All language subtitles for The.Curious.Case.of.Natalia.Grace.S02E03

Eu pensei que ia ser
uma coisa normal.

Que eu ia poder
conversar com ele, ouvir ele...

e a�, isso acontece.

Eu tentei! Eu tentei!
Eu tentei!

- N�o!
- Deixa eu falar com voc�.

- Deixa eu...
- Me deixa em paz!

Eu ainda tenho
perguntas para ele.

Por que ele n�o teve
coragem o suficiente

de me tirar daquela casa?

O Esp�rito est� irritado.

- � isso.
- Est� mesmo.

Deus est� no comando.
Nada disso poderia acontecer.

Ponto.

Ele n�o deveria ter
falado assim com voc�.

Ele n�o deveria
ter falado assim com voc�.

No fim das contas,
nenhum dem�nio me intimida.

� voc� que tem
que viver com o que fez.

Voc� quer chegar aqui e
fingir que � uma v�tima?

Dizendo que voc�s foram
v�timas da mesma pessoa?

Caramba,
eles mudaram a sua idade!

Por isso que eu perguntei

- o que ele quis dizer.
- Ele n�o passou por nada!

Ele ainda est� livre!

Ele tem que ser sujeito homem.

Est� falando que uma mulher
for�ou ele a fazer algo?

O que � isso, cara?

Ele est� tentando se safar dessa

dizendo que algu�m colocou
uma arma na cabe�a dele.

A Kristine n�o for�ou ele
para assinar aqueles pap�is?

Ele est� tentando construir
uma hist�ria com base nisso?

Ele tem que voltar aqui,
ser homem

e parar de ser um beb� chor�o.

Para mim, aquela sa�da do
Michael foi ele fugindo de novo.

Voc� fugiu da responsabilidade
com os filhos.

Deixou a Kristine
fazer tudo o que fez.

Quando eu estava tentando
me defender, voc� foi embora.

Toda vez que acontecia alguma
coisa, voc� n�o dizia nada.

Voc� ficava calado
e ia embora.

Voc� fugiu.

Como sempre.

O CURIOSO CASO
DE NATALIA GRACE

A CONFISS�O

Com base no que n�s sabemos
a essa altura,

parece que os Barnett
estavam determinados

a mudar a idade da Natalia
para a de adulta.

Nada poderia impedir
que a Kristine fizesse isso.

DEPOIMENTO DO MICHAEL
EM MAR�O DE 2023

O senhor confrontou a Natalia
sobre a possibilidade

dela ter um ciclo menstrual?

Sim.

E a Natalia disse...

que sim, ela menstruava,

e eu escondia de n�s porque
n�o queria que soub�ssemos.

Ent�o eu perguntei
como ela escondia.

E a Natalia disse que comia.

Disse que quando ia ao banheiro
e tinha alguma coisa l�,

ela limpava da perna
e comia e lambia

para que ningu�m
pudesse descobrir.

Isso � simplesmente nojento.

� loucura.

Eu vou contar
o que realmente aconteceu.

Eu tinha sete anos
e de repente a Kristine

tentou me convencer
de que eu estava menstruada.

A Kristine literalmente disse:
"Voc� come�ou a menstruar",

e me for�ou a colocar
um absorvente interno.

Eu disse para ela
que eu n�o conseguia.

Eu n�o conseguia porque do�a.

E a Kristine ficou repetindo
que eu tinha que colocar

e ela me fez colocar.

Mas eu n�o conseguia.

E ela ficou brava,
eu lembro disso.

Lembro da Kristine ficar
brava porque eu n�o conseguia.

Quando eu consegui tirar,
tinha sangue nele

porque eu tinha apenas sete anos

e n�o devia ter menstrua��o.

E ela disse: "Est� vendo?
Voc� menstruou."

E eu n�o pude
responder nada.

E doeu para caramba.

Eu estava assustada.

Quero um tempo.

Se o que a Natalia diz
� verdade, � simb�lico.

A Kristine estava for�ando
uma idade para a Natalia

e tamb�m for�ou ela
a usar um absorvente interno.

E a� usou esse abuso
contra a Natalia

como prova da idade dela.

A Kristine faria qualquer coisa

para garantir que a Natalia
se encaixasse no plano dela.

Qualquer coisa.

Especialistas m�dicos
disseram aos Barnett

que a Natalia era crian�a.

Mas isso n�o se encaixava
no plano.

O problema � que a Kristine
precisava

que a Natalia dissesse que era
adulta para se livrar dela.

Ent�o, de acordo
com o Michael e a Natalia,

a Kristine bateu na Natalia
violentamente

at� que ela cedesse e a Natalia
seguisse 100% o plano

e dissesse �s pessoas
que era adulta.

Eu gostaria de dizer
uma coisa particular.

Eu n�o falo muito
da minha vida pessoal,

mas eu cresci
com dois irm�os com defici�ncia.

Eles faleceram
depois de adultos,

mas a minha m�e faria
qualquer coisa por eles,

por mim e pela minha irm�.

Havia muito amor envolvido.

E a Natalia merecia
esse amor de uma m�e.

E ela n�o obteve isso
da Kristine, com certeza.

Eu morria de medo dela.

Eu morria de medo.

Quando a Kristine me mandou
dizer que eu tinha 22 anos

eu obedeci porque eu n�o sabia
o que ela faria,

n�o sabia
o que ela faria comigo.

Ela me amea�ou at� eu contar
mentiras para as pessoas.

Primeiro eu disse que n�o,
porque eu era crian�a.

E...

acho que ela ficou
t�o furiosa que...

Foi a� que a Kristine
me levou para o meu quarto

e come�ou a me bater
com um cinto.

Ela me bateu com um cinto
nas minhas costas, nas pernas,

e tamb�m...

Em qualquer lugar
que ela conseguia.

Eu me lembro de tentar
me mexer,

mas ela ficava mandando
eu parar de me mexer

e me batia com mais for�a.

Por que fazer isso?

E doeu.

Doeu muito.

Doeu porque essas pessoas � quem
deviam me amar, cuidar de mim.

Mas ela s�...

me machucaram.

O Michael n�o disse uma palavra.

Ele ficou sentado l� vendo
acontecer e n�o disse nada.

DEPOIMENTO DO MICHAEL
MAR�O DE 2023

Ela usava a m�o aberta
para bater.

Quando as m�os e os bra�os
da Kristine se cansavam,

ela come�ava a usar
os antebra�os e cotovelos

at� n�o poder mais bater.

Eu n�o sabia o que fazer.

Eu ficava paralisado.

Era uma sociopata em potencial,

uma golpista, que era minha
esposa, m�e dos meus filhos,

e n�o tinha como sair
dessa situa��o, n�o tinha.

Eu n�o sabia o que fazer.

O Michael viu...

a Natalia
ser fisicamente agredida.

Ela era filha dele.

Ele tinha a obriga��o
de proteg�-la.

Ele ignorou essa obriga��o.

Voc� tinha que ser o meu pai,
tinha que ser quem me protege.

Mas ele n�o protegeu.

Ele deixou acontecer e depois
eles me trancaram no quarto.

Foi isso.

Eu me lembro de chorar
at� dormir naquela noite

porque eu estava brava,
eu estava com medo.

Eu confiava
no Michael e na Kristine,

porque eles
deviam ser os meus pais.

Eu n�o sabia o que fazer.

Se o que a Natalia diz
� verdade,

o comportamento dominante
de Kristine Barnett

sobre a Natalia

e o tipo de for�a extrema
que ela usou

me dizem que...

havia um monstro

comandando a mente
da Kristine Barnett.

Ela queria dominar
e tinha que ser a vencedora.

Como agente, a parte preferida
do meu trabalho

� conversar com as pessoas
para descobrir a verdade.

- Oi!
- Ol�, como vai?

Estou bem, e voc�?

A Kristine estava tentando
colocar na minha cabe�a

que eu era adulta.

J� trabalhou com algu�m
que passou por lavagem cerebral

ou foi for�ada a repetir coisas?

Claro, eu tive uma longa
carreira como investigadora.

E eu trabalhei muito para o FBI,

o que tamb�m inclui
crimes contra crian�as.

Ent�o, foi assim que eu
me envolvi com o seu caso.

A ideia � que h� muitas camadas

da vida da Natalia.

E ver algu�m t�o fr�gil
quanto voc�

era seguir com a sua vida

e ser capaz de encarar isso.

Eu sou o tipo de pessoa
que diz: "Encare seus medos."

Eu acredito mesmo nisso.

Eu n�o gosto de falar sobre
isso, mas sei que preciso.

Eu sinto que a Natalia foi
muito vitimizada repetidamente.

Sabia que as pessoas estavam
te for�ando a fazer coisas

que sabiam que eram erradas.

Sabia que tinha algo errado.
Nada parecia certo.

Voc� estava sobrevivendo.

Vamos levar voc� ao m�dico.

O que voc� acha?

- Precisa ir ver o m�dico?
- N�o sei.

22 parece ser o n�mero m�gico

que os Barnard querem
como idade para Natalia.

Por qu�?

A Kristine insiste muito
que a Natalia � adulta,

ao ponto de instruir a Natalia
a se apresentar dizendo:

"Eu pare�o nova,
mas tenho 22 anos."

Ent�o, foi muito interessante

quando vimos
que o Estatuto de Indiana

dizia que um pai seria
respons�vel por uma crian�a

at� ela se emancipar
aos 21 anos.

Os Barnett seriam respons�veis
pela Natalia at� os 21 anos.

Os Barnett precisavam
de um plano infal�vel

para se livrarem da Natalia.

E eles n�o sabiam exatamente
quanto tempo levaria

para mudar sua idade,
ou mesmo se isso daria certo.

Parece que a Kristine criou um
plano de tr�s possibilidades

para se livrar da Natalia
para sempre.

Mudar a idade dela,

internar ela
em um hospital psiqui�trico

ou fazer ela ir para a pris�o.

Um desses planos
teria que funcionar.

A primeira vez que a Natalia

foi para o centro
de controle de estresse

foi no incidente
do detergente no caf�.

Era de manh�.

A Natalia estava
de bom humor naquela manh�.

Ela perguntou para a Kristine
se ela gostaria

que ela ajudasse
com a limpeza na cozinha.

A Kristine disse que sim.

Ent�o a Natalia
pegou um banquinho

e come�ou a enxaguar
a lou�a da pia.

Eu estava a alguns
c�modos de dist�ncia.

A Kristine foi a outro c�modo
por um instante

e tinha uma caneca de caf�
na bancada.

A Natalia colocou
o detergente na caneca.

Na caneca que tinha caf�.

A Kristine entra
para ver como est� a Natalia.

A Kristine experimenta o caf�
e sente o gosto de detergente.

Eu ou�o gritos.

Eu venho correndo.

A Kristine tinha gritado
com a Natalia:

"Voc� colocou isso
no meu caf�?"

E a Natalia disse que sim.

A Kristine grita com a
Natalia: "Por que fez isso?"

E a Natalia grita de volta:
"Porque eu quero te matar."

N�o � verdade.

Nada disso foi verdade.

Em primeiro lugar,

a essa altura a Kristine
vinha me batendo h� meses.

E a� todo mundo acha
que eu sou maluca

por tentar colocar alguma coisa
no caf� ou na bebida dela,

seja l� o que for.

Eu n�o sou assim.

Eu acho que a Kristine estava
tentando achar uma desculpa

para dizer que eu era louca.

A hist�ria por tr�s disso
� completamente diferente.

Eu estava ajudando a
Kristine a limpar a cozinha.

Estava sendo um dia legal,
se � que eu posso dizer isso.

E ela tinha um produto
de limpar a mesa

que ela estava usando
e eu estava ajudando a limpar.

Ela saiu por um momento.

Eu notei que tinha um espa�o
que precisava de mais,

ent�o tirei a cadeira
do lugar e subi nela.

Afastei o caf� dela
e apertei o spray.

Enquanto eu estava
limpando a mesa,

a Kristine voltou e falou:
"O que voc� colocou no meu caf�?

E eu disse: "Nada."

Dava para olhar o caf� e ver
que n�o tinha nada de errado.

Ela jogou o caf� fora,
encheu a caneca de novo,

foi pegar a c�mera
e me fez colocar o spray.

E eu disse a ela:
"Eu n�o fiz nada disso."

E ela disse:
"Voc� est� mentindo, fa�a."

E a� ela pegou a minha m�o

e me fez colocar
o spray no caf�.

Eu acho que a Kristine
tentou criar aquele v�deo

para tentar ter
algum tipo de prova.

Eu nem consigo fazer isso,

mas para provar que
eu fiz algo que eu n�o fiz...

ela armou aquilo tudo.

Eu n�o sou louca.

Eu n�o tentei
envenen�-la.

Os Barnett tinham se convencido

de que a Natalia era um adulto
fingindo ser crian�a.

E uma sociopata violenta
que queria mat�-los.

Agora eles precisavam
convencer o mundo.

A Kristine me ligou e disse...

Eu n�o vi, mas a Kristine disse
que ela estava � mesa

e a Natalia tinha colocado
lustra m�veis no caf� dela.

Ent�o ela ligou
para o controle de envenenamento

e disseram que ela
precisava for�ar o v�mito,

mas ela queria
que eu ficasse com ela.

E eu disse que
precis�vamos ver o quarto dela.

N�s fomos at�
o quarto dela.

E n�s achamos
�lcool e f�sforos.

Daqueles f�sforos grandes que
acendemos do lado da caixa.

Eu estava l� e perguntei:

"O que voc� planejava
fazer com isso?

Fui eu quem achou."

E ela disse:
"Eu vou botar fogo nessa casa."

E eu disse: "Natalia,
isso n�o � muito inteligente,

voc� n�o anda muito r�pido,
voc� pode n�o escapar disso."

E ela disse: "N�o me importo.
Desde que todos eles morram."

Ela olhou para mim e disse:

"E isso pode acontecer
com voc� tamb�m."

Parecia que o plano de Kristine
para se livrar de Natalia

estava funcionando.

Os Barnett estavam
contando aos vizinhos,

assistentes sociais e m�dicos,

que a Natalia
era louca e perigosa.

E todo mundo
estava acreditando.

A Kristine e o Michael
disseram �s pessoas

que eu era um perigo
para mim mesma e para a fam�lia.

Que eu queria mat�-los,
estava escondendo facas,

tentando envenen�-los

e que eu estava ouvindo vozes
me mandando fazer essas coisas.

O que n�o era verdade.

A Natalia est� fazendo
as pessoas acreditarem

que ela � inocente.

"N�o, eu nunca quis
machucar ningu�m.

Eu nunca tentei
machucar ningu�m.

Eu amava o Michael e a Kristine.
Eu s� queria estar com eles.

Eu s� queria ser parte
da fam�lia deles."

S�o mentiras.

Se voc� procurar direitinho,
voc� vai perceber.

Eu tinha dois anos
de relat�rios m�dicos

que diziam repetidamente:

"A paciente quer matar a m�e.

A paciente quer
matar os filhos.

Eu odiava eles.

Eu ameacei matar eles.
Eu tentei matar eles."

Teve uma noite em que...

eu e a Kristine
acordamos no meio da noite

e a Natalia estava parada
ao p� da nossa cama,

segurando uma faca.

Segurando assim.

N�o � como se fosse
o Michael Myers atacando,

mas ela estava parada ao p�
da nossa cama, segurando a faca.

� dif�cil acreditar em
qualquer coisa que eles falam.

Porque tudo que os Barnett
disseram � mentira.

Desde o come�o, sobre todas
as coisas que eles inventaram,

que eles copiaram de um filme!

Eu acredito que eles deviam
ser processados por isso.

� uma mentira.

Para come�ar,

a cama deles literalmente

tinha altura que batia aqui
quando eu era pequenininha.

E eles disseram que eu
estava parada no p� da cama?

Eu mal conseguia ver
al�m da base da cama deles.

Segundo,
eu n�o tenho tanta for�a.

Eu tinha oito anos,
pesava 16kg.

Se eu tentasse esfaquear
algu�m, n�o conseguiria.

Eu n�o consigo
nem dobrar meus dedos

para conseguir
segurar uma faca assim.

A Kristine e o Michael disseram

que eu segurava facas
no p� da cama

dizendo que queria machuc�-los,
mat�-los e toda a fam�lia.

Literalmente, eu n�o consigo.
Eu n�o consigo segurar a faca.

Ela fica solta na minha m�o.

N�o consigo segurar a faca
por muito tempo, � cansativo

porque eu uso um m�sculo
que n�o consigo usar.

Eu nunca tentei
matar ningu�m.

Eu vou repetir,

tudo o que a Kristine disse
ela copiou o de A �rf�.

A Kristine fazia Natalia
sair dizendo por a�

que ela era bem mais velha
do que era

e tamb�m que ela tinha
tend�ncia a ser violenta.

A Kristine e o Michael
decidiram

que precisavam
de diversas agress�es.

Se uma op��o n�o funcionasse,

eles poderiam tentar outra,

que seria
montar um caso contra ela,

alegando defici�ncia mental.

E n�o h� maneira melhor

do que fazer a crian�a
sair dizendo �s pessoas

que ela � violenta
e tem tend�ncias muito s�dicas

e que ela pensa
em machucar toda a sua fam�lia.

Isso foi perfeito para eles.

Em junho de 2012,

os Barnett conseguiram
internar a Natalia

no hospital psiqui�trico
Larue Carter.

ESTOU MUITO CONFIANTE
COM A SITUA��O DA NATALIA

ELA VAI SER INTERNADA
NO HOSP�CIO DEFINITIVAMENTE

ONDE ELA DEVERIA ESTAR

ELA � UMA ALMA POSSU�DA
POR UM DEM�NIO TERR�VEL

Eu me lembro de ser internada.

Quando eu cheguei ao hospital,

eu n�o sabia
que tipo de hospital era aquele.

Eu pensei que fosse
um hospital normal.

Mas a�, quando eu entrei
e vi aquelas pessoas

que estavam no Larue Carter

parecia um daqueles
filmes de terror em hospital.

Era muito assustador.

Eu fiquei muito confusa,
sem saber o motivo de estar ali.

Quando me internaram
e me levaram para o quarto,

era tudo vazio.

S� tinha uma cama
no meio do quarto

e, olhando para o quarto,
ele n�o era muito grande.

Tinha paredes brancas,
len��is brancos, cama branca.

Basicamente,
tudo era branco.

A �nica coisa que eu me lembro
que n�o era branco

eram as correias.

As correias eram marrons.

E ficavam penduradas
dos lados da cama.

E eu perguntei o que era aquilo.

A enfermeira disse: "� para
se voc� tentasse machucar."

E eu, aos sete anos,
estava assustada.

Muito assustada.

Ficar naquele quarto foi...

bizarro.

Porque eles me trancaram l�.

Eu n�o podia sair.

Eu me lembro que me arrumei
para ir dormir

e depois que eu deitei,
desligaram as luzes.

E eu fiquei deitada l�
no escuro, apavorada.

Convenientemente,
um juiz decidiu,

com base
em uma peti��o de emerg�ncia,

a trocar a idade da Natalia
pela de adulta

enquanto ela estava no Hospital
Psiqui�trico Larue Carter.

Ou seja, o plano deles
talvez estivesse saindo

exatamente
da forma como esperavam.

Eu n�o sabia
que o Michael e a Kristine

estavam mudando a minha idade.

Eles nunca falaram nada
para mim.

Lembrem que eu estava
na ala infantil do hospital.

Mas me disseram que eu tinha que
mudar para a sess�o de adultos.

DEPOIMENTO DE MICHAEL BARNETT
20 DE MAR�O DE 2023

Seu m�dico de fam�lia
escreveu uma carta

para a peti��o
do condado de Marion, correto?

Escreveu.

Um juiz corrigiu
a idade da Natalia

e o ano de nascimento dela
foi mudado para 1989.

O senhor acha que essa � uma
idade razoavelmente correta?

Acho.

Os �nicos profissionais de sa�de

que acreditaram que Natalia
era adulta

foram o m�dico da fam�lia,
McLauren,

e uma terapeuta assistente
social, Susan Whitman.

Eles foram a base

para a peti��o
para mudar a idade da Natalia.

Susan Whitten
� assistente social

n�o � m�dica.

A senhorita Whitten
escreveu algumas cartas

que alegavam que a Natalia
tinha esquizofrenia.

O doutor McLauren
� o meu m�dico

e eu me consulto com ele
desde 2002, mais ou menos.

Ele � o m�dico
de toda a fam�lia.

Costum�vamos ir ao consult�rio
dele com uma certa frequ�ncia.

A CARTA DO MCLAUREN
EST� FENOMENAL

�TIMO, ELE DIZ QUE � AUTISMO?

UM C�REBRO RAR�SSIMO

ISSO, MACLAUREN, TE AMO

Sinceramente,
Doutor MacLauren,

se os pais
ficaram trazendo a Natalia

e dizendo que ela
era mais velha do que era,

quantas vezes
eles precisaram traz�-la

at� o senhor come�ar a acreditar
e concordar com a fam�lia

e come�ar a compreender
a causa deles

e das pessoas
come�arem a acreditar

que ela era
mais velha do que era?

Eu entendo o que quer dizer.

Os relacionamentos
afetam as coisas.

Esse tipo de coisa � poss�vel.

As cartas que o Doutor McLauren
escreveu parecem sugerir

que a impress�o dele
da Natalia n�o era positiva

e que ele era
muito solid�rio aos Barnett.

A carta alegava
que a Natalia era um golpista

e que os Barnett eram v�timas.

Na nossa experi�ncia,
nenhum dos procuradores

j� ouviu um m�dico
dar uma declara��o dessas.

Houve m�dicos
que disseram claramente

que eu tinha
entre sete e doze anos.

Mas a� vem um m�dico
que escreve uma carta

e � a �nica coisa
que eles usam no tribunal

para mudar a minha idade,
alegando que � verdade.

Que isso s�o os fatos.

Esse m�dico
era amigo da fam�lia.

Literalmente,
eles conheciam ele h� anos.

Eles n�o viram
os exames de imagem?

N�o viram as cartas
dos outros m�dicos?

Todas diziam
que eu era uma crian�a.

Mas v�o usar
aquela �nica carta,

porque era daquilo
que precisavam.

Mudem a data para 1989.

Estamos falando de mudar
a idade de 8 para 22.

Ent�o, com uma canetada,
da noite para o dia,

ela podia beber,
dirigir e votar.

Est� bem?

Isso � altamente incomum.

Mas n�s sabemos que
a Kristine e o Michael sabem

que o Doutor Riggs disse que
ela tinha entre 9 e 11 anos,

semanas depois
deles pegarem a cust�dia dela.

Sabemos que dentro de um ano,

o dentista disse
que ela tinha entre 8 e 9.

O fato deles n�o deixarem
o juiz saber de nada disso

me faz pensar se eles estavam
querendo enganar o tribunal,

se estavam cometendo fraude
ao n�o fornecer

todas as informa��es que tinham
sobre a idade dela.

A equipe de prote��o � crian�a

descobriu sobre a mudan�a
de idade depois que aconteceu.

Houve cartas escritas

tanto para o Departamento
de Prote��o � Crian�a

quanto para o Doutor McLauren

dizendo que n�o estava certo,
e n�o era verdade.

Ela n�o tem 22 anos.

De acordo com os arquivos do
hospital, os Barnett disseram:

"Aqui est� a ordem judicial que
muda a idade dela de 8 para 22."

A Natalia nunca foi notificada.

N�o houve uma audi�ncia sequer
com a Natalia presente.

Ent�o, est� claro que ela
n�o teve nenhuma representa��o.

A essa altura, parecia
que os Barnett tinham ganhado.

A idade da Natalia tinha sido
modificada com sucesso,

e Michael e Kristine estavam
trocando mensagens de texto,

dizendo que precisavam
comemorar o fato

de terem se livrado da Natalia.

TUDO VAI SER T�O INCR�VEL
EM AGOSTO, ESPERE PARA VER

SE ELA FOR PRESA

VAMOS PASSAR UMA SEMANA
DE F�RIAS EM ALGUM LUGAR

Os Barnett estavam agindo
como se tivessem se safado,

mas a� o hospital psiqui�trico
ligou para eles

dizendo que n�o havia
nada de errado com a Natalia

e que eles n�o viam necessidade
de medica��es nem de terapia,

j� que n�o a consideravam
mentalmente inst�vel.

Apesar do plano dos Barnett
de intern�-la ter falhado,

eles conseguiram
mudar a idade dela.

E eu fui embora.

Mas acontece
que a Kristine e o Michael

n�o me buscaram no hospital.

Fui para uma
casa de acolhimento.

E eu n�o sabia
o que eu estava fazendo l�.

Eu n�o sabia o que fazer l�.

Estava cheio de gente
que eu n�o conhecia.

Eu fui exposta
a cigarro, bebida,

palavr�es,
basicamente de tudo.

Eu n�o entendi nada
que estava acontecendo.

S� de pensar nisso,
eu me lembro como eu me senti.

Eu fiquei assustada.

A Kristine me falou:

"A Natalia disse que
tem gente usando drogas l�.

Tem gente com seringas l�,
usando drogas."

E ela disse que t�nhamos
que ir busc�-la.

"Porque se algo acontecer
com ela, eu sou famosa.

E se descobrirem que
a filha da Kristine Barnett

morreu de overdose de drogas...

eu sou famosa."

Ela n�o estava preocupada
com a sa�de ou o bem-estar dela,

A pouca preocupa��o dela
era que achassem ela morta.

E pronto, essa santa tinha uma
filha que morreu de overdose.

Que Deus a aben�oe
por cuidar da menina, n�o �?

Ent�o, eles me levaram
de volta � casa,

e alguns dias depois,

eu descobri
que ia ver um apartamento.

Ent�o...

Eles me deixaram em
um apartamento e foram embora.

Eles nem me explicaram

que eu ia morar
em um apartamento,

nem nada assim.

Eu estava ali aos oito anos de
idade e n�o sabia o que fazer.

Eles n�o me ensinaram
a fazer nada.

E...

eu fiquei...

Eu estou perdida.

Eu sinto que n�o sei onde estou,

um lugar
onde nunca fui antes,

e eles esperam que eu
simplesmente viva sozinha.

Apesar de fazer o que fizeram,

a �nica coisa que eu queria...

eu n�o sabia como,
mas era estar com os meus pais.

Eu era s� uma crian�a comum

que queria estar com a fam�lia,

e eles fizeram tudo isso

s� para mudar minha idade
e me tirar da casa deles.

Muita gente n�o gostava de mim
naquele condom�nio,

mas eu n�o entendia por qu�.

Eu n�o sabia

que as pessoas
me vendo entrar na casa deles

para pegar comida,

que isso n�o era algo que uma
mulher de 22 anos normal faria,

ou pelo menos
n�o deveria fazer.

Mas a quest�o � essa.

Eu n�o tinha 22 anos.
Eu tinha oito anos.

Eu n�o sabia que n�o podia
entrar na casa das pessoas.

Eu n�o sabia
que existiam limites.

Isso tudo � fingimento.
Ela n�o era assim.

N�o era mesmo.

Ela sabia o que estava
fazendo e ela tinha 22 anos.

Provaram que ela tinha 22 anos,
que ela n�o era uma garotinha.

Ela era...

muito m�.

Meu nome � Sue McCallum e a
Natalia e eu �ramos vizinhas.

Eu confundi ela
com uma garotinha no in�cio,

mas pelas a��es dela
e a forma como ela falava

e a forma
como agia com as pessoas,

eu pude ver que ela
n�o era uma garotinha.

Eu perguntei
onde a m�e dela estava

e ela disse: "Eu tenho 22 anos,
n�o preciso da minha m�e."

Na minha opini�o,

a Natalia
est� tentando parecer boazinha,

sendo que ela fez coisas ruins.

Muita gente no condom�nio

relatou
coisas inapropriadas que ela fez

e eles precisaram
juntar muitas den�ncias

antes de poderem
despejar ela de l�.

Como quando ela agiu
inapropriadamente

com um garotinho.

Essa hist�ria toda
� um mal entendido.

Eu me lembro que est�vamos
rolando pela grama,

em frente ao neg�cio,

e a� come�amos a brincar
de cosquinha.

E foi a� que o pai dele
apareceu e falou:

"O que voc� est� fazendo?"

Para mim, brincar de cosquinha

� fazer c�cegas um no outro
e brincar.

A Natalia estava fazendo mais
do que c�cegas no garotinho.

Ela estava mexendo
em partes �ntimas.

Disseram que eu estava
tentando tocar ele sexualmente.

E n�o foi o caso
de jeito nenhum.

Come�aram a gritar comigo.

Eu n�o sabia por qu�.

E foi por isso que eu corri.

Eu fiquei assustada,

n�o sabia por que estava
todo mundo gritando comigo.

Eu s� estava sendo uma crian�a.

Esse n�o foi o �nico incidente.

Teve um senhor que estava na...

na lavanderia

e ele me contou que ela era
uma pessoa muito estranha

e teve tamb�m
um outro senhor mais velho

que morava l� sozinho
num apartamento

e ele deixava a Natalia entrar
e ela ficava l� por horas.

Teve um dia que eu estava
no apartamento em Westfield.

Eu estava andando entediada.

Eu n�o sabia que n�o devia
conversar com estranhos

e nem bater nas portas,
ent�o eu sa� batendo nas portas.

Eu estava passeando e vendo
se algu�m conversava comigo.

Tinha um cara mais velho.

Ele era meio estranho.

Ele me chamou para entrar e...

ele...

n�o estava vestido.

Ent�o, eu perguntei para ele
o que ele estava assistindo

e era um v�deo,
um v�deo bem sexual.

Mas eu n�o sabia
o que era exatamente.

Ele deu play e disse
que eu podia assistir.

E eu lembro de falar
se pod�amos ver outra coisa.

E ele disse que
eu podia assistir aquilo.

Eu estava sentada no sof�, ele
foi para a outra ponta do sof�.

Naquele momento,
eu decidi ir embora.

Felizmente,
ele me deixou ir embora.

Mas s� o fato de que eu vi
foi o suficiente.

E eu fiquei
muito desconfort�vel.

Eu fiquei muito assustada.

Eu estou muito
desconfort�vel agora.

Eu n�o estou confort�vel na
minha pr�pria cadeira, sabe?

Aquele homem,
ele era um pervertido.

Porque outra senhora
foi pegar a correspond�ncia

e passou por ele e ele
estava parado l� sem roupas.

E ela denunciou ele
para a administra��o.

Mas a Natalia nunca
reclamou de nada dessas coisas

quando ela morava
no apartamento.

Ela estava sempre falando
sobre estar com homens,

sexo e outras coisas.

Ent�o, eu n�o acho que...

N�o acho que...

que ela se importava muito
que ele fizesse isso.

N�o � f�cil ver o que
as pessoas pensavam de mim

enquanto eu morava
naquele apartamento.

Porque eu tinha que dizer
a eles que eu tinha 22 anos.

Ent�o, eles n�o sabiam
que eu era uma crian�a.

E...

eles pensavam que o que eu
estava fazendo era loucura.

Eu sinto muito.

Porque aquilo
n�o foi certo, sabe?

Eu basicamente menti para eles.

Ela fica se desculpando,

mas ela nunca voltou para
se desculpar para as pessoas.

A Natalia n�o era assim.

Se a Natalia chegasse
e pedisse desculpas,

eu provavelmente diria:
"Tudo bem, Natalia,

mas v� embora
e n�o perturbe mais."

Muito da verdade

n�o est� transparecendo
em algumas coisas.

N�o est�.

Muita gente
foi enganada por isso.

Eles aceitaram o que ela disse

e o que as outras pessoas
disseram,

mas se morasse perto dela
e convivesse com ela

veria a verdadeira Natalia.

� muito dif�cil.

� muito dif�cil perceber
que ningu�m se importava.

E se aquele cara
me estuprasse ou algo assim?

Tudo porque o Michael
e a Kristine me abandonaram.

Precisa de um abra�o?

Tudo bem.

Eu me lembro
de coisas horr�veis.

Mas eu n�o quero sentir isso.

Foram muitas coisas lament�veis
que aconteceram com voc�.

E eu acho que � uma vergonha

que algu�m seja capaz
de fazer isso com uma crian�a.

Sim.

Os Barnett se livram da Natalia.

Eles verificam como
ela est�, vez ou outra.

Mas, basicamente,
eles seguem com a vida deles.

Isto �, at� eles receberem
uma notifica��o meses depois

do Departamento
de Prote��o � Crian�a

de que a Natalia � dependente.

Enquanto pessoa com defici�ncia,

eu adoraria ter visto
a cara da Kristine

quando ela recebeu
essa notifica��o.

D� para imaginar?

Os Barnett at� fizeram
um advogado mandar uma carta

para o Departamento
de Prote��o � Crian�a dizendo:

"Olha, ela � adulta, voc�s
n�o t�m autoridade sobre ela."

Mas os Barnett s�o notificados
novamente de que,

n�o importa qual �
a idade da Natalia,

ela � dependente
por causa da sua defici�ncia.

Isso significa que os Barnett
est�o presos a ela,

talvez para sempre.

A Natalia tem
displasia diastr�fica,

acompanhada
de outras condi��es de sa�de

que limitavam principalmente
a mobilidade dela,

mas tamb�m a habilidade dela

de mexer os bra�os
e de segurar coisas.

E por causa
de todas essas condi��es,

ela era dependente.

Nem todo mundo
que tem defici�ncia

necessariamente
depende dos pais para sempre.

Mas nesse caso, a situa��o
em que a Natalia foi deixada

n�o era adequada para ela.

N�o importa a idade.

Em cada etapa, o plano
da Kristine deu errado.

Ela est� come�ando a perceber

que eles talvez
nunca se livrem da Natalia.

A Kristine chegou a checar

como a Natalia estava
naquele apartamento?

Sim.

E como ela checava?
Pessoalmente?

Pessoalmente.

Um dia, eu me lembro que estava
morando no primeiro apartamento.

Eu estava tomando
os rem�dios.

Eu n�o lembro quais eram,

mas eram tr�s comprimidos
diferentes

para as condi��es mentais que
a Kristine dizia que eu tinha.

E eu me lembro de acordar,
tomar o rem�dio,

e a� eu voltei a dormir porque
o rem�dio me dava muito sono.

Eu acho
que tinha se passado 1 h.

E a Kristine estava batendo
na porta, esmurrando a porta.

Eu a abri e ela disse:
"Por que ainda est� dormindo?"

Ela estava furiosa
por eu estar dormindo

e eu disse que estava cansada.

A Kristine estava
muito nervosa naquele dia.

E a� ela disse:
"Voc� tomou seu rem�dio?"

Eu disse que sim.
Ela disse que n�o acreditava.

Ent�o ela pegou o rem�dio...

deu para mim,

me deu uma garrafa de �gua,

e me mandou tomar.

Enquanto eu tomava,
ela se virou.

Eu me lembro que ela
n�o olhou, mas eu tomei.

Ela se virou de volta
e perguntou:

"Voc� tomou seu rem�dio?"

E eu disse que sim,
e ela disse: "N�o acredito.

Onde est�?"

E ela me fez tomar de novo
e dessa vez ela olhou.

E a� ela foi embora.

Eu me lembro
de entrar no banheiro.

Fui perdendo os sentidos
e ca� no ch�o.

Eu fiquei muito tonta.

Eu n�o conseguia
andar e enxergar direito.

Eu me senti muito mal,
fiquei tonta.

Os meus olhos estavam revirando.

Ficou tudo turvo.

Eu apaguei durante horas.

Fiquei apagado at� 02:00.

Olhando para tr�s,

parece que ela tentou
me causar uma overdose.

Eu poderia ter morrido
naquele dia.

Eu tinha sete anos
tomando um rem�dio de adulto.

E...

tendo tomado tr�s vezes
naquele dia,

foram tr�s comprimidos
diferentes, de cada vez.

E...

isso � assustador.

O fato de a Kristine
tentar dizer

que eu tentei matar
a fam�lia dela...

Mas ela basicamente
tentou me matar.

E ningu�m iria saber.

Ningu�m teria se importado.