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SE QUISERES SER REALMENTE
QUEM PROCURA A VERDADE

� NECESS�RIO QUE PELO MENOS
UMA VEZ NA TUA VIDA

DUVIDES, TANTO QUANTO POSS�VEL,
DE TODAS AS COISAS.

REN� DESCARTES

Se algu�m pensava
que, ap�s o an�ncio da pol�cia

que o assassino de Tair Rada
tinha sido capturado,

Katzrin iria suspirar de al�vio,

estava enganado.

Ainda tenho um mau pressentimento.

Quero ver as impress�es digitais,
os testes de ADN.

Algo ainda me cheira mal.

Duvidas da vers�o da pol�cia?

OHAD, IRM�O DE TAIR

N�o duvido dos pol�cias,
mas algo em mim...

N�o sei.

POL�CIA

O passo seguinte
refere-se aos procedimentos legais.

Vai a tribunal para a acusa��o...

ADVOGADOS DE ROMAN 2006-2010
GALIL E DAVID SPIEGEL

...e para anunciar publicamente
que Roman Zadorov retira a sua confiss�o

e se declara inocente.

Roman, como est�?

- Mal.
- Porqu�?

N�o matei a rapariga.

- N�o matou?
- Claro que n�o.

Estou sob constante press�o.
Quero a minha fam�lia.

N�o aguento isto. Quero ir para casa.

As quest�es relativas � investiga��o
de Roman Zadorov come�aram a surgir...

CORRESPONDENTE DO NORTHERN
RUBY HAMMERSCHLAG

...quando os seus advogados,
os Spiegels, entraram em cena

e come�aram a fazer perguntas,

e a pol�cia n�o conseguia
apresentar respostas.

Perguntei ao representante da pol�cia

se havia provas a ligar o Roman
ao local do assassinato.

E ele respondeu:
" Sim, foi l� encontrado ADN do Roman."

Isso foi um verdadeiro golpe.

H� um m�s,
a pol�cia testemunhou em tribunal

que foram encontrados vest�gios de ADN
de Roman Zadorov no local do assassinato.

Mas os resultados n�o aparecem
no processo,

e ainda n�o foi encontrada
uma liga��o gen�tica ao suspeito.

Falso do princ�pio ao fim.

Nada liga Roman Zadorov ao local do crime.

E isso, a prop�sito,

foi uma das muitas coisas
que me fez dizer:

"Agora, espere a� um minuto."

O local tem 70 por 140 cent�metros,
e est� cheio de provas.

Sangue, pegadas, ADN, cabelo,
o que possamos imaginar.

N�o � poss�vel...

que, se Roman estava l�,

n�o existam evid�ncias forenses
que o liguem ao local.

Todos os objetos da casa do Zadorov

est�o no nosso laborat�rio...

e foram literalmente dissecados por n�s.

O tubo de descarga da m�quina de lavar,

foi todo desmontado e procur�mos provas.

N�o encontr�mos nenhuma.

Nas roupas de Roman Zadorov,
n�o encontr�mos nada ligado a Tair Rada.

N�o havia nenhum sangue nos sapatos dele.

N�o encontr�mos vest�gios de sangue
nas solas dos sapatos dele.

QUADRO DE FOTOGRAFIAS

Perguntei pela alian�a do Roman Zadorov.

Era �nica, feita de dois an�is.

Um joalheiro separou o anel

e n�o havia nem ADN nem sangue
da Tair Rada.

A aus�ncia de sangue e ADN...

CHEFE DO LABORAT�RIO FORENSE
SUPERINTENDENTE (REF.) AVNER ROSENGARTEN

...pertencentes a Tair Rada,
nos sapatos dele...

e especialmente no anel dele,

� um resultado que...

muito enfraquece a liga��o
entre Roman Zadorov e o incidente.

- Roman, porque a matou?
- Matei-a?

Porque matou a rapariga?

Porque a assassinou?

- Porqu�? Porque a matou?
- N�o matei.

Matou.

- Porqu�?
- N�o matei.

- Alguma vez ela falou consigo?
- Eu n�o a matei.

- Ela insultou-o?
- N�o a matei.

A pol�cia fez tudo o que era poss�vel

para encontrar um motivo,
porque � absurdo.

Como � que uma pessoa s�
poderia fazer algo t�o louco...

POL�CIA: N�O CONHECEMOS O MOTIVO DO CRIME

...que nem mesmo um animal faria?

Os detetives at� o acusaram
de ser ped�filo,

com base em imagens de raparigas menores
no computador dele.

Uma afirma��o rid�cula, pois, nem sequer
uma das fotografias � de uma menor,

e os detetives sabiam disso.

Por outras palavras,
ele � uma pessoa normal

sem padr�es de pensamentos criminais.

� um alien�gena que caiu no meio da cena.

N�o h� liga��o. Nenhuma liga��o.

Viemos da Ucr�nia.

Foi o meu primeiro filho.

Quando era pequeno era calado.

Deixou-me dormir todas as noites.

Era uma rapaz feliz, sempre a sorrir.

Na escola todos gostavam dele.

O Roman veio para Israel

e come�ou a trabalhar
como trabalhador emigrante.

Tudo come�ou como um sonho agrad�vel.

O Roman e eu conhecemo-nos.

Aquele homem impressionou-me muito.

Inteligente, divertido.

Depois do casamento,
mud�mo-nos para Katzrin.

O Roman arranjou trabalho de imediato,
pois � muito bom com as m�os.

Come�ou a trabalhar em repara��es.
Ganhava bem.

Tinha acabado de terminar o trabalho
de pavimenta��o na escola.

Estava a meio do processo de obten��o
da cidadania israelita,

e na mesma semana

nasceu o filho dele.

A primeira vez que viu o filho

chorou e disse:

"M�e, que beb� maravilhoso."

Nada podia ser melhor.

T�o bonito e...

Ele estava muito feliz.

Tudo parecia cor-de-rosa.

Porque havia ele de estragar tudo
sem nenhum motivo?

De repente, nessa noite, a Olga liga:

"M�e, � urgente, vamos sair de Katzrin."

Perguntei porqu�.

Ningu�m me quis dizer.

Apanh�mos um t�xi e fugimos.

M�E E IRM� DE ROMAN
NINA E XENIA ZADOROV

No caminho...

...pedi ao motorista

para ligar o r�dio.

E no caminho, ouvi...

que o assassino era o meu filho.

Roman, como pessoa,
arrepende-se do que aconteceu.

Consigo ver isso.

N�o queria que isso acontecesse.

Tentei n�o reagir.

Mas fiz o que fiz.

� dif�cil compreender como as pessoas
confessam coisas que n�o fizeram.

DEFENSOR P�BLICO DE ROMAN 2010-2015
DR. ELKANA LEIST

Senta-se em casa e questiona-se,

como pode algu�m admitir
assassinar uma mi�da?

Ningu�m confessaria um crime

que n�o cometeu.

No entanto,

o facto �,

que h� pessoas inocentes
que confessaram crimes que n�o cometeram.

Desde a d�cada de 90 do s�culo passado,
o Projeto de Inoc�ncia Americano,

tem usado testes de ADN
para absolver prisioneiros inocentes.

Alguns cumpriam senten�as de pris�o
perp�tua, outros eram condenados � morte.

At� agora, mais de 700 pessoas
condenadas por homic�dio

foram absolvidas nos EUA.

Uma percentagem significativa deles
confessou em interrogat�rio.

Ent�o, vemos que afinal,

pessoas inocentes confessam crimes,

e perguntamo-nos porqu�.

Durante muito tempo, foi aceite
que a confiss�o � a rainha das provas...

ADVOGADO DE ROMAN 2014-2015
DR. AVIGDOR FELDMAN

...e ainda h� ju�zes
que afirmam incondicionalmente,

que uma pessoa sensata n�o vai confessar
um homic�dio que n�o cometeu.

N�o faz sentido.

Uma pessoa sensata neg�-lo-ia.

Nestes casos, a maioria dos arguidos n�o �
a pessoa sensata comum que conhecemos.

Um suspeito corre um risco elevado
de fazer uma confiss�o falsa,

porque � um estrangeiro,
n�o sabe o idioma.

O hebraico dele ainda era muito reduzido.

MULHER DE ROMAN
OLGA ZADOROV

Ele sabia algumas palavras, principalmente
as que precisava para o trabalho.

Compreende que � suspeito de homic�dio?

Compreende...suspeito...

- Sim, de assassinato.
- O que significa "de assassinato"?

Um homem � margem da sociedade,

n�o faz parte do sistema social
que alegadamente prejudicou,

um homem que n�o consegue lidar
com a autoridade.

Acha que o seu advogado
se preocupa com o Roman?

Ele n�o se preocupa com o Roman.

O advogado quer dinheiro, fama.

� isso que o seu advogado quer do Roman.
Nada mais.

Eu quero a verdade.

Come�aram a pression�-lo,

que a mulher dele se queria divorciar,

que toda a Katzrin sabe.

Encontraram pontos muitos
dos pontos fracos dele

que eventualmente o fizeram quebrar.

N�o quer que a sua mulher o deixe,
� por isso que n�o vai dizer a verdade.

Mas depois da Olga ver tudo o que tenho
a dizer-lhe e a mostrar-lhe,

ela vai deix�-lo.

Estas pessoas foram submetidas
a interrogat�rio cansativo, humilhante

que abalou a pr�pria vontade deles.

- O senhor � um mentiroso, um manipulador.
- Tudo bem.

Pertence � cadeia
porque � psicopata e ped�filo.

� tudo aquilo que pensamos que �.

Pensei que o Roman tinha um lado bom.

Eu fui bom para si.
Achei que tinha um lado bom.

Mas a m�e daquela menina
est� l� fora a chorar todo o dia,

e em vez de pedir desculpas, o que faz?

O que faz, Roman?

Em vez de pedir desculpas
e dizer a verdade,

porque matou a filha dela, sabemos disso,

tal como sabe que o meu nome � Yoram
e o seu � Roman.

� um processo.

Uma pessoa que � separada de tudo o mais,

que est� sob uma tonelada
de press�o psicol�gica de que o fez

e tudo isso � canalizado
para uma abertura...

para a qual canalizaram intencionalmente,
a confiss�o.

- Mostre-me como fez isso.
- Eu n�o sei.

N�o fiz isso, Sasha.

- Quer p�r-me na cadeia?
- N�o o quero p�r na cadeia.

N�o matei a rapariga.

- Se soubesse, teria dito isso h� muito.
- � est�pido.

- Como poderia saber como ela foi morta?
- � est�pido.

- Est� a ouvir-me?
- Sim.

Ent�o concentre-se.

N�o matei a rapariga. Tome nota disso.

N�o se preocupe, vamos tomar nota de tudo.

N�o sei como ela foi morta.

Vamos come�ar com as mentiras.

Dizem ao Roman: "Envi�mos as suas roupas
para o laborat�rio e logo veremos."

Ele diz: "�timo, vamos ver.
O laborat�rio vai salvar-me."

Sei que n�o estive envolvido.

Sei que n�o a matei.

Vou esperar pelos resultados do
laborat�rio para provar a minha inoc�ncia,

que n�o havia
vest�gios de sangue da rapariga em mim

e que n�o sou culpado.

Uns dias depois, eles dizem-lhe:
"Est� com problemas.

Chegaram os resultados do laborat�rio.
� culpado."

Eu disse-lhe que o laborat�rio
ainda estava a fazer testes, certo?

Ent�o?

Que foi ontem, certo?

Hoje, agora mesmo...

...sabemos que � o assassino.

Sei muito mais do que sabia ontem.

"Encontr�mos o seu ADN na v�tima.

Encontr�mos o sangue da v�tima
nas suas roupas, nas suas ferramentas.

O que diz a isso?"

Ele diz: "Isso � imposs�vel."

Eles dizem-lhe: "� um facto."

Estou a dizer-lhe que encontraram.

Isso � imposs�vel.

Isso � imposs�vel.
Honestamente, � imposs�vel.

Estou a dizer-lhe que foi encontrado.
N�o � uma quest�o de poss�vel, imposs�vel.

Ele diz aos detetives:

"N�o pode ter falsificado
os resultados do laborat�rio."

Roman, n�o somos o KGB,
somos a Pol�cia de Israel.

A Pol�cia de Israel n�o faz isso.

O tribunal sabe como �
a Pol�cia de Israel.

A Pol�cia de Israel � assim.
Olhe, Roman. Assim.

Ele come�a a pensar:
"Calma a�, a pol�cia n�o mente.

Est�o a dizer a verdade.

Ent�o, talvez tenha mesmo acontecido
e eu n�o me lembro."

Talvez, n�o sei.

Porque est�o todos a dizer:
"Matou-a, matou-a."

Talvez a tivesse morto e n�o me lembro?

N�o me lembro disso.

Talvez isso tenha acontecido.

Talvez n�o me lembre de a matar.

N�o me lembro.

Talvez.

Mas, caramba,
lembro-me de trabalhar depois.

Acabei o trabalho como habitualmente.

As minhas cal�as estavam bem.

Eram muito curtas,
por isso deitei-as fora.

Talvez estivessem manchadas de sangue,
mas n�o sabia o que estava a fazer.

Podia ser. Caramba, n�o sei.

N�o sei de nada
mais prejudicial � investiga��o

que estas artimanhas,

uma vez que criam uma falsa realidade.

A pessoa come�a a duvidar
da pr�pria mem�ria,

a duvidar da sua pr�pria realidade.

A habilidade da pol�cia
para criar uma realidade virtual

� um dos perigos
que conduzem a falsas confiss�es.

Eles v�o perguntar: "Como a matou?"

Mas eu n�o sei.

Por vezes, podemos matar
sem perceber que o fizemos.

Sabia disso?

H� tipos que mataram
mas n�o se lembram de nada.

N�o se lembram
porque tiveram um colapso nervoso.

Uma perda de mem�ria tempor�ria.

Um blackout. Sabe o que significa?

Se o fiz, n�o me lembro de nada.

V�?

O Arthur � um criminoso
que trabalha com a pol�cia.

Quando come�ou o trabalho, foi-lhe
oferecida uma quantia consider�vel.

Setenta euros por dia

mais 2900 se conseguisse uma confiss�o.

A quest�o � que vai cumprir
uma longa pena com estas provas.

Mais uma vez, se quer uma pena mais curta,

deve pensar melhor.

A partir disto, pode entender
a motiva��o do Arthur.

Durante dez dias, ele n�o desistiu,

hora ap�s hora.

N�o interessa se diz que n�o o fez.

Com todas as provas contra si, poderia
apanhar pris�o perp�tua, sabe disso?

O informante diz-lhe:
"Se encontraram sangue, est�s feito.

Vais ser condenado.

Se o admitires, dizer-lhes
que ela te irritou ou algo assim.

�s condenado por homic�dio involunt�rio."

Se for homic�dio involunt�rio,
cumpres seis ou sete anos,

depois vais para casa,

mas se n�o o fizeres, � pris�o perp�tua.

O informante disse-lhe:

"Ouve-me, sou perito.

Safas-te com facilidade."

E ele sentou-se com ele

e ajudou-o a elaborar uma confiss�o.

Diz-lhes que todos te levaram � loucura
nestes seis anos, n�o apenas a rapariga.

Nos meus seis ou sete anos em Israel,
as coisas desenvolveram-se.

Em segundo lugar,
todos o olharam com reprova��o.

Todos me olharam com reprova��o.
Ningu�m falou comigo.

Isto aconteceu com o meu irm�o.

J� que ataquei o meu irm�o
como um psicopata.

Digamos que ficaste louco e fizeste
o que fizeste.

Digamos que a mataste de forma impulsiva.

� autom�tico, n�o percebo...

F�-lo automaticamente, est� certo.

Podia ter sido qualquer um.

N�o tinha nada a ver com a rapariga.

Se perdi a cabe�a...

...n�o interessa se era
um rapaz ou uma rapariga

ou algu�m da faculdade.

Podia ter sido qualquer um.

Algu�m que apanhasse no caminho.

Eu fiquei chocada
ao ouvir a confiss�o dele.

Sei quem � o Roman,
e sei que o interpretaram mal.

Eu sabia que ele n�o entendia o que estava
a dizer ou o que lhe estavam a perguntar,

e como muitos imigrantes,

respondeu a todas as perguntas com um sim,

mesmo que n�o tenha percebido.

Perguntei-lhe o que o fez confessar
e recriar o assassinato,

e ele disse que n�o se lembrava.

Eu acredito que estava sob tanta press�o,

que n�o sabia o que estava a fazer.

V� esta rapariga...

...a passear.

O que aconteceu entre voc�s?

Pense. Tem de se lembrar.

O detetive diz que tem de se lembrar.

O que aconteceu entre si
e a rapariga �s 13H30?

Uma rapariga.

Ela falou consigo? Perguntou-lhe algo?

O que queria ela de si?
Como � que o amaldi�oou?

Ela disse-lhe o qu�?

Pense, Roman. Tem de se lembrar.

Roman, tem de se lembrar.

N�o me lembro do que ela disse.

Ele n�o se lembra.

Est� bem, vamos voltar a isso.

S� um segundo.

Onde se lembra de a ter visto?

N�o se lembra do que ela disse,
mas onde a viu?

No primeiro andar, junto �s escadas.

Nas escadas? A subir as escadas?

Ela estava nas escadas?

A confiss�o e a recria��o,
simplesmente n�o confirmam os factos.

Na sua confiss�o, o Roman diz
que depois de ela o ter insultado,

ele seguiu-a pelas escadas,

mas duas testemunhas
declaram inequivocamente

que viram a Tair subir as escadas

e que o Roman n�o a seguia furiosamente.

No s�timo per�odo, o �ltimo per�odo,

sa� desta sala de aula, comecei a sair,

e ent�o ela veio...

- Quem � ela?
- A Tair.

Ela veio de l�, beliscou a minha barriga,

disse ol�, e subiu as escadas.

Eu estava sentado aqui,

depois vimos uma rapariga a passar
e caminhar em dire��o �s escadas.

Quando estava sentado aqui,

viu algu�m ou alguma coisa suspeita,

algu�m que n�o pertencesse � escola?

N�o.

A Pol�cia ainda continua a dizer hoje:
"Temos o assassino."

A RESOLVER O CASO DO HOMIC�DIO

O Roman Zadorov ligou-se ao incidente
ao declarar detalhes

que apenas o assassino
da Tair Rada conheceria,

o que a pol�cia chama de detalhes ocultos.

Os detalhes ocultos s�o aqueles
que apenas o assassino poderia conhecer.

Quando um suspeito d� detalhes...

DETETIVE PRIVADO
HAIM SADOVSKY

...que apenas o assassino podia conhecer,

� uma prova principal.

E ent�o vemos claramente que, da forma
como a pol�cia faz as perguntas,

algumas vezes
ou at� habitualmente inadvertidamente,

eles transmitem estes detalhes ao suspeito

e ele ouve-os e adota-os.

Est� bem, pense. Est� sentado assim.

� prov�vel que ela estivesse de p�
e voc� fizesse isto pelas costas?

Olhe, fique atr�s de mim.

Cada detalhe oculto

que a pol�cia transmitiu, insinuou,

eles disseram-lhe.

Eu n�o sabia o que estava a fazer.

Talvez o fizesse,
mas n�o sei o qu� ou como.

Isso n�o sei.

Eu estou do seu lado.

- Ajude-me.
- Estou a ajud�-lo.

LOCAL DA CENA DO CRIME

O Roman nem sabia em que andar
tinha ocorrido o assassinato.

Ele nem sabia onde era a cena do crime.

O facto de o assassinato
ter ocorrido no segundo andar...

SEGUNDO ANDAR
MEZANINO

...foi-lhe dito uma e outra vez
pelos detetives.

Na quarta-feira, dia do assassinato,

onde estava no segundo andar?

Ela sobe as escadas para o segundo andar.

- Algu�m o viu l� em cima tamb�m.
- N�o.

Mas os detetives cometem um erro terr�vel.

Na verdade, o corpo
foi encontrado no mezanino.

Como as coisas se tornam claras?

Recria��o.

Na recria��o,
ele deveria levar os detetives

ao local onde alegadamente matou a Tair.

Acontece que ele ia realmente
lev�-los at� ao �ltimo andar

o qual n�o era a cena do crime.

- Por que caminho � que ela volta?
- Ela vira � direita.

Vire � direita.

O Roman fala-lhes
sobre a casa de banho � direita.

Isso n�o faz sentido
porque a casa de banho � � esquerda.

E quando eles o veem a ir
para o terceiro andar, n�o gostam disso.

Eles param-no.

De repente, h� um problema com as algemas.

Algu�m aparece por tr�s
e come�a a mexer nas algemas.

Quem � que pediu isso?

Ele queixou-se de que as algemas o
magoavam? Nenhum motivo.

E o Roman para.

E o que v� ele?

WC HOMENS

Ele v� a porta manchada
com p� de impress�es digitais.

FORA DE SERVI�O

Ele v� o aviso em hebraico e russo
a dizer para n�o para limparem ali,

e de repente n�s ouvimo-lo
a recuperar o f�lego.

Eles levaram-no l�. Ele n�o sabia.

Ele est� a apontar para a porta
da casa de banho onde a viu.

- Sim.
- E tens andado perto?

POSI��O DA V�TIMA

Eles disseram-lhe: "Quer cooperar. �timo."

Diga-nos onde deixou a rapariga.

Quando deixou a cabine, depois de a matar,

onde estava a rapariga?

Diga a verdade.

Onde a p�s?

Ele n�o sabe, mas quer cooperar.

Demonstre.

Assim.

N�o, levante-se

Eles dizem-lhe: "N�o, n�o se esque�a

que n�s vimos a posi��o
em que estava a rapariga."

Ele recebe a dica
que a resposta dele est� incorreta.

Ele tenta algo mais.

- Estou perto, a rapariga estava aqui.
- Sim.

Ela n�o pode estar direita,
a casa de banho � ali.

Estava aqui, fiz assim.

"N�o, Roman. Pare com isso."

Vou perguntar-lhe de novo. Diga a verdade.

Roman, diga apenas a verdade.

J� chega disto.

Vamos dizer aqui a verdade.

De homem para homem.

A Tair estava sentada na casa de banho

com o tronco encostado � parede.

Para o observador casual,

� como assistir a um jogo.

� �bvio que o homem n�o sabe.

Ele n�o sabe.

LOCALIZA��O DOS CORTES

A contradi��o seguinte,

onde foi ferida a Tair?

Havia uma facada no antebra�o
esquerdo interior da Tair Rada

que foi feito depois de ela morrer.

Ap�s a morte, a press�o arterial diminui.

CHEFE DO INSTITUTO DE PATOLOGIA
DR. CHEN KUGEL

Podemos ver que n�o h� sangramento
na base destas feridas.

� poss�vel que tenha ferido
uma outra parte do corpo dela?

Se assim for, qual?

Os detetives fizeram tudo

para o fazer falar dessa ferida.

Onde � que foi?

Aqui, penso eu, ao redor do ap�ndice dela.

Acho que tamb�m a esfaqueei
abaixo da cintura.

Olhe para o meu corpo.

Isto � a minha cabe�a,
as minhas pernas, o meu est�mago,

o meu peito, as minhas costas,
os meus bra�os.

Quero lembrar-me de alguma coisa.

Onde mais...

...a esfaqueou?

Pense.

O Roman, eventualmente imaginou,
que o bra�o da Tair foi cortado,

mas tamb�m aqui, os factos n�o coincidem.

Uma vez que o Roman n�o faz ideia

que a rapariga foi cortada
depois de morta...

ele disse que a poderia ter esfaqueado
quando ela levantou a m�o em auto-defesa.

Ou seja, � um ferimento defensivo.

Acho que feri o bra�o dela.

Onde?

� extremamente improv�vel que,
ap�s a press�o arterial dela diminuir,

quer ela j� estivesse morta ou n�o

que ela levantasse o bra�o em auto-defesa.

A ferida foi aparentemente feita
ap�s a morte.

AGRESS�O SEXUAL

DUAS FERIDAS DE CORTE
ENCONTRADAS NO PEITO

SEM SINAIS DE FERIDAS FRESCAS NO T�RAX,
VIRILHA, N�DEGAS, BARRIGA OU NA CINTURA.

Ao longo da investiga��o,

o Roman estava certo
que a Tair foi violada.

Tinha a certeza.

Depois do assassinato, os rumores
espalharam-se muito rapidamente,

Ouvi muitas hist�rias.
Ouvi dizer que ela foi violada.

O Roman tinha medo
de tamb�m ser acusado de viola��o.

Ele disse: "Mas, eu n�o a violei.

Estou disposto a dar uma amostra
de esperma. Eu n�o a violei."

Ent�o o agente Azulai diz-lhe:

"Roman, se n�o a violou,
ela n�o foi violada."

Sabemos que n�o houve viola��o,

e o verdadeiro assassino
sabe que n�o houve viola��o.

Ent�o, se esta pessoa
tem a certeza que houve viola��o,

n�o pode ser o assassino.

ARMA DO CRIME

Roman confessou que cometeu
o assass�nio com um bisturi.

Cortei-lhe a garganta e fui-me embora.

- Com que faca?
- Com o meu bisturi.

Isto era uma arma

que podia na realidade deixar as marcas

que foram deixadas no corpo de Tair.

O facto de a l�mina ser de serrilha,
como pode ser visto num dos ferimentos,

era evidente desde o princ�pio.

Na maioria dos ferimentos por corte,
� dif�cil dizer se a l�mina � de serrilha,

mas por vezes conseguimos
observar a marca da serrilha

nos rebordos do ferimento.

O ferimento no queixo da Tair Rada
evidenciava sinais

de uma l�mina de serrilha.

CHEFE DO INSTITUTO DE PATOLOGIA
DR. CHEN KUGEL

Estava numa grande confer�ncia
de medicina forense na Coreia,

a maior que existe.

Lev�mos dez dos maiores
especialistas mundiais,

os que escrevem os livros,

mostr�mos-lhes as fotografias
e pedimos-lhes a opini�o.

Todos eles, sem exce��o, afirmaram que
era sem d�vida uma l�mina de serrilha,

e dois dos mais proeminentes
especialistas afirmaram

que n�o compreendem como � que algu�m
pode afirmar

que uma l�mina normal
podia deixar estas marcas?

Perseguir a v�tima, errado.

Localiza��o da cena do crime, errada.

Posi��o do corpo, errada.

Onde � que ela foi ferida, errado.

Se ela foi violada, errado.

Arma do crime, errada.

Precisamos de mais o qu�, para compreender
que ele apenas confessou

de modo a satisfazer quem o estava
a interrogar?

Querem saber porque matei a rapariga?

N�o consigo ouvi-lo.

- Querem saber porque matei a rapariga?
- Sim.

Est� bem. Vou diz�-lo.

Eles apenas pegaram num homem inocente...

E cercaram-no.

- E na g�ria mais simples...
- Cercaram-no.

Ningu�m consegue compreender...

porque � que o cercaram.

Corvo negro

Corvo negro

Porque voas em volta da minha cabe�a?

N�o vais ca�ar hoje nenhuma presa

Corvo negro, n�o sou a tua presa

O JULGAMENTO DE ROMAN ZADOROV
COME�OU EM DOIS DE JULHO DE 2007

Come�a hoje o julgamento de Zadorov.

o assass�nio premeditado
de Tair Rada numa escola de Katzrin.

Cento e vinte e quatro testemunhas
tentar�o convencer os ju�zes

que o Zadorov a assassinou.

Talvez depois a fam�lia de Tair
obtenha as respostas

�s muitas perguntas ainda sem resposta.

Eu, com uma pedra no meu cora��o...

M�E DE TAIR
ILANA RADA

...uma faca na minha barriga,

estou determinado a descobrir
que assassinou a Tair.

Vou a todas as audi��es

e vou ouvir todos os interrogat�rios

e estou gradualmente a concluir
que s�o parciais.

Podemos sentir isso,
a hostilidade do tribunal,

desde o primeiro momento,

o preconceito contra as testemunhas
de defesa

por parte da acusa��o,

s�o muito evidentes.

O julgamento de Roman Zadorov,
tal como muitos outros semelhantes,

come�am com a presun��o da culpa.

Come�am com a presun��o
que ele deve contestar a acusa��o.

E um advogado de defesa nesta situa��o,

tem a possibilidade
de objetar a vers�o da acusa��o,

o que � muito problem�tico.

NAS FASES INICIAIS DO JULGAMENTO,
A ACUSA��O APRESENTOU NOVAS PROVAS.

Foram fornecidas ao meu laborat�rio

todas as fotografias da cena do crime

e analis�mos cada uma no computador.

Depois vi pegadas que o comprovaram.

Contactei o especialista da pol�cia
em pegadas, Yaron Shor,

no sentido de descobrir
de quem eram os sapatos.

Temos os sapatos que Roman Zadorov cal�ou
no dia do crime,

da marca Salamander.

Havia uma correspond�ncia entre o tamanho
e o modelo dos sapatos...

PROCURADOR-GERAL
SHILA INBAR

...apreendidos a Zadorov

e a pegada encontrada nas cal�as dela.

Fiquei arrepiada.

A marca era vis�vel nas cal�as dela

e o sapato dele coincidia totalmente.

Isto vai contra tudo o que � vis�vel.

Come�amos a associar tudo

e de repente vai por �gua abaixo.

Temos uma confiss�o,
bem como provas forenses

que o r�u pisou a v�tima.

Sendo ainda mais significativo
do que o conjunto de todas as provas,

� o n�o conseguir refutar esta combina��o.

A primeira vez que comecei a pensar
que Zadorov poderia ser o assassino

foi quando entrou o especialista
da pol�cia, Yaron Shor.

Ouvimos o seu testemunho,

e estou impressionada
com o seu rigor e fiabilidade,

e sa� absolutamente convencida
que foi o Zadorov quem assassinou a Tair.

Verific�mos que t�nhamos
um trabalho dif�cil pela frente.

Mesmo que apresent�ssemos
os melhores argumentos contra a confiss�o

e mostr�ssemos os m�todos inaceit�veis

e como os detalhes n�o evidentes,
n�o s�o na realidade evidentes,

desde que a prova das pegadas
se mantenha intacta,

n�o vamos ter problemas.

Sendo assim, procur�mos...

PERITO FORENSE EM CAL�ADO

...e conclu�mos que William Bodziak...

FORENSE BODZIAK

...� o or�culo internacional
no campo da compara��o de pegadas.

Tem uma longa carreira no FBI

e escreveu a "B�blia" acerca do assunto.

Encontr�mos o Bodziak
e envi�mos-lhe todo o material.

Dr. William J. Bodziak,

Anexamos informa��o relativa
ao caso do Sr. Roman Zadorov.

Finalmente, ele respondeu:

"� uma hist�ria comovente."

Isto era uma hist�ria comovente.

Quando recebi o e-mail do Bodziak,

conclu� que o Roman Zadorov
n�o � na realidade um assassino.

No m�s passado, o especialista
l�der mundial na compara��o de pegadas

veio ao laborat�rio forense da pol�cia.

N�o vejo qualquer curva.

- As linhas est�o aqui.
- Elas est�o no outro lado.

A opini�o do Bodziak foi um choque.

O especialista l�der mundial afirmou
que n�o s� n�o podia ser determinado

que era de facto a pegada de Zadorov,

como n�o podia sequer ser determinado
se era na realidade uma pegada.

O Tribunal da Comarca rejeitou a prova.

Disseram que, "Ele afirma ser poss�vel

que estas marcas de sangue
n�o sejam sequer pegadas."

Mas o Juiz Cohen afirma que,

"Sou um leigo, e consigo ver
com os meu pr�prios olhos

que � uma pegada.

Portanto, mesmo que um especialista
diga que n�o �, eu n�o acredito.

Eu diria que ele est� a ser tendencioso,
que � amadorismo."

Os ju�zes acreditaram na pol�cia.

Os ju�zes prov�m do mesmo sistema,

ou foram anteriormente procuradores
ou foram sempre ju�zes.

Quando eu estava na pol�cia forense,

submeti ao tribunal
mais de dez mil opini�es profissionais.

Foram recusadas cerca de duas.

Agora trabalho no setor privado.

Fa�o o mesmo trabalho
que fazia na pol�cia,

e se tiver submetido, digamos,
dez mil opini�es profissionais,

ent�o talvez tenham sido aceites duas.

Dezenas de testemunhas de defesa,

raparigas que n�o t�m interesse pessoal,

profissionais, antigos pol�cias,

todos, sem exce��o, s�o

charlat�es, vigaristas, patifes,
mentirosos.

E todas as testemunhas da acusa��o
s�o uns santos perfeitos.

Adicionalmente, deixe que lhe conte
algo que pode n�o saber.

Contudo,

na box com lavabo fechada por dentro,

h� tr�s pegadas ensanguentadas.

Uma no assento da sanita,

outra no autoclismo,

e a terceira pegada na parede
entre as boxes.

Estas tr�s pegadas ilustram
um percurso de fuga da box.

As pegadas encharcadas em sangue

as quais todos concordam
n�o pertencem a Roman Zadorov.

Como � que chegaram l�?

Inspecionaram a equipa de resgate,

todos os param�dicos,

e n�o � de nenhum deles,

nem pelo respetivo testemunho
nem pelas pegadas.

A l�gica diz que t�m que ser as pegadas

do assassino a fugir do local,

e se o Roman Zadorov n�o deixou pegadas,

como todos concordam,

ent�o o Roman Zadorov n�o � o assassino.

Hoje, tr�s ju�zes conclu�ram unanimemente,

que Roman Zadorov assassinou Tair Rada.

Ele assassinou-a.

"O veredito � baseado num conjunto
de provas convincentes,

que n�o deixaram qualquer d�vida que o r�u
Roma Zadorov � o assassino,"

declaram os ju�zes.

Fic�mos surpresos com o veredito.

T�nhamos a certeza que ele
viria para casa connosco.

Pensei que neste momento, em 2010,

os nossos tribunais fossem mais justos.

Estou dececionada com todo
o sistema judicial.

N�o sinto nada.

Deixei de sentir no primeiro m�s,

quando tive a certeza
que ele � o assassino.

Estamos satisfeitos por poder afirmar hoje

que a �nica prova s�lida que lev�mos
para o tribunal,

n�o teorias inconsistentes,

foram um fator decisivo.

O tribunal n�o conseguiu explicar que,

as tr�s pegadas eram de uma outra pessoa.

Como podem afirmar
que o Roman Zadorov � o assassino?

Ningu�m investigou
o mundo em que a Tair vivia.

Onde est�o todos
os seus amigos maravilhosos?

Os seus pobres e tristes amigos?

E at� ao fim da minha vida, vou viver

para encontrar quem assassinou Tair.

ROMAN ZADOROV FOI O PRIMEIRO CONDENADO
PELO TRIBUNAL EM 2010.

ELE APRESENTOU RECURSO E FOI DE NOVO
CONDENADO PELO MESMO PAINEL DE JU�ZES.

EM DEZEMBRO DE 2015, O SUPREMO TRIBUNAL
RECUSOU O SEU �LTIMO RECURSO

POR UMA MAIORIA DE DOIS JU�ZES CONTRA UM.

ELE FOI CONDENADO A PRIS�O PERP�TUA.

Tradu��o: ANA FREITAS
Sincroniza��o: remasta