All language subtitles for Il Signore delle Formiche

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14 anos fazendo Arte para voc�!

Legenda
- JuLima -

LIVREMENTE INSPIRADO EM FATOS OCORRIDOS
NA IT�LIA NOS ANOS 60

Malditas formigas nojentas...

- Ei, calma, ele vai te ouvir.
- Quem?

N�o est� vendo quem est� ali?
Braibanti, o mirmecologista.

O que significa isso?

Ele estuda
a vida das formigas.

Ele � um erudito.

Iremos embora em dez minutos.

"Eu te ofereci
na palma da m�o

uma varinha de papel.

Eu a peguei
como um bote salva-vidas.

Sob as solas
dos meninos perseguidos

pela ordem estabelecida.

Voc� a acariciou com uma asa,

como um presente
de anivers�rio.

Voc� olhou para mim
para entender

e imediatamente
a troca ocorreu.

Simples.

Clara.

Como nossas expectativas."

� lindo.

Eu escrevi para voc�.

Eu tamb�m escrevi um.

"Pensei que fosse culpa.

Mas era apenas coragem.

Onde est� escrito 'infinito',
eu apago

e escrevo 'vida'.

Pensei que fosse noite.

Era apenas o esfor�o.

Onde est� escrito 'amor',
eu apago

e escrevo 'voc�'."

Vamos dormir
que j� est� tarde.

S�o versos ruins?

- Quem escreveu este poema?
- Eu.

Ent�o vou recitar outro
que escrevi ontem.

- Vai.
- Lembro muito bem, � assim...

"Do v�rtice que agu�a
a torre antiga,

solit�rio pardal,
rumo � campina cantando vai..."

Est� certo, tudo bem.
Voc� escreveu esse?

N�o gostou?

- � lindo.
- A cad�ncia � linda.

- � uma obra-prima.
- Uma obra-prima.

O SENHOR DAS FORMIGAS

Aldo, Aldo!
Socorro, me ajude! Socorro!

- Voc� devia se envergonhar.
- Pederasta.

ROMA, INVERNO DE 1965

Esta n�o foi
a soma acordada.

Os quartos individuais
t�m custo pr�prio.

Voc�s n�o querem que ele acabe
na galeria com todos os outros.

Ele precisa
se sentir em casa.

Saia. Saia.

Quieto, acalme-se.

Estou aqui.
Est� tudo bem.

Est� tudo bem.

Bom menino.

- O que voc�s far�o comigo?
- Queremos fazer voc� se curar.

- Mas eu n�o estou doente.
- Claro que n�o.

Voc� �
como todos os outros rapazes.

Fa�a o que eu digo
e logo estar� fora daqui.

Onde est� o Aldo?

Eu liguei para ele,
ele est� a caminho.

S�rio?

Aldo � o �nico que me ama.

Minha m�e e meu irm�o
n�o me amam.

Eles me enganaram.

Eles n�o t�m nada com isso,
agora vou te ajudar.

Obrigado.

Mas n�o conte
para a minha m�e

que o Aldo vem aqui.

- Ela o odeia.
- N�o se preocupe.

Ser� nosso segredo.

- O senhor jura?
- Juro.

Obrigado.

Para que servem
essas m�quinas?

Calma, fique calmo.

Em breve voc� dormir�
e n�o sentir� nada.

Calma.

N�o.

Como voc� est�?

Os m�dicos dizem
que voc� est� indo bem.

Tenho muita confian�a
nesse tratamento.

Mas os rem�dios n�o bastam,
voc� precisa comer.

Todo dia trazemos coisas boas
e voc� nem toca nelas.

Os outros n�o t�m essa sorte.

Olhe para mim.

Sabe o quanto eu sofro
quando voc� faz isso.

O pior j� passou.

Ver� que tudo voltar� a ser
como antes,

na verdade,
ser� melhor ainda.

O padre pediu que todos orassem
por voc� durante o serm�o.

Mas voc� deve rezar diariamente,
como eu rezo.

Lembra da ora��o que voc� rezava
quando era crian�a?

Santo Anjo do Senhor,
meu zeloso guardador

se a ti me confiou
a piedade divina,

sempre me rege, me guarda,
me governa me ilumina.

Am�m.

Vem c�.

Vem c�.

Anda logo
que estou com pressa.

Vai logo,
vamos fazer isso r�pido.

Venha logo.

N�o quer fazer nada?

Mas vai me dar o dinheiro
mesmo assim.

Quem acha que eu sou?

V� fazer caridade na igreja.

Me pague e cale a boca,
ou voc� se dar� mal.

EM�LIA-ROMANHA,
PRIMAVERA DE 1959

Vim devolver o livro.

N�o cheguei nem na metade.

Me irritou
j� nas primeiras p�ginas.

Depois de "Os Indiferentes",

eu n�o esperava
esse ceticismo gratuito.

Do que est� rindo?

"Ceticismo".
� preciso saber ler os livros.

"O Desprezo" � um romance...

forte,
com um forte ponto de vista,

sobre a destrui��o,
a desintegra��o das ilus�es.

Eu errei ao d�-lo a voc�.

Voc� n�o tem as ferramentas,
n�o consegue entender.

� voc� quem n�o quer admitir
que pode errar.

O que veio fazer aqui?

Bom dia.

Eu achei isto.

Tinha asas, mas deve ter perdido
enquanto a trazia para c�.

� uma Messor structor.

Que �timo
que ela perdeu as asas.

A funda��o de um imp�rio.

Era justamenta
a que me faltava.

Voc� n�o faz ideia do presente
que est� me dando.

- Quem � voc�?
- � o Ettore, � meu irm�o.

Voc� n�o me disse
que tinha um irm�o.

N�o achei necess�rio.

Vamos, Ettore.

Devemos guardar este tesouro
na sala principal.

Fale sobre voc�.
O que voc� faz, estuda?

Digamos que estudo Medicina.

- Por que "digamos"?
- � o desejo da minha m�e.

Por qu�,
o que voc� gostaria de fazer?

Eu gosto de desenhar,
de pintar...

E por que n�o faz isso?

Ningu�m deve seguir
as ideias dos pais.

Eles nos trouxeram ao mundo,
deveria bastar, certo?

Venha, entre.

Veja como s�o lindas.

Elas n�o sofrem
dentro deste vidro?

N�o, elas precisam
estar pr�ximas.

Mesmo em um campo aberto,
devem estar sempre perto,

e sabe por qu�?

Se uma formiga fica sozinha,
perde o caminho de casa.

Ele me emprestou um livro
sobre Piero Della Francesca.

E para voc�?

Nenhum.
N�o estou com vontade de ler.

Por que n�o me disse antes
aonde voc� ia?

Eu teria vindo tamb�m.

� um lugar bonito.

E Braibanti me parece legal,

um homem agrad�vel.

Aldo n�o � bom para voc�.

Ele s� est� interessado
em nos deixar em crise,

em quem concorda
e d� raz�o para ele.

E voc� � muito sens�vel.

Eu n�o sou sens�vel.

Agora � tarde.
Ele n�o te deixar� mais em paz.

Ainda mais depois de dar
aquela formiga para ele...

Voc� j� procurou
muitas formigas para ele.

Essa surgiu na minha frente.

Como eu ia saber
que era a rainha?

N�o volte nunca mais l�.

Foi a primeira e �ltima vez.

Mas o que h� de errado nisso?

Podemos fazer algo juntos,
n�o podemos?

N�s somos irm�os!

� Virgem M�e,
filha de teu Filho,

humilde e superior
a toda criatura,

termo fixado
dos des�gnios eternos;

Senhora, �s t�o grande,
tanto podes,

que pedir gra�as ao c�u,
sem teu aux�lio,

� o mesmo que desejar voar
sem dispor de asas!

Bravo!

Muito bom!

�timo! Parab�ns!

Aproveite seus filhos,
que esta � a idade mais bonita.

Depois eles crescem.

Lembram quantos poemas
seu pai ensinou a voc�s?

Eu nunca tive paci�ncia.

J� sua irm� s� faz isso.

Ela ensina um por semana,
como se eles fossem mulheres.

- Voc� n�o entende nada
- Deixa pra l�.

N�o devemos ler na mesa,
n�o � lugar para isso.

Que bagun�a � essa?

Chega.

N�o estrague o livro.

� do professor Braibanti.

Ele distribui livros,
mas para outros fins.

Atingamente,
aqueles como ele,

eram mandados
para o confinamento,

e era a coisa certa.

De quem voc� est� falando?
Do filho da Susanna?

Ele mesmo.

Ele foi encontrado pela pol�cia
no campo quando fazia...

Vamos deixar para l�,
� melhor.

A torta est� gostosa?

Est� uma del�cia.

Eu mesma fiz.

A f�mea, a rainha,

sempre acasala
com v�rios machos.

E mant�m os espermatozoides
a vida toda.

Depois que acasala,
ela perde as asas,

cava um buraco no ch�o
e fertiliza os ovos

com os espermatozoides
que coletou.

Sabe o que gosto
nas formigas?

- O qu�?
- A hist�ria do est�mago social.

� verdade que toda formiga
tem dois est�magos?

Um para si
e outro para os famintos?

� verdade,
mas como voc� sabe?

Essa � uma bela met�fora.

As formigas
colocam o bem coletivo

na frente do ego�smo.

Sim, isso mesmo,
elas compartilham tudo

e nunca traem.

Eu trouxe este livro
para voc�.

Ficarei feliz se voc� l�-lo.

Marquei um verso
que me fez pensar em voc�.

"�gua,

�gua por todos os lados,

nem uma gota para beber."

Fala sobre um naufr�gio.

Algu�m perdido
no meio do mar.

Fala sobre muitas coisas.

No nosso caso,
sobre a insatisfa��o.

Sobre estar
no meio do oceano e...

ainda assim morrer de sede.

N�o ser feliz com o que temos
ao nosso redor.

Ent�o, estamos destinados
a morrer de sede?

Voc� n�o.

Enquanto eu estiver aqui, n�o.

Obrigado.

Eu sou o vento

Sou a f�ria que passa
E que leva consigo

Que na noite te chama
Que n�o tem paz

Sou o amor
Que n�o sente piedade

Eu sou o vento

Se te acaricio
N�o deve confiar em mim

Quem estava na torre hoje?

Eu conheci a Carla,

ela recitar� os escritos do Aldo
na apresenta��o.

E o Aldo?
Sobre o que voc�s conversaram?

Ele me disse que amar...

� a maior crueldade.

Sim,
� um dos carros-chefe dele.

Ele disse essa frase
para mim tamb�m.

E o que significa?

Significa que um dia
voc� sofrer�.

"Ou�a-me.

Ou n�o ou�a-me.
Recomecemos."

"Du bist mein Leben.

Du bist mein Leben.

- Du bist mein Leben..."
- Chega, chega. Chega.

J� chega.

O que � isso?

O que � esse teatrinho?

Eu j� te disse, o texto
n�o deve ser representado.

Deve ser demolido em cena.

N�o estou interessado no relato,
na historinha.

Me interessam os peda�os,
as farpas que cortam,

que ferem.

E isso se aplica a todos.

"Du bist... mein Leben."

O que significa, Carla?

O que significa?

Fale.

"Voc� � minha vida."

Voc� acha que algu�m
precisa entender isso?

Sim ou n�o?

Sim ou n�o?

- N�o.
- E por que est� enfatizando?

N�o marque o significado!

N�o damos a m�nima
para o significado.

Para o significado,
serve o vocabul�rio,

n�o h� necessidade do teatro.

Continue de onde parou,
vamos l�.

Recomece do �ltimo verso.

Voc� a�, me d� um cigarro.

Isso, voc� mesmo.

Um pouco de vida, mo�ada!
Vamos l�.

"Uma palavra nua te apavora,
o sangue te assusta.

O sangue que voc� derrama
por seus assassinos idiotas."

Quebre a palavra tamb�m,
n�o apenas a frase.

As palavras, as s�labas.

De um lado, de outro.
Vai, espalhe bem!

"E, no entanto,
� muito simples.

Tudo � sangue.

At� o mar.

At� a loucura do seu Deus,
ast�nico e zombeteiro."

"Deus, Deus, Deus!"

Entende que palavra
est� dizendo? Deus! Tudo!

Diga duas vezes!

"At� a loucura
do seu Deus, Deus,

ast�nico e zombeteiro!"

Recue aqui.

Voc�s continuem se movendo.
Movimento, sempre.

Professor Braibanti.

Caminhamos tanto
para chegar onde?

A um ponto-morto.

T�nhamos que ouvir palavras

que significavam
apenas o som delas.

Mas agora eu entendo
que este jogo faz sentido.

Falamos sobre dem�ncia e astenia
se dirigindo a Deus.

Que amparo triste
a blasf�mia.

Mas voc� � o autor do texto?

Voc� sabe o que est� fazendo?

Est� provando
que seus inimigos t�m raz�o.

Aqueles que dizem que voc� �
apenas uma pessoa suja

que quer sujar os outros!

Voc� deveria se observar.

Olhe para voc�.

Olhe-se naquele espelho.

Olhe para voc�,
olhe para voc�. Aqui.

N�s buscamos a beleza aqui.

Veja o que voc� se torna
quando fica com raiva.

Olhe para voc�.

Desculpe-me,
mas � a primeira vez que dan�o.

Eu tamb�m n�o estou dan�ando.

� lindo o desenho
que voc� fez para mim.

Voc� vai me dar ele?

N�o...

Farei outro para voc�.
Ainda tenho que melhorar.

N�o est� gostando da festa?

Queria me desculpar com voc�.
Eu agi como um idiota.

Ultimamente isso tem acontecido
com muita frequ�ncia.

Talvez este lugar
n�o seja mais para voc�.

- Estou com frio.
- Coloque meu casaco.

- Vamos para casa, agora.
- Por qu�?

- Eu disse "vamos".
- Vou ficar mais, ainda � cedo.

- Ele pediu para voc� ficar?
- Eu quero ficar.

Voc� vem para casa comigo.

Espere!

O casaco.

Um intelectual est�ril

que n�o consegue
publicar uma linha sequer.

E n�s, como idiotas,
caimos na l�bia dele.

Eu n�o quero mais v�-lo.

E voc� far� o mesmo.
Est� me ouvindo?

Fui claro?

Voc� n�o manda em mim.

Imbecil.

Como ousa?

N�o fale assim comigo.

Quem pensa que �?

Voc� � um imbecil
que n�o entendeu nada!

Acha que vai auxili�-lo
porque voc� � talentoso?

Essa � a t�tica dele.

Ele diz que voc� � o mais capaz,
o mais inteligente,

e te prende em sua teia.

Por mim tudo bem.

� real e abstrato
ao mesmo tempo.

Parece com as coisas
que voc� desenha.

Eu s� fa�o...

o que vem na minha mente.

N�o copio os grandes artistas
quando desenho.

N�o se trata de copiar.

Voc� � t�o jovem.

Voc� tem tempo
para ser original.

Mas no come�o � importante
ter pontos de refer�ncia.

N�s necessitamos,
por assim dizer,

de mestres.

Sobre isso,
Nietzsche � muito claro.

"No in�cio, o esp�rito adora
carregar fardos."

� como um camelo
correndo cansado no deserto.

Neste deserto,
o camelo se transforma em le�o.

Ele quer ganhar sua liberdade
e vira inimigo de seu mestre.

E ele se recusa a obedecer.
Sempre diz: "n�o, n�o, n�o".

Mas ainda n�o acabou.

Nisso Nietzsche
� verdadeiramente brilhante.

Ainda falta uma metamorfose.

O le�o deve se tornar
um menino.

Uma crian�a brincando,
brincando, brincando...

Que sempre recome�a
a brincadeira

e sempre diz "sim".

Felizmente, de modo santo.

Ele n�o se op�e mais
como o le�o.

Ele diz "sim" repetidamente
e, continuamente, febrilmente...

cria.

O mestre que se escolhe

� o primeiro ato de liberdade
de um artista.

E um aluno em certo ponto
sempre pode matar o mestre.

Ent�o eu deveria desenhar assim
na sua opini�o?

N�o sei,
foi o que me veio em mente

vendo as coisas que voc� faz.

Voc� � quem deve encontrar
o seu caminho.

Eu decidi
que n�o gosto disso.

Nunca vi um mestre
ser morto t�o r�pido.

Por que ele ficou fora
a noite toda?

E fazendo o qu�?

E voc� n�o falou nada
para ele?

Voc� n�o s� trouxe aquele homem
para nossas vidas,

como tamb�m deixou
seu irm�o l� com ele.

Que pergunta � essa?

Sei l�.

Voc� vai voltar l� agora
e vai traz�-lo para casa.

N�o trarei ningu�m para casa.

Ele � maior de idade.

E se voc� tem tanto medo,
pode ir l� com seu marido.

N�o estou certo, pai?

N�o troque de roupa,
hoje almo�aremos na casa da tia.

J� alcan�o voc�s.

Voc� ainda reza, Susanna?

Faz muito bem.

Existe s� uma pessoa
que voc� deve confiar a Deus.

Seu filho.

Por todo o mal que ele causa.

Modere suas palavras, senhora.
Estamos na igreja.

Voc� n�o tem vergonha
do que todo mundo diz?

N�o dou ouvidos � maldade,
�s invejas.

Voc� deveria fazer o mesmo.

Sabe qual � a pior coisa
para uma m�e, Susanna?

Ser enganada.

Foi o que o Ettore fez.

Ele me disse que ia
para a universidade.

Em vez disso, passava dias inteiros
com o professor Braibanti.

Mas que pecado cometem
um mestre e um disc�pulo?

- At� Jesus Cristo...
- N�o blasfeme.

E mantenha seu filho
longe do meu.

Uma camisa...

Duas camisas...

E um su�ter.

Livros n�o devem ser levados
no trem. Eles pesam.

Vou envi�-los para voc�.
Um pacote de cada vez.

Mas vai precisar de um
para a viagem. Pode escolher.

- Primo Levi.
- Vou colocar aqui.

Voc� vai levar o casaco?

O que voc� tem?

Vou deixar voc� sozinha.

N�o.

� a coisa certa.

Voc� tem que ir embora
deste lugar.

Eu n�o fiz voc�
para ficar aqui.

Corra, corra. Vamos! Vamos.

Aonde vai com a bicicleta?
Voc� � louco?

ROMA, PRIMAVERA DE 1964

Este � o meu melhor quarto,
� onde eu dormia com meu marido.

Precisa me dizer
se voc� quer a cama de casal

ou se prefere
duas camas de solteiro.

Ser� uma pena
dividi-la em duas partes.

Al�m disso, o que h� de errado
em um tio e um sobrinho

dormirem um ao lado do outro?
N�o � mesmo?

- Port�o, porta e quarto.
- Obrigado, senhora.

Voc�s s�o id�nticos.

N�o sabia que havia
uma pir�mide em Roma.

� a coisa mais f�cil
de desenhar.

Quando dizemos "bonito"
o que queremos dizer,

se n�o o que � intenso,
o que � profundo?

Uma obra � a manifesta��o
da verdade subjetiva do artista,

de sua verdade mais profunda.

Olhando para cada cent�metro
do seu desenho,

preciso compreender
que existe a sua m�o,

que � um desenho que s� voc�
poderia fazer dessa maneira.

Precisamos listar as coisas
que voc� deve conhecer de Roma.

Ali�s, estes s�o interessantes,
s�o do estilo grotesco.

S�o reprodu��es de afrescos
das casas romanas.

Estavam muito na moda
no Renascimento.

- O que eles est�o fazendo?
- Venha, venha.

Olha quem est� a�...
Braibanti!

O que est� fazendo em Roma,
sua puta velha?

Vim acompanhar
um dos meus alunos.

E n�o vir�
ao meu anivers�rio?

Claro que irei.

Eu queria fazer uma surpresa.

- � amanh�, certo?
- N�o, querida, � hoje � noite.

E estou te obrigando a ir.

Voc� j� trouxe
o meu presente.

Embora n�o saiba
se ele me agrada.

Um pouco jovem demais
para o meu gosto.

Que prazer ver voc�, amor.

Veja s�, veja a tortura
para uma capa.

Voltei.

Quem � ele?

- Vanni Castellani, um m�sico.
- Ele n�o � pintor?

Criatividade multifacetada.

Ele � meio esquisito.

Ele � meu melhor amigo.

Parab�ns para voc�

Feliz anivers�rio,
Querida Vanni

Parab�ns para voc�

- Ele esqueceu esta.
- Apague voc�.

- Fez um pedido?
- N�o.

- Vou fazer agora?
- Agora n�o vale mais.

- Que pena, era um bom pedido.
- Ent�o ainda vale.

Vamos embora?

Acabamos de chegar.

Tudo bem. S� vou me despedir
do aniversariante.

Me espere aqui.

- O que farei com isto?
- N�o coma tudo.

Voc� � ator?

Voc� � muito fotog�nico.

Se eu fotografar voc�,
todas as portas se abrir�o.

Separei
uma c�psula de cianeto.

Acha que ser� suficiente?

O que est� dizendo?

N�o posso morrer,
estou com medo.

E com raiva tamb�m...

Da rea��o
daqueles que me odeiam.

E n�o pensa
naqueles que te amam?

J� aconteceu com voc�
de reler algo que escreveu,

que te parecia lindo...

E descobrir que � uma merda?

Bem, isso acontece.

Mas tem acontecido comigo
com muita frequ�ncia.

Sabe, hoje de manh�,

precisei queimar
um ano de trabalho.

Mas se metade do mundo
venera voc�.

� a outra metade
que eu gostaria de agradar.

Pare de beber, faz mal.

Voc� n�o bebeu nada, aposto.

Crian�as n�o gostam
de b�bados.

Onde voc� deixou seu aluno?

Ele est� cansado,
quer ir embora.

Eu vim me despedir de voc�.

Ent�o se despe�a.

Tamb�m me d� um beijo,
se quiser.

� melhor n�o.

Guarde para mais tarde.

Como � o pau dele?

Por favor.

N�o sei.

Por qu�? Voc� n�o o toca?

- Tchau, Vanni.
- Nem fez um boquete nele?

Por favor.

Sorte a sua estar apaixonado.

O que estou dizendo?

Estou vivendo o amor ideal.

Uma senhora rica satisfaz
todos os meus caprichos.

Ela gosta de mulher,
eu gosto de homem.

Um casal perfeito.

Braibanti, sua torre
ainda n�o caiu?

- Ela ainda est� de p�.
- Melhor para voc�.

Voc� precisa
do seu pequeno reino,

onde decide
o que � certo e errado

e onde �
a autoridade absoluta.

Felizmente no mundo real
as coisas n�o funcionam assim.

Felizmente.

Lembra dos versos que te enviei
no ano passado?

Vagamente.

Voc� me escreveu
uma carta venenosa.

Ainda lembro de uma frase:
"Banalidades ao molho rococ�".

Bem, era verdade.

T�o verdadeiro que m�s que vem
Garzanti vai public�-los.

Meus parab�ns.

Est� procurando
seu amiguinho?

Roma o pegou.

Por que voc� saiu?

Poderia ter esperado
por mim, n�o?

Pelo menos me avise
se for embora.

N�o fa�a mais essas coisas.
Nunca!

Aonde vai?

Volte aqui.

Eu errei ao arrast�-lo
at� l� esta noite.

Me desculpe.

Eu n�o esperava isso.

O qu�?

Que um artista como ele
se cercava de gente assim.

O que est�o fazendo
de errado?

Para que tantos excessos?

Nos gestos, na voz...
Parecem caricaturas.

Quando est�o entre eles
perdem as inibi��es.

Os homossexuais, quero dizer.

Eles se sentem livres
do julgamento dos outros.

Dos chamados "normais".

Ent�o eles podem exagerar.

Podem extrapolar.

Quem sabe quantas vezes
isso aconteceu comigo tamb�m.

Eu nunca vi voc� dessa forma.

Eu n�o sou como eles.

Mas tamb�m sou como eles.

Senhora, hoje � um lindo dia.

Tenho uma carta do seu filho
para voc�.

Querida m�ezinha.

Estou escrevendo para voc�
cheio de emo��o

pela not�cia
que acabei de receber.

Minha �ltima pe�a,

que, como voc� sabe,
trabalhei muito nestes meses,

ganhou um pr�mio importante
de dramaturgia.

� um pr�mio em dinheiro.

E principalmente, tenho certeza
que ser� encenada em breve.

Quase certamente
em um belo teatro em Trastevere.

Um bairro animado,
que traz alegria,

cheio de jovens
e pessoas apaixonadas por arte.

Agora ser� sobre...

CASA DA MARICONA

FIL�SOFO ACUSADO DE SUBJUGA��O
ACABA NO BANCO DOS R�US

Sim, mas isso aqui parece
a quinta s�rie.

Saiba que precisei
reescrever o texto inteiro.

Sim, sim, n�o vou discutir.

Ele tem um �timo conhecimento,
exceto o da sintaxe.

Lembra como Grieco
nos repreendia?

"Voc� nasceu
no dia de S�o Anacoluto."

Isso me fazia morrer.

Sim, mas n�o precisamos
de outras mulheres na reda��o.

As duas que temos
j� d� e sobra

e que, ali�s, sabem trabalhar,
acredite. Espere um pouco.

Ainda est� aqui?

Mas...

� seu.

Mas eu cubro roubos,
furtos, acidentes...

Franchi ainda est� na Crimeia,
n�o se sabe quando voltar�.

Vai, pode ir.

Ou�a, se voc� n�o estivesse
envolvido,

eu j� teria encerrado o assunto
com um "n�o" bem grande.

Pode ser um caso de caridade,
mas n�o vamos exagerar.

"Artigo 603.

"Quem subordina uma pessoa
� sua autoridade,

reduzindo-a a um estado total
de sujei��o,

ser� punido com pris�o
de cinco a quinze anos�.

"A pena pode ser estendida
para vinte anos

se a v�tima for portadora
de defici�ncia f�sica,

ps�quica ou sensorial�.

Isso seria
o crime de subjuga��o.

Isso te diz alguma coisa?

Na verdade, � a primeira vez
que o adotam.

- Perd�o, mas como voc� sabe?
- Tenho um amigo advogado.

� mesmo?

S� amigo ou amigo colorido?

- N�o � da sua conta.
- Sim, tem raz�o.

Mas voc� conhece
este Braibanti pessoalmente?

Eu?

N�o era aquele
da Festa de l'Unit�?

Sim.

- O formig�logo.
- Mirmec�logo.

Bem, d� na mesma.

Voc� acha que ele merece
estar na pris�o?

Para mim, s� quem deveria
ir para a pris�o s�o os...

Como vou saber?

Ou ningu�m deveria.

Celas abertas e todos livres.

Espero que voc� n�o escreva
essas coisas.

Talvez eu nem pense isso,
sei l�.

� homossexual?

- Quem?
- Braibanti.

Isso n�o ser�
s� da conta dele?

� crime?

O C�digo Penal est� bem a�,
procure, n�o?

N�o brinque. � crime?

Procure a�.

N�o, n�o � crime.
N�o � crime

porque n�o h� sequer
essa palavra, neste livro.

E sabe por qu�?

Porque esse foi o racioc�nio
de Mussolini.

"Se condeno os viados,
admito que eles existem."

Entendeu?

Mas como todos sabem,
� imposs�vel,

porque na It�lia
somos todos machos, �bvio.

ROMA, VER�O DE 1968

Todos em p�.

Vamos dar in�cio ao julgamento
de Aldo Braibanti

pelo crime de subjuga��o.

Tire o chap�u.

- Tire seu chap�u.
- E por que deveria?

Em respeito ao Tribunal.

Vamos ver se ele merece.

Apresente-se perante o j�ri
o r�u Aldo Braibanti.

Senhor promotor,
quer fazer a primeira pergunta?

Obrigado, Merit�ssimo.

Sr. Braibanti,
gostaria de nos dizer

quais atividades educativas
ocorriam na torre,

usada por voc�
como centro cultural?

Responda, Sr. Braibanti.

Merit�ssimo, perdoe-me,

mas talvez a pergunta
n�o agrade o professor.

Nesse caso, pe�o desculpas
e de bom grado prossigo.

Sr. Braibanti,
como seu ensino difere

daquele que ocorre
em nossas escolas?

� verdade, Sr. Braibanti,
que se aproveitou sexualmente

de Manrico Cordani
e Ettore Tagliaferri?

Obje��o, Merit�ssimo.

O promotor usa um linguajar indigno
deste Tribunal.

Mantida.

Reformule a pergunta.

Sr. Braibanti,

de que natureza
eram seus relacionamentos

com Manrico Cordani
e Ettore Tagliaferri?

Braibanti permaneceu
em sil�ncio.

Isso diz tudo.

O julgamento poderia
terminar hoje.

Antes mesmo de come�ar.

A Defesa
ainda n�o foi ouvida.

Creio que n�o tenha
nada a dizer.

H� evid�ncias esmagadoras
contra o r�u.

E testemunhas irrefut�veis.

Ent�o acha
que voc�s j� ganharam?

Temos certeza que sim.

� um julgamento
que deve ser feito

e que far� com que o mal
seja compreendido.

E que salvar� os jovens.

Senhora.

Senhora.

- Senhora, me perdoe.
- O que voc� quer?

Queria saber se precisa de algo,
talvez precise de ajuda...

N�o preciso de nada,
obrigada.

Talvez n�o conhe�a bem Roma.

- Aonde precisa ir?
- N�o � da sua conta.

Acompanharei a senhora
com prazer.

Eu n�o preciso de ningu�m.

Sou eu.

- Me desculpe.
- Bom dia.

Sou Silvio, prazer.

- Um colega da sua prima.
- Sim, o advogadinho, certo?

J� me conhece?

Graziella falou sobre mim?

Contou que voc� � da Cal�bria,
que joga v�lei,

que � um camarada...

Certo, certo.
Tudo certo.

- O que est� fazendo aqui?
- Voc� n�o me ouviu?

- N�o.
- J� acabou a audi�ncia?

- Este � o Silvio.
- J� nos conhecemos.

- Vamos comer todos juntos?
- Se n�o for atrapalhar.

Fica mais quente
com a janela aberta.

Vou me vestir e j� volto.

- Sente-se. O que faz em p�?
- Obrigado.

De onde voc� disse que �?
De Cosenza?

N�o, de Catanzaro.

J� esteve l�?

N�o.

Quando for,
eu hospedarei o senhor.

Obrigado, mas pelo amor de Deus,
n�o me chame assim.

- � por respeito.
- Melhor que "voc�", n�o �?

Voc� escreve
para o "L'Unit�".

Sinto muito pela cilada
em que se meteu.

Como assim?

A hist�ria daquele...
do cara das formigas.

E por que � uma cilada?

Quem se importa
com essas coisas?

Para mim, os invertidos
t�m dois caminhos.

Ou s�o curados

ou s�o mortos.

Claro.

Certo.

Cert�ssimo!

O que aconteceu?

- Por que ele foi embora?
- Talvez tenha esquecido algo.

Ennio.

Ennio!

Eu tinha
apenas um pensamento.

Cur�-lo.

Eu o levei
a tantos especialistas

para que arrancassem
aquele dem�nio da cabe�a dele.

Esse a� dava livros perigosos
para ele ler.

Um m�dico disse

que livros com menos de cem anos
s�o ruins para os jovens.

Muitos outros garotos
foram arruinados por esse a�.

Meses atr�s falei
com a Srta. Claudia Brabaschi

e ela disse
que uma amiga dela contou

que todas as acusa��es
contra esse a�

s�o absolutamente
verdadeiras.

Pois o filho dela tamb�m foi v�tima
de suas artimanhas.

Coitadinho.
Ele estava desesperado.

Ele queria se jogar
debaixo de um trem.

Esse a� deu a ele
uma dose de u�sque.

E depois...

Se atirou em cima dele.

Mas eu nunca duvidei
do meu Ettore,

nunca, nunca, nunca.

Mas ent�o em 1959
ele conheceu esse a�.

Ent�o eu disse: "Vamos mand�-lo
para o Padre Pio".

Quem dera
eu tivesse insistido.

Nosso outro filho, Riccardo,
que era comunista

tr�s anos atr�s
foi ver o Padre Pio

e quando voltou
estava mais que curado.

N�o me fa�a continuar,
por favor, Merit�ssimo.

N�o me sinto bem.

Ele era o mestre.

O dominador.

E se divertia...

em corromper
at� a cren�a mais sagrada.

S� para dar um exemplo.
Ele falava muito sobre incesto.

Mas como algo aceit�vel
e pratic�vel.

Sem d�vida, as trag�dias gregas
tamb�m falam sobre isso,

mas eles tratam
como um destino atroz.

N�o havia refuta��o nele.

Ele apenas exaltava
toda abomina��o poss�vel.

Uma noite...

Braibanti se enfureceu
porque eu segurava um c�ozinho.

Ele odiava animais,
exceto as formigas.

E odiava as mulheres tamb�m.

Dizia que elas tinham o c�rebro
menor do que o dos homens.

Quando ele ficava
bravo desse jeito,

para acalm�-lo,

eu tinha...
que me submeter a ele.

Ele deitava ao meu lado...

e satisfazia seus desejos.

Eu n�o tinha for�as
para me rebelar.

Eu estava com medo.

Mas uma noite...

enquanto eu voltava para casa,
depois de ser abusado por ele,

ouvi o toque de um sino.

Sim, era o sino da igreja.

O p�roco o fazia
tocar a noite toda

porque era Semana Santa.

A semana em que Nosso Senhor
ressuscitou

para nos salvar
de nossos pecados.

Esse som me acordou
do torpor em que eu havia ca�do.

Senti uma sensa��o
de liberdade.

Ent�o eu voltei
e chamei Braibanti.

Ele saiu...

eu o soquei e o fiz voar
de cal�ada em cal�ada.

Eu cuspi nele.
Se pudesse, eu o teria matado.

Voc� falou de abuso
cometido pelo Braibanti.

Por mais doloroso que seja,
preciso pedir

para explicar melhor
a natureza destas...

vamos chamar de aten��es.

Convers�vamos sobre sexo
todos os dias.

Ainda lembro da primeira vez
em que ele tocou...

minhas partes �ntimas.

Perguntei
o que ele estava fazendo

e ele respondeu
que estava brincando.

Infelizmente eu estava
acostumado a aceitar tudo dele

e ent�o o deixei fazer.

E o que deixou ele fazer?

Merit�ssimo?

Posso continuar falando
sem a plateia?

Preciso dizer algumas coisas,
algumas coisas terr�veis.

- Pedido da testemunha atendido.
- N�o iremos embora!

Quem n�o fizer parte do debate
deve se retirar do Tribunal.

Temos o direito de saber!
Isso n�o � certo, n�o � certo!

Com licen�a,
mas do que est� rindo?

Posso saber qual a gra�a?
Est� feliz?

- Quem � voc�? O que quer?
- Esque�a quem eu sou.

- Voc� n�o entendeu nada.
- Mas como ousa?

Saiba que aquelas pessoas ali,

com os sinos, a igreja,
Jesus Cristo e Padre Pio,

todas essas coisas
que o fazem rir tanto,

ganhar�o o julgamento.

Voc� n�o conhece
as estrat�gias de um advogado.

Est� certo, adeus.

- Estou esperando h� meia hora.
- Sim, pe�o desculpas.

E este lugar?
Voc� vem sempre aqui?

Nunca.

Chegou uma delega��o
de Moscou

e devemos
receb�-los adequadamente.

Voc� trouxe a mat�ria?

N�o, j� est� no prelo.

Como voc� ousa?

Porque o que aconteceu
no Tribunal hoje

� uma coisa muito forte.

E se tivesse deixado voc� ler,
teria exclu�do at� as v�rgulas.

Mas quando foi
que eu te censurei?

A mat�ria sobre a m�e
foi perfeita, de fazer chorar.

Mas se voc� sempre apaga
a palavra "homossexual".

N�o posso escrever "PC".
Como devo escrever?

"Grande Partido
dos Trabalhadores".

Como se toda a It�lia
n�o soubesse

que Braibanti
era um de nossos l�deres.

Eu posso colocar as m�os
nas mat�rias de todos.

Voc� n�o determina
a linha editorial do jornal.

Mas o que isso tem a ver?
J� leu o que os outros escrevem?

Quer que eu d� dois exemplos?
Aqui, olhe aqui.

"Do marxismo-leninismo
ao marxismo-pederastismo".

� isso que eles escrevem.

Eis o "anticristo port�til".

Onde est�?
Aqui, olhe s� esta aqui.

"Braibanti,
o comunismo a posteriori".

"Comunismo a posteriori".
Este � o n�vel.

Isso te faz rir?
Isso n�o me faz rir.

Pensei que apenas os fascistas
riam de coisas assim.

Agora v� embora, ligarei
para o jornal e pararei tudo.

Como assim?

- Bonsoir, madame.
- Bonsoir.

Perd�o, mas o que quer dizer?

O que significa "parar tudo"?
Est� brincando comigo?

- Acalme-se.
- N�o me acalmo n�o.

Por aqui, senhores.

Obrigado, madame,
me desculpe...

- Voc� fala russo?
- Falo.

O que aconteceu?
Ele � um criminoso?

N�o...

- Prenderam um camarada nosso.
- Ent�o temos que ajud�-lo.

� o que estamos
tentando fazer.

De que est� sendo acusado?

De amar um rapaz.

Que horror!

Espere.

Voc� fala russo?
Ent�o venha jantar conosco.

N�o estou vestido adequadamente,
sinto muito.

Bom apetite.

N�s j� nos conhecemos?

N�o, meu nome � Scribani,
Ennio Scribani.

Sou rep�rter
do jornal "L'Unit�".

Scribani.

Aquele do artigo
sobre minha m�e.

Exatamente.

Uma prosa digna de De Amicis.

Vou tomar isso
como um elogio.

O que voc� quer de mim,
uma entrevista?

N�o � o caso.

N�o, na verdade eu n�o vim
como jornalista.

Estou aqui como...
se puder usar uma palavra forte,

como um amigo.

Por que voc� n�o est�
se defendendo?

Porque n�o h� nada
para me defender.

Tem dias que observo voc�
no Tribunal

e vejo suas costas

viradas para o juiz.

E tento me colocar
no seu lugar.

� dif�cil descer ao n�vel
de quem te acusa.

Mas esse julgamento

� o espelho do nosso pa�s.

Do aspecto mais retr�grado,
mesquinho e criminoso.

� por isso
que voc� deve lutar.

Eles se fortalecem
com seus C�digos,

com crimes inventados
para uso e consumo pr�prio.

Voc� precisa desmantelar
essa arrog�ncia.

N�o seja voc� arrogante.

Ou seja, se no lugar de um aluno
estivesse uma bela aluna...

O que fariam
aqueles que o acusam?

Eles te dariam uns tapinhas
nas costas, certo?

Eles iriam cumpriment�-lo.
"Que viril".

� evidente que eles tiram
o crime de subjuga��o

para esconder algo
que ainda � assustador.

Ent�o voc� tem
uma grande oportunidade.

De dizer na cara deles

que amar um homem
n�o � algo sujo.

Que � t�o bonito
quanto amar uma mulher.

Que a homossexualidade
n�o condiz com os Tribunais.

Ou condiz?

Obrigado.

Obrigado pela li��o.

Mas voc� acha
que eu preciso disso?

Mas que li��o?
N�o quero dar li��o nenhuma.

N�o � para mim que voc�
deve explicar essas coisas.

Escreva-as em um jornal.

� o seu trabalho, correto?

- � o que estou tentando fazer.
- Ent�o continue.

Eu serei grato a voc�.

S� pe�o uma coisa.

N�o envolva minha m�e.

E voc� n�o se habitue
a esse sil�ncio.

Sr. Braibanti,
sua defesa nos comunicou

que hoje est� disposto
a participar do interrogat�rio.

Sente-se diante do juri.

Voc� estuda
a vida das formigas.

Por qu�?

Estudar a vida das formigas

me fez questionar
sobre a vida social dos homens.

Em um de seus escritos,
voc� fala de religi�o c�smica.

Pode me dizer o qu�...

S�o palavras de Einstein.
N�o minhas.

Mas em suma...
o que voc� pensa disso?

Como Einstein, em primeiro lugar
um respeito pelo universo,

em todas as suas formas.

Do ponto de vista pol�tico,
no que diz respeito ao Estado,

posso dizer que meu pensamento
� marxista.

Inspirado em suas correntes
mais modernas.

E a sua concep��o de fam�lia?

A fam�lia
� um la�o de sangue profundo

e como tal
sempre sobreviver�,

mesmo ap�s a dissolu��o
do Estado.

Se essa � a sua opini�o

por que n�o tentou convencer
Ettore Tagliaferri

a resolver as desaven�as
com seus pais?

Eu tentei convenc�-lo
a n�o cortar rela��es.

Mas a resposta foi negativa.

Ettore se afastou da fam�lia
por livre e espont�nea vontade.

� verdade que voc� seguia
e observava seu amigo

mesmo quando ele ia efetuar
suas necessidades fisiol�gicas?

Nego veementemente
essa outra lenda.

No entanto, n�o � uma lenda,
visto que consta nos autos.

Mas vamos em frente.

Diga-nos qual era a natureza
da sua rela��o

com Ettore Tagliaferri.

- A que se refere?
- Voc� me entendeu bem.

Estou apenas tentando n�o usar
um linguajar muito grosseiro.

Entre mim e Ettore houve
rela��es sexuais bem raras.

E em nenhuma das vezes
eu o persuadi.

Sempre foi algo consensual.

Voc� est� mentindo.

Todos os testemunhos
contrariam suas afirma��es.

Testemunhos conseguidos
por meio de extors�o.

Testemunhos
de cidad�os de bem.

N�o sei qual sua defini��o
de cidad�os de bem.

Minha palavra
tamb�m tem valor.

Embora aparentemente n�o seja
reconhecida neste Tribunal.

Sr. Braibanti, entende que est�
ofendendo este Tribunal?

N�o sei.

N�o sei nada
sobre seus procedimentos.

Sei apenas uma coisa.

S�crates.

O mais s�bio dos atenienses.

Ele aceitou sua senten�a.

Porque acreditava que as leis

devem ser sempre respeitadas.

Em todas as situa��es.

Eu n�o.

Eu sei que suas leis
s�o injustas.

E elas me assustam.

Se durante esse julgamento
aconteceu de eu virar as costas,

era para n�o ver
os rostos de voc�s.

E voc�s, n�o olhem para mim.

"Quem combate monstruosidades

deve cuidar

para que n�o se torne
um monstro.

E, se voc� olhar longamente
para um abismo,

o abismo tamb�m olha
para dentro de voc�."

N�o contesto a rejei��o
do fil�sofo � moralidade.

Contesto o orgulho sem limites
do homem,

que, n�o esque�amos,
em um de seus livros,

chamou a justi�a
de "grotesca".

Braibanti � um ser
sem caridade.

Apenas c�rebro, apenas sexo.

O homem � criado por Deus
para ser livre,

mas ele pisoteou
a liberdade alheia

para afirmar a sua.

Seu prop�sito n�o era
apenas se apossar

dos corpos de outros homens,
mas de suas almas.

Para humilh�-los,

ele contava de sua rela��o
com um homem negro.

E os negros s�o uma ra�a que...
cabe a voc�s o resto.

Braibanti � um fracassado
do ponto de vista intelectual.

Ele n�o produziu nada,

seus livros n�o vendem,
suas id�ias n�o circulam.

Com quase cinquenta anos,

ele s� alcan�ou
a mis�ria f�sica e moral.

Ele precisa de uma revanche.

Ele tem sede de vingan�a,
de dom�nio, de posse.

Eu digo, n�o h� conduta
mais repreens�vel,

mais execr�vel,
do que a que nos leva

a anular a personalidade
dos outros.

Senhores,
isso equivale a um crime

que n�o se comete
com arma de fogo,

porque dura a vida toda.

Braibanti � o mais desprez�vel
dos assassinos,

pois ele atirou nas consci�ncias
por ego�smo

e pela necessidade
de sentir-se sordidamente vivo.

Por isso eu pe�o
a condena��o do acusado

a 14 anos de pris�o.

Um ano a menos
do que a senten�a prevista

pelo artigo 603
do C�digo Penal.

Uma condena��o muito parecida
com a de um assassinato.

Uma lista gigantesca
de nomes.

Aqueles que importam.

Aqueles que formam opini�es.

Passei semanas ligando
para cada um deles.

Muitas promessas,
depois desapareceram.

Ningu�m, quase ningu�m...

Se mexeu para vir aqui
pessoalmente.

Quem veio testemunhar
no Tribunal

parecia desconfort�vel,
como se tivesse vergonha.

Isto acontece

quando est� em jogo a liberdade
de um intelectual indefeso.

E Braibanti
� duas vezes indefeso.

Indefeso porque n�o alcan�ou
o esplendor da gl�ria.

E indefeso
porque � homossexual.

Isso � assustador

especialmente para aqueles
que escondem sua identidade

como um fardo muito vergonhoso
para exibir � luz do dia.

Nossa raiva
� de quem se esconde,

de quem se protege.

Que n�o pensa que um dia
a mesma inf�mia

pode acontecer com ele.

Catorze anos de pris�o.

� um absurdo.

Toda a estrat�gia
do Minist�rio P�blico

baseia-se na discrimina��o.

Aquele dia na sua casa
eu irritei voc�.

Sinto muito.

N�o era minha inten��o.

� que algumas coisas
me enojam demais.

O que posso fazer?

Voc� me detesta
porque sou do sul.

- N�o, n�o detesto voc�.
- Farei voc� mudar de ideia.

Tenho s�rias inten��es
com sua prima.

"Inten��es s�rias"?
Voc� jura?

- Sim, inten��es s�rias.
- Que bom.

Voc� est� arruinando
aquela pobre menina.

� voc� quem coloca
certas palavras na boca dela.

Isso n�o � assunto de mulher.

Olha, ningu�m est� te obrigando
a ficar e ouvir os discursos.

Se n�o gosta deles,
v� dar uma voltinha.

- Vai.
- � claro.

Pode ir.

Um claro significado
intimidador.

Deveriam protestar
pelo Vietn�!

N�o por um invertido!

Merit�ssimo, este �
o atestado m�dico do hospital

onde a testemunha
est� sendo tratada.

Diga-nos seu nome
e sobrenome.

Ettore Tagliaferri.

Mas voc� est� bem?

Voc� se sente � vontade
para falar?

Filho.

Abra sua alma a uma conversa
serena e familiar.

Mas isso n�o � poss�vel.

Pode se aproximar
do microfone?

Prossiga, advogado.

Ettore, voc� pode dizer
ao Tribunal

qual era a natureza
da sua rela��o

com Aldo Braibanti?

Aldo...

foi a pessoa mais importante
da minha vida.

Quando falava comigo sobre...

literatura...

filosofia...

sobre arte...

eu me sentia grandioso.

Comparado com a mediocridade
que me rodeava.

Eu aprendia coisas
que ningu�m nunca me ensinou.

Nem minha m�e ou...
ou meu pai.

Qual � o motivo por voc�
ter se afastado dos seus pais?

O professor Braibanti
teve um papel nessa briga?

Foi... inteiramente
escolha minha.

Fui eu...

que quis cortar rela��es
com minha fam�lia.

Agora entendo

que eu deveria ter sido
mais razo�vel.

Na forma de lidar com eles.

Mas n�o na ess�ncia.

O que Braibanti dizia

da sua atitude de protesto
contra seus pais?

Ele falava sobre isso...

com simplicidade.

Ele dizia...

que eu precisava
encontrar em mim

as raz�es desse conflito.

E que os gestos pol�micos
n�o serviam para nada.

Para mim,
Aldo sempre foi um apoio

humano.

"Um apoio humano".

Que de acordo
com todas as evid�ncias

destruiu
uma unidade familiar.

Provocou consultas
e tratamentos psiqui�tricos

e que te causou uma interna��o
que ainda continua.

Estamos falando
da mesma situa��o, Ettore?

- Eu n�o entendi a pergunta.
- Sim, voc� entendeu.

Gostaria que voc� nos dissesse,
sem meias palavras,

que tipo de relacionamento
teve com o professor.

Eu...

N�o sei de que relacionamento
est� falando.

Mas tudo o que vivemos,

eu e... Aldo, juntos,

foi algo...

instintivo.

Algo desejado.

N�o for�ado.

A rela��o entre voc� e Braibanti
era apenas sobre cultura?

Fale francamente,

Braibanti alguma vez
for�ou voc�

a ter rela��es sexuais
contra a natureza?

N�o existem rela��es
contra a natureza,

ou melhor,
rela��es bastante naturais

surgem de emo��es m�tuas.

Eu...

aceitava as rela��es sexuais

tamb�m porque fiquei fascinado
por qu�o culto ele era.

Quem iniciou essa rela��o?

Nasceu espontaneamente,
entre n�s dois.

Mas em suma, Merit�ssimo,
a testemunha se contradiz.

Ele disse para os peritos
que foi Braibanti quem o for�ou.

As coisas que eu disse
no hospital

nasceram da coer��o
a que fui submetido.

Elas n�o t�m
um pingo de verdade.

Qual seria a sua verdade?

Que esse julgamento
� absurdo,

que n�o h� nenhum culpado,
porque n�o h� culpa.

Merit�ssimo.

Muitos de voc�s,
antes deste julgamento,

devem ter se perguntado

em que consiste
o crime de subjuga��o,

isto �, o que algu�m como o r�u
faz concretamente

para prejudicar os outros.

Pois bem, acabamos de ter aqui,
diante de n�s neste Tribunal

uma prova inequ�voca
do que �,

o que significa
ser subjugado.

Ettore Tagliaferri
fez de tudo

para negar a culpa
de quem o escravizou.

A culpa comprovada
pelas dezenas de testemunhas.

No entanto, para ele,
nada aconteceu.

Pelo contr�rio, sustenta
que Braibanti s� lhe fez bem.

Mas nem uma m�e
teria palavras t�o absolutas

para seu pr�prio filho.

Este menino falou por medo.

Porque nele ainda est� viva
a lavagem cerebral

a qual Braibanti o submeteu.

Bem, senhores da Corte,
isso � ser subjugado.

Isso � subjuga��o.

� a mat�ria mais bonita
que voc� escreveu.

Eu nem me esforcei tanto.

Mas eles ouviram voc�.

Muitas pessoas est�o vindo.

Imagina.
Olha, um jornal n�o move nada.

Servem para embrulhar peixe
no dia seguinte.

De novo essa coisa do peixe.

E voc� escreveu "� be�a".
Quem ainda diz "� be�a"?

Por qu�?
Eu digo "� be�a".

� verdade.

E citou novamente
o partido dos trabalhadores.

O grande partido
dos trabalhadores, claro.

J� sai autom�tico.

Trouxe croissant para voc�.
Coma enquanto est� quente.

N�o, obrigado.

Coma, ficaremos aqui
a noite toda.

N�o quero agora.

� um bom sinal
eles demorarem tanto?

Sempre me perguntei o que ocorre
na sala secreta.

O que eles fazem?
Eles discutem?

Eles saem no tapa.

Ennio Scribani?

- Sim.
- Me acompanhe.

- O que aconteceu?
- S� venha comigo.

Jesus,
eles v�o me prender agora.

Obrigado por ter vindo.

Eu precisava conversar
com um amigo.

� claro.

Como voc� est�?

Ettore...

� ele que eles machucam.

Pode entregar esta carta
para ele?

- Sim.
- Em m�os, por favor.

� claro.

N�o confio mais em ningu�m
nem nos meus advogados.

Mas talvez seja minha culpa.

Eu nunca procurei
ter um contato real com eles.

- E eu tenho um g�nio ruim.
- Eu tamb�m.

� por isso que eu e voc�
nos entendemos.

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Vergonha, vergonha do Estado!

Eles deixam
meu cora��o apertado.

Ainda bem
que eles est�o a�, n�o?

Caso contr�rio,
seria in�til, tudo.

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Crime de subjuga��o,
vergonha do Estado!

Todos em p�.

Em nome do povo italiano,

considerando o artigo 603
do C�digo Penal,

o Tribunal declara
Aldo Braibanti

culpado do crime
a ele atribu�do.

E, consideradas
as circunst�ncias atenuantes,

o condena � pena
de nove anos de reclus�o.

Voc�s o tratam
como um criminoso!

- Vergonha! Vergonha!
- Vergonha!

Fascistas!

Que vergonha!
Onde est� a justi�a?

Que vergonha!

Obrigada, obrigada.

N�o desanime.

Guarde isso agora.
Esconda.

� minha culpa.

Voc� disse a verdade.

Eu piorei as coisas.

Mas ainda n�o acabou.

Eles v�o apelar.

N�o quero mais pisar
neste lugar.

Estou melhor no hospital.

Olha, vamos fazer uma coisa.

Vou te deixar meu n�mero
e endere�o.

Assim caso precise...

Se voc� quiser escrever
para o Aldo...

- Temos que ir.
- Para onde?

Para um lugar seguro.

Venha.

Venha.

Aonde est� me levando?

Para algu�m que ama voc�.

Voc� � o �nico
que n�o desiste.

Pelo visto n�o tenho mais nada
para fazer.

Como est� indo aqui?
Melhor?

Finalmente me deixaram ter
um viveiro de formigas na cela.

Agora tem at� prisioneiros
que v�o em busca de formigas.

Mas por que voc� quer
dispensar os advogados

e se defender sozinho
na apela��o?

N�o preciso de nenhuma defesa,
pode escrever isso.

Apesar de tudo,
advogados s�o necess�rios.

Eles ajudam a evitar armadilhas
que talvez voc� n�o veja.

De fato, por isso estou aqui.

� que as coisas mudaram.

Eles finalmente acordaram,
h� muitos do seu lado agora.

Sabe, eu acho que os apelos,

os gritos de protesto...

Todas essas coisas
v�o contra mim.

Sem querer.

As vozes a meu favor
s�o as armadilhas em que caio.

Claro, a atmosfera
est� mudando.

Mas as pessoas est�o mudando.

N�o quem det�m o poder.

� in�til se enfurecer.

Justo voc� falando assim?

Voc� que lutou
contra os fascistas.

Os fascistas eram reais.

Eles torturaram,
deportaram, mataram.

Foi tudo real.

Isso aqui me parece
uma farsa.

Agrade�o pelo que voc� faz
por mim.

Mas eu n�o quero
ser um m�rtir.

Nem monstro, nem m�rtir.

Corte isso, pode cortar.

E tem este termo, "indagar".
Seu porteiro entende isso?

Chega.

- Ainda n�o terminei.
- N�o precisa mais.

Como assim?

O coment�rio sobre a apela��o
j� est� no prelo.

Uma �tima mat�ria, perfeita.

Mal posso esperar para ler.

Na verdade, j� imagino
palavra por palavra.

O nosso �
um jornal partid�rio.

Aqui damos uma ideia do futuro,
educamos, ditamos as regras.

N�o podemos nos tornar
o �rg�o de defesa de um depravado.

� um camarada
que sofre uma injusti�a.

No nosso of�cio...
o desapego faz bem.

Nos torna mais conscientes.

Voc� est�
esquentando a cabe�a demais.

Em suas mat�rias voc� n�o fala
apenas do r�u, do processo.

Mas coloca mais coisas.

Parece quase algo pessoal.

Perd�o, mas o que quer dizer?

Eu errei em dar esta tarefa
para algu�m como voc�.

Se esse � o problema,
posso ir embora agora mesmo.

Ningu�m est� te segurando.

ROMA, OUTONO DE 1969

DIA DO JULGAMENTO DE APELA��O

Voc� desapareceu.

Eu n�o sabia mais
onde te procurar.

Liguei para os hospitais,
para a pol�cia...

� mesmo?

Pensei em um acidente.

Voc� me deixou preocupada.

Desculpa.

O que voc� tem?

Nada.

Onde esteve todos esses dias?
Onde voc� dormiu?

N�o vai me deixar em paz?

Me deixe...

O que foi?

Estou quente?

Voc� comeu alguma coisa?

Comi.

Um pouco,
n�o estou com muita fome.

Vamos para casa, vamos.

Que dia � hoje?

- Ter�a-feira.
- N�o, quero dizer de n�mero.

- Doze, treze... N�o lembro.
- Mas saiu a senten�a?

Amanh�.

� amanh�?

- O que acha que vai acontecer?
- Vai dar certo.

Vai dar tudo certo.

Tem que dar certo.

Voc� sabe por qu�?

Eu sei de tudo.

Vamos para casa.

Voc� est� com febre.
Assim repousa.

Vamos juntos
para o Tribunal amanh�?

Sim, eu levarei voc�.

Que bom.

Vai me ajudar a levantar?

V� em frente,
esperaremos aqui.

Para a l�pide.

Voc� est� casada.

T�o jovem.

Por causa do beb�.

N�s tivemos que casar.

Mas n�s nos amamos.

� algu�m que eu conhe�o?

N�o, ele � de fora.

Sente-se.

Voc� viu Ettore de novo?

Ningu�m sabe.

Nem mesmo meu marido.

Mas eu o visito
todos os dias.

Eu limpo a casa dele.

Levo comida.

Mas quase nunca o encontro.

E a fam�lia dele?

Eles o deixaram sozinho.

Depois que ele saiu
do hospital.

Ele trabalha?

Ele faz o que pode.

Eles o destru�ram bem aqui.

A cabe�a dele.

Quer procur�-lo?

N�o, meus anjos da guarda
est�o a� embaixo.

Eles devem obedecer ordens.

Voc� ainda dan�a
de vez em quando?

Meu cora��o pressentia
Tua senten�a

E, neste t�mulo
Que se abria para ti

Entrei escondida

E aqui

Longe de qualquer
Olhar humano

Nos teus bra�os

Escolhi morrer

Morrer

T�o pura e bela

Morrer pelo amor a mim

Na flor de teus anos

Na flor de teus anos

Fugir da vida

O c�u havia te criado
Para o amor

E eu te mato por ter te amado

N�o, n�o morrer�s

�s formosa demais

Que triste canto

� a celebra��o dos sacerdotes

O nosso hino de morte

Nem meus bra�os fortes

Podem te mover

Pedra fatal

Tudo na terra
Terminou para n�s

Eu soube da sua m�e.

Me deram permiss�o para v�-la
quando j� era tarde demais.

Ela se foi sem saber
que voc� estava livre.

E voc�?

Como voc� est�?

Eu queria ser pintor.

De certa forma eu sou.

E voc�?

Consegue escrever
na sua cela?

"Eu poderia viver recluso
numa casca de noz

e me considerar
rei do espa�o infinito."

Hamlet.

Eu ainda escrevo
algumas coisas.

As coisas dif�ceis de sempre?

Aquelas que ningu�m entende,
exceto voc�.

�s vezes...

eu olho para o ch�o.

Embaixo das �rvores.

Para ver
se elas ainda est�o l�.

As formigas?

Como elas est�o?

Est�o trancadas como eu,
mas n�o reclamam.

Eu queria me desculpar.

Nunca respondi sua carta.

Eu j� perdoei voc�.

"Tudo isso parecia
um conto de fadas.

E o conto de fadas
parecia acabado.

Ent�o, de repente...

eu entendi.

Eu tinha virado voc�.

Nunca mais projetaria voc�
em um mundo que n�o existe

porque eles...

eles...

eles...

Eles destru�ram esse mundo."

Voc� se tornou
um verdadeiro poeta.

Foi voc� quem escreveu isso.

H� muito tempo.

Agora � seu.

ALDO BRAIBANTI
SAIU DA PRIS�O AP�S DOIS ANOS.

O RESTO DA PENA FOI DESCONTADO
POR SEUS M�RITOS COMO PARTISAN.

ELE VIVEU EM ROMA
E MORREU NA SUA TERRA NATAL.

ALDO E ETTORE NUNCA MAIS
SE ENCONTRARAM.

O SENHOR DAS FORMIGAS

- Art Subs -
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