All language subtitles for Fangio El hombre que domaba las máquinas (2020)

NETFLIX APRESENTA

Sabe quantas pessoas
conduzem carros no mundo?

FECHADO

Milh�es.

ABERTO

Quantas licen�as de competi��o
h� no mundo?

Milhares.

Mas, apenas algumas centenas
s�o concorrentes.

Desses duzentos ou trezentos...

... s� algumas centenas s�o bastante bons.

Depois, chegamos � F�rmula 1.

S� h� 21 pilotos na F�rmula 1.

Desses 21, s� seis s�o muito bons.

Desses seis, s� tr�s s�o excecionais.

Em geral, s� um � um g�nio.

Na minha opini�o, Fangio
foi o maior piloto de todos os tempos.

Lewis Hamilton chamou a Fangio
"o padrinho da F�rmula 1".

Ele foi o maior piloto da altura.

Ele era um deus!

N�o havia ningu�m melhor.

Em pequenos, precisamos de um �dolo,
algu�m que nos inspire.

E Fangio inspirou milh�es

de f�s de automobilismo
para serem pilotos.

Quando comecei nessa �poca,
Fangio era o maior.

O piloto de F�rmula 1 por excel�ncia.

Bastava ver como conduzia.

Parecia que conduzia em c�mara lenta.

Tinha tanta classe,

intelig�ncia e concentra��o.

N�o cometia erros.

Sr. Senna, qual dos outros concorrentes
� que admira mais?

Um dos maiores pilotos
de todos os tempos...

... � Fangio.

Penso que, na verdade,

a minha vida foram v�rias etapas.

Desde pequeno, na escola,
sempre quis ser o melhor.

O meu pai queria
que eu trabalhasse com ele.

Mas eu disse-lhe
que queria aprender mec�nica.

E...

... naquele tempo, ningu�m nos ensinava.

T�nhamos de aprender sozinhos, observando.

Por isso, fui apenas copiloto
na minha primeira corrida.

Acho que tinha 18 anos.

Os meus pais nem me deram licen�a.

Fui participar na corrida.

Pensei que o carro tinha vida pr�pria.

Pouco a pouco,
foi entrando lentamente

naquilo... que o apaixonava,
o automobilismo.

At� que, na d�cada de 1940,

come�ou aquilo que conhecemos
por Turismo Carretera.

Quando corr�amos com aqueles carros,
como n�o t�nhamos apoio na estrada

e quase n�o havia oficinas,

t�nhamos de levar dentro do carro

muitas pe�as para substituir
o que pudesse avariar.

Com o combust�vel,
porque lev�vamos 250 litros...

... de gasolina dentro do carro...

... os carros pesavam
entre 1700 e 1800 kg.

Era preciso refor��-los
para n�o se partirem.

Imaginem que numa dessas corridas,
havia cerca de 150 carros.

Mas s� 20 chegavam ao fim da corrida.

Ele ganhou o campeonato de 1940 e 1941.

Ficou famoso por causa
da corrida de Buenos Aires a Lima.

Era uma corrida muito longa,

em que corriam dias seguidos.

Mas era muito t�pica
das corridas de carros daquela �poca.

Naquele tempo,
durante a Segunda Guerra Mundial...

... eu trabalhava no que podia.

Portanto, comprava cami�es pelos pneus,
porque n�o havia pneus.

Guardava os cami�es e vendia os pneus.

Certo?

Eu percorria todo o sul da Argentina
at� � Patag�nia

a comprar cami�es, mas s� pelos pneus.

Quando a guerra acabou,
voltei aos mesmos s�tios

para vender os cami�es,
que eu sabia que n�o tinham.

Voltei �s corridas em 1947.

E...

... nessa temporada,
houve quatro corridas na Argentina.

Por causa da nossa presta��o
nessas corridas,

o Autom�vel Clube
mandou-nos para a Europa, como pr�mio.

Galv�z, Puopolo e eu.

GALLIATE, IT�LIA

Quando fui correr na Europa...

... fiquei numa pequena cidade
chamada Galliate.

Era na prov�ncia de Novara,
a 30 km de Mil�o.

O Sr. Varzi deixou-me viver em casa dele
sem pagar renda.

Varzi era conhecido na Argentina
desde 1947 e 1948

e convidou toda a equipa
a visitar a sua cidade, Galliate,

a sua casa l�,

onde pretendia

estabelecer uma base log�stica
para a equipa.

Depois, Varzi teve de seguir

para a Su��a, para Berna,

onde se disputaria
o Grande Pr�mio de Berna.

Nas provas de quinta-feira,

� tarde,
enquanto experimentava o circuito,

Varzi teve um acidente e morreu.

Eu estava em Berna quando ele faleceu.
Fui ao funeral.

Depois, contratei o mec�nico dele.

O Sr. Varzi, Benotti Varzi, o pai...

... deu-me a casa dele para viver l�...

... por isso, chamei � minha equipa
argentina Achile Varzi...

... em homenagem a Varzi.

Toda a equipa argentina estava l�.

Porque muitos dos pilotos argentinos
estavam na casa de Varzi.

Varzi alojava-os em sua casa.

Costumavam sair e ir ao bar.

� noite, encontravam-se com o meu marido

e outras pessoas.

Mas acho que n�o resta ningu�m.

Sou a �nica que resta,
os demais j� faleceram.

Ele vinha todos os anos, em maio.

Ele vinha a Galliate
visitar os amigos de sempre.

Na verdade, tenho muitas mem�rias.

Algumas boas, outras m�s.

Mas as boas compensaram pelas m�s.

Exceto um acidente que tive.

O primeiro acidente que tive
foi no Peru.

O meu copiloto,
que tamb�m era meu amigo, morreu.

GRANDE PR�MIO DA AM�RICA DO SUL

Na sede do Autom�vel Clube Argentino,

realiza-se o sorteio
do Grande Pr�mio da Am�rica do Sul.

O veterano Ernesto Blanco
extrai a bola n�mero um,

ficando Fangio com o lugar cobi�ado

e o seu amigo Domingo Marim�n
com o segundo.

De Buenos Aires a Caracas, os pilotos
passar�o pelas topografias mais variadas,

na corrida mais dif�cil do mundo.

Tivemos muitos problemas
por causa de uma regra

que dizia que se partia para cada etapa

de acordo com a classifica��o geral.

Ent�o, na primeira etapa...

... tive um problema,
a coroa e o pinh�o desgastaram-se.

Demorei bastante.
Fui um dos �ltimos a chegar a Salta.

A etapa seguinte foi de Salta a La Quiaca,
na fronteira com a Bol�via.

Fiquei em terceiro, nessa etapa.
Ultrapassei 60 carros no caminho.

Mas, na classifica��o,
eu estava na 50.� posi��o.

No dia seguinte,
tinha de come�ar de tr�s outra vez.

Tive de continuar a ultrapassar carros
e o meu carro sofreu com isso.

Um dia partia-se uma coisa,
no dia seguinte, outra.

Foi assim que cheg�mos a Lima.

Mas quando fomos dormir, ligaram-nos
a dizer que t�nhamos de partir �s 22 horas

porque havia um princ�pio de revolu��o.

Temiam que algo acontecesse
e obrigaram-nos a partir.

Sem conhecer o caminho e sem dormir.

Em Lima, fiquei � frente.

Fiz uma curva demasiado depressa.

Mas... n�o perdi os sentidos
enquanto o carro dava voltas.

Pensei que seria um grande acidente,

pensei que era um precip�cio.

O meu copiloto foi cuspido do carro,
junto com a porta.

Eu nunca pensei
que pudesse voltar a correr.

Porque foi o meu primeiro acidente.

A morte de Urrutia...
O acidente foi culpa minha.

Fangio, muito se tem falado
do seu estado f�sico.

Para que os f�s
do automobilismo se tranquilizem,

pode dizer-nos como est�?

Sim, perfeitamente.

S� espero uma oportunidade
de enfrentar bons advers�rios.

Quer ganhe ou perca, dedicarei este
esfor�o ao meu grande amigo Urrutia,

meu irm�o nos bons e maus momentos.

Em nome de todos, Fangio, muito obrigado.

H� um ditado que diz:
"A idade � um posto."

Fui correr para a Europa

quando tinha quase 37 anos
e corri at� aos 47.

J� era um adulto...

MONTE CARLO, M�NACO

N�o sei se, hoje em dia,
seria poss�vel algu�m com 47 anos

ser competitivo na F�rmula 1.

Porque � diferente. Agora...

... � quase tudo rapidez
de rea��o e precis�o.

Acho que, naquela altura,

havia outros fatores em jogo.

A experi�ncia era muito importante,
naquele tempo.

Habilidade natural, certo?
Cuidar do carro.

Isso tudo.
Por isso, acho que houve uma mudan�a

nas necessidades
e agora, � preciso ser jovem

para ter essa velocidade de reflexos.

� uma pena que seja t�o dif�cil
comparar com a atualidade.

Como era a habilidade dele,

como se compararia ao Schumacher
no mesmo carro?

Nuca saberemos e � pena,

mas sabemos que ele foi
um dos melhores de sempre.

Talvez o melhor de sempre.

UNIVERSIDADE DE SHEFFIELD
SHEFFIELD, INGLATERRA

ESTUDO ACERCA DE QUEM �
O MELHOR PILOTO DE TODOS OS TEMPOS.

O modelo que usei
chama-se modelo multin�vel.

No fundo, � um tipo de modelo usado

para separar as diferentes origens
de variabilidade segundo as causas.

Portanto, no caso deste modelo,
tratava-se de separar

o que faz com que as pessoas ganhem
e percam nas corridas de F�rmula 1

quanto ao piloto, � equipa

e � �poca em que aconteceu.

A ideia era descobrir
quanto do que se passava

nas corridas de F�rmula 1 desde 1950

resultava do piloto ou da equipa.

Com essa parte da variabilidade por si s�,

pod�amos identificar a melhor equipa

e o melhor piloto.

Mas tamb�m quer�amos ver
como essa variabilidade se separava...

... em condi��es diferentes,
como mudou ao longo do tempo,

se os pilotos e as equipas s�o mais
ou menos importantes ao longo do tempo

e se t�m import�ncias diferentes
em situa��es diferentes.

Por exemplo,
condi��es meteorol�gicas diferentes,

se alguns pilotos s�o melhores
ou mais importantes do que outros.

Ou em pistas diferentes.
Se os pilotos s�o mais importantes

em pistas de rua
ou pistas permanentes de aut�dromo.

Quisemos descobrir
se tamb�m haveria diferen�as a esse n�vel.

Quando fazemos uma compara��o
entre os carros dos anos 50

e os atuais,
e estou a falar dos de corrida...

... o primeiro ponto � o conforto.

N�o ligavam ao conforto.

Parece �bvio, n�o?

Mas, nessa altura,
s� queriam que o carro fosse r�pido.

A caixa de velocidades era inc�moda,
a embraiagem era r�gida...

Era...

Conduzir um carro dos anos 50
era uma ci�ncia diferente.

J� tive a oportunidade de conduzir

os carros hist�ricos de Fangio.

A posi��o sentada
naquele carro � incr�vel.

O esfor�o necess�rio
para conduzir o carro � espantoso.

Claro que, quando eu estava a conduzir,

tive calma, para respeitar a hist�ria.

Eu n�o queria danificar o carro.

Hoje em dia, os carros...

... s�o feitos de fibra de carbono
e materiais comp�sitos.

Fazem uma infinidade de testes,
o desporto � muito mais seguro

e as pistas tamb�m.

O desporto mudou muito.

Para ser eficaz num carro moderno,
� preciso muita precis�o.

Ser eficaz num carro dos anos 50
era uma arte.

Digo sempre a mesma coisa.

Se adicionarmos precis�o
� arte dos anos 50,

teremos um campe�o mundial.

E se adicionarmos a arte do passado
� precis�o de hoje,

tamb�m teremos um campe�o mundial.

Ou seja, o que � preciso

� acrescentar a cada �poca
o que lhe faltava.

O que me ajudou muito

foi ter conhecimentos de mec�nica.

Ajudou-me, porque sabia muito bem
como usar um autom�vel.

Eu perguntava ao mec�nico,

quando comecei a correr com ele,
qual era a pot�ncia m�xima

e nunca passava desse m�ximo.

MODENA, IT�LIA

Creio que os pilotos de agora
n�o conhecem a t�cnica como...

... como os pilotos da �poca de Fangio
conheciam a t�cnica.

Agora, o piloto conduz o carro.

Mas tudo o resto � feito das boxes,

as dezenas de engenheiros

que ajustam todas as partes do carro
e dizem ao piloto:

"Faz isto ou aquilo"

e o piloto f�-lo.

Por isso, tamb�m apreciei...

... o trabalho dos mec�nicos.

S�o os verdadeiros her�is das corridas.

Ouvimos sempre falar do piloto.
Nunca se ouve falar do mec�nico.

Mas sem eles,
n�o se pode ganhar uma corrida.

S�o eles que... os pequenos detalhes.

Um pequeno detalhe faz toda a diferen�a.

Tenho a mesma opini�o de Fangio.
Acho que h� tantos...

... her�is desconhecidos
� volta dos carros.

Mec�nicos ou engenheiros respons�veis

pelo desempenho do monolugar,
que � raro ver na televis�o

e que recebem pouca da gl�ria
que realmente merecem.

Os mec�nicos trabalham dia e noite
a montar os carros

e... a encontrar problemas.

S�o eles que t�m de se concentrar

para evitar qualquer problema.

� uma habilidade que poucos t�m.

GRANDE PR�MIO DE SANREMO, IT�LIA

Em 1949, come�ou a campanha
internacional dele no circuito de San Remo

e come�aram a ter v�rios problemas
mec�nicos com o Maserati.

Chegou ao ponto de o chefe da equipa,
Amadeo Vignani,

o aconselhar a n�o correr.

Como estavam habituados a trabalhar
sob quaisquer condi��es,

algo que faziam
desde o Turismo Carretera...

... ele decidiu desmontar o motor.

E toda a noite, at� � uma da manh�,

ele poliu a cambota
para dar a viragem certa aos rolamentos

e tornar tudo perfeito.

Assim, quando ele terminou o trabalho,

os mec�nicos puderam voltar a montar tudo

enquanto ele tentava descansar um pouco

antes da corrida, e foi assim
a primeira corrida dele na Europa.

Bem-vindos ao circuito de Ospedaletti
para o Grande Pr�mio de Sanremo.

O argentino Juan Manuel Fangio,
na sua estreia europeia,

ficou em primeiro na qualifica��o,

antes do seu colega de equipa,
o pr�ncipe Bira.

Parece haver um problema
com o Ferrari de Righetti.

Entretanto, Fangio assumiu a lideran�a
na curva Ponticello.

Trabalho perfeito de Fangio, alcan�ou
a vit�ria em ambas as etapas da corrida,

deixando assim bem claro

que a nova equipa argentina de F�rmula 1

veio conquistar
a melhor classifica��o da corrida.

Tive a sorte de ganhar.

Mas n�o podemos deixar
que os elogios nos subam � cabe�a.

Sen�o, podemos come�ar a acreditar
que somos os melhores.

Devemos sempre tentar ser os melhores.

Mas nunca acreditar que somos os melhores.

Chamo-me Adolfo Orsi.

Nasci em 1951.

A minha fam�lia
adquiriu a Maserati em 1937.

Pertenceu � minha fam�lia at� 1969.

A Maserati foi uma das...

... equipas importantes

da F�rmula 1 nos anos 50,

porque n�o s� construiu os 250F
para a equipa oficial,

como tamb�m os construiu
para pilotos privados.

Na altura, representavam uma boa parte

dos concorrentes na F�rmula 1.

Chamo-me Ermmano Cozza.

Nasci em Modena, em 1933.

Quando acabei os estudos t�cnicos,

a minha paix�o por motores
levou-me � Maserati.

Fangio, para a Maserati,

foi uma parte intr�nseca da sua hist�ria.

Para a Maserati,
Fangio foi dos pilotos mais importantes.

Direi que foi o melhor.

Ele n�o era s� o melhor da Maserati.

Tamb�m conduziu para a Mercedes
em 1954 e 1955.

Ele era o melhor.

A Maserati era uma empresa familiar,
dos Orsi.

O mec�nico chefe era um grande amigo meu,

Guerino Bertocchi e o irm�o.

Sentia-me bem l�.

Corri com eles sem assinar contrato.

O carro andava bem.

Tive a sorte de ganhar
seis corridas na Europa.

Sanremo, Pau e Perpinh�o...

... depois Marselha...

... e Albi.

Come�a o Grande Pr�mio de Pau.

Roda com roda,
o argentino Fangio e Graffenried.

Bem-vindos a Roussillon.

Fangio lidera de imediato.
Come�a a deixar o pr�ncipe Bira para tr�s.

O argentino Juan Manuel Fangio

j� ganhou tr�s corridas este ano.

Bem-vindos a Marselha.

Fangio concretiza o sonho
de todos os pilotos,

superando os colegas italianos
na pr�pria casa,

a catedral do automobilismo,
o hist�rico circuito de Monza.

Correr em Monza, para um piloto,

sobretudo na Europa pela primeira vez,

j� era glorioso.

Fangio entra na reta final.

A bandeira cai
e Fangio vence pela sexta vez este ano.

O argentino Fangio ganhou!

Foi o primeiro ano, 1949.

Em 1950,
a Alfa Romeo regressou �s corridas.

Convidaram-me a pilotar.

O Sr. Alessio, presidente da Alfa Romeo,

viu-me vencer no ano anterior, em Sanremo.

Houve muita publicidade
� volta da Alfa Romeo.

O fim da Segunda Guerra Mundial

foi um per�odo de reconstru��o
para a Alfa Romeo.

As instala��es
foram destru�das por bombas.

Toda a It�lia
precisava de ser reconstru�da.

Portanto, n�o havia mercado autom�vel.

Houve uma pequena pausa, mas em 1950,

quando houve o primeiro campeonato
mundial de F�rmula 1, era um novo mundo.

A Alfa Romeo apresentou um autom�vel

perfeitamente evolu�do para a altura
e uma equipa de campe�es,

a chamada "equipa da letra F".

Farina, o �ltimo campe�o italiano
antes da guerra,

Luigi Fagioli, o mais experiente deles

e o jovem Fangio,

que j� demonstrava ser
um dos melhores.

GRANDE PR�MIO DE SANREMO, IT�LIA

Dois dos nossos carros
foram correr a Sanremo.

Mas Farina magoou-se no bra�o
antes da corrida.

Ent�o, a equipa decide
retirar-se da corrida

porque s� tinha um piloto desconhecido.

Bem, os organizadores,
que tinham feito toda a publicidade,

opuseram-se e houve uma discuss�o.

Eu entrei na discuss�o e perguntei:
"Qual � o problema, senhores?

Se eu perder, n�o ser� a Alfa Romeo
que perde, ser� um novato.

Mas se eu ganhar, significa
que a Alfa Romeo ganha com qualquer um."

A corrida come�ou em Sanremo.

Um Alfa Romeo
parece ter derrapado � partida.

Parece ser o novato argentino, Fangio,
que perdeu muito terreno.

Estamos na volta 32,

Ascari despistou-se e abandonou a corrida.

O argentino Fangio ocupa-lhe o lugar,
impressionante!

Froil�n Gonz�lez teve de abandonar
a corrida com o Maserati.

Fangio deixa para tr�s o compatriota Pi�n,
com uma manobra espetacular.

Finalmente, � Fangio.

A bandeira de xadrez
cai � frente do Alfetta.

Tive a sorte de ganhar essa corrida.

Com o �nico Alfa que participou.

Nessa mesma noite, trouxeram
um contrato para negociar comigo.

Mas eu disse para o preencherem
como quisessem.

Tive a oportunidade de correr
com o melhor carro que existia na altura.

N�o tive de entrar com dinheiro. S� eu.

Ent�o, acho que isso tamb�m serviu

para refor�ar minha amizade
com a gente da Alfa Romeo.

Em rela��o a Fangio,

para mim, o que me interessava,

o que aprendi na minha pr�pria carreira

e o que segui noutros campe�es mundiais

como Alain Prost,
Nigel Mansell, Ayrton Senna...

Todos esses pilotos, quando eu corria...

... tinham as qualidades de conseguir...

... trabalhar de perto com a equipa.

Podem motivar a equipa
com quem trabalham.

A equipa fazia parte do dia a dia.

Quando sa�mos do carro e vamos para casa,

sem o ambiente que nos rodeia,
sermos capazes de gerir isso

e tornar-nos pilotos poderosos
e competentes.

Portanto, acredito que isso...

... tamb�m foi
a maior qualidade de Fangio.

Ouvir as outras pessoas.
O que diziam sobre ele.

N�o sei como era naquele tempo,

a sensa��o de um piloto
pertencer � equipa.

Hoje em dia, � muito bom.

A �nica diferen�a � que, agora,

h� 1500 pessoas a trabalhar na equipa.

Dantes, era uma fam�lia pequena.
Havia umas 10 ou 20 pessoas, n�o sei.

Mas agora s�o 1500. � diferente,

� um ambiente mais frio
e mais dif�cil de ver como uma fam�lia.

GRANDE PR�MIO DA GR�-BRETANHA

As bandeiras agitam-se
nesta manh� de maio, em Silverstone.

Ser� um dia memor�vel
para o automobilismo.

Um dia que ser� lembrado por muito tempo.

Em poucas horas, a primeira
corrida de F�rmula 1 da hist�ria,

com as melhores equipas
e pilotos da atualidade.

Antes de come�ar uma corrida,
h� sempre algum nervosismo.

Mas s� at� nos sentarmos no carro.

Quando estamos sentados no carro,
tudo o resto acaba.

Tornamo-nos noutra pessoa.

Partiram!
Grande come�o para os Alfa Romeos.

Farina lidera,
Fangio e Fagioli perseguem-no.

Durante a primeira temporada de corridas
de Fangio em 1950,

o Alfetta venceu 11 das 11 corridas.

N�o obstante essa superioridade
e tamb�m, de certa forma,

a rivalidade
entre os tr�s pilotos da equipa,

os relacionamentos dentro da equipa

foram sempre muito positivos.

Em algumas das corridas,
os pilotos travavam

para esperar pelos colegas,

ou abrandavam
para os avisar de algum perigo.

Era mais um ind�cio
do que devia ser um ambiente maravilhoso.

Nessa �poca, quando andavam
a cerca de 300 km por hora,

arriscavam a vida na pista.

Fangio a meio segundo do l�der, Farina.

Mas n�o! Oito voltas antes da meta,

o argentino tem de parar,
parece um problema do motor.

Na altura, t�nhamos de garantir
que n�o nos exced�amos.

Porque o motor sobreaquecia
e o carro sofria.

Bem, ajudou-me muito como piloto...

... perceber de mec�nica.

ESTUGARDA, ALEMANHA

Fangio tinha o talento especial...

... de estar preparado...

... f�sica e emocionalmente,

e tamb�m como mec�nico.

Do motor � embraiagem,
aos trav�es e ao carro inteiro.

Os mec�nicos costumavam dizer...

... que, se ele continuasse
por mais tr�s ou quatro voltas...

... o motor teria explodido.

Ele sempre soube extrair
o m�ximo dele pr�prio...

...e da m�quina,

para que o carro desse o m�ximo
sem avariar.

Creio que o tempo
� um aspeto muito importante disto,

porque � imprevis�vel, muitas vezes
n�o sabemos quando vai chover

e tamb�m representa desafios diferentes
para os pilotos.

Portanto, o tempo
tamb�m pode ter influ�ncia.

Pilotos diferentes podem ser melhores
em condi��es diferentes.

Schumacher � um bom exemplo.

O modelo descobriu que ele tinha
boas presta��es com chuva.

Em condi��es secas tamb�m,

mas ele destacou-se
por haver a� uma grande diferen�a.

Fangio superou em ambos,
piso molhado e seco

e houve mais algumas mudan�as.

Tamb�m descobrimos
que a equipa � menos importante...

... em condi��es molhadas,
talvez por ser mais imprevis�vel,

h� menos controlo que a equipa

pode exercer... sobre a corrida.

Ainda hoje � mais dif�cil conduzir
na chuva do que quando n�o chove.

Mas n�o consigo imaginar
como era antigamente.

Nem tinham viseiras apropriadas.
Usavam aqueles �culos.

Deviam estar sempre a embaciar-se imenso.

Deviam ter de os tirar para conduzir.

� que... N�o sei. � um mundo diferente.

Nem consigo imaginar.
Tamb�m, o perigo para os olhos, sempre.

T�o diferente.

O tempo hoje � como era antigamente

Nunca se sabe como vai estar.

Os nossos melhores meteorologistas
n�o conseguem prever

quando vai chover,
o frio que vai fazer, a humidade.

Portanto, isso � bom,
queremos ter vari�veis no desporto.

Como todos sabemos,
as previs�es no notici�rio da noite

s�o sempre diferentes
do que acontece na corrida.

Apesar da chuva torrencial,
Fangio vence a corrida dif�cil.

Fica em primeiro lugar
no campeonato mundial,

com nove pontos em seu favor.

GRANDE PR�MIO DO M�NACO
CIRCUITO DE MONTE CARLO

A corrida de Monte Carlo
foi muito interessante.

Na v�spera da corrida...

... eu estava a ver umas fotos
no Autom�vel Clube,

de Montecarlo, e vi uma foto
de um acidente antes da guerra.

Havia muitos carros
numa das curvas, chamada do Tabaco.

Havia um muro alto
que n�o deixava ver do outro lado

e os carros estavam em cima
uns dos outros, um choque em cadeia.

Um dos carros fez um pi�o
e os carros atr�s embateram nele.

Quando come��mos a corrida,

eu tinha um carro muito bom
e fui � frente.

Na segunda volta,
vi uma bandeira amarela.

Estava a sinalizar-me.
Mas a bandeira amarela n�o � para parar,

significa ter cuidado,
mas lembrei-me dessa foto.

Quando cheguei � curva,

vi que havia muitos carros amontoados.

Mas consegui passar devagar
pelo lado esquerdo.

Por isso, claro, pude continuar.

Os que vinham atr�s de mim
puderam fazer o mesmo.

Esse acidente envolveu oito carros.

Fangio faz hist�ria no M�naco
e ganha a primeira corrida l�,

na competi��o mais prestigiada
do desporto autom�vel.

O argentino � agora
um dos melhores pilotos do mundo.

Fiquei contente,
foi o meu primeiro campeonato mundial...

... e n�o era poss�vel eu ganhar.

GENOLIER, SU��A

A minha primeira corrida no estrangeiro
foi no M�naco.

Mas o mais importante que aconteceu
foi que, quando ganhei a corrida,

eu ainda estava no carro

e o primeiro homem
que me veio apertar a m�o...

... foi Juan Manuel Fangio.

Para mim, foi um sonho,
porque ele era o meu maior her�i.

Quando comecei a competir na F�rmula 1

e Fangio apareceu, ele era como um deus.

Quer dizer, quando o Fangio
estava a chegar, j� era...

... o grande homem,
o piloto de F�rmula 1 por excel�ncia.

Quando conduz�amos um carro normal

e a Pol�cia nos parava,
Isso acontecia muito.

Eles perguntavam: "Julga que � o Fangio?"

At� a minha mulher me disse isso uma vez,
quando eu ia a conduzir

e eu j� era piloto de F�rmula 1.

Era uma esp�cie de lenda

e � como um mito.
Sabe? N�o se consegue explicar.

Ele era...

Nunca se viu outro piloto assim.

Em 1951,

Fangio correu na sua segunda temporada
para a Alfa Romeo.

No ano anterior, ficou em segundo lugar
atr�s de Farina no campeonato mundial.

Desta vez,
a equipa a derrotar era a Ferrari,

com o seu parceiro
e amigo Froil�n Gonz�lez...

... e outro dos maiores pilotos
da �poca, Ascari.

Foi um ano dif�cil,
porque j� era conhecido,

mas tinha de provar
que tamb�m podia ganhar um campeonato.

GRANDE PR�MIO DE BARCELONA, ESPANHA

O campeonato mundial ser� decidido
esta tarde, em Barcelona.

� o �ltimo Grande Pr�mio deste ano.

Muitos poder�o levar o t�tulo para casa.

Vindo de Balcarce,
o atual vice-campe�o mundial,

Juan Manuel Fangio conduz o Alfa Romeo.

Froil�n Gonz�lez
est� na equipa da Ferrari.

Ambos poder�o ser campe�es do mundo.

Mas, o italiano Ascari, que venceu
as duas �ltimas corridas, � o favorito.

Nessa corrida,

havia muitos problemas
com o carro da Alfa.

Fizeram um carro com um eixo de Dion.

Instalaram dois tanques laterais
para que a equipa advers�ria

pensasse que pod�amos fazer
a corrida inteira sem parar.

Mas n�o aconteceu.

A corrida do campeonato come�a.

In�cio espantoso de Ascari,
que passa Fangio pela direita e lidera.

Froil�n terceiro,
Farina quarto e Bonetto quinto.

Uma partida limpa!

Isso foi um erro que a Ferrari cometeu.

Para ir � mesma velocidade que eu,

tinham de se esfor�ar muito.

Os pneus rebentavam, por isso,
tinham de usar pneus mais pequenos.

Para me tentar acompanhar,
foram ficando para tr�s.

Pude chegar, mudar os pneus
e manter a lideran�a.

Ascari abandona a corrida.
O Ferrari come�a a ceder.

O Alfetta de Fangio voa,
est� quase um minuto � frente de Froil�n.

Faltam tr�s voltas.
Se aguentar, ser� o campe�o.

O argentino! Hist�rico!

�ltima volta!
A bandeira de xadrez est� no ar!

L� vem Fangio, campe�o do mundo!

Juan Manuel Fangio � o campe�o mundial!

Quando cruzamos a meta e vemos

que nos torn�mos campe�es mundiais,
� verdade.

Todo o trabalho �rduo,

tudo aquilo por que tivemos de passar...

... agora, valeu a pena.

Valeu a pena ter esse sofrimento.

Assim que cruzamos a meta
e nos tornamos campe�es mundiais...

... entramos num mundo diferente.

A vida muda.

� uma desilus�o para quem faz a pergunta.

Seria de esperar
que eu estivesse feliz e entusiasmado.

Antes pelo contr�rio.

Porque eu tinha aprendido
a remover as emo��es.

Eu demorava tr�s dias...

... a perceber que era o campe�o do mundo.

Ali�s, na manh� seguinte
foi um pouco assim,

porque eu desci as escadas
do hotel Villa d'Este, no Lago de Como...

... e o rececionista estava
a tentar arranjar-me

um voo posterior,
por causa da imprensa e assim.

Eu vinha a descer e ele gritava
com o pessoal do aeroporto

que tinham de arranjar
outra reserva para Jackie Stewart,

porque ele � campe�o mundial.

De repente, pensei: "Ena."

Esse momento foi a raz�o das corridas
durante quase 20 anos.

Para concretizar o sonho
de ganhar o campeonato mundial.

Tudo convergiu.
Todas as mem�rias e o trabalho �rduo.

Tudo naquele momento
de celebra��o com a fam�lia, amigos

e tamb�m de criar o meu legado, certo?
Porque ficar� para sempre.

Os dois acidentes que tive na vida
foram pelo mesmo motivo.

Cansa�o f�sico.

Um homem n�o deve conduzir
quando est� cansado.

TROF�U ULSTER TOURIST, IRLANDA

Um s�bado, eu estava a correr na Irlanda.

J� me tinha comprometido para correr...

... no domingo, em Monza.

O pr�ncipe Bira ficou de me levar
no seu avi�o privado.

Ia levar-me a Monza.

Mas acontece que o carro
do pr�ncipe Bira avariou...

... e houve uma tempestade.

Quando acabei a corrida,
o pr�ncipe j� tinha partido.

Um grupo de n�s apanhou outro voo.
Connosco estava Rosier.

Fomos at� Londres e de l�...

... indaguei se havia maneira
de ir para It�lia. N�o havia.

Continu�mos para Paris.

Cheg�mos a Paris � meia-noite,
n�o havia mais comboios

para it�lia e ele emprestou-me o carro,
para eu seguir caminho.

O t�nel ainda n�o tinha sido constru�do.

Tive de subir a montanha, Montevecchio.

Cheguei �s 14 horas a Monza,
nesse mesmo domingo.

A corrida era �s 14h30.

GRANDE PR�MIO DE IT�LIA

Os pilotos est�o prontos a partir.
Nos primeiros lugares,

os Ferraris de Farina e Andre Sim�n.
O atual campe�o, Juan Manuel Fangio,

vai sair do �ltimo lugar,
porque n�o fez a qualifica��o.

Tive de come�ar de tr�s. Fui o �ltimo.

Durante a segunda ou terceira volta,

passei uns carros muito depressa.

Fangio, a alta velocidade,
continua a ultrapassar os outros carros.

Teve de fazer a curva de Lesmo
pelo interior.

O carro est� descontrolado.

Quando acordei tr�s horas depois,
estava no hospital.

De facto,
quando entramos para a F�rmula 1...

... sabemos que h� um elemento de risco.

Algo pode acontecer, podemos magoar-nos.

Quando assinamos o contrato
e vamos para a corrida,

sabemos que podemos morrer ou magoar-nos.

No nosso tempo, na F�rmula 1,

muitos pilotos morreram.

Segundo as estat�sticas
da Auto Motor und Sport...

... 65 pilotos de F�rmula 1
morreram nessa altura.

Sessenta e cinco.

Todos os anos, dois, tr�s ou quatro.

Uma noite, a minha mulher e eu
cont�mos o n�mero de amigos

que tinham ficado,
viajado e corrido connosco.

Cinquenta e sete tinham morrido.

� rid�culo. Hoje em dia,
os pilotos n�o sabem isso.

As pessoas n�o morrem
em carros de corrida.

N�o digo que n�o morrer�o,
ainda � poss�vel

por causa da velocidade e assim, mas hoje,

o cockpit do monolugar de F�rmula 1
� uma c�lula de sobreviv�ncia.

O halo eliminou o problema, sem d�vida.

Tirou a vida a Senna e a outras pessoas.

� mais seguro, mas o animal � o mesmo.

A m�quina mudou, mas o animal
� o mesmo, o mesmo tipo de pessoa.

Pensei que � muito f�cil morrer
sem nos apercebermos.

N�o h� nada entre a vida e a morte.

Nessas circunst�ncias,
quando recuperamos os sentidos

ou voltamos � realidade, percebemos

que n�o � assim t�o triste morrer.
N�o h� tempo para pensar nisso.

A temporada de 1953 come�ou.

Foi uma temporada dif�cil.

Depois de um acidente,
� dif�cil habituarmo-nos outra vez...

... ao ritmo da competi��o, da corrida.

N�o ajudou ele abandonar as corridas
na Argentina, Holanda e B�lgica.

Teve problemas com o autom�vel
e n�o conseguiu terminar as corridas.

Mas a sorte dele mudou em seguida.

Ficou em segundo lugar tr�s vezes,
na Fran�a, Inglaterra e Alemanha.

Termina a temporada
nos s�tio mais dif�cil, Monza.

O s�tio onde teve aquele acidente grave.

Ele precisava de provar
a si pr�prio e aos demais

que a sua capacidade estava intacta.

Aut�dromo de Monza. 1953.

Cem mil pessoas est�o c� para ver
a corrida mais prestigiada do ano,

o Grande Pr�mio de It�lia.

� partida, na primeira fila, o antigo
campe�o mundial, Farina, n�mero seis.

Fangio, n�mero 50,
outro antigo campe�o do mundo

e o atual campe�o, Alberto Ascari,
com o n�mero quatro.

GRANDE PR�MIO DE IT�LIA

O meu primeiro encontro
com Fangio foi em Monza

em setembro de 1953,
durante o Grande Pr�mio.

Eu estava nas boxes e...

... era Fangio, Marim�n,
um dos protegidos de Fangio,

Menditeguy e Mieres.

Ultrapassavam-se nas voltas.

Numa das voltas, Fangio ia primeiro,
noutra, ia Ascari primeiro.

Na �ltima volta, Ascari estava � frente,

mas fez uma curva mal
porque Fangio o pressionava.

Ele despistou-se,
Fangio ultrapassou-o e ganhou.

Foi esta curva que decidiu a corrida.

Pensei:

"Se, em vez de eu fazer a curva larga,
a fizer apertada,

talvez n�o me ultrapassem na sa�da.

Numa reta, o meu carro � mais forte."

� melhor faz�-lo na �ltima volta,

� menos arriscado e n�o o esperar�o.

Experimentei, funcionou e ganhei.

Ascari entra na �ltima curva seguido
por Fangio, mais veloz nas retas.

Fangio tenta ultrapassar Ascari. Consegue.

Fangio chega em primeiro,
Que velocidade, que pot�ncia!

Fangio ganhou, o campe�o est� de volta!

Nunca tive problemas com ningu�m.

Ali�s,

nunca tive uma rivalidade pessoal
com ningu�m.

S� sentia rivalidade nas corridas.
Mas nunca fora delas.

Est�vamos no ano de 1954,

a Mercedes-Benz tinha regressado

� hist�ria das corridas

com o famoso piloto Neubauer.

Para Neubauer, s� havia dois pilotos:

um era o melhor, obviamente...

... Juan Manuel Fangio,

e o outro era Karl Kling.

Ambos estavam estabelecidos.

E eu.

Creio que uma coisa
muito diferente de Fangio

foi ele conseguir vencer

com v�rias equipas diferentes.

Se queremos descobrir qual foi
o melhor piloto de todos os tempos,

o Fangio seria sempre um candidato,
tal como Schumacher e Hamilton.

Mas Schumacher passou
a maior parte da carreira na Ferrari.

Quando voltou para a Mercedes ap�s
se aposentar, teve um desempenho inferior.

Da mesma forma, Hamilton
est� com a Mercedes h� muito tempo,

a qual tem sido sempre a melhor equipa.

Fangio � diferente, porque conduziu
para quatro equipas diferentes.

Ele ganhava com qualquer equipa.

Isso n�o se repetiu desde ent�o.

Agora que as equipas t�m mais import�ncia,
ser� dif�cil voltar a ver isso.

MUSEU MERCEDES BENZ
ESTUGARDA, ALEMANHA

Fangio pertence � hist�ria da Mercedes.

Perguntem a qualquer adepto da F�rmula 1

quais os pilotos mais famosos da Mercedes

e sem d�vida que mencionar� Fangio
e talvez Lewis Hamilton, hoje em dia.

S� cinco pilotos ganharam um Grande Pr�mio
num carro de F�rmula 1 da Mercedes.

S�o Fangio, Hamilton,
Moss, Rosberg e Bottas.

� um pequeno e exclusivo clube de pilotos.

Na garagem deles,
na cidade catedral de Reims,

os novos carros W196 da Mercedes Benz

preparam-se para a sua estreia
no Grande Pr�mio de Fran�a, a 4 de julho.

Eis o n�mero um da Mercedes,

o campe�o mundial de 1951,
Juan Manuel Fangio.

Na Mercedes, havia uma grande diferen�a.

Cada piloto tinha tr�s mec�nicos.

Exclusivos. N�o mudavam.

Tr�s para mim,
tr�s para Kling e tr�s para Hermann.

Era uma uni�o forte.

Partiram e a Mercedes volta a competir.

Esta vista excelente da partida
� da ponte Dunlop

e as estrelas da Mercedes, Fangio e Kling,
j� se est�o a afastar do pelot�o.

Falta uma volta.

O antigo �s da Mercedes, Hermann Lang,
assiste do muro das boxes

enquanto Fangio supera Kling na meta
por um d�cimo de segundo.

A Mercedes voltou e de que maneira!

Escrevemos um livro, com Carozzo...

... e eu dedico um cap�tulo � sorte.

Ou ao destino.

Claro que temos de o ajudar.
O destino n�o vem sozinho.

Se ficarmos sentados, ele n�o vem.

Mas acredito que todos temos...

... um destino tra�ado na vida.

GRANDE PR�MIO DA ALEMANHA

Onofre Marim�n, filho de Domingo Marim�n,
um grande amigo de Fangio,

foi seu protegido nas pistas europeias.

Num dos circuitos, o de N�rburgring,

um dos circuitos mais dif�ceis
devido � eleva��o, curvas e comprimento,

Juan pediu a Onofre que esperasse por ele
para verem uns detalhes �teis.

Ele era obsessivo, ia para o circuito

dois ou tr�s dias antes.

Se fosse um circuito
de cinco ou seis quil�metros,

ia de bicicleta.

Se fosse um circuito como Spa,
de 12 a 14 km,

ou N�rburgring, com 22 km, ia de mota.

Assim, memorizava a pista
e quando corresse,

saberia onde meter o carro

e por onde deveria ultrapassar.

Ele estudava a pista v�rios dias antes

e queria que os seus colegas
fizessem o mesmo.

Infelizmente, quando Fangio chegou
ao circuito, Onofre j� estava no carro.

Na rampa de Adenau,

despistou-se e perdeu a vida.

Era o inferno verde. Esse nome ficou

e ainda � verdade.

Porque, em N�rburgring, �s vezes,
um carro sa�a da estrada e n�o se via.

Porque ca�a uns 30 m,

ficava nas �rvores, ou... n�o se sabia.

Marim�n era um rapaz...

... sempre alegre. Adorava a vida.

Era muito simp�tico e bem-disposto.

Era protegido de Fangio e Gonz�lez,

eram os mentores dele.

Tenho uma fotografia depois da morte dele.

Fangio e Gonz�lez abra�am-se, a chorar.

Para eles, foi uma desgra�a.

Acho que estamos predestinados na vida.

Ningu�m morre na v�spera.

O ambiente era muito diferente.

Era um grupo de pessoas nervosas.

Mas amigos mais pr�ximos, talvez.

�ramos muito amigos.

Jim Clark era um dos meus melhores amigos.

Vivemos juntos durante anos, em Londres.

Viaj�mos e �amos de f�rias juntos.

Jochen Rindt, um dos meus melhores amigos.

Todos os amigos que tive

morreram a pilotar carros de corrida.

Porque os carros eram fr�geis,
mas os obst�culos eram rid�culos.

Lembro-me...

... Elio era um dos meus melhores amigos.

Como Gilles e Patrick.

E ele...

... morreu � minha frente.

Est�vamos sozinhos
na pista em Le Castellet, a fazer testes.

Ele perdeu a asa traseira.

Eu estava atr�s e vi as marcas no ch�o.

Ele fez um pi�o e eu vi o carro.

Ao contr�rio, assim.
A frente estava a tocar na barreira

e a asa estava perto das �rvores.

Eu fui l�.

Ele estava debaixo do carro a mexer-se.

N�o conseguia sair.
Tentei afastar o banco,

mas o carro come�ou a arder
e n�o pude ficar ali,

havia tanto fumo e calor.

Tendo passado por isso uma vez...

... quando voltei, pensei:
"Porque fa�o isto?"

Eu n�o sabia que Ayrton
tinha perdido a vida...

... at� depois da confer�ncia de imprensa.
Foi um momento chocante,

porque Ayrton foi meu colega
de equipa em 1993.

Mas, naquele momento,
quando morreu em Imola, em 1994,

foi um momento terr�vel.
Voltei para casa, para o M�naco...

... cheguei ao meu apartamento...

... � noite e acendi uma vela...

... numa mesa da sala,
ali sentado, sozinho

e fiquei a pensar nele.

Foi um momento muito dif�cil.

Foi para o velho continente em 1949,

respons�vel pela primeira equipa
argentina de automobilismo internacional.

O �xito que teve e continua a ter
na mais alta categoria do automobilismo

� ineg�vel.

Juan Manuel Fangio n�o � apenas piloto.

Vimo-lo dominar em todos os circuitos.

Temos a certeza de que ficou na mem�ria
do desporto no nosso pa�s,

porque acaba de ganhar
o segundo campeonato mundial,

desta vez, na equipa da Mercedes Benz.

Esta tarde, o povo argentino
recebe-o de bra�os abertos,

entusiasmado com os seus triunfos,

mas tamb�m ansioso
com a nova temporada de 1955.

A primeira corrida ter� lugar aqui.

Senhoras e senhores, bem-vindos
ao Grande Pr�mio da Argentina.

GRANDE PR�MIO DA ARGENTINA

A aten��o desportiva mundial
concentra-se em Buenos Aires.

Os melhores pilotos
v�o disputar, a 17 de outubro,

o terceiro Grande Pr�mio da Argentina,

com pontos a contar
para o campeonato mundial.

Eis a famosa equipa da Mercedes Benz

com Fangio, o campe�o mundial de 1954.

Em Buenos Aires,

a equipa era Fangio, Kling,

Stirling Moss e eu.

A bandeira da p�tria j� est� i�ada...

Vi Stirling Moss correr
pela primeira vez e...

... senti admira��o por aquele rapaz.

Ele lutava contra os melhores.

Mais tarde,

gra�as �s corridas, fic�mos amigos.

Acho que foi
um dos meus melhores amigos.

Ele foi o melhor chefe de equipa
com quem j� estive, claro,

porque era o melhor piloto do mundo.
Mas, mais do que isso,

era um homem maravilhoso para seguir.
Eu seguia-o de perto

e ele nunca ia para o lado
nem me atirava terra,

posicionava sempre o carro corretamente

e foi uma experi�ncia fant�stica
conduzir ao seu lado,

um piloto desse calibre.

T�nhamos quatro carros de corrida.

Mas, para a Argentina,

estava um calor invulgar.

Acho que era janeiro.

Comecei a sentir

que estava prestes a ter uma insola��o.

A cada volta, podem ver
como o grande campe�o est� sereno.

Muitos ficam pelo caminho
por causa da velocidade e do calor.

Onde as rodas fazem contacto
com a pista, chega aos 55 graus.

O que aconteceu a Moss

foi que ele teve de parar no meio da pista

em vez de nas boxes.

Eu achei que devia chegar �s boxes.

Cheguei �s boxes
e nem consegui sair do carro.

Tiveram de me tirar, eu estava exausto.

Karl Kling foi cuspido.

Felizmente, n�o lhe aconteceu nada.

Mas, agora lembro-me
de que algo aconteceu a Fangio.

Durante a corrida...

... ele foi diretamente �s boxes...

... e sem se saber porqu�,

despejaram-lhe uma garrafa
de �gua na cabe�a.

Levantaram-no e ele voltou para a pista.

O grande piloto argentino
controla maravilhosamente a corrida

e mostra estar
em excelente condi��o f�sica.

Juntamente com Mieres, foram os �nicos
que correm as tr�s horas completas.

Fangio, o grande campe�o,
vence o Grande Pr�mio da Argentina!

Fangio teve de ir ao hospital a seguir,

porque teve queimaduras graves nas pernas.

As necessidades f�sicas
dos pilotos mudaram imenso

nos �ltimos anos.

Os carros na era do Fangio

n�o geravam grande downforce,
por isso, tratava-se de manobrar o carro,

controlo, destreza e coragem.

Mas como os monolugares
agora t�m downforce...

... mais for�as G entraram em jogo.

Vemos que, no final da d�cada de 1970
e na d�cada de 1980,

os pilotos descobriram o treino f�sico.

N�o porque gostassem muito,

mas porque era necess�rio
para aguentar as for�as

a que um carro de F�rmula 1
submetia o corpo.

Sim, temos condi��es diferentes
das do passado.

Mas, tal como Fangio
teve uma corrida em que queimou a perna...

... lembro-me de uma corrida
no Bar�m, em 2009,

em que um...

... tubo do radiador se soltou,

come�ou a bater no cockpit diretamente,
no meu banco.

Tive umas queimaduras nas costas

e... fiquei muito desidratado

por causa das queimaduras
e do calor no cockpit.

Sim, h� diferentes n�veis
e circunst�ncias.

Continua a haver, no automobilismo,

condi��es extremas
que os pilotos t�m de enfrentar.

Gra�as a Deus, agora � mais seguro.

24 HORAS DE LE MANS, FRAN�A

Bem-vindos ao evento
mais importante do automobilismo.

Le Mans, 24 horas.

Os melhores pilotos medir�o for�as

numa das mais dif�ceis
corridas de resist�ncia.

Fangio e Moss, na equipa
da Mercedes Benz, s�o os favoritos.

Tamb�m prestaremos aten��o � Jaguar,
com Hawthorne, e a Castelloti no Ferrari.

Um dos acontecimentos mais tr�gicos,
claro, foi o acidente de Le Mans.

E... significou o fim da Mercedes

no automobilismo, na altura.

O acidente em Le Mans

aconteceu � minha frente.

Foi quando t�nhamos de fazer
a mudan�a dos pilotos.

Hawthorn, devido � velocidade da corrida,

entrou nas boxes depressa demais.

Macklin, que vinha atr�s,
chegou-se para fora.

Naquele momento,
Levegh tamb�m se afastou para passar,

mas passou por cima da roda de Macklin
e matou muita gente.

Preparei-me para o embate,
mas o caminho ficou livre.

Depois de eu passar,
o carro de Macklin bateu nas boxes

e matou pessoas nas boxes.

Toda a gente pensou
que fui eu que tive o acidente.

Porque v�nhamos t�o depressa.

V�nhamos muito depressa com os carros.

Acho que a atitude de conduzir mudou

devido � seguran�a.
Mas a seguran�a tinha de acontecer.

Se n�o tivesse mudado,

acho que a F�rmula 1 podia ter acabado.

Na verdade, acho que as seguradoras

teriam dito: "Basta."

Haver� outro grande acidente como Le Mans,
em que morreram 82 pessoas.

Porque os carros podiam facilmente
ir para cima dos espetadores.

As grandes empresas investiam nas equipas

e na F�rmula 1 em geral.
N�o queriam ver pilotos morrer.

Era publicidade negativa.

Precisavam de fazer algo
e fizeram um �timo trabalho.

Mas � um programa de desenvolvimento
sem fim, tem de continuar.

A seguran�a tem de continuar
a ser desenvolvida e a melhorar.

Em Estugarda, a Mercedes Benz
sa�da os seus her�is,

o campe�o mundial, Juan Manuel Fangio,
o campe�o de resist�ncia, Stirling Moss

e o campe�o europeu
de carros de turismo, Hermann Engel.

Fangio despede-se dos seus mec�nicos,

tendo ganhado nove dos 12 Grandes Pr�mios

e tr�s de quatro
campeonatos de resist�ncia,

a Mercedes decidiu
retirar-se da competi��o.

Os Flechas de Prata s�o cobertos.

Neubauer limpa uma l�grima.
� o fim de uma era.

Em 1956, quando a Mercedes se retirou...

... das corridas, eu sabia...

... que a Ferrari
ou a Maserati me procurariam.

De facto, depois de falar com Neubauer...

... pedi-lhe um conselho: "Se a Ferrari
ou a Maserati me quiserem,

quem escolho?" Ele disse: "A Ferrari."

O Fangio sempre soube para onde ir.
Estava sempre a trocar de carro.

Naquele tempo, podiam fazer isso.

Agora, t�m um contrato.

Normalmente, por um m�nimo de tr�s anos.

No m�ximo, cinco anos.

N�o podem mudar. Antigamente, podiam...

Mesmo no meu tempo,
t�nhamos contratos de cinco anos.

Era sempre hist�rico que os pilotos
mudassem de equipa.

Mas acho que...

... � uma situa��o totalmente l�gica.

O piloto quer estar
no monolugar mais r�pido.

E a equipa quer ter o piloto mais r�pido.

O nosso trabalho � ter o carro mais r�pido
para conseguirmos o melhor piloto.

GRANDE PR�MIO DA FRAN�A

Come�a o Grande Pr�mio de Reims.

Os tr�s Ferraris na primeira posi��o:
Collins, Castellotti e Fangio.

Mas Fangio lidera rapidamente.

Veremos se ele para a mar� de azar.

O Ferrari tem-lhe dado problemas
e teve de desistir das �ltimas corridas.

Tivemos problemas
quando corri com a Ferrari.

A Ferrari tinha um sistema diferente.

N�o havia exclusividade com um mec�nico.

Todos trabalhavam nos carros todos.

Fangio vai �s boxes.
Mais uma vez, o Ferrari tem problemas.

Tem um derramamento de combust�vel.
Custar� a corrida ao argentino.

Lembro-me de que Castellotti
se chateou nessa corrida.

N�o estava contente com o carro.

Ele disse: "Acho que vou desistir."

Eu disse-lhe: "Se s� tu desistires,
n�o acontece nada."

Em solidariedade com Castellotti,

que era meu amigo, tamb�m desisti.

Para todos os pilotos da hist�ria,

o objetivo sempre foi

chegar � Ferrari.
A Ferrari � a F�rmula 1, o mito.

A coisa mais incr�vel da F�rmula 1.
Quando vemos uma corrida de F�rmula 1,

vemos que 70 % ou 80 % dos espetadores

usam o bon� vermelho com o cavalo amarelo.

Fangio foi o �nico
que disse "n�o" � Ferrari.

A Ferrari disse
que n�o me libertava do contrato,

por isso, impus uma condi��o.

Que me dessem um mec�nico
respons�vel pelo meu carro.

Porque todos trabalhavam
em todos os carros.

N�o havia um respons�vel.

A Ferrari aceitou, deu-me um mec�nico
respons�vel pelo meu carro

e pude ganhar as corridas que faltavam.

GRANDE PR�MIO DA IT�LIA

No dif�cil e longo circuito de Monza,

os melhores pilotos do mundo
v�o disputar o pr�mio importante.

Para o nosso compatriota, Fangio,
esta corrida � fundamental.

Dela depender� ele ganhar
outro t�tulo mundial.

Se Fangio chegasse � terceira
ou quarta posi��o em Monza,

teria pontos suficientes
para ganhar o campeonato.

At� falou com os colegas de equipa,
Musso e Castellotti,

para terem uma corrida tranquila.

Ele n�o lutaria para chegar
ao primeiro lugar.

Num momento da corrida, o carro dele
come�ou a ter problemas de ader�ncia

e percebeu que tinha um problema
numa roda dianteira.

Conseguiram encontrar...

... uma fissura na coluna da dire��o.

Pediram o carro a Musso
para Fangio terminar a corrida

e conseguir pontos suficientes
para ganhar o campeonato.

Musso recusou...

... mas, naquele momento,
Peter Collins, vendo a situa��o...

... saiu e deu-lhe o carro.

Na 35.� volta, uma surpresa.
Collins oferece o carro a Fangio

com o qual El Chueco consegue
o segundo lugar, ap�s Stirling Moss.

Bastou para ele ser campe�o mundial
pela quarta vez.

Em 1955,
Fangio teve uma avaria na �ltima corrida

e Peter Collins, seu colega de equipa,
que tamb�m tinha a oportunidade de ganhar,

veio �s boxes e deu o carro a Fangio

para ele poder vencer
o campeonato mundial.

Acha que Lewis Hamilton
faria isso por mim?

N�o me parece.

N�o, os tempos mudaram.

Fangio era uma pessoa requintada,
muito gentil e educado,

mas era muito desconfiado.

Queria ser ele a dizer
como deviam fazer o carro,

como se devia preparar
e as configura��es que devia ter.

Pegava nele e fazia o circuito,

depois pedia-lhes para mudarem algo.

Mas Ferrari n�o gostava
das imposi��es de um piloto.

Queria ser ele.

Nunca se deram muito bem.

Por isso, quando o contrato dele acabou,
voltou para a Maserati.

Ele sempre gostou mais da Maserati

do que de qualquer outra f�brica.

Em 1957, a Maserati apresentou um 250F

com um motor de 12 cilindros,
muito mais potente

do que o motor de seis cilindros
da s�rie 250F.

O motor de 12 cilindros era muito
mais potente, mas era mais pesado.

Ent�o, gastava mais gasolina

e desgastava os pneus mais depressa.

Finalmente, Fangio disse
que preferia continuar a correr

com o motor de seis cilindros e que,
havendo uma diferen�a de meio segundo,

ele trataria desse meio segundo.

Eu n�o creio que tenha sido
um piloto espetacular.

Acho que fui um piloto
que corria dentro dos pr�prios meios.

Eu calculava a for�a do meu advers�rio.

Naquela ocasi�o, tive de fazer coisas
que talvez nunca tivesse feito.

GRANDE PR�MIO DA ALEMANHA

As circunst�ncias n�o estavam a meu favor.

O meu carro desgastava os pneus
muito depressa, o da outra equipa n�o.

Dissemos: "E se metermos menos gasolina

para eu poder ir mais depressa?"

Depois, podia trocar os pneus
a meio da corrida.

Portanto, quando come�aram a corrida,

ele deixou passar Hawthorn
e Collins nos Ferraris.

Deixou-os passar uma ou duas voltas,

mas ele fez tempos melhores nas curvas,

porque queria
que os pneus aquecessem mais.

Ap�s a segunda volta,
ele come�ou a acelerar

e teve tempos melhores:
9,38... 9,36... 9,34.

Quando parou na 12.� volta,

levava uma vantagem
de cerca de 23 segundos.

Perderia 22 segundos na troca de pneus

e mesmo que demorasse um pouco mais,

acabaria por ultrapassar os advers�rios.

Tudo estava a correr
de acordo com o plano.

Fangio chegou �s boxes
com alguma vantagem.

Parou.

Assim que come�aram a trocar os pneus,

um dos parafusos caiu
e rolou por baixo do carro.

Quando o mec�nico ia deixar partir Fangio,

n�o tinha esse parafuso.

Isto � o que estava debaixo do carro.

O cron�metro continuou a avan�ar.

Trouxeram-lhe um novo parafuso,

mas perdeu 58 ou 59 segundos
em vez de 22.

A corrida j� estava perdida.

Como um b�lide, El Chueco
tenta reconquistar o primeiro lugar.

Ele acelera ao m�ximo
e a dist�ncia diminui.

Segundo a segundo, o campe�o aproxima-se

e quebra a resist�ncia dos advers�rios.

Comecei a meter mudan�as altas.

Em vez da segunda, usei a terceira.

Em vez da quarta, a quinta...

... comecei a liderar,
a bater todos os recordes

e, na pen�ltima volta...

... passei Collins,
Collins ultrapassou-me outra vez,

ultrapassei-o outra vez
e alcancei Hawthorne.

Numa curva para cima,

quando ele se chegou para fora,
consegui passar

e apanhei a reta sem carros pela frente.

Ganhei por quatro segundos.

Mas o melhor de tudo

foi que os dois pilotos
me vieram abra�ar ap�s a corrida.

Como se eu fosse pai deles.
Hawthorne e Collins, os dois..

Porque ganhei uma corrida
que parecia imposs�vel de vencer.

Algo que eu esperava
que ele tivesse feito.

Ele era o melhor.
Creio que o melhor piloto do mundo

que eu vi conduzir.
Claro que nunca corri contra ele,

mas era um grande f�.
Tenho o aut�grafo dele.

Ele foi o maior piloto de sempre.

Mike Hawthorn era bom piloto,
bem como Peter Collins, nos Ferraris.

Mas Fangio no Maserati
fez com que parecessem lentos.

Fez uma corrida not�vel.
Uma das grandes corridas da sua vida.

Talvez a melhor corrida da minha vida
tamb�m foi em N�rburgring.

Pelo menos, temos isso em comum.

Quando fui campe�o mundial
pela quarta vez,

muita gente, quase todos os dias,
me perguntava:

"Vais tentar alcan�ar Fangio?"
Nunca tive esse objetivo.

Eu queria ser piloto de corridas.
Queria ganhar um campeonato,

mas ganhar quatro ou cinco
n�o era o meu objetivo.

Ali�s, tenho tanto respeito por Fangio

que n�o o fiz de prop�sito,
mas fiquei feliz por o deixar l�.

Quando parei,
ele tinha cinco e eu tinha quatro.

Ningu�m atr�s, sabe?

Fiquei quase feliz por o deixar como...

Ele ainda era o mestre, tanto melhor.

REIMS, FRAN�A

Quando se est� no apogeu,
� muito dif�cil...

... dizer que se vai deixar algo,
n�o s� nas competi��es, mas em geral.

J� tinha falado com o mec�nico e disse-lhe

que, se o carro andasse bem, competiria
em quatro corridas, naquele ano.

Mas o meu carro n�o andava muito bem.

Perguntei porque estava a acontecer.
Disseram: "Mud�mos os amortecedores."

Perguntei porque n�o us�vamos os mesmos.

Disseram:
"Porque nos pagam para usar estes."

Percebi que as coisas estavam
a tornar-se mais comerciais. E...

... quando eu corria, na 15.� volta,
partiu-se o pedal da embraiagem.

Fiquei sem embraiagem.

Acredito no destino.

As coisas estavam a acumular-se,
naquele ano.

Quando fui a Cuba,
fui raptado e n�o pude correr.

Em Indian�polis,
deram-me um carro que n�o funcionava

e, enquanto corria, comecei a pensar.

Pensei nos meus pais,
que estavam a ficar velhinhos.

Pensei que ainda teria tempo
para os compensar

por todo o sofrimento que tiveram

por eu correr por todo o lado,
porque os familiares sofrem muito.

Tudo isso se come�ou a acumular.
Era suposto eu sair durante um ano.

H� dez anos que eu corria.

J� estava cansado de corridas.

Enquanto corria, decidi que,
quando terminasse, deixaria as corridas.

Acho que o estudo
teve duas conclus�es principais.

Uma foi a import�ncia da equipa,

a respeito da raz�o
para os pilotos ganharem ou perderem.

A equipa � o mais importante.

Mas tamb�m conclu�mos
que o piloto importa

e produzimos a classifica��o de pilotos
em que Fangio � o melhor de todos.

Acho que as proezas dele n�o se repetiram.

Acho que outros ganharam
mais campeonatos

ou um n�mero semelhante.

Mas faz�-lo em quatro carros diferentes

de forma coerente,
ao longo de toda a carreira,

acho que n�o se repetiu

e � dif�cil que se venha a repetir
no desporto moderno.

HOMENS E M�QUINAS, A PAIX�O DO T.C.

A reforma para os desportistas

ou para qualquer pessoa habituada
a atividades intensas,

sobretudo o automobilismo,

� talvez uma das coisas
mais dif�ceis de fazer na vida.

Voltar a uma vida normal

� o que custa mais. Mas ele soube faz�-lo.

Conseguiu voltar a trabalhar.

Sempre relacionado com a Mercedes Benz
e atrav�s do concession�rio

e, claro, com uma vida...

... muito ativa e relacionada
com o seu passado desportivo.

Acho que Fangio foi o expoente m�ximo...

... de um grande desportista...

... que venceu corridas
em v�rios carros diferentes.

Esta m�quina � perfeita.

As qualidades de Fangio significam mais

para as pessoas com quem competiu.

De fora, via-se que ele era r�pido,
mas inteligente.

A estrat�gia da corrida.

Perguntei a Stirling Moss
e a outros que correram com ele

e disseram: "� o melhor. Foi o melhor."

N�o h� qualquer d�vida.
Nem perguntam porqu�.

N�o h� ningu�m como ele. Foi o melhor.

H� um livro na Argentina chamado
Quando o Homem � Mais Que o Mito.

Creio que o nome desse livro

� um reflexo perfeito de quem era Fangio.

No meu �ltimo livro...

... tive todos os meus colegas e amigos,
Rodriguez, Linge...

E aqui,

o meu querido e bom amigo,

Juan Manuel Fangio.

Deixe-me ler uma passagem:

"Fangio era, para mim, o piloto

que, pelas suas qualidades,
foi um exemplo para os outros.

Apesar do seu princ�pio humilde,

tinha uma presen�a e tanto.

Quando entrava numa sala,

via-se que tinha entrado
uma pessoa muito especial.

N�o havia ningu�m melhor."

Quando eu era mi�do,
lembro-me de um livro.

Acho que foi no segundo ano.
Nesse livro, um rapaz perguntava ao av�

se era triste envelhecer,
ter cabelos brancos e rugas na pele.

E o av� respondeu: "N�o � triste
para o homem que cumpriu o dever."

E � verdade.

N�o se deve temer a morte.
A morte vem quando tem de vir, � normal.

Se todos perceb�ssemos
que um dia n�o estaremos c�,

ser�amos todos mais bondosos.

Tenho a certeza.

Nunca esquecerei.

Balcarce � uma vila pequena, uma aldeia.

A pra�a � t�pica da Argentina.

�rvores para fazer sombra �s pessoas.

Havia dez mil pessoas na rua
quando carreg�mos Fangio.

O presidente da Mercedes, Stirling Moss,
eu, Carlos Reutemann, Gonz�lez.

Todos lev�mos o Juan
para o seu lugar de descanso final.

Primeiro, do museu dele
para o carro f�nebre,

para conduzir at� ao cemit�rio.

Fez-se sil�ncio absoluto e, de repente...

... algu�m bateu palmas.

Toda a aldeia explodiu. Foi espantoso.

Toda a gente, pelo amor de Fangio.

Uma grande emo��o.

Depois, cheg�mos ao...
Lev�mo-lo para o lugar de descanso final.

O jazigo que tinham.

Voltei para casa nesse dia.

Foi um dia longo. Mas...

Acho que foi
o maior automobilista de sempre,

porque tinha dignidade, estilo...

... e era mundialmente conhecido.
Todos sabiam o nome.

N�o era Juan Fangio, era s� Fangio.

Isso bastava, era a chave da porta.

JUAN MANUEL FANGIO GANHOU
CINCO CAMPEONATOS MUNDIAIS:

1951 COM A ALFA ROMEO,
1954 COM A MASERATI E A MERCEDES BENZ,

1955 COM A MERCEDES BENZ,
1956 COM A FERRARI E 1957 COM A MASERATI.

PARTICIPOU EM 51 CORRIDAS,
OBTEVE 29 POLE POSITIONS

E 23 VOLTAS R�PIDAS, SUBIU 35 VEZES
AO P�DIO E GANHOU 24 CORRIDAS

TODAS ESTAS PERCENTAGENS S�O,
AT� HOJE, AS MAIS ALTAS DO DESPORTO.

Legendas: Rodrigo Vaz