All language subtitles for Stories.of.a.Generation.With.Pope.Francis.S01E01.Love.1080p.NF.WEB-DL.DDP5.1.H.264-KHN

CIDADE DO VATICANO

Boa noite.

Quantas coisas!

Sim, tem um barulho.

Parece a brisa do mar, pode-se dizer…

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro. Está bom ou não?

Está bom?

Podemos começar?

Para mim, hoje,

é importante para o futuro da humanidade
que os jovens falem com os velhos.

POR MAIS DE UM ANO

EM TODO O MUNDO

JOVENS CINEASTAS COM MENOS DE 30 ANOS

ENTREVISTARAM E FILMARAM

PESSOAS COM MAIS DE 70 ANOS

O primeiro vídeo da bebê filmado por mim.

SÃO AS HISTÓRIAS DE VIDA DELES

- Gosta de tango?
- Gosto.

- Já dançou tango?
- Já.

São pessoas comuns que fazem história.

Estou assumindo
o maior risco da minha vida.

Sou o único sobrevivente.

Nunca seja indiferente a nada.

PARECE QUE FOI ONTEM

Sem vingança nem retaliação.

Apenas amor.

Sonho em tornar o planeta um lugar melhor.

Se vir alguém sofrendo,
abra os braços e ofereça um abraço.

- Juntos somos capazes!
- Capazes!

- Juntos vamos conseguir!
- Conseguir!

UMA SÉRIE DOCUMENTAL NETFLIX

COM BASE NO LIVRO
"SABEDORIA DAS IDADES"

AMOR
COM PAPA FRANCISCO

Santo Padre, o que é o amor?

Isso me dá vontade de perguntar:
"O que é o ar?"

Sim, eu posso dizer
que o amor é um sentimento,

são ondas elétricas do organismo

que funcionam da mesma maneira
quando polos que se atraem se encontram.

Sei de muitas explicações científicas.

Mas o que é o amor em si?

Quando ouço confissões de jovens casais,

eu pergunto a eles:

"Vocês brincam com seus filhos?"

Isso é crucial.

A gratuidade de brincar.

Ou o amor é gratuito, ou não é amor.

Não, eu vou começar a filmar.

Francesca, vai tirar foto ou gravar?

Meu nome é Martin Scorsese. Tenho 79 anos.

- Estou te vendo.
- Se eu andar para trás, você vem junto?

Aproxime-se.

Sou um cineasta de Nova York.

Vai subir agora?
Quer que eu leia uma história?

Sim, mas, papai,
quero tirar uma foto da vaca.

Assim está bom?

Está.

Sou pai de três filhas:

Catherine, Domenica e Francesca.

FRANCESCA
FILHA DE MARTIN

Que exemplo de amor teve dos seus pais?

Minha mãe era muito forte.

Já meu pai era muito rígido.

Ele queria preservar os velhos costumes.

E havia muita tensão.

Eu estava no meio de toda discussão,
boa, ruim, indiferente,

mas eles eram unidos de algum jeito

pelo…

- Palavras ou emoções não descrevem.
- É mesmo?

Eles eram unidos pelo espírito.

Apaixonados, sabe como é?

Dizem que, com a idade,
o amor fica mais forte.

Por algum motivo,
está ficando mais forte, entende?

Não é, papai?

Ele fica acanhado.

É, eu sei.

Sem dúvida, tinham um vínculo espiritual

que…

não consigo descrever.

HELEN
ESPOSA DE MARTIN

Acha que você e mamãe
têm esse tipo de relação?

É, acho que sim.

Quando penso, já se passaram 24 anos.

Linda.

Mac, vem aqui.

Vem aqui, bebê. Vem!

Vem aqui! E ele vai até você.

Prontinho, meu bem.

É você.

Lembra o primeiro encontro com mamãe?

Eu tinha 50 e tal.
Uma vida inteira já tinha se passado.

Eu tinha duas lindas filhas,

mas o casamento com a mãe delas
tinha acabado.

Faltava algo.

Naquele dia, ela disse:
"Gostaria de levá-lo a um lugar especial."

Era o Jardim Majorelle, em Marraquexe.

As paredes, as cadeiras e todos os objetos

eram pintados num tom de azul intenso.

Foi muito diferente
de tudo que já tinha visto,

e foi meio mágico.

E algo mudou.

Um ano depois,

em Nova York, morávamos juntos,
descobrimos que teríamos um filho.

E aí você chegou!

Foi um choque.

Foi.

Depois…

tivemos que nos mexer, agir,
cuidar da sua mãe, de você…

- Caos!
- Foi um caos!

Sabe como é. Pois é.

Calma e tranquila.

Naquela idade, eu não imaginava
que minha vida mudaria tanto.

Quando se é mãe

e tem a bênção de sentir um filho nascer,

o amor é imenso.

Aumenta com o passar dos anos.

A cada dia, tem mais carinho,
ama mais seus filhos.

ESTELA BARNES DE CARLOTTO
90 ANOS

Meu nome é Estela Barnes de Carlotto.

Eu nasci em Buenos Aires, a capital.

Tenho 90 anos. Um pouco mais.

Sou presidente
da Associação Avós da Praça de Maio,

que já existe há quase 44 anos.

Um golpe de estado,
uma ditadura militar atroz,

30 mil desaparecidos,
mortos, presos políticos,

crianças que ainda não recuperamos.

Justiça!

A ditadura civil-militar sequestrou

a mais velha
das minhas quatro filhas, Laura,

que estava grávida de seis meses,

e ela passou nove meses
num centro de detenção clandestino,

onde o filhinho dela nasceu,

que foi roubado no dia do nascimento.

Ela era linda, não era? Esbelta.

Ela era muito esbelta.

Ela foi assassinada.

O corpo dela me foi entregue

a pedido especial,

mas eu jurei

diante do túmulo dela

que não pararia nem por um dia

de buscar justiça para ela
e seus companheiros

e de procurar o filhinho dela.

CRIANÇAS DESAPARECIDAS

- Você amava muito sua avó Rosa.
- Sim.

Como era sua relação com ela?

Como a de um neto com a avó, sabe?

Carinhosa.

Mas o que mais me comove nela…

Se eu tivesse que descrever a avó Rosa
em uma palavra, seria "silêncio".

Ela nos acompanhava, nos acariciava…

Entende?

Mas ela sempre…

Ela tinha momentos de silêncio.

Ela era uma mulher de paciência.
Ela sofreu muito, muito mesmo.

ITÁLIA
LAMPEDUSA

Para mim, o amor é devolver
a vida às pessoas,

assim como devolver a vida a mim mesmo.

Meu nome é Vito Fiorino.

Tenho 72 anos

e moro em Lampedusa.

Sou sorveteiro.

Na noite de 3 de outubro de 2013,

eu e sete amigos

decidimos passear no mar,
porque estava bonito,

não tinha vento…

Olhei pela escotilha,
o sol estava começando a nascer,

e vi uma cena horrível à minha frente.

Pelo menos 200 pessoas no mar

estavam pedindo ajuda.

Elas gritavam sem parar.

A pior tragédia de imigração
no Mar Mediterrâneo,

nas águas da ilha de Lampedusa.

As mortes podem chegar às centenas.

Refugiados eritreus e somalis
fugindo de seu país.

Estavam a bordo de um barco que afundou
a poucos metros da Praia do Coelho.

Com meu barco,

eu salvei 47 náufragos.

Desde aquela noite, minha vida mudou.

Quando me mudei para Lampedusa,
eu tinha 51 anos.

Eu já estava separado há muitos anos,

e meus filhos já eram crescidos.

Não me lembro de receber
um beijo dos meus pais.

Isso me transformou
em alguém incapaz, como pai…

de dar um beijo,
um carinho nos meus filhos.

Mas depois eu fui capaz.

Eu fui capaz de dar naquelas crianças.

O mais novo que resgatei tinha 13 anos.

Criamos um vínculo familiar.

Sinto que sou um pai
para aquelas crianças.

Olá, Vito.

Oi, Manuel.

Oi.

Oi, Vito!

Oi.

Rezene, como vai?

Estou bem. E você?

Estou muito feliz
em vê-los juntos de novo…

Eles são mais espertos do que eu
e sabem dizer muitas palavras em italiano.

Um dia teremos
que te ensinar a falar tigrínia.

Vamos tentar.

Ambassanger diz que sempre falamos de você

e que você sempre tem
um lugar em nosso coração.

Obrigado, Vito. Muito obrigado.

Amo vocês. Tchau.

Obrigado. Tchau.

Amanhã, um dos meus resgatados, Tadese,

vem me visitar aqui em Lampedusa,

para tentarmos superar
aquele momento difícil juntos.

Laura, na universidade,

tornou-se membro
da Juventude Universitária Peronista.

Vamos vencer. Vamos vencer essa briga.

Faziam manifestações de rua e passeatas.

Os jovens dos anos 1970 queriam mudança.

Fomos testemunhas, noite e dia,

dos sequestros de estudantes
e de qualquer um que reclamasse.

Laura vivia com companheiros

em lugares diferentes
que ela não queria que soubéssemos.

Ela me mandava cartas
por um intermediário.

Ela me telefonava uma vez por semana.

Eu não sabia que ela esperava um bebê.

Não havia me contado.

Nas cartas, ela dizia: "Estou engordando.

Vamos nos ver nas férias na praia.

Vamos conversar logo, mãe."
Ela tinha essa alegria.

Até o dia em que não recebemos mais
nenhuma comunicação.

Sem telefonemas.

Nada de cartas.

E aí pensamos
que tinham sido sequestrados.

Como descobrimos
que Laura estava esperando um bebê?

Graças a uma mulher liberada
do mesmo centro de detenção clandestina

onde ela passou nove meses.

ESCOLA NAVAL DE MECÂNICA

Quando ela ia sair,

Laura pediu que procurasse o pai dela
para informar que estava bem,

que estava grávida de seis meses,

que, se fosse menino,
ele se chamaria Guido, como o pai dela.

Sentimos alívio. Ela estava viva.

Ela poderia sair como outras saíram.

Era um sonho, um renascimento,

esperar esse neto, criá-lo…

Tínhamos esperança
de que nossos filhos voltassem,

porque o que eles haviam feito?

URUGUAI
MONTEVIDÉU

Meu nome é Carlos Solís.

Eu nasci em 1937.

Sou oftalmologista.

Sou casado com Cristina Castelara.

Estou casada há 55 anos com Carlos

e temos quatro filhas e seis netos.

Minha neta, que fez 26 anos ontem,
disse para mim:

"Vovó, tenho uma pergunta,
com quantos homens você dormiu?"

Respondi: "Só com seu avô."

"Ai, vovó, só? Não acredito…"

Ela ficou impressionada.

- Ela deve achar muito estranho.
- Estranho mesmo.

A ideia de aprender
a dançar tango foi minha.

Eu tinha 60 anos e ele tinha 66
quando começamos.

Estávamos sozinhos,
até a filha caçula já tinha saído de casa.

Ela tinha mais de 30 anos.

Propus isso ao Carlos, e ele respondeu:

"Não, Cristina, não posso perder tempo,

tenho que estudar."

Para uma boa convivência,
temos que ceder sempre, não é?

A atitude correta
é aquela que os políticos dizem ter:

sentar e conversar.

Mas aí ele me disse:

"Você não pode ir sozinha.

Se quer tanto,

podemos fazer duas vezes por semana."

"Claro", eu respondi.

Um dia, estávamos na aula…

e a professora pediu
para trocarmos de parceiro,

mas Carlos não queria.

"Me diz uma coisa.

Não viemos aqui para ficarmos juntos
e nos divertirmos juntos? "

- Muito obrigado, Carlos.
- De nada.

A partir daquele momento,
só dançamos um com o outro.

Guiar e se deixar ser guiado,

assumir a responsabilidade
de cuidar do outro.

São imagens de ternura, não são?

O tango é uma melodia nostálgica

e de esperança.

Em janeiro de 1970,

soube que uma grande cantora
de tango argentino,

Azucena Maizani, estava muito doente.

Eu era padre havia apenas um mês.

Como tínhamos sido vizinhos
e eu a conhecia,

dei a extrema-unção a ela.

A melhor coisa que ela compôs,
porque ela também era compositora,

foi um tango chamado "Pero yo sé".

Muitas coisas estão acontecendo,
mas eu sei.

O tango sempre tem esperança no futuro.

- Gosta de tango?
- Gosto.

- Já dançou tango?
- Já.

Vocês sempre estiveram juntos

ou se lembram de algum momento específico…

Está me perguntando isso
porque já sabia disso?

LAMPEDUSA
ITÁLIA

Navegar no mar acabou se tornando
muito difícil para mim, e ainda é.

Toda vez que eu ia navegar,

se eu notasse uma pequena onda
se movendo de forma diferente,

imaginava alguém pedindo ajuda.

Decidi vender a Gamar,
porque não adiantava ficar com meu barco.

Aqui está.

Era uma noite sem lua.

Havia estrelas no céu,
mas não suficientes para iluminar o mar.

Estava um breu.

Dava para ouvir braços batendo na água,

dava para ouvir gritos,

gente gritando, gente afundando,

gente perdendo a vida.

Eles não podiam me ajudar,
estavam exaustos.

Tentava pegá-los, arrastá-los para dentro,
fazia com que segurassem aqui.

Escorregavam da minha mão
pois estavam cobertos de combustível.

Tive que me inclinar,
agarrar os braços, tentar ajudá-los,

levantar uma perna, um braço…

Eu tinha três meninos na minha frente,

e duas mulheres um pouco mais longe.

Não tive escolha.

Três eram mais que duas.

Resgatamos os três meninos,

que estavam mais perto de nós,
e eu vi as duas mulheres afundarem.

Tenho certeza de que,
quando me encontrar com Tadese,

nós dois teremos sentimentos diferentes.

Das pessoas que resgatamos,
ele estava na pior condição

e foi levado de helicóptero até Palermo

porque a vida dele estava por um triz.

Eu criei uma relação com ele.
É como se fosse meu filho.

Ainda há o que se descobrir, vivenciar.

Com certeza, vivenciar.

Você é pai quando cuida de um filho.

Quando, às vezes,
cuida das infelicidades do filho,

você sofre com isso e segue em frente.

Você se torna pai

não porque gerou um filho.

Não, isso não faz de você um pai.

Biologicamente, sim.

Mas ser um pai de verdade

significa transmitir seu ser ao filho.

Gerar não é isso.

Na vida, o que faz de você um pai

é o compromisso com a vida,
com os limites, com a grandeza,

com o desenvolvimento
dessa vida que gerou, que viu crescer.

Vem!

Mac, aqui! Vem, bebê!

Qual é o seu maior arrependimento

na vida ou no trabalho?

Eu gostaria de ter ajudado
a criar minhas outras filhas.

Cathy nasceu em 1965.

Eu tinha 20 e poucos anos.

Domenica nasceu dez anos depois.
Eu tinha 30 e poucos anos.

E o que eu perdi, é claro,
foi a oportunidade de ajudar a criá-las,

e isso teve muito a ver
com a obsessão na criação de um filme.

Isso tomou conta
de boa parte da minha vida pessoal.

Eu não sabia conciliar as duas.

Não há como, tem que fazer tudo junto.

Eu não sabia disso.

É muito diferente
quando se tem quase 60 anos.

É como se fosse alguém diferente.

Pois é.

Ela queria sair logo.
Estava muito determinada.

Queria ter uma foto tirada pelo velho pai.

Isso mesmo.

O primeiro vídeo da bebê filmado por mim.

Hoje é dia 24 de novembro,

às 15h mais ou menos.

Vou pegar agora.

Vou te pegar!

"Dizem que recém-nascidos não enxergam,
mas ela abriu os olhos.

Ela olhou para mim.

Ela era uma coisinha tão pequena,

mas, enquanto eu a segurava,
ela abriu os olhos."

Olha o papai. Ele quer tirar uma foto.

"Sei que ela não analisou meu rosto.

A memória pode fazer uma coisa
parecer muito mais do que foi,

mas sei que ela olhou bem nos meus olhos.

Isso é intenso.

E fico feliz de saber na época,
porque, agora, na minha situação atual,

prestes a partir deste mundo,

percebo que nada é mais extraordinário
do que um rosto humano.

Tem a ver com a encarnação.

Você sente sua obrigação para com um filho

quando o viu e o teve nos braços.

Cada rosto humano exige alguma coisa,

porque não pode deixar
de compreender a singularidade dele,

a coragem e a solidão dele.

Isso é ainda mais verdade
no rosto de um recém-nascido.

Considero isso uma espécie de visão
tão mística como qualquer outra."

- Amei.
- Sim, é muito lindo.

REINO UNIDO
BOURNEMOUTH

O amor é um misto de empatia

e respeito.

Quando se tem empatia por outro ser,
seja animal ou humano,

sente o que eles sentem.

Sou Jane Goodall.

Nasci amando os animais.

Passei todo meu tempo
aprendendo sobre a natureza.

Quando passa a vida
de uma forma significativa

com um cachorro, gato, coelho,
cavalo, porco, pássaro,

sabe muito bem que não somos
os únicos seres no planeta

com personalidades, mentes e emoções,

e amor.

Por um tempo,
fingi para meus amigos que eu entendia

o que significavam
os sons de gatos e cachorros.

Havia uma livraria de segunda mão

onde encontrei
o livrinho Tarzan, O Filho das Selvas.

Eu me apaixonei
por aquele glorioso filho das selvas.

O desgraçado se casou com a Jane errada.

Eu senti muito ciúme.

Foi aí que meu sonho começou.

Vou crescer, ir para a África
e viver com animais selvagens.

David foi o primeiro chimpanzé
a permitir que eu o seguisse na floresta,

passando por um emaranhado de vegetação.

Quando passei,

David estava sentado no chão,

então me sentei perto dele.

No chão, entre nós dois
havia uma noz madura de palmeira vermelha.

Peguei a noz do chão

e ofereci a ele.

Ele virou a cabeça para o outro lado.

Eu aproximei mais minha mão.

Aí ele se virou,

olhou bem nos meus olhos,

estendeu a mão

e, com um único gesto,
tirou e jogou no chão.

Ele não queria a noz.

Mas aí ele apertou meus dedos gentilmente,

que é como os chimpanzés
tranquilizam uns aos outros.

Naquele momento,

eu sabia que nos entendíamos por completo.

Depois de um ano estando lá,

recebi uma carta
do meu mentor, Louis Leakey:

"Jane, você precisa de um diploma.

Consegui uma vaga em Cambridge
para você fazer um doutorado de etologia.

Eu nunca cursei faculdade.
Não sabia o que era etologia.

Enfim, fui para Cambridge.

Imagine meu desânimo

quando tantos professores me disseram
que eu tinha feito tudo errado.

MONTEVIDÉU
URUGUAI

Carlos!

Quer torradas com queijo?

Ou prefere bolo?

Bolo.

Já vai, ótimo.

Nós nos conhecemos
de uma forma muito especial.

Ela era amiga da minha namorada.

Ela falava de mim para Cristina,

e ela começou a conhecer
a minha personalidade.

Nós nos apaixonamos por uma intermediária.

Eu tinha 14 anos na época.

Você pediu bolo.

Ele era baixinho, mas eu gostava dele.

Olha como éramos jovens, Carlos.

Estou tão engraçada.

Eu sou mais fogosa,
e ele é mais tranquilo.

Ele é muito racional.

Mas acho que nunca disse
"eu te amo" para ele.

- Tem que focar, Carlos.
- Sim, claro.

O amor, como nós vivenciamos,

é uma sucessão de adaptações
de um ao outro…

O tango faz parte disso.

Um abraço contínuo o tempo todo
e com movimentos que nós dois gostamos.

Em nosso relacionamento,

houve um momento decisivo…

- Pedi um tempo a ela.
- Três dias.

Parei de vir a esta casa.

Lembro que eu…

Ele tocou a campainha, eu abri a porta

"como sempre"

e aqui estamos nós.

Quando penso na morte,

afinal, eu já ganhei.

Nós formamos uma boa família.

Desfrutei do meu trabalho, do tango…

Há um personagem de desenho americano…

Um menininho dizia: "Sabia, Droopy,

que um dia todos nós vamos morrer?"

E o cachorrinho respondia:
"Sim, mas não nos outros dias."

O amor não pode ser definido.

Por exemplo,

e é uma experiência pela qual passei,
assim como todos que estão doentes…

Uma das coisas mais irritantes
para um doente

é quando o padre vai visitar

e diz "Deus está com você"
e assim por diante.

Ou o parente vem, a tia ou a avó,
e ficam falando com ele…

E tentam dar justificativas

para que tenha uma atitude positiva.

Isso não o afeta,
porque não tem amor nisso.

O amor para com um doente
é se colocar no lugar dele.

Quer ser visto, que segurem sua mão
e que calem a boca.

É a forma de expressar intimidade.

Amor é intimidade.

Gostava muito dos filmes de Hollywood,
mas sempre questionei

o casal, no final,
se afastando ao pôr do sol…

Estavam apaixonados e tudo bem.

Sempre quis saber
o que acontecia após o final,

porque aí é o começo:

o namoro, o amor, a paixão,

a separação, o reatar,
tudo isso, as dificuldades…

O que acontece depois?

Sempre quis aprender a amar.

Aí é que está.

Você se enfiou numa manada de búfalos?

É, com a droga da van!

- Precisa levar sua mãe.
- Não.

- Não. Sério!
- Mac ficou rosnando pela janela.

Nós: "Vamos sair",

e ele: "Muita gente quer sair,

mas houve um monte de incidentes."

Minha nossa!

- Pois é, eu sei.
- É muito difícil lá…

Quando Scorsese

veio com a esposa,

que estava doente na época,

ele a trouxe, e ele era um grande astro,

mas ele disse: "Ela é o que me interessa.

Ela é mais importante
que todos meus sucessos,

que todos os filmes,
todas as coisas que eu fiz.

Ela é o que mais me importa."

Era uma prioridade.

Desarmado pela doença da esposa,
mostrou o amor dele.

Isso merece mais prêmios
do que os filmes dele, que são excelentes.

Mac, por que não brinca com Oscar?

Um homem chamado Peter Maurin

cofundou com Dorothy Day
o Movimento Operário Católico.

Ele disse: "Se estiver numa situação
em que não haja amor,

ponha amor você."

E pôr amor é agir.

Não é para virar alguém irritante
que joga flores por aí e…

Precisa achar isso dentro de si mesmo,

deixar-se de lado e ceder aos outros.

Sim.

Ponha amor você. Veja o que acontece.

Em 25 de agosto de 1978,
fomos chamados pela polícia.

Disseram: "Lamento dizer
que Laura faleceu."

Eu me levantei:
"Assassinos! Vocês a mataram."

Eu o chamei de assassino.

Ele sacou um revólver
e pousou sobre a mesa.

Eu: "Onde meu neto está?"

Ele: "Do que está falando, senhora?

Eles deixaram o corpo aqui
para entregar à senhora."

Se quiser, pode levar agora

e não faça perguntas."

Eu me aposentei

para poder sair de manhã
e voltar de noite,

para procurá-lo.

E me unir a outras mulheres que tinham
a mesma dor e a mesma procura.

Assim nasceu
a Associação Avós da Praça de Maio,

da República Argentina.

Justiça!

Éramos mulheres, vestidas assim.

Queríamos ver se juntas

poderíamos ajudar umas às outras
a fazer o que quiséssemos.

Falamos com juízes,
entramos com pedidos de habeas corpus…

Foi uma obra fundada

por amor.

Os anos começaram a passar…

Encontrei outros netos…

Eu estava convencida de que o encontraria,
não importava quando ou onde.

Eu não imaginava

que, nesse momento,
numa pequena cidade rural,

um jovem

chamado Ignacio

começava a ter dúvidas sobre suas origens.

BOURNEMOUTH
REINO UNIDO

A ciência quer quantificar tudo.

Em Cambridge, me disseram:

"Não pode ter empatia
por objetos de estudo."

"Deve ser fria e objetiva
para ser uma boa cientista."

Não devia ter dado nome aos chimpanzés,
mas números, o que é científico.

Não podia falar de terem personalidade

ou mentes capazes de resolver problemas,

ou muito menos de terem emoções.

Por quê?

Porque eram exclusivos dos humanos.

Não discuti com os professores,

eu não os confrontei,

só continuei escrevendo
sobre o que tinha visto.

A Flo era
uma das minhas chimpanzés favoritas.

Ela tinha um jeito maravilhoso
de brincar com os filhotes.

Ela se deitava de costas,

pegava no pulso do filhote,

levantava acima dela
e fazia cócegas até o filhote…

É assim que eles riem.

O filho mais novo dela, Flint,

era muito dependente da mãe.

Ele ficava nas costas dela
até ela não aguentar mais segurá-lo.

A Flo morreu em paz,
atravessando um riacho.

O Flint se sentou na margem do rio

e ficou olhando para ela.

Ele pegou na mão morta dela,

como fazia quando ela estava viva,

para forçá-la a limpar seus pelos,
o que é reconfortante para eles.

Mas, claro, nada aconteceu.

Era o começo do fim, ele parou de comer.

Três semanas depois que a mãe morreu,

ele morreu também, obviamente de tristeza.

Ele não conseguiu lidar
com a ausência da mãe.

Quando minhas descrições detalhadas
começaram a ser divulgadas,

os cientistas tiveram
que começar a pensar diferente.

DRA. JANE GOODALL
HOJE - ESGOTADO

Os cientistas tiveram que admitir

que não somos os únicos seres
com personalidades, mentes e emoções.

- Juntos somos capazes!
- Capazes!

- Juntos vamos conseguir!
- Conseguir!

Se pudéssemos aprender a amar e respeitar,

o mundo seria um lugar muito diferente.

LAMPEDUSA
ITÁLIA

Oi, meu caro. Oi.

Vito!

Que ótimo!

Não parece que oito anos se passaram.

Vamos. Podemos passear…

É o sentimento de quando forma uma família
e as crianças crescem.

Aí quando perguntam:

"Quantos anos seu filho tem?"

Eu respondo: "Caramba!"

Uma noite, Tadese atendeu ao telefone

e disse à pessoa do outro lado:

"Vou passar a ligação para meu pai."

E foi aí que me dei conta

de que tínhamos…

algo importante.

Toda vez que alguém
me chamava para ir ao mar,

eu sempre dava uma desculpa para recusar.

Hoje, com Tadese, consegui tomar coragem.

Agora, o atracamento aqui é contínuo.

Muitas pessoas chegam a Lampedusa

em botes de borracha, barcos,
em todo tipo de embarcação.

Foi aqui onde você estava.

Se acredita que sua vida vale tanto
como a de qualquer pessoa…

não pode se recusar a ajudar.

Há uma bela canção alpina:

"Na arte da escalada,
o que importa não é evitar a queda,

mas não permanecer caído."

Sempre tem alguém
que segura sua mão, não é?

Por outro lado,

é a única forma lícita

de olhar uma pessoa de cima a baixo,

quando vai ajudá-la a se erguer.

Qualquer outra forma
de olhar alguém de cima a baixo

não é lícita, não é humana.

Se quiser amar,

não pode ser indiferente.

Você tem que se aproximar.

Tem que se aproximar
dos limites da dor humana.

Durante 36 anos,

fui negada a oportunidade
de amar meu neto e ser amada por ele.

E, um dia,

finalmente, depois de 36 anos…

Olá!

…me ligaram no telefone

e me disseram
que tinham encontrado meu neto!

Foi a alegria de…

de algo muito importante
para mim e para minha família,

porque a Laura voltou com ele.

Laura ainda está presente nele.

Ele só pode imaginá-la

e sonhar com ela.

Santo Padre, vamos mudar o assunto
e falar de sonhos.

Uma pessoa que não é capaz de sonhar

tem algo faltando.

É uma pessoa asséptica.

A assepsia é boa para salas de cirurgia,
mas não para a vida.

Legendas: Maria Isabel Rodrigues