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A especialista da miss�o, Dra. Sally
Ride, completa os preparativos

para ingressar no orbitador.

Contagem regressiva em uma hora,
40 minutos, 25 segundos, e contando.

Os cinco membros
da tripula��o de voo est�o a bordo.

A Dra. Sally Ride ser� a MS2.

Ok, equipe, aqui � a MS2.
Est�o prontos?

MS2, estou te ouvindo claramente.

� um marco na hist�ria espacial dos EUA.
Pela primeira vez, uma americana...

- ...a primeira...
- ...uma americana...

- ...a primeira mulher...
- ...uma astronauta...

...ser� lan�ada ao espa�o.

Ela se chama Sally Ride.

- Sally Ride.
- Sally Ride.

Astronauta Sally Ride.

- Voc� � uma estrela!
- Estamos com voc�.

Vai nessa, Sally.

Dra. Ride, voc� acha
a cobertura da imprensa muito intensa?

Cobertura da imprensa?

� uma pena que a sociedade
n�o esteja mais adiantada,

e que isso seja t�o importante.

Sally foi a pessoa mais famosa
do planeta por um tempo, e com raz�o.

Faltam dois minutos, e contando.

Eu percebi que serei um exemplo a seguir.

Ignitores de hidrog�nio armados.

As mulheres t�m a chance
de mostrar seu valor.

Espero que ela n�o bote
tudo a perder!

Eu sinto que � importante
que eu n�o cometa nenhum erro.

- Vinte e cinco.
- Faltam 25 segundos e contando.

O sequenciador integrado
controla os segundos finais.

� hora das pessoas perceberem
que as mulheres nesse pa�s

podem trabalhar no que quiserem.

A Sally arriscou tudo
para entrar para a hist�ria.

Mas contar ao mundo sobre n�s
era um risco que ela n�o podia correr.

Em dez, nove, oito, sete, seis.

Igni��o do motor principal.
Motor principal ligado.

Decolagem confirmada!

O STS-7 decola com a primeira
astronauta americana.

Ei, voc�s sabem
quem � essa pessoa aqui?

- Sim.
- Sabemos.

Sabem? Qual o nome dela?

- Sally Ride.
- Sally Ride.

- Isso mesmo.
- Acertaram.

- O que ela faz?
- Ela � uma astronauta.

- Uma astronauta?
- Isso mesmo.

Como voc� come?
A comida n�o flutua?

N�o comemos ervilhas ou coisas assim,

porque se abrir
uma lata de ervilhas, elas...

Quem quer ir ao espa�o
com a Sally na pr�xima viagem?

Ok. Combinado.
Tudo bem se n�s formos todos?

- Claro, tudo bem.
- Ok.

A Sally gostava do jeito
que pensavam sobre ela.

Ela era a garota de ouro
e um �timo modelo a ser seguido.

Parece estar com problemas.
Posso ajudar em alguma coisa?

Bom, esse foguete n�o quer decolar.

Ela n�o queria que aquilo mudasse.

N�o planejamos esconder nada.

Queria ser astronauta
quando crescesse.

- � mesmo?
- Sim, queria.

Ainda d� tempo.

Aquilo me afetou,
mas n�o afetou a Sally.

Ela n�o ligava pra essas coisas.

Entrevista da Tam, tomada um.

- A��o.
- A��o.

Poderia come�ar se apresentando,

dizendo quem voc� �,
e quem voc� era para a Sally?

Claro.

Meu nome � Tam O'Shaughnessy,
e fui companheira dela por 27 anos.

COMPANHEIRA

FOR�A A�REA DOS EUA

Quando eu conheci a Sally,
ela tinha 13 anos, e eu, 12.

Est�vamos em uma fila,
com outras meninas,

para um torneio de t�nis.

Era um dia muito quente.

E eu lembro daquele c�u muito azul.

Eu estava bem atr�s dela na fila.

E ela me chamou aten��o
porque estava na ponta dos p�s.

E quando a fila andava,
ela caminhava na ponta dos p�s,

e eu nunca tinha visto
algu�m fazer aquilo antes.

E eu estava olhando pra ela e rindo.

Foi quando ela virou
para tr�s e me viu.

Eu disse algo como:

"Voc� est� andando na ponta dos p�s
como uma bailarina."

E nos tornamos amigas.

A Sally era meio quieta,
mas falava por oito minutos sem parar

sobre as outras jogadoras,
como venc�-las, como derrot�-las.

O estilo de jogo dela era estrat�gico.

Bolas curtas,
colocar a bola nos cantos.

Eu joguei duplas com ela,

e ela queria ficar do lado
onde a press�o era maior.

Algumas pessoas s�o assim.

Nos momentos cruciais,
elas querem estar no comando.

E a Sally era assim.

Eu cresci durante o auge
do programa espacial.

Estava na capa do jornal
todos os dias,

e lembro dos professores
do ensino fundamental

trazendo aquelas TVs grandes
e antigas para a sala de aula

para a gente assistir
aos primeiros lan�amentos.

Acho que todas as crian�as

sonharam em ser astronauta
em algum momento.

Esse � um pequeno
passo para o homem...

Uau.

�, vamos ficar ocupados agora.

Eu adorava ci�ncias, mas como
muitas garotas no ensino fundamental,

comecei a perder minha autoestima,
a perder minha confian�a.

Comecei a internalizar
as mensagens sutis

que as pessoas costumam transmitir.

Como s� havia homens
no programa espacial...

francamente nunca me ocorreu
que eu poderia ser uma astronauta.

Em 1976, a NASA decidiu...

JORNALISTA

...que iria expandir
o Corpo de Astronautas

e que incluiria mulheres
e minorias pela primeira vez.

Eu vi um an�ncio da NASA
no jornal estudantil da Stanford...

UNIVERSIDADE DE STANFORD

...dizendo que estavam aceitando
inscri��es para astronautas.

NASA RECRUTA MULHERES

Quando vi aquilo,
sabia que era o que eu queria fazer.

Naquele mesmo dia, rabisquei
um pedido de inscri��o � m�o.

"Agora que o programa espacial
evoluiu ao ponto

em que mulheres est�o
sendo consideradas,

sinto que estou recebendo
uma oportunidade incr�vel.

Al�m disso,
acredito que minha forma��o,

o treinamento cient�fico
em geral e em astrof�sica,

me qualifica a contribuir
tanto para o programa

quanto espero obter dele."

Quando ela errava algo,

ela simplesmente riscava
e continuava escrevendo.

Isso � bem a cara da Sally.

Quando a NASA anunciou
que recrutaria

de 30 a 40 novos astronautas,

mais de oito mil candidatos
responderam,

incluindo mais de 1.500 mulheres.

Eu sabia que tinha uma boa chance
de chegar a um ponto razo�vel...

VOZ DE SALLY RIDE

...no processo de sele��o.

At� o final do processo de sele��o,
eu j� seria doutora.

E eu tinha um bom hist�rico
atl�tico.

As estat�sticas da Sally Ride
incluem v�rias credenciais acad�micas

que, � primeira vista,
pareciam pertencer a tr�s pessoas.

Na Universidade de Stanford,

ela se formou simultaneamente
em Ingl�s e F�sica,

depois fez mestrado
e doutorado em Astrof�sica.

A Sally tinha uma certa arrog�ncia
em rela��o � f�sica.

Ela amava o fato
de ser superdif�cil de aprender.

Ent�o, se voc� aprendia,
voc� era meio que o m�ximo.

Uma noite, t�nhamos uns vinte anos,
convidei a Sally para jantar.

N�o nos v�amos h� alguns anos.

Eu decidi preparar algo especial.

Eu n�o tinha muito dinheiro,
mas comprei bifes, vinho,

a luz estava baixinha.
Foi emocionante e divertido

nos reencontrarmos como adultas.

Ela sabia que eu era gay,
contei a ela.

E eu disse a ela
que tinha uma namorada.

Mas eu n�o sabia que ela tinha
a pr�pria experi�ncia dela.

Eu n�o fazia ideia.

A Sally foi a minha primeira
melhor amiga

e meu primeiro relacionamento
com uma mulher.

N�o falo da �poca da faculdade.

EX-NAMORADA

Estava muito envolvida com a Sally.

O que tive com
a Sally foi maravilhoso.

Por quatro anos,
est�vamos juntas o tempo todo.

Mas nenhuma de n�s falava
com ningu�m de fora de casa

sobre o que acontecia.

N�o and�vamos de m�os dadas na rua.

Para mim,
o que fez aquilo chegar ao fim foi

que eu n�o conseguia
viver mais naquele mundinho.

Eu lembro de ter visto
a Molly e a Sally juntas,

mas eu n�o sabia de nada,
eu s� soube anos depois.

E naquele jantar rom�ntico,

que eu nem sabia que era rom�ntico,

n�s conversamos e nos conectamos,
e foi uma noite ador�vel.

Dez anos depois ela me disse

que o que ela sentia por mim
come�ou a mudar naquela noite.

Mas eu n�o fazia a m�nima ideia.

Logo depois,
ela recebeu o telefonema da NASA.

Recebi um telefonema de manh�
bem cedo, hor�rio da Calif�rnia.

Pensei que estava sonhando.

Eu tinha sido aceita
para o Escrit�rio de Astronautas.

Eu fiquei emocionada.

ADMINISTRA��O NACIONAL
DA AERON�UTICA E ESPA�O

No in�cio de 1978,
a astrof�sica Dra. Sally Ride

comunicou � fam�lia um evento
importante na sua carreira.

Ela havia sido selecionada pela NASA
para ser candidata a astronauta.

Eu estava muito empolgada.

A primeira coisa que eu fiz,
ao desligar o telefone

e ter falado com o George Abbey,
peguei o telefone

e liguei pra minha m�e,
pra minha irm�, pro meu pai.

Eles estavam t�o empolgados quanto eu.
A rea��o da minha m�e foi...

Eu tenho uma irm� que � da teologia.
Ela est� no semin�rio teol�gico.

E minha m�e disse: "Bem, voc� sabe,

uma das duas vai para o c�u."

At� agora, os homens na Lua
foram apenas isso: homens, n�o mulheres.

Ali�s, at� agora,
todos os astronautas foram homens,

e brancos, n�o Negros.

A Ag�ncia Espacial dos Estados Unidos
nomeou 35 novos astronautas,

incluindo seis mulheres,
tr�s Negros e um oriental.

PERIGO - LUZ PISCANTE
INDICA EXPLOSIVOS INSTALADOS

Quando cheguei na NASA,
foi muito legal.

Daquele momento em diante,
comecei a sonhar em ter a chance

de ir ao espa�o.

�ramos os novatos
no Corpo de Astronautas.

Nenhum de n�s sabia nada
sobre o que estava prestes a acontecer.

Foi o ponto de virada
na minha vida.

RIDE - ADMINISTRA��O NACIONAL
DA AERON�UTICA E ESPA�O

Sejam todos bem-vindos a Houston

e ao Centro Espacial Johnson.

Tivemos mais de oito mil pessoas...

DIRETOR, CENTRO ESPACIAL JOHNSON

...que se inscreveram,
interessadas em serem astronautas.

A primeira viagem a Houston
foi com todos os 35 de n�s...

ASTRONAUTA, TURMA DE 1978

...para nos apresentar
em um grande evento de imprensa.

Havia dez pessoas
como nunca se tinha visto antes

no Corpo de Astronautas da NASA.

Sally Ride, assistente de pesquisa

no Departamento de F�sica
da Universidade de Stanford,

em Stanford, Calif�rnia.

Havia um enorme holofote

voltado para n�s,
os dez que �ramos diferentes.

E ficamos numa verdadeira maratona
de imprensa por horas e horas.

Kathy Sullivan.

Isso meio que nos preparou
para o que estava por vir.

�ramos figuras p�blicas agora.

Eles n�o v�o querer saber
s� sobre suas expectativas

para o programa espacial
ou seus objetivos.

Eles v�o abordar
os clich�s estereotipados,

os temas rom�nticos,
o cabelo, a maquiagem,

os assuntos de moda,

os enfoques que est�o acostumados
a dar �s mulheres que entrevistam.

E quando voc� conhece um homem...

ASTRONAUTA, TURMA DE 1978

...que n�o sabe quem �, e voc� diz:
"Sou uma astronauta"?

E ele: "� bonita demais
para ser astronauta!

Mocinha, voc� n�o � uma astronauta!"

Eu digo que sou engenheira.

Quando espera subir
no �nibus espacial?

Ainda vai levar alguns anos

para n�s, os novatos,
mas vai valer a espera.

O �nibus espacial Columbia
est� programado para decolar

do Cabo Canaveral, na Fl�rida,
para o teste inicial de voo.

Mal posso esperar para subir.

Acho que estamos todos ansiosos
para ir n�s mesmos.

PRIMEIRO LAN�AMENTO, 1981

Todo mundo queria ser
o primeiro homem e a primeira mulher.

Quer dizer, essa era
simplesmente a nossa natureza.

Os astronautas sabiam
que certas pessoas eram importantes.

Mas o processo em si,
os crit�rios que eles usavam,

era um mist�rio absoluto.

Eles n�o sabiam
se deveriam ser mais simp�ticos,

se deveriam trabalhar duas horas a mais.
N�o sabiam qual era a f�rmula.

N�o havia d�vidas
de que a Sally queria ser a primeira.

Ela nunca teria
admitido isso numa entrevista.

Em todas as entrevistas que voc� l� dela,
ela diz: "Ah, eu s� quero voar."

Eu n�o entrei nesse programa
para ser a primeira a ir ao espa�o.

N�o tenho um grande desejo
de ser a primeira mulher a ir.

Isso n�o significa tanto assim para mim,
mas quero subir assim que for poss�vel.

Parte do treinamento � bem dif�cil.

Salto de paraquedas.

O Cometa do V�mito.
O avi�o que sobe e desce bruscamente.

Ele d� a eles 20 segundos
de aus�ncia de gravidade.

Era um Cometa do V�mito.
Sim, era um nome bem apropriado.

As astronautas foram submetidas

aos mesmos exerc�cios
que seus colegas homens.

Elas foram i�adas,
mergulhadas e puxadas,

aprenderam t�cnicas de sobreviv�ncia
e a usar algumas das ferramentas

que levar�o nos voos reais
do �nibus espacial.

ASTRONAUTA, TURMA DE 1978

Durante todo o tempo,
havia essa m�dia ao nosso redor.

Eles observavam atentamente
tudo o que faz�amos.

"Ser� que essas pessoas conseguem

lidar com o desconhecido e incertezas,
com os perigos potenciais?"

Voc� acha que � t�o boa quanto
qualquer astronauta homem aqui?

Sim.

E melhor que algum deles?

N�o sou burra o suficiente
para dizer isso.

Na mente de quase todos,

a escolha seria
entre a Sally e a Judy Resnik.

A Judy sempre foi considerada
uma forte candidata.

Ela era muito inteligente,
e �tima engenheira.

A Sally e a Judy
eram como ma��s e laranjas.

ASTRONAUTA, TURMA DE 1978

Dois tipos de personalidades
completamente diferentes.

A Judy era um amorzinho,

e ela era extraordinariamente
inteligente e capaz,

mas adorava se divertir.

A Sally era muito mais quieta.
Sua atitude era sempre profissional.

Nunca a vi demonstrar muita emo��o.

Ela est� brava? Est� feliz?

ASTRONAUTA

Est� chateada? N�o sei.

Isso a tornava um pouco dif�cil
de se aproximar.

Ela tinha um lado rude.

Acho que ela n�o sabia
como ser amiga de algu�m

com quem estava competindo.

Uma das minhas primeiras tarefas
foi no bra�o rob�tico do �nibus espacial.

Ele ainda estava
em fase de testes e desenvolvimento.

Em virtude das suas atribui��es,

isso colocaria a pessoa em uma posi��o
em que seria eleg�vel para ser a primeira.

O objetivo do bra�o rob�tico
era conseguir retirar sat�lites

do �nibus espacial
e lan��-los no espa�o.

Ter aquela atribui��o
era algo muito importante.

A Sally era �tima manejando o bra�o,
assim como a Judy.

Flutuou para tr�s da ba�a,
para tr�s do centro.

Agora estou com ele em 45 e 30.

Gra�as � sua coordena��o motora,
adquirida quando era tenista...

VOZ DE TAM O'SHAUGHNESSY

...a Sally se adaptou e descobriu
como aquilo funcionaria no espa�o,

e assim as pessoas notaram
que ela havia dominado o bra�o rob�tico.

Esses fatores a colocavam
em posi��o favor�vel a um voo antecipado.

Sally tinha uma mentalidade competitiva
muito diferente do resto de n�s.

Um dia, est�vamos treinando
e eu estava praticando no bra�o rob�tico.

Eu estava no painel
para come�ar a trabalhar com ele

e vejo a Sally passar atr�s de mim
e descer a escada para o conv�s inferior.

E de repente, o bra�o parou
de se mover... abruptamente.

Ent�o, entrei no modo
de solu��o de problemas

e, eventualmente,
fui olhar aos disjuntores,

que est�o em um painel
no final dessa escada,

e todos eles foram retirados.

E ficou claro para mim que a Sally,
enquanto descia a escada,

tinha simplesmente desligado
os disjuntores silenciosamente.

Ser� que a Sally estava
apenas bancando a instrutora

para ver o que eu faria?

Ser� que estava enviando um sinal,
tipo: "Esse � o meu bra�o manipulador.

O que voc� est� fazendo com ele?"
Ou s� estava zoando comigo?

Se voc� me perguntasse
qual de n�s seis mais queria esse pr�mio,

eu diria que provavelmente era a Sally.

Eu n�o conseguia entender
a empolga��o de trabalhar para a NASA.

Achava que seria o lugar mais chato

e limitado do mundo para se trabalhar,

e que n�o seria receptivo
a pessoas de cor.

E se voc� for gay,
j� sabe, se manda daqui.

Eu segui um caminho bem diferente.

Em vez de ir para a faculdade,

entrei na primeira turn�
de t�nis profissional feminino,

o Virginia Slim Circuit.
Joguei o US Open e Wimbledon.

E conheci muita gente maravilhosa,

incluindo uma tenista da Su�cia.

N�s nos tornamos amigas e percebi

que a maneira como eu pensava nela
era meio... diferente.

Era meio gay, e isso me chocou.

E eu estava com medo.

Quando crian�a, me ensinaram
que homossexuais ou l�sbicas

s�o pessoas muito assustadoras.

A maioria dos americanos sente repulsa
pela simples ideia de homossexualidade.

A pesquisa da CBS News mostra
que dois em cada tr�s americanos

veem os homossexuais
com nojo, desconforto ou medo.

Acho isso revoltante,
e est� escrito no Antigo Testamento

que � uma abomina��o contra Deus.

N�o � americano, sabe?

Eu acho que eles deveriam
ser fuzilados.

CRIST�OS E JUDEUS PELA MORALIDADE!

No in�cio, o medo e a vergonha
com o qual crescemos surgiu em mim.

SER GAY N�O � OK!

Voc� tem que ter cuidado,
tem que esconder quem voc� �,

tem que esconder o que sente.
E tudo aquilo come�ou.

Mas eu vim do ambiente do t�nis,
onde ningu�m se importava

com quem voc� estava namorando
ou com quem estava transando.

Eu me conectei
com uma comunidade de mulheres

que estavam dispostas a ser mais
abertas sobre sua sexualidade.

L�SBICAS LUTANDO POR LIBERDADE

Havia um movimento
acontecendo em todo o pa�s.

SAPATONAS, UNI-VOS

Se eles achavam que est�vamos
em todo lugar na d�cada de 1970,

esperem at� verem a d�cada de 1980.

L�SBICAS PELAS L�SBICAS

Ver outros membros
da comunidade queer marchando

e sendo eles mesmos foi inspirador.

Eu decidi que contaria
�s minhas irm�s e � minha m�e.

Vi que era poss�vel
ser honesta sobre quem eu era,

e me senti muito bem.

Eu tive sorte
de ter tido aquela experi�ncia

nos meus 19, 20, 21 anos.

A Sally estava em um ambiente
muito mais restrito.

Quando come�amos a namorar,
ela me deu isso.

E tenho que dizer, me surpreendeu,
pois s�o duas mulheres.

� lindo, mas me pegou
um pouco de surpresa,

porque eu sabia que ela era
mais reservada e n�o era...

assumida e orgulhosa
e esse tipo de coisa.

A Sally n�o falava sobre como se sentia
em rela��o a assuntos pessoais.

Mesmo quando jovem,
ela era muito reservada.

A fam�lia dela n�o tinha aquele
tipo de relacionamento �ntimo,

visceral.

Como a Sally era, quando crian�a?

Acho que ela era meio reservada

sobre como se sentia.

A que voc� atribui isso?

N�o � da sua conta.

Meu nome � Joyce Ride.

E qual � a sua rela��o com a Sally?

Sally?

Ela era minha filha n�mero um.

M�E DE SALLY

Os pais da Sally
eram pensadores progressistas,

muito abertos, e ambos acreditavam

que suas filhas poderiam fazer
tudo o que quisessem.

A inf�ncia de Sally foi,
de certa forma, ideal,

mas, por outro lado, seus pais
n�o demonstravam afeto um pelo outro,

nem por Bear e Sally.

Sendo Noruegueses,
n�o �ramos uma fam�lia...

IRM� DE SALLY

...que compartilhava sentimentos.

A Sally absorveu a mensagem
de que muita exuber�ncia, muita emo��o,

n�o � o que fazemos por aqui, sabe?

Por que voc� n�o gosta
de falar de sentimentos?

Se eu soubesse como me sinto
em rela��o a sentimentos...

provavelmente n�o te contaria.

Ela n�o aprendeu
a expressar as emo��es,

porque elas n�o eram expressas
em casa.

Sally e eu, por exemplo,
�amos de carro at� a casa da m�e dela,

e bat�amos na porta.

A Joyce abria e dizia:
"Ol�, filha mais velha."

E: "Ol�, Tam."

E voltava a fazer
o que estava fazendo.

N�o havia nada do tipo: "Entrem."
Um abra�o. Sabe, abra�ar a Sally.

"Faz tempo que n�o te vejo. Te amo."
Nada disso. Absolutamente nada.

Ela voltou para a sala para fazer
o que quer que estivesse fazendo.

E voc� sabia
que elas estavam juntas na �poca?

Que eram namoradas?

Sim, eu sabia.

Mas n�o fal�vamos do assunto.

Voc� se v�, neste ponto, como
uma astronauta digna de Os Eleitos?

Pode definir isso?

Acho que o Tom Wolfe os descreve
como pessoas que desafiam a morte,

pilotos de ca�a, etc.

N�o, acho que n�o.

Dos cerca
de 4.000 funcion�rios t�cnicos

do Centro Espacial Johnson,
havia apenas quatro mulheres.

Ent�o, isso d� uma ideia
de qu�o masculina era a cultura.

Na hierarquia das grandes reuni�es,

a mesa principal sempre
foi composta apenas por homens.

Lembro-me de alguns olhares perplexos.

"O que aquela garota est� fazendo?
De quem � aquela secret�ria sentada ali?"

Existe alguma diferen�a
entre ser uma astronauta mulher

e ser um astronauta homem?

H� algo positivo,
algo negativo, algo engra�ado?

N�o. Acho que voc� nem deveria
abordar essa quest�o no seu programa.

- Voc� quer...
- Gostaria que voc� parasse, ok?

Tudo bem. Vamos parar.

Todas n�s tentamos minimizar
nossa feminilidade.

A Sally e eu fomos fazer
compras juntas.

Est�vamos procurando
cal�as e camisas cor c�qui

que parecessem
com o que os rapazes usavam.

Quer�amos que eles nos vissem
como parte da equipe

e n�o como uma astronauta mulher.

Esta � uma jaqueta que eu acho
que a Sally gostava de usar, sabe,

com seus �culos aviador.

Ela estava incorporando, sabe,
os astronautas da Apollo e aquele jeito

meio macho, arrogante...
aquele jeito arrogante deles.

As astronautas tinham
uma linha t�nue a percorrer.

Por um lado,
elas queriam se misturar.

Mas tamb�m precisavam
encontrar uma maneira

de confrontar o sexismo
arraigado na cultura da �poca.

N�o, o que eu estava dizendo era:
n�o � "Srta. Ride".

� "Doutora", ou "Sally".

- E voc� pode escolher.
- Est� bem.

- � mais f�cil dizer "Sally".
- � melhor "Sally".

Podemos usar uma vez de um jeito,
uma vez do outro.

- Ok.
- � isso mesmo.

- Mas n�o fique...
- � que ensaiamos diferente.

- Mas n�o estava correto.
- Est� bem.

H� setores da NASA
que n�o sabem o que fazer conosco.

Alguns deles s�o um pouco
condescendentes.

Toda vez que v�m falar
com uma de n�s,

n�o t�m muita certeza
de como nos encarar.

MULLANE
FOR�A A�REA DOS EUA

Eu me formei em West Point.
Fui para o Vietn�.

Cento e trinta e quatro
miss�es de combate l�.

Eu achava que as mulheres
selecionadas...

ASTRONAUTA, TURMA DE 1978

...n�o tinham passado
pelo que n�s passamos.

V�rios militares compartilhavam
da minha atitude.

Sabe, eu achava a Sally
muito atraente.

A Judy era linda.

Era a realidade na �poca.

Os homens viam as mulheres
como meros objetos sexuais.

Mas mulheres astronautas?
T� brincando?

Pronto. Calma, calma.
Astronautas n�o choram.

Entrar�o em p�nico no primeiro
problema. V�o gritar, se agarrar.

Procurar�o um homem
para se esconder atr�s.

Precisamos investigar,
sob condi��es controladas,

as rea��es de uma mulher
ao ambiente espacial lunar.

Bem, Renzo, bem-vinda
a sua nova casa.

Essa unidade est� defeituosa.

Seu pensamento � ca�tico.

Essa unidade � uma mulher.

Lembro de contar a ela
uma piada com linguagem obscena.

Voc� pode, claro, editar isso,

mas a piada terminava
com a palavra "tetas".

E eu pude ver nos olhos dela,
voc� sabe,

aquele olhar de �voc� � a pessoa
mais nojenta que j� conheci�.

N�o falei muito com ela depois disso.

Eu nunca havia trabalhado
profissionalmente com mulheres.

Eu suspeitava muito

da aptid�o delas para atuar
no mundo t�o perigoso

da avia��o de alta performance.

Eu n�o conseguia imaginar
o que elas poderiam oferecer.

As mulheres n�o podiam ir ao espa�o...

MUSEU DO AR E DO ESPA�O

...no in�cio da d�cada
de 1960 porque

nunca havia se pensado
que o astronauta

pudesse ser outra coisa
sen�o um homem.

H� lugar no nosso programa espacial
para uma astronauta?

Bem, poder�amos ter usado uma mulher
e a ter lan�ado em vez do chimpanz�.

Bom, eu...

No final dos anos 50,

um grupo de mulheres pilotos
passou por todos os mesmos testes

que foram elaborados
para os candidatos homens

do programa Mercury.

Se enviarmos algu�m ao espa�o...

AVIADORA

...deve ser o mais qualificado.

Mulheres pesam menos,

� menos peso, comida e oxig�nio,
e subiriam no mesmo propulsor.

Iriam mais alto,
ficariam no ar por mais tempo.

As mulheres se sa�ram muito bem.

Elas se sa�ram muito melhor
nos testes cardiopulmonares

e no teste de priva��o sensorial.

Mas se voc� encontrasse mulheres
mais qualificadas do que voc�,

como as receberia no programa?

Elas seriam muito bem-vindas.

MULHERES QUEREM
SER PILOTAS NO ESPA�O

Poucas pessoas se manifestaram
contra as mulheres...

H� LUGAR NO ESPA�O PARA N�S

...mas, eventualmente,
o programa foi cancelado.

Os sovi�ticos chegaram l� primeiro.

Eles mandaram o primeiro sat�lite,
o Sputnik.

Eles mandaram o primeiro
humano ao espa�o.

O HOMEM VAI AO ESPA�O

Eles mandaram a primeira
mulher ao espa�o,

Valentina Tereshkova.

Mas, por muito tempo, os EUA
n�o estavam prontos para uma mulher.

Sally, h� algu�m aqui na NASA
que ainda n�o esteja convencido

de que as mulheres t�m um lugar
no programa espacial?

CENTRO ESPACIAL

Acho que tem gente esperando
para ver como eu me saio.

Vou colocar desta forma.

MISS�O STS-2
12 DE NOVEMBRO DE 1981

Ap�s apenas um ano de treinamento,
Sally foi escolhida como Capcom na STS-2.

ESTADOS UNIDOS

Essa � uma posi��o privilegiada,

a �nica pessoa na sala de controle
a falar com os astronautas no espa�o.

Te ouvimos em alto e bom som.

E copiamos seus coment�rios
sobre o RMS e parece �timo.

Ok.

� uma grande responsabilidade.

E naquela miss�o em particular,
houve alguns problemas.

Durante a miss�o, as placas
de aquecimento foram danificadas.

Bem, o come�o dessa viagem
foi bem intenso.

E temos flocos passando pela janela.

As placas de aquecimento s�o a �nica
coisa que protege o �nibus espacial

quando ele retorna
� atmosfera terrestre.

Sem placas de aquecimento
suficientes, ele explode.

Ent�o, algumas mudan�as est�o por vir.

Mas n�o quer que mencione as mudan�as
at� passarmos pelos Estados Unidos.

Isso mesmo.

Queremos analisar um pouco mais

o problema da c�mera.

Ok.

O plano est� parado aqui, pessoal.

Voc�s entendem que perdemos a c�mera.

A mesma falha.
O disjuntor est� desarmado.

Havia uma frustra��o crescente
na sala de controle.

Vidas estavam em jogo.

Puxa vida.

Precisamos decidir o que vamos fazer.

Capcom, diga para eles abortarem
o teste de aproxima��o.

- Ok.
- Depois tratamos

dos disjuntores
e reiniciamos os sistemas.

Temos dados para analisar,
ent�o vamos fazer isso.

Ela queria provar
que aguentava a press�o.

Columbia, Houston, enquanto
investigamos o problema da c�mera,

nos passem a especifica��o um
de uma m�quina de GNC,

e vamos come�ar com isso.

Ela se saiu muito bem como Capcom.

Ela era articulada.

Ela era boa sob press�o.
Inteligente, trabalhava duro.

Oi, m�e!

E engra�ada.

Voc� foi a primeira Capcom mulher.

Ficou com medo? Gostou?
O que estava pensando na hora?

Foi divertido. Depois de voar,

essa � a melhor fun��o aqui.

Foi uma grande honra

ser a pessoa que conversa
com a tripula��o.

E eu estava morrendo de medo.

Essa aqui,
eu n�o me lembro em que ano foi,

mas essa � a Billie Jean King,
a fabulosa tenista, e a Sally.

Eu conheci a Sally l� no come�o.

Ela amava esportes. Amava t�nis.

CAMPE� DE T�NIS

Ela era monitora de acampamento
no Tennis America.

Tennis America era
um acampamento de t�nis muito legal

que Billie Jean King come�ou.

Sally era a melhor tenista
entre todas as crian�as

e monitores do acampamento, e elas
se tornaram amigas para a vida toda.

Foi uma carreira espetacular.

Billie Jean King fez
pelo t�nis feminino

o que Muhammad Ali fez pelo boxe.

Ela conquistou 20 vezes Wimbledon
e 13 t�tulos do Aberto dos Estados Unidos.

Tenho muito respeito
por ela como pessoa.

Acho que ela fez muito
pelas mulheres

e � uma pessoa que se expressa
articuladamente sobre as coisas.

Eu a admiro muito.

A Sally cresceu assistindo
a Billie Jean,

ouvindo-a apoiar meninas e mulheres.

A Sally aprendeu como � ser
uma campe� com a Billie Jean.

E ent�o, a vida da Billie Jean
virou de cabe�a para baixo.

Bille Jean King � processada
por pens�o aliment�cia

por uma mulher que alega
ter sido sua amante

por v�rios anos.

Na semana passada, Billie Jean King
nos contou sobre seu caso l�sbico.

As risadinhas foram ouvidas no mundo todo.
A m�dia se esbaldou com a hist�ria.

A estrela do t�nis admitiu
em uma entrevista coletiva

que teve um caso
alguns anos atr�s com sua secret�ria.

Quando aquilo veio � tona,
perdi todos os patroc�nios imediatamente.

E foi isso. Eu tive que recome�ar.

Paguei uma fortuna
para os advogados e...

Recomecei financeiramente
e em todos os sentidos.

A estrela do t�nis Billie Jean King
foi retirada

de sua campanha publicit�ria
de vitaminas.

Minha m�e costumava dizer:

"Billie Jean, n�o se esque�a
das suas vitaminas."

Foi ladeira abaixo por muitos anos.

�.

Qualquer pessoa gay de renome

teria que pensar duas vezes.

"Olha o que aconteceu
com a Billie Jean."

Meio que serviu como um aviso.

A Sally provavelmente pensou:
"Eu n�o vou por esse caminho.

Meu Deus, se isso aconteceu
com a Billie,

o que vai acontecer
se eu disser algo neste programa?"

Estando no arm�rio,

tudo o que voc� faz
� medido e cuidadoso,

e voc� tem que decidir
o que dizer e o que n�o dizer.

� exaustivo.

Voc� nunca pode revelar muito de si mesmo.

Os astronautas Sally Ride e Steve Hawley
se casaram m�s passado em Salina, Kansas.

Mantiveram a not�cia em segredo
at� essa semana.

O pai do Steve e a irm� da Sally,
ambos ministros, realizaram a cerim�nia.

Eu s� soube depois que aconteceu.

O Steve n�o percebeu
que eles iam se casar

at� que se casaram.

Ficamos surpresos quando
a Sally disse que iam se casar.

Eu nunca tinha imaginado
a Sally se casando,

mas aconteceu.

Foi um casamento inusitado,
para dizer o m�nimo.

Os dois estavam de branco,
jeans branco.

CASAL ESPACIAL SE CASA

Tomada um, som 21.

Meu nome � Steve Hawley.
Sou de Salina, Kansas.

Sou Steve Hawley.

ASTRONAUTA

Eu era membro da turma de 1978,
astronauta do �nibus espacial,

a Sally tamb�m.

�ramos colegas de turma.

Eu diria que nosso relacionamento
nunca foi tradicional.

Tanto por causa das nossas personalidades
como pelo nossos empregos.

Quando dois astronautas se casam,

� diferente do que dois professores
ou advogados?

Voc� leva trabalho para casa?

Acho que professores
falam sobre ensinar.

N�s falamos sobre regras de voo,
reservas de desempenho de voo,

ISPs, desempenho
de foguetes de combust�vel s�lido

e assuntos assim.
Mas � porque gostamos disso.

Ela tinha um �timo senso de humor.
Ela era atl�tica.

Fiquei um pouco preocupado
de n�o conseguir acompanhar a Sally.

FEITO NOS C�US

N�o me caiu bem.
N�o me pareceu certo.

VOZ DE TAM

Simplesmente n�o parecia a Sally.

Meu primeiro pensamento foi:
"�tima jogada de marketing.

Isso vai render
�timas fotos para a m�dia.

Jovem e belo casal de astronautas.
Como manda o figurino."

Qual � a sua ideia
de uma �tima noite em casa?

- Essa � f�cil.
- �.

Em frente � televis�o com, basicamente,

nossos c�rebros desligados.

�, � t�o raro, eu acho,

que tenhamos a chance
de estar juntos sem nada para fazer,

que aproveitamos muito os momentos
em que n�o fazemos absolutamente nada.

N�o posso dizer com certeza que sei

o que a motivou
a querer ir em frente e se casar.

Na �poca, eu pensei:

"�timo. Eu tamb�m quero isso."

Parecia, para mim,
que est�vamos nos casando

de boa-f�.

Ela pode ter se sentido pressionada,
caso algu�m pensasse que ela era gay.

N�o sei qual a mistura
de motivos dela.

Pode ter sido...
A NASA mal estava preparada para mulheres,

n�o est�o preparados para isso.

Uma vez, uma amiga pr�xima
perguntou � Sally:

"Voc� teve um relacionamento sexual
com a Molly?"

Ela disse:
"A Molly queria, mas eu n�o."

Ela estava numa corda bamba.

Era uma estrat�gia muito boa
encontrar algu�m dentro do clube.

Seria �til para ela.
Isso preencheria outro requisito.

Nossa. Ok.

A Sally me mandava uns bilhetes fofos.

Olha esse aqui.

"Querida Tam, enquanto eu estava brincando
com identidades trigonom�tricas,

decidi resolver o problema
de vermelho mais verde � igual a amarelo.

Funciona."

E ela realmente fez as contas
para mostrar como se chega ao amarelo.

Vermelho mais verde � igual a amarelo.

"A f�sica n�o � maravilhosa? Voc� �.
Com amor, a f�sica maluca."

Esse bilhete � a cara da Sally.

� simplesmente fabuloso.

DIA DA SELE��O
19 DE ABRIL DE 1982

Um dia,
George Abbey convocou uma reuni�o.

Ken, pode abrir aquela porta
ali atr�s?

E ele anunciou a tripula��o da STS-7.

Quatro nomes foram anunciados.
Houve uma rea��o silenciosa.

Havia rumores
de que a Judy seria a escolhida,

mas o George Abbey achava que a Judy

gostava demais dos holofotes,
e a Sally n�o ligava pra isso.

E ele convenceu os outros
de que deveria ser a Sally.

Foram quatro anos de treinamento,
nos preparando para aquele momento.

E foi ent�o que George Abbey

me disse que eu seria a primeira
americana a ir para o espa�o.

Eu fiquei anestesiada
e nem me lembro de como me senti.

Eu sei que eles
n�o nos deixariam contar a ningu�m.

S� me lembro de andar por a�
atordoada com o John Fabian

a maior parte do dia, pois ele
estava t�o atordoado quanto eu.

S� lembro isso.

Foi uma sensa��o
de alegria inacredit�vel.

Sally e eu fomos os primeiros
da nossa turma a voar.

Ela conquistou aquela posi��o
no primeiro voo.

O equil�brio que ela tinha
na personalidade,

a seriedade com que assumia
suas responsabilidades,

seu conhecimento dos sistemas.

Dra. Ride, o que significa para voc�

essa conquista de ir ao espa�o?

Isso � algo
que eu esperava ansiosamente

h� quatro anos,
desde que cheguei � NASA.

E � o �pice do trabalho que venho
fazendo desde que cheguei aqui.

AO VIVO DE HOUSTON

E estou extremamente emocionada
por poder fazer isso.

SEIS MESES ANTES DO LAN�AMENTO

Ser� a s�tima miss�o do �nibus espacial,
mas tamb�m ser� a primeira,

pois a bordo estar�
a primeira astronauta americana,

uma mulher chamada Sally Ride.

A astrof�sica de 30 anos de idade
realizar� experimentos

a bordo do �nibus espacial Challenger.
A primeira americana no espa�o.

Eu voei muito com a Sally.

A Sally era uma excelente pilota.

Uma vez, perguntei � Sally
se ela iria comigo.

Sobrevoamos o Golfo do M�xico.
Fizemos todas as acrobacias.

Coisas como virar de cabe�a
para baixo e depois mergulhar

em dire��o � Terra e sair por baixo,

chama-se manobra Split S,
fazendo um c�rculo completo.

E a Sally dizia: "Uhul!"

Era natural para ela.
N�o precisou de treinamento.

O que voc� gosta sobre voar?
� a liberdade que traz?

� uma sensa��o de estar
um pouco acima de tudo,

de poder ver muita coisa,
e de ter o vento soprando no rosto.

� uma sensa��o de euforia mesmo.

- Voc� est� animada?
- Muito.

O George Abbey disse que,
ap�s sua sele��o,

eles avaliaram sua capacidade
de lidar com o estresse

de ser a primeira mulher.

- Voc� acha que consegue?
- Espero que sim.

Rolo um.

Fazendo as malas pro �nibus
espacial, caixas, o que for.

Na prepara��o para o voo de Sally,
surgiu a quest�o:

"H� problemas por ser uma mulher?
Pensamos em tudo?"

Havia um conjunto bem convencional
de itens nos kits masculinos.

ANTITRANSPIRANTE

Mas o que deveria ir
no kit equivalente para uma mulher?

Sally foi a primeira mulher

a avaliar o que chamam
de equipamento da tripula��o.

Elas sabiam que um homem
iria querer um kit de barbear.

Mas n�o sabiam
o que uma astronauta levaria.

Ent�o os engenheiros da NASA,
em sua infinita sabedoria...

projetaram um kit de maquiagem.

Um kit de maquiagem trazido a voc�
pelos engenheiros da NASA.

BATOM
DELINEADOR

BLUSH CREMOSO COMPACTO

BATOM BLUSH QUARTZ

E perguntaram quantos absorventes
era preciso para um voo de uma semana.

Ela v� um desses kits
de higiene pessoal,

e � uma bolsinha de lona com mola.

Ela abre aquilo.

Ele me perguntou:
"Acertei em colocar 100?"

Eu disse: "N�o, n�o acertou."

A Sally os puxava dali como aquelas
cobras de brinquedo que pulavam da caixa.

As seis de n�s, por uns seis meses,

n�o chegamos a usar
todos os tamp�es que havia ali.

24 de maio, 1983.

Tripula��o pr�-voo. Coletiva de imprensa.
Rolo um. �udio um.

Boa tarde. � um grande prazer
ver tanta gente aqui.

UM M�S ANTES DO LAN�AMENTO

Achei que esse voo j� fosse corriqueiro

e que n�o ter�amos
uma plateia t�o numerosa.

Mas sei por que
a maioria de voc�s est� aqui.

Sally, por que voc� n�o nos conta

sobre alguns dos experimentos
que est� comandando?

Bem, iniciaremos as opera��es em �rbita

j� no primeiro dia de voo.

Os �nicos momentos ruins
do treinamento envolveram a imprensa.

N�o se importavam
com o quanto eu estava preparada

para operar o bra�o
ou implantar sat�lites de comunica��o.

Eles queriam saber de coisas
que eu achava irrelevantes.

Sally,
voc� j� se acostumou com a ideia

de viajar com quatro homens
num espa�o t�o apertado?

E eles tendem a te dar prefer�ncia?

Eles continuam a ser cavalheiros
quando est�o com voc� no treinamento?

N�o precisei de tempo para me acostumar.

N�o senti que me deram prefer�ncia
de forma alguma.

Na verdade, o Crip nem sequer
abre mais portas para mim.

Aprendi isso bem r�pido, Morgan.

Dra. Ride, voc� tem planos de ser

a primeira m�e a viajar ao espa�o?

E Dr. Thagard,
h� alguma raz�o para se preocupar

com os efeitos das viagens
espaciais na fertilidade?

V� em frente, Norm.

N�o estou preocupado.

Jerry Henderson, revista Time.

Dra. Ride, umas perguntinhas r�pidas,
senhor... Digo, senhora.

Quais os seus planos
depois que esse voo terminar?

Voc� sente que vai se tornar
uma nota de rodap� na hist�ria

ou vai ficar de escanteio?

Quais os seus planos futuros
ap�s este voo?

Vai cancelar sua assinatura da Time?

Dra. Ride, durante
os exerc�cios de treinamento,

como parte desse grupo,
quando aparecia um problema,

ocorria uma falha estranha
ou algo assim,

como voc� reagia? Voc� chorava? Voc�...

O que voc� fazia?

Por que ningu�m pergunta isso ao Rick?

O comandante chora.

Eu n�o reajo de forma diferente
do que qualquer outra pessoa da equipe.

Algo mais de Washington?

- Ok. Pronta?
- Sim.

Molly,
voc� � muito amiga da Sally Ride.

Moravam juntas durante a faculdade.

� a primeira vez
que vai assistir a um lan�amento?

Bom, assisti a alguns pela televis�o.

Mas ser� a primeira vez
que estarei l�.

A Sally me convidou para o lan�amento.

E houve v�rios eventos maravilhosos

para os amigos
e as fam�lias dos astronautas.

E eu estava l�
com a minha namorada na �poca,

e foi muito divertido.

E ent�o algu�m me passou um bilhete.

Dizia: "Sally quer que venha
almo�ar com ela na casa de praia."

Havia um mapa desenhado � m�o.

A sugest�o era:
"N�o conte a ningu�m,

ningu�m pode v�-los nesse momento."

Eles queriam garantir
que eu n�o traria germes,

e fiz um exame m�dico.

E ent�o fui levada
ao santu�rio interior.

E essa foi a minha chance de ver
a Sally com os outros astronautas.

E ela estava bem integrada.

Eles exalavam um tipo
de confian�a silenciosa, sabe?

Um tipo de humildade
que voc� quer que seus her�is tenham.

E ela me mostrou o traje de voo,

o quarto dela e coisas assim.

E ela disse:

"Eu sei dos riscos dessa viagem.
Eu posso morrer."

Foi uma das poucas vezes na nossa vida

que ela me mostrou
sua vulnerabilidade.

A NOITE ANTES DO LAN�AMENTO

Na noite antes do lan�amento,

a Sally me disse que estava
com medo, estava assustada.

VOZ DE TAM

E que um ex-astronauta disse a ela

que se voc� n�o est� com medo,
n�o sabe o que est� para acontecer.

Ent�o ela estava totalmente ciente
de que iria estar montada

em toneladas de combust�vel de foguete
que estavam explodindo abaixo dela.

Qualquer coisa podia acontecer.

Na noite anterior a um voo,

voc� olha para o norte,
o oeste e o sul,

e v� as luzes dos carros
chegando ao Cabo.

Est�o vindo para ver voc� voar,

e voc� espera que n�o vejam voc� cair.

Seu atributo mais comentado
� sua tranquilidade.

Voc� j� cedeu sob press�o?

N�o que eu lembre,
mas, ao mesmo tempo,

nunca estive sob uma press�o assim.

CENTRO ESPACIAL JOHNSON

Voc� teve algum momento de d�vida?

N�o.
Talvez quando fecharem a escotilha

e ligarem os motores

eu mude de ideia, mas agora
eu mal posso esperar para ir.

- A� ser� tarde demais.
- Sim, ser�.

- Ser� tarde demais.
- Sim.

DIA DO LAN�AMENTO

Bom dia. � um lindo dia, e hoje

� o dia em que a Sally Ride
entra para a hist�ria.

Muitas pessoas orgulhosas,
especialmente mulheres,

est�o prontas para assistir
� primeira americana a ir ao espa�o.

Havia cerca de meio milh�o de pessoas

no Centro Espacial Kennedy
e nas �reas ao redor

para assistir ao acontecimento.

E muitas trouxeram suas filhas,
filhas pequenas, e at� beb�s.

A Sally podia convidar
50 amigos e familiares,

ent�o ela convidou o pessoal
da Stanford, do t�nis,

e a Gloria Steinem,
a Jane Fonda e eu.

Foi inacredit�vel.
Sinto arrepios quando me lembro.

No dia do lan�amento,
tinha muita coisa acontecendo.

Tive que me esfor�ar muito
para me manter concentrada

porque era muito f�cil
se distrair naquele momento.

A tripula��o est� vindo,
com o comandante Bob Crippen � frente.

A tripula��o ir�
at� a plataforma de lan�amento.

Na plataforma,
a Sally teria olhado para aquele ve�culo.

H� um momento emocionante
quando voc� est� ali,

o vapor ao redor do �nibus.

Um daqueles momentos em que voc� pensa:
"Meu Deus, vou mesmo fazer isso."

Olhando e vendo um foguete enorme
com um som parecido com o de um animal.

D� para ouvir o gorgolejo
e o chiado,

e parecia que estava vivo.

Contagem regressiva em duas horas,

cinco minutos,
30 segundos, e contando.

Centro de controle
do �nibus espacial.

- Prontos para esse dia especial.
- Sim. Um lindo dia.

Um lindo foguete.

O comandante e o piloto
v�o ter os assentos ajustados

e colocados na posi��o correta
para o lan�amento.

A especialista da miss�o,
Dra. Sally Ride,

completa os preparativos
para ingressar no orbitador.

Falta uma hora, 30 minutos,
e contando.

Os cinco membros
da tripula��o de voo est�o a bordo.

Ok, o �ltimo piloto
est� a bombordo.

O fechamento da escotilha
est� completo.

Assim que entramos no �nibus espacial,
ajustamos os cintos e aguardamos,

aguardamos a contagem regressiva
chegar cada vez mais perto do zero...

Comecei a ficar distra�da,
e para me concentrar,

pensava nas coisas mais banais.

Onde est� o meu l�pis?

Acho que n�o est� exatamente
onde deveria.

Vou mov�-lo um pouco.

Faltam tr�s minutos, 25 segundos.

A verifica��o dos motores principais
est� em andamento.

Faltam dois minutos,
15 segundos, e contando.

Os motores principais foram movidos
para a posi��o inicial.

Em dez, nove, oito, sete, seis.

Igni��o do motor principal.
Motor principal ligado.

Dada a igni��o.

Decolagem confirmada!

O STS-7 decola com a primeira
astronauta americana.

E o �nibus espacial sai da torre.

- Entendido, Challenger.
- Houston agora no controle.

A sala de controle confirma
que as manobras come�aram.

Vinte segundos.
O empuxo parece bom.

Isso � muito divertido.

Por alguns segundos, toda a tripula��o
ficou completamente emocionada.

Confirmando a separa��o
do propulsor do foguete.

O propulsor est� caindo agora.

Foi uma sensa��o de muita euforia.

O �nibus espacial Challenger
foi ao espa�o mais uma vez,

e Sally Ride entrou
para os livros de hist�ria.

Gloria, isso foi t�o emocionante!

Eu estava na arquibancada
assistindo ao lan�amento.

VOZ DE GLORIA STEINEM

Havia v�rias pessoas
com l�grimas nos olhos.

Pessoas que eu jamais imaginaria.
Uma grande diversidade de pessoas.

Mas todos ficaram muito comovidos
com a aud�cia humana daquilo.

N�o h� uma maneira de treinar
para ficar sem peso.

� t�o distante da experi�ncia
cotidiana de uma pessoa

que, mesmo depois de ouvir
os outros astronautas descrevendo,

eu n�o tinha ideia
de como me preparar para aquilo.

Mas eu descobri que,

mesmo tendo levado uma hora
para se acostumar com o movimento,

eu me adaptei bem r�pido.

Challenger, Houston j� tem
uma boa imagem do Norm e da Sally.

Ok, Houston.
Tudo est� bem a bordo.

Entendido. Copiamos,
e voc�s tamb�m nos parecem bem.

Eu adorei n�o ter peso.

� uma sensa��o de liberdade.
� realmente uma sensa��o bacana.

Boa noite, Norm.

Boa noite, Sally.

Boa noite.

Quando eu era pequena,
sempre sonhei em ir ao espa�o.

E, inacreditavelmente,
aquele sonho se tornou realidade.

N�o sei explicar
por que eu queria isso.

Era algo que fazia parte de mim.

Eu tive a chance de flutuar
at� a janela

e olhar para a Terra l� embaixo...

para aquela vista espetacular...

Eu pude ver os recifes de corais
na costa da Austr�lia.

Eu conseguia ver
as geleiras no Himalaia.

Aquela sensa��o de ver
o seu planeta como um planeta

foi uma sensa��o maravilhosa.

Voc� pode olhar
para o horizonte da Terra e ver

uma linha azul-real muito,
muito fina.

E voc� percebe
que � a atmosfera da Terra,

e que � s� aquilo.

E que tem a espessura da penugem
de uma bola de t�nis.

� uma perspectiva
totalmente diferente.

E faz voc� apreciar
a fragilidade da exist�ncia.

Isso realmente a mudou, ver que
n�o h� fronteiras entre os pa�ses,

apenas as linhas imagin�rias
da humanidade.

Daquela perspectiva,

todos os medos tribais
que temos sobre ra�a,

g�nero, nacionalidade,
quem amamos,

todas as restri��es arbitr�rias
que impomos a n�s mesmos

e uns aos outros,
n�o significam nada.

A Sally estava se divertindo muito.

E ao mesmo tempo,
provavelmente estava preocupada

com o que iria acontecer depois.

Aqui � o centro de controle.

O Challenger entrou na atmosfera
a cerca de 120.000 metros de altitude.

Houston, Challenger, alto e claro.
Descendo com tranquilidade.

Muito bem, Crip.

Vou repetir mais uma vez.
Que jeito de chegar � Calif�rnia.

Vamos fazer de novo,
a qualquer hora.

A Sally pousou,
e todos estavam um pouco cambaleantes,

pois estavam em microgravidade
h� sete dias.

O Steve estava l� para encontr�-la.

No momento em que pousamos,

eu praticamente dei de cara
com uma avalanche de pessoas da m�dia.

Use o cinto de seguran�a, por favor.

Algu�m entrega um buqu� para a Sally.

Ela o devolve, aquilo explode na m�dia.

SALLY RIDE N�O ACEITA BUQU�

RIDE REJEITA BUQU� DA NASA

Ela estava dizendo: n�o sou uma esposa,
sou membro da tripula��o.

BUQU� REJEITADO

Bem-vindos de volta, STS-7.

Voc� n�o pode baixar a guarda.

Qualquer pessoa que te pegar
fazendo algo um pouco indecoroso

v� aquilo como uma chance
de transformar

aquilo que voc� fez em uma manchete.

N�s �ramos Sally e os outros quatro.

A imprensa n�o queria saber da gente.
Sab�amos que seria assim.

Sab�amos que a hist�ria
seria a Sally Ride.

Depois daquele voo,
todo mundo queria um peda�o de mim.

Ela foi a pessoa mais famosa
do planeta por um tempo.

QUE VIAGEM!

A MULHER DO ESPA�O

A NASA n�o me preparou

para lidar com a m�dia
quando eu voltasse.

Foi uma surpresa e tanto.

A Dra. Sally Ride e a tripula��o
est�o na Casa Branca

para um almo�o com
o Presidente Reagan.

Esse � o Dia da Dra. Sally Ride.

Lan�ando a primeira bola
para o jogo da World Series de hoje.

Ela ia dar palestras,
visitar escolas, visitar empresas.

Era uma loucura.

Eu encontrava mulheres
que come�avam a chorar ao me conhecer,

e isso era realmente
avassalador para mim.

Isso exigiu muito dela e ela estava
come�ando a se sentir ansiosa.

Sally, gostando ou n�o,
voc� � um exemplo para muitas jovens

em todo o pa�s.

Isso a faz se sentir desconfort�vel?

Eu acho importante que as meninas

e as jovens tenham um modelo a seguir.
Ent�o,

eu acho apropriado.

Ela decidiu ver um terapeuta,

e ela nunca havia considerado
isso antes.

Ela era famosa,

mas tentava se esconder disso
o m�ximo que podia.

A NASA disse:
"Crip, voc� e a Sally precisam

ir ao The Bob Hope Show."

Sou um militar, e quando recebo
uma tarefa, eu a cumpro.

Eu esperava que ela fizesse o mesmo.

O Bob Hope fazia
muitas piadas sobre mulheres.

Eu at� que gosto desse papel.

A Sally n�o queria fazer parte
daquilo. Ent�o ela desapareceu.

Ser a primeira n�o tem a ver
apenas com a alegria do voo.

Tem tamb�m a ver
com as obriga��es que aquilo traz.

O Capit�o Robert Crippen est� aqui.

N�o achei correto aceitar
as partes boas

mas n�o querer aceitar
as partes mais dif�ceis.

Eu n�o sabia onde ela estava,
mas foi como ela lidou com a situa��o.

Ela simplesmente foi embora.

A Sally veio para Atlanta.

Na �poca eu morava l�,
estava estudando biologia.

Eu e a Sally sa�mos
para jantar, sentamos

e conversamos.

A Sally e eu, desde de crian�as,
sempre gostamos de nos encontrar.

Sempre houve
uma boa qu�mica entre n�s.

Depois daquilo, sempre que ela vinha
a Atlanta para fazer algo,

ela me ligava e faz�amos algo juntas.

Corr�amos para o parque,
faz�amos aulas de t�nis,

�amos a pizzarias, o que fosse.

Nos vimos umas nove vezes
em dois meses.

Ent�o, um dia, na primavera de 1985,

fomos ao meu apartamento.

Eu tinha uma Cocker Spaniel, a Annie,

e eu me abaixei para dar oi pra Annie,

e senti uma m�o nas minhas costas.

Foi algo diferente, tipo,
uma amiga geralmente n�o faria isso.

E ent�o, eu olhei para ela.

Ela tinha um olhar sonhador,
apaixonado, no rosto, nos olhos.

Naquele momento,
eu notei que sentia a mesma coisa,

mas eu estava meio surpresa.

E eu me lembro de dizer � Sally:
"Nossa, estamos encrencadas."

E ela disse:

"N�o precisamos estar,
n�o temos que fazer isso."

E ent�o nos beijamos, e a� j� era.

E eu disse: "Voc� � casada.
O que estamos fazendo?"

E a Sally dizia:

"N�o estou apaixonada por ele,
estou apaixonada por voc�."

Ela sempre fazia o que queria fazer,

mesmo antes de nos casarmos.

Eu trabalhava na Fl�rida,
e passava a semana toda l�.

Eu ligava pra ela e dizia:

"Acho que chegamos
�s sete da noite de sexta-feira.

Em vez dela dizer:
"Que bom, senti sua falta", ela dizia:

"Bom, eu estou indo viajar,
vou pra Calif�rnia."

Talvez n�o seja da minha conta,
mas pensa em ter filhos?

Penso �s vezes, mas voc� est� certa.

- N�o � da sua conta.
- Tudo bem.

N�s decidimos n�o responder
perguntas pessoais.

Ela sempre fazia
as coisas do jeito dela.

Ent�o o fato dela viajar bastante
n�o era incomum.

N�o �ramos parceiros para a vida.
�ramos mais como colegas de quarto.

Ela dizia ao Steve: "Vou viajar."

E eles n�o conversavam sobre aquilo.

Mas eles ainda eram casados,
ent�o ela tinha que ser cuidadosa.

Era coisa de �ltima hora.

Sempre que o telefone tocava,

o meu cora��o batia forte,
e eu corria pro telefone.

Eu queria saber tudo sobre
a vida dela,

seus segredos mais profundos,
sabe, cada recanto.

A Sally dirigia de Houston
no seu Fiero vermelho sempre que podia.

Uma vez, ela veio num T-38.

Eu via aquele jatinho pousar.

- Foi um bom voo, Sally.
- Obrigada.

T�nhamos um relacionamento
� dist�ncia.

Ent�o pass�vamos semanas sozinhas,

vivendo nossas vidas separadas.

Ent�o, quando est�vamos juntas,
era muito intenso.

Eu a levei ao meu laborat�rio
na Universidade Estadual da Ge�rgia,

e a fiz olhar no microsc�pio.

Eu estava analisando amostras
de diferentes tipos de fungos.

Eles s�o fascinantes.

Como o penicillium,
que parece uma plantinha min�scula,

mas � microsc�pico.

Eu estava l� sozinha com ela,
naquele pequeno laborat�rio.

E eu tive vontade
de abra��-la e beij�-la.

Ent�o fui chegando perto, e ela...

ela estava preocupada
que algu�m pudesse entrar,

mas eu n�o queria parar.

Continuei indo na dire��o dela,
e ela ia para tr�s.

"Tam, n�o fa�a isso. Voc� sabe.
Qual �." E eu continuava indo.

Eu adorava fazer aquilo com ela.
Fazia em elevadores.

Se est�vamos nadando no mar,

eu mergulhava e agarrava
o p� dela ou algo assim.

Eu adorava faz�-la
se sentir desconfort�vel,

mas de um jeito divertido.

Era um prazer.

Meu anivers�rio � em 27 de janeiro.

E a Sally veio para Atlanta para passar
o fim de semana e ficarmos juntas.

E ela voou de volta a Houston
no dia 28 de janeiro.

Eu estava em um avi�o comercial.

O piloto anunciou aos passageiros

que havia acontecido um acidente.

A Sally foi at� a cabine do piloto

e perguntou se podia ficar ali
e ouvir as not�cias.

- Cinco, quatro, tr�s, dois, um.
- E decolou!

A 25a miss�o do �nibus espacial
decolou e a torre foi liberada.

Aqui � o Challenger,
programa de rolagem.

Entendido, rolagem, Challenger.
Challenger, prossiga e acelere.

Prosseguindo com a acelera��o.

Centro de controle, contato negativo,
perdemos o link de dados.

- Controle.
- Pode falar.

O RSO reporta
que o ve�culo explodiu.

Aqui � a sala de controle em Houston.
N�o temos nada a dizer neste momento.

Assim que vi aquilo,
sabia que perdemos a tripula��o.

A Judy estava no assento do meio,
entre o piloto e o copiloto.

A Sally tamb�m sentava no meio,
nos voos dela.

A especialista da miss�o, Judy Resnik,
de 36 anos, era uma veterana,

e sua tarefa era operar
o bra�o mec�nico do �nibus espacial.

Essas eram pessoas
que eu conhecia h� oito anos.

Trabalhei todos os dias com eles.

Fui a jantares na casa deles,

e todos eram amigos muito pr�ximos.

A Sally estava arrasada.

Ela estava...

p�lida como um papel e muito triste.

E a Judy foi uma grande parte
do motivo de sua tristeza.

E foi especialmente tr�gico
descobrir depois

que havia um longo hist�rico
de quase acidentes.

O painel especial
nomeado pelo Presidente Reagan

para investigar
o desastre do �nibus espacial

iniciou seus trabalhos
em Washington hoje.

O painel de 12 membros
inclui Neil Armstrong,

o primeiro a ir a Lua, e Sally Ride,
a primeira americana no espa�o.

- Comiss�o, por favor, fa�am sil�ncio.
- Pronto?

Voc� jura que o testemunho
que dar� � a verdade...

OFICIAL DA NASA

...nada al�m da verdade,
que Deus o ajude?

Eu juro.

Voc� teve a oportunidade de voltar

e analisar os registros
de garantia e verificar

se eles foram assinados
de forma adequada e apropriada?

Est� em andamento.
Isso est� em andamento agora.

Foi uma �poca muito,
muito dif�cil.

Eu estava vivendo
um dia de cada vez

e me esfor�ando para superar
as dificuldades que t�nhamos que superar.

O maior problema dos engenheiros

� que eles n�o podiam provar
que o voo era seguro.

- N�o.
- Voc�s tinham os dados

para comprovar que era seguro...

- N�o.
- ...naquela temperatura?

O que fiz foi recitar os dados
que t�nhamos dispon�veis.

� o que a Dra. Ride apontou.
Eles dizem que n�o � conclusivo.

N�o dizem: "Achamos que � seguro."
S� dizem que os dados s�o inconclusivos.

E voc� diz que os dados
s�o conclusivos para voc�.

A Sally fazia as perguntas dif�ceis,

e pressionava a lideran�a da NASA,
sem descanso.

E ent�o um engenheiro da NASA
passou por ela no corredor

entregou � Sally a folha de dados
que mostrava que a NASA sabia

que os an�is de borracha eram resilientes
s� acima de temperaturas de 10 graus,

e o Challenger foi lan�ado
em 2.2 graus.

E a NASA tentou esconder o fato
que eles sabiam disso.

N�o deveria haver um crit�rio
para autorizar o lan�amento

para as veda��es ou a junta...

- Eu n�o...
- ...em rela��o � temperatura?

Prefiro reservar meu julgamento
sobre isso at� determinarmos

se deveria haver ou n�o.

� onde quero chegar. N�o havia um,

mas n�o parece que voc�
tenha dados para saber

se deveria haver um ou n�o,

e se deveria haver um,
qual deveria ser?

Essa � uma afirma��o correta.

Os astronautas t�m
muita confian�a e f� na NASA

para minimizar os riscos
de voar no espa�o.

E ficou muito claro
que o sistema realmente falhou.

Sally Ride falou pela primeira vez
sobre sua rea��o pessoal ao acidente

que interrompeu os voos espaciais.

Fiquei perturbada.
N�o estou pronta para voar novamente.

Acho que h� muito poucos astronautas
prontos para voar agora.

Partiu o cora��o dela

porque a NASA n�o era
o que ela achava que era.

VOZ DE LYNN SHERR

Foi o come�o do fim para ela.

Hoje, a primeira americana no espa�o
pediu demiss�o da ag�ncia espacial.

Ela diz que as defici�ncias da NASA
se tornaram "cruelmente" evidentes

ap�s o desastre do Challenger
no ano passado.

E este an�ncio chega apenas
algumas semanas ap�s Ride e o marido,

o astronauta Steve Hawley,
se divorciarem.

Quando ela me disse
que n�o queria mais estar casada,

foi uma estranha combina��o
de surpresa e um pouco de al�vio.

N�o sei por quanto tempo
eu teria conseguido continuar...

naquele relacionamento que t�nhamos.

A Sally n�o queria mais
trabalhar na NASA,

e eu queria trabalhar na NASA.

Ent�o eu pensei:

"Ok. Bem, isso � porque
n�o temos mais um futuro em comum."

Mas descobri mais tarde
que era mais do que isso.

Um dia, o marido da Bear me ligou.

Ele estava lidando
com o fato de Bear ser gay

e queria saber se eu sabia
que a Sally era gay.

Eu suspeitava, mas eu n�o sabia.

E acho que foi
o telefonema dele que...

"Ok. �, acho que � verdade."

E eu ainda n�o sabia,
naquele momento,

h� quanto tempo aquilo acontecia.

A Sally sabia o que queria
e tentaria conseguir ou fazer.

As regras podem ser um inconveniente,

mas n�o eram um impedimento.

E era assim que ela era.

Depois da NASA,
a Sally e eu quer�amos ficar juntas,

mas Sally queria procurar
uma posi��o na universidade,

e a Universidade da Calif�rnia
em San Diego a ofereceu uma �tima vaga.

Naquela �poca, eu estava me preparando
para come�ar um doutorado em Atlanta.

Decidimos viver mais alguns anos,

esper�vamos que apenas tr�s,
de relacionamento � dist�ncia.

Mas, algumas semanas depois,
a Sally me ligou e disse:

"N�o aguento mais essa dist�ncia.
Quero morar com voc� em tempo integral."

Tive que pensar no assunto.

Eu estava animada com meu doutorado,
mas tamb�m estava animada com a Sally.

Ent�o, me mudei
para a casa dela em La Jolla.

Foi muito importante
come�armos a morar juntas.

Acord�vamos juntas todos os dias
e faz�amos trilhas nas montanhas,

nos divert�amos muito.

O nosso relacionamento parecia tranquilo
durante esses grandes momentos.

A Sally e eu am�vamos ci�ncia,
mas as meninas eram,

e ainda s�o hoje, menos incentivadas
a se tornarem cientistas

e engenheiras.

N�s pens�vamos
que se mais meninas crescessem

com interesse em ci�ncia como n�s,
o mundo seria um lugar melhor.

Ent�o, fundamos a empresa,
Sally Ride Science, em 2001.

Quer�amos mudar a cultura
sobre mulheres e meninas em STEM.

Estamos tentando criar programas,
atividades, competi��es

para capturar o entusiasmo delas.

Sally queria fazer tudo ao seu alcance
para torn�-la um sucesso.

Ela se tornou mais aberta a conversar
com mais pessoas, conversar com crian�as.

Sally Ride Science fez um enorme sucesso
e tivemos grandes patroc�nios.

PATROCINADA POR EXXONMOBIL

Preciso come�ar agradecendo
a Exxonmobil.

Mas a Sally se preocupava com o qu�o
aberta seria sobre o nosso relacionamento.

Se os patrocinadores soubessem
que duas mulheres comandavam a empresa

e que as duas eram l�sbicas, sabe...

ela temia que isso
pudesse arruinar a nossa empresa.

As pessoas vazam informa��es
e isso simplesmente acontece.

As coisas se espalham.

A Sally era muito cautelosa
com a imprensa por esse motivo.

Comecei a Sally Ride Science
h� cerca de oito anos

com a Karen e a Tam,
como voc�s sabem.

Quando ela era casada com o Steve,

ela era vista beijando-o
e segurando a m�o dele em p�blico.

Essas eram coisas
que ela n�o se sentia confort�vel

fazendo comigo.

Voc� tem que se conter

quando est� com algu�m
que voc� ama muito.

E voc� quer sentar
ao lado dessa pessoa.

Voc� quer segurar a m�o dela.
Quer tocar o rosto dela.

Voc� quer beij�-la.

� o medo de que ser gay,
de ser quem voc� �,

vai afetar seu trabalho,
suas oportunidades, nossa empresa.

Ent�o...

o mundo nem sempre � gentil.

A Sally tinha medo
do que as pessoas pensariam,

principalmente seus colegas,
seus amigos,

de como isso mudaria
o jeito de pensarem sobre ela.

Mas eu queria que eles soubessem
que �ramos um casal.

Eu n�o queria me sentir desconfort�vel.

Eu queria que o relacionamento
fosse validado.

Manter o nosso amor
e a nossa vida juntas em segredo

foi mais dif�cil para mim
do que para a Sally.

Isso simplesmente me consumiu.

Adoro essas fotos.

Minha amiga tirou essas fotos
muito fofas de mim e da Sally.

Sabe, muitos casais,
quando come�am a namorar,

t�m muitas fotos
que tiram um do outro

durante aquele tempo.

�. Nunca fizemos isso.

Quer dizer, eu queria ter mais fotos
dos momentos incr�veis da nossa vida.

Quando eu tinha uns vinte
e poucos anos...

nos meus vinte e poucos, eu era
mais aberta do que era com a Sally.

Eu sempre fui aberta e honesta
com amigos mais pr�ximos, minha fam�lia.

E havia um pequeno buraco em mim

onde eu n�o gostava de ter
que esconder essa parte de quem eu era.

Aquilo simplesmente me destruiu.
Partiu meu cora��o. Eu me fechei.

Eu a amava mais que tudo,
mas por alguns meses,

pensei seriamente em deixar a Sally.

Fiz uma viagem para Atlanta
s� para fugir daquilo.

E eu pensei muito
sobre ter outra vida.

O que eu faria, como seria
n�o estar perto da Sally.

Eu ligava para ela todos os dias
e ela n�o falava muito.

Ela estava fria. Foi horr�vel.

Aquele foi o pior momento.

Muitas pessoas n�o entendem

o que significa se apaixonar
por uma pessoa como a Sally.

Algumas das caracter�sticas
que a fizeram a mulher

capaz de quebrar
o mais alto teto de vidro

tamb�m a tornaram dif�cil
de se relacionar.

A Sally n�o podia compartilhar
com as pessoas mais pr�ximas a ela...

nem mesmo com sua irm�, Bear.

Aqui est� Bear, a irm� da Sally,
que � dois anos mais nova.

A Sally e a Tam moravam juntas
h� muito tempo, e podia-se presumir.

T�nhamos refei��es
em fam�lia nos feriados,

e a Sally e a Tam vinham
e assavam uma torta.

Mas a Sally simplesmente...
nunca falava sobre isso.

Eu era ministra presbiteriana,
assim como a minha esposa,

e n�s nos assumimos
quando ficamos juntas.

Mas como resultado de nos assumirmos,

Susan e eu perdemos
nossos empregos na igreja.

A Bear queria falar com a Sally
sobre a Susan

e tamb�m queria falar com a Sally
sobre a Sally e eu.

E ent�o a Sally disse:
"Tam, por favor, voc� fala com a Bear?"

Eu disse: "Por que voc� n�o fala
com a sua irm�?

Voc� est� com uma mulher. Ela tamb�m.
Fale com ela. Ela � sua irm�."

Eu n�o entendia aquilo.
N�o fazia sentido.

Quando voltei da viagem,
a Sally disse que precisava conversar.

Ela disse que estava preocupada
com o nosso relacionamento,

que as coisas estavam mudando,
e isso a assustava.

Aquilo a atingiu em cheio.

Ela n�o queria que a gente acabasse
passando a maior parte do tempo

em quartos separados,
fazendo coisas separadas.

Est�vamos tendo uma conversa intensa.

N�o est�vamos brigando,
n�o foi isso, mas foi um debate.

E ela estava parada com o p� reto,

e, de repente, ela simplesmente
se levanta na ponta dos p�s,

e isso me rachou de rir,
eu comecei a gargalhar.

Foi t�o fofo e t�o diferente.

Eu percebi que amava a Sally,

e talvez houvesse um jeito
de resolver aquilo.

A Sally me disse que ela sempre
quis que eu fosse feliz,

e concordamos que precis�vamos
encontrar um equil�brio melhor

entre o que eu precisava
e o que ela precisava.

N�o pod�amos mudar
a maneira como o mundo nos via,

mas nos am�vamos muito,

e quer�amos ficar juntas
na alegria e na tristeza.

Fomos felizes juntas
por muitos e muitos anos.

E ent�o, em 2011, a Sally e eu �amos
para S�o Francisco para uma confer�ncia.

Est�vamos em um hotel,
e a Sally n�o queria jantar.

Ela disse que n�o estava
se sentindo bem,

e eu notei que suas bochechas
estavam levemente amareladas.

Aquilo me assustou muito.

Ent�o, assim que n�s voltamos,

fomos direto para o consult�rio m�dico.

E eu fiquei pensando:
"Ela est� doente, mas n�o � grave."

Mas ent�o eu a vi saindo
do consult�rio m�dico,

e aquela express�o...

Eu sabia que algo estava muito errado.

E... Puxa vida.

E eu disse: "O que ele falou?"

E ela disse:
"Ele acha que eu tenho c�ncer.

C�ncer de p�ncreas.
Tem um tumor no meu p�ncreas."

Em um segundo,
nossa vida mudou completamente.

Parec�amos zumbis.
Foi um choque enorme.

Ela passou por uma cirurgia extensa,
quimioterapia e radioterapia.

Mas ela sempre se manteve otimista.

Ela sempre foi a Sally.

Conforme o c�ncer progredia,
ela ficava cada vez mais doente.

A cada semana, ela perdia algo,
a capacidade de subir e descer escadas.

A Tam foi incr�vel
durante aquele tempo com a Sally...

t�o comprometida quanto poss�vel.

Eu adorava o Neil Young

e aquela m�sica, "Harvest Moon".
Eu a colocava para tocar �s vezes

e fazia a Sally dan�ar comigo
na sala de estar.

E era t�o... Ela estava...
Ela tinha perdido peso e estava fraca.

Ela estava muito fofa.
Seus olhos azuis ainda eram intensos.

Era simplesmente maravilhoso
estar com ela.

N�s duas s� quer�amos estar
o mais perto poss�vel.

Est�vamos de bra�os dados
ao entrar no hospital.

A enfermeira me perguntava:
"Quem � voc�?"

E Sally disse:
"Ela � minha companheira."

Simplesmente saiu da boca dela.

Os hospitais diziam
que se voc� n�o fosse da fam�lia,

n�o poderia ver o paciente.

A Sally estava muito
preocupada com isso.

N�s quer�amos ter aproveitado
a oportunidade para nos casar,

mas decidimos ent�o dar entrada
no pedido de uni�o est�vel.

Era quase como ser casada.

Foi muito divertido
ver nossas assinaturas

naquele pedacinho de papel bobo.

Nossa, isso me levou de volta.

A Sally morreu em julho de 2012,
17 meses ap�s o diagn�stico.

Foi um dia louco.

Eu n�o queria lidar com o legista,
ent�o pedi � Bear,

sabe, eu n�o quero v�-la
sendo levada embora.

Sa� e sentei no nosso p�tio e,
de repente,

ouvi um helic�ptero circulando
sobre a nossa casa.

E carros estavam chegando.

E havia um cinegrafista ali
com uma c�mera.

Nos despedimos com tristeza.

Uma verdadeira
pioneira americana morreu hoje.

A astronauta pioneira Sally Ride

perdeu a batalha
contra o c�ncer de p�ncreas.

Ela tinha 61 anos.

Ride era uma pessoa muito reservada.

Foi s� depois de ler seu obitu�rio
que se tornou p�blico

que a Ride teve
um relacionamento de 27 anos

com sua companheira.

AL�M DE TAM O'SHAUGHNESSY,
SUA PARCEIRA DE 27 ANOS,

Eu descobri sobre a Tam
da mesma forma que o resto do mundo,

no obitu�rio.

Fiquei furiosa com ela. Furiosa!
Como ela ousa n�o me contar?

E ent�o me senti muito mal.

Mal pela sociedade ter feito algu�m
que admiramos, amamos e respeitamos

sentir que precisava esconder algo
sobre si mesma.

Cerca de um m�s antes de ela falecer,
estava claro que o fim estava pr�ximo.

Nunca falamos sobre morte, funeral,
nunca usamos essas palavras.

Mas pensei: "Espere um segundo.
Quem eu serei para o mundo?"

"Quem eu serei para as pessoas
que n�o sabem

que estivemos juntas e nos amamos?"

Ela meio que pensou em tudo, e disse...

"Voc� decide.
O que voc� decidir, estar� bem."

Ent�o, quando escrevi o obitu�rio,
pensei: "Sabe de uma coisa?

A Sally era uma pessoa honesta,

exceto por essa pequena �rea t�nue,
e isso n�o est� certo."

Eu sou uma pessoa honesta,
e estou cansada de me esconder.

Vou ser eu mesma.
Se algu�m n�o gostar, azar.

TAM O'SHAUGHNESSY,
SUA COMPANHEIRA POR 27 ANOS

Foi uma liberta��o para todos n�s.

A Tam deveria ser reconhecida
por quem ela era em rela��o � Sally,

bem como em rela��o � nossa fam�lia.

Vou ler uma carta inacredit�vel
que recebi de Mike Mullane.

"Sei que � um pouco tarde,

mas queria expressar
meus sinceros p�sames pela sua perda.

Cheguei ao Escrit�rio dos Astronautas
tendo estado imerso

em ambientes exclusivamente masculinos
durante toda a minha vida.

Meu comportamento, palavras e a��es
afastaram a Sally de mim."

Quando chegamos � NASA, no primeiro dia,
se voc� procurasse no dicion�rio

"porco machista asqueroso",
teria visto a foto do Mike Mullane l�.

Tenho vergonha, de verdade,
das minhas atitudes.

"A Sally era uma mulher extraordin�ria

e enfrentou enormes obst�culos
com coragem e dignidade.

Eu tenho quatro netas.

Quero que elas valorizem
os sacrif�cios que mulheres como a Sally

e cada uma de voc�s fizeram
para garantir um futuro

no qual n�o ser�o limitadas
na busca de seus pr�prios sonhos."

Essa... Essa � uma carta incr�vel.

Ali estava eu, duvidando da capacidade
das mulheres de lidar

com essas situa��es perigosas.

Trabalhar com elas abriu os meus olhos.

Elas s�o t�o capazes
quanto qualquer pessoa,

e aquelas seis provaram isso.

E Sally fez parte disso.

Est� na hora de as pessoas perceberem

que as mulheres neste pa�s podem fazer
qualquer trabalho que quiserem.

O espa�o para os Estados Unidos mudou
para sempre quando a Sally subiu.

Mulheres podem fazer isso.
Ela provou. Fim.

Ela estava abrindo caminho
para todas as mulheres

que voaram no espa�o depois dela
e ela fez isso de forma incr�vel.

Voc� pode ver o legado de Sally
nas muitas mulheres

que agora fazem parte
de todas as facetas do trabalho da NASA.

Todas as mulheres mais jovens e mulheres
na ci�ncia que ela alcan�ou e inspirou.

Isso aumenta a probabilidade
de que elas se esforcem mais,

v�o mais longe, contribuam mais.

Eu gostaria de ser lembrada
como algu�m

que n�o teve medo de fazer
o que queria fazer

e como algu�m que assumiu
riscos ao longo do caminho

para alcan�ar seus objetivos.

Eu pensei muito

sobre por que Sally n�o podia
ser aberta sobre nosso relacionamento.

E a �nica coisa que faz sentido
para mim � que ela estava com medo.

Isso � de partir o cora��o para mim,
mas tamb�m para ela.

Todas as pessoas que acham que a Sally
deveria ter se assumido antes de morrer,

ou que a Sally deveria
ter aceitado graciosamente

o buqu� de flores ao pousar,
deixem a Sally ser a Sally.

Foi isso que fez
a Sally ser quem ela era.

Ela nos deixou com uma pergunta,
nos deixou com alguma curiosidade,

mas nos deixou nos seus termos,
e era assim que Sally gostava que fosse.

Bom dia. Bom dia a todos.

Recebi um telefonema da Casa Branca.

Disseram que Sally receberia
a Medalha Presidencial da Liberdade.

Como a primeira
mulher americana no espa�o,

a Sally n�o apenas quebrou
o teto de vidro estratosf�rico,

ela o explodiu.

Tam O'Shaughnessy aceitando
em nome de sua companheira de vida,

Dra. Sally K. Ride.

Falando em se assumir publicamente,
quer dizer, aquilo foi...

enorme.

Foi simplesmente inacredit�vel.

Finalmente, a Sally foi celebrada
por quem ela realmente era,

e eu tamb�m fui celebrada
por ser sua companheira.

O mundo tornou tudo complicado
e doloroso,

mas fomos corajosas o suficiente
para nos amarmos.

A Sally e a Tam inspiraram

in�meras mulheres e meninas
a se tornarem cientistas.

Por meio da ci�ncia, elas treinaram
mais de 30.000 professoras

e alcan�aram mais de 6 milh�es de alunas
com seus livros, festivais e workshops.

Em junho de 2014, a NASA celebrou
o primeiro evento LGBTQ.

Tam e Bear foram convidadas especiais.

Legenda: Claire Machado