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"Na Hist�ria, as �guas paradas,
sejam as do h�bito ou do despotismo,
n�o toleram a vida.

A vida depende da agita��o
feita por uns poucos
indiv�duos exc�ntricos.

Em homenagem a essa vitalidade,
a comunidade deve aceitar certos riscos,
deve admitir uma por��o de heresias.

Deve viver perigosamente,
se � que quer viver." Herbert Read

Viver a Utopia

O anarquismo � a liberdade.

� a porta aberta at� o infinito

da liberdade e do
bem estar da humanidade.

Acordei com a sirene das f�bricas

E era como se toda Barcelona
pulsasse como um s� cora��o

Algo que s� se v�

uma vez em um s�culo

agora posso dizer que
isso marcou minha vida

e vivo com essa emo��o sempre.

S� h� uma verdade sobre o 19 de Julho

Foi feito pelo povo, espontaneamente

defendendo-se contra a escravid�o

foi a primeira e �nica vez que

o povo acaba com o estado

e o rende.

"Abolimos o estado"

Foi o grito fant�stico
de Garcia Oliver em 20 de Junho

"Conquistamos o que era imposs�vel"

Foi uma grande revolu��o

Pensei que estava feita

n�o somente na Espanha

mas no mundo todo!

Foi espont�neo.

O povo tomou conta de seu destino

usou sua for�a

e realizou as esperan�as

que durante anos e anos

havia sempre sonhado.

� uma oportunidade.

Aceita-se, vai-se at� o fim

e pronto.

A liberdade

No universo me guiou

Minha p�tria � a liberdade

Minha bandeira � a raz�o

Meu caminho � a verdade

Assim � como penso.

Ano a ano

os anarquistas

protagonistas da revolu��o
que viveu a Espanha

durante a guerra civil
entre 1936 e 1939

lembram-se daquele ver�o

que mudou para sempre suas vidas.

"Espanha, 36"

Eu era mais jovem.

Um povo sem hist�ria

n�o � um povo

isso � o que importa.

Fizeram todo o poss�vel para
desprestigiar a revolu��o

e ridiculariz�-la.

At� recentemente,
n�o se viam livros

falando verdadeiramente da revolu��o.

Sou um construtor

quando construo uma casa

come�o sempre pela funda��o.

E tanto nos filmes

quanto na vida toda

h� um princ�pio

o fundamento onde devemos come�ar

ent�o precisamos saber porque
nos defendemos contra o fascismo

porque vencemos o fascismo

quais eram as id�ias
que preconiz�vamos

e que o povo adotou.

A condi��o de mis�ria que vivia
grande parte dos espanh�is em 1930

vem desde o come�o da
revolu��o industrial um s�culo antes

permanecem o analfabetismo
e as profundas desigualdades sociais

sem solu��o pelas autoridades,
a igreja ou a burguesia

O anarquismo surge como
uma proposta de socialismo ut�pico
contra as injusti�as sociais

e encontra eco nas classes
mais desfavorecidas do pa�s.

As id�ias de Kropotkin e
Bakunin se enra�zam
principalmente em Andalusia e Catalu�a

Em 1840 nasce em Barcelona a
primeira sociedade oper�ria

que 30 anos depois j� era um
exemplo para o resto da Europa.

Ap�s a cis�o na Primeira Internacional,
triunfa na Espanha o
pensamento anti-autorit�rio de Bakunin
sobre o que propunha Marx

"Todos devem ser livres para
que exista o socialismo."

Essa era a grande disjuntiva
entre Marx e Bakunin

Marx era autorit�rio, Bakunin n�o.

No sul da Espanha, Fermin Salvochea
� uma das figuras mais influentes do
anarquismo andaluz

onde o povo enfrentava uma
burguesia propriet�ria de
grandes latif�ndios improdutivos

Haviam alguns "caciques"
que manipulavam a pol�tica

e exploravam grandes por��es de terra

e o trabalhador, bem...

poderia trabalhar tr�s
meses sem descanso

e depois n�o trabalhava ou
trabalhava muito pouco

e vivia muito mal.

Em Jerez, 4.000 campesinos
tomam a cidade aos gritos de

"Viva a Anarquia!"

assaltando o com�rcio
em busca de comida.

Para acabar com os grupos �cratas

cada vez mais influentes na Andalusia

o governo cria um grupo
chamado a "M�o Negra"

que prende e executa pessoas
que pertenceriam a um grupo

na realidade inexistente.

Um dos processados foi Sanchez Rosa

autor da "Gram�tica, aritm�tica
e legisla��o do trabalhador"

livro que permite aos
trabalhadores se defenderem em
meio �s lutas sociais.

O enfrentamento entre patr�es e oper�rios

resulta em muitos atentados
realizados por anarquistas
de forma individual

Barcelona � conhecida na Europa
como "A Rosa de Fogo"

Em Castilla, o castelo de
Montjuich se torna o cen�rio de
fuzilamentos e pris�es pol�ticas.

Muitos militantes oper�rios
s�o processados.

Pintaram uma imagem do anarquista

sempre com uma pistola.

N�o senhor!

Tivemos que usar a pistola tamb�m,

mas o Anarquismo se baseou
na conscientiza��o

pelo enriquecimento cultural

para criar o que se cr�,
um mundo novo.

Para os anarquistas, as pessoas
precisam adquirir uma
consci�ncia revolucion�ria

conhecendo primeiro a realidade
para poder mud�-la.

Autodidatismo � explicado dessa forma

quando as pessoas querem saber,
mas n�o t�m meios

isso explica porque haviam
tantos jornais, panfletos e livros
no movimento libert�rio espanhol.

Em toda vila havia um jornal,
ou um folheto, um boletim

sem se referir a isso n�o se pode
entender como eram as coisas.

Soledad Gustavo e Juan Montsein,
bem conhecidos no meio cultural

fundam no s�culo 19 os jornais
"Terra e Liberdade" e "Revista Branca"

que chegou a ter 12 mil
exemplares de tiragem

A obra de Proudhon, divulgada por
Pi y Margall, presidente da
Primeira Rep�blica

introduz na Espanha o
conceito de federalismo

princ�pio adotado pelas
organiza��es anarquistas espanholas

Anselmo Lorenzo, com o
"Proletariado Militante",
prop�e id�ias revolucion�rias
para a emancipa��o da classe trabalhadora

em uma futura sociedade
baseada na liberdade, solidariedade
e aus�ncia de todo o autoritarismo.

Anarquismo n�o � s� uma teoria

n�o � apenas uma filosofia

n�o somente um programa de vida

� uma forma de viver!

Pelas sociedades oper�rias

os anarquistas criam escolas gratuitas

que suprem a falta de uma
educa��o p�blica para todos.

Em 1902, Francisco Ferrer y Guardia
funda a Escola Moderna

inspirada no Racionalismo

e embasa sua educa��o no respeito f�sico,
mental e emocional da crian�a.

Francisco Ferrer y Guardia
agiu contra o obscurantismo da
educa��o dos padres.

Sendo cartesiano e libert�rio,
quis fazer

de sua escola uma for�a educativa
dirigida pela raz�o

principalmente pela l�gica

e a partir da�, combatendo

o capitalismo, a pol�tica e o poder.

Eles n�o pararam at� o matarem

acusando-o de atos que sequer realizou.

A acusa��o pela qual o fuzilaram foi
a insurrei��o de 1909 em Barcelona

quando os soldados se recusaram
a ir para a �frica

estavam matando, assassinando,
por capricho de uns poucos
militares incluindo o Rei

e Ferrer nunca esteve l�!

Fruto da solidariedade oper�ria,
nasce em 1910 em Barcelona a CNT

a "Confedera��o Nacional do Trabalho",
com o objetivo de unir o
proletariado espanhol

em uma organiza��o anarco-sindicalista

contr�ria aos partidos pol�ticos,
utilizando a greve, boicote e a sabotagem
como instrumentos de luta.

Em duas d�cadas a CNT se
tornar� a organiza��o oper�ria
mais importante do pa�s

e no movimento sindicalista mais
ativo e eficaz da Europa Moderna.

CNT � o esfor�o oper�rio
de organizar-se

para conseguir econ�mica e
socialmente uma sociedade melhor

dentro da qual est� a autogest�o

ou seja, a capacidade oper�ria
de assumir todas as fun��es

que tem agora o estado

isto �, substituir o estado.

A primeira guerra mundial provoca
um enriquecimento da burguesia,

que n�o repercute em melhoras
para a classe trabalhadora

tens�es aumentam e
como reflexo da Revolu��o Russa

os trabalhadores espanh�is organizam
muitas greves at� conseguir, pela
primeira vez, a jornada de oito horas.

Havia uma fundi��o
que despediu 4 oper�rios

porque exigiram 8 horas

e n�o as queriam dar.

Todos os patr�es fechavam as f�bricas,
nos tiravam tudo

ent�o foi necess�rio

fazer comida na pra�a del ajuntamento

para alimentar o povo

porque j� durava umas 9 semanas.

Em 1919 a CNT j� tinha
mais de 700 mil associados.

Os duros conflitos laborais provocam
rea��es entre os jovens

e o surgimento de "grupos de a��o"
como "os solid�rios"

Companheiro de Durruti e Ascaso,
Garcia Oliver lembrar� em 1938,
j� como ministro da Rep�blica

os anos de luta em que ca�ram
muitos militantes anarquistas,
como Salvador Segui.

Nosso grupo anarquista

se formou em 1923.

Como donos das cidades

os bandos pistoleiros que
os patr�es patrocinavam

agiam contra os sindicatos livres.

As hordas policiais ajudavam
esses homens

a destruir nossas organiza��es
e nossos homens.

N�s nos unimos e formamos
um grupo anarquista

um grupo de A��o!

para lutar

contra os pistoleiros,
os patr�es e o governo.

Conseguimos nosso objetivo

e os derrotamos!

Em 1923, com a ditadura de Primo de Rivera

a CNT � considerada ilegal
e muitos anarquistas se exilam

como Ascaso e Durruti, que
continuam seu trabalho
revolucion�rio na Am�rica.

Comecei

correndo

andando dessa forma

vi que era perigoso para mim.

E diziam meus vizinhos

me levava a um caminho

separado

dos outros.

Em 1927, em uma praia de
Valencia, funda-se a FAI

a Federa��o Anarquista Ib�rica

que nasce com a pretens�o de
manter puras as id�ias
anarquistas na CNT

mediante a forma��o de pequenos
grupos de afinidades

pr�ximos em id�ias.

Para pertencer � FAI, por exemplo,

deve-se nunca ter
prestado servi�o militar

n�o ter casado pela igreja

enviado seus filhos, se poss�vel,
� escola racionalista

porque n�o era gratuita

e n�o ter v�cios aparentes

isso era imprescind�vel.

Ent�o havia uma sele��o natural

que gestou uma organiza��o muito forte

sem sectarismo

mas por coa��o moral.

Meu pai foi secret�rio
da FAI por algum tempo

em v�rias oportunidades.

Meu pai era um homem de a��o

era muito radical

minha m�e tamb�m

e n�s temos essa influ�ncia

porque eram muito humanos

muito cultos

e sempre se rodearam

de pessoas assim.

O homem anarquista

procura levar uma vida digna

ser um exemplo.

Durante a ditadura os
anarquistas continuam suas
a��es clandestinamente.

Era o tempo de grandes
migra��es em busca de
melhores condi��es de vida.

Meu pai ficou sem trabalho

e decidiu ir a Barcelona

ficamos � espera
que ele ganhasse
um dinheirinho

para comprar as passagens
e ir viver com ele.

Um ano depois ele
conseguiu esse dinheiro.

Encontrou um compadre em Barcelona

que lhe disse "homem, voc�
pode vir trabalhar no metr�

n�o h� op��o, eu tenho
uma tenda na rua Valencia

onde s�o constru�dos os trilhos"

e nessa tenda n�s vivemos

a fam�lia do compadre que eram 5

e n�s tamb�m em 5

10 pessoas vivendo em
poucos metros quadrados.

Meu pai pertencia � CNT

e ent�o ele foi despedido

porque um oper�rio
havia feito algo errado

e o trabalhador era de Murcia

e porisso, todos os 80
murcianos foram demitidos.

O fato � que todos
respondiam por uma a��o

puramente org�nica � CNT.

Sab�amos que existia um
que n�o era dos nossos

era o que prendia nossos pais

que nos deixava sem trabalho

sab�amos que era
um mundo capitalista

dominado pela burguesia

sab�amos que existia

porque �ramos as v�timas.

Mas est�vamos educados
com um entusiasmo

esper�vamos que um
dia isso acabasse

e a sociedade fosse mais
justa, mais igualit�ria.

Encontrei prazer na leitura

quando eu entrava na barraca

principalmente no inverno.

Eu parava sob os postes de luz

para ler uma p�gina

em qualquer lugar onde havia luz

sa�a correndo, lia
outra p�gina, ia assim.

Eu estudei como pude

at� que chegou a rep�blica

e as pessoas sa�am �s
ruas de Barcelona gritando
"ap�ie a Rep�blica"

Foi o que fiz.

Em 14 de abril de 1931
instaura-se democraticamente na
Espanha a Segunda Rep�blica

e o rei Alfonso XIII parte para o ex�lio.

Barcelona estava, pelo que vivi,

alegre, orgulhosa,

as ruas estavam tomadas de gente.

Ningu�m pode conceber como
foi preparada essa festa

todas as ruas cheias
de gente comemorando

sem nenhum �dio

"Viva a Rep�blica,
viva a liberdade ao povo..."

A partir da�, esse gosto pela liberdade

com a chegada da rep�blica

estimulou todo o opressor
a restringir-nos ainda mais.

N�o v� nunca uma juventude
t�o ansiosa em saber

como a que viv�amos
entre '31 e '36

�ramos impedidos em
nosso �mpeto de saber

ent�o procur�vamos outro lugar

e algu�m nos disse que
um col�gio foi formado

haviam interessados em
teatro, esperanto, conhecimentos
gerais, excurs�es...

imagino, em todo tipo de coisas

e cada um de n�s
tinha um trabalho.

N�o faltava o que fazer.

Al� se formaram as
juventudes libert�rias,
havia os grupos da FAI...

Levei minhas crian�as
aos Col�gios Libert�rios

foi um deslumbramento
pois ali se encontravam pessoas
que pensavam como eu.

Ent�o os sindicatos se transformaram
em centros de educa��o.

Todos sindicatos eram col�gios

fa�a a Revolu��o na Espanha,
no mundo, na terra, na lua, em tudo.

N�o eram lugares para
jogar cartas e beber

mas para ler, conversar, discutir

debater, escrever, enfim.

Tamb�m haviam muitas
apresenta��es teatrais,

muitos recitais, era o que mais
se via, recitais de poesia

quase sempre abordando
o social e a den�ncia.

Foram um sucesso todas as
publica��es anarquistas na Espanha

Chegamos a ter apenas do anarquismo,
mais de 70 publica��es.

Quando se reuniam 3 anarquistas,
fundava-se um peri�dico

"O canteiro", ou "A voz da terra"...

A banca na rua Ramblas foi inaugurada

foi um sucesso, uma emo��o,
um entusiasmo

N�o t�nhamos m�os suficientes
para vender

"O aborto legal"

"As 12 provas da inexist�ncia de Deus"

"Dinamite cerebral"

todos os peri�dicos e
muitas pessoas comprando

n�o nos haviam permitido
vender no passado

devia ter 12 anos.

Toda Barcelona anunciando

"Terra e Liberdade, �rg�o da FAI!"

Foi um n�cleo de reuni�o formid�vel

especialmente para a imprensa, para
pessoas que expunham suas id�ias

um centro de conex�o com muita gente.

Estava fazendo uma revolu��o
extraordin�ria na mentalidade

"Terra e Liberdade" passou de 4 mil c�pias,

quando meu pai come�ou

para 20 mil em 1934 e 35.

"A novela ideal", criada pela fam�lia
Ural, pais de Federica Montseny

divulgava as id�ias anarquistas
com uma linguagem simples

"A Novela Ideal" fazia um grande
trabalho com a juventude.

Haviam temas muito interessantes
e religiosos principalmente

porque a religi�o naquela �poca

na Espanha tinha muito dom�nio

ent�o tamb�m se buscavam
temas nesse sentido

para combater a religi�o.

Fundada em Alcoy, em 1923

"Gera��o consciente" inicia seus
leitores em sexualidade e sa�de.

Anos mais tarde, com
o nome de "Estudos"

alcan�ar� os 70 mil
exemplares de tiragem.

Nesta revista haviam muitos artigos

que falavam dessas coisas

e isso foi enchendo-me
de conhecimento.

Quando a peguei

O que disse?

Quando a peguei

O que disse?

N�o se pode casar, porque

Casar � morrer

N�o se pode casar, porque

Casar � morrer.

Inclusive voc� escrevia dizendo
quero saber sobre isso ou aquilo

e explicavam o m�todo,
discutiam pela revista

revista "Estudos"

uma das mais populares
era sobre os nudistas.

Nas principais siderurgias e metalurgias

haviam muitos alco�latras.

Como excess�o haviam uns quantos
que se distinguiam dos demais

que n�o fumavam e n�o bebiam

que liam, comentavam,
discutiam coisas

e come�aram a atrair
a aten��o sobre eles

eram anarquistas, naturistas,
nudistas, entre outros

que tinham sua cultura.

Para n�s o amor livre � simplesmente

quando um casal est� de acordo,

eles querem ir e viver juntos

por afinidade, sem assinar pap�is

sem fazer contratos

bem, e quando h� desacordo

por acordo m�tuo, eles se separam

como amigos, sem brigar.

E isso era algo revolucion�rio

porque a mulher agora
poderia ter um companheiro

sem ir � igreja, sem ter
crian�as nos hospitais

ent�o a mente feminina ficou mais forte

porque agora eram algu�m.

Os anarquistas querem mudar
a sociedade tradicional

com um intenso trabalho
intelectual e cultural

para isso criaram novas organiza��es

que assumiram a tarefa de espalhar
essas id�ias entre os mais jovens.

Nascem as Juventudes Libert�rias,

que mais tarde se unir�o
� Federa��o Ib�rica

e Fidel Miro ser� seu secret�rio geral.

O lema era "Cultura e Propaganda"

quer�amos que as pessoas
se envolvessem

porisso n�o pergunt�vamos os
antecedentes ou as id�ias

"Se voc� deseja, venha conosco"

"O dia que cansar, voc� parte!"

Quando meus amigos me levaram
�s Juventudes Libert�rias

aderi ao grupo "Beije minha vida"

Era um grupo de encontros, e nada mais

Pass�vamos a semana
esperando o s�bado

Est�vamos muito
interessados em aprender

�ramos prolet�rios

par�vamos, e algu�m
lia um livro, uma frase,

ent�o coment�vamos,
descans�vamos,
e �amos andando.

Esse era um trabalho permanente

talvez compreenda agora

como atingiram um n�vel cultural

uma grande consci�ncia
sobre a exist�ncia

essas gera��es que entravam
no mundo do trabalho.

Os encontros, a��es diretas
e a propaganda

ajudaram a recuperar
a influ�ncia da CNT.

Em cidades como Barcelona,

de cada dois oper�rios
um j� estava filiado �

central anarco-sindicalista.

Trabalhei muitas horas

Fazia no m�nimo 10,
�s vezes, 20 horas

quando o patr�o mandava.

Um dia, me apresentei
ao secret�rio da CNT

e de forma at� ing�nua disse
"posso fazer parte da CNT?"

ele disse "Claro! � um trabalhador!"

� uma das coisas que sempre
me marcou muito

ele disse que eu era um homem honrado

que cumpria o meu trabalho

e tinha direito �s 8 horas.

Fui secret�rio da Federa��o
local e regional

n�o estavam com medo

pois acreditavam na mobiliza��o

e sentiam certa confian�a em n�s

porque d�vamos as caras

no mais duro dos campesinos.

Foram formados grupos
anarquistas em todo o campo.

T�nhamos um fervor!

Em casa, na f�brica

no sindicato, na rua, na pra�a

e ent�o fizemos uma assembl�ia

na vila

e foi a Montseny e fui eu

e � claro, falamos muito.

Eu falei antes que a Montseny

e quando terminei

ela disse "voc� � precioso
para os camponeses"

isso ela disse

e todo dia me lembro.

O mais chocante � que
a pra�a estava cheia

enquanto falavam ningu�m aplaudia

um sil�ncio, as pessoas n�o aplaudiam

mas pensavam no que diziam

estavam ouvindo

de vez em quando se ouvia uma voz

"Viva a CNT!"

e em seguida a multid�o ecoava

ou "Viva o comunismo liber�rio!"

isso nos inflamava

viv�amos intensamente
aqueles momentos

sem aplausos

sem a ret�rica comunista

que induz a palmas, palmas, palmas

era mais serenidade,
era mais consci�ncia.

Acordos sindicais, como quando

um trabalhador era demitido

nenhum outro poderia tomar o seu lugar.

Ent�o o chefe

em uma mina

ou no local de trabalho

despedia um trabalhador
por ele ser revolucion�rio

ou porque lutava

ou porque ficou zangado com ele

ele n�o podia demit�-lo

n�o havia ningu�m para rep�-lo.

Significa que...

todos estavam atados

pela solidariedade

que � a coisa mais importante

em nossa organiza��o.

Bem, os vizinhos eram como
uma grande fam�lia

porque naqueles tempos
n�o havia seguro de vida

n�o havia seguro desemprego,
nem seguro doen�a

nem nada.

Quando algu�m se sentia doente

Um vizinho, que tinha alguns
suprimentos, o primeiro que fazia

era colocar sobre a mesa

sem pap�is, sem acordos

"Quando voltar ao trabalho"

"e quando puder"

"nos paga de volta"

e o doente,

quando voltava a trabalhar

devolvia centavo por centavo.

Era uma quest�o de princ�pios,
de moralidade.

Havia de fato uma fam�lia universal

e era real

porque nas casas pobres
�ramos todos uma fam�lia

havia um sistema de turnos

o desempregado cuidava

das crian�as.

Quando era crian�a

N�o gostava

nem dos livros, dos uniformes,

nem sair em prociss�o

Eu era desobediente

Como o vento do crep�sculo

rebelde e travesso.

Para combater o analfabetismo
e a educa��o cat�lica

os anarquistas,
pelos sindicatos,
criam os ateneus

escolas inspiradas na Moderna
de Ferrer y Guardia

aplicando m�todos de pedagogos
como Decroly ou Pestalozzi.

Na medida do poss�vel se
ensinava tudo

de ci�ncias dentro da classe.

Em cada tema havia uma abordagem

que era superior � educa��o tradicional.

Pretendia desenvolver na crian�a

n�o um dep�sito de conhecimento

mas a capacidade de usar
esses conhecimentos.

Se procurava que a crian�a
fosse ela mesmo sempre

e cada crian�a ser� avaliada
de acordo com este crit�rio.

Isso era feito com grande cuidado

porque era o objetivo principal

do anarquismo e seus
m�todos de ensino.

Nas escolas em que eu estudava,
na escola "Natural"

eu nunca li Kropotkin ou Bakunin.

Nada mais que a coisa humana,
por exemplo, Tolstoy,

os poetas, talvez algo
de Blasco Ibanez,

isto �, gente mais
moderada e liberal

n�o era uma educa��o revolucion�ria

era uma educa��o pacifista

antimilitarista

humana

e igualit�ria

nada mais.

A maior parte dos princ�pios
da pedagogia moderna

� que n�o existam
sombras nem ideologias

ao contr�rio, h� a id�ia da igualdade
sobre tudo e na base de tudo.

"A emancipa��o dos trabalhadores deve
ser obra dos pr�prios trabalhadores"

ou n�o haver�.

Significa que a Escola Moderna
se auto-sustentava.

Nunca a escola "Natural"
ou os sindicatos aceitaram

patroc�nios de nenhum
tipo de governo.

Mas as esperan�as na rep�blica frustram
as classes mais desfavorecidas do pa�s.

O governo tem que enfrentar muitos levantes
em Catalu�a, Levante e Andalusia

porque os campesinos em
Andalusia passavam fome

e o feudalismo mantinha terras,

milhares de hectares
sem cultivar

e as pessoas sem trabalho

porisso houve o
levante de Casas Viejas.

Esse levante organizado
pelos anarquistas

era um movimento anarquista

e as pessoas iniciaram uma experi�ncia
de comunismo libert�rio.

Uma fam�lia de Casas Viejas

foi assassinada e sua casa queimada

e eram simples camponeses.

A CNT come�ou um
movimento revolucion�rio

algumas se��es regionais
n�o estavam de acordo

nas Asturias principalmente,
n�o concord�vamos em tudo.

Foi uma divis�o entre dois conceitos

um da revolu��o permanente,
a passos firmes

e nos outros, uma tend�ncia
mais moderada

que era necess�rio educar as pessoas

e esperar a melhor oportunidade

quando poder�amos tentar
fazer a Revolu��o

com uma chance de vit�ria.

Em um ano e meio de rep�blica

a luta entre esquerda e direita

provoca 30 greves gerais

400 mortos e 9 mil presos.

S�o suspensos 157 jornais de esquerda

e quatro de direita.

A reforma agr�ria � atrasada

e assim � a cria��o de escolas p�blicas.

Ap�s uma tentativa de golpe militar

a direita ganha as elei��es.

A direita ganhou porque

90% de n�s n�o participou das elei��es

quer�amos castigar a rep�blica

porque estavam mais com
eles do que conosco

e muitos enviavam dinheiro
para outros pa�ses

n�o queriam trabalhar, fechavam f�bricas.

Os sindicatos estavam em caos

e as pris�es cheias de trabalhadores

de "presos governativos"

um "preso governativo" � um
homem que n�o fez nada

cujo �nico delito � ter um cart�o sindical.

Estive l� por 6 meses, e fui
um dos que mais ficou.

Em Asturias, os trabalhadores
da CNT e da UGT

ocupam minas e f�bricas.

Ram�n Alvarez forma parte
do comit� revolucion�rio.

A id�ia geral era

primeiro deter a ascens�o
do fascismo na Europa

e ent�o, um dos
pontos fundamentais:

a finalidade do movimento
revolucion�rio de Outubro era

implantar uma sociedade
socialista federalista.

Mas a revolu��o de Asturias n�o
foi acompanhada pelas for�as da esquerda
do resto da Espanha

os trabalhadores asturianos
resistiram por duas semanas

ao ataque das tropas do governo

liderado pelo general Franco

a revolta � esmagada

em uma premoni��o da
guerra que se aproxima.

Fevereiro de 1936

a Frente Popular, a esquerda,

derrota a Frente Nacional,
a direita, nas elei��es.

A participa��o dos trabalhadores
da CNT foi decisiva.

Em fevereiro, n�s decidimos votar

eu n�o, mas muita gente votou

porque t�nhamos 15 mil presos

nas pris�es espanholas.

Greves se sucedem, ocupa��es de terra,
enfrentamentos entre a
guarda civil e os campesinos

enquanto a direita prepara
o golpe de estado

as organiza��es mais radicais
chamam a revolu��o.

O Comunismo Libert�rio � meu ideal

porisso em 1936, fizemos
um congresso em Zaragoza

e depois de muita discuss�o,
porque gost�vamos de discutir...

chegamos a um acordo un�nime

basicamente chamado de

Comunismo Libert�rio.

Um comunismo, como dizia antes,

feito de baixo para cima, e
n�o o contr�rio

que se regula mediante
assembl�ias gerais,

com a revoga��o imediata
de qualquer cargo

se a maioria decide

e o fato da base ser soberana,

significa que n�o h� possibilidade
de manobras politiqueiras

tudo � de todos

tudo � distribu�do igualmente

se tudo � de todos,
todos trabalham

todos que podem, � claro

todos estudam

porque agora h� tempo para formar-se.

Espanha se tornou menos
por uma tripla divis�o:

a divis�o engendrada por
separatismos locais,

engendrada entre os partidos pol�ticos

e a divis�o engendrada
pela luta de classes.

Ent�o os Falangistas come�aram
a ganhar bastante for�a

e eles atacaram nossos companheiros.

O aumento da viol�ncia

nos levou a planejar

uma luta mais direta

inclusive nos armamos.

O mundo estava dividido

os da direita n�o se misturavam
com os da esquerda.

A maioria dos trabalhadores
tinha clareza

sobre o inimigo:

a igreja e o capitalismo.

Esses eram os inimigos

porque a igreja tinha gente
como o Cardeal Segura

era inevit�vel

eles j� estavam no
estrangeiro treinando

e j� tinham acordos com
Mussolini e Hitler.

Ent�o todos sabiam e todos
estavam preparados

os partidos e o governo sabiam

mas havia ministros que
estavam dormindo

enquanto eles tomavam as ruas.

Enquanto o governo central
de Casares Quiroga

negava o golpe militar que vinha

deu a ordem a todos os
governadores locais:

as armas n�o deveriam
ser dadas ao povo

eles temiam a revolu��o
mais do que os militares.

N�o se deve esquecer que
nos primeiros dias de Julho

o governador disse para a pol�cia
desarmar a CNT e os anarquistas.

Em Barcelona, est�vamos todos os
militantes e pessoas de esquerda

fazendo guarda toda
a noite por 4 dias.

Ent�o no dia anterior � revolu��o

disseram que j� n�o havia armas
esquecidas nos sot�os

e foi dito "Ei, agora � tudo ou nada;

quem n�o estiver interessado
que fique em casa

porque ser� hoje."

Est�vamos na pra�a do governo

e estava cheio de gente pedindo armas

e o governo sa�a e pedia
para esperarmos.

Estou farto

Com o que o mundo me deve

tudo sempre para depois

como n�o sou do muro

N�o vou me amedrontar

Oh, a lei n�o � justa!

19 de Julho de 1936

Trabalhadores de Barcelona alertam
as pessoas sobre o levante militar.

Quando as sirenes pararam

havia uma multid�o,
centenas de pessoas

vindo da avenida Eulalia para
os quart�is de San Andr�s

e ent�o Sandino bombardeou

os port�es se abriram

e toda aquela gente correu
para pegar as armas.

Sa�mos logo e quando

chegamos � rua

vimos um carro escrito "CNT-FAI"

n�s o paramos, eu disse

"O que acontece?
Vamos � pra�a Catalu�a

onde est�o todos?"

Mais atr�s na pra�a de Toros

j� vimos uma companhia de tiro

com rifles em posi��o

e os oficiais com a pistola na m�o.

Ent�o fomos para as ruas atirando neles

para causar um pouco
de desordem entre as tropas.

Eu n�o tinha certeza do que acontecia

mas era uma grande emo��o

ver todas as pessoas armadas

aqueles carros escritos "CNT-FAI"

todos os carros com as
bandeiras ao vento

todo aquele movimento,
com essa capacidade de luta

e tamb�m uma coisa
que me chocou muito,

ver soldados, os guardas de assalto

expostos.

Fomos capazes de reunir

40 mil fuzis, 200 canh�es, 200 cavalos

porque est�vamos al�

porque n�o haviam outros

porque os homens armados
que voc� v� nessa fotografia

estavam lutando conosco,
e n�o em sua unidade.

Como se pode juntar tanta gente

parece mentira que saiam de suas casas

centenas, centenas de pessoas!

Os militares se assustaram
e se renderam.

Quer dizer, apesar do governo e de tudo,

o povo de Barcelona, guiado pela CNT,

derrotou o ex�rcito.

Barcelona virou a mesa

e Barcelona empurrou Madrid

para que tomasse os
quart�is da montanha.

Foi uma demonstra��o p�blica

do todo o povo de Madri

que saiu para se defender

contra o que lhe atacava.

A Espanha estava dividida em dois

em uma guerra civil de classes
que durar� tr�s anos

em que os rebeldes avan�am

republicanos, simpatizantes de
esquerda e militantes s�o mortos.

Na Espanha leal � rep�blica

as repres�lias vem r�pido

a todos suspeitos de
apoiar os rebeldes.

Os frades de certas igrejas e conventos
estavam misturados.

Os cl�rigos e os militares

atiravam n�o contra os advers�rios

que carregavam fuzis

mas contra todos que
estivessem na rua.

Ent�o a resposta do povo
era queimar os lugares

de onde atiravam nas
pessoas desarmadas.

E nessa batalha perdemos muitas

pessoas importantes.

No ataque de Atarazanas

perdemos Francisco Ascaso

porque ele era o principal lutador

contra um atirador
em uma janela.

Isso era muito frequente

especialmente porque esses homens

nas barricadas

ao mesmo tempo que escreviam,
como meu pai

eram os primeiros nas barricadas.

A nula capacidade de rea��o do governo
da rep�blica ao golpe militar

e o desmoronamento
das estruturas do estado

fazem com que em muitos
lugares os pr�prios cidad�os

organizem a tarefa de construir
uma nova sociedade.

Na pris�o modelo em Barcelona

todos foram liberados de uma vez.

Foi o primeiro momento
glorioso da revolu��o

soltaram todos os presos e presas.

J� se rompe com toda
a estrutura do estado

para n�s j� n�o havia governo,
n�o havia nada

j� era uma coisa de sindicato,

n�o aceit�vamos ordens

nem coment�rios,
nem conselhos de ningu�m

apenas do sindicato.

Decidimos formar um comit�

para recrutar pessoas
para o front de Aragon

e tamb�m para evitar
vingan�as pessoais.

Em 19 de Julho autom�ticamente
muda a sociedade

porque a maior parte dos
capitalistas havia partido

ou abandonado seus neg�cios

ent�o os oper�rios deveriam
assumir a tarefa

de gerenciar os trabalhos.

Ent�o me lembro, pela noite

CNT e UGT tiveram uma assembl�ia
na "Casa do Povo"

que era um cassino para os ricos

mas como haviam desaparecido

nos reun�amos al�

os comit�s de f�brica,
conselhos de empresa

de cada trabalho

para que continuassem

decidimos que contratar�amos
todos os desempregados

uns poucos em cada f�brica

e assim fizemos

assim j� n�o haviam
desempregados.

Se na primeira vez haviam 500
oper�rios pedindo emprego

agora eram apenas 5

e quando esses 5 desapareceram

havia trabalho para todos.

A colheita tinha que ser feita

precis�vamos trabalhar.

O povo certo dia foi dormir pobre

e acordou rico

comeram o p�o que queriam

quando antes tinham que passar fome.

Espontaneamente o povo p�e em pr�tica

as id�ias libert�rias,
aquecidas durante um s�culo

superando as espectativas
das pr�prias organiza��es.

Barcelona se torna a ponta
de lan�a da revolu��o.

No primeiro dia

entramos em contato com
o sindicato dos transportes

e come�aram a ensinar companheiras
a conduzir carros el�tricos

ent�o as mulheres estavam
dirigindo carros el�tricos.

Houve companheiros que deixaram
de se juntar ao front

enquanto eu queria recolher
livros com um caminh�o

para criar uma biblioteca

quer�amos criar essa biblioteca
na vizinhan�a

e quer�amos colocar uma
placa na entrada dizendo

"Biblioteca Popular
Estuda e supera-te!
entrada livre"

Em Catalu�a os anarquistas
s�o agora a for�a majorit�ria

e o poder do governo
passa �s m�os do comit�
das Mil�cias Antifascistas

um novo organismo
nascido da revolu��o.

Os ministros abandonaram
suas posi��es

o governo ficou com um s� homem,
o governador Companys e a pol�cia

e as ruas eram nossas.

Companys pede que a CNT envie uma
comiss�o para uma entrevista

E diz a eles "Voc�s
liquidaram esse governo.

Desde hoje eu n�o sirvo para nada.

Eu n�o sou o presidente.

Se para algo valho

estarei ao seu servi�o."

Palavras de Companys.

Garcia Oliver
prop�s ir at� o fim.

E se opuseram a isso.

Somente ele e Xena votaram
entre os Hospitalet.

Santill�n e
Federica Montseny discordaram.

Montseny disse: "Indo at� o fim,

estabeleceremos nossa ditadura

e essa � a nega��o do anarquismo."

Santill�n disse

"Se formos at� o fim
e estabelecermos o anarquismo,

ficaremos isolados na Espanha e
no resto do mundo.

Ningu�m nos dar� ajuda,
armas ou qualquer coisa."

Porisso a CNT n�o foi at� o fim

e n�o quis todo o poder.

Ent�o n�s colaboramos

com todas as outras for�as no pa�s

em uma organiza��o chamada

o comit� de Mil�cias Antifascistas.

E a Generalitat
deixou de governar,

e todo poder recaiu neste comit�.

Come�amos a organizar as colunas.

E aquela passeata
que voc� v� na foto

estavam indo direto ao front

para o que lhes pedissem

e a maioria deles
queria ir com Durruti.

Diante do avan�o dos rebeldes

e o desmanche do ex�rcito

os partidos e sindicatos
organizaram mil�cias volunt�rias

para defender o pa�s.

A coluna das Jovens �guias

surgiu com o prop�sito

de que todos os membros

fossem do movimento libert�rio.

A coluna de Ferro estava organizada

em grupos de 10

e 10 grupos eram uma cent�ria.

O l�der do grupo era

nomeado pelos membros.

Ent�o os 10 grupos

que compunham a cent�ria

elegeram o delegado da cent�ria.

Por amizade

confian�a, ou ainda a
personalidade da pessoa

era escolhido o comandante.

Sempre havia um comandante,
mas um comandante em condi��es.

N�o havia pol�mica ou argumentos.

O que se ordenava
se cumpria.

Deixei Alcolea e dal�

caminhei at� Madrid.

E em Madri foram todos,
homens e mulheres

a quart�is.

Eles prepararam o Batalh�o Ascaso

e eu entrei.

Posso dizer que �

medida que �amos atuando

com a coluna Durruti

d�vamos as m�os a campesinos

e todas as pessoas que estavam
transformando a sociedade

em auto-gest�o

e uma s�rie de atividades coletivas

que era o que n�s
pretend�amos toda a vida.

N�o era somente atirar.

� medida que avan��vamos

eles tinham campo livre

para dar forma

e �tica

ao que seria

nossa futura sociedade.

As mudan�as s�o r�pidas em Castile

Estremadura, Andalusia, Asturias

e principalmente Levante, Catalu�a e Aragon.

Sempre fui intrometido,
se algo acontecia

eu me envolvia.

Entrei na Pra�a "de la Constitucion"

e todos de Calanda estavam l�.

O Comit� revolucion�rio disse da sacada

"A partir de agora, aqui se proclama
o comunismo libert�rio."

E toda a multid�o na pra�a

aplaudiu.

O que � o comunismo libert�rio?

O dinheiro � abolido.

Expropria-se todos os
propriet�rios de terra

esquerdista ou de direita.

Todo o maquin�rio fica
� disposi��o do povo.

Todas as constru��es s�o
usadas para alojar o povo

n�o importa quem era o dono.

O trabalho � feito coletivamente.

e os trabalhadores distribu�dos em grupos.

Voc� n�o precisa ser um g�nio
para organizar aquilo.

Os trabalhadores primeiro

criaram um comit� do sindicato

que foi o mais importante

depois o comit� de defesa,

o comit� de agricultura,

da alimenta��o, dos barbeiros.

E os trabalhadores
escolhiam os delegados

que consideravam mais
qualificados para o trabalho

de organizar a
distribui��o do trabalho

e tudo mais.

O desprezo tradicional
dos anarquistas pelo dinheiro

muda radicalmente as rela��es econ�micas.

Criam-se moedas locais, vales

em muitos lugares o dinheiro
� completamente abolido.

O dinheiro desapareceu.

Criaram uma loja chamada "Kropotkin�s"

Poderia pegar comida com vales

ou pela cartilha de racionamento.

Ao trocar algo na loja

� preciso ter naturalmente

a capacidade particular de pensar.

Por que levar quatro quilos de carne hoje

se um quilo � suficiente

e amanh� voc� pode pegar mais?

Ou um terno, um par de sapatos.

Luz, �gua, escola, tudo era gratuito.

Voc� n�o tinha que pagar nada.

N�o havia ego�smo.

O ego�smo n�o existia.

Como poderia existir?

Se n�o h� dinheiro
n�o pode haver ego�smo.

Hoje as pessoas n�o entendem

mas todos se adaptaram muito bem.

A coletividade foi formada

sabe, quando foi criada a coletividade

a imensa maioria do povo aceitou muito bem

e isso que n�o eram sindicalistas nem anarquistas.

Quem quisesse poderia
continuar a ser individualista

mas eram muito poucos.

Como meus pais, a 30 metros daqui

eram individualistas.

Tinham que colaborar

Para ter direito ao que
as cartilhas lhes davam

tinham que colaborar com a produ��o.

Aquele ano, meus pais levaram
quatro porcos para o abate.

Um camarada veio.

E incomodou um pouco
minha m�e com o que disse.

Eu sabia que ele viria.

Ele decidiu que a fam�lia
teria o bastante com um porco

e requisitou os outros tr�s

com os quais se pagava

o resto das necessidades durante o ano.

Trabalh�vamos felizes.
E haviam menos gastos

com coletivistas do que
com individualistas.

Porque vamos supor

haviam 100 indiv�duos
trabalhando coletivamente.

Os 100 individualistas
precisam de 100 tratores

e os outros precisam de apenas 10.

Destitu�das as antigas autoridades locais

s�o agora os trabalhadores
organizados na CNT

e em menor n�mero na UGT que
controlam a administra��o.

Reestabelecendo, pouco a pouco,
toda a vida p�blica.

O Comit� Revolucion�rio

me nomeou delegado dos mantimentos.

Acho que isso se compreende.

�ramos respons�veis por toda
mercadoria que t�nhamos.

Se havia uma cidade que n�o produzia trigo

�amos at� Levante
e troc�vamos por a��car.

Tinhamos a f�brica de a��car,
fomos ap�s a colheita

e voltamos com chocolates
e coisas, fizemos trocas.

E com o carv�o

traz�amos de fora produtos
como cal�ados

e roupas e assim por diante para a cidade.

Se nomeava em cada povoado

uma delega��o representativa

e em Benicarlo

fizeram a federa��o de Coletividades.

Em Levante, UGT e CNT trabalham juntas

depois da espont�nea expropria��o

de terras e f�bricas.

Sob a organiza��o da central anarco-sindicalista

Alcoy se transforma em um modelo de auto-gest�o

com todas as ind�strias coletivizadas.

O Conselho Levantino Unificado
da exporta��o agr�cola

foi encarregado de coordenar diretamente

as vendas ao exterior.

Logo essa nova organiza��o

enfrentar� a resist�ncia
do governo central

que come�a a apoiar
as cooperativas comunistas.

J� t�nhamos contatos em Paris e Bruxelas.

Na Holanda tamb�m.

E tudo funcionou perfeitamente.

E cada vez melhor.

Em Asturias, CNT e FAI

participam do Conselho das Asturias e Leon.

Ram�n Alvarez � conselheiro de Pesca.

Os trabalhadores eram os
administradores das ind�strias.

E n�s seguimos

a fazer coletividades

tanto de forma p�blica

quanto secreta.

Caspe foi a sede do Conselho Aragon

o primeiro organismo de governo
da revolu��o anarquista espanhola

8 conselheiros coordenam os trabalhos

dos coletivos locais.

Essa regi�o foi o centro principal

das coletividades

com seu conselho em Caspe e tudo mais.

Haviam coletividades em
Levante, em Andalusia

em Castile e em todo lugar.

Mas n�o eram t�o homog�neos
quanto em Aragon.

A revolu��o social que vive a Espanha rural

consegue o apoio majorit�rio dos camponeses

s�o 3 milh�es de espanh�is vivendo

sob os princ�pios do comunismo libert�rio.

Havia um grande quadro negro
no escrit�rio do sindicato

e qualquer trabalhador que tinha uma queixa

deveria escrev�-la no quadro

e deveria ser discutida na assembl�ia.

Se uma pessoa sugeria algo

era para descobrir

o que os outros pensavam

e se eles aceitassem aquela proposta

se o povo concordasse, �timo, se n�o

tinham que fazer outra coisa,
mas sempre por consenso.

N�s n�o nos govern�vamos

pelo que o Comite Regional dizia.

Porque cada povo tinha sua cultura

e portanto, seus costumes.

Os costumes que t�nhamos aqui em Valencia

n�o eram os mesmos em Andalusia.

Eram diferentes.

A ocupa��o de terras e uma divis�o
mais racional do trabalho

aumentou a produ��o.

A ger�ncia coletiva dos benef�cios

permite a constru��o de
hospitais, escolas, fazendas

e centros de experimenta��o agr�cola.

Al�m do grupo escolar de Francisco Ferrer

composto por 18 professores

criaram uma �rea para experi�ncias agr�colas

no que era o jardim dos monges.

Eles plantaram vinhedos e oliveiras.

E do que era improdutivo se fazia carv�o.

Foi uma transforma��o

e a coletividade prosperou.

Foi imediatamente decidido pegar 2 tratores.

Em Calanda, 2 tratores
trabalhando faziam muito.

Eles n�o s� produziram o suprimento

para os 350 homens no front

eles tamb�m garantiram,
e isso � totalmente verdade

que nenhuma terra

que era cultivada por eles

foi deixada vazia. Foi toda cultivada.

Dizem que o sil�ncio consente

e apesar da ignor�ncia ser surda,

pude levantar minha voz

mais que o gritar

dos cachorros mimados

e da voz do pastor.

A revolu��o n�o passa
despercebida ao visitante

George Orwell, que lutou na coluna do POUM

descreveu sua primeira impress�o de Barcelona

"Era a primeira vez que eu estava
numa cidade gerida pelos trabalhadores.

Os anarquistas tinham o
controle virtual da Catalu�a

e a revolu��o estava a todo vapor.

Atitudes servis haviam desaparecido.

Ningu�m dizia 'senhor',
ou 'dona', ou at� 'voc�'

todos se chamavam de
'companheiro' ou 'tu'

e diziam 'sa�de' ao inv�s de 'bom dia'."

Barcelona foi o centro da revolu��o urbana

CNT e FAI lideraram o comit�
de Mil�cias Antifascistas

a Catalu�a sofreu uma
radical transforma��o

que afetou todos os aspectos
da vida pol�tica,

social e econ�mica.

80% das companhias foram coletivizadas

todos os servi�os eram
gerenciados por trabalhadores.

Essas mudan�as foram
legalizadas pela Generalitat

em Outubro de 1936

N�o havia problema

em decidir quem seria o respons�vel

e quem n�o, ou algo assim

porque as pessoas tinham recebido
treinamento sindical na CNT

e foram estabelecidos certos valores,

pessoas que demonstravam
responsabilidade

e grande capacidade.

Eu fui nomeado para o coletivo do metr�

Estava l�

na coletividade

em uma reuni�o geral dos transportes

fui nomeado secret�rio, e assim come�ou.

Eu era um pedreiro, n�o sabia
nada sobre transporte,

mas logo aprendi tudo

as circunst�ncias nos obrigavam.

Eles formaram uma comiss�o chamada

Administra��o e Controle da
Propriedade Urbana.

Tinha tr�s membros da Generalitat,

tr�s da CNT e tr�s da UGT.

Eu era um membro da CNT.

Propriedade n�o era abolida,

mas era confiscada.

Os donos n�o tinham o direito
de administrar suas propriedades

mas tinham direito de participar

da parte administrativa dessa comiss�o.

Os anarquistas poderiam ser os donos

de Barcelona e Catalu�a,

mas eles n�o quiseram.

Havia colabora��o entre todos

e como n�s eramos fortes

em termos de educa��o

eles procuraram um de n�s

professor Puig Elias.

Ele comprometeu-se a elaborar

com o aux�lio de outros,

a Constitui��o para a CENU

O objetivo do conselho
por uma Escola Nova Unificada

era promover uma �nica, livre

e laica escola em l�ngua catal�.

Criam-se tamb�m centros de assist�ncia

at� ent�o inexistentes,
que atendiam gratuitamente

a sa�de, o desemprego
tempor�rio e a invalidez.

O desemprego foi combatido com
o aumento dos postos de trabalho

ou contratando novos trabalhadores

e dividindo o trabalho entre todos.

As pequenas empresas se agrupam,
fundem-se companhias el�tricas.

A estrutura era complicada mas
todos se envolviam.

Nos sent�amos protagonistas

com uma importante responsabilidade

foi com satisfa��o que a assumimos.

O que era discutido nas assembl�ias

n�o era 'voc�' e 'eu'

era sobre como melhorar a produ��o

como organizar melhor o trabalho

como livrar-se de

intermedi�rios entre
uma a��o e outra

porque uma f�brica � complexa.

Voc� � consciente que
est� trabalhando para voc�

sem um chefe, voc� est�
mais interessado em colaborar.

Elizalde, Ford, General Motors,
Cros, Pirelli ou Can Girona.

de forma incr�vel, e em poucas semanas,

mudaram de empresas civis

a f�bricas de armas

isso permitiu a sobreviv�ncia do
ex�rcito Republicano.

Cada militante se anunciava

como um Don Quixote
defensor de sua Utopia,

essa forma de operar,

de conduzir eticamente a sociedade

sem precisar de for�a policial.

Acredito que a auto-gest�o

continua a ser a grande
quest�o n�o resolvida

ainda hoje

porque se demonstrou

que h� o mais estudado e o menos,

h� o tolo e o esperto,

mas todos t�m algo,

todo ser humano tem
algo para contribuir.

Quase todos dizem que � uma utopia.

N�o, � a �nica coisa que
pode salvar o mundo.

O anarquismo � a melhor coisa

Todos trabalham e n�o
existem mestres ou chefes

Todos fazem aquilo que t�m em mente

porque todos t�m algo aqui.

A realidade da guerra
for�ou os anarquistas

a colaborarar com o governo.

Quando o comit� de Mil�cias
Antifascistas deixou de existir

o per�odo revolucion�rio durou 2 meses

de Julho a Setembro.

Um novo gabinete, novos conselhos,

e a Generalitat voltou ao poder

com seus conselheiros.

Haviam tamb�m ministros anarquistas

no Governo Republicano.

Entre eles Juan Garcia Oliver

e Federica Montseny, que se tornou,
apesar de sua ideologia,

a primeira ministra na Europa.

Ela era contra isso,

estava em contradi��o consigo.

Foi dif�cil para ela

depois, quando ouvi alguns
companheiros criticando-a

senti-me desesperada.

Em Catalu�a, as Juventudes Libert�rias
foram as primeiras a se rebelar

contra a colabora��o da CNT

em certo ponto

eles criaram uma burocracia
que n�o era muito boa.

Com a maioria dos homens no front

mulheres assumiam os trabalhos.

Elas tiveram a chance de
ter sua pr�pria revolu��o.

Quando os homens foram ao front

as mulheres tiveram a chance de tomar conta

dos trabalhos que eles deixaram na produ��o.

Acho que isso as despertou

sentiram-se mais livres.

Das mulheres que conhecia

uma estava na f�brica de sapatos

ela era respons�vel por tudo.

Outra estava na f�brica de a��car

eram postos

ocupados por homens antes.

N�o demos �s mulheres a
importancia que mereciam

Nas assembl�ias da CNT
voc� dificilmente via 3 mulheres.

Elas estavam em casa.

Achei que elas tinham todos
os direitos, quer�amos

preparar as mulheres para
conhecerem seus direitos
no que diz respeito

a seus filhos, sua casa,
seus maridos e suas vidas.

Mulheres Livres nasceu
fora das associa��es locais

e se tornou um dos mais importantes

grupos feministas.

Suceso Portales em Guadalajara e
Concha Lia�o em Barcelona

foram duas das principais incentivadoras.

�ramos diferentes dos movimentos

feministas burgueses

porque elas, com sua educa��o,

lutavam por equiparar-se

em competitividade aos homens

em seu trabalho.

Mas n�s nos dirig�amos
� mulher prolet�ria

� trabalhadora

que n�o tinha educa��o

para tir�-la daquela servid�o,
da submiss�o,

no trabalho, em casa,

e se considerar uma pessoa adulta.

Era isso que enfatiz�vamos.

Em criar escolas onde a
mulher poderia ser treinada

n�o apenas em ler e escrever.

J� n�o sei dizer quantas centenas

de mulheres analfabetas

ensinamos a ler e escrever.

Quando cri�vamos uma associa��o

a primeira coisa a fazer era uma escola.

Demos aulas de educa��o
sexual �s mulheres.

T�nhamos classes especiais e eram
mulheres que ensinavam

e iam aos hospitais ter aulas pr�ticas.

Fizemos uma s�rie de folhetos sobre isso

e a rela��o homem-mulher

que enviamos ao front

fizemos centenas de folhetos

pequenos folhetos.

Os anarquistas promoveram mudan�as
sociais �nicas na Europa.

Garcia Oliver, Ministro da Justi�a,
foi o primeiro

a promulgar uma lei igualando
em direito homens e mulheres.

Federica Montseny, Ministra da Sa�de,

apresentou uma lei sobre o aborto

aprovada apenas na Catalu�a.

A lei foi aprovada primeiro na Catalu�a

e foi posta imediatamente em pr�tica.

Eles faziam abortos no hospital.

Parecia uma boa id�ia

acabar com a gravidez indesejada.

Parecia l�gico para n�s

mas houve uma rejei��o
generalizada pelos m�dicos.

Maternidade consciente s� pode existir

pelo conhecimento que prepara.

Se essas mulheres nunca
tinham lido ou aprendido nada

n�o se poderia exigir
maternidade consciente delas.

Nem dos homens.

Alemanh� e It�lia ajudaram os rebeldes

e a pol�tica de n�o-interven��o
das democracias ocidentais

provocou a derrota dos republicanos.

As for�as de Franco
estavam perto de Madrid

e os habitantes precisavam
aumentar sua moral

depois de ver o pr�prio
Governo da Rep�blica
fugir para Valencia.

O personagem mais
carism�tico era Durruti.

A figura de Durruti
naquele momento

representava a maior
torre da liberdade.

Ele era uma inje��o de
otimismo e esperan�a.

Em um territ�rio
desconhecido e mal apoiado

a coluna de Durruti
sofreu grandes perdas.

Mas sua a��o foi decisiva
para a defesa de Madrid.

No dia 20 de novembro

eles nos retiraram do front

e disseram que Durruti estava morto.

Eu sempre fui essa ovelha negra

capaz de iludir

as pedras que atiravam em mim.

E quanto mais os anos passavam

mais eu me afastava do rebanho

sem saber para onde ia.

Nunca houve na hist�ria um enterro
como o de Durruti em Barcelona

contaram um milh�o
e meio de pessoas

foi indescrit�vel.

A rep�blica reorganizou o ex�rcito.

O objetivo era vender a guerra e
esquecer a revolu��o.

Mas os anarquistas
mantinham sua id�ia

de derrotar o fascismo e
criar uma nova sociedade.

Eles disseram que iam
militarizar as colunas.

Mas n�o �ramos militares

�ramos

milicianos.

Queriam militarizar e n�s dissemos n�o.

Detestamos a disciplina militar.

Entramos na guerra para
combater o fascismo

n�o para nos tornarmos soldados.

Toda essa gera��o que lutou

era contr�ria � guerra
e ao militarismo.

�ramos essencialmente pacifistas.

Quanto � efic�cia das coisas,
eu n�o vi diferen�a

100 homens que se nomeavam como
uma cent�ria eram t�o eficientes

quanto 100 homens que se chamavam companhia.

Acredito que o primeiro erro foi

colocarmo-nos no lugar dos inimigos

e lutar como um ex�rcito,
e n�o como guerrilhas

que � nossa honra hist�rica.

A guerrilha foi usada em toda
parte por causa da Espanha.

Chegamos � conclus�o que

n�o era mais uma revolu��o

mas o prolongamento da guerra.

E para pegar armas,

e poder viver

t�nhamos que aceitar a militariza��o.

Em Catalu�a os partidos tradicionais

estavam recuperando o poder
perdido em 19 de julho

para as pessoas e as
organiza��es revolucion�rias.

Em Maio de 1937 os partidos nacionalistas

e o novo PSUC, os comunistas

provocaram eventos que
geraram uma guerra civil

dentro da pr�pria guerra.

Muitos anarquistas foram eliminados

POUM foi banido

e Andreu Nin, seu secret�rio geral,
assassinado.

No in�cio, toda Catalu�a
tinha uma atmosfera libert�ria.

Foi depois,

com os contratempos e as
dificuldades que ocorreram,

que as for�as que n�o
eram simpatizantes

come�aram a reagir

e os eventos de Maio aconteceram.

Artemio Aiguarder,
conselheiro da Generalitat,

ordenou que a for�a policial

tomasse o controle da central telef�nica

que tinha sido apreendida pela CNT.

Claro que eles resistiram e a� come�ou.

N�s control�vamos os sub�rbios,
mas no centro

haviam ruas que eram deles
e ruas que eram nossas.

Ent�o houveram muitas mortes.

Os comunistas a sangue frio

propuseram eliminar nossos l�deres

para nos deixar sem rumo

e quase tiveram sucesso.
Foi horr�vel.

Mataram nossos
camaradas pelas costas.

Em San Andres, eles mataram

mais de 50 companheiros
das Juventudes Libert�rias.

Ent�o, para acabar com isso

nossos companheiros
que eram ministros

Garcia Oliver e Federica Montseny

foram de Valencia para Barcelona

pedir um cessar-fogo.

Eles os escutaram e a coisa parou.

Houve at� uma se��o
de nossas colunas

que se ofereceu para vir aqui

e acabar com os comunistas.

Dissemos n�o,
muito sangue foi derramado.

Foi um erro.
Metade da guerra foi perdida

nos acontecimentos de Maio.

As coisas mudaram radicalmente.
Largo Caballero

se demitiu com a esquerda socialista

e a CNT foi separada do Governo.

Depois de Maio, voc� nota em todos

o sentimento de que perdemos muita for�a,

e o partido comunista ganhou,

e todas as boas armas vindas da R�ssia

se destinavam �s for�as
comandadas por eles.

Secretamente

come�aram a entrar nos
intestinos do ex�rcito

do comissariado

nos servi�os de informa��o.

Ocuparam praticamente todos os postos.

Est�vamos convencidos

que a id�ia era cumprir
as ordens de Stalin

de eliminar os anarquistas em particular

tomar o comando da situa��o

e colocar um fim na guerra
quando Stalin decidisse.

Essa era a id�ia.

N�o lhes interessava
ideologicamente

que esses mecanismos
revolucion�rios continuassem

porque se venc�ssemos a guerra

poder�amos dizer ao pa�s

como ganhar a guerra

esse � o trabalho
que o anarquismo fez.

Isso � o que a CNT fez

e esse � o caminho do futuro.

Foi a primeira revolu��o
anarquista no mundo.

Nenhuma revolu��o

que n�o foi comandada pelos
partidos comunistas

tinha qualquer significado
para os comunistas.

e eles n�o podiam permitir.

Voc� sabe o que aconteceu
com os coletivos.

Lister veio

com seu ex�rcito

para acabar com eles

e elimin�-los

com o poder dos fuzis.

Esse foi o grande paradoxo.
Os comunistas

colocaram fim no mais comunista
dos comunismos.

E ele chegou e fez o que
combinava com ele

coordenou o massacre.

Lister o fez porque como na R�ssia

os bolcheviques, os ditadores,

n�o podiam permitir a exist�ncia

de uma experi�ncia libert�ria

como estava acontecendo em Aragon.

Eles prenderam o conselheiro de Aragon.

Na retaguarda estavam
prendendo pessoas

encarregados de coletivos em
Calanda e em toda parte.

Apesar das tentativas do governo
e dos comunistas

de destruir os coletivos

a maioria foi reconstru�da
e voltou ao trabalho.

Em Calanda o jovem
Miguel Celma de 16 anos

foi posto como lider do coletivo.

A mudan�a formal

nos procedimentos operacionais e objetivos

n�o existiu. N�o havia mudan�a.

Eram os mesmos

e continuou at� 15 de Mar�o de 1938

Durante toda a guerra n�o diminuiu

a capacidade produtiva em Catalu�a

nem a capacidade de coletiviza��o.

Tampouco a press�o de certos
elementos conservadores

da Generalitat

nem dos comunistas

poderia apagar a
autonomia econ�mica

que a CNT tinha na Catalu�a.

Guerra, falta de mat�rias primas,
destrui��o das instala��es

um boicote do capitalismo internacional

uma agress�o do Governo Republicano.

A revolu��o que acontecia na
Espanha desde 1936

p�s em pr�tica as id�ias anarquistas

sofreu muitos golpes

ainda assim a produ��o cresceu,
as condi��es de trabalho melhoraram

havia uma grande igualdade social

e a economia funcionava
mais racionalmente.

Os coletivos tinham primeiramente,

como uma situa��o an�mala

uma guerra com uma economia zero

porque tudo dependia de Catalu�a

que daria dinheiro se precis�ssemos.

Era chato pedir, principalmente
aos aragoneses.

Muitos incovenientes, para n�o
falar da pol�tica de Madrid.

Nunca houve um jornal di�rio

al�m do da CNT

que falou bem da revolu��o espanhola

da revolu��o CeNeTista ou das coletividades.

Anarquismo sempre teve
uma imprensa p�ssima.

Voc� n�o pode fazer
muita coisa em 3 anos

especialmente durante a guerra civil.

Voc� tenta apenas passar.

N�o t�nhamos materiais
de couro nem nada.

Havia muita inseguran�a

por causa do bombardeio,
as pessoas sofriam.

N�o sou daqueles que dizem

que nunca tivemos disputas

mas a id�ia geral do
comunismo libert�rio

dos coletivos,
paz e justi�a de Membrilla,

� para mim

e eu provarei para todos

a �nica solu��o que
resta para a Humanidade

para viver bem.

Porque n�o existe outro caminho.

Eles provaram que n�o
precisam de pol�cia

n�o precisam dos ricos

nem dos padres

para viver bem.

Eram os �nicos que obstru�am

a marcha da riqueza

porque a �nica riqueza
que existe � o trabalho.

O terr�vel e lament�vel � que
mesmo com defeitos

que existiam, n�o continuou.

Fora isso

quando os donos das
f�bricas voltaram,

eles encontraram muito melhor
do que quando partiram.

imagine

al�m disso, a produ��o foi dobrada.

Em Can Girona

quando a guerra acabou

e contaram o estoque

os donos tiveram uma grande surpresa.

Capitalizou muito mais do
que antes da guerra

porque m�quinas haviam sido
importadas, ferramentas,

fornos el�tricos para
criar vigas especiais.

Mas quando as tropas
franquistas vieram

algu�m deu a ordem

para demolir essas novas constru��es.

Nenhuma delas existe hoje.
Foram destru�das,

porque era prest�gio para
a zona republicana

e para aqueles que tinham
gerido e trabalhado

na f�brica Can Girona.

�ramos todos muito conscientes
de que as for�as democr�ticas

n�o queriam que venc�ssemos.

Entretanto o amor pode
superar qualquer coisa

e n�s dissemos: "Est� bem, vamos
continuar at� quando pudermos."

Mas quando o fim veio

e sab�amos que havia chegado

foi muito dif�cil aceitar.

Muito, muito dif�cil.
Extremamente doloroso.

Porque n�o foi apenas a
perda de nossa p�tria.

Perdemos nossos ideais e
sab�amos que era para sempre.

A luta foi perdida, o recuo come�ou.

Eles recuaram para Seu d'Urgell

e foi quando ouvimos

que Barcelona foi perdida.

Eu estava l� com alguns camaradas,

e meu pai ligou para Barcelona

da sede da CNT-FAI

uma voz respondeu

"Vida longa � Espanha!
Vida longa a Franco!"

Foi uma das poucas vezes
que vi meu pai chorar.

Ele desligou o telefone e haviam
l�grimas em seus olhos.

Foi um momento muito emocionante

para todos n�s que est�vamos l�.

Trouxeram os feridos em
belas ambul�ncias

e os vermelhos com amor
cuidavam de seus irm�os.

E no alto da coluna
come�aram a descarregar.

Oh, que punhalada de dor!
Oh, esta ferida mortal!

Outro, tremendo de frio disse
ao seu companheiro,

"Oh, irm�o, estou morrendo.

A neve � muito fria."

Eles nos disseram que a guerra acabou,

e qualquer um que n�o concordasse

com o regime de Franco poderia partir

pois os portos de Valencia e Alicante

estariam abertos enquanto
houvesse uma pessoa

que quisesse partir.

Ningu�m deixou o porto de Alicante.

Nenhum vermelho de esquerda,
ningu�m da zona republicana.

Ningu�m. Eles prenderam todos n�s.

Nos levaram para Albatera.

A pris�o de Albatera foi cruel.

A menos que j� estivesse em um lugar
como esse, voc� n�o pode acreditar

nas atrocidades que sofremos l�.

A fome, os maus tratos,

as surras que levamos.

S� quem esteve l� poderia saber.

�s vezes me pergunto
se toda aquela dor

todo o sacrif�cio, todo o sofrimento

valeu a pena.

Mas ent�o eu penso, realmente

n�s demos uma li��o ao mundo.

Independente do resto, pudemos mostrar

que � poss�vel viver sem governo

porque n�o havia governo

e ainda assim os
coletivos trabalhavam,
todos trabalhavam

tudo funcionava

por acordo m�tuo.

Os tr�s meses que passei no coletivo

foram os mais felizes

em minha vida

porque eu n�o tive que
me preocupar com nada.

Foram os anos mais intensos
da minha vida.

Conheci a fraternidade

aus�ncia de ego�smo

esp�rito de sacrif�cio
e solidariedade.

Isto �,

Senti-me abra�ado

por todos os que lutavam ao meu lado,
que tinham as mesmas id�ias.

A melhor coisa que temos
� lutar por um ideal

porque mesmo que nunca aconte�a

ser� como uma ilus�o, uma utopia

como poesia.

Cantei para quase todos

o que me fez pensar

Cantei para quase todos

E agora irei cantar

o que nunca existiu

A pomba da paz.

O futuro pertence aos audaciosos.

Se n�o pudermos sonhar, morremos.

Emma Goldman disse isso, e � verdade.

Legenda: Dreamer