses pedrado e passado.”

Pediram-me para juntar-me
à banda ainda antes

de ter tocado uma só nota com eles.

Eu só disse: “Onde é que me querem?
Claro que aceito.”

Queremos apresentar
o novo membro da banda.

É o nosso novo baixista e fomos buscá-lo
a uma banda muito boa chamada Poco.

Por favor, deem uma boa receção,
de Houston, Texas, ao Timothy Schmit.

Fui para a estrada com eles
em 1978, como o elemento novo.

E ouvi algumas vezes:
“Onde está o Randy?”, do público.

Mas sabia que era uma boa decisão,
para eles e para mim.

Havia muitas decisões de negócios

que precisavam de ser tomadas
numa sessão secreta,

com o Glenn, o Don e o Irving
ao fundo do avião.

Eu não gostava de ficar de fora,

mas eu sabia que era bom para os Eagles.

O Don Felder não gostava nada disso.

Eu e o Glenn víamo-nos
como líderes da banda,

mas os outros viam-nos como ditadores.

Não é possível haver
cinco líderes numa banda.

Não resulta.

As pessoas têm de fazer
o que fazem melhor.

Havia todo um sentimento
oculto de ressentimento,

de intriga e de queixas.

E de certeza que o Timothy pensou:
“Onde é que me vim meter?”

Eu estava contente por estar ali
e aquelas tensões...

Não é que não as sentisse,
mas não sabia como eram profundas.

Na minha experiência,
todas as bandas de rock and roll

estão quase a acabar,
em todos os momentos.

Naquela fase, a banda
começara a dividir-se em fações.

O Don Felder, para obter mais controlo,
tinha recrutado o Joe Walsh.

Boa parte do tempo, eram o Felder
e o Walsh contra mim e o Glenn.

Na altura, até eu e o Glenn
começámos a ter as nossas divergências.

E isso estava a desfazer a banda.

O ingrediente mágico
que tornara a banda bem-sucedida

foi a relação entre o Don e o Glenn.

Depois de anos de digressão
e de anos no estúdio,

toda essa fricção começou
a criar uma brecha nessa relação.

Chegou a um ponto
em que estávamos cansados uns dos outros.

Cansados da agitação, cansados
das digressões, cansados de quase tudo.

Nesse ponto, compor
estava a tornar-se muito difícil.

Quanto tempo dormiram?
Quando acabaram de descarregar, às duas?

- Às 5h30.
- Às 5h30 desta manhã?

- Sim.
- Está bem.

Depois do sucesso do Hotel California,

vencedor de Grammys,
grandes vendas... superem isso.

Quando aparecemos no estúdio,
ninguém tinha uma canção.

Não sei por onde vamos começar, mas...

Eu tinha o suficiente de uma canção
pela qual ambos se interessaram:

“Isso é ótimo, vamos desenvolvê-la.”

E fiquei muito satisfeito
porque quererem desenvolver aquela,

porque surgiu mais como uma canção de R&B.

E é muito simples.

Uma instrumentação muito simples.

Arranjos muito simples.

Ela contém muito ar.

É por isso que funciona.

A meio dela, o Don vem ter comigo e diz:

“É o teu êxito.”

Estamos no topo do mundo, somos jovens.

Estávamos a exagerar em tudo.

Havia muitas dependências químicas
na banda.

E isso era complicado.

Enquanto escrevíamos e gravávamos
o The Long Run e depois na estrada,

enquanto promovíamos o The Long Run,
todos consumíamos cocaína.

Quando começámos a snifar coca,
era como uma ferramenta de escrita.

Snifávamos umas linhas
e começávamos a falar de coisas,

preparávamo-nos e lançávamos
uma ideia de uma canção.

Mas, no fim, a cocaína
trouxe ao de cima o pior de todos.

Esta meia hora do programa
é-lhe trazida por cocaína,

a fazedora de êxitos.

Fazer aquele álbum foi penoso.

Estávamos completamente esgotados.

Tínhamo-nos esforçado muito
durante quase uma década

e estávamos acabados.

E foi demorado.

Os dias e as horas arrastavam-se.

Parecia que não conseguíamos fazer nada.

Foi mais doloroso
do que o Hotel California.

Teve um nascimento mais doloroso
por causa de tudo o que se estava a passar

que nos estava a deixar muito desgastados.

E a empresa discográfica não queria saber

se nos peidávamos e arrotávamos.

Lançavam-no na mesma.

Não queriam saber.

“Quando é o que o teremos?”

Essa era a única preocupação deles.

Naquela altura, já tínhamos decidido
que The Long Run seria o título.

Creio que foi o Henley que disse: “Já sei
o que chamar a este... Olhem para nós.”

Um momento.

Parem.

Chega.

Eagles, The Long Run,
segunda canção, primeira take.

Foi uma luta,
um interminável para arranca.

Chamámos-lhe “O Demorado”.

EAGLES TERMINAM “THE LONG RUN”

Foi o princípio do fim,

embora não me tenha
apercebido disso, na altura.

Havia muita coisa a amontoar-se

e muito que fingia não ver,
pelo bem da banda.

Por fim, já não podia continuar
a fingir que não via nada.

E acabámos por apodrecer,
porque não falávamos destas coisas.

Atingimos o nosso limite em Long Beach.

Estávamos num evento de beneficiação
pelo Senador Alan Cranston.

Ele preocupava-se com muitos
dos problemas que nos preocupavam,

incluindo a destruição ambiental
e a guerra,

por isso, quisemos apoiá-lo.

O Felder não gostava que o fizéssemos.

Ele achava que era dinheiro
que devia ir para o bolso dele.

Porquê fazê-lo pelo Jerry Brown
ou pelo antinuclear?

O Alan Cranston aproximou-se com a mulher

para agradecer pessoalmente
a cada um dos membros dos Eagles.

Eu não percebia nada de política.

Não queria saber de política.

Não sabia nem queria saber
quem era o Alan Cranston.

O Senador Cranston aproximou-se do Felder
e disse: “Queria agradecer-lhe.”

O Felder olhou para o senador
e disse: “De nada.”

E depois, quando ele se estava a virar,
acrescentou: “Suponho.”

“Suponho.”

“Suponho”, e o Glenn ouviu.

E fiquei... mesmo enraivecido.

Estava a beber uma cerveja,

entrei na sala de afinação
onde estavam o Walsh e o Felder,

peguei na garrafa de cerveja
e atirei-a contra a parede.

Fui-me embora.

Fui ficando cada vez mais zangado.

Quando entrámos em palco, eu fervilhava.

Queria matar o Felder.

Mais uma vez, obrigado em nome dos Eagles

e do Senador Cranston por terem vindo.

Um, dois, três, quatro.

Havia muitos problemas
entre o Glenn e o Felder

e uma manifestação séria deles
veio a lume, naquela noite.

Começámos o concerto,
a tentar agir como se estivesse tudo bem,

e tocámos algumas músicas.

E eu continuei a olhar para ele.

“Seu filho da mãe ingrato.”

A cena... Eu percebi como era a sério
naquele concerto.

Eles discutiram em palco.

O Szymczyk apanhou o áudio.

És um verdadeiro profissional, Don,
de todas as maneiras.

Sim, tu também,
como lidas com as pessoas.

Menos a quem pagas.
Mas ninguém quer saber disso.

Vai-te lixar. Ando a pagar-te
há sete anos, seu imbecil.

Aproximámo-nos do fim do concerto

e eu olhava para ele a pensar:
“Mais três músicas, sacana.”

Olhava para ele e sentia-me preparado.

Mal podia esperar
para lhe pôr as mãos em cima.

“Quando sairmos do palco,
vou dar cabo de ti.”

Vou matar-te.

Mal posso esperar.

Uau! Quando há uma coisa destas em palco,
à frente de um público...

... os problemas são evidentes.

Muito obrigado.

Terminámos o concerto
e foi a maior confusão nos bastidores.

Quando a atuação acabou,
ele saiu à minha frente,

pegou na sua viola mais barata...

... partiu-a em mil pedaços,
saltou para a limusina e foi-se embora.

E foi só isso.

Foi a gota de água.

Alguém escreveu: “Os Eagles rebentaram
com um suspiro, não um estrondo”...

... o que foi verdade.

Não queria acreditar. Aquilo era
o meu super-sonho que se realizara.

Liguei ao Glenn e disse:

“Como é que é? O que se passa?
Isto vai mesmo acabar?”

Ele disse: “Sim, acabou.”

Estávamos exaustos e isso estava realmente
a afetar o núcleo fundamental,

a alma da banda.

Tínhamos atingido o limite.

Trabalhamos, trabalhamos.

Chegamos ao auge e depois...

É quase sempre a mesma coisa,
as pessoas desentendem-se.

“De quem é a banda?” “Eu é que mando.”

“Não, não mandas.” E pronto.

Dissemos sempre que queríamos sair da onda
antes que ela chegasse à praia.

E saímos.

Os Beatles disseram...
O McCartney nunca pensou

que a banda durasse mais de dois anos,
porque nenhuma banda pop durava.

Creio que faz parte.
Tudo se conjuga, como que por magia,

e depois tudo se desmorona.

Mas é extraordinário...

... que chegue a acontecer.

Foi mágico.

Fizeram muitas canções excelentes

que serão celebradas, ouvidas
e adoradas por muito tempo.

Conseguimos representar aquele período

dos anos 70, do sul da Califórnia,

que foi muito criativo, artisticamente.

Espero que seja tão lembrado
como os Loucos Anos Vinte, sabem?

A nossa geração e o que fizemos.

Propusemo-nos constituir uma banda
para o nosso tempo.

Às vezes, quando fazemos um bom trabalho,
tornamo-nos uma banda de todos os tempos.

O ÚLTIMO CONCERTO DOS EAGLES
FOI A 31 DE JULHO DE 1980

A 25 DE ABRIL DE 1994, REUNIRAM-SE
PARA O PRIMEIRO CONCERTO EM 14 ANOS

MAS ESSA É OUTRA HISTÓRIA...

Aconteceu uma coisa engraçada,
logo quando nos separámos.

Em 1980, o formato do rock clássico
chegou à rádio americana.

Por isso, mesmo depois da banda acabar,
continuaram a passar as canções...

... sucessivamente.

Parecia que não nos tínhamos separado.

Ainda estávamos na rádio.

Alguém me disse:

“As pessoas não ouviram só os Eagles,
fizeram coisas com os Eagles.”

Foram a fandangos
e atravessaram o país de carro

com três colegas do secundário.

Houve quem acabasse o namoro.

Houve quem se despedisse do emprego
ou mudasse de vida.

Elas fizeram coisas com os Eagles.

Canções daquele álbum
talvez tenham sido tocadas no espaço.

Costumavam enviar música
para a estação espacial

para acordar os astronautas.

Pouco depois do pequeno-almoço,
dos ovos mexidos com torrada,

ele vestia o fato espacial
e punha o capacete...

Aquela música tornou-se mesmo conhecida.

Muito se tem falado sobre como
e por que razão nos reunimos.

Percebemos que estivemos
afastados 14 anos.

Talvez conseguíssemos
algo muito raro, na vida americana,

um segundo ato, uma segunda oportunidade.

SEGUNDA PARTE

Obrigado.

Quando parámos, fiquei muito triste.

O que havemos de fazer?

Fiquei desolado.

Só tinha feito parte da banda
uns três anos...

... e adorava-a.

Criámos um monstro
que se tornou um peso nas nossas vidas.

Alguém disse uma vez:

“Os Eagles hão de reunir-se
quando o inferno gelar.”

Então, o inferno gelou.

EAGLES - O INFERNO GELA

Estamos prontos. O senhor de azul, ali.

Depois do azedume e do amargor
que marcaram o fim da banda,

deve ter sido um grande caminho
até à reunião.

Podem explicar-nos os passos que deram
até à reunificação?

Não.

Alguém quer responder?

Não, é uma pergunta pertinente.

Desde o momento em que nos separámos,
em 1980,

houve sempre propostas
para que nos reuníssemos.

Começou com o primeiro US Festival

e o Steve Wozniak queria
pagar-nos um milhão de dólares.

Disse que não.

A MINHA RESPOSTA
QUANTO À REUNIÃO DOS EAGLES.

MELHORES CUMPRIMENTOS, GLENN

Precisava de fazer outra coisa.

O CALOR ESCALDANTE DE GLENN FREY

Chamei ao meu primeiro álbum a solo
No Fun Aloud, porque me diverti imenso.

Foi libertador saber que o que fizesse
seria sempre mais divertido

do que o que fizera nos últimos
três anos no álbum The Long Run.

Sabia que queria alguém
com quem escrever as músicas

e perguntei ao meu amigo Jack Tempchin
se as queria escrever comigo.

O Jack é um tipo sábio, liricamente,
e comecei a trabalhar com ele.

Ele tornara-se um coescritor disciplinado
com o Don Henley

e, quando os Eagles se separaram,
só queria libertar-se

e divertir-se com a música.

Então, estávamos a brincar
com alguns ritmos.

COMPOSITOR

Um de nós disse: “Pertences à cidade”
e ele respondeu: “Sim, é isso mesmo.”

Basta aparecer e acontecem coisas boas.

A carreira a solo do Henley...

GESTOR DOS EAGLES

... foi muito bem-sucedida.

A carreira a solo
foi o mais assustador da minha vida.

O aparecimento da MTV
foi uma transição difícil para mim.

A dada altura, os Eagles foram acusados
por alguns críticos de vaguear em palco.

Foi difícil para nós, vagabundos,

fazer a transição
para o mundo da coreografia,

do traje e da representação.

Se beneficiei da MTV? Sim, é verdade.

Fiz alguns vídeos
que ganharam prémios MTV.

Ainda assim, teria saltado tudo isso,

porque me considerava, antes do mais,
compositor e artista de estúdio.

E também não queria ser ator.

Bom, não acham? O tipo que mo vendeu
disse que era um chaço.

Digo-lhes, pode parecer uma vaca,
mas voa como um garanhão.

Gosto sempre de fazer
um adeus sentido à América.

Caso seja o meu último.

Fui ator de televisão e de cinema.

Nunca pensei verdadeiramente
em voltar aos Eagles.

- O tipo tem um problema de atitude.
- Ele ouve-me. Posso ajudá-lo.

O Cameron ligou-me e disse:
“Glenn, preciso de alguém

que não tenha medo do Tom Cruise
e acho que és tu.”

- Temos um historial, Dennis.
- Sim, se temos um historial.

Não, não. Dennis. Dennis, não...

Assinei com o Don Henley
pela Geffen Records.

Podem perguntar, depois dos Eagles
processarem a Asylum Records

porque veio ele para a Geffen Records?

O David usa sempre o mesmo truque
quando quer encantar alguém.

“Sabes o quanto te admiro como artista.
Sou um grande fã teu.”

Por isso, caí uma segunda vez
e assinei com ele.

E depois tudo começou a desmoronar.

Produzi vários sucessos,
mas sentia que o apoio diminuía.

O Don metia-se em discussões com eles

por causa de coisas como orçamentos,
vídeos, trabalho artístico, coisas assim.

Lembro-me de o Don começar
a escrever-lhes cartas

referindo-se a eles
como a “Discos Unhas-de-fome.”

Quando sentimos que a nossa editora
não nos apoia, é muito desmotivante.

Costumava chamar-lhe “O Garganta Dourada”.

Achava que ele era um cantor incrível
mas ele é descontente por natureza.

Sempre foi um descontente
e a vida é assim mesmo.

Então, um dia disse-lhe: “Não vou
gravar mais para ti, vou-me embora.”

E ele processou-me
e pediu 30 milhões de dólares.

A minha mulher tem esclerose múltipla
e eles levaram-na do Texas

a Los Angeles para a sentarem
à frente dos advogados dele

e fazerem-lhe
uma data de perguntas sem sentido,

porque ela não sabia de nada.

Achei que foi muito baixo.

Disse ao Irving,
em relação ao contrato do Henley:

“Mais depressa morro do que me lixas.
É bom que ganhes este caso.”

Chegaram a acordo
e foi o fim dessa relação.

Apercebi-me agora
de que temos estrelas rock adultas.

Não temos de desistir disto
quando fazemos, 30, 35 ou 40 anos.

Sempre hei de fazer fazer discos
e escrever canções.

Tenho de o fazer, senão dou em maluco.

Esta é uma canção que foi escrita
com o meu novo amigo Mike Campbell

e com o meu velho amigo
John David Souther.

Quando a banda acabou,

o Glenn começou a escrever canções
com o Jack Tempchin.

Acho que a disputa entre o Henley e o Frey
passou a mim e ao Frey.

Eu e o Glenn passámos tempos
de grande diversão.

COMPOSITOR

E eu e o Don passámo-los
durante uma década.

Como é que mudaram,
como músicos, ao longo dos anos,

como grupo e individualmente?

Bem, o nosso objetivo é apenas melhorar.

Na vida, melhorar é tudo, sejamos músicos,
cantores, compositores,

ou nos diferentes papéis
que todos assumimos.

Por isso, esperamos estar a melhorar.

Já fazemos isto há bastante tempo,
intermitentemente,

e sentimos que o dominamos bastante bem.

Aliás, parámos cinco dias
e agora estamos preparados para começar.

Quando os Eagles se separaram
pela primeira vez, não sabia o que fazer.

Por isso, desenrasquei-me.

Fui vocalista da banda Toto,
toquei baixo para o Jimmy Buffett.

Fui em digressão com o Warren Zevon
e o Dan Fogelberg.

E fiz coisas que não teria feito.

Cantei em discos dos Poison
e dos Twisted Sister,

embora não vejam o meu nome,
nunca me creditaram.

Isso era mais gritar.

Nem tudo é o melhor que há no mundo,

mas, se pudermos trabalhar e ganhar
para nós e para a nossa família, tudo bem.

Próxima pergunta.

O cavalheiro aqui à frente, Richard.

Que posição acham que o rock and roll
tem agora em relação às drogas?

Nós somos de uma geração que experimentou

todo o tipo de substâncias,
como é evidente.

Acho que a nossa mensagem

é que podem ser uma grande banda rock
sem essas coisas.

Quero fazer um brinde
e dedicar esta canção...

... a vocês, a nós.

O músico do consumidor de álcool,
Joe Walsh!

Eu acabei alcoólico...

... e muito apreciador de cocaína.

Se eu estava acordado, estava...

Eu consumia essas coisas.

Bom dia, fãs do rock.

Nos anos iniciais,
tinha resultado por uns tempos.

E depois procuramo-la...

... quando já não resulta.

E eu procurei-a durante anos e anos.

O Hemingway teria conseguido
escrever assim, se estivesse sóbrio?

Ou o Hendrix teria tocado assim,
se não tivesse tomado alucinogénicos?

Bem, é provável que não.

Pensei assim durante anos e anos

e nunca me ocorreu que todas
essas pessoas estão mortas.

Fui-me afastando
cada vez mais da realidade.

- Devo olhar para si ou para a câmara?
- Para mim.

O enquadramento está bom, Jeff?

Está ótimo.

Eu acabei...

... em mau estado.

Tinha batido no fundo.

E sabia que estava arrumado e que...

... era provável que morresse,
se continuasse.

O Joe estava uma desgraça.

Estava rodeado de pessoas
que eram apenas facilitadoras.

Ninguém queria intervir.

Ninguém lhe queria dizer que tinha
um problema de drogas e de álcool.

Todos se limitavam a seguir o Joe.

Lembro-me... do que nós fizemos
quando era uma forma de arte.

E gostaria de lutar para voltar a isso.

Eu era muito, muito feliz nos Eagles.

Ia dizer que lamento que nos tenhamos
separado, mas não nos separámos.

Nós só parámos, acho eu.

Nós só dissemos:
“Que se lixem os anos 80.”

Canção três, take seis.

Em 1990, tentámos reunir-nos,
para recomeçar.

Todos estavam de acordo
mas o Glenn ainda não estava envolvido.

O Irving conseguiu juntar-nos.

O Timothy, o Joe, eu e o Don Henley.

O Glenn tinha ficado
de vir ter connosco ao estúdio,

ia trazer algumas canções
e nós íamos começar a fazer outro disco.

Por isso, nós os quatro
começámos a ensaiar.

Então, recebemos uma chamada,
ao terceiro ou quarto dia no estúdio,

a dizer que o Glenn recusara fazer
parte daquilo, juntar-se ao grupo,

e, por isso, nós parámos.

Ele ainda dizia: “Não vou fazer isso.”

Sinceramente, estava muito bem
a fazer o que estava a fazer.

A vida não se limita a estar nos Eagles.

O momento seria sempre quando o Glenn
estivesse preparado para voltar.

Acho que o Henley
estaria mais disponível do que o Glenn.

Pessoalmente, acho que provara

tudo o que precisava de provar
na minha carreira a solo.

Tinha vencido dois Grammys,
tivera alguns êxitos

e algumas boas digressões
e fundara a Walden Woods Project.

Quando somos artistas a solo, temos
de assumir a responsabilidade de tudo,

de cada erro, de cada disco mau,
de cada aspeto negativo.

Numa banda, partilhamos os elogios
e as culpas com os nossos colegas.

Estava disposto a aceitar a ideia
de voltar a estar numa banda.

O que me chamou a atenção
foi o lançamento do álbum Common Thread.

O Irving e o Don foram a Nashville

e convenceram algumas pessoas
a gravarem algumas canções dos Eagles,

com as royalties a irem
para o Walden Woods Project.

Não sei quem perguntou, mas disseram:

“O Travis Tritt vai fazer um vídeo
da ‘Take It Easy’.

Ele quer saber
se vocês vão aparecer no vídeo.”

Eu disse: “Bom, está bem.”

Nunca falei com o Travis
para saber quem teve a ideia.

Acho que o Irving
deve ter-se metido nisso.

Se estava a tentar reunir a banda,
ao fazer o Common Thread? Não.

Se estava à espera desse momento? Sim.

No vídeo do Travis Tritt,
havia uma cena num pequeno palco,

em que pegamos nos nossos instrumentos
e começamos a tocar.

Eu estava a pensar:
“Pessoal, vá lá,” percebem?

É interessante porque, anos depois,

nos lembramos de que,
em primeiro lugar, éramos amigos,

temos um grande passado juntos
e muitas experiências em comum.

Lembrei-me sobretudo das coisas boas.

Não pensei nas coisas más.

Só me lembrei de como
gostávamos uns dos outros genuinamente

e do quanto nos divertimos.

Percebemos, depois do sucesso
do álbum Common Thread,

que ainda havia muitas pessoas por aí,
uma grande quantidade de pessoas,

que queriam voltar a ver-nos tocar.

Às vezes, creio que há
algum acaso envolvido nisto

e acho que as nossas vidas
começaram a alinhar-se

de... forma que começou
a fazer sentido para todos

e nós... nós conversámos sobre isso.

O Joe e o Don foram a um concerto
de beneficência que fiz em Aspen.

Tivemos um encontro em Aspen.

Fui um dos primeiros
que eles quiseram testar.

O Joe estava tocado.

Era uma da tarde.

E ele dizia:
“Eu estou lá, meu. Estou ótimo.

Não te preocupes comigo.”

Mas eu e o Don percebemos
que ele não estava bem

e estávamos preocupados.

Eles disseram o que queriam fazer.

Eles queriam tentar reunir-se.

Eles não sabiam o que eu ia dizer,

mas eu disse: “Eu compreendo

e sim, eu consigo ficar sóbrio.”

Tínhamos de pôr o Joe
numa reabilitação qualquer

e não sabíamos se ia resultar,
por isso, era melhor termos o Felder.

A reunião dos Eagles
devia ter pelo menos um deles

ou mesmo os dois.

O Irving ligou-me e disse que o Don,
o Glenn e o Joe se tinham juntado

e estavam a falar de fazerem algo juntos,
e perguntou se estaria interessado.

Eu respondi: “Claro.”

Uma coisa levou a outra

e, por fim, o Irving e o Don Felder foram
buscá-lo e levaram-no à reabilitação.

Comprometi-me com eles que me limparia...

... e que conseguiria...

... estar na banda...

... se era o que eles queriam fazer.

Estou muito, muito grato
àqueles três tipos.

Porque eu tive...

... uma razão muito boa...

... para ficar sóbrio.

E, assim que fiquei sóbrio...

... começámos a ensaiar.

A primeira chamada do Irving
foi para ir ensaiar

para começar a preparar
um concerto para a MTV em poucas semanas,

se não daí a um mês.

Foi um pouco assustador
ensaiar para aquilo da MTV.

Normalmente, acho que as pessoas
têm o seu número preparado

no mínimo semanas antes
de entrarem numa coisa destas.

Mas nós... nós atirámo-nos de cabeça.

Embora tivéssemos ensaiado muito bem,

subir ao palco pela primeira vez
e tocar em público como uma banda,

voltar a pôr a chave na ignição

e rodá-la pela primeira vez,
foi algo muito enervante.

- Estou a ir na direção certa?
- Glenn.

Como não tocávamos
como um grupo há 14 anos,

na primeira noite, houve muito... terror.

É bom estar com vocês.

Espero passar a noite toda com vocês.

Divirtam-se.

Hora do espetáculo!

Hora do espetáculo!

O público foi muito simpático
e apoiou-nos,

o que foi bom, mas... foi difícil.

Mesmo quando subimos ao palco,
estávamos um pouco tensos,

até o Henley...
O Henley esqueceu-se da letra

de uma das canções novas.

Queres recomeçar?

Esperem, isto é televisão,

por isso, vamos poder repetir isto
até ficarmos satisfeitos.

Pensava...

Pensava que não te lembravas
do terceiro verso.

- Esse ainda era o segundo.
- Eu sei o terceiro verso.

Mas isso quebrou o gelo.
Acabou por ser uma coisa boa.

Sinto que sou o Tommy Smothers.

Sentimos que reunirmo-nos

não era legítimo
se não tivéssemos material novo.

Por isso, vamos apresentar
algumas canções novas esta noite.

A primeira vai ser cantada
pelo Timothy B. Schmit.

Chama-se “Love Will Keep Us Alive”.

Depois de venderem 100 milhões
de discos por todo o mundo,

havia uma pressão
para escreverem material novo

para o álbum Hell Freezes Over?

Não o encarámos como novo trabalho.

Era mais material de retrospetiva

e esperamos ainda escrever material novo,
talvez no futuro.

Não podemos continuar a reciclar
este material,

embora pareça estar a resultar bem.

Eu e o Don tentámos perceber
como compor uma canção nova.

Quer dizer, na verdade, se conseguíamos.

Não escrevíamos nada juntos desde 1978,

por isso, de início,
foi um pouco estranho entrarmos no ritmo.

Sim.

Então, fazemos... Aqui começamos.

Durante o álbum The Long Run,

houve muitas sessões comigo
e com o Don em que não fizemos nada.

Estávamos os dois reticentes
em apresentar ideias novas,

com medo que não fossem boas.

Quando nos juntámos outra vez, em 1994,

a minha primeira preocupação foi
se seria tão difícil como fora em 1978.

Ficámos ali sentados.
Sobre o que haveremos de escrever?

Ele disse: “Eu tenho um título.
‘Get Over It.’”

E começou a explicar-me
o que o deixava aborrecido.

“Aquelas pessoas que aparecem na televisão

e tudo o que lhes acontece de mal
é culpa de outra pessoa.

Estou farto de choramingas,

por isso, vou compor
uma música chamada ‘Get Over it.’”

A introdução ao estilo Chuck Berry,
nunca tocar um acorde de sétima, certo?

E depois eu disse:

“Talvez um riff do Chuck Berry seja
uma boa maneira de contar essa história.”

Um momento. Queres tocar...

Queres fazê-lo em slide? Eu e o Felder
tocamos power chords baixos e altos,

aqueles tipos tocam Chuck Berry
baixo e alto e...

Com algumas respostas em slide
fica porreiro.

O que eu gosto mais é que
o Don e o Glenn componham juntos.

Gosto de acompanhar com a guitarra.

Querem que cante? Ou querem que espere?

São dez para as seis.

Podes cantar às dez para as seis
ou às cinco para as seis.

- Repitam?
- Sim, tocamos duas vezes.

Podias escrevê-lo no microfone.

Legendas para surdos.

Foi mesmo libertador.

Ambos saímos da sessão
a pensar: “Céus! Ainda conseguimos.

Compusemos uma música juntos.
Talvez possamos compor mais.”

Foi uma sensação mesmo boa.

Foi uma excelente reconciliação artística,

podermos sentar-nos
e compor aquela música juntos.

Fizemos o Hell Freezes Over
e fizemo-nos à estrada.

Era a dúvida que todos tínhamos.

E se nos reunimos e agora ninguém aparece?

Estabelecemos que seria
uma reunião de três meses.

Fui ter com a minha mulher...
Tinha dois filhos pequenos, na altura.

Disse: “Não sei se me vão reconhecer.

Não sei o que isto me fará,
mas espero não mudar muito.

Tenham paciência comigo.”

Eu estava ao lado do palco,
num dos concertos deles, quando voltaram,

e o Jack Nicholson estava...

... eufórico, a ouvir
a banda a tocar outra vez.

E ele disse...

“Repertório.”

O que querem ouvir?

Não sabíamos quantas pessoas
iam aparecer, quando voltámos,

mas as pessoas vieram em massa.

Esgotámos os concertos em todo o lado.

O público estava a divertir-se
e nós também.

Oiço o pessoal e...
O Joe Walsh, por exemplo,

está a tocar e a cantar melhor
do que alguma vez o vi,

desde que o conheço.

Não tive tempo para parar
e sentir a falta do álcool

ou a vontade de consumir
cocaína ou o que fosse.

E tive de me expor em frente a um público,

tocar e cantar sóbrio,

o que detestei, inicialmente.

Foi mesmo assustador.

Quando o Joe saiu da reabilitação
e começámos a ensaiar,

ainda estava bastante afetado.

Mas ao longo daquele
primeiro ano em que esteve sóbrio,

creio que descobriu...
descobriu outra vez a felicidade.

Descobriu uma maneira de ser feliz.

QUERIDO PAI - ESTOU ORGULHOSA
DE TI E AMO-TE MUITO!!

ESPERO VER-TE NO DOMINGO.

Estás muito bonita.

Não faz mal, uma vez por outra.

Preparados?

Pai, filha, primeiro take.

Agora, temos famílias
que nos mantêm de pés assentes na terra.

É algo que temos em comum.
Todos temos filhos.

Muda a nossa vida.

E a nossa perspetiva do trabalho também.

A digressão teve tanto sucesso
que não quisemos desistir.

Pensámos que era bom,
que podíamos fazer isto algum tempo.

Dar um concerto é uma combinação estranha
de atos conscientes e inconscientes.

Não pensamos verdadeiramente
no que estamos a fazer.

Sabemo-lo tão bem
que o fazemos simplesmente.

Por outro lado,
temos de lhe dar algum sentimento.

Quando o público nos aplaude,

não interessa quantas vezes
já cantámos a canção, fazemo-lo e pronto.

Tocámos em todo o mundo e, provavelmente,
se pudéssemos escrever o guião,

foi uma jogada de génio, sabem?

Porque, quando voltámos,
fomos maiores do que nunca.

Quanto dinheiro é que calculam fazer
na digressão europeia?

- Irving?
- Ainda não fiz as contas,

- mas digo-lhe que...
- Boa resposta.

Uma coisa é certa,

os custos de uma banda de rock and roll
em digressão pela Europa

são muito mais elevados do que se imagina,

mas esta banda está na Europa
porque houve procura para que viéssemos

e não é tão lucrativo
como outras coisas que já fizemos.

Não é?

Começaram a surgir mais ofertas
para darmos concertos.

Disse: “Bem, agenda mais,
não precisa de acabar já.

Agenda mais. Onde podemos tocar?”
“Nunca estiveram na Europa.”

“Vamos lá.”

Como é que é?

Estabelecemos um limite:

“Nada de drogas ou álcool
durante as atividades da banda.”

E, como resultado,
tocámos e cantámos muito bem.

O que os une é a harmonia.

Quando a começam a sentir
de forma perfeita

ficam tão entusiasmados como o público
por ainda o conseguirem fazer.

Não sabemos explicar.

É uma química que resulta,
já desistimos de tentar perceber.

Resulta.

Vamos fazer um verso da “New Kid”.

Um verso da “New Kid”.

- Está bem.
- O canta Joe a “Smuggler’s Blues”.

Eu faço o princípio da “Funk #49”...

E depois vou mijar.

- Sim.
- E depois vou mijar.

Um, dois, três.

Muito bem, rapazes.

Acabámos por dar a volta ao mundo,
em dois anos e nove meses.

Obrigado, Dublin!

Aprendemos a não tomar decisões
de carreira ao fim de digressões longas.

Se voltarmos a separar-nos, não ouvirão
falar nisso. Fazemo-lo discretamente.

- E diremos que ainda estamos juntos.
- Sim.

Riram-se, choraram, discutiram.

Acima de tudo, superaram as expetativas.

E são tão populares hoje
como naquele incrível verão de 1972.

É uma honra e um prazer
apresentar os Eagles.

Muito foi falado e especulado
sobre se, nos últimos 27 anos,

nos demos ou não demos.

Demo-nos bem.

Só discordámos muito.

Não estive desde o início
com esta banda em particular

e quero agradecer ao meu antecessor,
o Randy Meisner, por ter estado lá.

Fico satisfeito por o Randy
e o Bernie terem sido reconhecidos.

Creio que foi merecido.

Tudo bem?

É uma boa sensação.

Fica bem no meu currículo.

Quero agradecer ao Don e ao Glenn
por comporem aquelas músicas.

Obrigado, rapazes.

Facilitaram o meu trabalho.

Obrigado.

Belo fato, Joe.

Queria também agradecer
ao Don Henley e ao Glenn Frey

por comporem um repertório incrível

que permitiu a esta banda
ter 20 e tal anos de vida.

Obrigado, rapazes.

Quando um miúdo pega numa guitarra
ou numa baqueta, não é para ser famoso.

É porque aquele miúdo
se quer sentir incluído,

quer ser aceite,
quer até ser compreendido.

Por isso, quero encarar este prémio
como algo que nos reconhece,

não por sermos famosos,
mas pelo nosso trabalho.

E agradeço todo o trabalho que todos
estes tipos atrás de mim fizeram.

Quero agradecer ao Irving Azoff,
sem ele não estaríamos aqui hoje.

Como já disse antes: “Pode ser Satanás,
mas é o nosso Satanás.”

Estamos numa indústria muito competitiva.

Mostrem-me alguém que seja responsável

por guiar e gerir a carreira de um artista
que tenha feito muitos amigos

e eu mostro-lhes alguém
que vendeu o seu artista

e fez um trabalho deplorável.

Por isso... Fiquei muito orgulhoso com
a referência do Henley, com o que disse.

Para mim, foi mais ou menos
o reconhecimento de um trabalho bem feito.

Muito do meu trabalho passou
por tentar que a banda não se separasse.

Nos anos 70, criámos
uma empresa chamada Eagles, Limited.

E que era um por todos, todos por um.

Bem, não eram os três mosqueteiros.

Como o nosso amigo JD Souther dizia:

“O tempo passa, as coisas mudam.”

Ao conversar com o Irving
sobre a reunião dos Eagles, em 1994,

eu disse: “Irving, não o farei,

se eu e o Don
não ganharmos mais do que os outros.”

Somos os únicos que fizeram alguma coisa
nas suas carreiras, nos últimos 14 anos.

Nós é que mantivemos vivo
o nome dos Eagles

na rádio, na televisão
e nas salas de concertos.

Então, chegámos a um acordo
com o qual eu estava contente,

o Don estava contente,
o Timothy estava contente,

o Joe estava contente
e o Don Felder não estava contente.

Liguei ao representante do Felder
e disse: “Olá, Barry, fala o Glenn Frey.

Lamento estares a representar
o único cretino da banda,

mas deixa-me dizer-te uma coisa.

Ou assinas o contrato antes do pôr-do-sol
ou vamos substituir o Don Felder.

É a proposta final.

Ele assina até ao pôr-do-sol
ou está fora da banda.”

Desliguei.

Então, ele assinou o contrato
e começámos a digressão.

Não havia uma grande
sensação de camaradagem.

Mal víamos alguém,
se não fosse a entrar no avião

ou a subir ao palco.

Todos pensaram:
“Bem, se não nos juntarmos,

não teremos problemas.”

Em vez de poder sentar-me,
a beber uma cerveja e a conversar,

e renovar uma relação com todos,

esse isolamento não trouxe o à-vontade
necessário para que resultasse.

O Don Felder nunca estava satisfeito.

Nunca estava contente.

VÉSPERA DE ANO NOVO, 1999

Uma banda rock
não é uma democracia perfeita.

É como uma equipa de desporto.

Ninguém consegue fazer nada sem os outros,

mas nem todos
podem estar sempre a tocar na bola.

O tempo passou e o Felder
ficou cada vez mais descontente.

Não apreciava o dinheiro
que estava a ganhar.

Estava mais preocupado
com o dinheiro que eu ganhava.

Se o Don Felder pensasse bem no assunto,

a questão era que ele queria estar numa
banda, no sentido mais puro da palavra.

Todos vamos contribuir por igual
a compor, a cantar, na expressão.

Sabem, isto não era uma comunidade hippie.

E, para eles, tudo depende
de três palavras: “poder da canção.”

Finalmente, tomámos a decisão de que
não íamos continuar a trabalhar com ele.

Partiu-me o coração.

Não é só de tocar com o Joe.

Tenho saudades daqueles tipos, mas tenho
muitas saudades da amizade e da música.

Pronto.

Muito bem. Fortes, ótimo, ótimo.

Eu e o Glenn, na altura
de tomarmos decisões da banda,

normalmente mantemo-nos unidos.

É difícil haver quatro ou cinco pessoas
com a mesma importância.

Aqui estamos, 40 anos depois,
e estamos bem.

Somos das poucas bandas
que podem dizer isso.

A novidade de os Eagles estarem reunidos
e as poucas canções novas

que tínhamos no álbum Hell Freezes Over
eram uma coisa.

Mas precisávamos de fazer um álbum.

Tendo em conta que não fazíamos
um disco há tanto tempo...

... passámos uns bons dois anos e meio
a fazer o Long Road Out of Eden.

Percebemos que precisávamos
de voltar a fazer o que fazemos.

Voltámos à essência do que
fazemos melhor, que é cantar e compor.

Há muita harmonia de vozes, neste álbum.

Grandes tragédias como essa
fazem-nos pensar, como pais:

“Que mundo virá aí?
O que acontecerá a seguir?

Como será o mundo,
quando os meus filhos crescerem?”

Depois do 11 de setembro,
a nossa reação imediata e visceral,

a nossa reação resultou
na “Hole in the World.”

Os Eagles escreveram e cantaram muitas
canções de amor, ao longo dos anos.

Mas também escrevemos e cantámos canções
relacionadas com o que se passa no mundo.

Nunca nos esquivámos ao comentário social.

Achamos que faz parte de uma tradição rica
que vai até aos tempos medievais.

Por isso, ainda o fazemos.

BOSQUE WALDEN

As obras e as ideias
de Henry David Thoreau

e de Ralph Waldo Emerson
tiveram um grande impacto em mim.

Ajudaram-me em períodos
muito difíceis da minha vida,

um deles quando o meu pai
sofreu de uma doença de coração...

... e deram-me muito apoio espiritual.

Quando soube, em 1980,
que uma parte do Bosque Walden

ia ser destruído
por um empreendimento comercial,

decidi que precisava
de ajudar a lutar contra isso.

Por isso, acabei por fundar
o Walden Woods Project

e já vamos no nosso 22º ano
e conseguimos bastante.

Tem sido uma das coisas
mais gratificantes que já fiz.

A letra dessa canção
era originalmente um poema,

escrito por um grande poeta americano
chamado John Hollander.

NÓS E AS ÁRVORES E O CAMINHO
DE VOLTA DOS CAMPOS DE ALEGRIA

DURARAM TANTO QUANTO CONSEGUIMOS.
NÃO HÁ MAIS CAMINHADAS NO BOSQUE.

O Don tinha este título,
“Long Road Out of Eden.”

O Timothy aparece
e pega numa guitarra acústica,

vou para as teclas,
o Joe pega numa guitarra

e o Don vai para a bateria.

E começámos a inventar
uma história musical

chamada “Long Road Out of Eden”,
na verdade a história da guerra no Iraque.

E foi como a “The Last Resort”.

Foi outro épico,
outro filme do David Lean.

Finalmente conseguimos
e lá terminámos o Long Road Out of Eden.

E não o demos a uma editora.
Fizemos um acordo com a Wal-Mart.

Foi o primeiro artista importante
a lançar diretamente para o retalho,

sem passar pelas grandes discográficas.

Foi um êxito fenomenal.

O álbum entrou para o número um.

Acho que deu esperança
a toda a indústria da música

que podia encontrar uma forma nova
e diferente de chegar aos fãs.

Estavam a tornar-se uma empresa verde,
o que era importante para mim.

E outra coisa boa era que os nossos fãs
recebiam 20 canções por 12 dólares.

No fundo, era um álbum duplo
mas não pagavam o dobro por isso.

O Don disse: “Tenho um título
para uma canção, ‘Busy Being Fabulous.’”

E pensei: “Que grande título.”

NÃO ESPERES POR MIM
ESTA NOITE

O Don escreveu: “Não esperes por mim
esta noite. Foi tudo o que ela escreveu.”

E depois continuámos a história.

Na “Busy Being Fabulous”,

o Don e o Glenn
tinham chegado a certo ponto

e eu acrescentei algumas coisas
para a ponte

e afinei o que já existia.

Estive muito envolvido no álbum Long Road.

Sempre me senti mais contente
estando em todo o projeto.

Nos arranjos, na produção, na composição.

Como na “Waiting In the Weeds”
e na “Business as Usual”,

que escrevi com o Don.

Ter o Steuart Smith na banda
foi um grande tónico.

É um músico tremendo.

É um grande solo.
É como vestir um fato espacial.

É estranho tocar aquela canção.

A reação é bestial
e desfrutamos daquele entusiasmo.

Mas eu não a escrevi.

Por um lado, sou convidado
mas, por outro, sou colaborador.

Sou um dos guitarristas.

Não sou um Eagle.

Não sei o que é ser um daqueles tipos.

Os meus filhos
estavam a procurar na Internet...

... e encontraram um concerto
que os Eagles fizeram em 1974.

Estava a ver televisão
e os meus filhos disseram: “Pai, anda cá.

Tens de ver o teu cabelo.”

Uma das canções era a “How Long”.

“How Long.”
É do meu primeiro álbum a solo.

A Cindy viu-a no YouTube.

“Glenn, o que é isto?”

Ele disse: “É uma canção do JD.”
Ela disse: “Não a gravaste, pois não?”

O JD queria-a no seu álbum a solo,
por isso, nunca a gravámos.

A minha mulher disse:
“Parece um êxito dos Eagles.”

São a banda americana.

Eles apanharam os anos 70
e representam-nos muito bem.

É muito tempo,
para ainda terem impacto musical.

Isso deve-se a uma incrivelmente fresca,

precisa e extraordinariamente boa
banda de estúdio

e à presença de boas canções.

Mas agora também é outra coisa,

em que todos,
através da banda, se querem lembrar

de uns anos 70 que podem ou não ter tido.

Esta banda podia ir tocar
em estádios por todo o país

que as pessoas
conhecem estas canções de cor.

Elas ficam, as canções ficam.

Tenho uma pequena placa na minha parede.

Diz: “Atribuído aos Eagles

para celebrar o álbum mais vendido
do século XX,

com vendas superiores
a 26 milhões de unidades.”

Esse século acabou,
por isso, ninguém vai superar isso.

Como é, ser um Eagle agora?

Faz parte da minha vida.

Eu faço as coisas normais. Vou ao mercado

e, de vez em quando,
alguém vem ter comigo.

Não ando por aí a ser um Eagle.

Sou um Eagle quando é altura de o ser.

Eu lavei a louça,
antes de vocês virem cá hoje, sabem?

Adoro todos os elementos da banda
como irmãos.

Pertencer a uma verdadeira banda...

... uma verdadeira banda,

é algo que nem todos os músicos
conseguem fazer na vida.

E tenho muita sorte, por ter vivido isso.

O rock and roll salvou-me a vida.
Mudou tremendamente a minha vida.

Como o Mick Jagger
tão famosa e eloquentemente disse:

“É só rock and roll mas eu gosto.”

Acho que uma das razões por que
eu e o Glenn quisemos compor canções

foi porque o rock and roll
acompanhou-nos no terceiro ciclo

e no secundário,

e nesses períodos difíceis,
quando procuramos a nossa identidade,

questionamos o que nós somos,
tentamos que as raparigas reparem em nós

e perguntamo-nos porque é que os jogadores
de futebol se safam melhor do que nós.

No fim de contas,
era e ainda é por causa da música.

Arrependo-me de não ter lidado melhor
com alguma da adversidade

que os Eagles enfrentaram
no final dos anos 70.

Felizmente para mim, tive outra
oportunidade de ser o líder dos Eagles,

outra oportunidade de ser o colega do Don,

de voltar a fazer este trabalho
e de tocar esta música.

E desta segunda vez,
acho que tenho feito um bom trabalho

a manter a paz e a banda unida.

A manter todos felizes.

Por isso, aqui estamos. Ainda o fazemos.

Obrigado.

Já está, já está.

Adeus.

Nós queríamos longevidade.

Para nós, não era um passatempo,
não era uma brincadeira.

Não era uma forma agradável
de passar o tempo.

Era uma vida,
era um chamamento, era uma carreira.

Valeu a pena.

No ano passado, fomos à China.

Ainda vivemos novas aventuras,
40 anos depois.

No fim dos anos 70, o Neil Young escreveu
uma canção sobre a emergente ética punk.

E o verso crucial dessa canção era:

“É melhorar esgotarmo-nos
do que enferrujarmos.”

Nem sei se o próprio Neil
partilhava esse sentimento,

mas não acho que a ferrugem seja algo mau.

Tenho um velho trator John Deere, de 1962,

que está cheio de ferrugem
mas que trabalha muito bem.

O interior está impecável.

Para mim, a ferrugem
simboliza todos os quilómetros feitos

e todo o trabalho feito
e todas as experiências vividas.

Da minha perspetiva,
a ferrugem parece-me excelente.

Quando alguém se aguenta 40 anos...

GOVERNADOR DA CALIFÓRNIA

... tem algo que as pessoas querem.

E os Eagles têm-no.

Para mim, os Eagles
exprimiam um estado de espírito.

A Califórnia era o local dos sonhos.

Era uma época
de possibilidades ilimitadas.

Representam um momento crucial...

... no mundo do rock and roll
que eu adoro.

Não conseguíamos adorar
a música dos Eagles,

sermos fãs dos Eagles e conhecê-los
sem aspirarmos também à grandeza.

Os legados não me interessam.
Perguntam-me: “Qual é o seu legado?”

Estou aqui agora.

Estou a fazer o que quero
e a tentar que as coisas aconteçam.

Vejo os Eagles da mesma maneira.
Eles não estão nos anos 70.

Estão em 2012 e 2013.

E, façam o que fizerem agora,
artisticamente, isso é o importante.

Tradução: André Vieira