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A VERDADE BROTA DA TERRA
E A JUSTI�A EMERGE DO C�U.

LOCAL: KATZRIN DATA: 12/06/06 HORA: 16H10

Cheguei a casa,

entrei

e vi que a mochila dela n�o estava l�.

M�E DA TAIR
ILANA RADA

Liguei � Tair,

mas a Tair n�o respondeu.

Olho para o lava-lou�a
e vejo que a Tair n�o comeu.

Vou aos quartos

e percebo que a Tair
nem sequer veio para casa.

Liguei ao Shmuel.

Desatei a chorar e disse-lhe
que a Tair n�o atendia o telefone.

Ela disse-me,
"D� uma olhada ao redor da escola,

talvez a encontres pelo caminho..."

PAI DA TAIR
SHMUEL RADA

Claro que j� est� escuro
como breu l� fora.

Chamo pela Tair por entre os arbustos,
as rochas e os pedregulhos

e ent�o...

comecei a chorar.

� uma situa��o triste.

Voltei para casa de m�os vazias.

A Ilana ligou-me a chorar.

"Sabes onde est� a Tair?

Por favor diz-lhe que atenda o telefone."

COLEGA DA TAIR
LEE LAHYANI

Percebi que havia algo de errado

porque sempre que volt�vamos para casa
par�vamos em casa da Tair

para ela dizer � m�e:

"M�e, cheguei. Estou bem."

Ela n�o podia ter simplesmente
desaparecido, era muito respons�vel.

O primeiro relat�rio foi bastante...

COMANDANTE CHEFE DA INVESTIGA��O (REF.)
AVI SHAI

...comum quando chegou � esquadra.

Uma rapariga desaparecida,

ind�cios n�o muito preocupantes.

Mais tarde, confirmaram-se as suspeitas

e come��mos a procurar
a n�vel local e regional.

A partir daqui,

foi uma bola de neve.

As pessoas come�aram a aparecer,

telefonemas de toda a parte,

dos amigos dos meus filhos,
do local de trabalho do Shmuel,

estava toda a gente a procurar.

Era uma noite muito fria...

VIZINHO DA FAM�LIA
ZVI HOTER

...e sa� com o meu casaco.

At� comprei alguns petiscos
para passar o tempo.

Decidimos procurar
nas proximidades da escola,

junto aos arbustos e da veda��o.

N�o encontr�mos nada
por isso eu disse aos amigos:

"Vamos dar uma olhada dentro da escola."

Quando se entra num pr�dio desconhecido

e alguns das divis�es s�o escuras,
� silencioso...

Nessa altura tive uma sensa��o estranha.

Pass�mos por um corredor,
depois por outro,

por uma sala de aula, depois por outra,

at� chegarmos...

� casa de banho.

Quando fomos � casa de banho
n�o havia sinal de nada.

Estava impec�vel.

Na primeira porta, tudo bem,
na segunda porta, tudo bem,

a terceira porta... trancada.

O meu parceiro espreitou pela porta

e disse: "Ena, h� aqui qualquer coisa!"

E nesse momento...

eu congelei.

O local estava calmo,
podia ouvir-se um alfinete a cair.

Ent�o agachei-me
porque n�o sabia o que ia ver.

Vi uma rapariga.

Eu sabia que era ela.

"Pai, encontraram a Tair.

Ela est� inconsciente."

Creio que foi isso que lhe disseram.

Mas nesse preciso momento,
eu disse-lhe: "Ouve,

a Tair est� morta."

Ele chegou a todo o vapor,

a trote

e vi-o a lutar com um pol�cia.

Foi horr�vel.

Vieram centenas de pessoas,
mi�dos, adolescentes, adultos

e a comunica��o social, claro.

E eles n�o me deixaram entrar.

Tudo o que podemos dizer neste momento

� que o corpo foi descoberto
apenas h� 45 minutos.

Um pol�cia disse a um jornalista da TV

que a rapariga foi encontrada

com sinais de brutal viol�ncia no corpo.

H� sinais de viol�ncia,
nenhum sinal de viola��o, ou coisas assim.

Deviam ter vergonha.

N�s somos a fam�lia dela,
eu sou o pai dela.

Porque n�o nos disseram
que a nossa filha foi encontrada?

Digam � fam�lia primeiro.

Em seguida, chegaram juntos
os seus dois filhos,

Roy e Ohad.

Sei que a pol�cia
mal podia controlar o Ohad.

Quiseram mesmo injetar-lhe
um tranquilizante.

Depois, recebi uma chamada do Shmuel.

Ele fez-me

uma pergunta estranha:

"Quem est� contigo em casa?"

Ao ouvir uma pergunta destas,

percebi que alguma coisa...

n�o estava bem.

Ent�o ele diz-me:
"Bem, a Tair est� morta."

Foi horr�vel v�-la.

A Ilana foi -se abaixo.

Ningu�m conseguia confort�-la, ela...

Deitaram-na no sof�.

E ela estava a gritar:

"Cubram a minha filha, ela est� fria."

A partir daquele momento...

at� quase

tr�s semanas depois,

n�o me lembro de nada.

Ilana querida.

Ol�, mam�!

N�o me acordaste para a festa?

Ela trouxe-te uma flor.

Durante a minha carreira

lidei com 204 casos de homic�dio.

Este foi o mais horr�vel de se ver.

Vemos

uma jovem,

bonita

e fr�gil,

mutilada.

Temos uma rapariga

que foi assassinada numa escola.

Eu sabia que iria tornar-se
num fiasco p�blico

e que ter�amos
de dar respostas rapidamente.

Os filhos de Katzrin t�m medo.

O assassino ou os assassinos
est�o ainda foragidos?

O assassino est� em algum lugar
pr�ximo e estamos com medo.

Eles est�o com medo de sair!

Os nossos filhos est�o traumatizados.

Durante dois meses,

apenas consegui dormir
no quarto da minha m�e.

N�o tomava banho
nem ia � casa de banho sozinha.

A escola n�o conseguia funcionar.

J� para n�o falar na forma como aquilo
afetou a cidade...

COMANDANTE REG. NORTE

MAJOR-GENERAL
DAN RONEN

...e a regi�o inteira.

Katzrin � uma bonita e pacata cidade
nos Montes Golan,

cercada por campos e rios.

COLEGA DA TAIR
NOFAR BEN DAVID

Os adultos e as crian�as sa�am sozinhos.

O assassino p�s termo a isso.

Parecia que ningu�m sabia realmente...

CORRESPONDENTE DO NORTHERN
RUBY HAMMERSCHLAG

...como lidar com este tipo de crise.

Desde as crian�as, os pais,
os professores,

a pol�cia, a cidade
e a comunica��o social,

est�vamos a lidar com algo assim
pela primeira vez.

Como se pode ir � escola

quando a nossa colega
foi brutalmente assassinada?

E os jornais escrevem
que os assassinos podem estar no recreio.

A press�o p�blica
atingiu propor��es exageradas.

Todo a pra�a entre a esquadra da pol�cia
e a escola

estava cheio de unidades m�veis da TV.

Mesmo quando algum governo se demite
n�o se veem tantos jornalistas.

Como comandante da regi�o norte,
era respons�vel n�o s� pela investiga��o

como tamb�m pela vida di�ria em Katzrin
e pela escola, em particular.

Tornei bem claro que queria o assassino
nas minhas m�os em 24 horas.

Assim, procur�mos impress�es digitais
e recolhemos amostras de sangue.

Tir�mos fotos de todas as amostras
e avan��mos.

CHEFE DO LAB. FORENSE - SUPERINTENDENTE
AVENER ROSENGARTEN

N�o encontr�mos sangue, nem facas,

nada que nos pudesse conduzir
ao assassino.

PRCOCURADORA-GERAL
SHILA INBAR

A equipa de investiga��o n�o tem pistas.

Come�am a interrogar toda a gente
do c�rculo da falecida.

Os seus amigos, as professoras,

os funcion�rios da escola e os porteiros,

para ver se algo de anormal
tinha ocorrido naquele dia.

A escola � vedada, tem um guarda ao port�o
e centenas de pessoas � volta,

n�o pode ter havido um crime sem
que algu�m visse ou ouvisse. � imposs�vel.

O quarto dia da investiga��o do homic�dio
da Tair Rada de 13 anos,

continua sem progressos.

Quando questiono a crian�a X
ou a crian�a Y,

cada uma delas conta uma hist�ria,

que, na sua perspetiva,
� a mais importante do mundo.

Eu e a Tair est�vamos sentadas aqui.
Ela vasculhou a minha carteira,

tirou uma caixa de pastilhas el�sticas,
tirou duas e deu-me uma.

N�o se sabe se a informa��o
� in�til ou valiosa

e, de qualquer modo, nem sempre sabemos.

Assim, temos que a ter em considera��o.

Havia muitos rumores ap�s o homic�dio.

As pessoas come�aram a dizer
que era um culto sat�nico.

Assim, n�o tivemos escolha.

Come��mos a virar-nos para esse plano,

incluindo emboscadas nos cemit�rios.

E encontr�mos pessoas
a fazer todo o tipo de rituais.

Foram mortos alguns gatos...

N�o tinha nada a ver com o crime.

Houve um condutor, Gadker,

que disse ter dado boleia a tr�s pessoas
no dia do homic�dio.

Eles correram para o meu carro

e o tipo que se sentou atr�s,

assim que arranquei,

levou as m�os � cabe�a e disse:
"O que foi que eu fiz?"

O tipo sentado ao meu lado disse-lhe:
"Isso ficou para tr�s, cala-te."

Eles verificaram as paragens da boleia,

onde eles entraram e onde sa�ram.

Enviaram detetives para as cidades
vizinhas com retratos falados.

Depois de questionar algumas crian�as,
um deles disse:

"Sim, eu estava no carro."

Aparentemente, eles tinham um �libi
para a hora do crime,

estavam ainda na sala de aula.
Esta hip�tese foi posta de parte.

Houve tamb�m pistas que foram...

cartas fora do baralho.

Uma vidente que falou com o comandante

sobre um local perto do Rio Jord�o

onde o sangue da falecida est� a pingar.

Uma hist�ria fant�stica, fora deste mundo.

Eu disse ao agente: "V� com ela agora."

Eles foram l� a meio da noite,

ela mostrou-lhes o sangue
que n�o estava l�

e fim da hist�ria.

Cada uma destas coisas � uma miss�o.

E as ordens nesta investiga��o especial
foram: "N�o deixem do meio caminho.

At� chegar ao fim da estrada

encerr�-la e marc�-la
como um beco sem sa�da,

n�o a abandonem."

Faz amanh� uma semana que Tair,
com treze anos, de Katzrin, foi morta.

A pol�cia continua a investigar.

No in�cio parecia simples,

j� que era um espa�o limitado,
pouco remexido,

mas agora parece um pouco mais complicado.

N�o sabemos o que aconteceu, certo?

Por que n�o sabemos?

A minha filha foi assassinada
e diz que n�o sabemos?

Dezenas de detetives de Israel inteiro
continuar�o a tentar descobrir

quem matou a Tair Rada,

que um dia entrou na escola

e nunca mais regressou.

Em seguida, a psic�loga da escola,

que viu um tipo que entrou na sala
dos professores e atraiu a sua aten��o.

A sua aten��o profissional, se prefere.

Por volta das 14H15 fui � sala
dos professores para retribuir um caf�...

PSIC�LOGA DA ESCOLA
RUTH NISHRI

...e o que vi foi...

um jovem muito perturbado

que, subitamente,
fazia movimentos bruscos.

Quando apareci na porta,

ele olhou para mim e congelou.

A sua express�o era muito conturbada,
ele parecia em p�nico.

Eu podia dizer
que havia algo de errado com ele.

Temos uma mulher de confian�a

que reconhece esta pessoa
como o jardineiro da escola.

O jardineiro da escola foi ontem detido
como suspeito.

A pol�cia estava entusiasmada

porque parecia que eu tinha aberto
uma brecha no seu caso.

Vieram as pessoas da escola e disseram:

"Foi este homem que vimos na escola
na quarta-feira"

Eu n�o estava l�.

Pode perguntar em Afula,
deve perguntar em Afula.

Descobriu-se que ele tinha
um �libi perfeito.

Ele n�o estava na escola naquela dia.

O telem�vel dele foi localizado
na cidade de Afula.

Decidi libert�-lo.

Pensei que eles pudessem querer
obter alguma informa��o sobre mim

mas n�o estava � espera de nada assim.

Os detetives fizeram uma lista de toda
a gente que poderiam interrogar na escola.

Incluindo o Sr. Roman

que estava l� a trabalhar.

Roman Zadorov, um trabalhador
que estava a pavimentar o ch�o

e que acabou o seu trabalho
no dia do crime.

Quando o agente Yoram Azulai
recebe Zadorov

nota que ele se parece com o jardineiro

e pergunta-lhe:

"O que vestia naquele dia?
Onde est�o as suas roupas? "

Ele diz: "Num saco."

Eles come�am a caminhar juntos
em dire��o � escola,

quando o Roman diz:
"Deitei fora as cal�as."

Espere l�.

As suas cal�as de trabalho
desaparecem naquele mesmo dia

e ele teve a oportunidade

e tempo para estar no local.

Decidimos prend�-lo.

Detetive Yossi Zamuelson, N� de ID 733055,

interrogat�rio filmado de Roman Zadorov,

suspeito do homic�dio de Tair Rada.

Leia isto.

Todos os interrogados,

sejam eles criminosos constitu�dos
a ser interrogados pela vig�sima vez,

ou seja a sua primeira vez,

todos eles est�o nervosos.

Os detetives exercem uma grande press�o,

h� press�o da fam�lia,

o medo da cadeia,
o medo de espa�os fechados

e a tudo isto acrescenta-se a ansiedade.

Talvez a tivesse visto
e ela lhe tivesse dito alguma coisa.

Eu n�o vi ningu�m por l�.

N�o sei quem fez isso.

Quando, por vezes, vejo algu�m,
muitas vezes falo.

Eu n�o fa�o isto, n�o fa�o aquilo.

Pensa que eu fa�o isto de prop�sito?

N�o estou a fazer de prop�sito.

Eu estava preocupada.
Porque n�o estava o Roman em casa?

Ele � apenas uma testemunha...

ESPOSA DO ROMAN
OLGA ZADOROV

...que foi ajudar a pol�cia,
dar-lhes informa��es.

Ent�o, vesti-me
e fui para a esquadra da pol�cia

onde conheci os detetives.

Eles ficaram no exterior comigo e disseram
que estavam apenas a investigar,

que tudo ia ficar bem,
apenas queriam ter a certeza

e ningu�m me disse que o Roman era,
de facto, um suspeito.

Ele tinha estado alguns anos em Israel
como uma esp�cie de homem invis�vel.

Ele n�o � aceite pela sociedade,
� um residente tempor�rio.

Era considerado um turista,
n�o tinha nacionalidade israelita,

tinha apenas um visto de trabalho.

Descobriu-se tamb�m que a autoriza��o
n�o era exatamente legal.

Ele quase nunca me falava sobre
os seus problemas e dificuldades.

� uma esp�cie de observador invis�vel
na escola.

Ningu�m lhe d� os bons dias,

quando ele entra na sala dos professores
todos o ignoram.

Ele tem esta profunda frustra��o �bvia,

evidentemente, devido � sua incapacidade
de se integrar na sociedade.

Quanto �s cal�as que deitou fora,
estava a us�-las naquele dia?

As azuis.

- Eram uns jeans?
- N�o, n�o eram jeans.

Em rela��o �s cal�as que deitou fora,

o Roman refere que vestia umas cal�as
azuis, feitas de um tecido fino

que trouxe da R�ssia,

e que tem em casa uma camisa
feita do mesmo tecido.

Os detetives foram � casa dele
e interrogaram a fam�lia.

Todos dizem que ele estava a usar jeans

e que ele n�o tem nenhumas cal�as
ou camisa feitas do tal tecido.

Ao mesmo tempo,
os detetives revistaram a casa.

As facas s�o o seu passatempo,
ele tem v�rias facas, coleciona-as.

Elas est�o na parede,

ele fez um bom tapete
e pendurou sobre ele facas e espadas.

Ele visita sites com artigos sobre facas

e h� alguns dias apenas leu artigos sobre
como subjugar um inimigo com uma faca.

Ele tem um conhecimento profissional
sobre como matar com uma faca.

Fiz o download da Internet

de m�todos de como usar armas brancas.

Eu descarreguei da Internet...

M�todos do KGB

no uso de armas brancas.

Na casa do suspeito foram encontradas

cerca de 250 fotos de raparigas nuas.

Refiro-me a meninas e n�o a jovens.
Mi�das pequenas.

Ent�o, a pedofilia
n�o � algo estranho para ele.

Se lhe dissesse

- que no seu computador...
- Sim?

...encontr�mos fotos de mi�das nuas,
que foram vistas �s duas horas da manh�,

e que ou foi voc� ou a Olga, o que diria?

Quando a mulher de Roman Zadorov
foi interrogada, ela disse

como souberam do homic�dio:

"O Roman Zadorov
recebeu um telefonema do patr�o"

para quem deveria trabalhar
no dia seguinte, Reuven Jannah.

Ele recebeu um telefonema de Reuven,
foi para a varanda

e falou com ele l�,
por isso n�o pude ouvi-lo.

O Roman voltou e disse
que havia um problema na escola,

uma rapariga tinha supostamente ca�do
na casa de banho, assim, n�o teria que ir.

A pol�cia interroga Reuven, que diz:

"Naquela altura, n�o sabia que a rapariga
tinha morrido na casa de banho.

N�o o referi na nossa conversa."

Os detetives confrontaram o Roman com isto

e ele afirmou durante o interrogat�rio

que, de facto, o Reuven nunca lhe tinha
dito as palavras casa de banho ou sanita,

mas que ele as referiu � mulher. Porqu�?

Porque � isso o que ele pensou,

o que podia acontecer
a uma rapariga na escola?

Obviamente ela caiu na casa de banho
ou na sanita.

A sua mulher referiu que voc� lhe disse
em hebraico:

"A rapariga caiu na sanita"

Sim, eu disse isso.

Mas o Reuven n�o lhe tinha dito isso.

Ouvi dizer que havia problemas
na casa de banho.

Porque usou a palavra sanita?

Eu n�o matei a rapariga, n�o a matei.

- N�o matou?
- N�o.

Ent�o diga toda a verdade!

Porque continua a mentir?

Eu n�o matei a rapariga!

Ele � um homem muito forte,
controlado e manipulador.

Ele pensa em tudo.

Este tipo de pessoa, calculista,

que prov�m de um meio
com uma certa disciplina

�, com certeza, capaz de cometer
um a��o deste tipo.

N�o � algo a que estejamos habituados.

Corvo negro

Porque pairas sobre a minha cabe�a?

N�o vais apanhar nenhuma presa hoje

Corvo negro
Eu n�o sou a tua presa

Ent�o, eles utilizam uma estrat�gia.

Dizem-lhe que o sangue da rapariga
foi encontrado num dos seus pertences.

Era uma artimanha para ver como ele iria
lidar com este tipo de quest�o.

Como explica que tenha sido encontrado
sangue da rapariga nas suas coisas?

N�o pode. � imposs�vel.

Quando digo coisas
quero dizer ferramentas e roupas.

Isso � imposs�vel.

Utilizar uma estrat�gia
� perfeitamente leg�timo,

n�o diminui o livre arb�trio.

A pessoa que executa o ardil

apresenta ao interrogado
uma falsa realidade

mas deixa que ele escolha
o que fazer com essa realidade.

Estou a dizer-lhe que foi encontrado.

Isso � imposs�vel.

� simplesmente imposs�vel.
Sinceramente, � imposs�vel.

Estou a dizer-lhe que foi encontrado.
N�o � uma quest�o de ser ou n�o poss�vel.

Ao princ�pio a resposta dele foi:
"� imposs�vel. De modo algum."

Nos dias posteriores disse:

"No dia do crime, eu estava
na casa de banho dos homens

e vi algumas gotas de sangue no ch�o.

Talvez tenha pisado ou tocado nelas,

da� estarem nas minhas coisas."

Eu lembro-me que...

na quarta-feira vi,

tenho a certeza que na primeira divis�o,
vi sangue na sanita e no ch�o.

Na ma�aneta da porta,
quando entrei na casa de banho,

n�o vi sangue.

Ent�o, como foi o sangue parar
�s suas coisas?

Ent�o, ele d� uma explica��o interessante,

ele diz: "� bem poss�vel que estivesse
na sola dos meus sapatos."

Est� bem. E em mais algum lugar?

"Supondo que houvesse sangue
no ch�o e na sanita,

talvez houvesse tamb�m no puxador
e eu n�o tivesse reparado."

Ele diz: "Est� bem. E onde mais?"

Em qual das suas coisas pensa
que foi encontrado sangue?

Voc� diz: "Nas minhas ferramentas
e no cabo."

Na sua camisola e nos sapatos.

Voc� nomeou-as todas.

Mas porqu� nas suas ferramentas?

Penso que tamb�m h� sangue na minha faca.

"Porqu� na sua faca?"

"Porque trago sempre a faca."

E talvez tenha tirado a faca
para trabalhar e a tivesse aberto

e j� houvesse sangue nas minhas m�os..."

Na cabe�a dele,
quando algu�m levanta a hip�tese

de que o sangue possa estar
nas suas coisas,

ele pensa nas coisas que,
quando pensamos num homicida,

poderiam ser manchadas de sangue.

- Arthur, onde est� o hor�scopo?
- Est� aqui.

Voc� � de Peixes?

N�o, Carneiro.

- Carneiro?
- Sim, Carneiro.

Uma semana dif�cil.

N�o diz que ser� uma semana
maravilhosa e eu vou ser solto?

O informador, companheiro de cela,
faz o papel do criminoso experiente

e ele pede-lhe conselhos.

Diz-me, Arthur, fabricam provas aqui?

Podem forjar provas?

N�o, eles n�o fariam isso.

Israel n�o � comunista,
isto n�o � a R�ssia.

N�o forjariam provas em Israel.

Eles podem...

contentar-se com as provas que t�m
contra si e tamb�m reunir novas provas.

Acredita, com provas destas...

eles podem enjaular-me.

O objetivo do informador

� aproximar-se da pessoa,
ganhar a sua confian�a,

e conseguir a confiss�o,
se ele for culpado.

Sou como um irm�o mais velho,
tenho mais cinco anos do que tu.

Quero fazer-te uma pergunta.
Reponde-me honestamente,

diz-me...

quando estavas a trabalhar na escola

eles irritavam-te?

S� sincero comigo.

Eles irritavam-me.

Irritavam?

E isso poderia acabar
em trag�dia um dia, certo?

Roman revela o seu nervosismo

dizendo todo o tipo de coisas
sobre o que poderia ter acontecido

e que se tinha feito alguma coisa
n�o se lembrava,

ele fala do efeito,

o efeito � uma esp�cie de transe

em que ele est� t�o furioso
que faz coisas das quais n�o se lembra.

�s vezes o sangue sobe-me � cabe�a
e n�o consigo lembrar-me de nada.

N�o te consegues lembrar?

N�o me consigo lembrar de nada!

Depois contou a hist�ria
sobre o irm�o dele.

Uma vez bati no meu irm�o, mas felizmente
n�o estava completamente louco.

Filho da m�e!

Na R�ssia, ele atacou brutalmente o irm�o
e depois n�o conseguiu lembrar-se.

Eu espanquei-o tanto que ele mijava
sangue de cinco em cinco minutos.

Ele mijava sangue?

Acho que sim.

S� tenho medo de que possa
ter ido t�o longe

que n�o me lembre do que fiz.

Talvez a tenha matado. � poss�vel.

Depois, ele alega que pode t�-la matado
num estado de insanidade.

Vou contar-lhes tudo.

Vou dizer-lhes que talvez tenha
enlouquecido e n�o me lembro do que fiz.

N�o chores, tem calma.

Quer que eu chame o Faggot?

Vou arranjar uns comprimidos
para te acalmar.

Sr. Guarda, venha c�!

O informador indicou que ele estava
a mostrar sinais de ang�stia

e que corria o risco de se ferir.

Ele foi levado para um exame psiqui�trico
e trazido de volta � noite.

Ent�o, o agente Yoram telefona-me

e diz: "Ele est� a confessar."

Nem sequer tive que a agarrar.

Ela n�o percebeu o que estava a acontecer.

Ela desmaiou de imediato e o sangue...

Ela nem sequer o agarrou?

Ela n�o sabia o que estava a acontecer.

Ele sussurra ao ouvido do informador

que toda a loucura e o esquecimento
� uma encena��o.

Eu aldrabei o detetive.

�s um dissimulado.

Ele est� a tentar vender a hist�ria
aos detetives para se safar facilmente.

A verdade � que ele a matou
e lembra-se perfeitamente.

N�o h� testemunhas, disso tenho a certeza.

Cometi um erro, n�o limpei o sangue
na casa de banho dos homens. O qu�?

O sangue, gotas de sangue.

Esse foi o meu erro.

Ele agarra o informador pelos ombros,
gira-o 45 graus para a direita,

p�e-se atr�s dele

e executa o movimento do golpe,

E, ou�am, ele n�o se esquece

de golpear duas vezes.

Um,

dois.

NO DIA SEGUINTE ROMAN NEGA TUDO
NO INTERROGAT�RIO.

UMAS HORAS DEPOIS,
VAI-SE ABAIXO E CONFESSA.

Quando a esfaqueei ela levantou os bra�os.

Eu quis esfaque�-la outra fez

e bati-lhe uma e outra vez.

Ela caiu para a sanita,

bateu com a cabe�a e caiu.

Ela contorceu-se um pouco e foi isso.

Ela disse alguma coisa antes de morrer?

Pode ter dito mam�.

Quando me perguntam:

"Como sabe se � ele o assassino?

Como chegou a essa conclus�o?"

Quando se v� como ele recria,

como ele faz quest�o de dizer
que lhe cortou a m�o...

Ponha as suas m�os assim.

Eu vou assim... e depois assim.

Para n�o falar do �ngulo do compartimento,

n�o h� qualquer d�vida.

Eu tenho um advogado.
S� quero que deixe que ele saiba.

Deixe que ele saiba o qu�?

Que eu confessei honestamente.

Confessou o qu�?

Que assassinei a mi�da
no dia seis de dezembro deste ano.

S�o 19H32 horas.

Roman, onde estamos?

Estamos na Escola Nofei Golan,

na entrada lateral, onde eu trabalhava.

Ele conduz os recreadores

pelos locais onde ele diz ter
visto a rapariga.

Ele sabia que o cabelo dela estava preso,
mas n�o com um el�stico.

- Aqui?
- No primeiro degrau?

N�o, ela subiu um ou dois degraus.

E ele diz que ela praguejou com ele.

Ela disse: "Filho da puta."

Eu disse: "O qu�?" E segui-a.

Naquele instante o sangue subiu-lhe
� cabe�a e seguiu-a.

Para que lado ela foi?

Ela virou � direita.

Vira � direita.

A casa de banho � aqui.

Ela entra na casa de banho, ele segue-a
e leva-a para o segundo compartimento.

Ele volta-a na dire��o certa,

desta forma.

Ela entra no compartimento,
ele entra tamb�m,

puxa a faca e corta-lhe a garganta.

Ela levanta o bra�o para se defender
e ele corta-lhe o bra�o.

Se ele estava deitada aqui,

em que posi��o estava?
Onde estava a cabe�a?

A cabe�a estava entre a sanita e a parede,
por aqui.

Ele sabia que tinha trancado por dentro
a porta do compartimento.

Porque � importante o detalhe
da porta trancada?

Porque at� �quele momento,
os detetives n�o sabiam disto.

Para mim, um facto que pesou fortemente

na valida��o da confiss�o dele
e da reconstitui��o foi

a forma como ele saiu da cabine,
estando ela fechada por dentro.

Ele trepou, segurando
as duas paredes do compartimento,

ergueu-se como um saltador
em altura Ol�mpico,

arqueou as costas e saltou por cima.

Ele podia ter falhado o teste

mas, amigos, ele n�o falhou.

O suspeito de homic�dio que est� detido
pela pol�cia h� alguns dias,

confessou e recriou o crime
e � o potencial suspeito de ter cometido

o homic�dio da falecida Tair Rada,

h� menos de duas semanas.

Este � o lugar onde tudo come�ou,
o corredor da escola.

Roman Zadorov disse em interrogat�rio
que a Tair lhe pediu um cigarro.

Ele recusou-se a dar-lho e, em resposta,
ela insultou-o.

Ele ficou t�o ofendido que a puxou
pelas escadas acima,

empurrou-a para um dos compartimentos
e matou-a brutalmente.

Nem sequer me lembro de chorar.

Creio que ainda n�o tinha ca�do em mim...

N�o chorei.

N�o chorei.

Levei muito tempo...

PAI DA TAIR
SCHMUEL RADA

a registar isto tudo.

Ent�o, a Tair veio-me ao pensamento

e n�o consegui parar de chorar.

Tal e qual.

Foi extremamente dif�cil.

At� fiquei doente

por causa desta dor horr�vel.

Claro que muitas vezes me ponho a imaginar
como ele a matou,

� t�o horr�vel.

Isto assombra-me.

Este monstro deve ser morto.

� justi�a.

20 ANTES DA REENCENA��O

Roman.

Roman,

escute, olhe para mim. D�-me um minuto.

Olhe para mim, Roman.

Ou�a.

Ou�a.

N�s sabemos de tudo. Ou�a...

Sabemos tudo o que nos contou.

Sabemos tudo. Tudo.

Vamos embora agora. Prepare-se.

N�o volta para onde estava.

Est� comigo.

Diga-lhes exatamente o que me disse.

N�s sabemos de tudo. Tudo.
Lembra-se de tudo.

Quer saber porque fiz aquilo?

O qu�?

Quer saber porque matei a rapariga?

N�o consigo ouvi-lo.

Quer saber porque matei a rapariga?

Sim.

Est� bem, eu digo-lhe.

Diga-lhes tudo o que me disse.

N�s sabemos de tudo.

Vai sentir-se muito melhor, Roman.

Roman...

- Vai sentir-se...
- N�o sei...

Se continua a andar para a frente
e para tr�s vai meter-se em sarilhos.

Veio at� n�s com a boa e pura inten��o
de dizer: "Pessoal..."

Mas eu n�o sei o que aconteceu, entende?

- Roman...
- N�o sei o que aconteceu...

Eu sei que n�o sabe,
fale apenas do que se lembra.

O que se lembra, o que me contou.
Est� bem?

Eu estava a caminho do tribunal,
para um outro caso,

quando a Olga me ligou e...

ADVOGADOS DO ROMAN
GAIL E DAVID SPIEGEL

...ela disse: "Algu�m a recomendou
e queremos que tome conta deste caso."

No local, liguei ao Spiegel e disse-lhe
para ir ver o Roman imediatamente.

Foi uma visita de rotina,
como qualquer outra visita.

Estou sempre a faz�-las

quando visito os presos
que supostamente represento.

Mas...

desta vez...

quando tentei, a partir do Roman,
perceber o que era a sua hist�ria,

havia algo para al�m disto.

Ele entrou no carro e perguntei:
"Ent�o, o que se passa?"

Ele disse: " Se ele � o assassino,
entrego a minha licen�a."

EM MEM�RIA DE TAIR E SHMUEL RADA

Tradu��o: Geny Pereira
Sincroniza��o: remasta