All language subtitles for GTM - Fin de siglo (2019

- Art Subs -
12 anos fazendo Arte para voc�!

Legenda
- NoriegaRJ -

FIM DE S�CULO

Kiss!

Nada... Oi.

Quer subir?

Terceiro andar,
apartamento 2.

- Ol�.
- Oi.

Entre.

- Sou Ocho.
- Sou Javi.

Quer beber algo?
Cerveja? Ou �gua?

�gua est� �timo, obrigado.

- N�o est� muito gelada.
- Tudo bem.

Voc� mora aqui?

N�o, � um Airbnb.

Estou passeando.
Moro em Nova York.

E voc�? Mora aqui?

N�o mais. Moro em Berlim.
Estou aqui a trabalho.

E para ver a fam�lia.

Tem certeza que n�o quer
me acompanhar com uma cerveja?

Est� bem.

- Estava na praia mais cedo, n�o?
- Estava.

- E por que n�o falou nada?
- Eu tentei.

Mas voc� desapareceu
na sua bicicleta.

Fiquei sentado na areia
te esperando,

mas voc� voltou
para a sua toalha.

Pois �, desculpe.

� muito complicado
todo esse jogo de xadrez, n�o?

- Te procurei no Grindr.
- N�o tenho Grindr.

Bem,
antes tarde do que nunca.

E o que voc� faz?

Dirijo um programa de TV,
para crian�as.

Die sendung wir der maus...?
Wiesendung wir der maus...?

N�o sei como se pronuncia,
mas tinha um colega de quarto

que era f� desse programa
infantil alem�o.

Ah, certo!
Die sendung mit der maus.

- Isso.
- N�o.

O nome do meu � em espanhol.
� para aprender espanhol.

Que legal!

Voc� est� de f�rias?

Isso. Estava trabalhando em Madri
e fugi por alguns dias.

- E o que voc� faz?
- Escrevo poesias.

Um poeta em Nova York, uau!

Mas ganho a vida
trabalhando numa empresa

onde fa�o marketing
para uma companhia a�rea.

Mas passo a maior parte do tempo
editando minha revista de poesia.

Que bom.

E onde est� ficando?

Aqui ao lado,
na casa dos meus pais.

- Ah, � por isso!
- Por isso, o qu�?

Que te vi do balc�o
caminhando de manh�.

E voc� s� vive no balc�o?

Calma! Vamos mais devagar.

Est� bem.

- Quer ir para o quarto?
- Claro.

Por aqui.

- Voc� tem camisinha?
- Hein? N�o.

S�rio?

� que estou tomando Prep.

Sim, mas...
prefiro transar com camisinha.

- Quer que eu v� comprar?
- Quero.

- Pronto!
- Comprou a loja toda?

� que uma senhora me atendeu

e comprei outras coisas
para disfar�ar.

Ah, n�o, n�o...
N�o gosto desta marca.

- Est� de sacanagem?
- � brincadeira.

- Como se chama o programa?
- O qu�?

O programa de TV para crian�as
que voc� dirige.

Est� pensando nisso?

� que depois que eu gozo
minha cabe�a viaja.

- "Perro Viejo".
- Cachorro Velho?

� um nome pouco tentador
para as crian�as, n�o?

E do que se trata?

� sobre um cachorro,
que � muito velho...

e que vive em um canil...

e ningu�m o quer adotar,
porque � muito velho.

Mas ele faz amizade
com todos os outros c�es...

que s�o jovens
e s�o logo adotados.

E eles contam
suas hist�rias de vida.

Cada epis�dio � uma hist�ria.

E o cachorro velho
tem um nome?

Cachorro Velho.

� um conceito bem alem�o,
n�o?

Pode ser.

Vou te trazer uma toalha.

Pode tomar banho aqui,
se quiser.

N�o, tudo bem.
Eu estou aqui ao lado.

- Voc� tem WhatsApp?
- Tenho.

Obrigado.

Vou te chamar
e ter� meu n�mero.

Claro.

Bem, obrigado por subir.

Obrigado por me convidar.

- Tchau.
- At� mais.

OCHO.
ENCANTADO DE TE CONHECER.

FOI �TIMO.

VOU DAR UM PASSEIO...
E TAMB�M COMER ALGUMA COISA.

VOC� TEM PLANOS?

DESCULPE.
ENTENDO SE N�O PUDER...

DESCULPE, ESTAVA NO CHUVEIRO.

- Que tal esse vinho?
- Acho que est� bom.

- Ah, queijos.
- Sim, n�o?

- Sim.
- Ol�!

Um pouco de queijo de cabra,
por favor.

- Este peda�o est� bom?
- Sim, est� perfeito.

- Queijo de cabra?
- Isso.

- Algo mais?
- N�o, s� isso.

- Certo, 6.10 euros.
- Certo. Tem 6.10 euros?

Sim. Com certeza.
Aqui est�, 10.

Obrigado.

- Sa�de!
- Sa�de!

Muito bem.

- E essa camiseta?
- O que tem ela?

- Voc� � um grande f�?
- N�o. � s� uma camiseta velha.

Camiseta velha,
cachorro velho...

- Exato.
- Cai bem em voc�.

Faz muito tempo
que se mudou para Berlim?

Tem cinco anos.

E no ano seguinte
conheci o meu marido.

- Ele � alem�o?
- �.

- E quando se casaram?
- No m�s que vem far� dois anos.

- E voc� � casado?
- N�o.

- Tem namorado?
- Tamb�m n�o.

Mas teve algum
relacionamento longo?

- Tive, por 20 anos.
- Caramba!

Muito tempo.
Metade da minha vida.

E quando se separaram?

Faz tr�s semanas.

Acho que provavelmente
acabaremos juntos.

N�s precisamos ver

como � ser adulto
sem ter um ao outro.

- Por qu�?
- Por qu�? N�o sei...

Me cansei de invejar as pessoas
que t�m liberdade total.

Que n�o tem
que responder a nada.

Sentia falta
de ficar sozinho.

E agora? Ainda sente falta
de ficar sozinho?

�s vezes sinto falta dele...

Mas tamb�m gosto muito
de estar sozinho.

- Ent�o, j� vou indo.
- N�o.

Me refiro a estar sozinho
mas em outra escala.

Como estar sozinho no mundo.

Creio que �
muito gratificante

n�o depender de ningu�m,
n�o precisar cuidar de ningu�m...

Fazer o que quiser
o tempo todo.

N�o sente falta
de ficar sozinho?

N�o. Mas quatro anos
n�o � a mesma coisa que vinte.

N�o, claro que n�o.

Al�m disso, sempre estamos
um pouco sozinhos, n�o?

Mesmo quando estamos
num relacionamento.

Sim, verdade.

Tamb�m existem v�rios graus
de se estar sozinho.

Suponho que sim.

E o sexo? N�o fica repetitivo
depois de vinte anos?

N�o.

Bem, foi mudando.

O tempo passou,
n�s dois crescemos...

tudo mudou um pouco...

Sempre tentamos ser
muito honestos com isso.

Como falar sobre coisas
que n�o nos excitavam mais

ou coisas que gostar�amos
de experimentar.

Entretanto, n�o � f�cil.

N�o sei.

� preciso muito trabalho,
dedica��o...

- E amor.
- E amor.

Porra, vinte anos...

Desculpe,
mas ainda estou em choque.

E com seu marido
tem uma rela��o aberta?

Sim, claro.

Quer dizer, com normas,
mas sim.

De todo modo, eu e meu marido
n�o transamos muito.

- Por qu�?
- N�o sei.

Mas tem muitos casais
que n�o fazem sexo, n�o?

Sim, � verdade.
Mas aconteceu alguma coisa?

N�o, n�o.

A repeti��o...

E tamb�m porque meu marido
n�o � muito comunicativo.

- E tivemos uma filha.
- S�rio? Casado com filhos.

Sim.

N�o � a primeira imagem que tenho
dos casais gays em Berlim.

Sim, mas existimos.

Quer?

E voc�,
n�o gostaria de ter filhos?

Eu? N�o.

Certo.

Bem, eu tamb�m n�o queria,
mas...

Meu marido sempre quis,
e me dei conta

que ele queria
bem mais do que eu,

e entendi o importante
que era para ele.

H� pouco tempo
escutei algu�m dizer

que se as pessoas boas do mundo
n�o tiverem filhos,

dentro de pouco tempo
o mundo vai estar cheio

de gente de mente fechada,
preconceituosa, racista,

e a melhor maneira de lutar
contra isso seria tendo filhos.

Sim, � verdade. Ainda mais
que minha filha � fant�stica.

N�o creio que possa falar em como
ser pai em geral, como conceito,

mas em como ser pai dela,
sim.

E tamb�m,

� um al�vio ter outra pessoa
al�m de mim

- para se preocupar com ela.
- Sim, imagino.

Uma vez, estava dormindo
com ela no quarto,

e ouvi um mosquito rondando,

mas estava bem cansado
e n�o queria levantar.

Mas de repente pensei
que n�o estava sozinho,

que estava com ela
e ela podia ser picada.

Ent�o me levantei,
procurei o mosquito e o matei.

A� foi a primeira vez
que me dei conta

que minhas prioridades
haviam mudado para sempre.

E ent�o voc� tamb�m tem
muitos medos que v�m com isso,

mas... bem...

N�o vamos falar
sobre isso agora.

Sabe...
Tenho uma sensa��o estranha.

Sinto como se
j� o conhecesse antes.

Claro que j�
nos hav�amos conhecido.

- Ol�?
- Ol�, Sonia. Sou o Ocho.

- Oi, Ocho. Abriu?
- Abriu.

- N�o veio de elevador?
- N�o est� funcionando.

Bem-vindo.

Oi, Sonia.
Desculpe. Te acordei, n�o?

N�o. N�o se preocupe.
Entre. Deixe sua bolsa.

Tem toalhas e len��is limpos
no arm�rio

e se precisar de mais espa�o
pode trocar as coisas de lugar.

- Obrigado.
- Estou fazendo ch�. Quer?

Ah, sim, �timo.

Tem encontrado com Eli?

Tem visto ele ultimamente?

N�o. Mas conversamos
h� pouco tempo.

Ele se mudou
para a Calif�rnia, sabia?

S�rio?

Ele sempre odiou
os Estados Unidos.

Que estranho.
O que est� fazendo l�?

Ele est� dando aulas de ioga.
Em um Centro de Iyengar Yoga.

Voc� sabe que ele se tornou
fan�tico pela �ndia, n�o?

Eu o levei
para a primeira aula dele.

Supostamente
ele foi dar aulas no centro

de algu�m
que conheceu na �ndia.

- Summer?
- N�o sei, ele n�o disse.

Sim, deve ser Summer.
Ela tem um centro em Sacramento.

Sabia que fui eu
que os apresentei?

Mas quando foi a �ltima vez
que falou com Eli?

A �ltima vez foi quando
nos separamos, na �ndia.

Foi a �ltima noite em Goa.

Est�vamos brigando muito
e decidimos nos separar.

E eu disse a ele:

"Tem um trem �s 4 da manh�
e um outro �s 12.

Voc� pega o das 4
e eu pego o do meio-dia."

Quando acordei,
ele j� tinha partido.

Nossas coisas
estavam t�o emaranhadas

que acabei n�o sabendo
o que era meu e o que era dele.

Me levantei naquela manh�,
naquele quarto de hotel e...

encontrei minhas roupas,
meus livros,

minha escova de dentes e...

me senti sozinha
pela primeira vez na minha vida.

O hotel era...

lindo.

Estava deca�do,
mas era lindo.

Ficava numa rua
bastante perigosa.

Acho que eles prometeram
pavimentar e consertar,

mas � claro
que isso nunca aconteceu.

Est�vamos sozinhos,
havia apenas duas pessoas,

um pai e um filho
com uma rela��o muito estranha.

Passavam o dia todo juntos
mas n�o falavam nada.

Se pareciam muito.

Talvez fossem amantes,
n�o sei.

Havia uma piscina

e...

ela ficava muito perto
do nosso quarto

em um p�tio interno
que t�nhamos.

E me lembro que pensei:

"Se eu pular nessa piscina
e sobreviver,

ent�o tudo ficar� bem."

E foi assim.

Pulei e sobrevivi.

E tudo tem estado
mais ou menos bem.

Imagino que voc� tomou um banho
imediatamente.

N�o, imaginou errado.

N�o havia �gua no hotel
das 10 �s 12.

Ent�o sa� da piscina e tive
que correr para pegar o trem.

Na semana seguinte eu tive
uma infec��o urin�ria terr�vel.

N�o sei se foi pela piscina
ou...

pela minha nova vida
de solteira.

Sempre pensei que Eli
estava apaixonado por voc�.

N�o. Acho que n�o.

- Qual � o nome da sua namorada?
- Esther.

Esther... tinha esquecido.
E como ela est�?

Bem, muito bem.

Nos encontraremos em Paris
na semana que vem.

E voc�?
Est� com algu�m agora?

Sim, estou.

Ele � muito diferente de Eli,
mas...

Bem, � um pouco parecido...
mas diferente.

Vai conhec�-lo.
Ele est� aqui o tempo todo.

QUERIDO E, ESTOU SENTADO
EM FRENTE A UMA FONTE.

ESTE � OUTRO PARA
SUA EST�PIDA COLE��O DE POSTAIS.

PENSO EM VOC�.

(A TINTA EST� BORRANDO)

Voc� est� bem?

Estou.
Me d� um minuto, por favor.

- Ol�.
- Est� se sentindo melhor?

Mais ou menos.

Voc� � o Ocho, n�o?
Sou Javi, namorado da Sonia.

Ah, ol�.

- Vou deitar um pouco.
- Se precisar de algo, me avise.

Obrigado.

Ol�.

O farmac�utico disse
para tomar dois destes.

E te trouxe isto para que coma
alguma coisa. Est� bem?

Ou tente beber algo,
pelo menos.

Obrigado.

Eu retiraria isso.

Esse corte parece muito bom.

HIV/AIDS E SEXO ORAL

Est� se sentindo melhor?

Sim. Um pouco melhor.

Ainda estou um pouco fraco.

Estou incomodando?

N�o, n�o.

Ao contr�rio.
Desculpe pela interrup��o.

Quer que cozinhe algo
para voc�?

N�o, obrigado.
Vou voltar pra cama.

Continue, desculpe.

- Bom dia.
- Ol�.

Est� melhor?

Um pouco melhor, sim.

Quer p�o?
Est� com fome?

Sim, �timo. Obrigado.

Obrigado pelos medicamentos
e tudo mais.

N�o se preocupe.

- E quanto eu te devo?
- O que est� dizendo? N�o.

- Como assim, n�o?
- Que n�o � n�o.

Ent�o, obrigado.

Quer caf�?

N�o, adoraria, mas acho
que n�o ser� bom pra mim.

- O que est� procurando?
- Um prato.

Aqui.

E Sonia?

Foi a Vigo
para ver a av� dela.

Vai ficar uns dias.
Pediu pra te dar adeus.

N�o a ver� mais.
Voc� vai amanh�, n�o?

Sim.

E quais seus planos
para hoje?

N�o sei,
acho que vou passear um pouco.

J� sabe onde vai?

Na verdade, n�o tenho ideia.

Tem algo
que eu n�o deveria perder?

Tenho o dia livre.
Se quiser, te acompanho.

- Tem certeza?
- Sim.

�timo.

- Voc� gosta de crian�as?
- Gosto. E voc�?

N�o sei.
Nunca tinha pensado nisso.

Porque eu era uma crian�a
h� pouco tempo,

parece que foi
um segundo atr�s.

- Mas voc� quer ter filhos?
- N�o. Voc� quer?

Quero sim.

� que sou filho �nico
e meus pais tamb�m.

N�o tive primos.

N�o sei, eu gostaria de ter
uma casa bagun�ada,

cheio de crian�as e barulho.
Sim, eu gostaria disso.

Talvez seja por isso. Minha casa
era assim, muito ca�tica.

Cinco irm�os, meus pais,
minhas duas av�s

e uma tia solteirona,
que era como outra crian�a.

Vou tomar um pouco de �gua.

E Sonia?
Ela quer filhos ou n�o?

N�o sei.
Nunca falamos sobre isso.

- Ent�o � Ocho com "ocho" filhos.
- N�o, n�o ser�o oito.

Por que Ocho? Perguntei a Sonia
mas ela n�o sabe.

Foi a primeira palavra
que disse.

Estava no colo da minha m�e
e mor�vamos no oitavo andar,

e ela pediu a uma vizinha que
apertasse o "oito" no elevador.

Eu repeti "oito", e meus pais
ficaram bem orgulhosos,

ent�o me fizeram repetir "oito"
aos parentes, amigos, e pegou.

- E como se chama de verdade?
- Gustavo.

- N�o tem cara de Gustavo.
- Como n�o? Tenho cara de qu�?

- Ezequiel.
- Pergunte como me chamo.

- Como se chama?
- Ezequiel.

Tamb�m n�o tem cara de Ezequiel.
Nem de nada disso.

Voc� n�o faz isso direito.

� impressionante a quantidade
de hist�rias necess�rias

para poder pintar algo assim,
n�o?

Porque naquela �poca n�o havia
outra maneira de registrar.

Algu�m devia contar ao pintor
como era a batalha.

Sim, claro.

Nunca havia pensado nisso.

E essas, quem s�o?

- Poxa, n�o te apresentaram?
- N�o.

Esta � a tia Roser.

Ela faz uns espaguetes
maravilhosos.

Esta...

Tia Mari Angels, professora.
Ela � ador�vel.

Sim, parece ser bem legal.

- Sim, verdade.
- Sim.

E aquela � a vov� Paca,
de Arag�n.

- Tem uma personalidade forte.
- Sempre quis conhec�-la.

E aquele � seu pai?

Sim. Bem, na verdade, meu av�.
Vov� Perot. Ele � arquiteto.

- Vou cumpriment�-lo.
- Claro.

Vou te mostrar
quando sairmos.

Voc� ver� que nas tr�s partes

h� uma linha negra
que � interrompida abruptamente.

E ele disse que era como a vida
desse homem que foi assassinado,

que � cortada porque algu�m
que tem o poder decide assim

e eles n�o t�m piedade.

Mas ele n�o sabia
que ele foi morto

no mesmo dia
em que terminou a pintura.

� como uma conex�o m�gica.

N�o racional, sabe?

� estranho,
mas agora que me contou isso

sinto que ao olhar para a pintura
n�o vai ser a mesma coisa.

Por qu�?

Porque agora tenho
a mente condicionada.

N�o sei, talvez tivesse sido
melhor ver o quadro primeiro,

ver como ele me faria sentir,
e depois voc� me contaria isso.

N�o sei se � necess�rio
ver a pintura agora.

Ent�o n�o vamos ver.
Eu j� o vi mil vezes.

Essas coisas s�o incr�veis.

Veja, esse aqui
foi desenhado por Dali.

- L� era onde est�vamos, certo?
- L� em cima. Debaixo da torre.

- Tem certeza?
- Claro!

Est� bem.

Me sinto mal
por voc� ter estado doente.

Te pe�o desculpas
em nome da cidade.

- Desculpas aceitas. Sa�de!
- Sa�de!

Mas a convalescen�a
acabou sendo boa.

Sim.

Enquanto eu estava l�
moribundo na cama

pude tomar
uma decis�o importante.

- Qual?
- Vou estudar Literatura.

Vai largar Economia?

Administra��o de Empresas.

Sim. Quero ser escritor.

Ou melhor que isso, quero ter
uma vida de escritor, n�o sei...

Algo que possa fazer � noite
ou de madrugada.

Ser escritor.

Uau, Ocho, que bom!
Um brinde a isso!

Sa�de!

- E um brinde ao seu filme!
- Sonia te contou?

Contou. Me disse que est� fazendo
um document�rio h� muito tempo.

Muito tempo mesmo.

E quando planeja termin�-lo?

N�o sei, porque...

� sobre o mil�nio,
ent�o...

se o termino muito depois de 2000
n�o vai ter sentido,

mas tamb�m preciso mostrar
a virada do s�culo

porque sen�o,
n�o ficar� completo, entende?

Bem, n�o sei.

Digo, sempre ser� uma impress�o
da sua experi�ncia.

Tamb�m acho.

E como te ocorreu a ideia?

Eu ia fazer um curta document�rio
e de repente me dei conta

de que todo mundo estava bastante
ansioso com a ideia do ano 2000.

Eu n�o penso muito nisso.

Voc� n�o se importa
com o fim do mundo?

N�o, na verdade, n�o.

Bem, meu filme � sobre isso.

Sei que o mundo n�o vai acabar,
que tudo vai continuar igual.

Bem, o n�mero vai mudar,
� alguma coisa.

� verdade.

Sinto que estou come�ando
a ficar b�bado.

� normal.
Ficou sem comer v�rios dias.

Mas � o equil�brio qu�mico
certo.

Puro presente, � perfeito.

- Mas, que merda, eu n�o estou.
- Me alcan�a, ent�o.

- Devemos comprar tequila?
- Devemos. E cigarros.

Certo.

O que � isso?

Deve ter ca�do
de algum varal.

Kiss! Fica bem em voc�.

Sua lembran�a de Barcelona.
Legal, n�o?

Que lembran�a de merda!

- White Russians?
- Korova Milk Bar.

- O qu�?
- Laranja Mec�nica.

- Sa�de!
- Sa�de!

Eu vi seus olhos

E voc� me fez sorrir

Por um instante

Eu estava me apaixonando

Eu vi seus olhos

E voc� tocou minha mente

Embora tenha demorado um pouco

Eu estava me apaixonando

Eu estava me apaixonando

Eu vi seus olhos

E eles me fizeram chorar

Por um instante

Eu estava me apaixonando

Eu estava me apaixonando

Estou me aproximando da costa

e percebo o quanto odeio
chegar a um destino.

A transi��o
� sempre um al�vio.

O destino
significa morte para mim.

Se algu�m pudesse descobrir
uma maneira

de permanecer para sempre
em transi��o,

no desconectado
e no desconhecido,

eu poderia permanecer

em um estado
de liberdade eterna.

E por que
n�o me contou antes?

N�o sei. No come�o eu pensava
que voc� sabia.

Voc� me chamou pela camiseta.

N�o me lembrava.
Quando voc� percebeu que era eu?

Te vi ontem � noite,
andando pela rua.

Eu estava com um amigo
em um bar.

- Da� a camiseta?
- De jeito nenhum!

Eu estava muito doente
naquela semana.

E muito b�bado
naquela noite.

Sim.

Estou come�ando
a lembrar das coisas.

E Sonia?
Continua em contato com ela?

- Ela morreu h� seis anos.
- O qu�?

Pensei que era amigo
do ex dela.

Eu sou.

Mas n�o falo com ele faz anos.
Como ela morreu?

Justamente em Nova York.

Ela foi l� para cantar,
e uma manh� saindo do hotel

um caminh�o de lixo
deu marcha � r� e atropelou ela.

Enquanto ela estava andando.

Nossa!

- Voc�s ainda estavam juntos?
- N�o.

Nos separamos um pouco depois
que voc� se foi.

Contei a ela
que ficamos juntos.

E ela me disse que j� sabia,

e que preferiria
confirmar suas suspeitas

mesmo que fossem tristes.

De qualquer forma, continuamos
sendo muito amigos depois disso.

At� usei os �vulos dela
para minha filha.

S�rio? Ah, que legal!

Sim, veja. Ela tem
um monte de coisas de Sonia.

Uau!

Ela tem o mesmo sorriso.

Os olhos tamb�m.

E principalmente
a personalidade.

Ela adora m�sica.

- Mesmo?
- Sim.

Sonia tinha uma voz incr�vel.

E se tornou
uma cantora do cacete.

Sim, ela ficou muito melhor.
Tem muitos concertos gravados.

Cantou
com as melhores filarm�nicas.

Adoraria escut�-la de novo.
Pode me enviar algo?

Claro!

Sabe...

Eu te procurei uma vez
no Facebook...

- Eu nunca tive Facebook.
- Sim, mas tem Grindr.

Bem, na verdade,
nunca fui muito consistente.

E o que teria dito
se tivesse me encontrado?

N�o me lembro.

E voc� terminou seu filme?

N�o?

Depois de 2000
perdi o interesse.

Mas ainda lembro
de algo que voc� me disse.

- Sobre o filme?
- Me ajudou muito

a focar mais na minha experi�ncia
e menos nas coisas que admiro.

Bem, as coisas que voc� admira
s�o parte da sua experi�ncia.

Sim, claro,
mas � muito f�cil se perder

tentando reproduzir
o que voc� gosta, n�o?

N�o sei se concordo com isso.

� estranho
voc� n�o ter tido filhos.

- Por qu�?
- Porque queria ter muitos.

Eu disse isso?

Bem, n�o sei.

Matt quis ter
em determinado momento.

Mas...

acho que mudei de opini�o
sobre isso, ent�o.

N�o sei...

N�o sou contra ter filhos,
nem um pouco, mas...

Acho que se tem que ter
muita vontade de ter um filho

para poder bancar depois
as dificuldades de ser pai.

Sim, � verdade.

Obrigado.

- Sa�de!
- Sa�de!

Ocho...

Acho que j� vou indo.

�?

� que tenho uma regra
com meu marido.

Mesmo sendo
uma rela��o aberta,

n�o nos colocamos
em situa��es que...

Est� bem. Claro.
Entendo.

Bem...

Fiquei feliz
que nos encontramos de novo.

Eu tamb�m.

E obrigado
por cuidar de mim

quando estive doente
h� 20 anos atr�s.

Por nada. Foi um prazer.

- Pensei que tinha AIDS.
- Por qu�?

N�o sei, uma bobagem.

Fiquei bem doente de repente
e fiquei paran�ico.

Olhei e li tudo na internet
e aquilo me deixou ainda pior.

E Sonia cantando
no quarto ao lado,

parecia a trilha sonora
do meu leito de morte.

A intensidade argentina.

Ent�o... termina aqui?
E n�o podemos ser amigos, n�o �?

Adeus, Ocho.

Javi?

Javi?

Javi?

O que houve, Oona?
Voc� gosta daquilo?

Bom dia.
Pode dar comida a ela?

Tenho que ir.

Vai com o papai. Upa!

Lembre-se que vamos limpar
o arm�rio esta tarde, certo?

Tchau, meu amor.
Tchau.

Tome.

Gostoso, n�?

Mais um pouco.

Quer esta?

Vamos descascar.

Est� boa, n�?

R�pido, r�pido, r�pido.

R�pido, r�pido, r�pido.

- Ol�.
- Ol�.

- Como foi?
- Bem.

Vimos Sonia cantando na rua.

N�o a deixam praticar mais
no apartamento dela.

Mas ela tamb�m gosta de brincar
de moradora de rua moribunda.

E tamb�m ganha
algum dinheiro.

- Ela comeu alguma coisa?
- N�o.

Leve ela pra cama,
est� exausta.

Ei! Comecei a separar as roupas.
Fiz duas pilhas.

Uma para doar
e outra que voc� tem que olhar.

Se n�o quiser nada da�
� para doar tamb�m.

- Esta � para ficar?
- N�o, para doar.

Mas este su�ter est� bom.

Mas tem uma mancha
atr�s do pesco�o que n�o sair�.

Esta n�o podemos doar.

Por qu�?
Voc� nunca a usa.

Temos que ser rigorosos,

se n�o usamos em um ano,
vai embora.

- O qu�?
- Nada.

- Quer transar?
- N�o, n�o se preocupe.

Podemos transar, se quiser.

N�o, s� � divertido
quando n�s dois queremos.

�s vezes um n�o quer tanto
quanto o outro

e n�o h� problema
em fazer um esfor�o.

O que houve?
N�o consegue dormir?

N�o, estou bem.

Voc� n�o fuma h� anos
mas ainda vem para o balc�o.

Acho que � mais saud�vel,
n�o?

At� que se prove o contr�rio.

Eu tive um...

Eu estive com algu�m
por 20 anos...

mas n�o era voc�.

- N�o era eu?
- N�o, n�o era.

E quem era?

N�o vou lembrar.

E por qu�?

Porque n�o me lembro de nada.

A �nica coisa que tenho certeza
� que n�o era voc�.

Mas se n�o lembra de nada
como sabe que n�o era eu?

N�o sei. Esta � a �nica coisa
que tenho certeza.

Passamos 20 anos juntos,
viv�amos em Nova York...

Em Nova York?

Talvez fosse eu.
Estamos juntos h� 20 anos.

N�o, mas tenho certeza disso.
N�o era voc�.

Bem...

Espero que n�o nos deixe para
procurar esse homem misterioso.

E quem disse
que era um homem?

A competi��o est� crescendo.

Vou deitar,
tenho que levantar cedo.

E voc� tem uma reuni�o
de professores, n�o �?

Tenho.

J� vou tamb�m
num instante.

FIM

FIM

DE S�CULO

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