All language subtitles for Deux (Werner Schroeter, 2002)

DEUX - DOIS

Conheces mais alguma Madalena?

Não...

Só tenho uma Madalena.

- Tu.
- Encontrei isto.

Que queres que te conte?

Minhas pequeninas Maria e Madalena,

o tempo e a distância
forçam-me a fazer

o que as mais duras necessidades
nunca me obrigaram,

escrever-vos.

Estou cansada das frequentes
tempestades de França

e eis-me de volta a Portugal.

Ficaria muito triste se pensassem
que não gosto de vocês,

e por isso vos escrevo.

Tive um sonho. Julguei...

... que era eu.

Beijo-vos.

E beijo-vos outra vez
com todo o meu coração.

Vossa mãe, Ana.

Argumento

Um parque mergulhado na obscuridade,
como se fora do destino.

As árvores, jovens e antigas, estão
no seu lugar, à espera do amanhã,

todos os dias e noites
que imaginaram estar neste parque.

Um parque belo, grande,

com relvados nas clareiras
onde o trevo cresce em abundância.

O solo está coberto de folhas secas

e esta hora pinta o último verde
de um cinzento-escuro inexpressivo.

Por volta das sete da tarde,

uma silhueta atravessa
uma das clareiras.

É uma silhueta sombria.

É Madalena. Não a reconhecemos.

Ela não quer ser reconhecida.

Produção

Maria!

Aquela que me era
mais preciosa que a vida

e que eu via crescer rapidamente,

dotada de todas as qualidades
da alma e do corpo,

dizia-me,

queria ter uma irmãzinha
para brincar.

Recomenda ao bom Deus
que me mande uma.

Já nessa altura,
ela se interessava pelos animais,

e me perguntava por que razão

a andorinha se contenta em passar
a rasar pelas chaminés humanas,

sem ousar entrar.

Um filme de

Come-me, fode-me, querida

Querida, come-me, fode-me

Come-me aqui.

Come-me agora.

É nessa tarde de batalha

que nós viramos para Ti os olhos,

as nossas esperanças,
as nossas orações,

as nossas exigências e desejos
e os nossos filhos.

Deus abençoa as nossas armas,

os nossos sabres, as nossas pistolas,

e as balas de canhão. Amen.

Vingança!

Vingança!

Vingança!

Come-me, fode-me

Querida, come-me

Agora, já

Quando um cometa cai das estrelas,

é preciso pedir um desejo
e mantê-lo em segredo.

A verdade é o que existe em mim.

O eu e o tu
estão sempre bem afastados.

Falo comigo e digo tu.

De vez em quando, lá sai um eu,

mas não é um verdadeiro eu,
é uma necessidade.

Por que não tiras
um bocado dessa maquilhagem?

- Não te esqueças que sou casada.
- Qual é a relação?

Sou mulher de Stanislas, não tua.

Que tem isso a ver com a maquilhagem?

É óbvio.
É como o uniforme para os soldados.

Na guerra, eles matam
e toda a gente acha bem.

Sem uniforme, seriam assassinos.

Com maquilhagem,
não enganas o teu marido.

- Sem maquilhagem, és-lhe infiel?
- Exactamente.

Mas gosto muito
de fazer amor contigo. Tu não?

Sim, mas depois,
só quero ver-te pelas costas.

Mal acabamos,
uma perna começa a ficar dormente,

depois são os formigueiros num braço.
Acontece-me sempre isso.

É como se estivesse cortada em duas.

- lsso é porque tu não me amas.
- Sim.

Em vez de usar comparações vagas,
como,

o nosso amor é grande como o mar,
devíamos dizer,

amamo-nos das 10 às 11 da noite.

Beija-me.

Durante muito tempo,

adormecia abraçada a um travesseiro
de que não conseguia separar-me.

Precisava dele.

Era uma forma de me encarar
sem complacências,

mas com lealdade e ternura,

para me libertar
de um lado secreto,

impossível de desvendar em voz alta
fosse a quem fosse.

No silêncio da minha solidão,
eu continuava a tecer

o laço com o outro.

Amo-te.

Assustaste-a.

Escuta.

Gosto disto.

À força de ouvir,
acabamos por aprender.

... Por exemplo.

E sobretudo
a Carmen de George Bizet.

E sobretudo a Carmen
de George Bizet.

Se não podes pagá-lo, ofereço-te eu
o chocolate. Estás contente?

Esta manhã, cerca das 7:45,

o corpo de uma jovem assassinada
foi encontrado em pleno campo,

já em decomposição,
escondido entre as folhas.

Será a quinta vítima,
em poucos meses,

daquele já conhecido como
O Homem das Flores,

porque embeleza sempre as suas
vítimas com uma flor cortada,

pousada na boca.

As cinco mulheres que sofreram o
mesmo calvário foram estranguladas

e parecem nunca ter visto
o assassino em série,

antes do seu
encontro fatal com ele.

Queremos visitar a casa do
senhor Van Gogh, morto aqui.

Querem visitar a casa de Van Gogh?

Onde é a casa do orelha cortada?

Amigos do loto, boa noite.

Espero que tenham aproveitado bem
os últimos dias de férias

e tenham jogado ao loto,
e conseguido bons números,

e talvez esperem ficar entre
os vencedores desta noite.

Desculpem. Mas sabem que Van Gogh
já morreu há muito tempo...

Diz há muito tempo?

Aqui não encontram nada.

Aqui não encontram nada.

Ele morreu há 70 anos.

E muito longe daqui.

Será a quinta vítima,
em poucos meses,

daquele já conhecido como
O Homem das Flores,

porque ele embeleza sempre as
suas vítimas com uma flor...

É um bandido alegre
Destemido como nenhum

É um bandido alegre

É um bandido alegre
Destemido como nenhum

Madalena, procurava-te...

Há quatro horas
que ando à procura dela.

Quero que venhas comigo.

- Deixa-me.
- Vem comigo!

Que te deu?

É a parteira das fadas.

Não é maior que uma ágata
no indicador de um magistrado

e vem, puxada por uma junta
de pequenos átomos,

pousar no nariz dos homens,
enquanto dormem.

Dividerci il fato non potrà.

A sua carruagem é uma casca
de noz vazia, confeccionada...

por um esquilo marceneiro...

Son tua, son tua col core
e colla vita.

Io t'amo, io t'amo.

Os raios das rodas da sua carruagem

são feitos
de longas patas de aranha...

Io t'amo, io t'amo.

A capota,
de asas de gafanhoto,

os arreios, da mais fina seda.

E o cabresto,
de húmidos raios de luar,

o seu chicote, de osso de grilo,

a ponta tecida de um fio da Virgem,

o seu cocheiro,

um pequeno mosquito
vestido de cinzento,

nem metade sequer

da pequena lagartinha...

Io t'amo, io t'amo.

Deixe lá. Não chore, senhora.

Tenho de ir. Os meus pais estão
à minha espera lá em baixo, no carro.

- Os teus pais falam português?
- Francês, idiota.

- Diz lá au revoir em português.
- Temos tanta vontade de ouvir.

Adeus.

Que foi que ele fez?

Vão-se embora!

E de repente,

enterrar as unhas
no seu peito mole,

de forma a que ele não morra.

Pois se ele morresse,

não teríamos depois
a imagem da sua infelicidade.

Em seguida, bebemos o sangue,
lambendo as feridas,

e durante esse tempo,

que deveria ser tão longo
como a eternidade,

a criança chora.

Duas semanas sem se verem
não é a morte.

A Erica é a única pessoa aqui
que não está contente com as férias.

Minha pequenina Madalena,

o tempo e a distância
forçam-me a fazer

o que as mais duras necessidades
nunca me obrigaram,

a escrever-te.

Estou cansada de enfrentar
frequentes tempestades em França

e eis-me de volta a Portugal.

Ficaria muito triste se pensasses
que não gosto de ti,

e por isso te escrevo. Beijo-te.

E beijo-te outra vez com todo
o meu coração. Tua mãe, Ana.

Madalena? Estás deitada?

Estou.

Nem me dizes boa noite?

Estava esgotada.

Mamã?

Conheces mais alguma Madalena?

Não, só tenho uma Madalena.

Tu.

Escuta o que te quero dizer.

É preciso assassinar todas
as mulheres grávidas. Todas,

como um ceifeiro de pesadelos.

É preciso aliviar a dor.

Tens de ir dormir.

Encontrei isto.

Que queres?

Que queres que te conte?

Suplico-te!

É preciso matar todas as crianças
antes de nascerem.

É preciso levar essa caçada
a todo o mundo.

É preciso...

Ele era capitão
de um navio de longo curso

e trabalhava para um armador
de Saint-Malo.

Ora,

depois de uma ausência
de 13 meses,

chegou ao ninho conjugal

no momento em que a sua mulher,
ainda acamada,

acabava de lhe dar duas herdeiras.

Depois de as ver,

ele não se reconheceu nelas.

O capitão não manifestou
a sua surpresa, nem a sua cólera,

Friamente,
pediu à esposa que se vestisse,

e o acompanhasse a um passeio
às muralhas da cidade.

Estava-se em Janeiro.

Velho oceano,

os Homens, apesar
da excelência dos seus métodos,

não conseguiram ainda
deixar-se melhorar por eles.

Queres jogar comigo?

Eu agarro-te
E tu agarras-me pela barbichinha

O primeiro de nós dois que rir
Leva uma palmada

Vá lá, minha devassa!

Ele acabou de levar a criança.

Vejam se ele a cura
e não a abandona,

como fizeram os seus pais.
Ele foge...

Ele foge...

Menina, menina.

O comboio chegou, Menina,
já quase há uma hora.

- É dia ou noite?
- Começa a fazer dia.

Reparei que tinha apenas
um olho no meio da testa.

Espelhos argênteos,

incrustados
nos painéis de vestíbulos,

quantos serviços já me prestaram
com o vosso poder reflector!

Desde o dia em que um gato angorá
me mordiscou,

durante uma hora, o galo parietal,

como um trépano
a perfurar o crânio,

lançando-se bruscamente
sobre as minhas costas,

porque eu fervera as suas crias
numa cuba de álcool,

que não paro de lançar sobre mim
mesmo a flecha dos tormentos.

Hoje, afectado pelos ferimentos

recebidos pelo meu corpo
em diversas circunstâncias,

quer pela fatalidade do meu
nascimento, quer por culpa própria,

acabrunhado pelas consequências
da minha decadência moral,

algumas foram cumpridas...
quem preveria as outras?

espectador impassível
de monstruosidades adquiridas

ou naturais,
que decoram as aponevroses

e o intelecto de quem fala,

lanço um longo olhar de satisfação
à actualidade que me compõe...

E considero-me

belo.

Mas que é isto?

Que fazes aí, Madalena?

Que fazes aí?

Tens aqui a porta.

E que fazes de casaco preto
sobre a parede branca?

Não sou nenhuma lavandaria a seco
de muros brancos!

- Merda!
- Que é que te deu?

A mulher é doida!

Larga-me!

Deixa-me!

- Olá.
- Olá.

- Nunca te vi por aqui.
- Acabei de chegar.

Não estejas triste.

É fácil de dizer.

Que fazes tu em Marselha?

Quero ser cantora.

Mas como vais consegui-lo, assim,
sozinha, abandonada nas ruas?

Hei-de desenvencilhar-me.

Assim, sem nada?

Vem a minha casa.

Conheço alguém
que te pode ensinar a cantar.

Se não estudares,
daqui a um ano continuas na rua.

Se o senhor estivesse no meu lugar,
o que faria?

Eu teria confiança.

Não teria medo de ter confiança.

Não o quero incomodar.

Vivo só.
Apenas incomodarias a minha solidão.

Sou todo fraqueza
E fragilidade

Contra a minha vontade

Sinto as lágrimas correr

Perante tais sonhos desfeitos

Terá o futuro

O encanto

Desses belos dias

Já passados

Adeus

Nossa boa mesa

Lá buscávamos outros lábios

Cada um que lá bebia

Lá buscávamos outros lábios

Cada um

Que lá bebia

Adeus nossa bela mesa

Adeus

Um vagabundo como os outros.

Mas o que são eles?

Ainda hoje me lembro de uma cena
concreta da minha tenra infância.

O meu pai veio roubar-me
em plena noite,

uma espécie de boneca de pano
que a mamã me fizera,

e sem a qual
eu não conseguia adormecer.

Chamava-lhe minha Beubeu

e acordava no meio da escuridão
aos berros,

quando não a encontrava
ao meu lado.

Se a perdia, a catástrofe para mim
era tão grande,

como a queda do mundo inteiro.

Ora, ele arrancara-ma da mão
e desaparecera.

Calma. Devagar.

Não come?

A sua casa é bonita.

Dá vontade de ficar.

De qualquer forma,
não te deixaria partir.

Um, dois, três, quatro,

cinco, seis, sete, oito,

nove, dez.

Será a quinta vítima,
em poucos meses,

daquele já conhecido como
O Homem das Flores,

porque ele embeleza sempre
as suas vítimas com uma flor cortada,

pousada na boca.

As cinco mulheres que sofreram
o mesmo calvário foram estranguladas

e parecem nunca ter visto
o assassino em série,

antes do seu encontro fatal
com ele.

Quando uma mulher de voz
de soprano lança notas

tão vibrantes e melodiosas,
ao escutar tal harmonia humana,

os meus olhos enchem-se
de uma latente chama

e chispam faíscas dolorosas,

enquanto aos meus ouvidos parece
ressoar o fragor da canhonada.

Desanda daqui, ouviste?

Que fazes aí? Que procuras?

Estás a ouvir-me?

És muito manhosa, desconfiada,

falsa afabilidade,

grosseira.

Sabes que mais?
És uma ave de mau agouro!

És uma mal amada!

Uma mal amada, entendes?

Estafermo!

Como eu amo os militares

Como eu amo os militares

Os seus bigodes
E os seus penachos

- Senhora, as suas alunas esperam.
- As alunas?

Como eu amo os militares

Está melhor.

Manda-as entrar.

Vem, vem...

Como eu amo os militares

Adoro os militares

Com as suas braguilhas

As suas braguilhas?

Quando vejo os meus soldados

Prestes a partir pra guerra

Firmes e direitos
Olhando de relance

É verdade que me orgulho

Serão vencedores
Ou derrotados?

Não sei nada
É o que eu sei

Não sei nada
É o que eu sei

Não sei nada
É o que eu sei

Vem, vem!

... e com as costas apoiadas
contra um chorão,

ele põe-se a verter
lágrimas escaldantes.

Ele desfazia, um a um,

todos os seus belos sonhos
de amizade cavalheiresca e sublime,

como a dos heróis
da Jerusalém Libertada.

Ver chegar a morte nada era,
rodeado de almas heróicas e ternas,

de nobres amigos que nos apertam
a mão no momento do último suspiro!

Mas manter a exaltação,
rodeado por vis velhacos...

Fabrice exagerava
como qualquer homem indignado.

Ao fim de um quarto de hora
de emoções,

notou que as balas de canhão
começavam a chegar

à fila de árvores
à sombra das quais ele meditava.

Levantou-se e procurou orientar-se.

Olhou as pradarias bordejadas
por um canal largo

e uma fieira
de salgueiros frondosos.

Julgou reconhecer-se.

Deu conta de uma unidade
de infantaria que passava o fosso

e entrava nas pradarias,
a um quarto de légua à sua frente.

la dormir de bom grado,
disse a si próprio,

mas não posso ser feito prisioneiro.

E pôs-se a caminhar muito depressa.

Tenho sede.

Não tem nada que se beba?
Tenho muito calor, com este uniforme.

- De onde vem?
- De Paris.

E tenho de apanhar a ligação
para Portugal daqui a cinco minutos.

Lá deve estar ainda mais calor.

Tenho de ir para casa.
Ainda endoideço, se não vir uma nuvem.

Eu gosto muito.

Por vezes, fico na estação, fecho
os olhos e, de pálpebras cerradas,

olho os clarões luminosos do sol.

Conheci um rapaz cego que dizia,

Eu ouço o sol.

E você é daqui?

Não. Sou do sítio para onde você vai.
Aliás,

tenho uma coisa a pedir-lhe.

Quando estiver em Portugal, pode
pôr-me estes dois postais no correio?

Com prazer.

Que está a pensar de mim?

Que devia eu pensar?

Não sei. É por isso que lhe pergunto.

lncomodo-a.

Quer que me vá embora?

Por mim, estou-me nas tintas,

mas o comboio não.

Daqui a um minuto, está aí.

Não se esquece dos meus postais?

Não me esquecerei. Você deu-me
uma boa razão para ir a Portugal.

Que vai você fazer?

Continuar a ler.

É um livro que nunca me desilude.

Você está a reler
um livro que já leu?

Melhor que isso.
Nunca li outro, senão este.

Mas não releio tudo, só uma passagem.

Ficaria de bom grado
mais um pouco consigo.

Para meu prazer. Você agrada-me.

É pena haver este comboio.

Pobre soldado.

lsso passa-lhe.

Tudo passa.

É bom?

Podes comer tudo, já não vem ninguém.

Queres um copinho de vinho?

Onde vai?

Para casa.

De bicicleta percebemos melhor
o mundo, que a pé.

E se eu a levasse?

Não deve ser divertido fazer
todos os dias o mesmo caminho.

Não vamos dar a volta ao mundo.
Levo-a só até sua casa.

Subo?

Não tenha medo, eu agarro-a.

Está bem sentada?

Descontraia-se, senão vai cair.

Você aguenta comigo?

Está bem instalada?

Viu a Pena Capital,
com a Diana Dors?

É a história de uma mulher

de cabelos louros como vagas de ouro.

Muito bonita.

Há um homem que a ama,
mas ela já não o ama.

Não sentindo mais nada por ele,

ela rejeita-o com desdém, é fria

e seca com ele.

Ele morre

e acusam-na a ela, sem razão,

de o ter morto.

Prendem-na.

Condenam-na à morte.

Essa condenação destrói
a vida da família dela,

e vemos como a tratam os guardas
da prisão, nos seus últimos dias.

Há uma bela jovem que a acompanha,

que sente compaixão por ela.

Ficam as duas muito próximas
nas últimas horas.

Antes da mulher
de cabelos de ouro morrer,

uma velha cristã
censura-lhe a falta de remorsos,

e a sua auto-piedade.

É um filme muito belo

sobre uma mulher
que espera a sua sorte,

o desfecho do seu destino.

Tem de o ver.

Onde é que a deixo?

É uma daquelas casas, ali em cima.
A pequena.

Um dia, vou rever esse filme.

Quer vir comigo?

Era bom.

- Está bem?
- Está bem.

Dê-me a sua mão, não tenho onde
escrever o meu número de telefone.

Eu compro os bilhetes.

Adeus.

Os marinheiros
Que morrem no mar

E que lançamos no tenebroso abismo
Como uma pedra

Juntamente com os cristãos
Já hirtos

Não vão para o paraíso

Ao encontro de S. Pedro

Eles rolam de escolho em escolho

Na inconsolável mortalha

De um saco de tela

Mas fiel após a morte

A sua alma não voa

Para uma estrela

E ninguém se apieda
Da sua sorte

Senão a gaivota
Em pleno voo

Alma e ave
Fazendo um só

O corpo do defunto procuram
Longe da margem

E é por isso
Que sob o negro céu

A ave lança desesperada

O seu piar selvagem

Não matem o alcatraz

Que plana sobre
As ribombantes vagas

Ou que as aflora

Pois é a alma dum marujo

Que plana sobre um túmulo

E chora

Chora

Está a nevar.

Os sinos tocam
Tocam os sinos

O Pai Natal morreu

Johnny pegou na pistola
E pla cabeça o faleceu

- Estou contente.
- De teres bebido?

De eles terem partido.

Quando há alguém connosco,
é como se tu não estivesses aqui.

Quando estamos sozinhas, não preciso
de te olhar para saber que estás aí.

E agora, reencontraste-me.

Talvez te pareça idiota,

mas desde que me entreguei
ao budismo, sinto-me muito melhor.

- Quando foi isso?
- Não há muito tempo.

Tenho a impressão

de ter acedido a qualquer coisa nova,

a uma verdade
escondida por trás das aparências.

Para Buda,

cada morte
é seguida de um renascimento,

em função do valor
dos actos que praticaste.

Se respeitares as regras

e as observares rigorosamente,
podes chegar ao Nirvana.

Tenho a impressão que lá chegarei
mais depressa com ele.

Para chegar à Via da Libertação,

é necessário abstermo-nos
de cometer más acções,

começando pelo...

assassínio,

o roubo,

a luxúria,

a mentira

e o consumo de bebidas inebriantes.

E ainda, renunciar às paixões
para apaziguar o espírito.

Acredita se quiseres, mas sinto

o espírito completamente apaziguado
desde que me entreguei a isto.

Acredito-te.

Se me apetecer...

O papa que veio do frio.

Pela primeira vez desde há
cinco séculos, não é italiano.

O novo chefe da lgreja
é um cardeal polaco de 58 anos,

que decidiu
chamar-se João Paulo ll.

Um homem de 20 anos acaba
de ser descoberto enforcado, em casa.

Os vizinhos foram alertados
pelo cheiro de putrefacção

que exalava do apartamento.

A bicicleta na qual o homem
efectuava todas as suas deslocações

permanecia, imóvel, encostada
à parede da casa, inútil.

O suicídio ocorreu há vários dias
e o seu corpo definhou.

No popular bairro da rua
Léo Lagrange reina a consternação.

É uma rapariga.

O título aparece esta manhã na
maior parte dos jornais britânicos.

Após várias semanas de espera,

o primeiro bebé proveta do mundo
nasceu ontem em Oldham,

perto de Manchester.

Faz amor comigo, só uma vez.

Gostaria muito de te agradar,
mas prefiro ser sincera.

- Não faltam mulheres por aí.
- Claro, para fazer amor, há sempre,

mas do que eu preciso é
de uma que se chegue a mim,

que me abrace e diga,
Por que estás triste?

Gostaste da tua noite?

Desde que esteja contigo.

Um jovem

de cerca de 20 anos

acaba de ser descoberto

enforcado

em casa.

Anda cá, tu.

Além de atirares pedras contra as
portas e de mijares como um porco,

saberás tu, por acaso,
de onde vêm os Homens?

Os Homens vêm de África.
Sim, não olhes assim para mim,

vêm da África negra,
tu e eu já perdemos a cor.

Vêm de África
e sobretudo, vêm da Holanda,

onde nasceram os maiores pintores

com as suas paletas de cores
flamejantes, como Rembrandt, Rubens.

Silêncio!

Está a passar por vocês
um cortejo fúnebre.

Dobrem os joelhos por terra

e entoem cânticos de além-túmulo.

Se considerarem as minhas palavras
como uma simples ordem imperativa,

mais que uma ordem formal
e deslocada,

darão provas de espírito,
e do melhor.

É possível que consigam
desta forma deleitar-se

com a alma daquele que
descansará da vida, num túmulo.

Na realidade, isto é

para mim

um facto.

Que se passa? Atrás de quem
corre você dessa maneira?

A minha raposa. Não a viu?

Ela corre tão depressa...
Não posso mais.

- Não consigo dar nem mais um passo.
- Vamos encontrá-la.

Leonor já não lhe interessa?

lnteressa.
Mas quis vir ver o que se passava.

Você cheira a sono,
se calhar adormeceu.

Que foi?

Devo ser a única nesta Ópera com
sapatos ordinários e um casaco velho.

Está muito bem.
Você é diferente dos outros.

Só a minha blusa é chique.

Sinta como é macia.

O seu braço é que é macio.

Era a ela que eu procurava.

Lá está ela.

- Talvez...
- Até breve.

Durante muito tempo,
adormecia abraçada

a um travesseiro
de que não conseguia separar-me.

Precisava dele.

Era uma forma de me encarar
sem complacências,

mas com lealdade e ternura,

para me libertar
de um lado secreto,

impossível de desvendar em voz alta
fosse a quem fosse.

Era preciso continuar a tecer
no silêncio da minha solidão

o laço com o outro.

lsso não corre bem, pois não?

Não é nada. Vou levá-la ao hospital,
não se inquiete.

Subam o pano!

Maria.

Maria.

Madalena!

Mas entre os chacais,
as panteras e as cadelas,

monstros esganiçados,
estridentes, rastejantes,

na infame colecção
dos nossos vícios,

há um mais feio, mais cruel
e mais imundo!

Embora sem lançar grandes gestos
ou grandes gritos,

alegremente esfacelaria a terra
em detritos.

Uma vez aqui
Uma vez além

Juntem-se aqui
Que não é difícil

De pé!

Para os que entram na dança
Em nome da grande esperança

Com menosprezo pela vida
O meu filho canta

Marchar!

Para os que lutam pela vida
Tendo só por arma a vida

Para que vivam muito tempo
O meu filho canta

Marchar!

Para aqueles que combatem a noite

Defendendo o dia
Onde o sol brilhará

Para todos os homens
O meu filho canta

Para os que morrem em camisa
No alvor do tempo das cerejas

Sob o olhar dos fuzis
O meu filho canta

O meu filho e tu
O filho

Que nascerá do meu filho
Enquanto morre a liberdade

Para que a liberdade viva
No mundo inteiro

Meu filho
É preciso cantar

Que tem ela?

Por que não acorda?

Para os que atravessam
Sem esperança

A porta estreita da História

Em nome de um ideal
O meu filho canta

Que tem ela?

Para os que arrastamos no escuro
Pelo chão do último corredor

Das câmaras de tortura
O meu filho canta

Para os que nunca mais verão
O vermelho sol de Maio

Sobre a Porta de Pirée
O meu filho canta

Mamã!

Para aqueles que mesmo na morte
Têm ainda força para a vida

Para os que vão viver
O meu filho canta

O meu filho e tu
O filho

Que nascerá do meu filho
Enquanto morre a liberdade

Para que a liberdade viva
No mundo inteiro

Meu filho
É preciso cantar

Parto sem ter tido
um beijo na boca,

sem pensar no passado ou no futuro,

ao encontro da minha morte.

Vou-me embora.

E vais voltar?

Não.

Não quero que me enterrem,
quero viver.

Tu e eu somos
como rolhas num ribeiro.

Vamos para onde a corrente nos leva.

Desculpe, sabe onde é
o grande museu de Lisboa,

onde estão expostos quadros
de Rubens e de Rembrandt?

- Ofereço-lhe um café.
- Não, obrigada.

Menina, venha comigo.

Avé Maria

Cheia de graça

O Senhor é convosco

Bendita sois Vós

Entre as mulheres

Bendito seja

O fruto do Vosso ventre

Jesus

Santa Maria

Mãe de Deus

Rogai por nós

Pecadores

Agora e na hora

Da nossa morte

Amen

Queridos filhos que não tive,

fiz muito mal em não vos ter tido
e agora, vou morrer.

Beijo-vos, não só como mãe, mas
como aos únicos seres que me amam.

Nunca passou um só dia,
que eu não sonhasse convosco.

Minha querida mãe inacessível,
minha excelente mamã,

tardei demais para te escrever,
por fim.

O comboio que me levou à tua
procura vai fazer-me desaparecer.

Trágico, não é?

lnformo-te que na vida,

me fiei sempre na minha boa estrela
e me esforcei.

Entristece-me um pouco que,
como única recordação de mim,

tenhas apenas as imagens
dos meus primeiros dias.

Meu muito querido pai desconhecido.

Teria gostado tanto de ouvir
os teus sermões e censuras.

Poderias dizer as coisas
mais desagradáveis,

que mesmo assim eu sentiria prazer.
lnfelizmente,

daqui a instantes,
a morte vai levar-me

e nunca saberei
que parte de mim herdei de ti.

Sempre tive um ventre
e um sono perturbados.

Talvez tu também tenhas?

A Marpa, a Milarépa,

ao senhor do Dharma Gampopa,

ao Karmapa,

às descendências Dri, Tak e Tsel,

assim como à gloriosa Droukpa,

à linhagem Dagpo Kagyu,
incomparável protectora dos seres...

Mostra-te.

Encontrar-te-ei
onde quer que te escondas.

Mesmo ao pé da praia,
não me escaparás.

A maré que sobe contar-te-á
que conhece o teu passado.

Os faróis costeiros
perseguir-te-ão.

E assim te vergarás a meus pés.
O combate será belo.

Eu, sozinha, contra ti.

Mostra-te!

Mostra-te!

Encontrar-te-ei
onde quer que te escondas.

Mesmo ao pé da praia,
não me escaparás.

A maré que sobe contar-te-á
que conhece o teu passado.

Os faróis costeiros
perseguir-te-ão.

E assim te vergarás a meus pés.
O combate será belo.

Eu, sozinha, contra ti.
Mostra-te!

Na sala do alto

Com Jesus

Deixa-me!

Na sala do alto

Com Jesus

Na sala do alto

Com o meu Senhor

À prisão de Sintra.

Vou visitar os reclusos.

Sou visitante de prisões.

Por que não me abraças?

Tenho frio.

- O quê?
- Estavas distraída. Bem vi...

- Nunca vi um cometa.
- Mais uma razão para esperar.

Por mim, ficava aqui sentada
toda a noite, à espera de ver um.

- Também nunca vi um eclipse.
- Nunca viste um eclipse?

lncrível!

Observa a Lua. Fixa-a bem.

A Lua, conheço eu.
Nunca vi foi um eclipse.

Fixa bem a Lua.

Enlaça-me.

Na parede do meu quarto,

que sombra desenha
com incomparável vigor

a fantasmagórica projecção
da sua silhueta encarquilhada.

Quando pouso no coração
esta interrogação delirante e muda,

não é tanto pela majestade
da forma,

como pelo quadro da realidade,

que a sobriedade do estilo
se conduz como o faz.

Sejas tu quem fores, defende-te,

pois vou dirigir contra ti
a afronta de um terrível libelo,

esses olhos não te pertencem.

Onde foste tu buscá-los?

Caro senhor Arafat,

para quê transformar a trégua em
vigor num verdadeiro cessar-fogo?

As reuniões de segurança em que
o senhor participou, desde há anos,

alguma vez deram alguma coisa?

E o Estado de lsrael
deixou de matar com balas

os seus compatriotas
e os vossos filhos?

Não. Que vão para o diabo!

Vocês deviam reconquistar o símbolo
que é Jerusalém.

O seu território pertence
aos palestinianos,

e para que eles o recuperem,
só há uma solução,

bombardeá-la.

Vão-se embora!

Proponho-me,

sem qualquer emoção,

entoar o canto sério e frio
que ides ouvir.

Prestai atenção, todos vós,
ao que ele diz,

e acautelai-vos das penosas
impressões que certamente deixará,

como um estigma,

nas vossas perturbadas
imaginações.

Não julgai que estou
prestes a morrer,

pois ainda não sou esqueleto

e a velhice ainda não me está
colada ao rosto.

Dazet!

Tu,
cuja alma é inseparável da minha,

tu, o mais belo filho da mulher,
embora ainda adolescente...

Caro senhor Arafat...

porquê extinguir
a paz nos corações?

Porquê recusar aos vossos filhos
a segurança feliz do colo das mães?

Cessai todas as incitações
à violência

e apreendei as armas ilegais.

Assim, os colonos cessarão
igualmente as suas exigências.

Restabelecei a confiança perdida
dos dois lados.

Renunciai aos territórios.

Fazei da paz o objecto de todos
os vossos votos e da vossa ternura.

E ela vos envolverá
deliciosamente.

A violência começa à nascença.

É já com violência
que a vossa mãe vos põe no mundo.

A violência começa à nascença.

É já com violência
que a vossa mãe vos põe no mundo.

Tu, cujo nome se assemelha ao do
grande amigo de infância de Byron,

por que não estás comigo?

O teu peito contra o meu peito,

para contemplar
este espectáculo que adoro.

Saúdo-te,

velho oceano.

A violência começa à nascença.

É já com violência
que a vossa mãe vos põe no mundo.

Como a ciência, procuro saber mais
sobre a mágica anti-matéria,

que, em miríades, percorre
o universo a extrema velocidade.

Aproveito todas as oportunidades de
recordar aos átomos e aos neutrinos

que ainda existo.

Como a anti-matéria,

quero, também eu,
manifestar a minha existência,

projectando a minha luz
sobre as coisas e sobre o mundo.

Quero viver e dançar, combinando
o movimento das partículas

e das forças fundamentais
do universo.

Adoraria
que a sombra da anti-matéria

deslizasse, nua,
para dentro do meu leito.

Esta noite,
desejo que a matéria eterna,

o urânio e a platina,

regressem para enfeitar
a minha triste estadia.

Morro de novo no seu enlace.

Que faz em casa do nosso Rei?

Rei? Que rei?

O nosso Rei.

O nosso Rei é um homem
muito especial.

Magnífico!

Supremo!

Adora de tal forma
o canto da voz de soprano,

que Sua Majestade canta
pessoalmente essas árias,

vestido a rigor e acompanhado
por uma pianista grandiosa...

Metes-me dó.

Eu meto-te dó?
Que tens tu contra mim?

Eu tive uma criança de um
piloto bombardeiro. E tu, nada!

Que te interessa isso?
Não me apetece.

Enganas-te.

É porque isso te mete medo.
Eu tenho medo?

Olha como tu tremes...
e sou eu que tenho medo?

Não tenho medo. Mete isso na cabeça
e deixa-me em paz. Vou-me embora.

Vês, já não sabes que responder,
estás desarmada.

Vou-me embora...

Prefiro ir, a ter de te escutar.

Pois é. Perturbo-te as ideias,
mas continuarei a gritar.

Chega. És doida, maldita sejas!

Amo-te.

Que fixa você na água?

Estava a ver um peixe
a sair do seu território.

Devia andar à procura
de um sítio para morrer.

Toda a gente diz que um animal
marca o seu território

com glândulas anais e com urina,

com as quais demarca
as fronteiras do seu espaço.

Mas é muito mais que isso.

Na marcação do território

intervém também
uma série de posturas,

por exemplo, baixar-se, levantar-se,

uma série de cores, de linhas

e uma série de cantos.

- Está a seguir-me?
- Nem por isso.

Foi o rouxinol, e não a cotovia,

que penetrou na concha oculta
do teu ouvido.

À noite, ele canta na romãzeira.

Acredita-me, meu amor,

foi o rouxinol.

A noção de território
é um característica do animal,

e sair do seu território
é aventurar-se.

Há animais

que reconhecem o seu consorte dentro
do território, mas não fora dele.

E não há território
sem uma saída do território.

E não há saída do território

sem um esforço para se
re-territorializar,

noutro local e noutra coisa.

É isso que me fascina nos animais.

Os animais emitem sinais,
nunca deixam de o fazer.

Reagem aos sinais, como uma aranha
a quem tocam na teia,

ou deixam sinais.

Reconhecer os vestígios,

os sinais do animal que ali passou,

é tudo.

O animal é o ser à espreita.

O artista está à espreita.

O escritor

escreve para captar leitores,
mas também em lugar dos leitores.

O escritor é um feiticeiro

pois vive como se só para consigo
fosse a sua responsabilidade.

Em todos os livros,

há metáforas animais para
descrever a morte de seres humanos,

um piar dorido, coisas assim.

Os animais sabem morrer.

Os Homens não.

Os Homens, quando morrem,
morrem como animais.

Como eles,
procuram um canto para morrer.

Foi o que fez este peixe.

Ele tinha de procurar
um canto para morrer,

pois os animais procuram também
o território da morte.

Eu gostaria de escrever no lugar
deste peixe que morre

e levar a linguagem aos seus limites.

És tão linda, pequenina.

Que belas orelhas tens.

Minha queridinha...

Segue-me, em segurança,
deixa-me levar-te para a morte,

roubar-te ao reino dos vivos e
assim ajudar-te a fechar os olhos.

Eis a morte,

aquela luz de esperança que vem
subitamente reconfortar-te.

Apressemo-nos. O tempo urge.

Matar muitos

e levá-los para o céu consigo.

O que é a tristeza?

Simplesmente, falta de coragem.

Matar muitos
e levá-los para o céu consigo.

O que é a tristeza?

Amo os militares

Vem

Grande pássaro negro

Vem já

A janela está aberta

Olha

Pus-te açúcar na janela

Os outros não compreenderão,
mas é um acto de amor.

Vem a mim

Abre as tuas macias asas

E pousa-as
Sobre os meus olhos febris

Por favor

Leva-me

Daqui

E voaremos alto

Atravessando o céu

Rumo a um novo tempo

Um novo mundo

E hei-de cantar

E hei-de rir

Hei-de gritar
Estás a brincar

Pois entenderei por fim

O significado de tudo

Para ressuscitares a tua irmã

é preciso aceitares tudo
o que ela te oferece.

Vem
Grande pássaro negro

Ajuda-me se podes

Encosta o teu bico húmido
À grande ferida aberta

Na minha pobre testa

Vem
Grande pássaro negro

O momento aproxima-se

Os outros dormem na cama
Profundamente

A enfermeira não nos ouvirá

Por favor

Leva-me

Daqui

E voaremos

Bem alto

Atravessando o céu

Para um novo tempo

Para um novo mundo

E hei-de cantar

Hei-de rir

Hei-de gritar
Estás a brincar

Pois entenderei por fim

O significado de tudo

Grande pássaro negro

Finalmente

Tenho saudades de te ver

Como é silencioso o teu voo

Meu Deus

Como é bela tua beleza

Vamos
Grande pássaro negro

Voa

Os meus amores
Ficarão em paz

Querida menina
Querida mamã, papá

Por favor

Amo-te.

Vamos

Percorrer o céu

Não estejas triste

Razão não há

Pois cantarei

E rir-me-ei

E gritarei
Estás a brincar

Pois entenderei por fim

Serei feliz