All language subtitles for The Private Life of Elisabeth and Essex PT

Londres - 1596

Ap�s derrotar as for�as espanholas
em C�diz,

Robert Devereux, Conde de Essex,
marcha em triunfo para

o Pal�cio de Whitehall,
onde a Rainha Isabel o espera.

L� est� ele!

Que porte t�o nobre.

Deve ser maravilhoso
ser homem e her�i.

- Comporta-se como um rei.
- Os seus olhos olham sempre para cima,

� procura da rainha.
N�o � maravilhoso?

Sim, tamb�m o amor tem vit�rias.
E esta pertence a Sua Majestade.

Uma vit�ria f�cil,
quando se � rainha e se pode orden�-la.

E se Sua Majestade te ouve?

No dia em que o Essex regressa,

todos os saiotes s�o escolhidos
para lhe agradar.

Vem, filho,
vem para a sala de audi�ncias.

Fa�a como quiser, Pai.
N�o tomarei parte nisto.

N�o seja tolo, Cecil.
Isabel pode ser dif�cil at� nos dias bons.

Bons ou maus, pouco a veremos,
com o Essex de volta.

Algo tem de ser feito para o embara�ar,
ou partilhar� o trono de Inglaterra.

Como ficar�amos? Diabos me levem
se lhe dou as boas-vindas.

Podes ser enforcado, se n�o o fizeres.

Sabes da paix�o de Sua Majestade
por ele.

Majestade,
pe�o-vos que reconsidereis.

Essex � orgulhoso.
N�o podeis fazer-lhe isto.

Bacon, isto n�o ser� f�cil para mim.

O que quer que tenha feito,
� o homem que me � mais querido.

Sofra o que sofrer,
sofro mil vezes mais.

- Ent�o, porqu�, Vossa Majestade?
- Porque as necessidades de uma rainha

t�m de transcender as de uma mulher.

A ambi��o dele p�s em perigo
a prosperidade do povo ingl�s.

Pode fazer perigar a paz
e a estabilidade de Inglaterra.

Majestade, perdoai a franqueza, mas
o vosso amor faz perigar a situa��o.

Uma situa��o com graves
consequ�ncias para os meus s�bditos.

Os meus sentimentos pessoais
n�o dever�o interferir.

Deus me ajude.

Agora, v�. Deixe-me s�.

Vossa Majestade.

O meu leque. Depressa.

- Apresentar armas!
- Levantar!

Robert Devereux,

por gra�a de Sua Majestade,

Conde de Essex, general de cavalaria
e Cavaleiro da Ordem da Jarreteira.

Charles, Bar�o Howard de Effingham,
Grande Almirante de Inglaterra.

Walter Raleigh, cavaleiro, vice-almirante
da armada e protector do estanho.

Ajoelha-se em homenagem,
Lorde Essex...

...ou em vergonha?

Vergonha, Vossa Majestade?

Perdeu a audi��o,
al�m das suas capacidades militares?

Levante-se.

Creio que as minhas capacidades
foram demonstradas em C�diz.

O nosso comiss�rio n�o vos trouxe
not�cias da minha vit�ria?

A sua vit�ria!

H� tr�s anos que as chuvas apodrecem
as nossas colheitas at� � raiz.

Tr�s anos de fome
e de um tesouro depauperado.

Mas o Lorde de Essex
tinha a cura para isso.

Sim, sem d�vida.

"Dai-me 50 mil libras, senhora",
diz ele...

..."e partirei para C�diz e trar-vos-ei
uma frota do tesouro espanhola

que tornar� a Inglaterra rica de novo."

E foi o que fiz.

Tributei o meu povo j� sobrecarregado.

Arranjei-lhe as 50 mil libras.

Agora, onde est�
a minha frota do tesouro espanhola?

Vejam!

N�o sabe responder.
N�o se atreve a responder.

- Se Vossa Majestade me permitirdes...
- Fale, ent�o.

Infelizmente,
v�s chamastes a armada de volta,

antes da execu��o dos meus planos.

Infelizmente, a armada do tesouro
espanhola, com 12 milh�es de ducados,

est� sob as �guas do porto de C�diz,
afundada pelos pr�prios espanh�is.

Enquanto Essex, ignorando
o conselho de Howard e de Raleigh,

conquistou fama para si,
invadindo a cidade.

Nada mais havia a fazer.

- Foi para a gl�ria de Inglaterra.
- Para a gl�ria de Essex!

Isso alimentar� o meu povo faminto?

Poder�o alimentar-se da coroa
de louros da sua her�ica cabe�a?

Achais que est�o descontentes
com o que fiz em C�diz, senhora? Ouvi.

O povo ingl�s � mais f�cil de contentar
que a sua rainha.

Hoje, gritam o seu nome, mas que dir�o
amanh�, quando os tributar de novo,

para pagar aos soldados e � armada?

E as 1200 pe�as de artilharia
afundadas na minha vit�ria oca?

E a armada espanhola destru�da?

Gra�as a Lorde Howard

Parece que n�o tendes recompensa
para mim enquanto soldado.

O soldado suporta isso.

Mas o homem
esperava outro tipo de recep��o.

Talvez fosse bem intencionado...

...mas recompenso esfor�os altru�stas,
e n�o coisas feitas pela metade.

Sir Walter Raleigh.

A partir de hoje,
assume o comando da nossa guarda.

Lorde Howard.

Vossa Majestade.

Como gratid�o
pelo que tentou fazer em C�diz...

...sem pensar em si
e apenas para a honra do seu pa�s...

...nomeio-o vice-rei,
general de toda a Inglaterra,

comandante do ex�rcito e da armada,
e nomeio-o Conde de Nottingham.

Vossa Majestade.

- Isso � imposs�vel.
- Sil�ncio!

N�o. O Conde de Nottingham
ter� preced�ncia na corte sobre mim?

Ter� preced�ncia na corte
como teve na sensatez, em C�diz.

Tinha o comando e abusou dele,
p�s Essex � frente de Inglaterra.

Pensai isso, se o quiserdes, mas � uma
injusti�a pordes Howard � minha frente.

- N�o tendes o direito.
- N�o... N�o tenho o direito?

Como rainha, sim. Mas, como mulher,
nada significo para v�s?

Nada.

Lorde Essex!

Atreve-se a virar as costas
a Isabel de Inglaterra?

Atreve-se?

N�o teria admitido isso ao rei,
vosso pai.

Muito menos o aceitarei
de um rei de saiote.

Se o mensageiro chegar,
mande-o � minha presen�a.

Pode ir.

J� disse que � tudo.

- Ent�o?
- Com a indulg�ncia de Vossa Majestade,

- h� outro assunto.
- O que �? De que se trata?

Essex.

N�o proibi esse nome na corte?

Mas Sir Thomas Egerton recebeu uma
carta dele, da mans�o de Wanstead.

Eu sabia que o faria, Cecil.

Pediu a Egerton
que intercedesse por ele, claro.

Bom, talvez eu tenha sido
um pouco dura.

Que dizia a carta?

- Quando volta para casa?
- Tenho-a aqui.

Deixai-me ver.

Diz: "Devo a Sua Majestade
fidelidade,

� qual nunca poderei faltar,
nem nunca faltarei."

Pobrezinho.

Claro que est� arrependido.

Mas um pouco apreensivo, talvez.

Continue. Continue.

"Mas n�o tenho o dever de a servir.

Se tive esse dever,
a conduta de Sua Majestade cancelou-o.

Quanto a pedir-lhe perd�o, por que
pediria perd�o por ter sido insultado?"

Pare!

N�o.

N�o, continue. Quero ouvir.

"Quando sou sujeito � pior indignidade,
nem a religi�o me faz ceder.

O ultrajado fui eu.
Ela que me pe�a perd�o a mim."

"E, se ela recusar,

todo o seu poder
n�o ter� mais for�a para me oprimir

do que a for�a que tenho para resistir."

Cecil, isto � intoler�vel!

De certeza que foi escrito por Essex?

- N�o foi voc� nem os seus amigos?
- Majestade...

Deixe-se disso!

Seu sapo nojento.
Conhe�o a natureza humana.

Nada lhes agradaria mais do que ver
Essex despedir-se da cabe�a.

Vossa Majestade
n�o quer examinar a carta?

Dizem os boatos que a caligrafia de
Milorde de Essex n�o vos � estranha.

E dizem os boatos que tenho a m�o
pesada para a insol�ncia.

J� o esqueceu? Agora, saia.

- Mas, senhora...
- Saia, j� disse!

Robert...

Robert, n�o sei quem odeio mais.

Se a si por me fazer am�-lo...

...ou a mim por precisar tanto de si.

casa ancestral de Essex,
a nordeste de Londres.

Raramente houve um homem
t�o insensato e teimoso,

mas via a necessidade

de ter amigos
e de n�o fazer inimigos na corte.

Mas discute com a rainha porque ela
queria paz, e voc� queria guerra.

Guerra? H� uma guerra, com Espanha.

Uma guerra tola, medrosa e feminina,
como s� uma mulher travaria.

Deixe-me responder.

N�o est� a ser franco.

Quer fazer carreira como general,

esmagar Espanha, granjear um nome
como o de C�sar e atingir a fama.

Ganhou em C�diz
e conquistou o cora��o do povo.

Conquistou as suas vozes at� as ruas
ecoarem o seu nome � sua passagem.

Tenha cuidado. J� � demasiado popular.

Senhor, � mais amado que a rainha.

� esse o seu perigo.

Ela n�o permitir�
que um s�bdito a eclipse, n�o pode.

N�o se iluda, n�o o permitir�.

- Ent�o, tenho de esperar? Conter-me?
- Precisamente.

Porqu�? A minha origem
� melhor que a de Isabel.

O meu nome est� entre os condes
que estiveram com o Rei Jo�o.

O que os nobres ensinaram a um rei,
um nobre pode ensinar a uma rainha.

Fala de trai��o e de morte.

A velha ordem morreu.
A sua casa morrer�, se n�o aprender.

Estamos a lidar com Isabel.

O que � um rei, sen�o um homem,
e uma rainha, sen�o uma mulher?

H� um homem que ela teme,
e esse homem � voc�.

- E tem bons motivos para o temer.
- Temer-me? Porqu�? Sou-lhe leal.

� um homem dif�cil de governar...

...e tamb�m um general
popular e aclamado.

Al�m disso, ela ama-o,

o que o torna mais tem�vel,
quer a ame, quer n�o.

Am�-la?

Claro que a amo.

- Senhor, um jovem como voc�...
- Se fosse a cozinheira da minha m�e,

sem dentes e com uma perna de pau,
ainda ofuscaria as outras. � uma bruxa.

Tem miolos de bruxa.
Amo-a. Odeio-a!

Adoro-a.

Quanto a isso, voc� � que sabe.

Mas, senhor,
permita-me que o avise.

N�o conte muito
com os amores das rainhas.

Obrigado, Mestre Bacon,
por esse serm�o e por esse conselho.

Que provavelmente n�o seguir�.

Que provavelmente n�o seguirei.

- O caminho mais curto para Londres?
- Suba at� ao rio e depois siga-o.

Ent�o, tomaria o cavalo da rainha,
Aia Pen�lope?

� demasiado presun�osa
e inexperiente.

- Todos os cavalos s�o bons.
- J� vi que parece achar que sim.

A rainha protege o que � seu.

Por que n�o jogou?

- Se o fizer, eu...
- Toma o meu cavalo.

N�o � o que deseja?

Jogue.

Xeque, Vossa Majestade.

Receio que a rainha fique impotente.

A rainha nunca fica impotente.

Por exemplo...

N�o desejava jogar,
mas Vossa Majestade ordenou-mo.

Esque�a, crian�a.

� apenas um jogo,
e estou mal-humorada.

Estou farta.

Fa�a qualquer coisa. Cante, toque...

Divirta-me.

- Vossa Majestade?
- Ent�o?

Gostar�eis de ouvir a can��o
do Mestre Marlowe,

- "O Pastor Apaixonado ao Seu Amor"?
- O que lhe apetecer.

Por favor, Pen�lope, n�o.

- Vossa Majestade...
- Ent�o?

Sir Raleigh escreveu uma resposta
� balada do Mestre Marlowe.

Cant�-la-ei, se a Aia Margaret
cantar os versos de Marlowe.

Uma can��o ao desafio?
Com certeza.

Prossigam. Prossigam.

Ent�o, Sir Walter tornou-se poeta.

As palavras encaixar�o.

Uma mulher apaixonada
por um homem muito mais jovem.

Est�s louca, Pen?
Ela espancar-te-�...

...ou mandar-te-� para a torre.

Vem viver comigo
E s� o meu amor

Desfruta comigo
Os prazeres aqui em cima

Aqueles montes e vales
V�rzeas e campos

E tudo o que as montanhas
Arborizadas cont�m

Se eu pudesse ser
T�o jovem e bela como tu

E acreditar que o que cada pastor
Dissesse era verdade

Essas bonitas palavras
Poderiam convencer-me

A viver contigo
E a ser o teu amor

- Far-te-ei uma cama de rosas
- Nos votos de amor h� pouca verdade

- E mil ramos perfumados
- E o amor n�o vive sem juventude

Um chap�u de flores e uma saia

As flores murcham
Quando o Ver�o termina

- Bordada com folhas de murta
- O nosso amor morreu

Um amor que julg�vamos espl�ndido

Se estes encantos
Te fizerem mudar de ideias

Ent�o, vive comigo
E s� o meu amor

Mas se fosse jovem
E t�o amada

Talvez te guardasse para sempre...

Ent�o, sua alde� descarada,
desafia-me!

Atreve-se a ridicularizar a sua rainha?
Sua atrevida!

Voc�, que n�o mant�m os olhos,
nem o nariz

nem a sua pessoa no seu lugar!
Olhe para si.

O facto de um cavalheiro ter olhado
para si n�o lhe d� o direito

de vir � minha presen�a
vestida como uma meretriz.

Dispa-o, sua desavergonhada.
Desapare�a da minha frente!

Voc�s tamb�m. Ficam especadas
enquanto sou tratada desta maneira?

Tamb�m voc�s me acham demasiado
velha e feia para ser amada.

Levem-nos!

Est�o a ouvir-me?

Partam-nos.

Destruam-nos.

Partam todos os espelhos. N�o quero
voltar a ver nenhum em Whitehall!

Que � isto?

Que � agora?

Por que chora, Aia Margaret?

Venha c�.

Que tem a recear?
Voc�, a mais inocente de todas?

Olhe para mim.

Ou tamb�m acha o rosto da sua rainha
demasiado desagrad�vel?

N�o, Vossa Majestade.

Acho-vos muito bonita. A s�rio.

Mas estava a chorar, porque eu...

- Ent�o?
- Bom...

Um pouco por mim,
porque estava assustada e sozinha.

Por estar sozinha,
chorei tamb�m por v�s.

Chorou por mim?

Perdoai-me, Vossa Majestade,

mas tamb�m sei o que � amar algu�m...

...e n�o poder v�-lo nem ouvi-lo.

�s vezes, tamb�m me deixa irritada
e mal-humorada.

N�o fazeis ideia de como sou horr�vel,
quando n�o estou na vossa presen�a.

� mesmo?

E como � ele,
esse sortudo por quem sofre?

Ele � t�o alto...

...e o nariz dele enrola.

O nariz dele o qu�?

Quando se ri, o nariz dele enruga-se,
assim.

Ele ri-se muito, sabeis?

�s vezes, de mim.

Imaginem.
E � tamb�m bonito, sem d�vida.

Oh, senhora...

e tem os olhos azuis,
como cent�ureas, mas mais bonitos.

E, quando olha para mim...

Quem � esse modelo de perfei��o?

� Sir Peter Finchley, Vossa Majestade.
N�o vos recordais?

Sir Peter Finchley?
Sim, j� me lembro.

Um patife de ombros largos

e muito mais bonito que qualquer
homem tem o direito de ser.

Est� com as for�as de Bagenal,
na Irlanda, n�o est�?

- Quere-o de volta a casa, suponho?
- Mais do que qualquer outra coisa.

Ser� chamado de volta.

N�o sei como vos agradecer,
Vossa Majestade.

Mas duvido que venha.

Ordenar-lhe-ei que venha.

E, quando voltar a tom�-la nos bra�os,

d� gra�as a Deus por n�o ser rainha.

Mas pensei que ser rainha...

Ser rainha � ser menos que humana.

P�r o orgulho � frente do desejo...

...procurar ternura
no cora��o dos homens...

...e encontrar apenas ambi��o...

...gritar no escuro
por uma voz altru�sta...

...e ouvir apenas o restolhar seco
dos pap�is do Estado.

Olhar para o amado
com estrelas nos olhos

e ele ver por detr�s deles
apenas a sombra do carrasco.

Uma rainha n�o tem tempo para o amor.

O tempo urge,
os acontecimentos sufocam-na.

E, como protec��o...

...uma carapa�a vazia e brilhante...

...tem de abdicar do que �
mais precioso para uma mulher.

E agora...

...v� chamar o Mestre Francis Bacon.

- O Mestre Bacon?
- Imediatamente.

Sim, Vossa Majestade.

Os seus passos ser�o sempre t�o
lentos quando o chamar, Mestre Bacon?

Os meus passos perderam o h�bito
de serem convocados por v�s.

E a sua l�ngua n�o perdeu
a mordacidade, pelo que vejo.

V� dormir, e que tenha
sonhos de esperan�a.

� amigo de Lorde Essex, n�o �?

- Sou o que Vossa Majestade desejar.
- E o que o seu interesse ditar.

Mas conhece-o melhor
que qualquer outro.

- Por que n�o regressou � corte?
- N�o por falta de atractivos,

- mas talvez por orgulho.
- Que se dane o orgulho dele!

Tem de voltar para casa. Ordeno-o!

Precisais tanto que ele volte,
Vossa Gra�a?

Apenas para assuntos de Estado.
Compreende?

Perfeitamente, senhora.

Bacon. Bacon, pare de ser inteligente.

Estou demasiado cansada
para esgrimir consigo.

N�o posso obrig�-lo a voltar,
e sabe-o bem.

E � t�o est�pido, teimoso
e obstinado

que nunca regressar� de mote pr�prio,
a menos que me humilhe.

E nunca o farei. Nunca!

- Ouviu?
- Naturalmente, Vossa Majestade.

Naturalmente! � contra toda a natureza
que eu sofra assim.

Diga-me, que hei-de fazer?

Arranje maneira de o obrigar a voltar
sem ter de o punir.

N�o serei ingrata.

A minha recompensa
seria a vossa felicidade.

E a vantagem que teria em que ele
voltasse a ter os meus favores.

N�o o negarei, senhora.

Mas n�o sei como convenc�-lo sem
que nenhum fique com o orgulho ferido.

Talvez se eu dormir sobre o assunto.

O que �?

- Um mensageiro da Irlanda, Majestade.
- Mande-o entrar.

Vossa Majestade.

Vim...

Bacon. Vinho. Depressa.

Uma cadeira.

Permiti-me, Vossa Majestade.

- Perdoai-me, Majestade.
- Esque�a. Quais s�o as novidades?

Fomos aniquilados, na Irlanda,
Vossa Majestade.

Tyrone surpreendeu-nos.
Sir William Bagenal est� morto.

Todas as companhias, soldados,
armas e muni��es foram destru�dos.

Guerras, morte e fome
naquela terra infeliz.

E para qu�?

Uns hectares miser�veis
de p�ntanos infectos

e alguns camponeses andrajosos
que s� querem ser deixados em paz

para se matarem uns aos outros.

Bom, que o fa�am.

Vou p�r fim a isto.

Nem mais um homem ir� para a Irlanda.

E deixar Filipe de Espanha us�-la como
base? N�o esqueceu C�diz, lembrai-vos.

E quem controlar a Irlanda aponta
um punhal ao cora��o de Inglaterra.

Suponho que tenha raz�o,
mas estou farta deste banho de sangue.

A minha pol�tica sempre foi a paz,

e esta guerra foi-me imposta.

E a Irlanda...

Chamem um m�dico.

- D�em-lhe comida e alojamento.
- Sim, Vossa Majestade.

Um momento.

Que � feito de Sir Peter Finchley?

- Tamb�m morreu?
- Sim, Majestade. Foi derrubado.

Os meus agradecimentos.

Cuidem bem dele.

O nariz dele enruga-se quando ri...

...e tem os olhos azuis como cent�ureas.

E, quando olhava para ela...

Oh, Bacon...

...sou apenas uma mulher.

Terei de carregar o peso
e o sofrimento do mundo...

...sozinha?
- J� n�o, Vossa Majestade.

Se formardes um novo ex�rcito,
precisareis de um l�der.

- Quem?
- Essex.

Se exigirdes o seu regresso agora,
ele n�o poder� recusar.

- � o dever dele.
- O qu�?

E mand�-lo para a morte
e a ru�na na Irlanda?

Ent�o,
nomeai-o Comandante do Arsenal.

Nessa qualidade, ficar� em Londres
e dispon�vel para consultas.

V� ter com ele.

Diga-lhe que preciso dele.

Vossa Majestade.

Bacon...

...quando sair...

...pe�a � Aia Margaret Radcliffe
para vir falar-me.

Ser� um prazer, Vossa Majestade.

Pobre crian�a.

Pobre crian�a.

Sua Majestade n�o lhe pede, senhor.
Ordena-lhe que regresse.

O qu�? Ordena-me?

Insulta-me diante da corte,
e, agora, ordena-me?

Que v� para o diabo.

Se perder a cabe�a agora,
perd�-la-� a s�rio, mais tarde.

Est� a falar da sua rainha.

A minha rainha?

A bisneta de um despenseiro gal�s.

Que v� para o diabo. Ficarei aqui.

A sua resposta
agradar� aos que rodeiam a rainha.

- Porqu�? Como assim?
- N�o soube?

O Cecil coberto de honras.
O Coke nomeado Procurador-Geral.

E o Raleigh
a tentar ganhar os favores da rainha.

Todos os dias se aproxima mais dela
nos conselhos e na afei��o.

Raleigh, aquele sapo.

Ela comprou-lhe uma armadura de prata
cuja magnific�ncia ofusca o Sol.

Diz que ele ganha a afei��o dela?

Por falta de algu�m mais querido.
Ela ama-o.

- Mas, sendo mulher, tem o orgulho dela.
- O orgulho dela...

Ou�a, n�o h� segredos
para lidar com as mulheres.

S�o como esta. Fazemo-las passar
fome para lhes aumentar o desejo.

Se o prolongar,
elas despeda�am-no.

- Olharei por mim.
- Olhe por Inglaterra.

- Bagenal foi derrotado na Irlanda.
- O qu�?

- O Bagenal, derrotado?
- Morto, e o ex�rcito dele destru�do.

� por isso que Sua Majestade
lhe ordena que regresse. Precisa de si.

Claro que precisa de mim,

com patetas como o Raleigh
de volta dela.

- Mountjoy!
- Milorde.

Volte para Wanstead e fa�a as malas.
Vamos regressar a Londres.

Meu caro Sir Walter.

Ora, ora, ora.

Est� ainda mais espl�ndido
do que imaginara.

At� no meu retiro
soube dessa sua armadura de prata.

- Estava doente, e juro que me curou.
- Ainda bem.

Devia ouvir os elogios
que ouvi sobre si.

"Sir Walter anda de prata", diziam.

"O mundo foi superado."

- N�o precisa de os repetir.
- Mas insisto.

O desenho. O trabalho art�stico.

Veja, Bacon. Magn�fico, n�o �?

E disse para comigo:
"O grande homem."

� disto que precis�vamos...
Armaduras de prata.

Prata por toda a parte.
Oceanos de prata.

Sir Walter definiu o estilo,
o mundo segui-lo-�.

E, quando soube que Sua Majestade
o admirava, eu...

Esperem, cavalheiros. Um momento.
Guardas!

Mandei chamar os ourives

e mandei que produzissem armaduras
para a guarda pessoal da rainha.

Tenha cuidado.
N�o lido bem com os insultos.

Insultos?

Que insultos? Encomendou essa
armadura ao servi�o da rainha.

- Eu ordenei mais uma d�zia.
- J� lhe aturei muito!

E aturar� ainda mais!

Nada de brigas aqui.
Esqueceu-se de um certo compromisso?

- Bacon, protege-me?
- Protejo ambos.

Ria-se � vontade,
Lorde Essex. Venham, cavalheiros.

Outro serm�o? Venha, mestre.

Essex, quando perceber� que � crucial
n�o fazer inimigos na corte?

Farei amigos e inimigos
� minha vontade.

Agora, eles precisar�o
mais de amigos que eu.

Foi meu amigo e patrono.
A minha estrela est� ligada � sua.

Como n�o desejo ver essa estrela cair,
fa�o-lhe uma pergunta:

quando vir a rainha,
que tenciona fazer?

Apazigu�-la? Manter os favores dela
e o que est� associado?

Ou p�r-se contra ela
e confiar a sua sorte � popula�a?

N�o lhe responderei directamente,
mas digo-lhe isto:

nunca amei nem odiei
por pol�tica nem por um objectivo,

e arderei na eternidade
antes de come�ar a faz�-lo.

Compreende, n�o � verdade?

- Pen�lope.
- Senhor.

Fiz a rainha esperar?

Sua Majestade
esperaria por algum homem?

- Admiro a sua discri��o.
- S� a minha discri��o?

O que desejar.
Diga-lhe que cheguei.

Ela n�o est� pronta.

- D�-me um momento, senhor?
- Claro.

- Responda honestamente.
- Honestamente.

O senhor...?

O senhor ama a rainha?

- Amo, minha querida. Profundamente.
- Gostava que amasse algu�m

- que o amasse mais.
- Quem?

Ningu�m. Eu, talvez.
Algu�m que o amasse mais.

Porqu�? A rainha n�o me ama?

Ama, n�o ama.
Ama, n�o ama.

Por que me diz isto?

- Tenho medo.
- Por mim?

Ouvi-a andar de um lado
para o outro, � noite,

a noite inteira, a amaldi�o�-lo,

porque deve am�-lo
e n�o consegue evitar,

jurando uma terr�vel vingan�a
pelo amor que lhe tem.

Robert, tenha cuidado.
Enfurece-a demasiado.

N�o � assim
com todos os amantes?

N�o, eu nunca o amaldi�oei.

Se f�ssemos amantes, talvez o fizesse.
D� gra�as a Deus por n�o sermos.

N�o brinque.

Tenho medo.

- Prometa que ter� cuidado.
- Prometo.

- Vou dizer-lhe que est� aqui.
- N�o � necess�rio.

Quando a minha Pen�lope
passou por mim,

os olhos e os l�bios dela
pareciam mais suaves devido ao beijo.

Fui inoportuna?

� apenas uma crian�a irreflectida.

As crian�as
divertem-se umas com as outras.

J� come�amos
com insinua��es e acusa��es?

- Sabeis perfeitamente que...
- S� sei o que vejo.

Acha a Pen�lope encantadora?

H� outros homens para mim, al�m de si,
para amar e ser amada.

H� sempre o Egerton
ou Sir Walter, o belo, o...

O prateado?

N�o usar� mais prata � vossa porta.

Eu sabia que a prata o irritaria.

Que fez?

Vamos, diga-me. Que aconteceu?

Nada. Creio que a moda
se tornou demasiado popular.

Ele foi trocar de roupa.

N�o usar� mais prata � vossa porta.

N�o � estranho como os beijos de um
homem podem tornar-se iguais a outros?

Sim, sim. E os de uma mulher
podem tornar-se como os de outra.

- Mas n�o os meus.
- Nem os meus, vil� mentirosa.

- Impostora, maldita sejais.
- Maldito seja voc�.

- Dem�nio de lat�o.
- Prata, querido.

Deixe-me ser um dem�nio de prata.

Recorda-me o Raleigh.

O Raleigh?

Tendes de pensar sempre nele?

Que espera,

quando prefere as formigas
e os esquilos de Wanstead a mim?

Que dia � hoje?

Quinta-feira.

Volte quando estiver
mais bem-humorada.

Na pr�xima quarta.

Ou em qualquer quarta-feira,
no fim do Ver�o.

Qualquer Ver�o.

Ainda est� aqui?

- Se eu pudesse sair por aquela porta...
- N�o est� trancada.

Se fosse, voltaria como um tolo,
bem o sabeis.

Voltaria?

- Por que n�o me escrevestes?
- Por que n�o voltou?

Voltar? Fizestes saber
que n�o me receber�eis.

Talvez fosse sincera, na altura.

Se algum homem foi possu�do por um
dem�nio, sois o meu. Por que n�o...

E se algum dem�nio torturou uma
mulher, voc� � o meu e tortura-me!

Por amor de Deus, separemo-nos agora,
e depressa, ou h�-de piorar.

- V�, por favor!
- N�o irei!

Querido.

Venha c�.

Robert.

Robert, sejamos gentis
por um momento.

N�o, eu serei gentil.
N�o precisa de o ser.

� jovem e estranhamente doce.

E o meu cora��o chama-o,
onde quer que esteja.

E h� algo em mim que o atraiu.

Mas esta mesma coisa bela e horr�vel
que nos atrai...

...magoa-nos e cega-nos
at� nos atacarmos.

Sim, querida, mas...

Isto dura h� muito tempo...

...e vai piorando com os anos.

- Acabar� mal.
- Que havemos de fazer?

Tem de ir, querido.
N�o devo voltar a v�-lo.

Foi o que eu disse, quando me fui,
e aqui estou.

Tem de amar outra pessoa.
Perdoar-lhe-ei.

Tentar�eis perdoar-me.

- Mas perdoaria.
- Nada haveria para perdoar.

Tentei amar outras. � in�til.

Que outras?

- Ningu�m. Ningu�m.
- Que outras?

Todas. Centenas delas.
Milhares, se quiserdes.

Que significam as outras,
quando s� ou�o a vossa voz?

At� o vosso riso,
a tro�ar de mim, a desafiar-me.

Foi isso que me fizestes.

Longe de v�s, tudo me parece vazio.

E junto de v�s, tamb�m.

E que farei eu, quando se for?

Querida, se temos de discutir
quando estamos juntos,

ent�o, discutamos.
Pelo menos, estamos juntos.

Se queremos amar-nos,
temos de ficar calados.

- Pois, quando falamos...
- Ficarei calado, e v�s falareis.

Se ao menos me odi�sseis, �s vezes.

Se ao menos, �s vezes,
quando tenho raz�o, o admit�sseis...

...em vez de me contrariardes,
diga eu o que disser.

Por outro lado, meu amor...

...� t�o raro ter raz�o.

- Por exemplo?
- Por exemplo, C�diz.

Perda de homens.
Gastos elevados.

Devia ter imaginado
que tentar�eis acusar-me disso.

Penseis o que pensardes,
o que fiz agradou a Inglaterra.

� na minha fama que pensa,
ou na sua?

N�o elevou o seu nome o suficiente?

Apesar do que fez em C�diz,
n�o h� nome como o seu, em Inglaterra.

Se and�ssemos pelas ruas,
dariam vivas a Essex, e n�o a mim.

� por isso que n�o me deixais
atacar a Espanha?

� porque acredito na paz e n�o tenho f�
no que as guerras trazem.

A verdade � que me temeis,
temeis o que posso tornar-me.

Temo-o, sim, porque
se envaidece com os elogios de tolos,

ao ponto de achar que seria melhor rei
que eu, rainha.

Acha que governaria Inglaterra melhor
por ser homem.

Acho mesmo.

� por isso que falhais.
N�o pensais nem agis como um homem.

Arrepender-se-� dessas palavras!

O que quer dizer
� que n�o penso como voc�.

E por que haveria,
sendo eu mais sensata?

Qual � o seu plano?

Apoderar-se de Inglaterra?
Depor-me?

Sois muito belicosa, n�o sois?

� da educa��o que tive.

Nunca percebi quem era a minha m�e.

Mexeu-me com os nervos.

Sois filha de vosso pai, sem d�vida.

O mesmo mau g�nio,
o mesmo sangue quente.

Diga-me, querido...

...�s vezes, n�o o canso um pouco?

Nunca, querida.

E n�o se cansar� de mim?

Cansar-me de v�s?

Como poderia?

Teria de dizer isso, n�o �?

Porque n�o quereria magoar-me.

Porque sou a sua rainha.

Por isso, s� saberei que o perdi
quando todos souberem

e se rirem de mim.

Deixe-me acabar, querido.

Quando chegar a altura...

...e lhe parecer velha...
- N�o sois velha.

N�o vos quero velha.

Quando amar outra...

...seja gentil e diga-mo.

Far� isso?

Podereis matar-me, se o disser.

Amor...

...posso dizer mais uma coisa
que poder� mago�-lo?

Qualquer coisa.

Agora que voltou
e est� de novo seguro no meu cora��o,

o posto que lhe dei n�o o satisfar�.

Ansiar� por um novo comando,
por uma aventura distante.

Se souber que preciso de um general,
algures, prometa que n�o pedir� para ir.

Era isto que quer�eis? Obrigar-me
a fazer uma promessa cobarde?

- Receais que regresse em triunfo?
- N�o, meu querido. N�o.

Mas h� aqueles aqui na corte,
inimigos poderosos,

que adorariam v�-lo longe de mim

e que n�o olhariam a meios
para o levar ao desastre.

- Tenho medo de tais...?
- Pedi-lhe que n�o se zangasse.

Que n�o me zangasse?

Quando achais que n�o dou conta
de imbecis como Raleigh e os dele?

Muito bem.

V�, se quiser.

Apenas o amo
e digo o que seria mais sensato.

As coisas que mais adoro em si,
a sua honestidade, o seu orgulho,

s�o as coisas que eles usariam,
querido.

S� lhe pe�o que tenha cuidado.

Com certeza, pode fazer t�o pouco
por algu�m que o ama tanto.

Promete?

Prometa.

Prometo.

Agora, temos de ir...

...e falar da Irlanda.

O d�fice cresceu
para propor��es alarmantes.

� t�o grande
que j� n�o o podemos ignorar.

Que sugere, senhor?

Um aumento dr�stico dos impostos
ou uma s�rie de impostos adicionais.

- Kendrick n�o o aceitar�.
- Meus senhores...

...deixemos esta quest�o.

Temos mais alguma quest�o a tratar?

H� um assunto perp�tuo,
Vossa Majestade,

que discutimos sempre,
e que fica sempre por resolver:

a rebeli�o de Tyrone no Ulster.

J� n�o � uma brasa. � um inc�ndio
que alastra de Norte para Sul.

- Que significa?
- Homens. Dinheiro. Navios.

E, mais do que isso, um l�der.

Um lorde protector

que leve o fogo e a espada de ponta
a ponta, at� acabar com os rebeldes.

E quem � esse l�der?

A menos que esteja enganado...

...um general capaz e com provas dadas,
Lorde Essex.

Sem d�vida. Essex, Essex.

Obrigado.

Essex � Comandante do Arsenal.

Preciso dele aqui.

Quem mais?

Sir Walter disse-me, antes da reuni�o,
que iria, se o desej�sseis.

Mas ambos achamos
que Essex deveria ir com ele.

Em que qualidade?

Com um comando igual.

Dois generais, um vindo do Norte
e o outro, do Sul, para esmagar Tyrone.

E teria dois lordes protectores
na Irlanda?

Pens�mos nomear Raleigh
lorde protector.

E eu abaixo dele?

J� que a sua aventura em C�diz
terminou mal,

Raleigh deveria ter prioridade nisto.

A minha aventura em...?

- Isso � um insulto!
- Falo para o bem do Estado.

Nunca falou por causa alguma,
a n�o ser pela sua.

Parem imediatamente!

Quem o enfurece j� venceu, Essex.

Obrigais-me a engolir insultos
deste guarda-livros

que nunca brandiu nada mais perigoso
que uma pena?

N�o errou, em C�diz?

N�o lhe cabe diz�-lo.

E, se for para a Irlanda, irei sozinho.

Ir�?

Terei uma palavra a dizer.
N�o v� o que tentam fazer?

Vejo o que Cecil e os amigos s�o
com toda a clareza:

ratazanas que s� mostram os dentes
quando encurraladas.

- Essex!
- Curvam-se, sorriem, fazem mesuras

e passam as noites a puxar as cadeiras
e o ch�o debaixo de todos n�s.

Senhora, isto � fant�stico!

- Se vamos discutir...
- Fa�am o que quiserem da Irlanda.

Lavo da� as minhas m�os.

N�o duvidamos.
� uma tarefa dif�cil e perigosa,

por isso, como podemos censurar
Lorde Essex por se recusar?

Desafiam-me a ir?

Dai-me os homens necess�rios
e o comando.

Se n�o esmagar Tyrone, tirem-me
a espada. N�o voltarei a us�-la.

- Seu tolo!
- Eles desafiaram-me!

N�o importa.
N�o pode ir.

- N�o percebe?
- Claro que percebo.

Sei que, assim que partir,
tentar�o arruinar-me aqui.

E digo-lhes: "Tentem".
Irei e hei-de regressar.

E darei mais problemas a Raleigh
e a Cecil que antes de partir.

Agora, n�o podemos recusar
esta am�vel oferta, Vossa Majestade.

N�o.

Suponho que n�o.

O conselho est� dispensado.

Voltaremos a reunir amanh�.

- E a vossa decis�o?
- Est� tomada. Vou para a Irlanda.

Sim, v� para a Irlanda.

E v� tamb�m para o diabo!

Ent�o?

O meu bobo da corte disse, uma vez:

"Os melhores bobos
v�m da Irlanda,

mas apenas um bobo maior
iria para l�".

Devia ter os miolos do meu bobo,
e ele, os seus.

Ganharia com a troca.

Obrigado, Majestade.

Voc�!

Que estrela maligna se ergueu
no meu c�u, no dia em que nasceu?

� uma crian�a, no conselho.

Vi-os atra�-lo para isto,
e tentei avis�-lo, mas de nada valeu.

Por que n�o ganhar na Irlanda?

Ningu�m ganha l�.

A Irlanda foi fatal para todos
os comandantes que arriscaram a sorte.

At� os soldados mais inteligentes
o achariam dif�cil.

Mas est� t�o desejoso
de comandar um ex�rcito

que seguiria o Diabo
num ataque ao C�u.

Isso � algo que o Diabo n�o sabe.

O C�u � sempre tomado de rompante.

Robert,

n�o posso deix�-lo ir.

- N�o voltarei a v�-lo.
- Receios tolos, minha querida.

Lembrai-vos disto:

quando eu voltar
e tudo correr bem,

pensastes que tudo correria mal.

Aproxime-se
e diga-me que tudo correr� bem.

Correr�. Correr�.

Quer mesmo ir?

Sim.

N�o. N�o.

Mas disse que iria, e tenho de ir.

Ainda n�o � tarde de mais.

Lembre-se:

se perder, isso dividir-nos-�.

Se ganhar, tamb�m nos dividir�.

Vencerei, e nada nos dividir�.

� t�o dif�cil acreditardes em mim?

N�o.

At� lhe perdoarei, se precisar.

Tome.

O meu pai deu-me este anel

e disse para, se ele perdesse
a paci�ncia comigo,

lho levar,
e ele perdoar-me-ia.

Uma vez, muito tempo depois,

quando se tinha esquecido
e estava zangado...

...salvou-me a vida.

Se alguma vez vos zangardes,
os an�is n�o ajudar�o.

Sim, este ajudaria.

Pensaria em si como est� agora...

...e ajudaria.

Lev�-lo-ei...

...para vos recordar.

N�o. Leve-o por um motivo melhor.

Leve-o porque os anos s�o longos
e cheios de dias dif�ceis e cansativos

que nos transformam em pessoas
que n�o conhecemos,

para que n�s dois,
que agora nos amamos,

n�o acordemos, uma manh�,
estranhos e inimigos

num mundo estranho e distante.

Receais n�o me amar para sempre?

N�o.

Receio que n�o me deixe
am�-lo para sempre.

Irlanda

Para Essex e o seu ex�rcito, um
pesadelo de sofrimento, doen�a e morte.

Aparentemente abandonadas
pela rainha,

as for�as inglesas perseguem
inutilmente um inimigo ardiloso.

Cerrem fileiras.
Sabem o que acontece aos atrasados.

Flanco esquerdo, aproximar!

As nossas baixas s�o graves, senhor.

Baixas que espero e compreendo.

� esta constante persegui��o
a um inimigo em retirada,

atrav�s destes p�ntanos infectos,
cada vez mais longe da nossa base.

Um avan�o arrojado e r�pido, agora,
e ter�amos Tyrone encurralado.

Como podemos avan�ar sem armas,
muni��es e at� provis�es?

A rainha parece ter-nos esquecido.

� pior do que isso.

- H� um mensageiro de Londres, senhor.
- Finalmente. Onde est�? Chamem-no.

At� a �gua est� podre.

Venha.

- � s� isto?
- Sim, senhor.

- Nenhuma carta de Sua Majestade?
- � o que Cecil me deu.

Mente. Mente!

- Quem o subornou?
- N�o, senhor, juro...

- Espere. N�o fa�a isso.
- Ele mente, estou a dizer-lhe.

Ela n�o nos deixaria aqui
sem uma palavra, al�m despachos.

Como hei-de vencer os irlandeses,
se me nega homens, comida, armas

e nem responde
aos meus pedidos?

E nem uma palavra dela,
a n�o ser isto.

- Mas ainda n�o leu.
- O qu�?

Talvez ela...

Sim, talvez.

Essex, o que �? Ela...?

J� suportei muita coisa,
mas isto � de mais.

Ou�a.

"Lorde Essex
dever� dispersar o ex�rcito

e regressar imediatamente a Londres
para se entregar."

Devo regressar a Londres
para me entregar.

Ouviram?

- Entregar-me!
- Mas porqu�?

Porqu�? Bem pode perguntar.

Ter� feito uma alian�a com o Tyrone?

Complica a minha campanha
de todas as formas.

Agora que vou acabar com ele,

tenho de regressar a Londres
para me entregar.

- Ela � a rainha.
- E eu sou seu s�bdito.

Mas tamb�m sou homem,
coisa que parece ter esquecido.

Knollys.

- Senhor?
- Toque a alvorada.

Re�na todos.
Marchamos esta noite.

- Esta noite?
- Imediatamente.

- Para regressar a Londres?
- N�o. Para esmagar Tyrone.

Corneteiro! Toque o alarme.

Lembrem-se, n�o estou sozinha.

As provas s�o contra si.

A rainha deu-lhe cartas para enviar.

Se Essex n�o as recebeu,

Sua Majestade
conhece os seus sentimentos por ele

e concluiria que os seus ci�mes as
tinham destru�do. Ou estou enganado?

Por que confiei em voc�s?

Usaram-me.

Enganaram-me para vosso proveito.

N�o o admitirei. N�o o admitirei!

Direi � rainha.
Aconte�a o que acontecer, dir-lhe-ei.

Que intercept�mos as cartas deles!

Tem uma cabe�a e um pesco�o bonitos.

Seria uma pena separ�-los,
mas onde encontraria pena?

No cora��o de uma rainha ciumenta?

Sir Francis.

- Vai falar com a rainha?
- Sua Majestade mandou chamar-me.

Primeiro, falo consigo.

- Se � para me dizer o que j� sei...
- O qu�?

Tudo sobre o desvio de cartas
entre Essex e a rainha.

Que tenciona fazer?

Deixarei que a rainha me interrogue.
J� estou atrasado.

Se fizer acusa��es
que n�o possa provar,

ir� argumentar
sob o machado do carrasco.

- E se a rainha nada souber?
- Connosco, poderia ter qualquer cargo.

Se precisar de uma desculpa...

Encontrarei as minhas desculpas.

A rainha ama o reino e o povo acima
de todos os homens, sempre amar�.

Ser� nessa rocha
que o navio de Essex naufragar�.

N�o se preocupem com o que direi.

� um cata-vento...

...vira sempre para o lado
que lhe � mais favor�vel.

Sou um homem sensato.

Pen�lope!

Onde est� o Mestre Bacon?
Convoquei-o h� meia hora.

Isto � um desfile, cavalheiros?

N�o posso sair do meu quarto
sem os ver?

- Perd�o, Majestade, eu...
- Estou farta das vossas caras. Saiam.

Venha comigo.

Cuidado.

Mais uma vez, faz-me esperar por si.

Perd�o.
Sir Robert Cecil reteve-me.

- � amigo do Cecil?
- Nunca fui.

� um homem astuto.
� um bom l�der.

- Dar-se-ia bem na corte.
- Talvez.

Ent�o, por que n�o � amigo dele?

N�o estamos do mesmo lado.

Ainda � amigo de Essex?

Sim, Majestade.

- � um l�der perigoso.
- Perigoso?

- N�o tem os meus favores. Esque�a-o.
- Vossa Majestade...

Todos os amigos de Essex
v�o para a torre.

Ainda � amigo dele?

Sim, Majestade. � tudo?

- Sente-se.
- Mas, Majestade...

Sente-se.

N�o acredita em mim. Porqu�?

Se quis�sseis mandar-me para a torre,

j� l� estaria,
n�o se falaria disso.

� perspicaz. Talvez demasiado.

Se a honestidade fosse perspicaz,
teria mais favores.

Honestidade.

Se pudesse ter a certeza
de uma voz honesta...

Diga-me...

Ele n�o me deixaria ficar mal, pois n�o?

- N�o, Majestade.
- Ent�o, por que n�o me escreveu?

Escrevi-lhe o meu amor
uma vez e outra.

Diga-me a verdade, amarga ou n�o.

Por que n�o me respondeu?

Mandastes-lhe ordens indesej�veis?

Ele � muito orgulhoso.

Cortei-lhe os fundos e as provis�es,

ordenei-lhe que desmantelasse
o ex�rcito.

Enviar um l�der com um ex�rcito
e depois abandon�-lo,

- cobre-o de vergonha.
- Mas, antes disso,

escrevi-lhe com amor muitas vezes.

- E ele respondeu?
- Nada.

Francamente, como amigo de Essex,
isso n�o pode ser tolerado.

- Nem ser�.
- Mas n�o quero virar-vos contra ele.

Talvez tenha havido um mal-entendido.

Mal-entendido?

Ele tinha as minhas cartas, n�o tinha?

N�o tinha?

Se as enviastes,
dever� t�-las recebido.

Ele dir-lhe-ia, se elas n�o chegassem.

Teve not�cias dele, n�o teve?

- Sim, mas eu...
- Sim! Escreveu-lhe, mas n�o a mim.

Ou est� a mentir?

Penso que est�.

Penso que me mente.

� isso!

Mentiras, mentiras, mentiras!

Presa e estrangulada
numa selva de mentiras e de enganos.

Voc�! Tamb�m voc�, de in�cio,
me fez crer que n�o o trairia.

N�o.

N�o. Enlouqueci.

Todas as noites,
de um lado para o outro, no quarto.

Sem dormir, torturada,

dizendo: "Ele ama-me,
ele n�o me ama".

Ele n�o me ama,
e nunca me amou.

Pensou que me vergaria,
n�o escrevendo.

Que me vergaria, at� eu dizer:
"Sou sua.

Tudo o que sou e tenho � seu.
Corpo, alma e trono."

� isso. Ele nunca me quis.

Queria o meu reino.

Mas ainda sou rainha,
e isso ele nunca me tirar�.

Ainda n�o estou acabada...

...pois n�o, Bacon?

N�o, Vossa Majestade,
nunca estareis.

N�o, n�o.

N�o, n�o podemos continuar a segui-lo.

N�o o veja mais, meu amigo.

Movimenta-se em areias movedi�as.
Evite-o.

Sim, Vossa Majestade.

Agora, v�.

Portou-se bem. Confio em si.

Vossa Majestade...

- O que �?
- Um grupo de tr�guas, senhor.

Traga-os c�.

Toque o cessar-fogo.

- � o Lorde de Essex?
- Sou. Que � isto?

Tenho uma mensagem
do nosso general, Tyrone.

- Ent�o?
- Quer discutir a rendi��o.

Rendi��o?

Muito bem, mas com uma condi��o:
toda a resist�ncia termina de imediato.

J� terminou.

Indique o caminho.

� o Conde de Tyrone?

Se quiser.
Hugh O'Neill serve muito bem.

- � o Essex, presumo?
- Sou. Robert Devereux serve bem.

Tem sentido de humor,
e vai precisar dele.

- Rendi��o?
- Sim, rendi��o.

� um grande combatente, Tyrone.

� um prazer conhec�-lo finalmente.

Agora, vamos ao que interessa.

- As minhas condi��es...
- A suas?

Tem mesmo sentido de humor.
Sou eu que defino as condi��es,

ou talvez tenha compreendido mal.
Referia-me � sua rendi��o, n�o � minha.

Ora essa.
N�o tenho tempo para piadas.

- Est�o em fuga.
- Ai estamos?

Os rapazes andam aos saltos pelo
exerc�cio, para vos mostrar o caminho.

Para onde?
Para o cora��o do Ulster, suponho?

N�o, n�o pode ser.

- Est�o derrotados.
- Claro.

Tem a Irlanda inteira perante si, agora,
mas...

Olhe para o c�u.

O fumo que v�, meu amigo,
� o fumo do seu acampamento a arder.

A sua artilharia, a sua comida,
o pouco que tinha

e as provis�es aquecem
os cora��es da Irlanda.

A estrada est� destru�da.
Os seus guias voltaram para mim.

Os meus guias?

S�o homens meus.
Foi um prazer emprestar-lhos.

O meu ex�rcito
est� todo entre voc�s e o mar.

Resumindo, est� encurralado.

Talvez agora entenda
o que quis dizer com rendi��o.

N�o o farei enquanto tiver ex�rcito.
Lutarei.

Sem comida nem muni��es?

Seriam chacinados
ou morreriam afogados.

Deponham as armas
e salvem-se enquanto podem.

Se estou encurralado,
por que nos poupa?

Serei tolo a ponto de pensar que,
ao destrui-lo, destruiria a Inglaterra?

Se lut�ssemos agora,
mataria at� ao �ltimo homem.

Mas tamb�m perderia homens,

homens necess�rios para combater
o seu sucessor, na Primavera.

Deponham as armas, e empresto-lhes
os guias para chegarem � costa.

E se eu recusar?

Ser� o seu orgulho contra a vida
de cada um dos seus homens.

V� l�, Essex. Que me diz?
N�o depor�o as armas?

Entre si aqui
e a trai��o em Whitehall...

...parece que n�o tenho escolha.

Ent�o, aqui tem a minha m�o...

...e uma mensagem para a rainha,
agradecendo-lhe a vit�ria,

pois � o inimigo mais perigoso
que tive de enfrentar.

Se ela lhe tivesse dado o apoio
que a campanha merecia,

com toda a sinceridade,

seria eu a render-me hoje, e n�o voc�.

Dar-lhe-ei a sua mensagem...

...com o meu ex�rcito inteiro.

A multid�o s� grita o nome de Essex.

Foi o seu intelecto que nos meteu nisto.
Estamos muito gratos.

N�o seja tolo. Como haveria de saber
que Essex se revoltaria contra a rainha?

- Pensei que morresse.
- Mas desembarca em Gales,

rearma os homens e, agora,
marcha atrav�s de Londres.

Isso significa que estamos
em grandes apuros.

O que significa que deram uma passada
grande de mais para as vossas pernas.

Se Essex ganhar, est�o perdidos.

Se ele se reconciliar com ela

e houver explica��es sobre as cartas,
est�o perdidos a dobrar.

Vou falar com ela. Dar-me-� ouvidos.
Temos de os manter afastados.

- Fazer disto uma guerra entre eles.
- Sem d�vida.

Bacon tem raz�o.
Se Essex falar com ela, � o nosso fim.

Guarda, � direita.

Que � isto, Armand?

Sua Majestade
ordenou uma guarda para o trono.

Vai receber a corte
a esta hora da noite?

- � o que parece.
- Est� louca.

N�o � altura para uma reuni�o,
com Essex a caminho do pal�cio.

N�o pode enviar tropas?

N�o h� precedentes, mas � uma
emerg�ncia sem precedentes. Tentarei.

Apare�o pela primeira vez desde h� dias
e encontro apenas caras taciturnas.

Burghley, devia estar alegre.

Soube que tem ido ao teatro.

N�o, senhora.

Proibiu Ricardo II,

do Mestre Shakespeare e dos seus
actores, sem me consultar.

- Porqu�?
- A pe�a � uma trai��o, Majestade.

Mostra a deposi��o de um rei.

E depois? O meu povo � t�o manipul�vel
que sairia do teatro a correr,

para depor a sua rainha?

Quem aqui presente
receia uma rebeli�o contra mim?

Eu n�o, com certeza.

H� murm�rios, Vossa Majestade.

Deixem-nos murmurar.
Deixem-nos gritar.

Quando se cansarem,
embebedar-se-�o,

dormir�o profundamente
e acordar�o sensatos.

Vossa Majestade, pe�o que me
recebais em privado, por um momento.

J� respondi a esse pedido, hoje.

Se Vossa Majestade soubesse
do que se trata...

E sei.

Lorde Essex vem a caminho.

Que venha.
Gostarei de o ver.

Que traga a sua revolu��o com ele.

Quanto tempo acha que durar�,
quando eu a enfrentar?

Por favor. H� muitos soldados
dispon�veis. Deixai-me...

Se me permite, n�o o farei.

Burghley, fique onde est�, todos voc�s.

Esta corte contorce-se como enguias.

N�o ser�o enviadas tropas, n�o haver�
guarda, nem qualquer medida defensiva.

Majestade, h� uma multid�o
a juntar-se na cidade.

� verdade, venho de l�.

Entraram na Rua Fleet de rompante
e invadiram uma adega.

Diz-se que atacar�o a pris�o de Fleet
e que libertar�o os prisioneiros.

Invadiram uma adega.
N�o ir�o mais longe.

N�s, os ingleses, somos
um povo maravilhoso

- mas n�o sabemos beber.
- Mas, Vossa Majestade...

Que dizem esses beberr�es?

- "Viva Essex, fora Isabel"?
- Sim, Majestade.

Claro. Que mais haveriam de gritar?

"Viva Essex. Viva!
Fora Isabel. � bas.

A rainha morreu.
Viva o rei."

Se estivesse l�, tamb�m eu o gritaria.

Soa maravilhosamente.

"Viva Essex, fora Isabel."

- Vossa Majestade.
- Ent�o?

Lorde Essex entrou.
Vem para c�.

- Ordenei � guarda que o impedisse.
- Deu ordens contra os meus desejos?

Teve de ser, Majestade.

- S� esperam o vosso sinal...
- Que nunca darei.

Isto � uma loucura.
A cidade inteira apoia-o.

Ouvi dizer.

Que vos preocupa?
Eu, ou a vossa pele?

Majestade, se nada fizermos,

v�s e o vosso reino
ficar�o � merc� de Essex.

Homenzinho, homenzinho,
deixe-me em paz.

Para tr�s, senhores!
Para tr�s, j� disse!

Deixem-no entrar.

Vem acompanhado de homens armados

para a minha sala do trono,
Lorde de Essex?

- Preciso deles, Vossa Majestade?
- N�o.

� o que veremos.

- Disseram-me que n�o me receber�eis.
- Estavam enganados.

Vou receb�-lo.

Apresente as suas queixas, se as tem.

Tenho um grande afecto por rebeldes,

sendo eu pr�pria frequentemente uma.

Vossa Majestade acha que sou rebelde?
N�o.

Apenas venho da Irlanda
com not�cias dos vossos s�bditos de l�.

Mas tem o seu ex�rcito
aqui consigo.

Apenas trago os meus homens
para casa.

N�o recebeu as minhas ordens
para desmantelar o ex�rcito?

Vossa Majestade n�o sabe
que um ex�rcito � solta � popula�a?

Os seus fundos foram suspensos.

- Quem lhes paga?
- Eu.

Agora, est�o ao seu servi�o?

Ao meu servi�o.

Bom, uma resposta honesta.

Por que haveria de mentir?

E a Irlanda? Que h� com a Irlanda?

Deixei-a pior do que a encontrei,
e Tyrone agradece-vos por isso.

- Se tiv�sseis apoiado os meus planos...
- Que planos?

Lerei as mentes, para saber
o que se passa do outro lado do mar?

- Por que acha que mandei que voltasse?
- Eu escrevi.

Sim, cartas magistrais. Breves, directas
ao assunto, sem desperdi�ar palavras.

Em suma, nada.

N�o � verdade.

Escrevi-vos muitas vezes,
com pormenores,

pedindo a vossa ajuda e confian�a,
e nada obtive em resposta.

Nem homens, nem armas, nem comida.

Se me tiv�sseis apoiado, teria derrotado
Tyrone e feito a paz num m�s.

Escreveu-me cartas?

N�o uma, mas muitas vezes.

- E n�o recebeu cartas minhas?
- Nenhuma.

Por Deus...

...se as nossas cartas foram desviadas,

rolar�o muitas cabe�as.

Quero falar com Lorde de Essex a s�s.

- Majestade, achais seguro?
- Deixem-nos, todos voc�s!

Esperem l� fora.

Ponham homens nos corredores.
Ningu�m entra nem sai.

Sim, senhor.

Sigam-me.

Robert, que me escreveu?

No in�cio, escrevi do meu amor.

Depois, quando n�o tive not�cias,
escrevi irado...

...mas acabava sempre
por vos dizer o mesmo.

Que vos amo.

- E v�s?
- Tamb�m eu escrevi do meu amor.

E desejei que Deus o protegesse.

Quando n�o tive resposta,

escrevi sabe Deus que loucuras,

- porque achei que perdera a f�.
- Devia ter imaginado.

Perdoai-me.

Nunca deveria ter ido.

Odiei-o...

...planeei mandar tortur�-lo.
- J� fui torturado o suficiente.

Quando n�o tive not�cias vossas...

Eu...

Ainda n�o consigo pensar.

N�o consigo respirar.

Abrace-me.

Poderemos voltar a acreditar?

Poder� voltar a ser como era?

- Ainda me ama?
- Amar-vos-ei para sempre.

Sim.

Sim, se fosse mentira,
sab�-lo-ia agora...

...e morreria.

Sabe...

...pensei que...

...por ser mais velha...

...pudesse haver outra pessoa.
- Ningu�m. Nunca.

- N�o mudou?
- N�o.

- N�o?
- N�o.

Sim, um pouco.

Acho que nos mudaram um pouco.

A mim n�o, querida.

Apesar daqueles meses horr�veis.

E embora tenha voltado
em pose de desafio...

...na verdade, voltei para vos encontrar,
pois tinha-vos perdido.

E encontrou-me de novo.

Querido, nos poucos anos
que nos restam,

- n�o voltemos a desconfiar um do outro.
- Nunca.

Tome-me a mim, a minha vida,
o meu mundo,

o meu presente e o meu futuro
nas suas queridas m�os.

Ficar� atr�s do meu trono

e, juntos, construiremos uma Inglaterra

que deixar� o velho mundo maravilhado.

Que se passa, meu querido?

Tenho de ser honesto convosco.

Trouxe o meu ex�rcito em parte por ira,
mas principalmente por amor.

Mas o que me fez faz�-lo foi outra coisa,
algo dentro de mim.

Algo que n�o sei explicar.

Se tiv�sseis mostrado ira, teria sido
mais f�cil falar. Agora, n�o � f�cil.

Talvez n�o precise de me dizer.

Amando-o tanto,
conhe�o-o melhor que voc� pr�prio.

Essa coisa n�o � ambi��o,

- uma sede de poder?
- Sim, mais forte do que eu.

E mais profunda que o amor?

� verdade.

O trono � vosso
por heran�a e por direito,

mas, se fossem tempos mais livres
e o povo elegesse,

eu teria varrido o pa�s.

J� que somos iguais no amor, por que
n�o podemos ser iguais no poder?

- Mas somos. Fi-lo igual.
- N�o.

Continuais a poder dar-me ou tirar-me
o que vos apetecer.

- Pode ser de outra forma?
- Pergunto-vos com devo��o.

N�o mere�o tanto ser rei como v�s
rainha? Tendes de governar sozinha?

Querido...

� t�o novo na pol�tica.

Se lhe concedesse isso,
sabe o que as pessoas diriam?

Que me tinha obrigado
atrav�s de uma revolu��o...

...e toda a seguran�a...

...que constru� para elas ao longo de
anos de planeamento seria destru�da.

� o verdadeiro motivo,
ou n�o confiar�eis em mim como rei?

N�o, n�o confiaria em si. N�o.

Tendes ci�mes dos vossos direitos,
do trono.

Sim.

Ent�o, com a corte nas minhas m�os,
o pa�s meu e v�s minha prisioneira,

tenho de desmantelar o meu ex�rcito
e devolver-vos o reino?

Eu, sua prisioneira?

Claro. O trono est� � minha merc�.

Ent�o, � esta a sua lealdade?

� este o seu amor?

Bom, pelo menos,
agora sei o que queria.

E t�-lo-�.

- O vosso trono?
- Sim, aproveite-o bem.

Farei o mesmo.

Quais s�o os seus planos?

- N�o tenho nenhum.
- A torre? O carrasco?

Tendo sido rainha, sei como s�o �teis
para consolidar o poder.

N�o pode tomar uma rainha como
prisioneira sem pensar no destino dela.

A minha m�e fez aquele percurso.
Posso faz�-lo tamb�m.

- Sabeis que sois livre como o ar.
- Sou sua prisioneira.

Minha querida prisioneira.

Acabemos com os fingimentos.

- Nem me ama, nem me quer.
- Amo-vos e quero-vos.

Sim, e quero tamb�m poder.

- Mas n�o sem v�s.
- N�o...

...se me quisesse,
atacar-me-ia com um ex�rcito?

N�o. Teria vindo sem alarido...

...e teria falado comigo na altura certa.

Mas, agora, n�o.

J� tomou o que realmente queria.

Agora, este trono � seu...

...mas eu n�o sou sua.

Ponha-me onde lhe farei menos mal.

Sabeis que nunca o farei.

Prometei-me
que partilhareis o trono comigo,

e desmantelarei o meu ex�rcito
e sereis livre.

Prometi-o.

Partilhar� o meu reino comigo.

Como rainha, prometo-o.

Ent�o, eis a resposta, minha rainha.

Mountjoy.

Dispense os soldados.

Devolvam o pal�cio � rainha, libertem
a guarda e mandem-na para os postos.

- Essex, tem a certeza?
- Est� tudo bem, Knollys.

Querida...

...perdoai-me...

...e que seja a nossa �ltima briga.
- Sim, a �ltima.

� o C�u, surgido do sofrimento e da dor.

Minha querida.

N�o falemos mais de reinos
nem de tronos. Falemos de n�s dois.

Sim. Sim, esque�amos o outro.

Mas cumpriu a sua palavra?

A minha palavra?

Se eu batesse palmas, agora,

que guarda viria?
A minha, ou a sua?

- Apenas a vossa. Chamo-os?
- N�o. Espere.

Eu chamo.

- Vedes?
- Vossa Majestade.

Capit�o Armand...

...o pal�cio est� nas nossas m�os?

Sim, Vossa Majestade.

E os homens de Lorde Essex?

Foram-se, Vossa Majestade.

Foram precisos muitos anos
a governar a Inglaterra, meu Essex,

para descobrir que um governante
n�o pode ter amigos,

nem piedade, nem amor.

Detenham Lorde de Essex.

- Det�-lo?
- Detenham-no. Levem-no para a torre.

� uma brincadeira?

Nunca brinco quando jogo por reinos,
Lorde de Essex.

E confiei em v�s.

E eu, em si.

E aprendi consigo
que n�o se pode confiar em ningu�m...

...muito menos num amante.

Lembrar-me-ei disso.

Tende cuidado, Vossa Majestade.

Que seja a �nica coisa
que tereis de lembrar.

Terei cuidado.

- Sua Majestade est� na torre?
- Sim, senhor.

Mudou-se para o seu apartamento
h� duas noites.

- N�o h� not�cias para mim?
- N�o, senhor.

� quase dia, Vossa Majestade.
N�o dormistes.

Pe�o-vos que vos retireis
para descansardes um pouco.

Perdoai-me, Majestade.

Sim, Majestade.
Fui eu que interceptei as vossas cartas.

N�o poderiam t�-lo feito sem mim.
Essex, julgando-se esquecido,

virou-se contra v�s,
mas a culpa n�o foi dele.

Ele n�o sabia. A culpa foi minha.

Diz-me isso porque quer salv�-lo?

Sim, sim, quero. Mas � a verdade.

Tendes de acreditar em mim.

Mande cham�-lo.

Se for verdade...

...percebe que ditou a sua pr�pria
senten�a de morte?

Sim, eu sei, mas n�o importa.

Nada, nada importa, a n�o ser ele.

Pen�lope, aproxime-se.

- Ama-o muito, n�o ama?
- Sim, Vossa Majestade.

Eu tamb�m, mas ele nunca me amou.

Mas ele ama-vos.

Tive ci�mes de v�s. Foi por isso...

Ci�mes?

Pobre crian�a.

Porque ele vos amava,
e n�o a mim.

Ele disse-mo.

Que disse ele?

Disse: "Amo-a mais que a vida".

Avisei-o para ter cuidado,
mas ele riu-se e foi ter convosco.

Talvez devesse ter confiado mais nele...

...mas agora � tarde de mais.

Ningu�m morre contente, rainha ou n�o.

Acha que ele me mandar� o anel?

Ainda h� tempo.

N�o, agora n�o.

� o fim.

N�o, n�o. Tendes de mandar busc�-lo.

Ele � t�o orgulhoso como v�s.
Nada dir�.

Tendes de mandar busc�-lo.
Trazei-o aqui.

N�o.

Eu viverei, e ele morrer�.

Andarei por a� e darei ordens...

...por um horr�vel bocado.

Mas, embora o meu cora��o
v� para a sepultura com ele...

...nunca mandarei busc�-lo.

Ter� de pedir para vir at� mim.

Pedir�. Pedir�.

Eu disse-lhe.

Enviou algu�m para pedir.

Entre.

- Com vossa licen�a, Majestade.
- Ent�o?

Londres inteira est� � porta
a protestar contra a execu��o.

N�o tenho ouvidos?
N�o os ou�o? O que tem?

O capit�o da guarda pede permiss�o
para usar a for�a.

Ent�o, foi por isso que veio falar-me?

Pensei que trouxesse not�cias.

Lorde de Essex n�o aceitaria pedir
clem�ncia atrav�s de mim, Majestade.

E por excelentes motivos.

Nunca p�de ter a certeza
de como entregaria a mensagem.

� o seu dia, Cecil.

A cobra na erva persevera.

Sim, a mente da cobra � a melhor.

Assim ser� at� ao fim dos tempos.

As cobras e as ratazanas
prosperar�o,

e os nobres e livres de esp�rito cair�o.

Mas, se me permitis,
a multid�o � perigosa.

- Se puder dar ordens � guarda...
- N�o pode.

Mas dar-lhe-ei uma tarefa
menos do seu agrado.

V� � cela de Lorde de Essex
e mande-o vir c�.

Ficou surdo?

Mas, Majestade, Lorde Essex
prepara-se para a execu��o.

- Neste momento, um padre...
- V�, j� disse.

Oh, Vossa Majestade.

Pen�lope...

...olhe para mim.

O que v� aqui � o que ele ver� tamb�m.

Mas, Vossa Majestade,

estais cansada e desgastada,
e a vossa beleza...

Desapareceu...

...e deixou uma m�scara amarga
e envelhecida.

N�o preciso de um espelho
para mo dizer.

E voc� ainda � jovem e bonita.

E ele tamb�m � jovem e belo.

E, se ele olhar para si...

...e depois para mim...

Pen�lope...

...importa-se?

N�o pode estar aqui, quando ele vier.

Mandastes chamar-me.

Sim.

Estragais-me para a morte.

N�o teria sido melhor
deixar-me com os meus pensamentos?

Est� assim t�o decidido a morrer?

N�o posso dizer que me agrada...

...mas, se tem de ser,
� melhor que aconte�a depressa.

Devia saber
que nunca quis que morresse.

Fui considerado culpado de trai��o.

- A trai��o � pun�vel com a morte.
- Robert.

Seja bom para mim, s� desta vez.

Tamb�m sou orgulhosa,
e amarga, com bons motivos...

...mas falei primeiro.

Mandei busc�-lo.

Vai humilhar-me ainda mais...

...e obrigar-me a dizer-lhe
o quanto ansiei por si?

Podeis dizer-me isso, porque nada
tendes a ganhar ou a perder.

Mas, se eu vos dissesse
que vos amo...

...poder�eis pensar que o fazia
para me salvar.

Ainda me ama?

N�o, nunca me amou.

Eu amei-o.

E era o caminho mais curto
para o poder.

Esta � a hora da verdade,
por isso, deixe-me falar.

Sou mais velha que voc�,
mas sou rainha...

...por isso, talvez fosse natural que me
lisonjeasse e que eu acreditasse.

Sim, sim.
� verdade, se o desejardes.

E, agora, posso ir?

A morte n�o me sai da cabe�a
e torna-me m� companhia.

Mas lembrai-vos disto: eu amei-vos.

- Ainda me ama?
- Sim.

Ent�o, por que n�o me mandou o anel?

Ter-lhe-ia perdoado tudo,
a qualquer hora do dia ou da noite.

Esperei, pensando que viria.

E as noites passaram como os dias,
e nunca chegou.

E aqui est�, a �ltima manh�,

- o �ltimo quarto de hora.
- Mesmo que acreditasse em v�s,

- n�o poderia t�-lo mandado.
- Por que n�o?

Porque, se tentasse cobrar-vos
a promessa e a quebr�sseis...

...morreria mais infeliz do que sou.
- Mas eu teria cumprido a promessa.

Cumpri-la-ia agora.

Se vos desse o anel, perdoar-me-�eis,
amar-me-�eis como antes?

Sim. Tudo como antes.

E que aconteceria ao vosso trono?

Ao meu trono?

- Nada.
- � a� que vos enganais,

pois tentaria tirar-vos o trono.
J� joguei por poder, antes,

e perdi, mas se...

Ouvi.

Ouvis, Isabel?

O povo est� comigo.

E, se tivesse outra hip�tese, ganharia.

Por que me diz isto?

- N�o sabe que significa...?
- A minha morte?

Sim, eu sei.

S� vos digo porque vos amei,
ainda vos amo.

Nunca poderei aceitar o vosso perd�o

sem que saibais a verdade
e a enfrenteis.

Portanto...

...� melhor que me v�.

Robert, n�o pode.

N�o pode ir assim.
N�o permitirei.

Amo-o.

Ent�o, abdicais do trono?

N�o, n�o, n�o. N�o posso.

E falais de amor. Um amor
que se agarra a um trono de ouropel.

Robert, espere. Ou�a.

Amo-o. Sempre o amarei...

...at� ao fim da minha vida...

...por muito longos e solit�rios
que os anos seguintes possam ser.

Mas h� outro amor,
maior do que aquele que sinto por si.

Que amor maior � esse
que deixa o menor ir para a morte?

Inglaterra.

� o meu maior e mais duradouro amor.

Quando penso no que faria
ao meu pa�s, se fosse rei...

...prefiro v�-lo morto, sim,
e a sua alma condenada � eternidade...

...a permitir que o fa�a.

- Achais que n�o amo Inglaterra?
- Ama.

Mas o seu amor n�o � t�o grande
como a sua sede de poder.

Para maior gl�ria de Essex,
entraria em guerra com o mundo,

arrastaria o seu pa�s e afog�-lo-ia
num mar de d�vidas e de sangue.

Esperei que, na pris�o,

perdesse um pouco a presun��o...

...pois a pris�o � muito silenciosa.

Que se contentasse em reinar comigo

para que pud�ssemos deixar ao nosso
povo um legado de paz e de felicidade.

Mas n�o.

Continuou louco de ambi��o...

...e desleal a Inglaterra e a mim
at� ao fim.

Talvez tenhais raz�o...

...e eu tivesse dado um mau rei.

Ent�o, � melhor assim.

Mas tendes de saber isto.

Se tivesse sido diferente, se f�sseis
apenas uma mulher, e n�o rainha,

e eu um homem,
sem qualquer coroa entre n�s,

poder�amos ter vasculhado C�u e Terra
� procura de amantes perfeitos

e ter�amos acabado
por nos encontrar um ao outro.

De todas as coisas
que vou deixar nesta Terra...

...n�o me importo de deixar nenhuma,
a n�o ser v�s.

Robert.

Fique comigo. Partilhe comigo.

D�-me o anel.

- D�-me o anel.
- N�o.

Se o fizesse, seria a vossa morte,
ou ser�eis a minha,

e v�s e Inglaterra devem viver.

N�o � verdade?

- Sim.
- Ent�o, adeus, meu amor.

N�o.

Estou velha.

Estou velha.

Consigo, podia ter sido jovem outra vez.

Por que n�o me ama o suficiente
para me manter como era?

N�o sei. S� sei que n�o posso.

Robert...

...fique com o meu trono!

Fique com Inglaterra! � sua!

Pode soltar-me as m�os.

Estou pronto.