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A FLOR QUE N�O MORREU

* Tradu��o: RobOpen *
Maio 2022

H� quase cinquenta anos um
jovem naturalista, W. H. Hudson

entrou nas selvas da Am�rica
do Sul onde viveu e escreveu

uma hist�ria de amor que
tornou-se um cl�ssico moderno.

Agradecemos aos governos
da Guiana Brit�nica, Venezuela

e Col�mbia, que possibilitaram
a filmagem das cenas

nos mesmos lugares
onde a hist�ria se passou.

Coloque isto.

E voc�?

Eu tenho isso.

Voc� � de Caracas?

- Porque pergunta?
- Deve ter visto a revolu��o.

Ontem foi dito que os rebeldes
saquearam a cidade

depois de matar os governantes.

Assassinato n�o � a palavra certa.

� suave demais.

Foram fuzilados nas camas.
Depois incendiaram as casas.

Vimos o reflexo das chamas no c�u.

Parecia que o horizonte
inteiro estava queimando.

Se est� fugindo,
em busca de abrigo...

N�o estou fugindo, padre.
Ontem estava, mas hoje n�o.

Hoje sei exatamente onde vou
e o que tenho que fazer

e ent�o voltarei.

Eles ir�o me ver outra vez.

- Boa tarde senhor.
- Boa tarde.

Entre, senhor.
Don Panda, a seu servi�o.

Voc� � de Caracas, n�o?

Sinto a cidade em voc�.
O que me conta da revolu��o?

Penso em ir para o interior.

Claro, senhor, n�o achei
que iria ficar em Manipuri.

Minhas mulheres! N�o s�o
bonitas, talvez, mas s�o �teis.

Quanto custa isso?

Calma, nesta regi�o vai precisar
de muito mais do que um poncho.

- Por que tudo isso?
- Para negociar.

- Negociar com quem?
- Com os �ndios. Os suborn�veis.

- O que posso ganhar com isso?
- Muito, guias, comida, abrigo

e momentaneamente desvi�-los da
arte primitiva de reduzir cabe�as.

E quando as mercadorias
se esgotarem?

Ent�o depender� apenas da
coragem para sobreviver.

A coragem! Ser� suficiente
para segur�-los?

Eles admiram a coragem. Julgam um
homem pela resist�ncia dele.

Ficar parado como uma
est�tua de bronze.

Ficar sentado ou em p�
por metade de um dia.

Suportar a dor, sem pestanejar.

Falar sem parar, quase sem tomar
f�lego. Sem errar uma palavra.

Assim mostrar� a eles que � um homem.

Acha que posso contratar um guia
e uma canoa al�?

Sim, tamb�m precisa de um mapa.

N�o � bonito, mas, � �til,
como minhas mulheres.

Tiramos do cad�ver de um
impetuoso refugiado pol�tico

que cometeu a loucura de dar
ouvidos ao conto dos nativos

sobre ouro e uma cidade perdida.

Tabaco?

Nunca saberemos se ele achou ouro
ou a cidade perdida.

Perdeu a cabe�a, o coitado.

Isso me lembra da navalha.

Navalha, tabaco, sab�o e carne seca,
at� que mate seu primeiro javali.

Quanto devo?

Quanto tem?

N�o � suficiente.

� tudo o que tenho.

Eu n�o deveria dizer, mas os
olhos das minhas mulheres

est�o fixos nesses bot�es,
s�o prata, n�o?

- Algo mais?
- V� com Deus.

O dono do mapa, onde ele
foi encontrado morto?

Nas margens do Rio Cuyumi.
Est� marcado no mapa.

- Ele achou que o ouro estava l�?
- Ele tinha certeza.

Que? Por que paramos?

Cuidado. �ndios maus.
N�o pode passar.

Do que tem medo?
De algumas penas vermelhas?

Volte aqui!

Sorte voc� estar aqui.

Ou talvez n�o.

S�o presentes.

Presentes para todos.

Obrigado.

Eu s� queria abrir para dar os
presentes que trago para voc�.

Trago mi�angas e outras coisas.

S�o presentes de boa amizade.

E agora, o que fazemos?

Vim como um amigo.
Entende?

Amigo.

N�o vai me matar porque n�o
estou disposto a morrer t�o cedo

ainda tenho muito o que fazer.

N�o entende o que estou
dizendo, n�o �?

Digo que preciso viver.

Tenho que ser mais esperto que
voc�, para continuar vivendo

e encontrar a origem do
ouro voc� que tem no pesco�o.

Disseram que voc�s admiram
a coragem e a for�a.

Vou tentar impressionar
voc� com a minha mente.

N�o vou me mover daqui.

Ficarei parado e as palavras
fluir�o da minha boca

at� que um dos dois caia exausto.

Vou dizer tudo que me vier � cabe�a,
contar a minha vida, se voc� quiser.

Se voc� pudesse entender, saberia
por que quero tanto esse ouro.

Meu nome � Abel.
Abel Guebez de Argensola.

Nasci em Caracas no ano de 1872.
Sou filho do Ministro da Guerra.

Retifico, do falecido
Ministro da Guerra.

Ele foi assassinado
por um bando de selvagens.

N�o como voc�s, civilizados,
com uniformes e nomes ilustres.

Ele foi tra�do.

No Parlamento, no Minist�rio,

at� mesmo no ex�rcito
havia traidores.

Sei quem eles s�o,

� isso que me mant�m aqui.

Eu resistiria a qualquer coisa
se soubesse que poderia

v�-los s� mais uma vez.

Dizem que vingan�a custa caro.

Preciso de ouro para comprar
a vingan�a que desejo

O dia morreu, o sol se p�s
e eu sobrevivi ao sol.

Sobrevivi �s moscas

e at� sobrevivi aos odores
desagrad�veis que voc�s t�m.

Agora, eu venderia minha alma
imortal por um gole de �gua fresca.

N�o olhe aquilo, Abel.
N�o tenho fome.

N�o pense em comida.
Pense em outra coisa.

Estou bem, estou bem.

Continuo em p�,
continuo falando.

N�o vou me render nunca.

At� mostrar que
sou mais forte que voc�.

N�o � mais forte, mas � corajoso.

Voc� me entende?

Passei oito anos, com
mission�rio quando crian�a.

- Seu povo vai me matar?
- S� se meu pai mandar.

Seu pai?

Meu pai � chefe,
seu nome � Runi.

Bem,

diga a ele que sou amigo.

Voc� sabe o que � isso?

Aqui, d� isso para Runi

E diga que eu, um homem
branco, sou amigo dele.

Que eu gostaria de ficar aqui
e ca�ar com ele.

Meu pai confia em voc�. Se voc� n�o
nos prejudicar, n�s tamb�m n�o.

Isso � justo.

- O que pertence a sua tribo?
- Tudo o que os olhos podem ver.

Devem ser muito ricos.
Vastas terras

e ouro.

N�o temos ouro.
S� Runi tem ouro.

N�o acharam ouro por aqui?
E o colar de Runi de onde vem?

- S� Runi sabe.

� onde voc�s ca�am?
Naquela floresta verde al�?

N�o.

Porque n�o?
Parece o lugar certo.

- Runi pro�be.
- Pro�be?

Por qu� ser�?

Runi pro�be. � suficiente.

- Runi, seu velho pirata.

O que est� escondendo al�?

Quem est� a�?
Quem est� a�?

Foi voc�?

Isso n�o � engra�ado, sabe?

Ok, quanto tempo tenho que ficar assim?

Sou um prisioneiro?

Meu pai quer que voc� saiba
sobre o filho dele, meu irm�o.

- Ok?
- Era o filho mais velho.

Filho favorito do meu pai.

Um dia foi para a floresta
ca�ar passarinho para comer.

Quando atirou flecha, a filha
de Didi a segurou na m�o

e devolveu no cora��o dele!

Ele morreu.

Kua-Ko, voc� foi educado
por mission�rios,

sabe que crist�os
n�o acreditam em feiti�aria.

Meu pai acha que
voc� tem m�gica,

os esp�ritos malignos
n�o podem fazer mal a voc�.

Chama voc� de o mais
valente dos guerreiros.

Ele chama voc�

de filho dele.

- O que est� dizendo?
- Saque a arma.

- Que?
- Saque a arma.

O que ele quer?

Amanh�, voc� vai para a floresta

matar a filha de Didi.

Matar! Matar!

Tenho que falar com voc�.

Vim avis�-la que
est� em grande perigo.

Meu Deus!

Cobra coral.

Vou morrer.

Meu Deus, me ajude!

Me ajude!

O morto voltou � vida.

H� quanto tempo estou aqui?

O primeiro medo de um jovem
� o que ele teria perdido.

Dois dias de vida lhe escaparam.

Voc� n�o perdeu nada.

Eu ficaria triste
em ver voc� morrer.

Triste, mas n�o inconsol�vel.

Suas botas ficam bem em mim.

Fique com elas.

Eu lhe devo por
salvar a minha vida.

N�o, voc� n�o me deve,
foi minha neta, Rima.

Aquela garota, que
n�o pode ver sangue,

enfiou a faca na sua perna
e sugou o veneno.

Parece gentil, mas garanto
que pode ser feroz.

Sentada al�,
guardando suas coisas.

Negando ao pobre av� uma
pitada do seu precioso tabaco.

Por favor, sirva-se.

Aben�oado seja!

Que o deus dos maus h�bitos
aben�oe voc�.

Quero lhe agradecer,
pode chegar mais perto?

Por favor.

- Est� chovendo.
- Por dois dias e duas noites.

- Isso � normal?
- Quer dizer, para ela?

A chuva � amiga dela. A natureza
toda � amiga dessa crian�a.

Voc� � muito bondoso.

Um cavalheiro, eu acredito.

Sim.

Sua a��o me leva a perguntar
o que faz nesta selva

t�o longe da cidade de Caracas?

Vim avisar sua neta de
que ela est� em perigo.

Que perigo? Ah, os selvagens
assassinos e ladr�es

que acampam no
outro lado da floresta.

- Vejo que n�o gosta dos vizinhos.
- Eu os conhe�o, senhor!

Como posso am�-los?

Teriam prazer em
incendiar meu barraco,

matando a mim e a
minha pobre neta.

Ent�o, por que fica aqui?

Se voc� sabe que est�o em perigo,
por que n�o v�o embora?

O lugar � nossa prote��o.
Eles t�m medo de entrar aqui

E voc� sabe do que eles t�m medo?
Daquela garota.

Quanto tempo voc� acha
que o medo deles pode durar?

N�o acha que cedo ou tarde
dar�o um jeito de peg�-la?

Na verdade, por que
voc� veio aqui?

Por que voc� veio?

Espere, espere.
Quero falar com voc�.

N�o consigo alcan�ar voc�.

Estou muito cansado
para continuar.

Minha perna d�i.

Estou com muita dor.

Em voc� existem duas
pessoas diferentes.

No barraco voc� � como
um ratinho verde,

de um lugar para outro sem fazer
barulho girando ou amassando o p�o,

mas aqui na floresta...

Quem � voc�?

N�o precisa fazer isso,
n�o d�i de verdade.

Eu disse aquilo para
que voc� se aproximasse.

N�o se v� por favor,
fique comigo.

Nuflo � mesmo seu av�?

Onde est� sua m�e?

Minha m�e est� morta.

O corpo dela foi
enterrado, virou p�.

Assim.

Sua alma est� l� em cima
com os anjos e as estrelas,

como diz o vov�.

Mas sei que ela est� comigo.

T�o perto que posso falar com ela.

- Voc� fala com sua m�e?
- Eu posso ouvir tudo.

De dia mostro a ela
as belezas da floresta,

� noite, quando deito, eu
digo: � hora de dormir, m�e.

N�o tenha medo, eu estou com voc�.

Voc� fala com seu pai, n�o �?

Com meu pai?

Enquanto estava doente
voc� sonhou alto.

Eu sentada no escuro, ouvi voc�.

O que eu dizia?

Disse: Pai, eu amo voc�.
Disse duas vezes.

E nada mais?

Depois voc� gritou: A casa!

Casa.

De seus olhos fechados,
l�grimas ca�ram

- Assustei voc�?
- Sim.

Rezei por voc�, para a imagem

do homem na cruz com o
cora��o fora do peito.

- Voc� acredita nele, n�o, Rima?
- Sim acredito.

E aqui

eu acredito em tudo.

Acredito nas flores,

nos p�ssaros, no ar.

� uma sensa��o que n�o sei explicar.

Ah, ele manca. Igual o nosso amigo
no dia em que chegou aqui.

Assim que a perna dele
ficar boa, vai nos deixar.

Rima!

Veja,

ainda n�o consigo andar muito bem.

O que � isso?

Esta flor chama-se Ata.

Abre quando a lua brilha
e depois desaparece.

Mas nunca morre. Logo
floresce de novo em outro lugar.

Em outra parte da floresta.

Se olhar aqui amanh�
e n�o a encontrar,

n�o fique triste,
saiba que ela estar�

em algum lugar n�o muito longe.

Bela lenda.

Lenda?

Lenda � uma esp�cie de
hist�ria, contada

de gera��o em gera��o at�
que as pessoas acreditem.

Voc� n�o acredita?

N�o acredita em nada, n�o �?

Acredito no que tenho que fazer.

Dizem que o amor � fr�gil

como um narciso.

Um anel m�gico de ouro.

Dizem que o amor � um
p�ssaro voando.

Um raio de luz.

Uma estrela, t�o brilhante
que n�o se pode olhar.

Diga-me, diga-me,

Diga-me, � filho da lua,

� como eles dizem?

O amor acaba muito depressa.

Diga-me, Rima

onde ficam os prados da primavera?

Falando com os olhos,

ela suavemente responde.

Sei de um lugar onde casas verdes

est�o longe ou perto,
como estrelas sobre n�s.

E nesse lugar de eterna primavera

beija-flores aprendem a cantar

e nascem as casas verdes do amor.

e nascem as casas verdes do amor.

Onde voc� achou esse anel?

- Uma concha?
- O vov� fez para mim.

Chorei uma noite inteira por que

ele n�o queria falar
sobre a minha m�e.

Ele me deu isto.

Sabe onde o vov� vai
quando ele vai passear?

N�o sei, eu nunca o segui.

Posso olhar?

- O que �?
- � ouro.

Peguei voc�.

Estava me seguindo, n�o?

Seguiu meu rastro pela
floresta como um c�o de ca�a.

Muito bom! Voc� me descobriu
comendo carne!

Voc� sabe que minha neta
adora animais.

Eu como aqui,
para n�o mago�-la.

Estou velho. Preciso de
carne para me manter forte.

Tenho que cuidar
da minha pobre menina.

- Acho que agora vai conta a ela.
- Depende do que voc� me disser.

J� est� curado, pode ir.

V� embora! Deixe-nos em paz!
Volte para seus ladr�es selvagens!

Tenho certeza que est�o
esperando por voc�.

Esque�a, amigo.

Sei que est� a�!

Importa-se em dizer
como voc� chegou aqui?

A casa que voc� falava
em sonhos, morava nela?

Sim.

Quando voc� falou, eu
lembrei de algo.

Tamb�m tive uma casa, n�o era
como a nossa cabana na floresta.

Havia um caminho, com
de casas dos dois lados

e �rvores, muitas �rvores.

Havia uma igreja

com um sino que
tinha um som lindo.

Quando tocava, minha m�e me
levava pela m�o para l�.

Qual era o nome do lugar?

N�o lembro,

perguntei ao vov�
e ele n�o quis me dizer.

Disse que tinha esquecido.

Seu av� est� ficando velho, Rima.

O que vai fazer quando ele
se for, para juntar-se a sua m�e?

Voc� est� comigo.

E quando eu sair?

Esta n�o � minha casa.
Eu vim de longe.

Veja!

Uma coisinha t�o bonita.

Nunca t�o feliz e ador�vel
quanto voc�, Rima.

Quando olho aquele
beija flor, eu vejo voc�.

Parada na luz do sol e
desaparecendo como uma sombra.

Voc� � como todas
as coisas lindas da floresta.

Flores, borboletas,

p�ssaros que cantam ao longe,
na sombra das �rvores,

suaves folhas verdes.

Quando olho para Rima,
vejo tudo isso.

� voc�?

� voc�?

Ah, m�e,

ou�a-me,
ou�a a sua filhinha.

� sobre o jovem que veio
para a nossa floresta.

O nome � Abel, ele esteve conosco
e algo estranho aconteceu comigo.

N�o sou mais Rima,
embora ainda seja Rima.

Se me olho no lago, vejo
a mesma imagem refletida,

mas por dentro estou diferente.

Quando os olhos dele
olharam para os meus,

me iluminando como um rel�mpago
nas nuvens ao por do sol.

Ent�o n�o eram s� olhos dele.

Sempre que o vejo � dist�ncia,

quando ou�o a voz dele

e especialmente quando ele
tocou minha testa com os l�bios.

Se est� longe, eu n�o descanso
at� eu v�-lo novamente.

Se est� perto eu tremo
com a presen�a dele.

M�e, pegue minha m�o.
Leve-me para nossa casa,

ao nosso povo. Leve-me
para a velha mais s�bia do lugar.

Quero perguntar quem eu sou,
o que estou procurando.

E o significado dessa
sensa��o maravilhosa

que me faz perder
a paz do cora��o.

Veja!

Espere at� que eu tome f�lego.
O ar est� raro aqui.

V� aquelas montanhas?
S�o chamadas de Bahanas.

A cachoeira, Cahite�. E o rio,
Huaipero, vem das colinas.

A partir daqui voc� pode
ver toda a terra.

O mundo � maior do
que isso que vemos?

Sim, claro. Muito maior.
N�o consegue tudo.

S� uma parte de cada vez.

- Voc� j� viajou o mundo inteiro?
- N�o, � grande demais.

Conte o que voc� sabe, o que
existe l� adiante? E al�m?

A floresta virgem.
Um espa�o no mapa.

Os �ndios chamam de Riolama. A regi�o
mais selvagem ao norte da Amaz�nia

Existem animais ferozes
e p�ntanos malignos.

Riolama!

Riolama � o nome da minha cidade!

- A cidade de sua m�e? Tem certeza?
- Eu me lembro agora.

Foi onde eu nasci.

- Al�m disso, � o meu nome.
- Rima?

N�o � Rima. � Riolama, desde
pequena me chamavam de Rima.

O velho sempre soube.

Ele sabia que a cidade est� perto
e que podemos chegar at� ela.

� mais longe do que parece, Rima.

O dobro da dist�ncia
ainda n�o � longe para mim.

Ele sabia disso e vem mentindo
para mim todos esses anos!

Voc� sabia e mentiu, traidor.

Traidor.

Nuflo.

Nuflo!

O que est� fazendo a�?

Amaldi�oando voc�. Amaldi�oando
a cobra que lhe mordeu

e n�o teve veneno para lhe matar.

Voc� arrebatou de mim o
cora��o daquela crian�a.

Voc� fez dela um dem�nio
que me assombra.

Pensou que escaparia de mim
escondendo-se na floresta.

Rima, filha, tenha d�, n�o posso
lev�-la � Riolama, sou muito velho.

� perigos demais. Diga a
ela que n�o posso ir.

Voc� est� mentindo!

Como mentiu sobre Riolama!

Mas agora que sei a verdade, vai
me levar ao povo da minha m�e.

N�o, n�o, eu morreria!
Eu morreria do cora��o.

Deixe-me morrer aqui onde vivi.

Pelo menos deixe-me morrer
num lugar que conhe�o.

Agora voc� quer se matar?

Primeiro ou�a o que o
espera ap�s a morte.

M�e, me escute. Esse velho
enganou-me cruelmente.

- N�o, n�o � verdade! Eu a amo!
- Agora ele amea�a se matar!

Ver� o que o espera.
� um velho astuto de barba branca

e o rosto enrugado que
tenta passar despercebido.

Mostre-o para anjos, diga que �
Nuflo, o velho que mentiu para Rima!

Que o levem e lancem nas chamas
para que n�o possa escapar.

N�o d� ouvidos a ela,
n�o fala a s�rio.

Joguem-no em uma
caverna escura, para sempre.

Rima! Por favor!
Retire essas palavras.

Diga a ela que n�o falava a s�rio.

Farei o que me disser,
levo-a aonde voc� quiser,

mas por favor,
retire essas palavras.

Tudo bem, eu perdoo voc�.

- Mas agora leve-me para Riolama.
- N�o, voc� ainda n�o retirou.

Se eu morresse no caminho, o
que aconteceria com minha alma?

Oh, m�e, me escute,
porque tenho uma novidade.

Vov� me pediu perd�o
e prometeu me levar

para a nossa cidade. Se ele morrer
no caminho, instrua os anjos

para deix�-lo entrar.
E que n�o guardem rancor.

Por que mentiu sobre Riolama?
O que est� escondendo?

Gostaria de vir conosco, n�o �?
Est� curioso sobre a cidade.

Acha que vai encontrar l� o
ouro que est� procurando?

Est� errado, jovem aventureiro,
n�o encontrar� o que procura.

- Nem ela.
- No entanto, voc� vai lev�-la.

Ela est� em perigo e quer ir.
Se voc� a ama, fa�a isso por ela.

O que sabe sobre amor?

Voc� � mais perigoso para ela
do que com os pr�prios �ndios!

Destruiu a felicidade e
roubou-lhe a paz de esp�rito!

O que mais voc� quer dela?

Saia!

Saia.

Antes que a destrua completamente.

Al�, Kua-Ko.

Meu pai espera voc�.

Espera h� muitos dias.

Voc� matou a filha de Didi?

Diga a ele que que entrei
na floresta proibida

para enfrentar o esp�rito
do mal, como ele queria.

N�o pude. Fui mordido por
uma cobra coral no primeiro dia.

Mordida de cobra coral mata.

Sim, mas ela me
trouxe de volta � vida.

Como eu mataria algu�m
que tem um poder assim?

Voc� est� mentindo!

Por que diz que estou mentindo?

- Mente sobre a menina da floresta.
- N�o � verdade

Ela me deixou sair de l� vivo,
somente para preveni-los

para nunca mais
voltarem �quela floresta.

Meu pai n�o confia mais
em voc�, voc� covarde.

Esta noite vou provar
que tenho coragem.

Sou eu que vou eliminar
o esp�rito da floresta.

Esta noite vou mostrar a coragem.

Vespas picam meu corpo,
eu n�o grito.

Amanh� irei para a floresta,
matar a filha de Didi.

Est� louco, n�o lembra do seu irm�o?

Como ela virou a flecha contra ele?

Voc� o matou, n�o foi?

Ele era o favorito, voc� matou o
seu irm�o e voc� a culpou.

Runi, me escute!
Kua-Ko assassinou seu filho!

Como eu faria voc� entender?

Kua-Ko, Kua-Ko, matou.

Estou avisando, Kua-Ko!

N�o machuque a garota!

Esqueceu as li��es da b�blia?
Caim, Judas...

Eu vou como grande tigre, como
grande urso ca�ando leopardos!

Como, macaco que voa,
entro na floresta sem barulho!

Matar! Matar filha
do esp�rito de �gua!

Matar p�ssaro
com corpo de mulher!

Fogo, fogo mata esp�rito do mal.

Fogo!

Pode parar de sofrer, n�o � Rima.

Achei que est�vamos livres de voc�.

Pegue o que for necess�rio.
Vamos para Riolama.

N�o, n�o posso. Estou doente.
Nunca conseguiria chegar.

Pare de choramingar e levante-se.
N�o sei do que voc� tem medo.

Vou levar Rima para Riolama e voc�
vem junto para mostrar o caminho.

Est� perdendo seu tempo.
N�o h� ouro naquela cidade.

Como posso me importar com ouro
quando Rima est� em perigo?

Estive com os �ndios, eles v�m
para a floresta para mat�-la.

Mas antes vou tir�-la daqui.

Os �ndios?

Voc� pode vir conosco e
salvar seu pesco�o in�til

ou ficar para receb�-los. Escolha.

�ndios?

Pegue aquilo.
R�pido!

Aqui.

Vamos, Goroso, vamos, Goroso.

R�pido, Rima, r�pido!

Sem a caveira. Ca�adores
de cabe�as. Seremos mortos.

- Est� aqui h� anos.
- Voc� acha?

Olhe para as formigas.
Parece que acabaram de comer.

N�o podemos ir em frente,
seremos mortos.

Vamos voltar e achar um caminho
de volta para Maripuri.

Temos que continuar.

Segure o cachorro para n�o latir.

Quietos, quietos.

Pegue-o, fa�a-o parar de latir.

Vov�!

Goloso!

- J� estive aqui antes.
- N�o, voc� est� imaginando.

N�o. L� em cima h� uma
caverna entre as �rvores.

- Onde estamos?
- N�o sei, estou perdido.

- Vou acender uma fogueira.
- Vamos passar a noite aqui.

N�o.

N�o.

N�o.

Est� mentindo.

- Est� mentindo.
- Acorde.

� quase manh�.

Voc� falava dormindo.

- Onde ela est�? Onde? Responda.
- L� em baixo.

Ela foi... Foi procurar a cidade?

- Sim. Encontrar�?

Se ela der a volta, no outro
lado da montanha, ver�

uma plan�cie, entre as rochas.

Por que voc� n�o disse a ela?

Imposs�vel, me for�aria a lev�-la
e n�o posso voltar para essa cidade.

Prometa que vai me ajudar,

n�o deixe que ela me
obrigue a ir para a cidade.

Por que n�o?

- N�o posso dizer.
- Ent�o n�o posso ajudar.

Ela reconheceu at� o ar.

Ela at� se lembrou da caverna.

Ela j� esteve aqui antes?

Eu a trouxe aqui.

Rima tinha ent�o
quatro anos de idade.

Quando era muito jovem, fui
levado por m�s companhias.

Com quarenta anos
minha �nica ocupa��o era

vagar pela regi�o com
um bando de rufi�es.

Devo dizer a meu favor que
eu era o mais inofensivo do grupo.

Nunca matei ningu�m.

Nem roubei, exceto para viver.

E roubou o ouro de Riolama.

O plano era muito simples,
roubar e ir embora.

Foi um massacre,
mataram e estupraram,

eu fugi e acabei aqui.

No caminho encontrei uma
pobre mulher ferida.

Ao lado dela estava uma crian�a.

Uma menininha.

Trouxe-as para c� e
cuidei das feridas.

Morreu em meus bra�os,
aqui onde estou sentado.

Ela morreu, me aben�oando.

Aquela santa mulher.

Jurei a ela que cuidaria
de sua filhinha.

Cumpri minha promessa.

Paguei pela minha parte
naquele pesadelo!

N�o posso voltar � cidade.

Voc� vai para a cidade.

Vai encarar o povo.

Ser� punido pelo que fez � ela.

M�e!

M�e!

Eu fui contra,
tentei imped�-los.

N�o acredito, voc� mente de novo.

Tentei ajudar sua m�e, eu juro.

M�e, voc� morreu aqui.

- Nesta caverna.
- Acredite, filha, por favor.

- Neste lugar esquecido.
- Rima

N�o me toque, n�o suporto.
N�o suporto ver voc�.

N�o vou mais viver ao seu lado!
Nunca mais.

Cubra-se com isso.

Vou atr�s dela.

Tudo acabar� bem.

M�e?

M�e!

Finalmente voc� volta para mim.

As sombras fugiram de seus olhos

e agora eles me olham com amor.

Quando voc� orou para
sua m�e no bosque,

abrindo o segredo
do seu cora��o, eu entendi.

Eu tamb�m vivia desorientado.

Cheguei aqui, cego de raiva,
procurando vingan�a

e em vez disso, encontrei amor.

Seu povo est� perdido
mas eu estou aqui.

E sei o que voc� sente, embora n�o
encontre palavras para dizer.

Eu tenho palavras.

E desejo falar.

� amor o que eu sinto.
Sei disso agora.

Na floresta, eu era como
o passarinho que vimos juntos,

voando aqui e al�, nunca em repouso.

Tentando silenciar
o tumulto do meu cora��o

Assim era o meu desejo
de vir a Riolama.

Encontrar uma pessoa para
me ajudar a entender

essa estranha e
maravilhosa confus�o.

Como � belo amar!

Acordar em seus bra�os,

seus olhos olhando nos meus,

Que paz!

E agora voc� est� feliz, Rima?
Nunca mais ter� medo?

Nunca mais. N�o, agora
que voc� est� comigo.

Sempre estarei com voc�.
Nunca mais ficar� sozinha.

E onde est� o vov�?

Estava indo embora.

Eu o mandei embora,
machuquei-o muito.

Devo encontr�-lo e dizer a ele.

Iremos assim que amanhecer.

Pobre vov�,
ele viveu s� para mim.

E agora ele me perdeu,

n�o por causa da minha m�e,

mas por causa de voc�,

por voc�.

Rima?

Rima!

Vov�!

Vov�!

Crian�a!

- Voc� voltou.
- Sim, vim cuidar de voc�.

Estou envergonhada.

Amo voc�, amo voc�.

O ouro

� para voc�.

Rima, crian�a,

ou�a,

acho que sua m�e est� perto.

Eu n�o quero que ela
pense mal de mim.

Diga a ela que cumpri
minha promessa.

Diga que...

Rima!

Rima!

Ela est� morta.

Voc� est� mentindo.

O velho tamb�m.

N�o acredito em voc�.

Eu a queimei viva.
Queimei em uma grande �rvore.

Esp�rito do mal virou fuma�a.

Dela s� restaram as cinzas.

Rima.

Est� morta.

Rima!

Rima!

Rima, responda-me!

Rima!

N�o!

N�o acredita em nada, n�o �?

Porque voc� me matou
em sua mente?

Por que voc� me enterrou
em seu cora��o?

Esta flor chama-se Ata,

abre quando a lua brilha, ent�o
desaparece, mas nunca morre.

Em um instante volta a
florescer em outro galho,

em outro lugar da floresta.

Se voc� vier aqui amanh�
e n�o a encontrar,

n�o fique triste

porque ela ainda est� viva
em algum lugar pr�ximo.

* Tradu��o: RobOpen *