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CAP�TULO UM NA LAMBRETA

Caro di�rio, existe uma coisa

que gosto de fazer
mais que tudo!

No ver�o em Roma, os
cinemas est�o todos fechados

ou passam filmes como
''Sexo, Amor e Pastoreio''

''Desejos Bestiais'', ''Branca
de Neve e os Sete Negros''.

Ou filmes de terror
como ''Henry''.

Ou, ent�o, algum
filme italiano.

Tenho medo de retomar o jogo.

Sou um covarde.

- O que aconteceu nesses
anos todos? Que houve comigo?

J� n�o sei mais.

Suas t�mporas est�o grisalhas.

� o peso das derrotas.

Uma s�rie ininterrupta
de derrotas.

Nossa gera��o,
no que se tornou?

- Hoje somos publicit�rios, arquitetos,
corretores, deputados, assessores

jornalistas

- Mudamos tanto!
Sempre para pior.

Hoje somos todos c�mplices.

Mas por que tem que ser

Todos c�mplices, n�o h� nada
de concreto na minha vida."

- Quando foi que
sa�mos para passear?

- Acho que continuamos
juntos s� por h�bito.

Todos se envergonham de mim.

- Que dor de cabe�a! At� o
Opalidon n�o � mais o mesmo.

- Lembra do barulho que faziam
dentro dos vidros antigos?

- Agora tudo est�
mudado. Tudo est� mudado.

- Sabe o que se passa,
Antonio? Voc� piorou.

- N�o tem mais nenhum
sentimento aut�ntico.

- Ficamos velhos, amargos,
n�o somos honestos no trabalho.

- Preg�vamos coisas horrendas,
violent�ssimas, quer�amos agir

e agora vejam como
ficamos embrutecidos.

Gritavam coisas
horrendas, violent�ssimas

e ficaram embrutecidos.

Gritava as coisas justas

e agora sou um
espl�ndido quarent�o.

A coisa que eu mais gosto
na vida, � ver as casas,

ver os bairros

e o meu bairro
favorito � o Garbatella.

Fico perambulando
pelos bairros populares.

N�o gosto de ver
as casas s� por fora

�s vezes gosto de olhar
tamb�m como s�o por dentro.

Ent�o, eu toco a campainha e
pe�o para fazer uma entrevista.

Digo que trabalho na
produ��o de um filme.

E o dono me pergunta:
''Do que fala esse filme?''

N�o sei o que dizer.

''Meu filme � a hist�ria
de um confeiteiro trotskista

um confeiteiro trotskista na
It�lia dos anos 50. � um musical.

Um musical.

Nada mal, um musical sobre
um confeiteiro trotskista

na It�lia conformista
dos anos 50.

Quando ando de lambreta, gosto
de parar para olhar as coberturas

onde gostaria de morar.

Me imagino reformando
os apartamentos

l� do alto, aqueles
que eu vejo da rua,

Apartamentos que os donos n�o
t�m a menor inten��o de vender.

Um dia vendo uma que parecia
mais acess�vel que as outras

Silvia e eu
subimos para olhar.

Perguntamos quanto custava

e eles nos disseram, ''Dez
milh�es de liras o metro quadrado''

�Dez milh�es de
liras o metro?"?

Ele disse, "Bem, � claro,

por que a Rua Dandolo
� uma rua hist�rica.

''Foi aqui que Garibaldi
fez a resist�ncia.''

N�o sei, n�o consigo
entender, eu posso ser maluco,

mas eu amo esta ponte.

Tenho que passar por aqui
pelo menos duas vezes ao dia.

Sabe no que estava pensando? Estava
pensando em uma coisa muito triste,

Sabe que eu, mesmo em uma
sociedade mais decente que esta,

estarei sempre entre
uma minoria de pessoas,

mas n�o como naqueles filmes,
em que um homem e uma mulher,

que brigam um com o
outro numa ilha deserta

porque o diretor n�o
acredita nas pessoas.

Acredito nas pessoas.

N�o acredito � na
maioria das pessoas.

Acho que sempre me entrosarei

melhor com a minoria.

Ent�o, boa sorte!

Na verdade, meu sonho
sempre foi saber dan�ar bem.

''Flashdance''
� o nome do filme

que mudou definitivamente
a minha vida.

Era um filme s� sobre
dan�a. Saber dan�ar!

Mas no fim eu acabo
sempre s� olhando.

O que tamb�m � bom,
mas � muito diferente.

Sabe qual � o meu sonho?

Meu sonho � e sempre
foi saber dan�ar.

Nunca mais fui o mesmo
depois que vi aquele filme

"Flashdance", com
Jennifer Beals.

Aquela dan�arina l�
� a Jennifer Beals?

N�o.

- Puxa, como parece!
- Voc� � Jennifer Beals?

N�o.

Spinaceto � um bairro
constru�do recentemente.

E todos falam mal dele.

''Aqui n�o � Spinaceto!''

- ''Onde voc� mora?''
- ''Spinaceto?''

Lembro que um dia,
eu li uma hist�ria

que se chamava:
''Fuga de Spinaceto''.

Falava de um rapaz que fugia
daquele bairro e fugia de casa

e nunca mais voltava.

Ent�o, veremos Spinaceto.

Spinaceto?
Esperava coisa pior,

- Mas n�o � t�o ruim assim. Adeus.
- Est� certo, tamb�m achei

Adeus.

Casalpalocco. Passando
por essas casas

sinto cheiro de agasalhos
que substituem outras roupas.

Um cheiro de videocassete
e c�es de guarda nos jardins

e pizzas prontas em
caixas de papel�o.

Mas por que vieram
para c�, h� 30 anos?

Desculpe!

Por que o senhor
veio morar aqui?

- Veja o verde, a
tranquilidade, como � calmo aqui.

Sei o verde mas deve
ter vindo para c�

h� uns 30 anos. Em 1961?

1962.

- H� 30 anos Roma era
uma cidade bel�ssima.

Mas aqui � diferente.

- � diferente agora, mas na �poca,
Roma era uma cidade linda, entende?

Isso me assusta,
c�es de guarda,

videocassete, chinelos

Jennifer Beals?

- Jennifer Beals?
- Jennifer Beals?

- Jennifer Beals?
- Sim?

- De "Flashdance"?
- Sim.

- Quem � ele?
- N�o sei.

- O que foi que ele disse?
- ''Quem � voc�''.

Voc� sabe, eu sempre
quis muito saber dan�ar

Por exemplo, se eu
morasse em Emilia-Romagna

onde existem asilos,
hospitais que funcionam

e estruturas, servi�os,
e escolas de dan�a,

tango, merengue,
cha-cha, mambo

e quando eu ouvisse
m�sica, eu pudesse dan�ar.

E n�o s� ficar olhando
o pessoal dan�ar.

Que sapatos! Como s�o c�modos!

S�o simples, mas os p�s devem
ficar bem confort�veis, n�o �?

Sim, s�o bem confort�veis.
Acho que esse cara deve ser

sabe, um man�aco por p�s.
- Vamos embora!

- N�o, ele � s� "off"
- Disse que sou louco?

- N�o, n�o.
- N�o disse ''louco''?

- Eu disse, ''Off'.
- O que � isso?

O que � isso?

Quer dizer especial, peculiar,
quase louco, mas n�o � bem isso.

Acho que ''off' foi a melhor defini��o,
n�o � bem o que queria dizer mas

- Sei, como ''fora do normal''?
- Sim, por�m, algo mais preciso.

- Algo mais preciso, talvez ''whimsical''.
- ''Whimsical''?

Quase bobo, quase bobo.

Mesmo quando vou a outras cidades,
a �nica coisa que gosto de fazer

� olhar as casas.

Como seria lindo um
filme feito s� com casas

�Panor�mica de casas".

Garbatella, 1927.

Vila Ol�mpica, 1960.

Tufello, 1960.

Vigne Nuove, 1987.

Monteverde, 1939.

HENRY CHUVA DE SANGUE

Foi o combinado, pegue os 50
d�lares e v�o para o inferno!

Aqui est�o os seus 50 d�lares.

Est�o precisando de ajuda?

Otis, precisa de ajuda
ou pode se virar sozinho?

Durante horas eu
ando pela cidade

tentando me lembrar quem
me falou bem desse filme.

Tinha lido uma
cr�tica no jornal

algo positiva sobre "Henry".

De repente, me lembrei.
Encontro o artigo

e o copio no meu
di�rio. Aqui est�:

"''Henry mata pessoas,
mas � quase um homem bom

de poucas palavras,
mas s� os fatos contam.

Mas seu amigo
Otis � um cr�pula.

Henry tem uma louca
solidariedade com suas v�timas.

� um pr�ncipe de sangue
azul da aniquila��o

prometendo uma morte
piedosa. Otis, n�o.

O diretor acorda o p�blico

para um pesadelo ainda pior,
com uma ducha final de sangue,

olhos perfurados, tortura
ao vivo, abomina��o.

Henry � o primeiro a
desmembrar com grande lucidez

a filosofia criminal
lambrosiana de Hollywood.''

Fico pensando, ser� que
quem escreve essas coisas

quando chega a noite, antes de
adormecer, tem um momento de remorso?

Quando come�ou? Quando
tudo isso come�ou?

N�o sei, n�o sei.

Talvez quando tenha escrito:

''Esse filme coreano � um
melodrama de �poca com roupas

"cujas roupas, inclusive
os chap�us, s�o delirantes.

"feminista,
flamejante, demon�aco"?

"filmado como se
fosse um Spielberg

"em ritmo e espa�o
futuristas.''

Tem tamb�m ''O Pasto
Nu'' de Cronenberg.

''Um puro underground
de custo elevado.

- Basta! Basta!
- "Um verdadeiro filme Cult!

"N�o que as mulheres, para
Jonathan Demme, sejam melhores

"ou que equivalham ao que para Lin Piao
eram os prolet�rios e subprolet�rios

"dos tr�s mundos juntos,

"S� que suas mulheres t�m
fibra para manter a parte justa

"na guerra do imagin�rio feita nas
aulas de ''lnterven��es Cir�rgicas''

"De fato, antes que Lula e
Sailor se abracem num final feliz

"sussurrando ''Love me tender'', ainda que
para Sailor faltem muitos anos de cadeia

"cabe�as humanas
dilaceradas voar�o,

"Vira-latas pegar�o
m�os decepadas,

"e fumar�o centenas de
Kools, Merits and Marlboros.

N�o sei por que,
mas nunca estive

no local onde
mataram Pasolini.

ILHAS

O barco est�
chegando a Lipari.

Vou visitar um amigo que
se mudou para l� h� 11 anos.

Desde ent�o, estuda s�
''Ulisses'' de Joyce.

Estou come�ando a
escrever meu filme

e trouxe comigo todos os recortes
que vou precisar para o trabalho

e que guardei
nos �ltimos anos.

Tenho certeza de que
em Lipari farei algo.

- Bom dia.
- Bom dia.

Por favor, pode me
dar um suco de laranja

e um sandu�che de mozarela?

� claro! Aqui est� o dinheiro!

Se tudo correr como penso,
pouca desgra�a acorrer�.

Um sandu�che de mozarela
e tomate. Obrigado.

O que estava assistindo?

Quando?

L� dentro, na televis�o.

- N�o era a televis�o,
n�o. Era um filme estranho.

- Silvana Mangano antes era
freira depois, no meio ela dan�a

- Bem, voc� deve ter achado
- Nunca.

- Nunca assiste televis�o?
- Nunca.

- H� 30 anos que n�o
assisto televis�o.

Sabe o que diz
Magnus Enzensberger?

Concordo com ele.

Pode n�o acreditar,
mas � a primeira vez

vez em tantos
anos que estou aqui

e est� essa confus�o, n�o acredita?
- Acredito.

- Os recortes s�o de
not�cias engra�adas? Curiosas?

- Curiosas. S�
juntei not�cias bobas

artigos bobos,
personagens desagrad�veis.

Talvez eu seja atra�do
por esse tipo de coisa.

Havia muito barulho,
muita confus�o em Lipari.

Decidimos partir para Salina.
Uma ilha mais tranquila, familiar.

L� tem os amigos de
Gerardo, que tem filhos

ali�s, um filho,
parece que l� todos

t�m s� um filho.

L� ficaremos mais tranquilos
e conseguiremos realizar algo.

Posso fazer?

S� se for necess�rio.

N�o est� sendo gentil! Considerando que
estou trazendo seu presente de casamento.

� mesmo, quanta gentileza!

Oh! Olha quem est� aqui!

N�o fechar� o cassino.

Por que tanta repulsa?

Porque odeio profundamente
pessoas como voc�.

E quando consegue o que
quer, joga-as no lixo.

V� para casa e acalme-se.

Vou lhe dizer, essa Catedral
jamais ver� a luz do dia.

- -Que bom que
voltou! - Por qu�?

Preciso lhe dizer uma coisa.

Espero que seja
uma boa not�cia

- N�o acho que ser� uma boa
not�cia, encontrei a Gina hoje,

e ela disse que Keith
quer se vingar de voc�.

Sei disso.

H� algum tempo ele me
disse a mesma coisa.

Veja!

� incr�vel que para Pietro

esses primeiros anos
n�o significar�o nada.

Porque n�o vai se
lembrar de mais nada.

N�o poder� lembrar-se desse per�odo
de tanta intimidade e proximidade

quando ele precisou
tanto de mim.

Aconteceu uma coisa muito importante
esta semana: ele largou a fralda.

Pensamos em tirar umas
duas semanas de f�rias

para faz�-lo aprender.

Ao inv�s disso ele
aprendeu sozinho

e n�o errou nada.

Come�ou a comportar-se
como uma pessoa adulta.

E o primeiro dia da creche?

Ficamos acordados a noite toda,
est�vamos muito preocupados, agitados.

Agita��o do primeiro dia

Pietro dormindo, tranquilo.
Ele n�o fazia ideia.

N�o poderia imaginar que no
dia seguinte sua vida mudaria.

Est� dormindo?

Pietro est� atravessando uma fase
complicada apesar de transit�ria.

Passou de um regime
que lidava s� conosco

para o regime de
creche, diferente.

N�o, est� dormindo.
O volume est� bom.

onde v� tantas
crian�as, tantas pessoas.

Daniele? Daniele!

- O que h�?
- Nada.

Daniele!

Ontem assisti televis�o.
Foi um programa bom.

Mas quem viu?

Bom

N�o entendi

Aquela fam�lia

- Se assustaram?
- Sim, um pouco.

Exageraram com Pietro.

Temos um relacionamento
diferente com Daniele.

Queremos outro filho

mas temos medo que
ele receba mal a ideia.

Perguntamos a ele.

- A cada dois ou tr�s anos perguntamos
se ele gostaria de um maninho,

ou uma maninha.

Ele fica danado!

Tenho medo.

Temos medo.

Como vai?

- Sara? � o Lorenzo, o pai de Daniele.
Lembra? Quer chamar o papai, por favor?

O gato? O gato
faz ''miau, miau''.

E o grilo?

O grilo faz ''cri cri'',
mas voc� sabe, n�o sabe?

Agora chame seu
pai, por favor.

E a ovelha?

A ovelha faz ''b�''.

O galo? ''cocorococ�''!

Como faz o

Sara, por favor,
chame o papai.

"i�, i�". O
burrinho faz ''i�''!

Voc� sabe, n�o �? N�o sei
fazer mais sons de animais!

H� anos que Salina estava
dominada por filhos �nicos.

Cada fam�lia

"piu piu",
- O pintinho faz ''piu piu''.

Cada fam�lia tinha
um filho, s� um

a quem era confiado o
controle da situa��o.

Era praticamente imposs�vel
a comunica��o por telefone

porque em casa os telefones eram
interceptados pelas crian�as, que

Al�, sou Rosana, pode
chamar a m�e ou o pai?

N�o chamarei o papai, tchau.

Paolo?

Giovanni?

Leandro, lembra de
mim? Qual meu nome?

Al�? Quem fala? Aqui � Paolo.

Como se chama? Quantos anos
tem? Me conhece? Como me chamo?

Meu nome � Franco.

O porco?

O hipop�tamo?

- A girafa, n�o
sei. � o porquinho.

A girafa, n�o sei.
O rouxinol, n�o sei.

Quem est� em casa?
A mam�e ou o papai?

A mam�e e o papai est�o em casa,
mas irei contar uma hist�ria.

Era uma vez

Est� entendendo o
que estou dizendo?

O porco "ronc, ronc".

- N�o! N�o!
- Acorda! Acorda!

A luz! A luz.

Gerardo, acorde!

Daniele est� acordado,
esperando por n�s.

Em 15 minutos a pior
hora do dia chegar�.

- Por qu�?
- Porque faltam 15 para as 3 horas.

� a hora do lobo.

A hora do lobo � a pior hora. �
a hora que se est� mais sozinho.

H� 12 anos, �s 3 horas
n�s acordamos Daniele,

e o levamos para nossa cama.

E, ent�o, vem com a gente?

- Podemos?
- Entrem.

- Daniele, como vai? Como est� essa noite?
- Bem.

- Est� com medo?
- N�o.

Todos vieram te
fazer companhia.

Debaixo das cobertas!

N�o est� com medo, est�?

Estou sim.

Sabem que Daniele
nunca teve uma bab�?

N�o. Por qu�?

Porque durante todos estes
anos sempre ficamos com ele.

Nunca sa�ram?

Nunca, sempre lemos algo.

Lemos Von Kleist

Hegel

Spinoza

Tamb�m lemos Federico Tozzi

Lemos algo sobre Xenophon

- Svevo
- E ent�o Her�doto.

E depois?

Tacito!

Todo T�cito.

E depois lemos

Santo Agostinho.

- Santo Agostinho, Delfini,
Meneghello e Capitini.

C�cero, lemos e relemos

e Rousseau, Leibniz

Wittgenstein.

Caro di�rio, passamos
diante da ilha de Panarea.

Gerardo disse que
nunca esteve l�

Mas indica um por um os
lugares e as discotecas,

restaurantes e as cervejarias.

Decidimos n�o ficar e
continuar at� Stromboli

onde temos certeza que
finalmente conseguiremos

De repente, me lembrei
de uns versos de Tibullo

que descrevem a situa��o
em que nos encontramos

quando estamos
assistindo � televis�o.

"Quam juvat" Mas que lindo,

quando estamos mergulhados num
leito ou uma poltrona "cubantem"

e ouvindo os ventos
impetuosos, "immites ventos"

batalhando entre eles.''

Lembrei-me deles assistindo
"A round terrace by the sea".

D�-me o papel, anda!

Pare!

Entregue a lista com as coisas

que eu tinha me
for�ado a fazer!

Escuta, n�o devo
perder tempo, jamais!

Todos me disseram

que chegando a Stromboli,
sentir�amos imediatamente

a presen�a
amea�adora do vulc�o.

Gerardo e eu
come�amos a brigar

Porque ele n�o me lembrou

que estou aqui para trabalhar?

Dei a ele um roteiro

de coisas que deveria fazer

mas desde que cheguei, n�o fa�o
outra coisa a n�o ser perder tempo.

Sou o prefeito, muito
prazer! Professor!

Bom dia.

Pedimos que fossem
nossos h�spedes.

- N�o, obrigado. Preferimos um
hotel. Precisamos de concentra��o.

Um amigo tem uma casa
�tima para voc�s, venham!

O agr�nomo respons�vel pelos
28 mil hectares est�o chegando

hectares que circundam T�quio.

Quer falar comigo
sobre meus projetos.

Riccardo!

Ele precisa entender o segredo de nosso
equil�brio entre crescimento e bem-estar.

Riccardo, sou eu!

Vejam, j� abandonei
o projeto da avenida

com palmeiras importadas
de Los Angeles.

Quero restituir a esta ilha, a
identidade, as tradi��es perdidas

Pra�as, ruas, jardins,
fontes, teatros

Riccardo! Abra que eles
n�o t�m onde dormir!

Chega!

- Desculpem, tenho tantos
projetos, mas todos acabam mal.

S�o t�o hostis aqui
Por que s�o t�o hostis?

Estou com dois amigos que precisam
se hospedar, ser� que poderiam

Mas � o oposto de Amsterdam,

Onde se anda � noite por
lancharias, salas e quartos,

Tudo iluminado, vis�vel.

Uma vida sem cortinas.

Mas sou o Prefeito! N�o
posso ser tratado assim!

Precisam se concentrar
durante tr�s ou quatro dias!

N�o colaboram, n�o
colaboram, n�o adianta nada!

Deve ser a presen�a
amea�adora do vulc�o.

S� pode, material
humano n�s temos.

Em Stromboli existe uma
mistura de Italianos e Alem�es

muito interessante.

As fam�lias s�o numerosas, n�o � como
em Salina cujo crescimento � zero.

Eu, por exemplo,
tenho tr�s filhos.

Tanto potencial
desperdi�ado. Que pecado!

Daqui s� poder�o
prosseguir a p�.

Por esse caminho?

Sigam pelo caminho, com passos
regulares, sem muito esfor�o.

Desculpem, espero telefonema
do agr�nomo japon�s

respons�vel pelos 28 mil
hectares que circundam T�quio.

Tudo bem, at� amanh�.

Tem algo de hipn�tico,
um antigo elo entre

N�o se vire!

N�o se vire!

O que foi?

Um grupo de
americanos, na encosta.

Fa�a-me um favor,
tenho vergonha.

Queria saber

se Sally Spectra disse ao
marido que espera um beb�.

"Bold and the
Beautiful", a novela.

Na America eles avan�am

Ah, sim, eles est�o
com cap�tulos na frente

E pergunte tamb�m se Stephanie encontrou
algo, depois que colocou os microfones

na casa da nova esposa
de seu ex-marido.

E Nancy, com
quem ela � casada?

Com Thorne!

E a Stephany, onde ela
colocou os microfones?

Na casa da nova esposa
de seu ex-marido!

Por qu�?

Porque ela � ciumenta!

Qual era o problema
de Sally Spectra?

Ela espera um filho,
seu marido sabe ou n�o?

Ela contou!

Nancy est� perdidamente
apaixonada pelo instrutor de t�nis!

N�o h� esperan�a para Thorne!

Tenho muita inveja da
m�sica incessante de Panarea.

Que acha? Irei pedir
para Ennio Morricone

escrever uma m�sica
como o hino da cidade.

Pode ser uma ideia.

Como naquele faroeste, como �?

- Shon shon?
- Isso!

De fato!

At� logo, e boa sorte em tudo.

Talvez n�o nos vejamos mais.

A ilha � iluminada por um
grande diretor de fotografia

Storaro que cuida das luzes e
dos pores do sol de Stromboli!

Reconstrua do zero Stromboli!

Reconstrua a It�lia do zero!

um novo modo de vida,

uma nova luz, novos
h�bitos, novos sons,

novas maneiras de falar,
novas cores, novos sabores

Tudo novo!

Anda, vamos para Panarea.

Vamos para Panarea.

Bem vindos! Com licen�a.

Bem vindos a Panarea.
- De onde v�m?

Stromboli.

Que t�dio.

Estou preparando uma linda
festa em homenagem ao Mau Gosto.

Levei quase um ano
para organiz�-la.

Helmut Berger avisou
que vem de cuecas.

E depois, no s�bado, haver�
a festa do meu div�rcio.

Oferece sempre
festas desse g�nero?

- Minha empresa oferece de tudo,
coquet�is, jantares, viagens

decora��es.

Posso encontrar um elefante
branco para um jantar ex�tico

ou um fot�grafo surpreendente
para um casamento

ou um watussi africano
para animar uma festa.

Ideias, criatividade,
"climas", contatos

At� logo e obrigado!

Caro di�rio, sou feliz
s� no mar, no trajeto

entre uma ilha que acabo de deixar
e outra para onde estou indo.

Estamos indo para Alicudi, a mais
distante e selvagem ilha de todas.

Com toda a certeza, a senhora �
contr�ria ao programa ''Quem o Viu''?

Podemos negar a Ulisses o
direito de ap�s a queda de Tr�ia

perambular pelo mundo
atrav�s dos mares

parando para ver Circe,
Calypso, Nausikaa?

Claro que n�o.

Caso contr�rio, n�o
ter�amos a Odisseia.

E n�o podemos negar �
fam�lia, que ficou em �taca

o sagrado direito
de procur�-lo?

Ent�o Telemachus sai em
busca de not�cias de seu pai.

E a pergunta �,
''quem o viu?''.

Bom dia.

N�o h� salva��o para a It�lia.

Ele est� esperando voc�.

"Ele" quem?

O homem que recusou
o sucesso e a gl�ria.

Ele odeia o narcisismo.

Todos aqui odiamos
o narcisismo,

e Alicudi s� recebe
quem pensa como ela.

Aqui encontramos
energia para trabalhar.

Alicudi d� mais
que as outras ilhas.

Sei, j� me disseram.
- Falta muito?

Um pouco.

N�o h� outras estradas?

N�o h� estradas aqui.

N�o h� nenhuma?

- Essa � a pessoa
- Lucio.

Que nos espera

- Escreveu um livro de
sucesso h� alguns anos

- Muito bem sucedido.
- Muito bem sucedido

Veio para pagar os pecados

Alicudi � a melhor
ilha de todas.

J� sei.

N�o gosto das outras ilhas.
Todos s�o corruptos l�.

- N�o sabem viver sozinhas.
Aqui somos todos solit�rios.

Enzensberger diz que
a televis�o n�o � nada.

Hum

Mas me prove que o jogo
Honduras e B�lgica, 3x2

com cinco faltas cobradas

� "nada".

De fato

Para mim aquele
"nada" pareceu tanto.

E para voc� tamb�m.

Est� certo. Para mim tamb�m.

Aquele p�nalti

- Licen�a, preciso resolver o
problema da falta de persianas.

Por que amanh� vou
acordar bem cedo.

E s� consigo dormir
no escuro total.

Sim, eu admito.

O qu�?

Exagerei um pouco
com a televis�o

Tudo bem.

Mas, isso j� passou.

- Pois �. Agora estamos
aqui, tranquilos nesta ilha

Ah, aqui est�.

Nunca saio por que os
homens s�o assustadores.

Sabe, � que com claridade
eu n�o consigo dormir.

Como n�o h� persiana, voc�
teria uma fita adesiva a�?

- D� uma olhada
ali. - -Queria pegar

Claro.

Achei este papel�o e ent�o

Quero viver aqui sem ra�zes.

Nossas ra�zes
s�o muito pesadas.

Em todos esses anos, tive
vergonha da It�lia e da sua gente.

Sinto vergonha
pelas outras ilhas.

T�o �vidas, t�o
ignorantes, t�o narcisistas.

Onde mora gente que n�o
se sente respons�vel.

Ficamos aqui em retiro
para pensar-nos outros.

Os italianos s�o um dos povos mais
condicionados e vulgares do mundo.

Este pa�s tem uma vontade
desenfreada de rir.

Que motivo h� para rir?

Se importa se
eu pegar a casca?

Estamos em Alicudi
h� poucos dias.

� realmente uma ilha
diferente das outras.

Onde finalmente
conseguimos concentrar-nos.

Aqui h� muita calma.

Uma calma terr�vel.

Est� trabalhando?

Agora estou escrevendo meu
di�rio. Mas esses dias eu

Estou escrevendo
uma carta ao Papa,

Porque excomungou
as telenovelas.

Dizendo que era um perigo
para a uni�o da fam�lia.

Irei ler.

''Caro Santo Padre,
perdoe-me, mas est� errado.

"Nossas fam�lias est�o muito
fechadas em seu ego�smo.

"Mas gra�as �s telenovelas,
exprimimos curiosidades

"e interesse por outras
fam�lias distantes.

"Com as quais compartilhamos
dramas, problemas e alegrias.

"In�s, uma
secret�ria'', 10:30 h.

''Veredas'', 12:50 h

''Quando se ama'', 14 h.

''Maria'', 14:25 h.

''Santa B�rbara'', mesmo
hor�rio, mas em outro canal.

''Celeste'', 16:25 h

"Bold and the
Beautiful", 19:15 h

N�o assisto televis�o h� dias,

mas n�o sinto a menor falta.

Bom, porque nesta ilha

Nesta ilha?

N�o tem eletricidade.

E, ent�o?

N�o h� aparelhos de
televis�o em Alicudi.

Televis�o!

Elevador!

Telefone!

�gua quente! Esperem!

Televis�o!

Como � que voc�s podem
viver sem televis�o?

Parem! Parem!

O senhor Magnus
Enzensberger me d� pena

quando diz que a televis�o
transmite o "nada".

Parem!

Karl Popper, voc�
est� enganado!

A televis�o n�o � um monstro
que corrompe as crian�as!

Pelo contr�rio, as crian�as
precisam assistir � televis�o!

Para sonharem! Como nos velhos tempos
em que dormiam ouvindo f�bulas e lendas!

CAP�TULO TR�S M�DlCOS

Caro di�rio, guardei todas as
receitas m�dicas acumuladas num ano,

e tamb�m todas as anota��es
que fazia depois das consultas

portanto, nada neste
cap�tulo � inventado: receitas

consultas m�dicas,
as conversas com eles.

Certo, �s 13:30 h. em casa,
tudo bem, obrigado. Tchau.

�s 13:30 h. em casa,
claro que eu posso.

Esta � minha �ltima
sess�o de quimioterapia,

o tratamento que se faz
quando se tem um tumor.

Decidi film�-la.

Vai devagar.

� verdade, contudo.
N�o, n�o, � verdade.

Cuidado com a orelha.

Est� muito baixo?

N�o, n�o, est� pronto.

Est� bem apertado.
Por cima do cabelo.

Est� pronto?

Doutora?

O qu�?

Tem "Denticene"?

� melhor n�o saber.

Est� co�ando?

Um pouco, mas d� para aguentar.
Mas n�o desapare�am daqui.

Um dia comecei a ter coceiras

sobretudo � noite.

Achei que era urtic�ria, mas
n�o era, n�o era nada parecido.

Em Roma, sempre ouvi falar
de um instituto dermatol�gico

muito famoso.

Desde a madrugada j� chegava
muita gente, tamb�m de fora de Roma

e esperava o dia
inteiro pela consulta.

Moretti, Giovanni, nascido em Brunico
em 19 de agosto de 1953, mora em Roma.

- J� foi tratado para
a mesma doen�a antes?

N�o, � a primeira vez.

- O que tem?
- Uma coceira muito forte.

H� quanto tempo?

- Poucas semanas,
quase um m�s.

- Onde?
- Nos p�s e nos bra�os.

- Quando � pior?
- Principalmente � noite.

- A pele est� um pouco
seca. Vejamos aqui.

Sim.

Segure.

Pensei que fosse sarna

- N�o, � uma doen�a que
afeta outras classes sociais.

H� uma rea��o.

J� teve hepatite?

J�, h� muito tempo.

Outras doen�as importantes?

N�o.

- Est� comendo?
- Como assim?

- Tem apetite?
- Tenho, tenho.

- Deve ir a um lugar
quente, como o litoral.

- O frio resseca muito a
pele, e piora esses sintomas.

Certo.

- Tome um comprimido de Histamim
uma hora antes do jantar.

Sim.

- Flantadin, um comprimido
pela manh� por uma semana

- E meio comprimido
na segunda semana.

Tenho tomado os rem�dios,
mas a coceira n�o passa.

Voltei ao mesmo instituto,
mas n�o encontrei o m�dico

que me atendeu aquele dia.

Ent�o, outro
m�dico me examina.

- Est� com a pele
muito seca, mal nutrida.

Sei.

- O Sr. por acaso tem
uma moeda em seu bolso?

Uma moeda?

Uma qualquer

Cuidado com as verrugas.

Sim, senhor.

Obrigado.

- H� um dermografismo,
sinal de alergia alimentar.

Pode vestir-se.

- Pode ser tamb�m um
problema de fundo nervoso

Com a vida que levamos,

com a vida que o senhor
leva, Sr. Moretti.

- �. Aqui est� a receita
que o seu colega me deu:

Histamen, Fitamid.

Continuo tomando

- N�o, deve fazer alguns
exames de sangue. Hemograma, VHS

depois fa�o a prescri��o.

- Deve tomar Fristamim, um
comprimido pela manh�, durante um m�s.

Prazene em gotas

Hematocrito: 46,
taxa de hemoglobina

16,3 igual a 102%,
gl�bulos vermelhos

Fa�o os exames de sangue
e os resultados s�o normais

mas a coceira continua.
N�o s� continua, aumenta.

Me lembro, que em Roma falam
muito de um dermatologista famoso.

Uma esp�cie de pr�ncipe
dos dermatologistas.

Ent�o, eu telefono para
o consult�rio do pr�ncipe.

- Bom dia, por gentileza, eu
gostaria de marcar uma hora

- Como n�o � poss�vel
antes de tr�s meses?

- Mas � um caso urgente,
senhorita! Estou com muita coceira.

- Quem � o substituto?
Assistente do professor?

Os pacientes excedentes
s�o sempre mandados para ele

- Certo, pode me dar
o n�mero do substituto

32 Obrigado, at� logo.

- Est� atravessando um
per�odo especial de stress?

Sim, mas por causa da coceira.

Bebe muito caf� ou ch�?

Tomo muito ch�.

- Deve tomar, no m�ximo, um ch�,
um caf� ou um refrigerante por dia.

- Entendi. estes rem�dios foram
prescritos pelos outros m�dicos.

- Ah, sim, os conhe�o.
S�o colegas muito bons.

Mas vou receitar outra coisa.

Anfo-3 para o banho

Depois do banho Hidroskin

- Depois Infloran, um
comprimido pela manh� em jejum

- depois Atarax, um comprimido
pela manh� e outro � tarde.

Gosto muito de tomar
rem�dios e acreditar

que me fazem bem.

Mas o substituto
estava muito confuso.

Nem com a maior boa vontade
eu conseguiria acreditar nele.

Aquela foi a �nica vez

que n�o comprei os rem�dios.

Ent�o, voltei ao
instituto dermatol�gico

n�o para a Dermatologia,
mas para a Alergolegia.

- Quer dizer que
- Cuidado com as verrugas

- Os testes mostrar�o se
� al�rgico como acredito.

- Primeiro testaremos os
grandes grupos de subst�ncias:

alimentos, poeira, p�len

depois as subst�ncias
individualmente.

Durante uma semana tomo trinta
picadas por dia nas costas.

Descobre-se, ent�o, que sou
al�rgico aos alguns grupos

como leite, derivados, nozes,
sementes, peixe e carne su�na.

No dia seguinte, foram identificados
os alimentos individuais

aos quais sou al�rgico e que,
por enquanto, n�o posso comer.

Sou al�rgico a
muitos alimentos

ent�o resolvi
fazer uma vacina.

Os alimentos s�o:

"Milho, cevada, aveia, alho,
cebola, mostarda, am�ndoa,

feij�o, soja, ervilha, fava, gr�o de
bico, salsinha, alface, l�pulo, ch�,

linha�a, pimenta, castanha,
salm�o, sardinha, atum,

albumina de leite de vaca,
case�na de vaca e cabra,

gruyere, gorgonzola, parmes�o,
provolone, queijo holand�s

e porco.

A coceira continua. Mas
gra�as � recomenda��o

de um amigo, consigo marcar
uma consulta com o "pr�ncipe"

nos �ltimos dias,
antes de tirar f�rias.

- Colopten, tr�s vezes ao dia,
Cinazyn, vinte gotas ap�s as refei��es,

Caprolisin, uma ampola �s 18h.

- Antes de se deitar vai
alternar Fenistil, Xanax e Atarax.

Uma noite um e,
na outra, o outro.

- �, alternados.
- Muito bem.

- Para pernas e bra�os, os
quatro produtos que prescrevi.

- E para a coceira na cabe�a
use o fluido Lecoval Scalp.

- Tr�s ou quatro
gotas. Pela noite.

- N�o esque�a de lavar a cabe�a toda
noite, alternando os tr�s xampus.

Todo dia?

Todo dia.

Certo.

Moretti, precisa me ajudar.
Minha fam�lia e eu somos seus f�s.

Obrigado.

Pois mesmo sendo ver�o, vai ter que usar
meias de algod�o que cheguem at� o joelho.

Estou vendo que
est� sem meias.

No ver�o n�o uso.

Meias de algod�o at� o joelho,
camisas de mangas compridas,

mesmo na praia.

A pele precisa estar sempre
em contato com o algod�o.

Anotarei aqui o telefone
da minha casa de praia.

Obrigado.

Quando eu voltar de f�rias,
j� deve ter melhorado.

Espero que sim.
Desculpe vir sem avisar.

Senhorita! Fa�a um pre�o
especial para o Sr. Moretti.

Caprolisin, Ecoval e Cinazyn

E tamb�m tem os
cremes, Ictyane, Akerat

Enterogermina e Colopten.

Sim, e Ictyane, Akerat,
Soagen para o corpo,

Fargan pomada, e
os xampus, Factan

Apolar e Mavigen.

Todos os tr�s?

Tenho que alternar.

Ent�o: Colopten, Enterogermina,
Ecoval, Cinazyn, Atarax,

Caprolisin, Xarax, Fenistil.

Ictyane, Apolar, Fargan

At� que um dia decidi ler as bulas
que acompanham os medicamentos.

Nunca fa�o isso.

Caprolisin, vejamos:

"anti-hemorr�gico, indicado
em s�ndromes hemorr�gicas

"com alta fibrin�lise,
�hemorragias internas �

Ent�o, o Caprolisin � um
anti-hemorr�gico. Fora com ele.

Agora, Cinazyn:

"ajuda a circula��o,
aumenta o fluxo sangu�neo,

"nos dist�rbios de
circula��o cerebral".

Ent�o, Cinazin ajuda
a circula��o. Fora!

Caro di�rio,
chegaram as vacinas.

Por precau��o
resolvi consultar

um amigo imunologista.

Oi, Guido. Sou eu, Nanni.

Bem, razoavelmente bem.

Escuta, n�o d� para
explicar tudo agora

mas h� um m�s e meio
fiz uns testes al�rgicos

E deu um resultado
al�rgico m�ltiplo.

Mandei fazer umas
vacinas que chegaram hoje.

Naturalmente

Como um choque anafil�tico?

Ele me disse que aquele
tipo de vacinas � in�til

e que pode causar um
choque anafil�tico.

Minhas coceiras n�o t�m nada
a ver com alergia alimentar.

Que causam urtic�ria,
bolhas em todo o corpo

n�o uma simples coceira.

Volto a procurar
os dermatologistas.

Existe um Magari, n�o t�o
famoso quanto o "pr�ncipe"

mas do qual me falaram muito bem,
marco uma consulta com ele tamb�m.

Hoje minha lambreta quebrou,
tive que sair de carro.

Mais de uma hora no tr�nsito.

O tr�nsito me deu nos nervos.

A gente vai ao m�dico porque est�
mal e paga caro para ter que ouvir:

Est� parecendo um perdedor. Mas, em
minha opini�o, � um caso psicol�gico.

Depende s� de voc�.

Lamento que seja um perdedor.

Mas olha, por que
est� se co�ando?

� a coceira.

N�o h� necessidade
urgente, mas voc� se co�a.

Seja como for, Trimeton
injet�vel durante uma semana.

Fenistil, um comprimido
ap�s o jantar.

E Legederm, se necess�rio.

Obrigado.

Receitei os rem�dios, mas
lembre-se: depende de voc�.

Hoje me convenci que a causa
da minha coceira � psicol�gica.

Depende de mim, � minha
culpa. Unicamente minha.

Tento me lembrar do que fiz,
do que aconteceu h� 8 meses

quando a coceira come�ou.

Tudo depende de mim. O m�dico
disse que tenho que colaborar.

Devo me esfor�ar
para n�o me co�ar.

Tudo depende de mim.

E se depende de mim, com
certeza n�o vou conseguir.

Minha m�e me deu
um pijama de seda

e len��is de linho
para aliviar a coceira.

Mas agora n�o se
trata s� da coceira.

Adorme�o. Mas acordo
depois de meia hora.

Durmo em m�dia, uma
hora e meia, duas horas.

Sabe, fiz algumas sess�es de terapia
em uma senhora durante um tempo

e consegui reduzir a
taxa do seu colesterol.

S�o estas coisas que
nos d�o satisfa��o.

N�o sei mais o que fazer
com a minha coceira.

Precisa evitar os alimentos vermelhos,
tomate, cenoura, laranja, morango.

Nada de alimentos vermelhos.

Esta noite que passou,
cocei-me o tempo todo.

Vejo que feriu o seu ded�o.

O ded�o corresponde � cabe�a,
queria machucar sua cabe�a

noite passada?

Mas o que fa�o?
Passo um creme?

Fa�a compressas
com folhas de couve.

Pegue as folhas, coloque na �gua
fervendo, fa�a as compressas.

Ir� sentir-se melhor.

Entendi. Perfeito, perfeito.

Mas n�o sabia se as massagens
iriam me fazer bem ou n�o.

Seja como for, era agrad�vel.

Aquele per�odo era
muito relaxante.

A reflexologista me receitou,
al�m do creme de cal�ndula,

rives nigrum e gotas
de t�lia tormentosa.

Tamb�m me mandou tomar banho
usando os farelos de trigo.

Continuo emagrecendo,
e � noite come�o a suar.

Decido procurar o Centro
de Medicina Chinesa.

E sou atendido por dois
m�dicos, Chu Hu e Yang.

Tomam o meu pulso,
depois trocam de lado.

Tem tomado muito vento?

Vento? Ando muito de lambreta
mas em Roma n�o venta muito.

Na medicina chinesa tradicional a
coceira corresponde ao vento no sangue.

Mostre a l�ngua. Est�
branca e pegajosa.

Tem os rins ca�dos?

Rins ca�dos?

Dr. Yan quer saber se no ano
passado teve excessos sexuais.

N�o.

Doeu? Um pouco.

S�o as duas �ltimas.

Sim.

Pronto, acabou.

O Dr. Yan me deixou
sozinho no quarto.

Fiquei sozinho por
uns 15 ou 20 minutos

ent�o, dormi um pouco.

A certa altura, ele voltou.

Como est�?

Bem.

Sente um pouco de calor?

Sinto.

Por enquanto a acupuntura n�o
fez efeito nem sobre a coceira

nem sobre a ins�nia.

Mas l� no centro de medicina
chinesa, s�o todos gentis,

a atmosfera � simp�tica. E
vou fazendo outras tentativas.

Aperte com bastante
for�a, certo?

Como est�?

Bem.

Est� doendo?

Sim.

Posso aumentar?

Sim.

Para curar a coceira, eles tentam
uma esp�cie de acupuntura el�trica

Um instrumento chamado
"agulha de flor de ameixa".

Mas o Dr. Yan
nota a minha tosse

e diz que o
tratamento n�o serve.

Para ele, nesse momento, o melhor
seria tirar um raios-X do t�rax.

Tire a camisa.

A camiseta tamb�m?

N�o, s� a camisa.
Porque tem bot�es.

Agora aperte bem a
placa, com o queixo.

Com o queixo
ligeiramente levantado.

Agora, respire. Mantenha.

Prenda a respira��o.

O t�cnico que tirou a radiografia,
a revelou imediatamente.

E disse � Silvia
que havia algo

em torno do pulm�o. Uma massa e
aconselhou a fazer logo uma tomografia.

E a�, tem gosto ruim?

N�o, tem gosto de anis.

Certo.

Parado. N�o respire, parado.

Respire.

N�o respire, parado.

Respire.

Parado. N�o respire, parado.

Respire.

Enquanto fa�o uma
tomografia da cabe�a

o radiologista da cl�nica
examina a do t�rax.

E fala com Silvia e �ngelo.

Diz ele que, em sua opini�o,
tenho um sarcoma no pulm�o.

Perguntam o que
� isso, e ele diz

que � c�ncer nos pulm�es.

E que, em sua opini�o, minha situa��o �
incompat�vel com qualquer tipo de tratamento.

Mas por sorte, o
radiologista estava enganado.

Dois dias depois, eles
acabaram me operando

e meu amigo que � m�dico

e que estava
presente na opera��o

me contou que o cirurgi�o,
olhando uma l�mina

e observando o peda�o do material
extra�do de mim, teria dito

''Aposto uma "bola" que se
trata de um linfoma de Hodgkin".

"As duas n�o. Mas uma sim".

Linfoma de Hodgkin � um
tumor no sistema linf�tico,

um tumor cur�vel.

Depois, um dia em casa, folheando um manual
chamado "Enciclop�dia M�dica Garzanti",

na palavra ''linfoma''
vejo escrito:

''Os sintomas s�o, coceira,
emagrecimento e transpira��o''.

Mas uma coisa eu aprendi com
toda essa hist�ria. Uma n�o, duas.

A primeira � que os m�dicos
sabem falar, mas n�o sabem ouvir.

E agora, estou rodeado por todos os
rem�dios in�teis que comprei neste ano.

A segunda coisa que
aprendi � que pela manh�,

antes de tomar caf�, faz
bem tomar um copo d'�gua.

Ouvi dizer que faz bem para
os rins, qualquer coisa assim.

Mas faz bem.

Vou querer um caf� com
leite e um croissant.

E um copo de �gua. Obrigado.