All language subtitles for Get.Gotti.S01E02.1080p.WEB.h264-EDITH[eztv.re]

A alcunha de muitos mafiosos

deve-se a algo que fizeram ou que fazem.

Se gostares de bananas,
chamam-te Joey Bananas.

A mim chamavam-me Sally Ubatz

porque em italiano significa louco, pazzo.

Porque eu fazia coisas atrozes.

Quando eu tinha 31 anos,
mandaram-me � Florida

para enviar uma mensagem a um tipo

que dormia com a mulher de um mafioso.

Eu fui � Florida. Encontrei-me com um tipo

que me deu um uniforme
e uma carrinha da UPS, e eu fui � casa.

Bati � porta.

Levava uma caixinha.
A namorada abriu a porta.

Empurrei-a, entrei,
meti uma faca na garganta do tipo

e amarrei-o � mesa de bilhar.

Castiga-o como deve ser.

Tirei-lhe as cal�as.

Tortura o cabr�o.

E cortei-lhe os tomates.

N�o foi pessoal. Eram neg�cios.

A m�fia tem tr�s regras b�sicas:

n�o te meteres com a mulher
de outro mafioso,

n�o vender droga
e nunca colaborar com a pol�cia.

Cala a merda da boca.

Est�s sempre a abrir a boca!

� uma senten�a de morte.

N�o havia nada pior do que isso.

A cada dois segundos.
Cala a boca, foda-se!

Tinhas de manter tudo em segredo.

N�o podias revelar nenhuma informa��o

nem seres um chibo ou um espi�o.

Se eu for apanhado a falar,
tamb�m sou um chibo.

Se falares, torturam-te.

Cortam-te em peda�os e queimam-te.

Fazem-te sofrer.

Pus-lhe uma merda de uma gravata
� volta do pesco�o e matei-o.

Muitas vezes,
a m�fia deixava o corpo � vista.

Queriam mostrar o que acontecia
se os desrespeitasses ou atrai�oasses.

Diz a esse imbecil

que eu, John Gotti,
lhe vou cortar a puta da cabe�a.

Filho da puta.

Vou cortar-te a puta da cabe�a.

A CIDADE DO MEDO:
NOVA IORQUE CONTRA JOHN GOTTI

O chefe de uma das maiores fam�lias
do crime organizado do pa�s

vai a julgamento em NI.

Os procuradores alegam que John Gotti
matou para chegar ao topo da m�fia.

Chamo-me Diane Giacalone.

Nos anos 80, fui procuradora-adjunta
no distrito leste de Nova Iorque.

Investig�mos o crime organizado,
casos de tr�fico de droga,

sequestros, quase tudo.

Em 1985, apresent�mos
o nosso caso contra John Gotti

e oito membros da fam�lia Gambino.

As acusa��es eram homic�dio,

apostas ilegais, agiotagem,

e roubo de cami�es.

Em jogo est� a sua liberdade e o seu lugar

no topo da fam�lia criminosa
mais poderosa do pa�s.

Enquanto nos centr�vamos no John
e pens�vamos em como abordar�amos o caso,

fic�mos a saber
que o caso da Diane estava iminente.

Fic�mos todos um pouco surpreendidos.

O FBI n�o participou nessa investiga��o.

Investig�vamos o Gotti separadamente.

Houve muito conflito por causa disto.

�ramos os �nicos com um caso.

N�s est�vamos
na linha da frente para o derrubar.

Pens�vamos ter provas suficientes
para condenar Gotti e companhia.

As acusa��es abarcam 18 anos,

quando Gotti era capo da m�fia,
antes de se tornar o chefe.

Se for condenado,
pode apanhar 20 anos de pris�o.

SETEMBRO DE 1986

SEGUNDO JULGAMENTO � DIA 1

Fora do tribunal, era um circo.

Havia uma atmosfera fren�tica e el�trica.

Nunca tinha estado num julgamento
com tanta aten��o medi�tica nacional.

Era um julgamento
com personagens incr�veis.

Havia o John Gotti.

- � o novo chefe da fam�lia?
- Da minha casa, mulher, filhos.

- � a �nica fam�lia?
- E a fam�lia Gambino?

Havia a Diane Giacalone.

Alguns procuradores n�o queriam o caso.
Uma quis, Diane Giacalone.

Uma mi�da do bairro contra os mauz�es.

- Bom dia, Sr. Cutler.
- Bom dia.

O advogado de Gotti, Bruce Cutler.

- Quem representa?
- O John Gotti.

Um rapaz de Brooklyn
que amava este homem, John Gotti.

Bruce Cutler. � engra�ado.

Acho que ele queria ser o John Gotti.

Ele vestia-se como o John,

cumprimentava-nos e beijava-nos
como um mafioso.

E havia muitos advogados excelentes

que defendiam os seus clientes.

Eu diria que, se tenho uma regra,

� nunca perguntar ao cliente
o que aconteceu.

Sinceramente, estou-me a cagar.

Importa-me o que o governo
diz que pode provar.

Ser advogada de defesa � isso.

Chamo-me Michael Shapiro,

em setembro de 1985, tinha 35 anos

e trabalhava no caso Gotti.

TRIBUNAL ESTADUAL

As acusa��es principais eram RICO,

a Lei Federal das Organiza��es Corruptas
e Influenciadas pelo Crime Organizado.

A beleza da acusa��o RICO
do ponto de vista de um procurador

� que se pode usar crimes

pelos quais j� houve condena��es.

1973 � JOHN GOTTI � BROOKLYN
HOMIC�DIO

A defesa sabia que o governo
nunca tinha perdido um caso RICO.

No caso Gotti, uma das acusa��es

foi o homic�dio
de Jimmy McBratney em Staten Island.

O Gotti declarara-se culpado.

Ele cumpriu pena por essa acusa��o.

O j�ri s� se devia perguntar

se esse homic�dio e as restantes acusa��es
no �mbito da Lei RICO

havia sido em prol das atividades
da fam�lia criminosa Gambino.

E foi isso que Diane Giacalone
tentou provar.

Eu era jovem,
s� estava no cargo h� cinco anos.

Eu tinha muita for�a de vontade.

Estava sentado na �ltima fila do tribunal.

O John levantou-se,
olhou em volta do tribunal e viu-me,

n�o sou uma pessoa pequena,
e disse: "Ouve l�! Quem �s tu?"

Eu levantei-me, fiz assim
e disse: "Est�s a falar comigo?"

"Sim, quem �s?" Respondi: "George Gabriel.

Estou na equipa do Bruce Mouw.
Vim observar e�"

"Diz a esse Bruce Mouw

que eu vou voltar para casa. Vou ganhar."

Eu disse: "Certo. Digo-te uma coisa.
Se assim for, dou-te os parab�ns."

Na altura, n�o sabia,
e acho que muitos jornalistas n�o sabiam,

que o FBI n�o queria
que a Giacalone apresentasse o caso.

Era uma situa��o tensa.

Quando Diane Giacalone
acusou John Gotti e a sua equipa,

nessa equipa estava um homem,
Willie Boy Johnson,

que era leal a Gotti.
Estava com ele desde que eram mi�dos.

Mas ele tamb�m era um chibo.

Willie Boy Johnson cooperava com o FBI

durante anos, mas ningu�m sabia.
N�o dissemos a ningu�m.

Pedimos � Diane Giacalone
para n�o o acusar.

Eu disse aos meus chefes:

"Se n�o fizermos nada para impedir isto,

o Gotti vai mat�-lo

se souber que ele � um informador."

Willie Boy Johnson
n�o era s� um informador.

Tamb�m era um criminoso violento.

Ele esteve intimamente envolvido
em alguns dos atos mais violentos

que a m�fia cometeu.

N�o pod�amos apresentar o caso
sem o acusar.

No tribunal,
Diane Giacalone, para horror do FBI,

explicou ao juiz que�

Quer�amos deter um dos arguidos

porque ele era informador h� 15 anos.

Chamam-lhe "Willie Boy".
Est� ao lado de John Gotti,

mas est� longe de ser pr�ximo.

Foi chocante.
O Gotti estava sentado ao lado dele.

A forma como foi revelado foi horr�vel.

O Willie Boy estava nisto h� anos.

Ele ganhava muito.
Conhecia as cinco fam�lias.

Quando detiveram o Willie Boy,

John Gotti lan�ou-lhe um olhar assassino.

Nenhuma seguradora

lhe daria um seguro de vida.

N�o gost�mos de o fazer,
mas fizemos o que era necess�rio.

Sab�amos que a esperan�a de vida dele
n�o era famosa.

Quando temos um informador,

dizemos sempre:
"N�o revelaremos a tua identidade."

A Diane Giacalone ignorou isso.

Hoje, em tribunal,
a procuradora-adjunta Diane Giacalone

apresentou o caso aos jurados�

A declara��o de abertura
de Diane Giacalone no julgamento foi boa.

Impressionante.

Come��mos com o homic�dio de McBratney,

porque mostrava
a ascens�o de John Gotti ao poder.

Depois, falei dos v�rios
elementos da acusa��o.

Falei da agiotagem, dos roubos de cami�es,

das apostas ilegais.

Giacalone alegou que v�rios crimes
pelos quais outros arguidos

j� cumpriram pena,
n�o foram casos isolados,

mas parte de uma conspira��o
para cometer crimes.

Senti que fiz o meu trabalho
e senti-me muito bem com isso.

Ter� sido a �ltima vez
que me senti bem naquele tribunal.

O advogado de Gotti,
Bruce Cutler, passou ao ataque.

O Bruce Cutler crucificou-a.

O Bruce disse ao j�ri

para pensar nas acusa��es
como um estufado ran�oso.

E lembro-me disso
porque fui eu que o escrevi.

Ele disse: "N�o se pode fazer um estufado

com ingredientes podres,
n�o importa o tempo de cozedura."

E, de facto,
na declara��o de abertura, Bruce Cutler�

Pegou na acusa��o

e disse que era lixo,

rasgou-a ao meio,
o que foi algo muito dram�tico.

O j�ri n�o conseguia
tirar os olhos dele e ele�

Atirou a acusa��o
para o cesto do lixo do tribunal e disse:

"Esta acusa��o merece ficar no lixo."

Que floreio, que drama!

Foi um momento surpreendente.

O caso da Diane teve muitos colaboradores,
isso � sempre um risco.

N�o falo de pessoas que passavam na rua.

Falo de pessoas
que est�o no crime organizado.

Quem mais testemunha
num julgamento da m�fia?

Fui a primeira testemunha
no julgamento de John Gotti de 1987,

e era a testemunha principal.

Em 1984, fui preso
com 100 gramas de coca�na.

A fian�a era de um milh�o de d�lares.

A minha esposa visitou-me na pris�o
no ver�o de 1984.

Os meus filhos estavam na sala de visitas.

Quando ela saiu,
vi os meus dois filhos a chorar.

Nesse momento, decidi: "Tenho de falar.

Tenho de deixar esta vida.
N�o quero tortur�-los mais."

Um dia, fiz uma chamada.
Decidi trabalhar com o governo.

N�o sabia que, dois anos depois,

o governo me chamaria
para testemunhar contra o John Gotti.

O Sal Polisi tinha muita hist�ria
com a m�fia.

E contou-a, contou-a bem.

Era inteligente, eloquente.

Depois, o Bruce levantou-se e�
J� ouvi a palavra "brucificado".

Era uma forma fant�stica de descrever
os interrogat�rios do Bruce.

O Bruce Cutler atacou-me diariamente
durante sete dias.

Ele enxovalhou-me, chamou-me canalha,
e disse que eu era um cobarde.

E descobriu pormenores sobre mim,

quantas mi�das tive numa noite,
que cortei os tomates a um tipo.

Tive de admitir que era verdade.

O John Gotti estava
na ponta da mesa da defesa,

pousou a m�o direita sobre a mesa
e fez o gesto de uma arma.

Eu sabia o que ele dizia.

"Vamos matar-te."

Al�m de Sal Polisi,

Diane Giacalone contava
com outras testemunhas.

Testemunhas pagas, que mentiram,

testemunhas que mudaram de identidade,
que venderam droga,

que mataram pessoas.

Eram algumas das testemunhas
mais impugn�veis que havia.

Um verdadeiro zoo de criminosos.

James Cardinali �
uma testemunha-chave contra Gotti.

Cada uma delas vai ao banco dos r�us,

e cada uma � menos cred�vel que a outra.

O Cardinali admitiu
que n�o queria testemunhar,

mas era melhor que a cadeira el�trica
na Florida, onde matara algu�m.

Outra testemunha do governo
foi Dominick LoFaro.

Dominick LoFaro admitiu hoje

que mentiu �s autoridades federais.

Ele dissera que matara mais de 15 pessoas.

Hoje, disse que foram s� duas.

Est�vamos a ser retratados
como incompetentes.

O caso do governo contra John Gotti
sofreu um rev�s.

Dep�s o ladr�o de bancos Matthew Traynor.

Ele devia testemunhar contra Gotti.

O Matthew Traynor
era uma testemunha problem�tica, mas �til.

At� deixar de confiar nele.

Ele come�ou a dizer coisas
que n�o faziam sentido.

E, nessa altura,
decidimos que n�o o chamar�amos.

Ele testemunhou a favor da defesa

e disse que a Diane Giacalone
o tentara subornar.

Deram-me as drogas que eu queria.
Deram-me �lcool.

Ele disse que ela lhe deu as cuecas
que estavam numa gaveta do escrit�rio

para que ele se masturbasse.

Deram-me al�vio sexual.

Matthew Traynor foi condenado
por falso testemunho.

Disse ao meu colega:

"Que jurado no seu perfeito ju�zo
acreditaria nesta merda?"

Em Nova Iorque, os procuradores
n�o falam publicamente com a imprensa.

Os advogados de defesa
s�o pagos para isso.

O Bruce falava melhor com a imprensa
do que qualquer outro advogado de defesa.

Ele sabia usar a imprensa.
Ele sabia entreter a imprensa.

N�o me alegra ver-te, Geraldo.
N�o sou teu f�.

O John Gotti tinha
uma equipa de rela��es-p�blicas,

como o porta-voz da Casa Branca.

Bruce Cutler disse

que o governo n�o gosta
de quem se veste bem, apostadores,

pessoas como John Gotti.

Nunca soube que tinha preconceitos
contra quem se veste bem.

Eu tamb�m achava que me vestia bem.

Bruce Cutler dizia sempre:
"O governo far� tudo

para prender o John Gotti."

Cutler sustenta que o governo
quer apanhar Gotti.

Espera convencer o j�ri disso,

convencer o p�blico,

convencer as fam�lias dos jurados.

Tudo isto refor�ou a imagem de John Gotti�

Ele sempre foi uma pessoa
muito respeit�vel na comunidade.

� e o p�blico acreditou.

Custa-me a acreditar
no que dizem sobre ele.

Mas qual padrinho?
Ele � apenas um bom homem.

Boa noite. Este � o notici�rio da CBS.

Sou o Dan Rather.

Chegaram a um veredicto numa sexta.

Lembro-me de onde estava
quando ouvi o veredicto.

Num parque no norte de Nova Iorque,
a ouvir as not�cias no r�dio.

Estava na rua com o meu parceiro.
Est�vamos no carro.

E ouvimos as not�cias no r�dio do carro�

O j�ri absolveu John Gotti

de todas as acusa��es
de conspira��o e extors�o.

Ilibaram-no de todas as acusa��es.

Descren�a

foi o sentimento principal.

Descren�a.

Senti que tinha sido
espancada fisicamente.

O meu corpo estava dorido.

O resultado foi uma derrota do governo
contra o crime organizado.

John Gotti saiu do tribunal
como uma estrela.

Como se sente?

Num julgamento de seis meses,
o governo n�o provou o caso.

- Como se sente?
- Surpreendido?

Fiquei perplexo.

Foi a primeira defesa bem-sucedida
num caso RICO.

Deus aben�oe a Am�rica.

A justifica��o foi correta,

ambos a esper�vamos.
Estamos muito contentes pela vit�ria.

Quando o declararam inocente,

as pessoas diziam:
"O Bruce Cutler � o melhor advogado."

N�o, n�o foi o Bruce Cutler. N�o foi ele.

Ganharam o caso porque algu�m
pagou 60 mil d�lares ao jurado.

Os jurados s�o levados para casa
por agentes federais em limusinas.

Disse � Diane Giacalone:

"N�o acredito
que levam os jurados numa limusina

e que os passeiem por Brooklyn."

"Acham que a m�fia � est�pida?
Est�o a segui-los.

O John Gotti vai pagar a algu�m."

E ela disse:
"Sal, v�s demasiada televis�o."

E eu ri-me.

Quando ele foi absolvido, pensei:
"Sim, conseguiu."

John Gotti tinha motivos para sorrir

enquanto passava pelas c�maras
� porta de sua casa.

S� mais tarde descobri
que haviam pagado a um jurado.

Ignorei muitos sinais.

N�o percebi que o John Gotti
nunca estava nervoso.

Nunca.

Ele estava muito alegre.
Sabia que n�o o poderiam condenar.

E o que teria sido
uma defesa muito arriscada

para qualquer outro arguido
foi apenas um jogo para ele.

O veredicto de "inocente"
foi uma grande festa.

Disse ao meu parceiro:

"Vamos ao Clube Bergin."

E o local era um cen�rio da m�fia.
Vi o John Gotti.

Fui direito a ele e disse: "N�o deves
lembrar-te de mim. George Gabriel.

Eu disse que te dava os parab�ns.
Parab�ns. At� � vista."

Virei-me, voltei para o carro e sa�mos.

GOTTI: O QUERIDINHO DA AM�RICA

Ap�s o julgamento, ele comprou um barco.

Na parte de tr�s do barco,
escreveu "Inocente".

O governo diz que John Gotti
� um assassino impiedoso,

talvez o chefe da m�fia
mais cruel e poderoso dos EUA.

Gotti tornou-se alvo dos paparazzi.

Porque � ele t�o popular?

Passou de chefe da m�fia criminosa

a celebridade de Nova Iorque.

Gotti teve um grande triunfo.

A revista Time pediu a Andy Warhol

um retrato de Gotti para a capa.

A M�FIA NO BANCO DOS R�US

H� her�is que fazem
grandes coisas pelo pa�s

e n�o aparecem na capa da Time,
mas um chefe da m�fia aparece.

O Sr. Gotti � quase t�o famoso
pela eleg�ncia da indument�ria

quanto pela sua reputa��o
de senhor do crime.

Foi assim que ganhou a alcunha.

Chamam-lhe "o chefe elegante".

Gra�as a ele, �ramos estrelas de cinema,
porque as pessoas queriam ser como n�s.

As celebridades queriam estar connosco.

Snifava coca com o Andy Warhol.
Snifava coca com o David Bowie.

Eles confiavam em n�s,
sabiam que n�o chamar�amos as revistas.

T�nhamos boa coca.

Era �timo, pois havia muito dinheiro,

entusiasmo, prest�gio, glamour.

Uma noite, a Brooke Shields

meteu o n�mero dela
no bolso dele no Club A

e ele rasgou-o. Eu disse: "O que fazes?"

Ele disse: "Podia ser minha filha."

E eu disse: "D�-me o n�mero."

Voltamos com uma partida

ao alegado padrinho mais famoso dos EUA,
John Gotti, de Nova Iorque.

Quando o vemos na televis�o
com o seu fato de 2 mil d�lares

e cabelo perfeito, todos o adoram.

� uma estrela.

Mas � porta fechada,
� um assassino implac�vel.

Vejam o que aconteceu
ao tipo que o precedeu.

Um trabalho stressante faz-nos isto.

A EQUIPA CONTRA O CRIME ORGANIZADO

John Gotti conseguiu duas vit�rias.

O julgamento de Diane Giacalone
baseou-se em testemunhos de informadores.

O pr�ximo caso
teria de usar vigil�ncia eletr�nica

onde o John Gotti pudesse ser escutado.

Ainda t�nhamos as escutas do Clube Bergin.

E havia conversas impressionantes.

Ainda quer�amos apresentar um caso.

Ouvimos conversas
que ningu�m mais poderia ter ouvido.

Compet�amos com o FBI.

E isso significava
que o FBI precisava de melhorar.

O FBI

O FBI ainda n�o apresentara
um caso contra John Gotti.

Mas sab�amos os crimes
pelos quais ele era respons�vel

e ele estava livre.

Ele e toda a gente sabiam
que o governo voltaria a ir atr�s dele.

O governo n�o tinha escolha.

Quando trabalhas num caso destes,

tens de trabalhar
em conjunto com o procurador.

Neste caso, era o distrito leste de NI.

A Laura Ward
era uma procuradora muito experiente,

muito talentosa, brilhante.
Era �timo trabalhar com ela.

Ap�s o caso da Diane Giacalone,
o FBI centrou-se imediatamente no Gotti.

E agora �amos apanh�-lo.

O George Gabriel foi destacado
para apanhar o Gotti.

Eu n�o teria pressa.

Eu sabia que, para prender este tipo,
se ele j� havia ganhado uma vez,

as provas teriam de ser muito boas.

Tinha de ser um caso muito s�lido.

A miss�o do George era apanhar o Gotti,

mas apanh�-lo como devia ser.

AGOSTO DE 1988

Enquanto trabalh�vamos no caso do John,
vigiando-o e tudo isso,

recebi uma chamada
de uma das brigadas de Nova J�rsia.

Executaram um homem ao estilo da m�fia
� porta de casa em Brooklyn.

A v�tima, Wilfred "Willie Boy" Johnson,

um suposto colaborador
do alegado chefe da m�fia, John Gotti,

O destino desse tipo j� estava selado.
Ele iria desaparecer. Ele iria dormir.

Johnson foi alvejado na cabe�a
� porta de casa.

Uma das regras
� n�o matar algu�m � porta de casa.

� um insulto � fam�lia dele.

Se o odiarem mesmo

e quiserem mandar uma mensagem,
matam-no na casa dele.

Lamento que o tenham matado.
Lamento pela fam�lia dele,

mas foi o fim inevit�vel
de uma vida que s� seguia numa dire��o.

Um dia ap�s Willie Johnson
ser assassinado pelos homens de Gotti�

Bom dia, Sr. Gotti.

� ele saiu de casa e dissemos:

"O que tem a dizer do Willie Boy Johnson?

O que acha?"
E ele respondeu: "Vamos todos morrer."

Ap�s alguns meses de comando,
os informadores disseram

que o Gotti montaria
a sua sede no Ravenite Social Club.

APENAS MEMBROS

Quando o John ocupou o Ravenite,
removeu tudo, fez uma parede de tijolo

e uma pequena janela
para que n�o se visse nada.

Eu diria que o fortificou.

O Ravenite est� em Little Italy.

Em Little Italy est�o todas
as fam�lias do crime organizado.

H� restaurantes. H� clubes.

� o territ�rio deles.

N�s somos os forasteiros.

N�o podemos entrar sem que nos vejam.

Quem vive naqueles apartamentos

� leal � m�fia,
por isso � dif�cil fazer alguma coisa.

D�vamos trabalho �s pessoas.
No Dia de A��o de Gra�as, d�vamos perus.

As pessoas cresceram connosco
e confiavam em n�s.

Ajud�vamos a comunidade.

Se nos pediam favores, n�s faz�amos.

N�o tenho medo. Sinto-me mais segura.

- Mais segura?
- Claro que sim.

Porqu�?

Roubaram-me o carro
em todo o lado menos aqui.

Em Ozone Park, em Mulberry Street,

�ramos os maus, n�o os bons.

Apesar disso, t�nhamos de trabalhar.
Eu tinha de entrar na minha carrinha,

uma carrinha de vigil�ncia.

E tentar estacionar
onde pudesse ver bem o clube.

Livre.

Sentava-me atr�s com as c�maras

e esperava que as pessoas aparecessem.

V�rias vezes, via-os a andar na rua

a bater em todas as carrinhas:
"Sabemos que est�o a�."

A inten��o era conseguir uma base algures.

Encontrar um local fixo

para instalar uma c�mara
em frente ao clube.

E poder�amos ser mais discretos.

Encontr�mos um apartamento no sexto andar,
a dois quarteir�es e meio.

A boa not�cia � que t�nhamos um local.

Era a nossa base de opera��es.

Mas ficava a dois quarteir�es e meio.

Eu tinha acesso �s equipas
de Opera��es Especiais.

E tivemos sorte

porque o FBI
tinha equipamento de alta tecnologia.

Poucos sabiam que existia. Eu n�o sabia.

Como agente com forma��o t�cnica,
uma das nossas fun��es era conceber,

implementar e instalar
dispositivos de vigil�ncia

para obter provas
para processar com sucesso

a m�fia de Nova Iorque.

Instal�mos equipamentos telesc�picos
de videovigil�ncia de �ltima gera��o

que nos permitiram registar a atividade

na entrada do Ravenite
e na rua cont�gua ao clube

todos os dias, 24 horas por dia.

A beleza disso era que dava para filmar
a dois quarteir�es e meio de dist�ncia

e parecer que estavas a 30 metros.

�s oito da noite, em pleno inverno,
parecia que eram tr�s da tarde.

A c�mara da base

forneceu belas imagens
a preto e branco destes tipos.

V�amos quem eram,

o que vestiam, de que carros sa�am.

T�nhamos muita informa��o.

Foi incr�vel ter esse tipo de tecnologia.

Entre 1989 e 1990,
o Ravenite estava no seu apogeu.

O John estava sempre l�
com a administra��o.

E o mais incr�vel e �til
que o Gotti fez por n�s

foi reunir, �s quartas � noite, os capos

e os seus colaboradores e soldados.

Estava l� John Gotti,

Frankie LoCascio,

Sammy Gravano.

Basicamente, mostrou-nos
a estrutura da fam�lia.

CHEFE

CONSIGLIERE � SUBCHEFE

Sup�e-se que a m�fia
� uma organiza��o secreta.

Que todos apare�am num lugar

em plena luz do dia
n�o � particularmente secreto.

O John Gotti era um g�ngster.
Estava-se a cagar para o FBI.

Estava-se a cagar
se o FBI lhe tirava uma foto.

Ele punha todos na rua e sentia que,

como mafioso, tinhas de ir v�-lo,
n�o podias ter medo da pol�cia.

Se �s um capo ou um mafioso
n�o te vais esconder em casa.

Vir�s aqui,
tal como eu venho todos os dias.

N�o era inteligente,
mas John Gotti julgava-se invenc�vel.

O Gotti n�o ficava s� dentro do clube.
Ele dava uma volta pelo quarteir�o.

Dava para ver a din�mica
da hierarquia destas pessoas.

Por exemplo, uma vez,
o John e o Sammy foram dar uma volta.

E come�ou a chuviscar.

O Sammy segurava o guarda-chuva.
O John n�o ia segurar no guarda-chuva.

E, a meio metro atr�s deles,
seguiam os guarda-costas,

os tipos que deviam proteg�-lo.

Outras vezes,
se algu�m fosse cumprimentar o John,

cumprimentavam-no a ele antes do Sammy.

Eram pequenos ind�cios

que nos dava uma ideia
de como era a administra��o,

quem era quem,
a proximidade de algumas pessoas

e a dist�ncia de outras.

A certa altura,
os informadores disseram-nos

que o John Gotti falava de crimes l�.

Mas n�o sab�amos o que diziam.

Munidos desta informa��o,
fizemos um pedido

para a instala��o de uma escuta no clube.

Quando soubemos
que escutar�amos o Ravenite,

falei com o tipo das Opera��es Especiais
para vermos como o far�amos.

N�o t�nhamos nenhum conhecimento pr�tico

de como era o interior
do Ravenite Social Club.

Onde se sentavam? Onde estava o John?

Onde estavam os tenentes dele?
Onde ocorriam as conversas?

�s vezes, os t�cnicos t�m de entrar,

analisar o local e determinar
que equipamento t�m de usar.

Pois, quando volt�ssemos � noite,

no meio da noite, no escuro,
saber o que havia no local

e qual era a disposi��o ajudaria imenso.

SENTIDO �NICO

Obviamente, a pol�cia n�o pode
entrar num clube social da m�fia

em plena luz do dia.

Por isso, tivemos de fazer
com que nos convidassem.

E fizemos isso provocando
uma chamada t�cnica.

Basicamente, caus�mos problemas t�cnicos

nos telefones do Ravenite,

o que fez com que algu�m
da fam�lia Gambino

chamasse um t�cnico
da empresa telef�nica de Nova Iorque.

Mas, em vez disso, receberam a visita

de uns membros amig�veis
das Opera��es Especiais do FBI.

Cheguei e apresentei-me
como t�cnico de repara��es.

Quando entrei pela primeira vez
no Ravenite, foi evidente

que o interior era muito rudimentar.

Curiosamente,
havia um retrato do Sr. Gotti

ao fundo de uma sala onde ele se sentava.

Conseguimos observar

que havia uma opera��o de apostas.

E tinham um fax
ligado a uma linha telef�nica.

E deixaram claro que queriam
que eu arranjasse o raio da coisa

o mais r�pido poss�vel. Eles agradeceriam.

Conseguimos "resolver o problema deles".

E ficaram radiantes.

Um dos membros aproximou-se e deu-me

duas notas de cem d�lares
novinhas em folha.

E eu, como um bom t�cnico de servi�os,
trabalhador, aceitei.

Fomo-nos embora.
E, cortesia da fam�lia Gambino,

levei alguns agentes
das Opera��es Especiais

a comer piza e beber umas cervejas.

J� sab�amos onde dev�amos p�r a escuta.

O clube tinha duas salas.

O John sentava-se numa mesa
na sala das traseiras.

Era onde falavam com ele.

A escuta tinha de estar
o mais perto poss�vel dessa mesa.

Nos anos 80,
eu era agente especial do FBI.

Eu era um dos seis agentes no pa�s
especializados em abrir fechaduras.

O meu parceiro era o Ken Reader.
Ele era brilhante com fechaduras.

O Kenny devia fazer a moldagem
de uma chave para o Ravenite.

Os serralheiros fazem moldagens

h� cem anos.

� uma arte.

P�e-se a chave virgem dentro do cilindro

que deixa uma marca e tiramos a chave.

Limas e repetes uma e outra vez.

Acabas por obter a chave
que abrir� a porta.

Costuma demorar cerca de 15 minutos.

� 22 para o Kenny.

Neste caso em particular,
o Kenny demorou tr�s a quatro horas,

porque, de cada vez
que ele tentava chegar � porta�

Oito, tr�s, sete, 820.

� algu�m o chamava e dizia:
"N�o, vem a� algu�m."

Mas, no final da noite,

ele conseguiu a chave
e est�vamos prontos para entrar.

Quando entr�mos,

tivemos de instalar
microfones discretamente,

os transmissores, escutas, etc.

N�o foi f�cil ocult�-los.

Tivemos de trabalhar com pouca luz,

com pequenas lanternas na boca.

Finalmente, fizemos testes de �udio.

Um, dois, tr�s, quatro.
Quatro, tr�s, dois, um.

Ouves-me, Charlie?

E o Charlie respondia e dizia�

Alto e bom som.

Foi muito bem executado.

Foi um acontecimento.

Passado uma ou duas horas, sa�mos.

Ap�s colocarmos a escuta, � emocionante
ir � base e pegar nos auscultadores.

Ouvimos todas as cassetes

para ver se havia algo
que pudesse ser usado.

Havia uma m�quina de gelo � frente.
Havia uma m�quina de cappuccino.

Capt�vamos todos os sons imagin�veis.

Sab�amos que havia muitas conversas,

mas n�o ouv�amos nenhuma.

N�o conseguia acreditar.

N�o se ouvia nada.

Foi um desperd�cio de tempo e energia.

Com os microfones mal posicionados,
reunimos com as opera��es especiais.

"H� algo que possamos fazer
para melhorar isto?"

T�nhamos de avaliar o risco
de voltar a tentar.

Devemos ter entrado no Ravenite
mais de uma d�zia de vezes

num per�odo de 14 meses,
a trocar constantemente os microfones.

Reajust�mos a escuta
e pusemo-la junto � mesa.

No teto por cima da mesa.

Tent�mos v�rias coisas,
mas a ac�stica era um desastre.

Havia muitas pessoas num lugar pequeno.
E tornou-se frustrante,

porque t�nhamos as imagens.
V�amo-los a ir e vir.

V�amos as conversas.

T�nhamos as escutas,
mas n�o ouv�amos nada.

N�o pod�amos depender destas cassetes.

T�nhamos de fazer melhor.

A ECCO

Embora soub�ssemos que o FBI
tinha a sua pr�pria escuta,

quer�amos apresentar o nosso caso.

Ouvimos de novo
todas as conversas da escuta

gravadas no Clube Bergin em 1986.

O Greg veio ver-me uma manh�.

Ele estivera a ouvir repetidamente
as grava��es do Gotti

e encontrara algo
que ningu�m tinha reparado.

O Greg estava muito entusiasmado.

Quem conhece o Greg
sabe o que isso significa.

Escreveu um bilhete.

Nessa noite, deixei um bilhete que dizia
para ele ver a transcri��o.

No caso de, ao ir para casa,

ter um acidente
e n�o nos poder contar no dia seguinte.

A conversa foi intercetada em 1986,

sobre um l�der sindical que foi
a um s�tio chamado Bankers and Brokers.

RESTAURANTE

O Bankers and Brokers
� um restaurante em Manhattan

de um mafioso da fam�lia Gambino.

Ele arranjara o restaurante
com carpinteiros n�o sindicalizados.

O presidente
do sindicato dos carpinteiros,

creio que se chamava O'Connor,

disse: "O que est�o a fazer?
Usem tipos do sindicato."

O sindicato dos carpinteiros
era controlado pela m�fia.

Ent�o, o que ele fez

foi ir l� destruir o s�tio
depois de estar arranjado.

O dono estava com o John Gotti,

era um dos seus soldados.
A fam�lia Gambino teria de intervir.

Um membro do sindicato dos carpinteiros
foi baleado no �trio da sede do sindicato.

Parece uma mensagem de um gangue.

A conversa era muito espec�fica.

John O'Connor.

Referiu o John O'Connor.

A v�tima era John F. O'Connor, de 49 anos.

Seis, zero, oito.

Referiu 608. O sindicato.

Vice-presidente da sec��o 608
do sindicato dos carpinteiros.

Na Broadway 1694 ou algo assim.

Pouco antes das sete,
O'Connor entrou neste pr�dio

na Broadway com a Rua 51,
onde fica o seu escrit�rio.

E referiu�

Vamos dar cabo dele.

"Vamos dar cabo dele."

O'Connor levou quatro tiros nas n�degas.

Ouvi a grava��o e era �tima.
Era espetacular.

Amanh� acabamos com ele.

T�nhamos um crime.

Amanh� acabamos com ele.

De repente,
ouvimos dizer que o Gotti foi preso.

A Procuradoria de Manhattan acusa Gotti
de conspira��o para matar

devido aos disparos em maio de 1986

contra John O'Connor,
do sindicato dos carpinteiros.

Liguei a uma fonte do FBI

e ele disse: "N�o prenderam o John Gotti.

Eu saberia."

Pronto, pessoal.

Mas ele n�o sabia.

E ele n�o sabia

porque a Equipa Contra o Crime Organizado
do Estado de Nova Iorque

agiu por conta pr�pria,

n�o estava a trabalhar com o FBI.

A ECCO queria publicidade
ao prender o John Gotti.

Como n�o conseguimos
apresentar um caso r�pido,

levaram o caso O'Connor � Procuradoria
de Manhattan e avan�aram.

Era quase uma competi��o.
"Eles n�o conseguem. Voc�s conseguem?"

Ouvi dizer que est�o a lutar
para ver quem me julga primeiro.

Todas estas pessoas competiam

pela gl�ria de processar o John Gotti.

N�o v�o descansar at� me prenderem.

O John Gotti estava a desafi�-los:
"Desafio-vos a virem atr�s de mim."

Ele estava tipo: "V�o-se foder."

- Pronto para o pr�ximo caso?
- Sempre.

Legendas: Nuno Oliveira