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- Então, Stutz?
- Olá, Jonah.

Vá, entretém-me.

- É o que dizes quando me sento.
- É o que digo a toda a gente.

Quando temos
uma sessão de terapia que não é filmada.

A outra coisa que dizes
que me parte todo, o que é ótimo, é:

"Não descarregues para cima de mim."

Sim, tu descarregas para cima de mim
há anos e estou farto.

Bem, aqui estamos nós. Porque achas
que estou a fazer um filme sobre ti?

Acho que é pelas minhas ideias.

Acho que as minhas ideias
surtiram efeito contigo

e queres expor
outras pessoas a essas ideias.

Se calhar…

Não sei, se calhar é uma forma
de tentar ter controlo sobre mim…

Não sei bem. É porquê?

Decidi fazer isto
porque queria mostrar as tuas ferramentas

e os ensinamentos que tu, Phil Stutz,
o meu psicoterapeuta, me passaste,

de forma a que as pessoas
possam aceder-lhes

e utilizá-los para melhorar as suas vidas.

Pensei em filmarmos uma sessão num dia

e falar das ferramentas que criaste
que mais me têm ajudado.

Parece-me bem.

E…

Quero fazer isto de forma a honrar

a vida de alguém
de quem gosto e que respeito muito.

Está bem.

Mas podes ser engraçado às vezes?

Qual é a primeira pergunta que fazes?

Primeiro pergunta-se:
"O que quer? Porque veio cá?"

Os psiquiatras costumam dizer:

"Não interfiram no processo do paciente.
Terá respostas quando estiver pronto."

É uma treta. Não é aceitável.

Quando comecei, a norma era:

"Sou neutro. Estou só a assistir.
Não tenho nada em jogo."

Era um processo lento
e havia muito sofrimento.

Tu conheces-me, a minha reação era:
"Vão-se foder. Estão a gozar comigo?"

Se lidar com alguém com depressão
que tenha medo de não recuperar, digo:

"Faz exatamente o que te disser.

Garanto-te que te vais sentir melhor.
Acredita em mim."

Quando entrei no teu gabinete,
sentámo-nos e tu disseste:

"Eis o que deves fazer."

Deste-me algo para fazer.
Deste-me uma ferramenta.

Sim, é fundamental.

Queria rapidez.

Não é curar uma pessoa numa semana,
isso é impossível.

Queria que a pessoa sentisse
alguma alteração, algum progresso.

Dá-lhes esperança.
Pensam: "Porra, é possível."

O que são as ferramentas?

Uma ferramenta é algo que pode alterar
o nosso estado de espírito imediatamente.

Pega numa experiência
que costuma ser desagradável

e transforma-a numa oportunidade.

Alteram o nosso estado de espírito

e dão-nos esperança de que
não nos sentiremos assim para sempre.

Exato.

São exercícios de visualização mental
em tempo real

que fazemos naquele momento.

Sim. Eu sou como um professor.

Ensino as pessoas a utilizá-las
e também quando as utilizar.

Todos os teus pacientes,
incluindo eu, têm cartões.

São desenhos das ferramentas
que fazes nas sessões e levamos para casa.

A minha forma de pensar é muito visual.

Comecei a desenhar os cartões para mim,
mas ajudava imenso os pacientes.

Os cartões têm o poder de transformar
grandes ideias em imagens simples.

Era uma forma de comunicar com o paciente
mais poderosa do que palavras.

Quando pegam no cartão,
há uma ligação entre nós os dois, um laço.

Sim. Nós temos uma relação pessoal única.

Daí estares a deixar-me
fazer um filme sobre ti.

É algo que nunca senti
no mundo da terapia.

A minha vida melhorou imenso
por trabalhar contigo

e, se funcionou comigo,
talvez funcione com outras pessoas.

Está na hora dos medicamentos.

- Do quê?
- De tomares os medicamentos.

- O alarme tocou.
- Obrigado.

Merda.

Jonah, queres tomar
comprimidos para Parkinson?

Deixei-me disso há anos.

Quando eu era miúdo e tomava droga,

se me tivessem dito que, 50 anos depois,
ia andar a tomar mil comprimidos…

- Isso é tudo para a doença de Parkinson?
- Sim.

Quando temos Parkinson,
o mais importante, e que pode ser bom,

é termos de planear
muitas coisas pequenas.

Quando tenho de sair da cama,

tenho de me contorcer todo
para me levantar.

A coisa mais difícil para mim é sair
da cama de manhã. Mas por outras razões.

Por outras… Pois.

Antes de te conhecer, a minha experiência
com a terapia era muito tradicional.

Eu falava e a pessoa dizia:
"Como é que isso o faz sentir?"

Ou: "Interessante".

- No fundo, mantinha-me à distância.
- Sim.

Estava a pensar que,
na terapia tradicional,

pagamos a uma pessoa
e contamos-lhe os problemas todos

e a pessoa limita-se a ouvir,

mas os nossos amigos, que são idiotas,

dão-nos conselhos.

- Sim.
- Sem pedirmos.

- Sim.
- E nós só queremos que eles oiçam.

E que o psicoterapeuta nos dê conselhos.

É assim: não é que os psiquiatras
não queiram ajudar, a sério que não.

Mas eu sempre senti
que faltava alguma coisa.

Uma ferramenta é uma ponte
entre o problema e a causa do problema

e a outra margem, onde se ganha
algum controlo sobre o sintoma.

É uma questão de possibilidade,
mas não uma definição da treta da palavra.

Possibilidade significa que nos sentimos
a reagir de forma diferente.

Parece…

Como se diz? Banal. Mas é verdade.

Umas das primeiras coisas
em que trabalhámos foi na força vital.

É uma coisa imediata que muda a nossa vida

e a que qualquer pessoa se pode agarrar.

Foi o meu primeiro passo
para começar a melhorar.

Sim, exato. Eis um exemplo clássico.

Um tipo deprimido
entra no meu gabinete e diz:

"Sei que tenho hábitos de merda,
que sou indisciplinado e preguiçoso.

Mas, se soubesse o que devia fazer,

qual é a minha missão nesta vida,
eu iria logo fazer isso.

Mas não sei o que devia fazer, por isso
vou ser preguiçoso e não fazer nada."

E daí vem a depressão, como é óbvio.

Há algo que se aplica a ti

ou a qualquer pessoa que não tenha um rumo
ou que não saiba o que fazer a seguir.

A resposta é: podemos sempre
trabalhar na nossa força vital.

FORÇA VITAL

A única forma de descobrir
o que devíamos fazer e quem somos

é ativando a nossa força vital.

A força vital é a única parte de nós capaz
de nos guiar quando estamos perdidos.

Podemos imaginar a força vital
como uma pirâmide com três níveis.

A base é a nossa relação
com o nosso corpo físico.

O segundo nível
é a nossa relação com outras pessoas.

E, no topo, está a nossa relação connosco.

A base é a nossa relação
com o nosso corpo físico.

Basta pormos o nosso corpo a trabalhar.
Resulta sempre.

O mais típico é não se fazer exercício.

Também há a questão da dieta e do sono.

Que percentagem disso
é que nos faz sentir melhor no início?

Quando começamos, cerca de 85 %.

É bastante alto.

Isso é de loucos, foda-se.

Quando era miúdo, era como se
fazer exercício e dieta significasse

que a nossa aparência era errada.

Nunca me sugeriram fazer exercício
ou dieta pela minha saúde mental.

Gostava que isso
fosse exposto de outra forma.

Sim.

Porque, para mim,
isso causou muitos problemas,

incluindo problemas
entre mim e a minha mãe.

A minha atitude com ela foi muito:

"Vai-te foder.
Não quero, estás a dizer que estou mal."

Elabora isso.

Podia elaborar, mas não vou porque
este filme é sobre ti, não sobre mim.

E se disser que, quanto mais elaborares,
mais fácil é para mim falar sobre isso?

Já pensaste nisso?

Diria que devias fazer um filme sobre mim
em vez de eu fazer um sobre ti.

Essa foi boa.

Esse é o primeiro nível.

O segundo é a relação com outras pessoas.

Quando as pessoas ficam deprimidas,
não cortam relações.

É mais como um barco
a desaparecer no horizonte.

Começam a afastar-se da sua vida

e as relações são como…

É como quando escalamos uma montanha
e usamos pitões que servem de apoio.

As nossas relações são como apoios
que nos ajudam a agarrar-nos à vida.

O principal é tomar a iniciativa.

Quem fica à espera dos outros
não percebe isto.

Podemos convidar alguém
que não achamos interessante para almoçar.

Não importa.
Vai afetar-nos de forma positiva.

Essa pessoa
vai representar toda a humanidade.

Isso é o nível do meio.
O nível mais alto é a relação connosco.

Digamos que temos de criar
uma relação com o nosso subconsciente.

Ninguém sabe o que está
no seu subconsciente se não o ativar.

Um dos truques para isto é escrever.
É mesmo mágico.

Melhoramos a nossa relação connosco
através da escrita.

Há quem diga: "Escrever o quê?
Não sou interessante nem escritor."

Não importa. Escrever é como um espelho.

Reflete o que está no subconsciente

e vamos escrever coisas num diário
que não sabíamos que sabíamos.

São os três níveis da força vital.

Se estiverem perdidos,
não tentem descobrir tudo.

Concentrem-se na força vital primeiro.

É pela paixão.

Aumentamos a força vital
para descobrirmos aquilo que nos apaixona.

Mas o primeiro passo
é ligarmo-nos à nossa força vital

e qualquer um pode fazê-lo.

Se trabalhar na pirâmide,
tudo o resto vai ao sítio?

Tudo o resto vai ao sítio.

Como é que isto te vem à cabeça?

Tive um supervisor… Era muito novo.
Ainda nem sequer tinha o meu consultório.

Falava com pessoas sobre
o que tinha acontecido há 30 anos

ou a causa dos seus problemas.

Saíam da mesma forma que entravam,
a sentirem-se na merda e sem esperança.

Perguntei-lhe:

"Podemos fazer alguma coisa
para que se sintam melhor mais depressa?"

E ele vira-se para mim e diz:

"Nem te atrevas."

Era alguém
que não compreendia a condição humana.

Disse:
"Temos de fazer alguma coisa no momento."

Não tem de resolver todos os problemas,

mas temos de lhes dar a sensação
de que podem mudar já.

Não queria que saíssem sem nada.

Alguma vez te perguntaste
se podia ser a ação errada?

Não.

Eu costumo dizer que, nesta área,

eu sou uma pessoa normal, exceto por isto.

Eu concentro-me na pessoa
e bloqueio tudo o resto.

Desde miúdo que as pessoas
me contam os seus problemas.

Miúdo mesmo. Com dez anos
tinha adultos a virem ter comigo.

A maioria nem conhecia,
mas diziam tudo o que sentiam.

Sei lá de onde vem isso.

Vivi no Bronx até aos cinco.
Depois mudámo-nos para Manhattan.

Para onde?

A primeira casa era
na West 78th Street, n.º 215.

Era um bairro
de trabalhadores de classe média.

O meu pai era um homem muito simpático.

Era barulhento e obstinado.
Adorava receber pessoas em casa.

Por ele, recebia pessoas
em casa todas as noites.

E ela odiava isso.

A minha mãe disse-me que,
num dia soalheiro no Bronx,

com milhares de crianças a brincar na rua,

o que ela preferia
era ficar em casa a ler um livro.

Ela era muito:
"Não me chateiem. Deixem-me estar.

Quero perder-me neste livro
porque a vida é demasiado dolorosa.

Quero lidar com este livro,
não com a vida."

Claro que havia
grandes problemas entre eles.

Isso foi quando, nos anos 50?

Sim, deve ter sido

em 1956, provavelmente.

Deixa cá ver. Quando é que ele morreu?

- Como se chamava o teu irmão que morreu?
- Eddie. Foi o que morreu.

Eles souberam logo.

Era um tumor
que tinha um determinado exantema, penso.

O médico disse-me, anos mais tarde,

que soube o que era
mal entrou no gabinete.

Os meus pais não nos disseram.
Foi um erro.

Que idade tinhas quando ele morreu? Nove?

Sim, tinha nove anos.

E ele tinha três anos?

Ele tinha três anos, sim.

Eu ia para a casa de banho.

Lembro-me de pôr um pé em cima da sanita

como se fosse
um cavaleiro medieval ou assim

e de falar com Deus e Lhe dizer:

"Se o deixares viver, acreditarei em Ti.

Senão, não acredito."

Óbvio que tive de superar isso.

Sempre que vou a Nova Iorque,
tento passar lá.

Gosto de estar no lugar onde estávamos
quando o meu pai veio ter connosco.

A minha mãe saiu do táxi,

entrou no edifício e apanhou o elevador.

Nem olhou para nós.

Subi e perguntei
se podia ir para a escola.

E ela disse: "Podes fazer o que quiseres."

E eu fui.
Penso que era, em parte, a minha negação.

Estavam todos a tentar negar
o que estava a acontecer.

Todos se recusavam
a aceitar o que se passava.

Isso era a Parte X. A Parte X estava
na minha mente antes de compreender isto.

PARTE X

A Parte X é fundamental para perceber
como funcionam as ferramentas,

por isso quero falar sobre isso.

Quando há adversidades,

é uma oportunidade para…

Nesse momento, vamos enfrentar a Parte X.

A Parte X é a parte de nós
que é crítica e antissocial.

É uma força invisível

que nos quer impedir de mudar ou crescer.

Quer bloquear a nossa evolução.
Quer bloquear o nosso potencial.

Quer foder-nos.

Então a Parte X seria o vilão
na história de ser uma pessoa.

E as ferramentas são o que o herói
pode utilizar contra o vilão.

Sim. A Parte X é a voz da impossibilidade.

O que quer que tenhamos de fazer
vai dizer que é impossível.

"Desiste."

Dá-nos um dossiê muito específico
sobre quem somos e do que somos capazes.

Cria um medo primitivo no ser humano.

O que te diz a tua Parte X?

Que estou a desperdiçar tempo.

Diz-me que inventei isto tudo
e que é muito bom, acredito nisso,

mas nunca se vai espalhar
e entranhar o suficiente.

Como é que nos livramos da Parte X?

Não dá.

Podemos derrotá-la
por um tempo, mas vai voltar.

Por isso é que há três aspetos
da realidade a que ninguém escapa:

dor, incerteza

e trabalho constante.

Vamos ter de viver com isto,
custe o que custar.

Se fosse possível banir a Parte X,
não haveria progresso.

Se isto fosse uma história, o protagonista
precisa da Parte X, do vilão,

porque, se o protagonista não a superar,
não há história.

- Certo.
- Não há crescimento, mudança ou coragem.

Precisamos da negatividade da Parte X,
senão não crescemos.

Exato.

Não quer dizer que não nos podemos
esforçar ou que não vamos conseguir.

Mas, se quisermos ser felizes…
Isso não traz felicidade.

O que nos deixa felizes é o processo.

Temos de aprender a amar o processo
de lidar com essas três coisas.

É aí que entram as ferramentas.

Quando aparece, conseguimos identificá-la

e utilizar uma ferramenta para a anular.

FERRAMENTAS

Se ensinarmos alguém a fazer isso,
pode mudar a sua vida.

A maior expressão criativa
de um ser humano

é conseguir criar algo novo
perante uma adversidade.

Quanto pior a adversidade,
maior a oportunidade.

Descobrir que ele tinha morrido
foi como descobrir um mundo novo.

Pensei: "Isso pode acontecer-me?
Sou só uma criança."

Foi um dos maiores efeitos
que teve em mim,

além de os meus pais se terem ido abaixo.

Não conseguiam agir como pais
emocionalmente. Não conseguiam.

Tu…

Culpa-los?

Não, nunca os culpei por isso,
graças a Deus.

Mudou-me a vida porque tudo
passou a ter um duplo significado.

Se eu fosse jogar e tivesse
de estar em casa a uma certa hora,

bastava atrasar-me um minuto que fosse
que eles enlouqueciam.

A minha infância tinha acabado.

Era tudo sério. Não podíamos fazer merda.

A morte dele tornou-se um fardo enorme
que eu tinha de carregar,

mas ninguém admitia
que esse fardo estava lá.

QUERIDO PAI, ADORO-TE

Nunca me esquecerei.
Um amigo meu ficou gravemente ferido.

Fui visitá-lo ao hospital com o meu pai

e, à saída,
o meu pai vira-se para mim e diz:

"Aquela é a única profissão."

Ou seja, se eu não me tornasse médico,
não seria bem-vindo para ele.

Tipo: "Adoro-te, mas, se não fores médico,
nunca te respeitarei."

Ele e a minha mãe eram ateus,
por isso não tinham em que se apoiar.

Era uma luta contra a morte
e, se não lutasse também,

a família ia desmoronar.

Tinhas a responsabilidade
de saciar os nervos e ansiedade deles.

Tornaste-te o psicoterapeuta deles.

Sim, foi exatamente isso.

Eles não tinham nada no que toca a…

Fé?

Sim.
Teriam tido algum apoio se tivessem fé.

Eles só tinham uma coisa
que lhes podia dar fé

e era eu.

São coisas que passam de pais para filhos.

Eu dei o meu melhor.

Falhei por completo, claro.

Mas acho que consegui fazer uma coisa:
tornei-me médico.

Por isso…

Se calhar
saiu alguma coisa construtiva disso.

Começar a dar consultas
foi quase uma brincadeira.

Só o cenário é que tinha mudado.
Já o tinha feito tanto.

E não era mau, nem quando tinha 12 anos.

Vamos continuar estas sessões várias vezes
por semana em que sou o paciente?

Era bom se respondesses a estas perguntas.

Podias responder a uma que fosse.

Falámos sobre o meu irmão.
Podemos falar sobre o teu?

Deve ter mexido contigo.

Bem…

Não, não vamos falar sobre isso.

Está bem.

Acho melhor fazer uma pausa.
Que horas… Merda.

Pois.

Pois.

Meu, isso foi incrível.
Estou todo queimado.

Disse para fazeres perguntas mais fáceis.
A responsabilidade é tua.

Queres apontamentos
sobre a tua realização ou atuação?

Dás na sessão.

QUINTA-FEIRA
7H00 - 11H00 - 15H00 - 19H00 - 22H00

BANCO
KOBREN

TRATAMENTOS
PARKINSON

APRESENTAÇÃO UCLA

O MAL REVELA-SE
A DIFERENÇA ENTRE A PARTE X E A SOMBRA

ÓDIO E DESENTENDIMENTO

Porquê a demora, meu?

Cuidado aí.

Neste também estás?

- Sim.
- Merda.

- Como estás?
- É bom ver-te.

Primeiro, vou utilizar uma ferramenta.
Pode ser?

Sim, claro.

Pronto.

Sinto que fazer este filme
é muito complicado por várias razões.

És o meu psicoterapeuta
e, se me estivesse a debater com algo,

seria contigo que iria falar.

Mas, quando sinto isso
em relação a este filme,

hesito e não o faço

porque o filme é sobre ti.

Sinto que tenho de fingir
que está tudo bem

até quando não está.

Eu…

Eu tenho-te mentido
nas nossas sessões privadas

sobre como vai o filme.

Ou seja, no fundo,

ando a pagar-te para te mentir

e isso fez-me sentir
cada vez mais sozinho.

Estou a tentar explicar
estas grandes ideias.

- Certo.
- E…

E também contar a tua história,
mas sinto-me encalhado.

Não consigo parar de me perguntar:

"Será que foi uma ideia de merda

pôr um paciente a fazer um filme
sobre o seu psicoterapeuta?"

Eu rio-me disso, sabes?

Mas acabei por me perguntar
porque me estava a esconder

atrás da perfeição?

Porque é que me estou a esconder
em vez de partilhar contigo?

Essa pareceu-me ser a única opção.

E é.

Como posso fazer um filme sobre
estar vulnerável e resolver problemas

sem estar vulnerável?

Não me parece justo.

Por isso,
se eu escolher ser justo e honesto,

tenho de reconhecer

que já andamos a filmar há dois anos

e usamos sempre a mesma roupa
para fingir que é uma só sessão,

mas a verdade é que já passaram anos.

Estamos a usar chroma key.
Não estamos no teu gabinete.

Estou literalmente com uma peruca

para parecer que isto foi há oito meses,
quando eu tinha este penteado.

Eu tenho…

Tenho o cabelo curto.

Não sei.

Parece estranho e falso.

Quero que tu e o público
estejam dentro do processo cinematográfico

para que não sintam
que lhes estamos a mentir.

Ando a mentir-te e a toda a gente
sobre estar a correr bem e é uma treta.

Vamos ver esta cena e vai haver coisas
que gravámos há oito meses, há 14 meses…

É difícil saber
o que é o quê neste momento.

Mas acabei por perceber
que tinha de ser honesto e contar-te.

Isso é marado?

É a tua única opção, para ser sincero.

Se queres ser verdadeiro quanto a mim
e ao que queremos fazer,

tens de te permitir fazer merda.

Se fosse perfeito,
iria contra o que estamos aqui a fazer.

Fico feliz por tu…

Eu já suspeitava porque nós…

Primeiro, foram muitos dias.
Eu já pensava:

"Ou é o melhor documentário
alguma vez feito ou o pior."

Acho que é ambos.

Mas ouve. Tem de acabar por ser íntimo.

E, quando for íntimo,
sabemos lá o que caralho vai acontecer.

Se te tiver treinado bem,
não vais ver isso como algo a evitar.

Falhar seria não aceitar isso
e não o utilizar para ir mais além.

Para mim, a força motriz disto tudo
é a tua vulnerabilidade, sem dúvida.

Se formos fiéis a essa ideia
e tu te abrires,

não há como errar porque…

- Mas o filme é sobre ti.
- Não, de todo.

Para mim, é só mais uma coisa.

A minha vida não depende disto.

A tua vida…
Bem, se calhar a tua vida depende.

Estou só a brincar.

A minha mente diz que quero muito falar
com honestidade sobre duas coisas:

a minha relação contigo

e o poder destas ferramentas.

Como vou mais além? Como é que…

Só há uma forma.

Contigo.

A questão é que, se queres avançar…

Não consegues sem estares vulnerável.

Toda a gente
precisa de ajuda para avançar.

Falhar, estar fraco ou vulnerável é como…

É um conector. Liga-nos ao resto do mundo.

É como se enviasses
um sinal para o mundo que diz:

"Preciso de ti,
não consigo fazer isto sozinho."

Sim, isso faz sentido.

Acho que seria uma boa ideia…

Se calhar mostro-te uma parte do filme

e depois decidimos
como é que o queremos concluir.

E podemos fazer isto juntos,
se alinhares nisso.

Sim, alinho. Isso comove-me muito.

E também me deixa aliviado.

Sim, vai ser ótimo.
Vai ser como uma experiência.

Sim. Fixe.

Eu alinho.

Adoro-te, meu.

Corta.

Vocês estavam a filmar?

Porque achas
que estou a fazer um filme sobre ti?

Acho que é pelas minhas ideias.

Acho que as minhas ideias
surtiram efeito contigo

e queres expor
outras pessoas a essas ideias.

Queres tomar comprimidos para Parkinson?

Deixei-me disso há anos.

Tivemos de recriar
o teu gabinete no chroma key

para parecer que sempre estivemos aqui.

É melhor do que o meu gabinete.

Sim. A Parte X.
Assim, quando vemos o filme…

- É a vista do…
- Não tínhamos seguro para isso.

Já tirámos o penso rápido.

Contámos-te onde estou e a verdade.

E agora?

Sinto que temos de ser muito terra a terra
e, ao mesmo tempo, almejar alto.

Não sei como fazer ambos ao mesmo tempo.

Mas tudo o que é real e profundo

tem de ter duas pessoas
porque é uma questão de vibração.

Duas pessoas criam um campo.

É invisível, mas é a força
que faz com que as coisas aconteçam.

Vemos isso nas nossas relações pessoais
e no que se passa no mundo neste momento.

O que estamos aqui a fazer é entregar-nos
a algo que não compreendemos por completo.

Mas o que quer que exista por aí
quer estar ligado a toda a gente.

A vergonha é a cola
que mantém o Universo unido.

É uma experiência que nos obriga
a ligarmo-nos a outra pessoa.

Seja como for, não vai ser perfeito.

Algo cinematográfico ou artístico
pode não resultar,

mas a sua impossibilidade
vai dar origem a algo.

Este é mesmo o meu cabelo.

O que foi? Que se passa?
Qual é o problema?

Tens de dizer:
"Vou dar o meu melhor agora.

Depois passo a outra coisa
e dou o meu melhor."

Parece banal e superficial,
mas não é, acredita.

Boa. Então estás a dizer que,
quanto pior for, melhor nos saímos?

- Sim.
- Ótimo.

Não é assim que Hollywood funciona?

Sempre achei que sim.

Pronto, então vamos continuar.

FIO DE PÉROLAS

Com as ferramentas,
conseguimos dar a volta.

Por isso, temos de seguir em frente.

Continuar.

Parece parvo. Não é simplista?

É, mas queremos dizer: "Sou eu
que ponho a pérola seguinte no fio."

Só isso, nada mais.

Chama-se "O Fio de Pérolas".

É a coisa mais importante
que podemos aprender para nos motivar.

Basta desenhar um fio de pérolas.

Uma linha, um círculo,
uma linha, um círculo.

Cada círculo representa uma ação.

Mas a questão
é que todas as ações têm o mesmo valor.

É uma questão de identidade. "Quem sou?
Não sou ótimo, não sou uma merda.

Não me quero ver."

É vermo-nos consoante
o nosso hábito de agirmos.

Se houver um falhanço ou um sucesso,
qualquer um deles, vamos continuar.

Somos a pessoa que põe
a pérola seguinte no fio. Só isso.

No fundo, sair da cama de manhã
é um fio de pérolas.

Sair da cama
e fazer o que tem de ser feito.

E não atribuímos um valor ao esforço.
Tem o mesmo tamanho.

Uma coisa incrível tua,
embora sejas uma besta,

é que tu nunca paras.

Tu és assim. Gostas da incerteza.

Na nossa primeira sessão disseste
que ser confiante é viver com a incerteza.

E seguir em frente.

O vencedor não é o que toma
as melhores decisões ou é o melhor.

O vencedor é o que faz o ciclo.

Ou seja, é a pessoa que arrisca,

age com base em alguma fé
e acata as consequências.

Se as consequências forem más,
volta ao ciclo.

Melhor é impossível.

A questão é a seguinte.

Em cada um dos círculos
há um círculo mais escuro e mais pequeno.

Esse círculo mais escuro é uma poia.

É engraçado,
mas o que isso quer dizer é que, em cada…

Por exemplo, fazermos este filme.

Saia como sair, não vai ser perfeito.
Vai ter uma poia lá no meio.

Não sei se é bom ou não,
por isso não me vou preocupar com isso.

Tenho é de pensar em continuar
e pôr a pérola seguinte.

A minha filosofia de vida
tornou-se o oposto disso.

Em vez de haver
uma poia dentro de uma pérola,

há uma pérola à volta de cada poia.

Quando acontece algo mau, penso:

"Posso aprender muito com isto
e há coisas boas à volta disto."

Isso é fantástico. Vou roubar-te isso.

Eu processo-te.

- Adoro-te, quero lá saber.
- Vemo-nos em tribunal.

Se este filme acabar num processo legal
de dez anos entre nós os dois…

É muito íntimo. É fixe.

Conhecer-te e começar o nosso processo

foi um ato de desespero
para ser mais feliz.

É difícil dizer.
Eu não tinha uma autoestima saudável.

Certo.

Crescer com excesso de peso

é algo que parece
não ser nada de importante, tipo:

"Coitadinho do menino."

Mas, no meu caso em particular,
deixou-me todo fodido.

Tu explicaste-me a ideia da Sombra.

É a versão de nós próprios
que mais queremos esconder do mundo.

Isto foi o que eu imaginei nesse dia.
Eu com 14 anos.

Quando te conheci,
eu devia ter uns 33 anos.

Tinha um sucesso tremendo,
estava em ótima forma física…

Tudo isso devia ter aniquilado
esta ideia de mim mesmo.

Mas tu explicaste-me
que era assim que me via

e que eu negava quem era

porque tinha tanta vergonha de ser assim.

Pensei que,
se tivesse sucesso, não veriam isto.

Mas, quando tive sucesso,
as pessoas só falavam ainda mais disto

e isso magoou-me.

Continuei a sentir-me esta pessoa

e isso é algo que ainda está dentro de mim
e que surge às vezes.

No fundo, continuo a ser
esta pessoa impossível de amar,

mas, com o nosso trabalho,
estou mais perto

não só de aceitar, mas de incorporar…

- Pensar que é ótimo ser esta pessoa.
- Sim.

Mas isso ainda é difícil.

Vai ser sempre difícil.

A SOMBRA

Todos temos uma Sombra.

Todas as Sombras são diferentes,
mas, por outro lado, são iguais.

É a parte de nós de que temos vergonha.

Primeiro temos de encontrar a Sombra.

Temos de conseguir vê-la,
concentrarmo-nos nela

e aprender a viver com ela.

Temos de a visualizar.

Fecha os olhos.

Agora imagina uma altura da tua vida

em que te sentiste inferior,
envergonhado, rejeitado, desanimado,

de que tenhas vergonha.

É a parte de ti
que tu gostavas que não fosse tua,

mas é e não te podes livrar dela.

TU
SOMBRA

Para mim, é um rapaz de 14 anos
que tem muito excesso de peso e acne

e que sente que é indesejável.

Muito bem. E o que é que fazes
com essa imagem no presente?

Isso pertence ao passado, certo?

Fala com a tua Sombra e pergunta-lhe
o que sente em relação a ti.

Pela forma como lidaste com ela
e a trataste. Vê o que responde.

OUVE A TUA SOMBRA

Ela diz: "Negaste
e sentiste vergonha da minha existência."

Pergunta-lhe o que sente quanto a isso.

Incrivelmente magoada, zangada e chateada.

Agora ouve com atenção.

A Sombra precisa de atenção,
mas não é a atenção do mundo.

Não precisa de um Óscar.

O único ser cuja atenção
importa para a Sombra és tu.

Pergunta à tua Sombra o que podes fazer

para compensar o facto
de a teres ignorado durante tanto tempo.

Ela diz para eu a incluir na minha vida,

para partilhar a minha vida com ela
e celebrá-la.

Para me orgulhar de mim.

Seja na vida social, no trabalho
ou numa relação romântica.

Tenho de reconhecer esta pessoa

e não só aceitar que existe
como também que é uma parte linda de mim.

Muito bem. Abre os olhos.

Esta ferramenta vai melhorar
a nossa relação com a nossa Sombra.

É boa para a timidez
ou se tivermos de falar em público.

Até é boa para confrontar um cônjuge.
Não importa.

Ou para sair num encontro.

Serve para tudo
o que envolva muita pressão

em que sentimos que temos de estar
no nosso melhor, sem "falhas".

Sim. O objetivo não é sairmo-nos bem.

O objetivo é utilizar a ferramenta
e lidar com o que acontece.

Sim, porque, se eu estiver feliz
com quem sou de verdade,

a opinião das outras pessoas
afeta-me muito menos.

Só para perceberem,
não se trata de isto parecer bom ou mau.

O que importa é relacionarmo-nos com isto.

Se não a reconheceres
nem lhe deres atenção,

vais fazer coisas destrutivas.

É uma ferramenta que te pode ajudar
a sentir melhor no momento

e que também é uma filosofia sobre
o nosso caminho enquanto humanos.

Estar em sintonia com a Sombra
faz-nos sentir inteiros.

Não precisamos de mais nada.
Estamos inteiros. E isso é libertador.

- Desculpa.
- Não dês pontapés à minha Sombra.

Muito bem. Desculpa.

Ele magoou-te?
O senhor estranho magoou-te?

- Agora adoro-a, tenho de cuidar dela.
- Podes ficar comigo.

Conheci-te há cinco anos e não tinha
confiança nenhuma enquanto ser humano.

- Eu não investia em mim mesmo.
- Certo.

Não sabia como gostar de mim próprio.

Eu só me esforçava para chegar a uma coisa

que é aquilo a que chamas "A Foto".

Exato.

Também podemos chamar-lhe
"O Reino da Ilusão".

É típico da Parte X.

Significa que estamos à procura
da experiência perfeita.

Pode ser a mulher perfeita,

a quantia de dinheiro perfeita,
o filme perfeito.

Não importa. Seja o que for, não existe.
É uma imagem na nossa cabeça.

Pensa assim: o que é uma foto?

Não tem movimento. Está parada.
Não tem profundidade.

Mas, neste caso, tiramos a foto
e mutilamo-nos com ela.

Fantasiamos.

As pessoas dizem a si mesmas que,
se entrarem nesse mundo mágico,

tudo mudará por magia.

Mas não podemos esquecer
os três aspetos da realidade.

A dor nunca vai desaparecer.
A incerteza também não.

E não há como fugir
à necessidade de trabalho constante.

Toda a gente tem de viver com isto,
seja como for.

Antes de te conhecer,
era um miúdo completamente inseguro

e acreditava que o sucesso e os prémios
me iriam salvar da dor da vida.

Trabalhei muito para alcançar a Foto

e, graças ao meu privilégio e sorte,

alcancei a minha Foto bastante cedo.

Mas, quando isso não curou nada,

deixou-me deprimido até mais não.

Sim.

Ao mesmo tempo, os média não paravam
de ser cruéis quanto ao meu peso.

Era como se toda a gente pudesse

tocar-me na ferida.

Deixou-me muito defensivo.

Quase ficava à espera
de que alguém dissesse algo mau.

Sentia-me tão zangado.

Impediu-me de sentir
qualquer tipo de aceitação

para ultrapassar
os meus sentimentos negativos

e deixou-me com mais vergonha da Sombra.

Só mais recentemente,
já nos 30, quando te conheci

é que aprendi a bloquear isso
e a formar a minha opinião de mim mesmo.

Isso faz sentido?

Sabes?

- Vamos… Estás a mastigar alguma coisa?
- Sim.

Estamos a fazer um filme.

Devias ter dito antes de me convidares.

Está a comer chocolate!
Queres atender alguma chamada?

Sim, mas vamos ver como isto corre.

Desculpa, estou a ver os apontamentos.

Isso… Escrevi "comi a tua mãe",
mas podes riscar.

A ironia dessa piada
é que a minha mãe vem cá amanhã

e nós vamos fazer uma sessão com os três.

- Vai-te foder.
- Não estou a gozar.

Mas não lhe digas…

Eu vou dizer-lhe.

Pronto. Olá.

- Olá.
- Essa cor fica-lhe bem.

- Obrigada.
- Estás bonita.

Obrigada.

É a minha mãe, Sharon.

- Sou o Phil.
- Prazer.

- É um prazer.
- Igualmente.

Bem, não sei. Estava a pensar na minha
primeira experiência com a terapia.

Estávamos no nutricionista

e estávamos a discutir tanto
que o médico disse:

"Deviam ir ao psicólogo."

O médico disse que eu devia perder peso
e tu, como mãe, pensaste:

"Vou dar ouvidos ao médico
e levá-lo ao nutricionista."

Para ser sincera,
eu não precisava que ele me dissesse.

Eu já pensava
que se calhar seria bom perderes peso.

Não quero vasculhar o passado,
mas às vezes é preciso.

A minha mãe era muito pequena,
tal como a minha irmã,

e a mim diziam-me sempre:

"És grande como o teu pai.
És a mais cheiinha. Tens de perder peso."

Acho que isso me deu tanta ansiedade que,

quando eu ou os meus filhos
não tínhamos aquele aspeto,

em vez de me pôr a pensar
no que estava a fazer,

fazia o que pensava que era correto,
se é que isso faz sentido.

Sim, não te estou
a tentar atacar ou assim.

Tu vias que eu era um miúdo
com excesso de peso,

tanto eu como os médicos víamos isso,

e a sociedade tem os seus ideais
do que é defeituoso ou errado.

Por isso, eu sentia que não era bom.

Sentia que era mau.

Que o mundo não me via como correto.

E tu eras a pessoa

que estava a tentar corrigir isso,
qualquer que fosse a razão.

Certo.

Isso pôs-te logo na posição de adversária.

Era como se fosses a pessoa

que não me aceitava.

É a ideia de que a figura feminina
não vai aceitar a minha aparência.

Não te culpo

porque eu percebo,
e já percebi isto há algum tempo,

que tu te sentias como eu na tua família.

- Só quero dizer como isso me afetou.
- Certo.

Para mim, às vezes é mais fácil falar
desta forma, seja lá por que razão for…

Obrigada, Jonah. Obrigada por isso.

Eu quero agradecer-te
porque nunca tinhas expressado

que eu era a figura feminina na tua vida
que não aceitava a tua aparência.

Nunca pensei nisso dessa forma.

Tentei corrigir a situação

sem sequer pensar no efeito que dizer
para fazeres aquilo teria em ti.

Só para ficar claro, não é isto ou aquilo.
Não é essa a questão.

Por muito que o passado
esteja claro neste momento,

a pergunta é: como estão vocês agora
e do que é que precisam?

- Alguma vez pensou nisso?
- Sim, às vezes.

Pode dizer-nos o que pensa?

- Sê sincera.
- Eu sei. Estou a pensar.

Gostava de ter mais consistência.

Às vezes sinto
que o Jonah só vem ter comigo,

porque sou mãe dele,
quando precisa de falar.

Mas, quando ele está todo feliz,
parece que eu nem existo.

Ele não pensa em mim,
eu não importo. Não sei.

Gosto de passar tempo com o Jonah
porque temos uma relação verdadeira.

Passámos por muita coisa
e temos uma relação íntima,

mas às vezes sinto-me ansiosa.

Por exemplo, quando penso que ele é capaz
de não gostar do que vou dizer ou…

É difícil explicar, mas…

Explica.

Estou a tentar.

Dou por mim a reprimir um bocado quem sou

porque não quero
que ele pense certas coisas de mim.

Sabias isso?

Não, não sabia.

Mas, às vezes, reajo mal

quando sinto que não dás ouvidos
aos outros ou sugas toda a atenção.

Sim, eu sei.

Mas acho que é fixe saber
no que posso melhorar

ou do que ela precisa
para que a relação seja melhor

neste contexto
em que não me sinto tão defensivo.

- Se estiver outra pessoa presente?
- Sim.

Por falar nisso, o Phil ontem disse
que vocês tinham tido relações.

- Queres falar disso?
- É a gozar.

- Não, ele disse isso. Filmámos e tudo.
- Ele não o esqueceria, acredita.

Ora aí está.

- Ora aí está.
- Foda-se.

Acho que é uma boa altura para parar.

- Acho que está na hora.
- Está bem.

Mas, antes, uma pergunta a sério.

Alguma vez… Não assim, como é óbvio.

Alguma vez tiveste
uma conversa aberta assim com a tua mãe?

Não, nem de perto nem de longe.

Se ela ainda fosse viva, terias?

Agora? Sim.

Sim.

Tens de perceber
que a minha mãe era de outro mundo.

O pai dela era psicopata.

Ele chegava e dava uma tareia
à mulher e à filha mais nova,

mas nunca à minha mãe,
o que era a maior tortura para ela.

Quando ela tinha oito ou nove anos,
ela já não lhe falava.

Em 1932, no auge da Grande Depressão,
ele abandonou-as.

Não disse nada, nem que se ia embora.

Ele pirou-se a meio da noite.

Quarenta anos depois,
tentou contactar a minha mãe.

Mas a minha mãe era lixada.
Esquece. Acho que nem respondeu à carta.

Ela tinha problemas com homens,
por razões óbvias.

Todas as noites ao jantar
ela criticava os homens.

"Os homens são isto e aquilo."
Não podia discordar.

Coitado do meu pai que a tinha de apoiar.

- O que fazia ele?
- Dizia: "Ela tem razão.

Os homens são terríveis."

Só quando tinha 13 ou 14 anos
é que me bateu que eu era um homem.

Ela não o conseguiu ultrapassar.

- Não.
- Ela estava presa no Labirinto.

Ela passou 40 ou 50 anos no Labirinto.

O LABIRINTO

O Labirinto implica sempre outras pessoas.

É um produto da Parte X
porque ela quer justiça.

Um exemplo clássico é quando alguém
só quer pensar e falar sobre outra pessoa.

É como se nos disséssemos:

"Eu vou ultrapassar isto
quando a pessoa me compensar,

por estar zangada, por trair…"

Não importa o quê.

Sentimos que a pessoa nos tratou mal
e a busca por justiça suspende-nos a vida.

VIDA

O tempo passa a voar
e não temos tempo para essa merda.

LABIRINTO

SEGUIR EM FRENTE
ESTAR PRESO AO PASSADO

Sinto que passei a vida toda no Labirinto.

Preso por não ter retribuição
ou por algo que eu achava injusto.

Desperdicei horas, dias, meses, anos
da minha vida que nunca vou recuperar.

Como é que ela podia ter saído de lá?

A questão é que
a maioria das pessoas quer retribuição.

Querem que seja tudo justo e equilibrado.

Mas ninguém nos dá isso.

Para sentir essa retribuição
e que as coisas estão equilibradas

temos de tirar satisfação
do exercício em si.

A isso chama-se Amor Ativo.

AMOR ATIVO

Fecha os olhos e imagina que tens
à tua volta um universo só de amor.

Sei que parece de loucos, mas cala a boca.
Faz o que te mando.

Não julgues de antemão, vê o que acontece.

Deixa-me tentar definir.
É um mundo que está carregado de amor.

Sente-te a absorver
todo o amor do Universo

e mete-o com gentileza
dentro do teu coração.

Nesse momento,
és o maior líder de amor no Universo.

Agora imagina a pessoa
com quem estás zangado ou que odeias

e manda todo o amor que juntaste
na direção dela.

Não guardes nada. Dá tudo.

Sente… Não imagines só.

Sente o teu amor
a entrar no corpo da outra pessoa.

É muito importante.
Por momentos, tornam-se um só.

Aí, deves sentir:

"Se me consigo unir a este sacana,
consigo unir-me a qualquer pessoa."

Isso é uma sensação de proeza,
de quase mestria.

As pessoas dizem:
"Queres que ame alguém que odeio?"

Não é uma forma de perdoar o outro.
Não é pela outra pessoa.

É para nos sentirmos inteiros,
escaparmos ao Labirinto

e seguirmos em frente.

Queremos estar certos ou criar algo?
É a isso que se resume.

A vida continua.

Se quisermos desperdiçar tempo a jogar,
podemos, mas é tempo que não recuperamos.

Anos mais tarde,
ela tornou-se mobilizadora da comunidade

e era fantástica.

Se lhe perguntassem
o que fazia, ela dizia:

"Organizo greves. É isso que eu faço."

Ela não tinha medo de ninguém.

Uma vez, o presidente de Nova Iorque
viu a minha mãe e disse:

"Esperem. Não vou negociar
até a Rosalie Stutz sair daqui."

E tiveram de a tirar de lá.
Ele morria de medo dela.

A sua tragédia com homens

deu-lhe o superpoder
de não ter medo deles e fazer coisas.

Sim.

Mas como é que isso te afetou,
ter uma mãe que odeia homens?

Sinto que estão todos à espera
da resposta, mas não sei se a sei.

Mas uma coisa eu sei.

Tornou-me inseguro ao pé das mulheres.
Isso é óbvio.

Parecia que havia uma falha na ligação

que me impedia
de sentir seguro ao pé de uma mulher.

É a melhor forma de o descrever.

Porque a tua mãe
de certa forma desvalorizava-te

e não conseguias imaginar-te
a sentir-te seguro com mulheres?

Sim. Nem sequer tinha essa expectativa.

Ela fazia-me sentir
que não tinha o direito de fazer nada.

Superei-o um bocado, mas não…

Superei-o a nível comportamental,
não emocional.

Achas que tinhas mais dificuldades
em confiar nas mulheres por isso?

Não… Bem… Agora?

Agora já não é um problema.

Mas digo-te uma coisa: seria melhor
companheiro agora do que era há anos.

Também não era difícil fazer melhor.

Não era difícil.

Como é a tua vida
no que toca a relações amorosas?

Queres saber se estou numa?

Sim. Estás?

Não, não estou.

Alguma vez superaste
a muralha construída pela tua mãe

e te aproximaste de uma mulher
da forma como temias?

Eu diria…

Sim, uma vez.

Mas, por várias razões,
não posso falar sobre isso em detalhe.

Foi algo que aconteceu há muito tempo
ou foi há poucos anos?

Andamos no vai-não-vai há 40 anos.

Por muito que pareça uma loucura.

O que impede que seja algo constante?

Vou falar de forma generalista.

Ela tem assuntos familiares que…

… a levam na direção oposta.

E também por causa da minha saúde. Eu…

Quando fui diagnosticado,
teve um efeito duplo em mim.

É engraçado. Hoje quase não…

- Isto é muito bom.
- Não estás a tremer de todo.

Queres seguir-me para todo o lado?
É que acho que estás a ajudar.

Eu dava-te folgas.

Só tinhas de ficar comigo
até às 20 horas, depois…

Não te ponhas com piadas agora.

- Não divagues.
- Obrigado.

- Sei o que estás a fazer.
- Obrigado.

Então é pela doença
e pela vida familiar dela.

Sim.

Não sei o que é ter Parkinson,

mas achas que isso pode ser uma desculpa

para não tomares uma decisão
que podia ser assustadora?

Sim, sem dúvida.

A parte maluca que há em mim

pega no que se passa
e usa-o para provar que tem razão.

Mas isso é a tua Parte X
a impedir-te de tomar a decisão.

Sim. É.

Sabes, acho que aquilo de que
mais tenho medo nas relações amorosas…

Estou a aprender

que a única forma de resultarem
é estares completamente vulnerável.

Sim.

Os humanos são tão fodidos
que se convencem a desistir da felicidade.

Se calhar vale a pena tentar pensar nisso.

Bem, conseguiste pôr-me a pensar nisso.

Nos últimos, sei lá, três minutos,
não imaginas quantas piadas já reprimi.

Eu percebo.

Eu sofro do mesmo problema.
Também fujo ao que sinto com piadas.

Sim.

Posso fazer-te uma pergunta aleatória
e podes mandar-me para o caralho?

- Sim.
- Achas que…

Achas que lhe vais ligar

ou mudar a tua perspetiva
quanto à vossa relação?

Sinto que sim.

Estás a falar a sério
ou estás só a fazer-me a vontade?

Não, eu…

Sinto que é uma fonte de energia que pode
ajudar-me a tomar uma decisão destas.

Sim, acho que tudo o que sinto
é amor por ti.

Só quero…

Quero que tu

sejas feliz.

Sim, eu sinto isso.

O que não faz parte de mim
é a questão da doença.

Mas, agora que estou a falar sobre isto,

penso que, inconscientemente,

estava a ligar
estar numa relação com estar curado.

Mas Parkinson não tem cura.

Sim. É verdade.

Mas a maioria das pessoas
não tem doenças destas.

E eu já estou doente há muito tempo.

Cresci em Manhatthan,
estava habituado a sair à noite.

Quando tinha 21 ou 22 anos,
saíamos dia sim, dia não, no mínimo.

Era sexta. Ia ter
com duas mulheres a um bar na Baixa.

Disse: "Ótimo, até daqui a uma hora."

Tinha dormido a sesta
e voltei a adormecer.

Pensei: "Vou dormir mais 20 minutos
e depois apanho um táxi para lá."

Acordei na segunda de manhã.

Pensei: "Estou todo fodido.
Algo se passa aqui."

Exaustão extrema.
Era tão grave que… Imagina.

Se tivesse de ir à lavandaria
do outro lado da rua, teria de pensar:

"Será que consigo ir?
Tenho forças para ir?"

Mas eu não era assim.
Eu era muito hiperativo.

Fui a um neurologista.

Na mesma consulta, disse-me:

"Tem estenose cervical, precisa de ser
já operado e tem doença de Parkinson."

O que sentiste nesse dia?

A minha Sombra vai vir ao de cima
quando vires a minha escrita.

Porquê?

Porque é quase inteligível.

Nem gosto de olhar para ela.

Era muito bom com as mãos.

Era muito bom a jogar básquete,
mas era destro no geral.

Agora…

Bem, dá para ver.

Mas, quando fico com esse medo, tento ver
a minha Sombra nesse preciso momento.

Parece caquética. Sabes o que isso é?

- Macilenta?
- Sim, exato.

- Sei.
- É o que ela parece.

Parece que me desfazer.

Achas que os problemas médicos
podem levar a uma vida mais solitária?

- Sim, acho.
- Porquê?

Durante algum tempo,
tive medo de sair à rua, literalmente.

Costumas pensar em ter filhos?

Penso muito nisso, mas é demasiado tarde.
Não quereria ter um filho agora.

Porque não?

Continuo muito fraco.

Se tiver de me levantar daqui,
vou ter de pensar nisso.

Haveria tantos momentos
em que não conseguiria estar presente.

Por isso, não seria boa ideia.

Bela merda, meu.

Sim.

É.

Mas, se não fosse por isso,

não teria adquirido
a última informação que adquiri.

É que sempre que algo me derruba,
eu adquiro mais informação.

A doença fez-me ter
muito mais noção do tempo.

O meu sentido de missão
e do que devia fazer

tornou-se muito mais forte.

Se não fosse isso, começaria a pensar:
"Merda, isto aconteceu-me.

Que treta. Só me lixa a vida."

Depois ficaria com pena de mim mesmo.
É um desperdício de tempo.

Alguma vez sentes pena de ti mesmo?

Sim, muitas vezes,

mas depressa deixo de ter.

Na montagem do filme,

comecei a usar os teus desenhos
para mostrar as ferramentas

e estão um bocado tremidos.

Queria saber se te importas que eu os use.

Parece-me ótimo. Usa-os.
Se estiverem tremidos, melhor.

Porque a premissa aqui
é que não vamos ganhar sempre,

não podemos ser perfeitos,
não podemos controlar tudo,

mas temos
uma vontade imparável de continuar.

E isto lembra-nos disso.

Cada cartão tem uma abordagem diferente
para chegar ao mesmo objetivo, que é:

"Amigo, age por muito medo que tenhas."

ACEITAÇÃO RADICAL

Isso lembra-me a Aceitação Radical,
que é das grandes e me ajuda muito.

Sim, é verdade.

É assim, podemos aprender
com tudo o que acontece.

Quando algo mau acontece, podemos pensar:
"Não é assim tão mau, amanhã recupero."

Isso não basta.

Temos de criar um reflexo
para espremer o sumo.

Espremer o sumo
é encontrar algo com significado.

É não só tentar não sermos negativos,

mas treinarmo-nos a pensar:
"Que vou fazer agora?"

Tenho de fazer flexões.

Há aqui alguma coisa
que aguente o meu peso?

- Queres fazer flexões?
- Sim, estou perro.

Se quiser,
pode usar o dolly para fazer as flexões.

Tem cuidado, Phil.

Nunca tinha feito isto
à frente de tanta gente.

Mesmo que faça uns dez…
Isto é bom para isto. Posso levar?

Ia sair-te caro…

Primeiro, não podemos julgar.
Não podemos dizer nada negativo.

Não quer dizer que sejamos burros
ou que não seja negativo.

Não podemos pensar isso.
É contra o que queremos fazer.

Segundo, como é óbvio, temos
de encontrar algo de positivo naquilo.

Estás a arrasar.

Quando se faz 100 por dia,
fica-se mais forte.

- Fazes 100 por dia?
- É provável.

Quando fico perro,
não me mexo como deve ser.

Já estou melhor, mas, quando fico assim,
não me consigo mexer.

Mas descobri isto.

Talvez espalhe a mensagem
se vocês não cortarem isto.

Espremer o sumo do limão

quer dizer que temos vontade para o fazer
e que temos fé naquilo.

Há algo de valor ali.

O que acontece
é que tudo se torna mais significativo.

Mas o significado não vem
de coisas grandes, vem de coisas pequenas.

- Sinto-me melhor. Mais solto.
- Faço isso com a minha mãe.

Desculpa.

Temos de pensar
que tudo o que acontece tem valor.

Se conseguires fazer isso,
tudo é uma oportunidade.

É tudo o que tenho a dizer.

Só faltava largares o microfone. Brutal.
É das melhores. É dos teus maiores êxitos.

- Pois é.
- Tive de a utilizar ontem.

Tiveste? Como correu?

Tive um ataque de ansiedade
e não conseguia adormecer.

Em vez de ficar mais ansioso por
não dormir o suficiente para trabalhar,

utilizei a Aceitação Radical
e acabei por usar esse tempo

para pensar em mais ideias para hoje.

Bem, fizeste um bom trabalho.

Não faças merda agora.

Eu falei de Caim e Abel?

- Se calhar não.
- Eram teus colegas de escola?

Lembro-me… Acho que tinha nove anos.

Andar de avião não era como é hoje.
Era todo um evento.

Não dava para ver nada.
Estava um dia nublado.

O meu pai estava a falar comigo
sobre aquilo tudo e disse:

"Não te preocupes,
vamos passar isto e ver o Sol."

Eu não conseguia acreditar.

Pensei: "Estás louco?

Como é que o Sol pode estar ali
quando o céu está carregado de nuvens?"

Lembro-me do momento em que a luz do Sol
irrompeu por entre as nuvens.

Fiquei maravilhado.

Parecia que o Universo inteiro
tinha mudado porque…

A importância daquilo
foi eu deixar de julgar a realidade

pelas minhas experiências
nos últimos cinco minutos.

O Sol está sempre lá.
A nuvem está sempre ali, a bloquear o Sol.

Se não a conseguirmos romper,
achamos que é um dia mau.

Aliás, que é uma vida má.

PARTE X
NUVEM NEGRA

Todos os nossos pensamentos
afetam o nosso humor.

Todos os nossos pensamentos
são positivos ou negativos.

O Fluxo de Gratidão
concentra-se no positivo.

FLUXO DE GRATIDÃO

A Parte X quer que tenhamos
pensamentos negativos

para criar a nuvem
e não conseguirmos ver o Sol.

Esquecemo-nos de que o Sol está lá.

A pergunta é: como é que rompemos a nuvem?

E a resposta é: com gratidão.

Dá-nos a sensação de que há sempre
algo positivo, mesmo que não o vejamos.

Mas é preciso um mecanismo,
daí a ferramenta.

O Fluxo de Gratidão
não é aquilo por que estamos gratos.

O Fluxo de Gratidão
é o processo de criar isso.

Fecha os olhos.

Agora diz coisas pelas quais estás grato.
Duas, três, quatro no máximo.

Quanto menor a coisa melhor.
Isso obriga-te a concentrar a gratidão.

Tens de o fazer devagar. Sente a gratidão.

Sinto-me grato pelos meus sobrinhos.

Sinto-me grato

pelo surf.

Sinto-me grato…

… pelo meu cão.

Sinto-me grato por ti.

Pronto. Agora continua a pensar,
mas não digas em voz alta.

Continua a criar o fluxo de gratidão.

Ótimo.

Agora vais sentir que vais ter outro
pensamento de gratidão, mas não tenhas.

Bloqueia. Assim só sentes a força
que criaria o pensamento

e, à medida que fica mais forte,
deixa-la dominar-te.

Isso é o Fluxo de Gratidão.
Foi excelente. Sentiste alguma coisa?

Senti que tudo tinha…

… abrandado.

E senti algo quente.
Como uma sensação de conforto.

Isso é muito bom.

O essencial é não dizer que estamos gratos
sempre pelas mesmas coisas.

Tem de ser criativo.

Quando temos de procurar fundo
para encontrar o que nos deixa gratos,

o processo em si altera o nosso humor.

É ideal utilizá-la quando temos
o pensamento descontrolado.

O pior é discutir com isso.

O efeito que tem em nós é péssimo
e não nos ajuda de todo.

Mas a gratidão não é só:
"Tenho sorte, alguém ajudou-me."

A gratidão é o estado em que queremos
estar o máximo de tempo possível

porque é o que nos liga…

É o que rompe a nuvem.

Quando estamos lá em cima,
é um mundo diferente.

A Parte X diz que não devíamos
estar gratos. Diz: "Lixaram-te.

És uma vítima. Não te deram o suficiente.
Porque haverias de estar grato?"

É a voz do Diabo. É a Parte X.

Não falo muito contigo
sobre a tua doença de Parkinson.

Pergunto-me se será por medo
de não querer reconhecer

os meus medos em relação a isso.

Pois. O meu conselho seria presumires
que me estás a subestimar.

Todos os dias faço ajustes
e muitos deles são bastante úteis.

Não sei, eu sou estranho.
Não é algo em que pense muito.

Penso no futuro,

mas, acima de tudo, o meu maior medo
é não fazer o suficiente antes de morrer.

Tenho tanta…

Aquilo de que falámos aqui é só,
sei lá, 10 % do que tenho.

É só uma parte.

Sim, eu acho que a morte é…

É algo complexo para todos.

Para mim, eu…

… tenho muito medo
de te perder em particular.

Não que pense muito nisso.

Mas tu és a pessoa
a quem recorro para pedir conselhos

e que me apazigua ao mostrar
que é possível superar tudo.

Ao mesmo tempo,

quando tive
uma grande experiência com a morte,

foste tu que me ajudaste a superá-la.

Referes-te ao teu irmão?

Sim. Quando ele morreu
inesperadamente há uns anos.

E antes de começar a fazer este filme
nem sabia que tinhas perdido o teu irmão.

- Contaste-me sobre onde estavas no dia.
- Sim.

Sabias o sítio onde estavas.
Foste para a escola e tal.

Passei uma boa parte da minha vida
a evitar pensar nesse dia.

Eu fui ao teu consultório nessa manhã.

Foi o dia mais intenso da minha vida.

Sem dúvida que nunca me senti
tão abalado na minha vida.

Uma das coisas que me lembro desse dia
foi de me teres pedido o telemóvel

e me teres tirado uma foto.

E eu…

… pergunto-me porque fizeste isso.

É muito raro
termos a oportunidade de captar algo

no momento mais importante
da vida de alguém.

Quando a voltas a ver,

quer seja uma semana
ou um ano depois, não importa, tens…

Há um salto temporal.

E, nesse salto temporal,

vivencias a força da cura
e da recuperação.

Bem, eu não olho para a foto

há quatro anos.

Mas imprimi-a
porque queria mostrar-ta e olhar para ela.

- Não olhas para ela há quatro anos?
- Não.

No bom sentido…

… parece que não há nada falso em mim.

- Tenho um ar muito sereno.
- Pois tens.

É muito bizarro.

Mas se calhar

é porque destruiu…

… tudo o que não importava.

Destruiu o que pensavas precisar,
mas não precisavas.

É a imagem de uma pessoa
que passou por muito

e que deu a volta por cima e está bem,

de uma forma pouco dramática,
o que me agrada.

Representa vitória,
embora possa não o parecer.

PROCESSAMENTO DA PERDA

O Processamento da Perda é uma ferramenta
que nos permite processar uma perda.

A maioria das pessoas é má nisso.

Não só são más a gerir uma perda,
ficando deprimidas,

mas ainda antes da perda
já estão preocupadas com isso.

O objetivo é conseguir o chamado
"poder da desvinculação".

É conseguir ir atrás de algo,
mas estar disposto a não o ter.

Podemos querer muito aquilo,
mas estar dispostos a perdê-lo.

Primeiro, escolhe algo
a que te sintas demasiado ligado.

Pode ser uma pessoa, um emprego,
algo pequeno. Não importa.

Algo que tenhas relutância em largar.

Tens medo de que, se o largares,
algo horrível aconteça.

Já sabes?

Pronto.

Imagina-te a agarrar essa coisa.

Se não for material, não importa.

Imagina-te só a agarrá-la
como se fosse um ramo de uma árvore.

É assustador. Tens medo de a largar.

Mas largas na mesma.

Quando a largas, começas a cair.

Mas não é uma má sensação.

É uma queda lenta e gentil,
para tua surpresa,

mas estás a cair.

Dizes: "Estou disposto a perder tudo."

Tens de dizer em silêncio.

Queres sentir o que estás a dizer.

Quando o dizes, cais na superfície
de um sol que estava por baixo

e o teu corpo arde.

Nesse momento, perdeste tudo

porque o que possui é o teu corpo físico.

Se o teu corpo ardeu,
és só um raio de sol entre outros.

Estás a irradiar em todas as direções.

Estás a irradiar uma sensação
de amor, de dádiva, que flui de ti.

Depois olhas em volta e vês à tua volta
um número infinito de sóis

iguais àquele onde estás,
todos eles a irradiar.

Depois ouves os sóis a dizer em uníssono:

"Nós estamos em todo o lado."

É o mundo dos sóis.

Aqui só podes dar, não podes tirar.

Não te podes agarrar a nada, é impossível.

Podes abrir os olhos.

E então?

Foi bom.

- Queres dizer mais alguma coisa?
- Sim.

Eu sou muito bom a não criar vínculos

com empregos, identidades ou zangas.

Consigo chegar lá
e utilizar as ferramentas.

Mas, no que toca a relações românticas

ou membros da minha família que adoro,

a ideia de os perder

é algo com que me debato.

Pensa assim: não queres romper o vínculo.

Só queres aproximar-te da desvinculação
quando tens medo de os perder.

A maioria das pessoas
nunca esteve sem vínculos na vida.

Só o facto
de poderem aproximar-se disso já é útil.

Não é possível para um humano…
Nem seria bom não ter nenhum vínculo.

Isso faz muito sentido.

- O objetivo não é não termos vínculos.
- Não.

É trabalhar para que a perda
de uma pessoa, sítio ou coisa

não possa acabar com a nossa existência
e nos faça sentir incompletos.

Exato.

Não quero deixar nada por dizer
porque não quero que isso me consuma.

Quando partilhamos os nossos medos e dor,

sentimo-nos mais livres de certa forma.

Utilizo o Processamento da Perda e ajuda.

Quero ser um monge e dizer:
"Com as ferramentas, desaparece tudo."

Mas ainda sofro todos os dias.

- Sabes?
- Sim.

Ainda tenho saudades do meu irmão.

E vais continuar a ter
durante muito tempo.

Mas vê as coisas por este lado.

A morte não é algo permanente.

Podes ter medo da morte, não faz mal,

desde que sintas
que há algo depois da morte.

O renascimento.

A ideia de que o renascimento é possível

desde os confins do mundo,
dos confins da vida,

e que podes voltar a dar vida a algo

é o mais perto que podemos estar de Deus.

Sim, eu percebo.
É só uma realidade e a vida continua.

Mas são poucas as pessoas
que eu não quero mesmo perder.

Também não te quero perder.

E agora?

- Acho que devíamos casar.
- Quero um acordo pré-nupcial.

- Aqui estão alguns.
- Isto é brutal.

Aqui estão.

Uma das coisas que estou a desconstruir
com este filme enquanto o faço

é que costumava pensar
que as pessoas que admiro

estavam absolvidas dos meus problemas.

Desculpa.

Eu percebo.

É um absurdo, eu sei. É mesmo absurdo.

- Estás a rir-te porque é absurdo.
- Sim.

Pois. Acho que é bom que as pessoas vejam
que tu, para mim, és alguém que criou isto

e é importante saber
que as pessoas que admiramos

não são imunes
aos problemas que nós temos.

Tu continuas na luta de ser humano
tal como toda a gente.

Tu nunca és imune à dor,
à incerteza ou ao trabalho constante.

Acho que há algo de belo
em ver a tua vulnerabilidade.

Para mim, isso mostra
que nunca vai haver ninguém que sabe tudo.

Sim.

É o segredo da vida.

- Tanto quanto sei.
- O quê?

Aceitar que nunca vamos saber tudo.
Ninguém nunca vai saber tudo.

A felicidade depende de aceitarmos isso
e o que fazemos com isso.

Mas primeiro temos de aceitar, senão…

Ficas com uma coisa na cabeça
a que eu consigo dar a volta e eliminar

e tu não consegues.

Este é um momento espetacular.

Podem ficar aí parados
enquanto eu vou a casa dormir?

Quando voltar de manhã,
quero encontrar-vos tal e qual…

- É um pedido sensato?
- Sim.

Estás cansado?

- Sim, um bocado.
- Então vai deitar-te.

O que vês quando fechas os olhos?

Vejo um oceano.

Estou numa praia linda e as ondas…

Não são ondas enormes.
São daquelas ondas perfeitas.

Estão a percorrer-me o corpo.

A água está quente ou fria?

Quente.

Sabes o que a minha mãe disse
quando o meu irmão foi internado?

Disse:
"Quando ele entrou era uma criança…"

Ele tinha três anos.

"… mas três meses depois…"

Acho que morreu três meses depois.

"… ele era um homem adulto."

Ele passou por uma transformação.

Fez-me sentir muito triste, mas também…

… muito respeito, penso.

- Consegues vê-lo?
- O quê?

Estás a vê-lo?

Sim, mas não é bem…

Sinto que é o meu irmão, mas ele parece…

Ele parece ter a tua idade.

Ele diz

que não me avisou
com antecedência que ia morrer.

Está a dizer…

Está a dizer que a ele
não incomodou muito. Ele sabia.

Não sei como podia

ter-me dito.

Talvez, não sei.

Juro. Sei que é impossível,
mas estou com a sensação

de que estou a voar.

E sabe bem?

Sabe.

Posso sentar-me?

Estás a voar?

Espero que pare quando os meus pés…

Tens seguro para isso?

- Sim. Queres sentar-te?
- Sim.

Então senta-te, claro.

É um belo quarto.

Este é o meu grande desafio diário:
levantar-me da cama.

Se calhar é uma forma
de tentar ter controlo sobre mim…

Não sei bem. É porquê?

Por isso tudo.

- Queres os teus medicamentos?
- Sim.

Gosto do fundo como está.

Muita gente sonha

que descobre outra divisão na sua casa.

Às vezes é uma coisa enorme.

No mundo dos sonhos, isso significa
que estamos mais conscientes.

A nossa visão do Universo expandiu.

As pessoas sonham que há
uma divisão na sua casa que não existe

e isso representa a expansão da mente?

Sim.

Isso é de loucos.

… digo: "Faz exatamente o que te disser.
Garanto-te que te vais sentir melhor."

Tive uma ideia.

Diz.

Como já gravámos a primeira cena,

isto pode ser para a última cena.

Podemos dizer porque fiz o filme agora,
depois de tudo o que passámos.

Boa.

Vê se… Sem pensar.

Vê se consegues dizer o princípio
e logo a seguir o fim.

Estou a fazer este filme

porque quero fazer chegar a terapia
e as ferramentas que nela aprendi

ao maior número de pessoas possível
com um filme.

Fiz este filme

porque adoro o Phil.

Porque adoro a vida
que estas ferramentas me permitiram ter.

E não importa
o que possam pensar do filme.

Só importa que o tenhamos concluído.

Juntos.

Sinto-me mais próximo de ti agora
do que quando começámos,

o que me parece um bom sinal.

E também sou muito sortudo
por ter isto aos 74 anos.

Adoro-te.

Também te adoro.

Ainda gostava que não descarregasses
para cima de mim.

DEDICADO AOS NOSSOS IRMÃOS

Quando filmámos, há meses,

falaste numa relação

que andava no vai-não-vai há anos.

Depois, numa chamada,

disseste que tinhas falado com a pessoa.

Queria perguntar-te sobre isso,

mas só se quiseres falar.

É incrível.

Ela é a pessoa de quem sou mais próximo.

Quando éramos mais novos,

não queríamos uma relação, sobretudo eu.

Não tinha vontade
para fazer aquilo resultar.

Agora tenho.

Foi depois da nossa conversa?

Sim, isso ajudou-me.

- Fiquei um bocado envergonhado.
- Como assim?

Senti que estava a fazer algo

sem me comprometer, a meio-gás.

Por isso, ajudou-me muito.

Quem achas que tem mais medo
de tentar a sério?

Tu ou ela?

Eu, sem dúvida.

Achas que vais conseguir baixar a muralha

e pôr os teus medos de parte para tentar?

Queres isso?

Sim, vou fazer isso.

Qual seria o desfecho ideal?

O desfecho ideal seria resultar.

Esse seria o desfecho ideal.

Legendas: Susana Loureiro