All language subtitles for The.Picture.of.Dorian.Gray.1945.720p.WEB-DL.H264-WEBiOS

O RETRATO DE DORIAN GRAY

Retrato de Dorian Gray enquanto
jovem, por HENRIQUE MEDINA

"Enviei a minha alma
atrav�s do invis�vel,

"Procurando algumas palavras
daquele p�s-vida por decifrar;

"E pouco a pouco a minha alma
voltou a mim,

"E respondeu-me, 'Eu sou Para�so
e sou Inferno'."

"O Rub�iy�t" de Omar Khayy�m

LONDRES - 1886

Lord Henry Wotton tinha-se
aplicado desde a juventude

ao s�rio estudo da grande
arte aristocr�tica

de n�o fazer absolutamente nada.

Vivia �nicamente para o prazer.

Mas o seu maior prazer

era observar as emo��es
dos seus amigos

embora ele pr�prio n�o
experimentasse nenhuma.

Divertia-se exercendo uma
s�btil influencia

na vida dos outros.

Dezoito, creio que foi o
que disse, senhor.

Devo esperar, senhor?

Sim.

Entre os amigos de Lord Henry
estava o pintor Basil Hallward.

Tinha-se mostrado estranhamente
reservado sobre o seu �ltimo quadro

e Lord Henry,
presumindo qualquer misterio,

decidiu descubrir o que era
que o seu amigo desejava esconder.

Ol�.

Lamento, Milord. O Sr. Hallward
n�o est� em casa.

O Sr. Hallward
n�o quer ser incomodado.

� a tua melhor obra, Basil.
O melhor que j� fizeste.

Claro que n�o posso crer
que algu�m seja realmente

t�o bem parecido como nesse retrato.

Quem � ele?

Porque fazes tanto segr�do nisso?

� uma bela obra.
Devias envi�-la para Grosvenor.

N�o a vou enviar a lado nenhum.

- Porqu�?
- Investi muito de mim mesmo nele.

Sabia que te ririas,
mas � a verdade.

N�o h� nenhuma semelhan�a entre
ti e esse Adonis.

Tu tens uma express�o intelectual
e o intelecto destroi

a beleza de qualquer rosto.

N�o tenhas ilus�es. N�o te pareces
nem um pouco com ele.

Claro que n�o me pare�o,

e fico satisfeito por isso.

"A sabedoria de Buda".

Sempre tiveste uma paix�o pela virtude.
Porque te satisfazes em n�o ser como ele?

Sofremos pelo que os deuses nos d�o
receio que Dorian Gray

pague pela sua beleza.

Dorian Gray!
� esse o nome dele?

Sim. N�o pensava dizer-te.

Se vou continuar a visitar-te
terei que te enviar um bom "jerez".

Por que n�o querias dizer-me o seu nome?

� medida que envelhe�o
chega-me o prazer do segr�do.

Suponho que te pare�er� uma tontice.

Vamos para o jardim.

N�o parece que seja tontice.

Esqueces que sou casado.
Um dos encantos do matrim�nio

� que cria um jogo de logros,
absolutamente necess�ria a ambas partes.

Acredito que sejas um bom
marido mas que est�s

envergonhado das tuas pr�prias virtudes.
O teu cinismo � apenas uma pose.

Ser natural � s� uma pose,
a mais irritante que conhe�o.

Diz-me a verdadeira raz�o
de n�o quereres mostrar o quadro.

H� pouco a dizer, Harry.
Al�m disso, n�o acreditarias.

Acredito em qualquer coisa,
desde que seja bastante incr�vel.

Temo que isto to pare�a.

H� algo que n�o compreendo,
algo m�stico.

M�stico?

N�o sei explicar. Mas sempre que
Dorian posa para mim

parece como se um poder alheio
a mim esteja a guiar-me a m�o.

� como se o quadro tivesse
vida pr�pria. Independente de mim.

Por isso � que n�o o mostro.
Pertence a Dorian Gray e d�-lo-ei a ele.

Deve ser um jov�m extraordin�rio.
Poder�amos ser amigos.

Escolho sempre os meus amigos pelo aspecto,
e meus inimigos pela intelig�ncia.

N�o se deve ter tanto esmero
na escolha dos inimigos.

Desprezo os teus princ�pios,
mas gosto do modo como os exp�es.

Agradam-me as pessoas,
mais que os princ�pios.

e as pessoas sem princ�pios
mais que qualquer outra coisa.

- Agora me lembro.
- Lembras-te o qu�, Harry?

Onde ouvi o nome de Dorian Gray.

Onde foi?

N�o te espantes.
Foi a minha tia Agatha.

Disse que tinha descoberto
um jov�m maravilhoso

que estava a ajud�-la nas obras de
caridade que o nome era Dorian Gray.

Imaginava algu�m com �culos, caminhando
penosamente com uns p�s enormes

portanto evitava encontr�-lo.

Essa � uma borboleta muito comum. �
raro encontrar no jardim dum cavalheiro.

Alegro-me que n�o tenhas
encontrado Dorian Gray.

- Por qu�?
- N�o quero que se conhe�am.

Quem est� a tocar piano, Basil?

- Vieste cedo hoje, Dorian.
- Vim?

Tem de emprestar-me estas partituras.
Quero conhec�-las.

Isso depende de como poses hoje.

- Pensava que o quadro ficava pronto hoje..
- Assim ser�.

Por favor, continue Mr. Gray.
Toca brilhantemente.

Este � Lord Henry Wotton,
um velho amigo de Oxford.

A minha tia falou-me de si, Mr. Gray.
� um dos seus favoritos.

N�o devia ocupar-se da filantropia.

Henry importar-te-�as
se te pedisse que te fosses?

- Devo ir, Mr. Gray?
- Fique e fale-me sobre a filantropia.

Basil, disseste que gostas que os teus
modelos tenham algu�m com quem falar.

Ent�o senta-te Henry.

Dorian, sobe para a plataforma,
e n�o d�s aten��o a Lord Henry.

Ele exerce uma m� influ�ncia
sobre os seus amigos excepto eu.

Exerce mesmo uma m� influ�ncia, Lord Henry?

N�o h� uma influ�ncia positiva Mr. Gray.
Toda a influ�ncia � imoral.

Por qu�?

Porque o objectivo da vida
� o desenvolvimento pessoal

para alcan�ar completamente
a natureza de si pr�prio.

Para isso estamos aqui. Uma pessoa
devia viver plena e completamente

dar forma a cada sentimento

express�o a cada pensamento,
realidade a cada sonho.

Cada impulso que reprimimos
aloja-se na mente envenenando-nos.

S� h� um modo de vencer a
tenta��o, e � ceder ante ela.

Resista-lhe, e a alma enfermar� �nsiosa
pelas coisas que se pro�biu o si pr�pria.

N�o h� nada que possa curar a
alma, excepto os sentidos.

do mesmo modo que nada pode curar
os sentidos sen�o a alma.

- Volta-te para a esquerda, Dorian.
- Os deuses foram-lhe favor�veis, Sr. Gray.

Por que diz isso?

Porque tem juventude, a �nica
coisa que vale a pena ter.

Eu n�o sinto assim, Lord Henry.

N�o o sente agora, mas um dia,
senti-lo-� terr�velmente.

O que os deuses oferecem,
retiram r�pidamente.

O tempo aci�ma-se de si.
N�o esbanje o ouro dos seus dias. Viva!

N�o perca nenhuma oportunidade que se
lhe ofere�a. N�o tenha m�do a nada.

A sua juventude perder-se-� em pouco
tempo, e nunca poder� recuper�-la.

Quando envelhecemos, a nossa mem�ria v�-se
assaltada pelas exquisitas tenta��es

em que n�o tivemos a
coragem de condescender.

O mundo � seu por uns tempos.
Seria tr�gico que

compreendesse demasiado tarde
como tantos outros

que s� uma coisa no mundo merece
a pena... que � a juventude.

Dorian Gray nunca tinha ouvido o elogio
da loucura expressado t�o eloquentemente.

A doutrina do prazer
convertia-se numa filosofia de vida.

Enquanto Dorian se sentia
como se se encontrasse enfeiti�ado.

Estava assustado com as ideias
de Lord Henry, e envergonhado

de si mesmo por estar assustado.

Era como se estivesse a aprender a
conhecer-se a si pr�prio pela primeira vez

como se um estranho
lhe tivesse revelado

os seus mais secretos pensamentos.

Pela primeira vez estava
consciente da sua juventude

e do facto de que
um dia a perderia.

A minha visita n�o foi em v�o. Encontrei
uma rara e formosa borboleta.

Muito rara em Inglaterra.

N�o a acha muito bela, Sr. Gray?

- Sim, Lord Henry.
- Senta-te, Dorian.

Afinal, agrada-me que tenhas
conhecido Lord Henry.

E a si, agrada-lhe, Sr. Gray?

Por agora sim. Pergunto-me
se ser� sempre assim.

Sempre? Mas que palavra assustadora.
Faz-me tremer.

�s mulheres agrada-lhe tanto.

Destroem o romance tentando que
seja eterno.

A �nica diferen�a entre um capricho
e uma paix�o duradoura,

� que o capricho se
dura um pouco mais tempo.

Creio que a nossa
anfitri� chegou.

Mesmo a tempo, querida, para ver
como assino o retrato de Dorian.

Posso assinar tamb�m?

Creio que tamb�m tens esse
direito

visto que sempre vieste posar.

"G" para Gladys.

O que preferes Gladys?

- Dorian Gray ou o seu retrato?
- Gosto de Dorian.

Prefere-lo agora, mas quando fores
uma jovem senhora preferir�s o retrato.

Continuar� como agora

enquanto n�s teremos mudado
e nunca para melhor

o teu tio e eu, e at� Dorian.

Dorian n�o mudar�, manter-se-�
tal como �

at� eu ser grande.
N�o � verdade, Dorian?

Claro que sim, querida.

Deves dizer adeus, princesa.
A nanny est� � espera. Vamos.

Ent�o e eu, minha jovem, porque
me roubou Dorian Gray

o teu amor por mim completamente?
- Adeus, Lord Henry.

Quando se souber disto, serei
arrasado em todos os sal�es de Londres.

Um cavalheiro n�o devia tirar o
chap�u na presen�a duma senhora, Parker?

Nunca tiro o chap�u excepto
quando estou no exterior.

- Ser� t�o encantadora como
era a tua irm�, Basil.

- Sim.

Mas receio que Dorian lhe tenha
roubado o seu cora��o tamb�m de mim.

Devo felicitar-te, Basil.

Olhe-se a si pr�prio, Sr. Gray.

Enquando eu envelhecer este quadro
permanecer� sempre jovem.

Se fosse apenas o inverso.

Se eu pudesse continuar sempre jovem
e apenas o quadro que envelhecesse.

Devias tent�-lo Basil. Passar
as fronteiras da tua arte.

Oponho-me firmemente, Henry.

N�o devia expressar tal desejo
diante daquele gato, Dorian.

� um dos 73 deuses eg�pcios e tem poder
suficiente para conceder o seu desejo.

Lord Henry tem raz�o, quando se
perde a juventude perde-se tudo.

Talvez uma ch�vena de ch�
to fa�a esquecer, Dorian.

Tamb�m queres, Henry?

Ou tens algo a objetar
a estes prazeres simples?

Adoro os prazeres simples. S�o
o �ltimo ref�gio do complexo.

� mais que um quadro.
� parte de mim mesmo.

Assim que esteja enquadrado, Dorian

enviar-to-ei a casa. E ent�o far�s com
ele o que desejes, como contigo mesmo.

Manda o gato eg�pcio. O deus e o
quadro n�o deviam estar separados.

Se Dorian o quer...

Se o ao menos o quadro pudesse mudar,
e eu pudesse ser sempre como sou agora.

Daria tudo para isso.
N�o h� nada

em todo o mundo que n�o daria.

Daria a minha alma por isso.

Dorian come�ou a aventurar-se s�
nos quentes anoiteceres de ver�o

pelos arredores que lhe eram estranhos.

Cheio de curiosidade pelos lugares e as
gentes estranhas � sua pr�pria experi�ncia,

vagabundeava pelo sub-mundo de Londres,

as palavras de Lord Henry

vibrando na sua mente.

"Viver! N�o perca nenhuma oportunidade.
N�o tenha m�do a nada".

"As Duas Tartarugas" sentem-se muito
honradas pela visita de um cavalheiro.

Faz favor, senhor.

Apresento-vos a noiva de
"As Duas Tartarugas"

a nossa Sibyl Vane.

"A neve era muita
e as migalhas muito poucas"

"quando o vento empurrou
um pardal que pela janela voou"

"seus olhos pousaram numa gaiola
d'ouro, e doce can��o de amor escutou"

"cantada por um canario"

"Um lindo p�ssaro amarelo

que lhe disse, Miss Pardaloca"

"Fui atingido
pela flecha de C�pido"

"Partilhar� a gaiola comigo?"

"Levantou ela a vista para
o seu castelo"

"com suas fitas e borlas"

"e num tom lastimoso disse ela"

"Adeus, pequeno passarinho amarelo
"melhor � desafiar o frio"

"pousada em �rvore desfolhada"

"que prisioneira ser"

"numa gaiola dourada".

Com muito gosto a apresentaria,
senhor.

Mas � orgulhosa. N�o quer
conhecer ningu�m.

Vem, minha deliciosa pomba!

Desce e faz uma peregrina��o
comigo, entre estes mortais.

"O mimado p�ssaro amarelo

"mal podia acreditar

"de um vulgar pardal a recusa

"a um p�ssaro da sua nobreza

"e contou-lhe as vantagens

"das riquezas e do ouro

"respondeu-lhe ela que
"a liberdade

"pelo ouro n�o podia ser vendida

"disse ela, tenho que ir-me

"mas gritou-lhe ele;
"n�o, n�o, est� a nevar

"e a invernosa ventania soprou

"fica comigo, meu amorzinho

"pois sem ti, seria triste

"mas ela apenas suspirou;
"ah, n�o

"adeus, pequeno passarinho amarelo

"gostaria de acasalar contigo

"pois amo-te, pequeno
"passarinho amarelo

"mas a liberdade, amo tamb�m

"adeus, pois, pequeno
"passarinho amarelo

"melhor � enfrentar o frio

"numa �rvora desfolhada

"que prisioneira ser

"numa

"gaiola

"dourada".

Est� encantada consigo, Senhor. Diga uma
palavra e acompanh�-lo-ei aos camarins.

N�o obrigado.

Noite ap�s noite, Dorian foi �s
"Duas Tartarugas" para ver Sibyl Vane.

Um mecenas das artes, Mrs. Vane.
Tem vindo todas as noites

desde h� 15 d�as.

Ele quer dizer quanto admira a sua filha.

Se mo permite, tenho um pedido.

Voc� � muito am�vel, Senhor.

Miss Vane, cantar�
"O pequeno p�ssaro amarelo",

para mim... agora?

Cantar�, senhor.
Com muito gosto.

N�o h� ningu�m que toque para mim.
J� todos se foram embora.

Creio que posso acompanh�-la.

Cantar�s, n�o, querida?

Sim

Com uma condi��o.

Por favor.

Pe�o-lhe desculpa pela minha filha.

"adeus pois, pequeno
"passarinho amarelo

"prefiro enfrentar o frio

"numa �rvora desfolhada

"que prisioneira ser

"numa gaiola de ouro.

� maravilhoso.
Foi voc� que comp�s?

Frederic Chopin para uma mulher a
quem amava. Chama-se George Sand.

- Algum dia lhe falarei deles.
- Isso agradava-me.

Que significa para si esta m�sica?

N�o sei.

Est� cheia de emo��es,
mas n�o � alegre.

- N�o, n�o � alegre.
- Por que estava ele infeliz?

Talvez porque sentisse como
a sua juventude se afastava dele.

- Que coisa estranha para voc� dizer.
- Por qu�?

Voc� � t�o jovem.

Sim...

voc� tamb�m.

Como se chama essa m�sica?
Tem nome?

Uma esp�cie de nome.
Chama-se... Prel�dio.

� assim que cuida da Sibyl, m�e?

Tu n�o compreendes isto
James, a tua irm�...

Gostava de n�o ter que ir � Austr�lia.

Se ao menos os meus artigos
n�o tivessem sido assinados.

Quero que Sibyl fa�a
um bom casamento.

As actrizes casam-se, muitas
vezes com pessoas de classe alta.

- Quem � esse jovem galante?
- N�o sei o seu nome, mas � rico.

Como se chama ele, Sybil?
Quais s�o a suas inten��es?

N�o sei quais s�o as suas inten��es,
mas sei o seu nome.

Chama-se Sir Tristan.

Nem sequer sabes o nome dele
mas j� lhe permites...

O teu irm�o tem raz�o Sybil.

N�o devias ter-lhe permitido
tanta familiaridade.

Ele � bom. Eu sei.

N�o h� nenhum mal nele.
Viste a sua cara?

N�o, mas gostaria de v�-la, porque
se ele te faz algum mal, mat�-lo-ei!

Jim! �s r�diculo, Jim.

Falas como nos melodramas
em que m�e actuava.

Recebi imensos convites muito
gratificantes nesse tempo.

O que digo � que cuides da Sybil,
m�e, cuida dela enquanto estou ausente.

Jim.

Partes esta noite.

O barco levar-te-� para longe,
por �guas escuras.

N�o deixes que te recorde
irritado e perturbado.

Est� melhor.

N�o podes perceber como as pessoas
s�o, s� ao olhar para as suas caras?

Pensas que sou tonta
ao chamar-lhe Sir Tristan,

mas para mim, ele � um dos
cavaleiros do Rei Artur

sobre quem l�amos quando
�ramos crian�as,

que fez votos de cavaleiro para
lutar contra os malfeitores,

para defender a justi�a
e proteger as mulheres,

para serem sinceros na
amizade e fi�is no amor.

N�o se pode enganar com este, senhor.
Nunca ouv� um trinado mais doce.

Pequeno passarinho amarelo...

- Atrasado como de costume, Harry.
- Por favor perdoe-me, tia Agatha.

A pontualidade � o ladr�o
do tempo, diz Harry.

Vit�ria, querida.
Que linda!

Adoro vir a sua casa, tia Agatha.

� um dos poucos lugares onde �
prov�vel encontrar o meu marido.

Oh, estou sempre a isto ca�r.

Mr. Gray tem algo muito importante a dizer-te.
Morremos de curiosidade por saber o que �.

Acho que pode esperar
at� depois de almo�o.

Estou surpreendida contigo
Harry, por que queres presuadir

a Mr. Gray que saia de East End?

� um m�sico maravilhoso,

e eles adoram ouvi-lo tocar.

O East End � um problema
muito importante.

Isso mesmo, � um problema de
escravatura. E tentamos resolv�-lo

divertindo os escravos.

Suspeito, Lord Henry

que estamos interessados nos
pobres para nos entreterem a n�s

especialmente porque vamos envelhecendo

e estamos incapazes de outras divers�es.

Lord Henry, devia dizer-me como
voltar a ser jovem novamente.

Lembra-se de alguns grandes erros
que cometeu na sua juventude, Duquesa?

Imensos, acho eu.

Ent�o cometa-os de novo.

Para recuperar a juventude, devemos

repetir todas as nossas loucuras.

Agrad�vel teoria.

- Uma teoria perigosa.
- Um dos segr�dos da vida.

A maioria das pessoas morre
de um arrepiante

senso comum e descobre
demasiado tarde

que nunca nos arrependemos
dos nossos pr�prios erros.

Decerto cada um vive por si.
Pagamos um pre�o terr�vel.

Somos sobre-cobrados por tudo.

Pagamos noutras formas que
n�o sejam dinheiro.

De que formas, Sir Thomas?

Suponho que em remorso,
em sofrimento,

na consci�ncia da degrada��o.

Nenhum homem civilizado
lamenta um prazer,

nem nenhum homem incivilizado
sabe o que � o prazer.

Eu sei que o prazer,

� adorar algu�m.

Creio que posso adivinhar o que tens
para me dizer de t�o importante.

Adorar algu�m � melhor que ser adorado.

Ser adorado n�o faz sentido.

As mulheres veneram-nos tal
como a humanidade venera os seus deuses.

Adoram-nos e incomodam-nos
para que fa�amos algo por elas.

Harry, �s incorrig�vel!

Admita que as mulheres d�o aos homens o
que de mais valioso t�m nas suas vidas.

Mas invari�velmente querem uma
contrapartida de t�o parca troca.

Elas inspiram-nos com o desejo
de fazer obras primas

e impedem-nos sempre
de as realizarmos.

N�o o compreendo.

Parece conhecer as mulheres
bastante bem, Henry.

Estou a analisar as mulheres
presentemente.

O tema � menos dif�cil do
que o que acreditava.

As mulheres representam o triunfo
da mat�ria sobre a intelig�ncia,

assim como os homens representam, o
triunfo da intelig�ncia sobre a moral.

Estes pontos de vista s�o
horrorosos, Lady Agatha!

N�o esperava ouvir o advogado
do diabo � sua mesa.

Pe�o desculpa, pela intelig�ncia
das minhas observa��es, Sir Thomas.

Tinha-me esquecido que � um
membro do parlamento.

Desculpar-me-� se me retiro
agora, Lady Agatha.

Antes das codornizes,
as primeiras da �poca?

Encomendei-as especialmente para si.

Certamente que antes
das codornizes, n�o, Sir Thomas.

Pense com os liberais e coma com os
conservadores. N�o � essa a regra?

Como discutem os homens!
Nunca sei do que est�o a falar.

Sente-se, Sir Thomas.

As ideias de Lord Henry s�o
desmoralizadoras mas encantadoras,

mas n�o s�o para levar a s�rio.

Confesso!

Nunca pude resistir
�s codornizes de Lady Agatha.

Bem, Dorian, que tens a dizer-me
de t�o importante?

Pelo que disseste suponho que
te apaixonaste.

Estou comprometido para me casar.

Afinal onde vamos, Henry?

- Ao N� 7 de Grosvenor Square.
- � Dorian quem vamos visitar?

Sim, vamos busc�-lo, e a seguir iremos
ver a jovem com quem est� comprometido.

- Dorian, comprometido? Com quem?
- Com uma actriz de "vaudeville" barato.

Uma atriz? Com cabelo oxigenado
e a cara pintada.

N�o te impressiones com isso.
H� um encanto extraordin�rio neles.

- Decerto n�o falas a s�rio.
- Espero nunca ser t�o s�rio.

� impossivel que o aproves.

Nunca aprovo ou desaprovo nada.

Dorian propoz casamento a
uma linda rapariga, e

cada experi�ncia tem o seu valor.
E o matrim�nio � uma grande experi�ncia.

Dorian f�-la-� sua mulher, e
seis meses depois

come�ar� a interessar-se
por outra qualquer.

- Poder� ele ser t�o infiel?
- A fidelidade n�o � sen�o pergui�a.

O N�. 7, Sir.

Estava a vigi�-los.

Vamos a Lower Euston Road N�. 22.

- Lower Euston, Sir?
- Lower Euston Road.

Surpreendem-se sempre que dou essa morada.

Depressa!

Quero que a vejam
antes de ela cantar.

Espero que sejas sempre t�o
feliz como agora, Dorian.

Obrigado, Basil. O nosso compromisso
ainda � um segr�do.

Que dir�o os teus tutores?

Claro que ficar�o furiosos, mas
n�o poder�o fazer nada.

Posso fazer-te uma pergunta, Dorian?

Quando lhe falaste em casamento?

Nunca fiz nenhum pedido formal.
Disse-lhe que a amava.

Ela respondeu que n�o
merecia ser minha mulher.

As mulheres s�o
maravilhosamente pr�ticas.

Em situa��es como essa, quando nos
esquecemos a referir o casamento,

lembram-nos sempre.

A Sibyl fez-me esquecer as
tuas teor�as venenosas.

- Que teorias Dorian?
- Teorias sobre a vida, sobre o prazer.

S� o prazer � merecedor de
ter uma teoria.

� o sinal de aprova��o da natureza.
Quando somos felizes, somos bons.

Mas quando somos bons,
nem sempre somos felizes.

Sibyl � a resposta ao teu cinismo.
Compreender�s quando a vires.

"adeus pois,

"pequeno passarinho amarelo

"melhor � enfrentar o frio

"numa �rvore desfolhada

"que prisioneira ser

"numa gaiola dourada".

Este casamento � perfeito.
N�o pensava assim

mas desde o momento em que a
vimos que me convenci disso.

� encantadora e transparentemente
inocente tamb�m.

Sabia que dirias isso.

Ela � tudo isso, mas n�o
concordo com Basil.

Ama-te tanto que n�o precisas
de casar-te com ela.

Que maldade est�s a tramar?

Devia estar zangado, Henry mas estou
bastante feliz. Sibyl � sagrada.

S� as coisas sagradas
merecem ser tocadas.

- Come�o a sentir-te desagrad�vel.
- N�o lhe d�s ouvidos, Dorian.

N�o te preocupes, Basil.
Sou imune �s suas ideias.

Ent�o n�o preciso de dizer-te
como agiria eu no teu lugar.

Que farias, Henry?
Tenho curiosidade em saber.

Convid�-la-ia para minha casa
para ver o retrato de Basil.

Depois pedir-lhe-ia que n�o
se fosse embora.

Ficar�a escandalizada.
Eu fingiria ficar decepcionado.

Se ainda quizesse ir-se,
mostrar-me-ia frio, indiferente

dizendo que n�o podia suportar as
despedidas tristes ou algo assim.

Se ela se fosse,
come�aria a acreditar

que � t�o boa como formosa
e casar-me-ia com ela.

Sempre achei que a tua
perversidade era simulada.

Agora conhe�o-te melhor.
�s um aut�ntico patife.

Tentar�s a minha ideia, Dorian?

Miss Vane... Miss Vane, o seu Sir
Tristan, como ador�velmente lhe chama

j� a convidou a ver o retrato
que Basil Hallward fez dele?

N�o. Gostaria de o ver.
Posso?

Com certeza, querida,
Esta noite, se quizer.

Lembrar-me-ei sempre
desta sala

tal como � agora,

o candeeiro, tu ao piano,

a minha pr�pria felicidade.

O teu rel�gio acha que s�o
horas de ir para casa.

Os rel�gios n�o podem

evitar ser desagrad�veis.
Pensam que cumprem o seu dever.

� esse gato.

Creio que vi os olhos mexerem-se.

Talvez tenha visto.

Lord Henry diz que � um dos
73 grandes deuses do Egipto.

- N�o te assusta?
- Sim, um pouco.

Ouve isto.

"� aurora segue-se a aurora
e envelhece o ocaso

"e entretanto este curioso gato permanece
"agachado sobre o tapete da china

"com seus olhos de setim
"bordejados a ouro.

"Sai da� mist�rio odioso
"horrendo animal, sai da�.

"Despertas em mim sentidos bestiais.
"Fazes de mim o que n�o seria.

"Convertes a minha cren�a
"em est�ril vergonha.

"Despertas imundos sonhos

"de vida sensual!"

Que poema estranho.
Quem o escreveu?

Um brilhante jovem irland�s sa�do
de Oxford. Chama-se Oscar Wilde.

Porque me olhas
dessa maneira t�o esquisita?

Que farias Sibyl, se te
dissesse;

"n�o me deixes agora,
n�o v�s para casa. "

Que farias, Sibyl?

Suponho que deveria esperar
uma reac��o convencional.

Boa noite, ent�o.

Boa noite.

N�o te importas de sa�r assim, pois n�o?
N�o suporto despedidas tristes.

Um amigo sensato advertiu-me
de que a tua inoc�ncia,

sobre a qual teria assente a minha vida,
n�o resistiria � prova que te propuz.

Considerei cinismo o seu saber.

Agora sei-o melhor.
Mataste o meu amor.

Tra�ste o ideal que tinha
concebido para ti.

Serviste para excitar a minha imagina��o.
Agora nada �s para mim.

Nunca voltarei a ver-te, ou a pronunciar
o teu nome, ou a pensar em ti.

Daqui em diante vivirei s� para o prazer.
Todo o resto n�o faz sentido.

E se isto me leva � destrui��o
da minha alma s� tu �s responsavel.

N�o tentes ver-me.

Deixarei Inglaterra
s� voltarei daqui a muito tempo.

Com esta carta envio-te
uma oferta de dinheiro

que te compensar� por qualquer
desilus�o que possas sentir.

Estive a viver
num mundo de ilus�es.

Agora porei fim a meus sonhos.

A minha verdadeira vida,
d� in�cio � minha vida pr�pria

na qual, possivelmente.
n�o poder�s participar.

Cinco minutos, Miss Vane.

Apesar de si mesmo, Dorian estava
inquieto pelo que tinha feito.

A sua consci�ncia intranquila fazia
com que evitasse os seus conhecidos.

Toda a noite, tinha vagabundeado
s�, pelas ruas poucos iluminadas

do submundo londrino.

Quando finalmente voltou a sua casa
silenciosa e deserta de Mayfair,

n�o podia sobrepor-se � sensa��o
de algo nefasto que o amea�ava.

Os seus olhos pousaram sobre o retrato
que Basil Hallward lhe tinha pintado.

� t�nue e sombria luz

a cara que apareceu diante dele
parecia ligeiramente... mudada.

a express�o parecia
de certo modo diferente.

Dir-se-ia que havia um
ar de crueldade na boca.

Era muito estranho.

N�o havia d�vida de que toda
a express�o se tinha alterado.

Os tra�os de crueldade ao redor
da boca eram inconfund�veis.

N�o havia tal express�o no seu rosto.

"Se ao menos o quadro pudesse mudar,
e eu pudesse ser sempre como sou agora".

"Daria tudo para isso.
Sim. N�o h� nada

em todo o mundo que n�o daria".

"Daria a minha alma por isso.

Mas os seus desejos
n�o seriam totalmente satisfeitos.

Tais coisas eram imposs�veis.
Era at� monstruoso pensar nisso.

E se algu�m mais observasse
a horr�vel altera��o?

O seu criado, talvez.

E se Basil Hallward lhe pedisse
para ver o seu pr�prio quadro?

mas aquilo era rid�culo.
Era uma simples alucina��o.

Uma ilus�o criada pelos
seus sentidos perturbados.

O quadro n�o tinha mudado.
Era loucura pensar isso.

Uma tela pintada n�o pode alterar-se!

Olh�-la-ia de novo quando tivesse
dormido, e estivesse mais calmo

e poderia rir-se
desta ideia fant�stica.

Mas ao anoitecer quando voltou
para examinar de novo o retrato

por fant�stica que fosse a ideia,
a sua mem�ria daquele olhar cruel

estava inquietantemente viva.

Era verdade.
A express�o tinha-se alterado.

N�o havia d�vida disso.
Era incr�vel.

E todavia, era um facto.

Ir�a o retrato converter-se na
alegoria da sua pr�pria consci�ncia?

Ensin�-lo-ia a regeitar
a sua pr�pria alma?

Mas se o quadro fosse ser a sua conci�ncia
vis�vel deixar-se-ia instruir por ela.

N�o lhe daria motivos
para o censurar.

Viveria pura e nobremente.

Tinha sido cruel para Sibyl Vane
mas podia corrigir isso.

Ela ainda podia ser sua esposa.

Casar-se-ia com ela.
Poderiam ser felizes juntos.

Implorou-lhe o seu perd�o.
Culpou-se a si pr�prio.

Abriu caminho livre ao luxo
da auto recrimina��o.

Quando terminou a carta
sentiu que tinha sido perdoado.

Dorian, deixa-me entrar.
Tenho que te ver.

Abre a porta, Dorian.
N�o me vou embora sem te falar.

Dorian! Deixa-me entrar!

N�o deves fechar-te em vida.
Lamento o que aconteceu.

Referes-te a Sibyl Vane.

- Sim, claro.
- Est� bem. Fico-te agradecido.

Aprendi a conhecer-me melhor.

A partir de agora, farei o que
a minha consci�ncia ditar.

- Afinal de que est�s a falar?
- De Sibel Vane. Vou casar-me com ela.

Casar com ela?

Sei o que vais dizer.
Algo c�nico acerca do casamento.

N�o digas. H� duas semanas pedi
a Sibyl para se casar comigo.

N�o faltarei � minha palavra.

- Ent�o n�o sabes.
- Sei o qu�?

N�o leste o jornal desta manh�?

N�o, n�o li.

Que foi, Henry?
Que aconteceu?

Sibyl Vane morreu.

Foi por isso que vim visitar-te.

N�o quiz ver ningu�m at� ver-te.
Quando vi que te fechaste

pensei que sabias disso.
N�o deves intrometer-te na investiga��o.

No teatro n�o sabem o teu nome.

A Sibyl...

conta-me tudo, Henry.
- �bviamente, n�o foi um acidente.

Suponho que deve aparecer como tal
perante a opini�o p�blica.

�s doze e trinta sa�u do teatro
a com a m�e.

Esqueceu algo e foi ao camarim.
J� n�o voltou.

Encontraram-na ca�da no ch�o.
Tomou qualquer coisa, por erro. Dizem.

Morreu instant�neamente.

� tr�gico, claro

mas n�o deves ficar a cismar nisso.
Deves v�-lo na devida perspectiva.

Deves afast�-lo da mente. Vem jantar comigo.
Depois, vamos � �pera. � Dom Giovanni.

Vai estar l� toda a gente. Podes
ficar no camarote da minha irm�.

Ent�o matei Sibyl Vane. T�o certo
como se lhe tivesse cortado a garganta.

N�o percebo porque
te culpas a ti pr�prio.

Pensou que te tinha perdido,

mas nenhuma mulher se destr�i a si
mesma, se n�o est� j� desequilibrada.

Se tivesses casado com ela
ambos teriam sido infelizes.

- Asseguro-te teriam fracassado.
- Lembro-me de dizeres que as

boas decis�es s�o
sempre tomadas demasiado tarde.

As minhas, certamente eram.

V� esta trag�dia como um
epis�dio no espect�culo da vida.

Que foi que aconteceu?
Algu�m se suic�dou porque amor a ti.

Desejaria ter tido
uma tal experi�ncia.

As mulheres que me admiraram
teimaram sempre em continuar

a viver at� muito depois de ter
deixado de me interessar por elas.

Ficaram gordas e ma�adoras.

Voltaram-se para as suas recorda��es.

A maldita mem�ria das mulheres.

Uma destas noites encontrei
uma dessas mulheres, num jantar.

Ela tinha certa vez proposto
sacrificar tudo por mim.

Foi um momento horr�vel. Enche qualquer

um de terror para toda a eternidade.

Tinha sido h� anos, mas teimava que
lhe tinha destru�do a vida.

Por�m, devorou um enorme jantar.

Nenhuma mulher teria feito por mim
o que Sibyl fez por ti.

Jantar�s comigo esta noite?

N�o me sinto em condi��es para isso.

Talvez, me encontres na �pera.
O camarote da minha irm� � o 27.

Ver�s o seu nome na porta.

N�o quero que percas o dueto.

Lamento Mr. Hallward,
o Mr. Gray n�o est�, foi � �pera.

- � �pera?
- Sim, senhor. Quer deixar algum recado?

N�o, n�o. Volto amanh�.

Na manh� seguinte Dorian j� n�o
queria o consolo do seu amigo

nem as suas censuras.

O seu orgulho e sentimento de culpa
levaram-no a adoptar um ar de indiferen�a.

Ol� Basil. Desculpa ter-te feito esperar.
J� tomaste o pequeno almo�o?

Sim tomei, obrigado.

Tenho fome. Importas-te que coma
enquanto falamos?

Claro que n�o.

Foste � �pera enquanto
Sibyl Vane jazia morta?

O que � passado, � passado.

Chamas passado a ontem?

S� as pessoas superficiais precisam
de anos para esquecer uma emo��o.

Um homem que � senhor de si pr�prio
pode f�cilmente acabar com uma tristeza

t�o f�cilmente como inventa um prazer.

N�o quero estar
� merc� das minhas emo��es.

Quero us�-las. Desfrut�-las, domin�-las.

Algo te mudou completamente, Dorian.

Pareces o mesmo, mas falas como se
n�o tivesses cora��o. Nem piedade.

Chegaste demasiado tarde.

Se tivesses vindo ontem
num certo momento

cerca das cinco e meia, poderias ter
visto como estava profundamente afectado.

At� o Henry, que me deu a not�cia, n�o
fazia ideia do que eu esteva a passar.

Sofri imenso.
Depois, passou.

N�o posso repetir uma emo��o.
Ningu�m pode.

Esse que fala n�o �s tu, Dorian.
S�o as ideias de Henry.

N�o tem nada a ver com Henry.

N�o foi Henry que te deu esse
livro amarelo que vi na tua mesa?

Que tem de mal?

� vil, malvado, demon�aco
e decadente. Detesto-o.

Que gostarias que eu lesse, Basil?

J� que perguntas

"A luz de �sia".
Nunca ando sem ele.

A hist�ria de Buda, n�o �?

A hist�ria de Buda, um homem bom.
Promete-me que o l�s, Dorian.

Prometo.

Fizeste um esbo�o de Sibyl.
Encantador. Posso ficar com ele?

Com certeza.

Agora tenho que ir-me, Dorian.

Consola-me encontrar-te com t�o bom
�nimo apesar de tudo o que aconteceu.

Obrigado Basil.
� bom preocupares-te tanto.

Antes de ir, gostava de ver

o quadro que pintei de ti.

Tem um biombo pela frente. Creio que
a sala era diferente quando cheguei.

A luz era demasiado forte.

Acho que n�o.

� um excelente lugar para ele.

Espera!

- N�o deves v�-lo.
- N�o posso ver o meu quadro? N�o falas a s�rio.

Por que n�o devo?

N�o posso explicar-te

mas se tentas ver esse quadro
n�o voltarei a falar contigo.

Que raio se passa contigo?
Estou a pensar exp�-lo no m�s que vem.

Exp�-lo? H� um m�s, disseste-me
que nunca o exporias.

A Henry disseste-lhe o mesmo.

Naquele momento, o retrato tinha

uma estranha fascina��o para mim.

Parecia ter vida por si mesmo.

Afectou-me tanto que achei que n�o
devia ser visto publicamente.

Talvez tenhas visto a mesma
misteriosa qualidade nele, Dorian.

Notaste algo de
estranho no quadro?

Algo que n�o viste de in�cio mas
que se imp�s a ti s�bitamente?

Vejo que viste.

Vi qualquer coisa nele,

algo que me parecia muito curioso.

Tinhas raz�o.
Pode haver algo fatal nesse retrato.

Creio que percebo o que sentes

e respeito os teus desejos.

Talvez algum dia recuperar�s
disso como me aconteceu a mim.

N�o quero destruir a nossa
amisade de modo nenhum.

Alegra-me sab�-lo.

- Adeus, Dorian.
- Adeus, Basil.

Seria loucura dele permitir que o retrato
permanecesse ainda que s� uma hora,

numa sala � qual os
seus amigos tinham acesso.

Doravante, devia estar protegido
� sua guarda contra todos.

Na parte de cima da casa era o
seu antigo quarto de estudo,

que n�o era utilizado h� anos.

Nunca ningu�m l� tinha entrado.

N�o havia ali nada salvo
velhos livros escolares

e brinquedos amontoados,
p� e teias de aranhas.

O quadro poderia ficar escondido
e protegido naquele lugar.

Fech�-lo-ia.
Ele mesmo guardaria a chave.

N�o havia necessidade que os
criados entrassem no quarto.

Teria de mandar Victor embora
e tamb�m os outros.

Tinha de trazer novos
criados para a casa.

Neste quarto cada instante da sua inf�ncia
e sua pureza imaculada, eram revividos.

Aqui, entre as inocentes recorda��es da
sua inf�ncia, o horr�vel retrato

ficaria escondido para sempre.

O rosto pintado na tela poderia
tornar-se bestial, informe e sujo.

Ningu�m jamais o veria.

Ningu�m... excepto ele.

Teria a juventude eterna, enquanto o
retrato carregaria o peso da sua vergonha.

Estava amarrado a
um destino demon�aco.

Enquanto os anos passavam o milagre da
juventude imut�vel de Dorian causou surpresa

mas rara suspeita.

At� aqueles que tinham ouvido as coisas
mais diab�licas sobre ele,

estranhos boatos sobre o seu
modo de vida,

espalhados por Londres
pelas conversas nos clubes,

podiam crer em algo de
indigno, quando o viam.

Tinha sempre o aspecto de algu�m que
se tinha mantido � margem do mundo.

Mas se fascinavam muitos, n�o eram
poucos os que desconfiavam dele.

Hist�rias curiosas circulavam
acerca dele.

Murmurava-se que tinha sido visto num
antro, nas afastadas zonas de Whitechapel.

As suas extraordin�rias aus�ncias
tornaram-se not�rias,

e quando reaparecia em sociedade, os
homens segredavam entre eles pelos cantos.

ou o olhavam com olhos
frios e prescrutadores.

Alguns dos que tinham sido mais
int�mos dele, come�aram a evit�-lo.

As mulheres que tinham desafiado,
as conven��es por ele, pareciam

pareciam empalidecer se
Dorian Gray entrava na sala.

N�o podia suportar ficar
muito tempo fora de Inglaterra

ou ficar separado do seu retrato
que fazia parte da sua vida.

Temia que na sua aus�ncia
algu�m conseguisse

entrar no quarto
onde estava escondido.

Ent�o, s�bitamente, algumas
noites descia a horr�veis lugares

mal afamados junto a "Blue Gate Fields"
e ficava ali dia ap�s dia.

Quando estava recuperado
destas visitas aos abismos,

ficava diante do quadro �s vezes
detestando-o, e a si pr�prio,

mas cheio outras vezes, desse
orgulho do individualismo

que � metade da
fascina��o do mal.

Examinava com cuidado minucioso
as horr�veis as rugas da fronte

ou que rodeavam a sua boca sensual,

perguntando-se
quais eram mais horriveis,

os ind�cios do pecado
ou os ind�cios da idade.

Encontrou raz�es
para justificar as suas ac��es.

Disse a si mesmo que um
homem era um ser

com uma diversidade de vidas
e diversas sensa��es.

Para viver uma vida simples, sincera,

honesta, era dif�cil viv�-las todas.

A falta de sinceridade
era uma coisa assim t�o terr�vel?

Dorian pensava que n�o.

Era simplesmente um m�todo
pelo qual

poder�amos multiplicar as
nossas personalidades.

Por�m, havia uma pessoa com a qual

ele achava dif�cil n�o ser sincero.

Era a sobrinha de Basil Hallward,

Gladys, que o tinha amado desde
que era uma crian�a.

"Adeus ent�o,
"pequeno passarinho amarelo

"Melhor �, enfrentar
"o frio

"numa �rvore desfolhada

"que prisioneira ser

"numa gaiola dourada

Estava perto, e entrei por instantes.

Encontrei esta velha can��o
no banco do teu piano.

� encantadora.

Como o rosto que meu tio
desenhou nela.

F�-lo ele n�o? Conhe�o o seu
estilo muito bem.

Era ela que cantava esta can��o?
Quem � ela?

Fala-me dela.

Morreu h� muitos anos,
quando tu ainda eras crian�a.

- Amava-la muito, Dorian?
- Sim.

Adeus, Dorian. Estou
ansiosa pela tua festa esta noite.

Decerto ser� maravilhosa.

N�o sou t�o linda como
nesse retrato, sou querido?

Claro que n�o.

Creio que descubri porque Dorian

n�o me fez uma declara��o.

Decidi o que devo fazer.

E que decidiste fazer?

Vou pedir-lhe que case comigo
esta noite, talvez.

Ent�o e David Stone?

N�o te levaria � festa de Dorian
se soubesse as tuas inten��es.

Claro que sim, levava mas n�o
tenciono dizer-lhe.

N�o, n�o digas a David.

David! Seu patife!
Nunca pensei que escutavas �s portas.

N�o se alarme acerca de Dorian Gray,
Mr. Hallward.

Gladys casar� comigo.

N�o tenho uma palavra a dizer, nisto?

N�o deixarei que cases
com esse dem�nio.

N�o digas nada mau dele.

H� outros para o dizerem por mim.

Mentiras e ci�mes.
N�o h� nada de mal em Dorian.

Todos podem ver isso olhando
para ele.

Ele n�o te pediu.

Pedi-lo-ei eu mesma esta noite.

Diante daquela gente?

V�-lo-ei a s�s.
� uma casa grande.

Boa noite, senhor.

Boa noite, David.

Que se passa, Dorian?
Porque n�o me respondes?

H� algo que eu n�o saiba?

Deves ter ouvido as hist�rias
que eles contam de mim.

N�o te assustam?

N�o acredito nelas.

E se te disser que est�o certas.

Nunca acreditarei em nada de mau em ti.

Que sabes do mal?

S� sei que que n�o h� nenhum em ti.

Se tens algum problema, Dorian
queria partilh�-lo.

Se me casasse contigo
seria uma incr�vel perversidade.

Essa � a tua maneira de me
dizer que n�o me amas?

Se quiseres.

� muito bonito, Dorian.

Obrigada.

Podias procurar David por mim?

Tenho de ir-me, agora.

Estive a explorar a sua casa Dorian. N�o
se importa? � melhor que um museu.

Estou a ver.

Devem haver preciosidades

de valor incalcul�vel nesse quarto,
se as mant�m encerradas.

Posso v�-las algum dia?

Que raridades tem
ali armazenadas, Dorian?

Esqueletos de convidados curiosos.

Calculo que muitos.

Quero ir agora, David.

- Com certeza.
- Boa noite, Dorian.

Boa noite.

- Boa noite.
- Boa noite.

Foi a 9 de novembro,
na v�spera dos seus 38 anos

como Dorian recordaria depois
muitas vezes mais tarde.

Voltava para casa cerca das 11
vindo de casa de Lord Henry.

Uma estranha sensa��o de medo

que n�o podia descrever apossou-se
dele, ante a vis�o de Basil Hallward

impedindo-o de dar qualquer
sinal de reconhec�-lo.

Dorian!

Parecia-me que eras tu,

mas n�o tinha a certeza.
N�o me reconheces?

Com esta n�voa?
N�o consigo reconhecer Grosvenor Square.

Creio que a minha casa deve ser aqui
algures, mas n�o tenho a certeza.

Estive � tua espera na tua
biblioteca, desde as nove horas.

Disse ao teu criado
para se ir deitar.

Parto para Paris esta noite.
Queria ver-te antes de ir.

Tenho pena que tenhas que ir.
N�o te vejo h� tempos.

Suponho que voltar�s em breve.

Estarei fora alguns meses. Vou alugar
um est�dio em Paris

e isolar-me para terminar um
quadro que tenho em mente.

Gladys juntar-se-� a mim mais tarde.
Posso entrar por um instante?

- N�o vais perder o comboio?
- S� parte �s 00:15, ainda s�o 11:30.

Na verdade estava a caminho
do club � tua procura.

N�o haver� atrazos com a bagagem,
j� despachei as coisas pesadas.

S� levo comigo esta mala.

Entra, ou a n�voa invadir� a casa.

Espero que n�o v�s falar
de uma coisa muito s�ria.

Nada � s�rio de hoje em dia.

Pelo menos, n�o deveria s�-lo.

O que tenho que dizer-te � s�rio,
Dorian. N�o franzas o sobrolho.

Tornar-se muito mais dificil
para mim.

Espero que n�o seja sobre mim.

Estou cansado de mim mesmo.

� sobre ti, e devo dizer-to.

S� te reterei meia hora.

Soa terrivelmente, Basil.

� para o teu bem
o que estou a falar.

Creio que devias saber
as coisas que se dizem contra ti.

N�o quero sab�-las.

Adoro esc�ndalos sobre os outros
mas os meus n�o me interessam.

Falta-lhes a novidade.

Deves estar interessado
na tua pr�pria reputa��o.

Repara, n�o acredito
nesses boatos.

N�o posso acreditar, quando te vejo.

N�o h� v�cios secretos.
Tais coisas ficam escritas

nos rostos dos homens.

Tu, com a tua imperturb�vel
juventude

�- me dif�cil acreditar em
algo contra ti.

Quando ou�o estas coisas
horr�veis sobre ti,

n�o sei que dizer.

Dispenso-te da necessidade
de me defender.

N�o podes esquecer estas
acusa��es com tanta ligeireza.

Por que � que o Duque abandona
um sal�o quando tu entras?

N�o � porque saiba da minha vida,
mas porque eu conhe�o a dele.

Por que s�o as tuas amizades
t�o fatais para os demais?

Esse rapaz da guarda suicidou-se.

E que dizer de Adrian Singleton
e do filho de Lord Wayne?

Que cavalheiros seriam vistos
com qualquer deles?

O rapaz da guarda amava uma
mulher e achou que n�o

podia viver sem ela.
Sou o culpado disso?

O filho de Wayne casou-se com
uma mulher que ningu�m aceita.

� culpa minha?

Adrian assina o nome dum seu amigo
numa factura. Sou o seu tutor?

Pode-se julgar um homem pelo
efeito que tem sobre os seus amigos.

Os teus parecem cheios duma
loucura insaci�vel pelo prazer.

E quando penso em como Gladys
est� apaixonada por ti

- Que tem Gladys a ver com isto?
- Nada, espero,

e nada no futuro se eu
poder evit�-lo.

Contaram-me coisas
que parece imposs�vel d�vidar.

Lord Wallace foi meu amigo em Oxford.

Mostrou-me uma carta que a mulher

tinha escrito quando estava a morrer
s�zinha, em Menton.

O teu nome estava envolvido

na mais terr�vel confiss�o que
alguma vez li.

Disse-lhe que era absurdo

que te conhecia e que eras incapaz
de algo desse g�nero.

N�o. Conhe�o-te?

Antes de poder responder a isso,

teria de ver a tua alma.

Ver a minha alma?

Sim, ver a tua alma, mas s�
Deus pode fazer isso.

v�-la-�s tu mesmo, esta noite.

Por que n�o devias v�-la?

� a tua pr�pria obra.

Podes depois contar a
todos se quiseres.

Ningu�m te acreditar�.

Falaste demasiado sobre corrup��o.

Agora olh�-la-�s.

Mostar-te-ei a minha alma.

N�o vejo sentido no que dizes, Dorian.

S� te pe�o que me d�s alguma resposta

�s horr�veis acusa��es contra ti.

Diz-me que s�o mentira
e eu acreditarei em ti.

Vem c� acima, Basil.

Mantenho um di�rio da minha vida,
dia a dia. Nunca sai do quarto.

Mostrar-to-ei.

N�o quero ler nada.

Tudo o que quero � uma resposta
clara � minha pergunta.

Encontr�-la-�s l� em cima.
N�o tens de ler muito.

�s o �nico homem no mundo

que tem o direito de saber
tudo a meu respeito.

Tiveste mais a ver

com a minha vida do que pensas.

Pensas que � s� Deus que v� a alma?

Apesar da indescrit�vel
corrupc�o do retrato,

Basil ainda foi capaz de reconhecer
o seu retrato de Dorian.

Era do interior, aparentemente,
que procediam a impureza e o horror.

Era como se alguma lepra
moral estivesse a corro�-lo.

N�o podia acreditar que
tivesse pintado aquele retrato,

e todavia, l� estava o seu

pr�prio nome tal como o
tinha pintado.

Isto � monstruoso.

Est� para l� da natureza,
para l� da raz�o.

Que significa?

No dia em que acabaste
este retrato,

pedi um desejo.

Talvez, podesses chamar-lhe
uma ora��o.

O meu desejo cumpriu-se.

Disseste-me que tenhas
destru�do a minha pintura.

Estava enganado.

Ela destru�u-me a mim.

Tem os olhos de um dem�nio.

Todos temos o c�u e o inferno
dentro de n�s.

Se isso � verdade,

se isto � o que fizeste
com a tua vida

� muito pior que
tudo o que se diz de ti.

Sabes rezar, Dorian?

Que nos ensinaram
a dizer na nossa inf�ncia?

"livrai-nos da tenta��o,
perdoai os nossos pecados,

"absolvei-nos das nossas
iniq�idades. "

- Digamo-la juntos.
- � demasiado tarde, Basil.

A prece do teu orgulho foi-te concedida.

A ora��o do teu arrependimento

tamb�m pode ter resposta.

Julgas que n�o o tentei?
Asseguro-te, que n�o resulta.

N�o h� um poema que diz,

"Podem os teus pecados ser escarlates

torn�-los-ei brancos como a neve. "

A semana passada,

Gladys recordou o dia em que
se acabou este quadro.

Lembra-se de ter posto a sua

inicial sob a minha assinatura.

A� est�, tal como a fez.

Se ela o pudesse ver agora.

Ainda posso rezar, Dorian,
mesmo se tu n�o podes.

Gladys nunca deveria sab�-lo.

mas, alguma vez, nalgum

momento, Basil podia
revelar o seu segredo

� �nica pessoa no mundo cuja boa

opini�o era indispens�vel para ele.

Um sentimento incontrol�vel de
�dio por Basil apoderou-se dele,

junto ao terror pelo conhecimento
que lhe tinha confiado,

e uso que dele podia fazer.

O p�nico invadiu-o.

Sentia-se como um animal acossado,
encorralado, desesperado.

Era como se a pintura

tivesse suado gotas de sangue.

Sentiu que tinha golpeado
mortalmente

n�o s� o seu amigo, como

a si pr�prio.

Parecia-lhe insuport�vel

que o que tinha feito
nunca pudesse desfazer-se.

Basil estava morto.

Em Inglaterra os homens eram
enforcados pelo que ele tinha feito.

Por�m, que provas
haviam contra ele?

Basil tinha sa�do da casa �s onze.

Ningu�m o tinha visto
voltar outra vez.

A maioria dos criados
estavam em Selby.

O mordomo, tinha-se ido deitar.

Paris! Era para Paris que
Basil tinha ido,

no comboio da meia noite
tal como tencionava.

Lamento despertar-te, Francis.

Esqueci-me da minha chave.

Que horas s�o?

Meia noite e trinta, Senhor.

Amanh� acorda-me �s nove.

Tenho coisas a fazer.

Sim, senhor.

Veio algu�m esta noite?

O Sr. Hallward, senhor.

Ficou at� �s onze

e depois foi apanhar o comboio.

Disse que ia para Paris.

Que pena, n�o o vi.
Deixou algum recado?

Disse que escreveria des Par�s,

se n�o o encontrasse no seu club.

Obrigado, Francis.

Mais alguma coisa, senhor?

Vou escrever uma carta.

Entrega-a em m�o, amanh� cedo,

ao Sr. Allen Campbell.

A morada est� no envelope.

Sim, senhor.
Boa noite, senhor.

De manh�, quando Allen
Campbell recebesse a sua carta,

decerto viria.

Viria imediatamente.

Allen ajud�-lo-ia.

Ele era o �nico
que poderia ajud�-lo.

Mas, e se Allen Campbell
estivesse fora de Inglaterra?

Passariam dias antes
de que pudesse vir.

Talvez ele se recusasse a vir.

O Sr. Allen Campbell, senhor.

� muito am�vel da tua parte, Allen.

Disseste que era uma quest�o
de vida ou de morte.

Ouve isto.

"Enviei a minha alma
atrav�s do invis�vel,

"Procurando algumas palavras
daquele p�s-vida por decifrar;

"E pouco a pouco a minha alma
voltou a mim,

"E respondeu-me, 'Eu sou Para�so
e sou Inferno'."

� bastante bom, n�o achas?

N�o vim discutir
os versos de Omar Khayy�m.

Claro que n�o.
Por favor senta-te.

Vou dizer-te por que
pedi para vires.

Allen, numa sala fechada no
�ltimo andar desta casa,

numa sala a que ningu�m
excepto eu tem acesso,

est� um homem morto,
estendido sobre uma mesa.

Est� morto h� dez horas.

Quem � ele, como e por que morreu,

s�o quest�es que n�o te
dizem respeito.

O que tens de fazer...

N�o necessitas continuar.

Os teus horr�veis segredos,
n�o me interessam.

Ter�o de interessar-te.

�s o �nico homem que
me pode salvar.

�s um cientista. Vi o teu nome

em revistas, associado a...

...certas experiencias.
- Que tem isso a ver contigo?

Tens de destruir aquela
coisa l� em cima.

Destru�-lo de modo a n�o
serem deixados vest�gios.

Ningu�m viu esta pessoa
entrar nesta casa.

� suposto estar em Paris.

Quando derem pela falta, nenhum
sinal pode ser encontrado aqui.

Muda-o e tudo o que lhe pertence,

incluindo roupas e bagagens, ser

transformado num punhado de cinzas.

Deves estar louco

se sup�es que mexo um
dedo para te ajudar.

Foi um suic�dio, Allen.

Que o levou a isso?

N�o fazes isto por mim?

Como podes pedir-me a mim,
entre todos os homens,

a misturar-me neste horror?

Allen, foi um assass�nio.

Matei-o eu.

Ele era respons�vel
pela ru�na da minha vida.

N�o pretendia faz�-lo

mas o resultado foi o mesmo.

Fica certo que ser�s apanhado.

Nenhum homem comete um crime

Sem fazer algo estupido.

N�o me meterei nisto.

�ramos amigos, Allen.

Arrependo-me disso.

Se n�o me ajudares, estou perdido.

Enforcar-me-�o, pelo que fiz.

Deixa-os enforcar.

Recusas-te?

Sim.

Suplico-te.

� in�til.

Desculpa, Allen.

N�o deixas alternativa.

Escrevi uma carta.

Aqui est�.

V� o endere�o.

Se n�o me ajudares,
Tenho de a enviar.

Se n�o me ajudas,

envi�-la-ei.

Sabes qual ser� o resultado.

A quest�o � muito simples, Allen.

Isto mat�-la-ia.

N�o pensei que quererias

ver o nome dela envolvido
num tal esc�ndalo.

N�o posso faz�-lo.

N�o tens escolha.

Tenho de ir a casa e

trazer algumas
coisas do laborat�rio.

Salvaste-me a vida.

Naquela noite Dorian jantou
com Lady Narborough,

que tinha o que
Lord Henry descrevera

como os restos
de uma not�vel fealdade.

Sa�ste cedo ontem � noite, Dorian.

Foste para casa ou ao club?

Por que fazes tantas perguntas?

Vim � meia noite e meia.

se queres uma confirma��o,
que o prove

podes perguntar ao meu mordomo.

H� duas horas de intervalo, Dorian,

Suspeito que far�o uma investiga��o,

ou talvez n�o.

Mal tocaste no meu jantar, Lord Henry.

Acredito que est�s apaixonado.

N�o estou apaixonado
h� uma semana,

desde que Madame de Ferrol
sa�u da cidade.

Madame de Ferrol!

� uma mulher maravilhosa!

Quando o seu terceiro marido morreu, o
seu cabelo ficou dourado, do desgosto.

E como � o quarto marido?

Os maridos das mulheres bonitas

pertecem �s classes criminais.

N�o admira, que o mundo
diga que �s preverso.

Que mundo diz isso, Lady Narborough?

S� pode ser no pr�ximo mundo.

Todos que conhe�o dizem,
ele � perverso.

� monstruoso o modo como
as pessoas

dizem as coisas pelas costas

que s�o absolutamente e
inteiramente verdadeiras.

As mulheres amam-nos
pelos nossos defeitos.

Se temos bastantes,

perdoam-nos por eles.

Muito certo.

Ningu�m me persuadir�
de que o Sr. Gray � perverso.

Nunca lhe perdoarei por
ter ficado solteiro.

N�o lhe dever�amos encontrar
uma esposa, Lord Henry.

Estou sempre a dizer-lhe isso.

Consultarei o livro
da nobreza

e farei uma lista das
nossas jovens casadoiras.

Com as suas idades?

S� ligeiramente corrigidas.

Quero que seja uma alian�a adequada.
Quero que ambos sejam felizes.

Poupar-lhe-ei o inc�modo
de procurar, Lady Narborough.

J� escolhi,
se ela me aceitar.

N�o acredito!

Gladys, querida.
Querer�s casar comigo?

Decerto que sim, querido.

Este � o �nico casamento

que alguma vez aprovaria.
Com os diabos!

Que excitante!

Parab�ns a ambos!

Durante meses, a misteriosa
desapari��o de Basil Hallward

foi a sensa��o de Londres.

N�o se importam se trabalho
enquanto falamos?

De modo algum.

� uma quest�o urgente.

Diz-me o que descubriram em Fran�a.

Absolutamente nada.

Fal�mos com todos

os que conheciam o meu tio.

Nenhum deles o tinha visto.

A policia de Paris

n�o acredita que ele
tenha chegado a Fran�a.

Aqui, na Scotland Yard,

estamos tamb�m convencidos
de que sa�u de Londres.

O homem de capa cinzenta

que entrou na esta��o de Vict�ria

era sem d�vida Basil Hallward.

Que vamos agora fazer?

Ambos sois jovens.

Compreendemos que
tencionam casar.

Continuem com vossas
vidas tranquilamente.

Acreditem-me, � o melhor a fazer.

Prometo, a Scotland Yard n�o
esquecer� Basil Hallward.

Penso que Gladys deveria sa�r por
uns tempos para fora.

Devia.

Eu vou para a minha casa de campo
em Selby, amanh�.

Convenci Gladys a juntar-se a mim,
com uns amigos, quinta feira.

Ficariamos encantados
se juntasse a n�s.

N�o posso ir,

mas agrada-me que v�o.

A divers�o far-vos-� bem.

Obrigado, Sir Robert.

Voc� tem sido muito am�vel.

De nada.

Mr. Gray,

est� relacionado

com um jovem chamado
Allen Campbell?

Sim. A certa altura
fomos grandes amigos.

Passou muito tempo
desde a ultima vez que o vi.

Por que o pergunta?

Acabo de receber
uma tr�gica not�cia.

Esta manh�, Allen Campbell morreu

pelas suas pr�prias m�os.

Por que raio
iria Allen Campbell...

Pensei que poderia
dar-me uma pista.

Ele tinha todas as
raz�es para viver.

Estava a afirmar o seu
nome na ci�ncia.

N�o deixou uma nota, nem carta,
nenhuma explica��o?

Nada. Fosse o que fosse
que o tenha levado a isso,

levou o segredo consigo.

Qu�o pouco sabemos realmente

do que se passa por
dentro de um homem.

Sim.

Estiveste triste toda a tarde.

� Allen Campbell?

Talvez.

Lamento.

Casemos em breve...
daqui a duas semanas.

Um casamento simples,

s� com os nossos
amigos mais �ntimos.

Duas semanas?
Chamas a isso em breve?

Boa noite, querido.

Irei para Selby no comboio
de quinta � tarde com a Janet.

Estarei na esta��o.

Allen Campbell.

Estaria agora o sangue
de Allen no retrato?

Existiam outros caminhos
para o esquecimento

al�m do que Allen tomou.

Para onde, senhor?

Blues Gate Fields.

Sim, senhor.

Um dia,
seremos acordados

com sofrimento e horror

ao compreendermos que a alma
n�o � uma supersti��o,

nem o espirito do homem
uma subst�ncia material

que pode ser vista
sob um microsc�pio.

As palavras eternas s�o
hoje t�o verdadeiras hoje,

como quando ele as pronunciou.

"Que proveito ter� um homem
em possu�r todo o mundo

e perde a sua alma?"

A alma n�o � uma ilus�o.

� uma terrivel realidade.

Pode ser comprada e vendida
e traficar-se dissipando-a.

Pode ser envenenada
ou elevada � perfei��o.

Aquele homem, rico ou pobre

que possu� a luz da f�
e a caridade dentro de si,

ainda que estivesse mergulhado
no abismo da obscuridade,

continuaria a desfrutar
da clara luz do dia.

Mas uma criatura preversa
cuja alma est� repleta

de negros pensamentos
e ac��es impuras

ter� de viver na escurid�o

ainda que caminhe
sob o sol do meio dia.

Tem de com ele carregar a sua
pr�pria vil masmorra.

O que e isso
que est� a tocar?

Tem um nome, n�o tem?

Uma esp�cie de nome.

Chama-se... Prel�dio.

Toque outra coisa qualquer.

Por que n�o gosta
daquela musica?

Ouvi algu�m tocar esta
pe�a h� muito tempo.

H� 18 anos.

Uma mulher?

Sempre que volto a Londres,

procuro-o.

"Sir Tristan", chamava-lhe
a minha irm�

porque ele era como um cavaleiro.

Se ele estivesse em Rangoon
ou em Valpara�so,

encontr�-lo-ia,

mas em Londres � como procurar

uma agulha num palheiro.

N�o sei o seu nome verdadeiro.

Nem sequer sei

como � ele.

Quando o encontrar,
que lhe far�?

Talvez j� tenha morrido.

J� pensou nisso?

Continuarei a procur�-lo.

Voc� n�o � inglesa.

O que � "inglesa"?

H� homens e h� mulheres.

Este � Sir Tristan,
querida Kate.

N�o me chames isso, Adrian.

Ouvi Lord Henry chamar-te Sir Tristan.

Nessa altura,
pensei que era adequado.

Por que � que nunca te vemos?

Tenho aqui tudo o
que preciso,

bebidas e drogas
e nenhuns amigos.

Tinha demasiados amigos.

Oh, est� a desenhar
um retrato seu.

Venha aqui e veja-o, senhor.

O que preferes?

Uma can��o, um poema, retrato?

Fa�o as tr�s coisas
perfeitamente bem.

Parece-me a mim

que falta qualquer coisa.

Descobri!

Mas � sinistro v�-lo

a �rvore do enforcado.

Adeus, Adrian.

"E verde ou s�co,
"um homem tem de morrer

"antes do seu fruto colher. "

Adeus, Sir Tristan.

Que foi que lhe chamou?

Sente-se.

Fa�o o seu retrato

pelo pre�o de tr�s copos

quatro copos.

Sir Tristan, disse voc�.

E Sir Tristan penetrou
na floresta

em busca do seu �nico amor.

Ele foi matar o seu amigo.

A justi�a chegou a Inglaterra

sem peruca nem toga.

Vamos, Kate.

Se � dinheiro que quer...

Sou o irm�o de Sibyl Vane.

Diz-lhe alguma coisa?

N�o, nada.

Por que se chama Sir Tristan?

Acontece que � o meu nome.

Est� a mentir. H� 18 anos,
que o procuro.

Que idade pensa que tenho?

Porque n�o o matou?

Poderiam enforc�-lo
por isso.

N�o � ele, o homem que
ando � procura.

� demasiado jovem.

Que idade pensa que ele tem?

Uns 22 diria eu.

De que se est� a rir?

Dorian Gray parece ter 22
desde h� 20 anos.

Que nome disse que � o dele?

Quando um homem se diz

cansado da vida, talvez queira

dizer que a vida, se
cansou dele.

Mas no teu caso este estranho

impulso de ser bom,

deve-se meramente ao facto

do aproximar de teu casamento.

Passar� com o tempo.

Podes baixar essa cortina, Dorian?

De modo nenhum. A verdade �, que quero
ser melhor. Estou determinado a ser melhor.

Pelo menos, ser� uma
nova sensa��o.

N�o tem de tornar-se
num h�bito.

O casamento � um
h�bito... um mero h�bito.

Acredito que n�o te transformar�
num reformado

de desesperado car�cter.

De dizem as pessoas em Londres?

Andavam a falar do
desaparecimento de Basil.

Agora est�o obececados

pelo suic�dio de Allen Campbell.

Que achas que aconteceu a Basil?

N�o fa�o a menor ideia. Suponho que
dentro duma semana ou duas, dir�o

que foi visto em San Francisco.

Todos os que desaparecem

dizem que foram vistos em
San Francisco.

Deve ser uma cidade deliciosa.
Com encantos doutro mundo.

Era um �ptimo pintor,
estou certo disso.

O melhor que Basil fez
foi aquele maravilhoso

retrato teu.

Lembro-me de dizeres que foi
roubado ou destru�do, algo assim.

Qual � o teu segredo?

N�o pareces um dia
mais velho do que quando

aquele retrato foi pintado.

Talvez te diga um dia.

Para voltar � minha juventude,
faria qualquer coisa

excepto levantar-me cedo,
fazer exercicio,

ou ser respeit�vel.

�s vezes penso que daria
qualquer coisa

se pudesse mudar e envelhecer,
como as outras pessoas.

As minhas boas decis�es
talvez tenham vindo tarde demais.

Apesar de Dorian ter colocado
guardas � volta da quinta,

a sensa��o de ser procurado,
acossado, perseguido,

come�ou a domin�-lo.

Pela madrugada,

quando cada som � captado

pelo desespero da imagina��o,

o remorso e o terror
apoderaram-se dele.

Cada detalhe dos seus crimes

voltava nos seus pesad�los
com acrescentado horror,

perseguindo-o implac�velmente

com a morte em vida da sua alma.

Com o dia chegou
a cruel necessidade

de dissimular frente a Gladys
e aos seus convidados.

Correu-te bem a ca�ada, Geoffrey?

N�o foi muito boa, Dorian.

A maioria dos p�ssaros desapareceu.

Talvez corra melhor depois
de almo�o, com outra espingarda.

N�o lhe atires, Geoffrey!

Disparate!

Atingi um batedor!

Que idiota se meteu na frente
da espingarda?

Parem de disparar!
Est� um homem ferido!

Senhor, onde est� ele?

Venham. Por que raios n�o
mant�ns os teus homens atr�s?

Estragou-me a ca�ada por hoje.

Disse a todos

que a ca�ada acabou por hoje.

N�o pareceria bem continuar.

O homem est�...

Sim. Est� morto. Apanhou com
os chumbos no peito.

Thornton. Entra.

Suponho que vieste
por causa do acidente.

Era casado? Tinha famil�a?

Pago-lhes a quantia que
aches que � necess�ria.

N�o sabemos quem ele �.

� por isso que vim falar-te.

N�o era um dos teus homens?

Nunca o vi antes.
Parece ser marinheiro.

Um marinheiro?

Tem ar de que foi uma
esp�cie de marinheiro

tatuado em ambos os bra�os.

N�o encontraram com ele que
nos dissesse o seu nome?

Dinheiro, pouco, e
um rev�lver.

Nenhum tipo de nome.

Um ar decente, mas
um aspecto rude.

Uma esp�cie de marujo,
julgamos.

Onde est� o corpo?

Num est�bulo vazio na quinta.

Mostrem-me a cara dele.

Entre.

Que se passa, Dorian?

Mas n�o te mudaste.

Vais chegar tarde ao jantar.

Queria ver-te.

Eu sei, querido.

Sinto o mesmo por ti, tantas vezes.

Adeus, Gladys.

Adeus?

At� �s oito e meia.

Continue.

Posso ir, Senhor?

Sim.

Dorian!

Dorian!

David, que te traz a Selby?

Viste o Dorian?

Que h�?
Que aconteceu?

Dorian foi para Londres.

N�o sabias?

David passou por ele

na sua vinda da esta��o.

� estranho desaparecer de repente.

Tinha um ar pesado,
escuro como a noite.

Pensei que tinha descoberto
o que tenho andado a fazer.

Que andaste a fazer David?

Vais ficar ro�do de ci�mes.

N�o nego os ci�mes,
misturados nisto.

Tive um terr�vel pressentimento.

Quando anunciaram o
vosso casamento,

fiquei desesperado, queria
fazer algo para o evitar.

Que foi que fizeste, David?

H� um quarto fechado
na casa de Dorian.

N�o lhe dei grande import�ncia
no principio.

Podia querer ter qualquer
coisa protegida dos criados.

Depois, um dos criados de Dorian

veio falar comigo
pedindo trabalho.

Espantei-me com tantas as vezes
que Dorian mudava de criados.

Este, contou-me que
Dorian se fechava s�,

nesse quarto a toda a hora.

Uma noite, ouviu um barulho

e foi investigar.

Dorian apareceu e olhou-o

como se o fosse matar,
disse-me ele.

Acusou-o de o espiar
e despediu-o.

Comecei a sentir que se
pudesse entrar nesse quarto,

poderia encontrar algo
que evitasse o casamento.

E entraste?

Subornei um dos criados

para me conseguir um molde
da fechadura.

Aqui est� a chave.

Esperei at� Dorian vir para Selby

e ent�o, entrei.

Sei que te desagradarei por
este est�pido comportmento,

mas n�o sou importante. N�o
interessa o que me acontecer

nem o que pensas de mim, se eu
poder evitar o teu casamento com ele.

Que foi que encontraste
no quarto?

Nada, que ajude na verdade.

� uma antiga sala de estudo
com livros

e um retrato com uma cobertura.

Retrato? De quem?

N�o sei.

O original deve ser
uma pessoa monstruosa,

se o original existe.

Tem um vago ar familiar
com Dorian...

um ar de pessoa de meia idade,
louco, um arrepiante tio

com uma cara de debochado
e sangue por cima dele.

Foi pintado pelo teu tio.

O meu tio nunca fez tal pintura.

Ele assinou-o.

Esperava tanto

encontrar qualquer coisa
que me ajudasse,

que decidi que tinha cometido
uma injusti�a com Dorian.

Senti um impulso de vir aqui

e fazer uma confiss�o
de tudo,

dar-vos a minha ben��o

e pedir-vos o vosso perd�o.

Podes descrever o retrato
com maiores detalhes.

H� um gato muito curioso

como o que est� na
sala de visitas de Dorian,

s� que no retrato os olhos brilham
de uma forma demon�aca

que � indescrit�vel.

Reparaste em algo anormal

na assinatura?

N�o, penso que n�o.

Agora que te vejo, Gladys,

n�o consigo dizer-te o que
tencionava. Mentiria se dissesse.

Sei que este casamento � um erro.

Deves parar. H� qualquer coisa de
esquisito e mal�fico em Dorian.

Tinha l� uma letra "G"

por baixo da assinatura
nesse retrato, David,

como esta?

Creio que sim.
Como soubeste?

Sim, Gibson?

Perdoe-me Miss, Mr. Gray pediu-me
para lhe trazer esta carta

quando voltasse da esta��o.

Disse que tinha de lhe
entregar pessoalmente.

Uma vez disse

que se me casasse contigo,

seria uma incr�vel maldade.

Pensaste que era uma
forma de te dizer

que n�o te amava.

Mas tens de saber
que eu te amo,

mais do que a qualquer
coisa no mundo,

mas eu s� trago desgra�a
�queles que me amam.

Se soubesses quanto
mal eu j� te fiz,

afastar-te-ias de mim horrorizada.

Nunca mais me voltar�s a ver.

Tenta recordar-me,
querida Gladys,

sem amargura.

Este � o �nico bem
que alguma vez fiz.

N�o nos dizes o que �?

Talvez possamos ajudar-te.

Temos ir para Londres
imediatamente.

Era verdade que uma pessoa
nunca poderia mudar?

Ele ansiou pela imaculada
pureza da sua juventude,

antes de ter rogado

num monstruoso momento
de orgulho e paix�o

que a pintura
suportasse o peso

pelos anos da sua corrup��o.

Sibyl Vane estava morta,

e agora o seu irm�o

repousaria oculto
numa vala an�nima.

Allen Campbell suicidara-se,

e Basil...

nada podia mudar aquilo.

Era no futuro que
ele devia pensar.

Tinha-se libertado de Gladys.

Haveria algum sinal
da sua �nica boa ac��o

no retrato?

L� estava...
Quase impercept�vel.

mas efectivamente estava
ali, nos olhos,

lutando atrav�s
do horror e da repugn�ncia.

Havia ent�o,
esperan�a para ele.

Partiria, abandonaria
Inglaterra para sempre,

viver obscuramente
num pa�s long�nquo,

encontrar paz numa vida
de humildade e auto-nega��o.

Expulsaria todos os
sinais demon�acos

do seu rosto no quadro.

Verificaria o hideondo
desvanecimento e mudan�a.

Mas a pintura estaria
sempre ali

para testar a sua fraqueza.

Melhor seria destru�-lo,

envelhecer inevit�velmente
como todos os homens envelhecem.

Se ca�sse nos caminhos
do dem�nio,

ser punido tal como
todos os homens s�o punidos.

Melhor se cada pecado
da sua vida

lhe proporcionasse
um seguro, r�pido castigo.

O punhal que tinha matado
Basil Hallward

mataria tamb�m o seu retrato

e libert�-lo-ia num golpe

do demon�aco encantamento
do passado.

Mas quando a l�mina atravessou
o cora��o do retrato,

aconteceu uma coisa extraordin�ria.

Pai, perdoai-me,

porque pequei.

Pai, perdoai-me
porque pequei.

Pela da minha culpa,
Pela minha mais cruel culpa.

Os c�us me perdoem.

Leva Gladys a casa, David.

"Enviei a minha alma
atrav�s do invis�vel,

"Procurando algumas palavras
daquele p�s-vida por decifrar;

"E pouco a pouco a minha alma
voltou a mim,

"E respondeu-me, 'Eu sou Para�so
e sou Inferno'."

Tradu��o adapta��o e sincroniza��o:
blueindigo