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NOVA IORQUE

DEZEMBRO DE 1985

Era 16 de dezembro, uma semana de f�rias.
As pessoas faziam as compras de Natal.

Eu estava sentada no meu escrit�rio
sem janelas, como sempre,

a trabalhar no caso Castellano.

Paul Castellano aguarda julgamento
no maior caso de crime organizado.

Trabalhei nesse caso durante quase um ano.

Acusado de homic�dio,
extors�o, tr�fico de droga e coa��o.

Paul Castellano era considerado
o chefe dos chefes nos anos 80.

Ele era o chefe
da maior fam�lia do crime organizado,

a fam�lia Gambino.

Castellano deixou o tribunal
de Manhattan esta noite,

ap�s pagar 2 milh�es de d�lares de fian�a.

Pensei que o caso era s�lido,
est�vamos a dar os retoques finais.

De repente, o meu telem�vel
come�ou a piscar.

As minhas linhas piscavam.

Eu estava na reda��o do Canal 11

e come�aram a falar no r�dio da pol�cia
sobre um tiroteio em Midtown.

Tiros nesta rua, cerca das 17h20. Um�

Na Rua 46.

Aqui na Rua 46.

� porta do restaurante Sparks.

- O homem est� na rua?
- No ch�o, junto ao carro.

Duas pessoas baleadas descaradamente

pouco depois das 17 horas,
em Midtown, durante as compras de Natal.

Os tipos pareciam brancos.

Os tr�s usavam gabardinas.

O agente do FBI disse:
"Laura, est� sentada?"

Eu disse: "Est� tudo bem?"
Ele disse: "N�o. O Castellano morreu."

Big Paul Castellano, o chefe da m�fia
mais poderoso dos EUA, est� morto.

Baleado v�rias vezes

quando sa�a da limusina
com o guarda-costas, Tommy Bilotti.

Fiquei chocada. Disse: "Meu Deus!"

Um ano de trabalho para nada.

O rei est� morto.

O que aconteceu?

� chocante. � como matar o presidente.

Quem teria coragem
para matar o chefe dos chefes?

Liguei ao meu capit�o e disse:

"O Paul foi morto."
E ele disse, muito calmo�

MAFIOSO

O tom de voz dele foi� Eu disse: "Merda!"

Quando desliguei, disse:
"Foda-se, conseguiram."

Poucas horas ap�s o ataque na Rua 46,

ficou claro para todos

que o mandante foi o John Gotti.

O governo diz que John Gotti
� um assassino impiedoso,

talvez o chefe da m�fia
mais impiedoso e poderoso dos EUA.

Podes crer.

John Gotti era um super-her�i da Marvel

antes de haver filmes da Marvel.

Era a personagem perfeita
para a altura em Nova Iorque.

O VERDADEIRO PADRINHO

RI-SE NA CARA DA LEI

A m�fia � supostamente
uma organiza��o secreta.

Ele gabava-se.

Ele adorava as c�maras.

Adorava ser o centro das aten��es
e o p�blico adorava-o.

Fazia a pol�cia parecer incompetente.

ELE EST� LIVRE!

Ele estava-se a cagar para o FBI.

Estava-se a cagar se fosses preso.

INOCENTE

Foi uma chapada na cara
do governo federal.

TESTEMUNHA DESAPARECE

Ele era um assassino, um g�ngster.

A cidade era nossa.

�amos tentar derrub�-lo.

O objetivo era apanhar o Gotti.

Ouve o que te digo.
Deves conhecer 50 Andys, 500 Carls,

25 Als, 30 Pauls.

S� h� um John Gotti, caralho.

A CIDADE DO MEDO:
NOVA IORQUE CONTRA JOHN GOTTI

Os anos 80 em Nova Iorque
era a altura perfeita para ser criminoso.

Podias safar-te de tudo.

Safavas-te de homic�dio,
tr�fico de droga, extors�o.

�ramos os donos de Nova Iorque.

Dava para te safares de praticamente tudo.

Ganh�vamos milh�es nas ruas.

Us�vamos casacos de pele, joias.

Era tudo glamoroso.

Sim.

As pessoas andavam impec�veis.

Quem n�o quereria ser n�s?
Quem n�o quereria ser um criminoso?

O John Gotti retratava tudo isso.

Era um homem a ser temido.

H� uma busca pelo assassino
que executou o padrinho da m�fia,

Paul Castellano.

O FBI

Em 1985, eu tinha uns 29, 30 anos.

Estava no FBI h� cinco anos.

O caso do homic�dio
de Paul Castellano era importante.

Estamos ocupados
a tentar desvendar o caso na rua.

Tivemos a sorte de ter informadores
pr�ximos do c�rculo �ntimo

a dizer que o Gotti estava por tr�s disto

e muitos dos atiradores envolvidos.

O problema � que n�o podiam
testemunhar e dizer a verdade.

Seriam expostos.

"Podemos encontrar testemunhas
que denunciar�o alguns destes tipos?"

As pessoas n�o falavam. Nem pensar.

Quem diria: "Sim, vi algo"?

Terias de ser um idiota,
pois os teus dias estariam contados.

Tinham medo.
Sabem o que a m�fia podia fazer.

H� 50 anos que Nova Iorque
n�o via um homic�dio da m�fia

desta import�ncia.

Quando soube
do assassinato do Castellano em 1985,

era �bvio que tinha sido o John Gotti,
pois ele era assim.

MAFIOSO

Eu e o Gotti ascendemos juntos
na m�fia nos anos 70.

Roub�vamos cami�es com o Tommy DeSimone.

O Tommy de Tudo Bons Rapazes,
a personagem do Pesci.

Como assim, "n�o sejas"�

Para subir na m�fia, precisavas
de cometer um homic�dio, algo assim.

E depois �ramos vistos
como um poss�vel mafioso.

O John Gotti tinha muita coragem,
muitos tomates.

Ele cometia homic�dios
sem fazer perguntas.

O chefe manda fazer algo e tu fazes.

MAIO DE 1973

O James McBratney
era um dur�o de Staten Island,

cujo bando raptava
mafiosos italianos e pedia resgate.

Foi dada a ordem
e o John Gotti recebeu a miss�o

de matar o tal McBratney.

O John e mais duas pessoas
foram a Staten Island

e mataram-no no bar.

Os tr�s homens lutaram com McBratney.

Ent�o, com f�ria repentina,
um, dois, tr�s tiros disparam.

Jimmy McBratney est� morto.
Os tr�s homens fugiram.

O John foi preso.

POL�CIA DE NI

Ele foi preso e saiu em 1977.
Foi quando se tornou mafioso.

Ele tornou-se um dos nossos.

Agora era nosso amigo.

H� muitas g�rias e termos,

mas todas significam que entrou
para uma fam�lia do crime.

Ele projetava que seria
o chefe da m�fia de Nova Iorque

e eu ri-me.

Mas o John Gotti era muito mais esperto
do que todos pensavam.

JULHO DE 1977

DEZEMBRO DE 1985

Hoje, alguns pol�cias
especularam discretamente

que a morte do chefe da m�fia nos EUA

foi ordenada pela fam�lia Gambino.

Para n�s, do FBI, foi muito frustrante.

Sab�amos quem tinha sido,
quem tinha mandado.

Mas � preciso julg�-los
em tribunal e provar isso.

Era um grande fardo.

N�o havia testemunhas.

Est�vamos desesperados
para construir um caso como pud�ssemos.

Uma fam�lia do crime
� como gerir um neg�cio.

Temos de reunir e discutir coisas,
receber o dinheiro, enviar ordens,

cometer crimes.

Come��mos a vigiar o John Gotti de perto
e not�mos que ele reunia em conselho

no Bergin Clube de Ca�a e Pesca,
em Queens.

Todas as fam�lias da m�fia tinham um clube
e o John Gotti tinha o Clube Bergin.

O meu pai levou-me l�
quando eu tinha 12 ou 13 anos.

Foi quando comecei a entender

o que o meu pai fazia,
quem ele era, que era da m�fia.

O Clube Bergin era o nosso escrit�rio.

Socializ�vamos e fal�vamos de crimes.

Come��vamos o dia no clube
a comer bolos e a tomar caf�,

depois saque�vamos Nova Iorque
durante o resto do dia.

Sempre quis ter um microfone,
pois via estes tipos a entrar num clube.

Sabia que falavam.

Queria gravar essa conversa.

Mas � ilegal.
� mais f�cil falar do que fazer.

Uma das maiores dificuldades
foi que todas as ag�ncias policiais

queriam uma parte dos louros.

Fizemos um acordo com a Pol�cia de NI,

Todos estavam l�.

A EQUIPA CONTRA O CRIME ORGANIZADO

A Equipa Contra o Crime Organizado
n�o tinha os recursos do FBI.

O FBI era
como a Terceira Divis�o dos Fuzileiros.

Tinham homens, dinheiro.

Tinham tudo o que precisavas.

A Equipa Contra o Crime Organizado
era como uma for�a especial.

Faz�amos as coisas mais r�pido.

�ramos pequenos. �ramos �geis.

E torn�mo-nos concorrentes do FBI.

Ent�o, o FBI decidiu
fazer tudo para recuperar o atraso.

A nossa investiga��o estava
um ou dois passos � frente do FBI,

pois t�nhamos uma causa prov�vel

e conseguimos
p�r uma escuta no Clube Bergin

sete meses antes
de o Paul Castellano ser morto.

DEZEMBRO DE 1985

ABRIL DE 1985

Nos anos 80, quando segu�amos mafiosos,
n�o era uma tarefa f�cil.

Desde que sa�am de casa
at� voltarem � noite,

eles estavam sempre desconfiados.

Mas a maioria das pessoas s�o criaturas
de h�bitos, como o John Gotti.

Ele sa�a de casa � mesma hora diariamente.

Ia diariamente ao mesmo s�tio,

o Clube de Ca�a e Pesca de Bergin,
na 101.� Avenida.

Como sab�amos que o Gotti
era um novato em ascens�o,

ach�vamos que valia a pena
investir o nosso tempo e dinheiro.

Sab�amos que toda a gente tinha tentado
p�r uma escuta no Clube Bergin.

A Procuradoria de Queens
e o FBI fracassaram.

Por isso, ach�mos melhor
ter muito cuidado.

N�s �ramos os desconhecidos na vizinhan�a.

�ramos como um peda�o de carv�o
num campo de algod�o.

As pessoas desconfiavam
que havia equipamentos de vigil�ncia.

Ent�o, tive de criar uma cena.

Um investigador estacionava
rotineiramente uma carrinha

numa rua ao lado do Clube Bergin.

E deixava caixas de cart�o na rua
para o homem do lixo levar.

As pessoas habituaram-se a v�-lo.

E ele tomava caf�
num caf� do outro lado da rua,

lia o jornal,
entrava no cami�o e ia-se embora.

Tornou-se uma rotina
conhecida pelas outras pessoas.

Deve ter durado um m�s.

SEGUNDA, 06/05/85

SEGUNDA, 13/05/85

Chegou o dia em que decidimos agir.

T�nhamos um tipo
que abria fechaduras como ningu�m.

Naquela tarde, o inspetor
p�s uma caixa de frigor�fico

perto da porta.

A ideia da caixa era que quem passasse

achasse que fosse uma caixa vazia.

Dentro da caixa�

� estava o tipo da fechadura.

Um lado da caixa tinha um buraco.

Assim que a porta foi destrancada,
ele avisou-nos.

A equipa foi colocar as escutas no local.

Eu era um vigia.

Conseguia ver a frente do local.

Ao entrar, primeiro avaliamos o s�tio.

Qual � o local mais prov�vel
para as pessoas se reunirem

e podermos ouvir as conversas?

Havia uma porta
que dava para a sala das traseiras.

Parecia uma barbearia.

Estava tudo organizado,
com uma cadeira de barbeiro normal,

com o telefone ao lado.

Era claramente onde o John se sentava.

Conhecendo a personalidade dele.
Todos estavam abaixo dele.

Pusemos uma escuta l�.

Estavam l� dentro cerca de 20, 25 minutos

quando, de repente, passou um carro.

E ficaram l�, a olhar para o Clube Bergin.

Era uma situa��o muito prec�ria

e avisei a equipa�

Algu�m est� desconfiado

e v�o receber visitas.

Ouvimos algu�m a tentar abrir a porta.

Iam entrar? Estavam armados?

Disse: "Ningu�m se mexa. Somos os ladr�es.

Vamos ver o que fazem."

Decidi virar a esquina.

Por alguma raz�o desconhecida,
eles seguiram-me.

E seguiram-me cerca de 1 km.

A equipa terminou o trabalho
muito depressa.

E, como ladr�es � noite, deram � sola.

T�nhamos a escuta.

O nosso analista, Greg Stasiuk,

ouviu e extraiu informa��es.

Numa das primeiras conversas que ouvi,

ouvi-os a falar de matar algu�m.

Pensei: "N�o acredito
que falam abertamente. Incr�vel!"

Precisariam de um ex�rcito.

E teria os federais � perna.

Mas o som n�o estava certo.

Parecia estranho.

Big Boy Fritz.
Est� tudo pronto. Est�o prontos para ti.

N�o havia ningu�m na sala.

Era um filme sobre a m�fia na TV.
Eram apenas pessoas a falar na TV.

Finalmente, ouvi a voz do John Gotti.

Tens de aprender a manter a boca fechada.

A voz dele tinha presen�a.

Queres tomates?

N�o comas tomates de estufa.
S�o laranjas e insossos.

Temos 90 segundos para determinar
se a conversa � criminosa ou n�o.

Depois, temos de parar
de gravar e de ouvir.

E, talvez dois minutos depois,
eles voltam.

Eles t�m tomates de Israel
dessa �poca do ano.

Eles t�m o que quiseres.

Durante esses 90 segundos,
ele assobiava ou� Coisas bem aborrecidas.

Tens de provar
o piment�o recheado da mulher dele.

Tens de ver como ela os recheia. Esquece.

Mas dava para topar algo,
mesmo durante os 90 segundos.

Bobby, de quem foi
o casamento no fim de semana?

Do filho do Frank DeCicco.

- De quem parecia ser?
- O teu.

Pela conversa, todos o viam
como um novato em ascens�o.

Era admirado pelos seus homens.

H� um idiota, o John Gotti.

Posso ser chato como a potassa,
mas sou um amigo.

Ele sempre foi inteligente,
elegante, engra�ado.

Tinha uma presen�a.

Parecia atrair as pessoas.

Eu adorava ver os jogos
quando apostava. N�o posso.

A irrita��o consome-me.

Notava-se que John Gotti
era viciado em jogos de azar.

Oitava corrida, e a largada foi dada.

Eu poderia preencher toda a enciclop�dia

com as formas de perder um jogo.
Teria sido um best-seller.

A ordem judicial inicial permite
fazer vigil�ncia eletr�nica por 30 dias,

depois � preciso renov�-la.

� preciso encontrar crimes nas conversas

para renovar a vigil�ncia eletr�nica.

O problema era que, como o Gotti jogava,

a linha entre o que era legal
e ilegal era t�nue.

N�o � ilegal apostar.

Gerir uma opera��o de apostas
� que � ilegal em Nova Iorque.

� 175 metros. Nova Inglaterra
com dois touchdowns em 15 segundos!

Decidimos que n�o valia a pena
manter a escuta l�.

Ent�o, notific�mos o tribunal
e interrompemos o processo de escuta.

N�o ouvimos nada que indicasse

que Gotti planeava atacar Castellano.

OUTUBRO DE 1985

DEZEMBRO DE 1985

A hist�ria principal continua a ser
a execu��o de Paul Castellano.

Uma funer�ria de Brooklyn
est� cheia de flores

para o vel�rio de Castellano,

sem d�vida algumas enviadas pelo mandante.

A pol�cia concentra-se no homem
que acredita ser quem mais beneficiaria

com a morte de Castellano,

o alegado capo da fam�lia Gambino
e poss�vel sucessor, John Gotti.

Ap�s o ataque, uma semana depois,
os capit�es encontraram-se.

Votaram no John, que deu
uma grande festa de Natal no El Carib.

A melhor forma de explicar

� quando as estrelas de cinema
esperam pelo �scar.

As fam�lias e toda a gente aguarda.

"Vamos, hoje � a grande noite."

E estava lotado. N�o dava para entrar.

Todos queriam engraxar o John.

Foi a fam�lia toda.
Estavam l� uns 300 tipos.

Eu inclu�do.
Foi a� que ele assumiu o papel de chefe.

Ele entrou com muita pose.

Ombros para tr�s,
muita confian�a, personalidade forte.

Todos iam ter com ele.

"John, parab�ns." Beijos, apertos de m�o.

"Parab�ns."

Adorei. Ele estava no meu bairro.

Eu tinha uma boa rela��o com o chefe.

Ele gostava de mim.

Era um ambiente feliz.

Vejam a cara deste homem.
Ele pode ser o novo padrinho.

A pol�cia acredita
que tamb�m pode estar por tr�s disto.

Ele chama-se John Gotti.

� um membro da fam�lia do crime Gambino,

a fam�lia que Castellano geria.

Quando v�amos a foto,
ela destacava-se logo.

Ele era um tipo atraente.

Come��mos a pesquisar.

Descobrimos que era vendedor
de produtos de canaliza��o,

segundo o seu cart�o de visitas.
Ganhava 25 mil d�lares por ano.

Mas andava num Mercedes de 60 mil d�lares.

POL�CIA INVESTIGA HOMEM DE QUEENS

Ap�s a morte
de Castellano e Tommy Bilotti,

ouvimos as cassetes
para ver se havia alguma informa��o

que indicasse o envolvimento
de John Gotti nas mortes de Tommy e Paul.

O inspetor marcou algumas
das grava��es como inaud�veis.

Tivemos de rever todas as cassetes,

principalmente as inaud�veis.

E foi a� que come��mos a juntar as pe�as.

Reconhecemos que, no in�cio do ver�o,

havia muita tens�o na fam�lia Gambino,

entre Paul Castellano e John Gotti.

Esse cabr�o deixou-me fodido.
Estamos fartos desse merdas.

Ele que se foda.

Paul, mete-te na tua vida.

O Paul Castellano tinha um decreto

que dizia que,
se vendesses drogas, serias morto.

E essa foi a base

do problema do John Gotti
no in�cio daquele ver�o.

Dois tipos da equipa do John
traficavam droga.

Um era o irm�o
e o outro o seu melhor amigo.

Eles foram presos
e acusados de tr�fico de droga.

- Saiam da frente.
- Saiam.

Havia um c�digo na m�fia.

N�o se traficava droga,
porque podias ser preso

e apanhar 30, 40, 50 anos.

Alguns apanhavam pris�o perp�tua.

Isso permitiu que o governo sugerisse:

"Queres apanhar perp�tua
ou ser uma testemunha ou informador?"

A M�FIA APANHA-TE SEMPRE

Quem traficava era morto.

Muitos rapazes seguiam as regras
e n�o ganhavam dinheiro.

Mas os jovens
estavam a ganhar muito dinheiro.

Eu traficava hero�na e coca�na.

Na altura, ganhava 20 mil por semana.
Era uma fortuna.

O Sal foi o melhor contacto de coca�na,
pois nunca me cobrava e tinha sempre coca.

Toda a gente vendia droga.

Era uma regra que ningu�m cumpria.

Exceto tipos como o meu pai,
tipos da velha guarda.

Tipos vinham ter com o meu pai
com malas cheias de hero�na

e diziam: "Andy, vai ganhar 200 mil."

E ele: "N�o quero essa merda."
E eu: "Aceita. Est�s a gozar?"

"N�o quero. Isso atrai morte."

"�s um assassino. Preocupas-te com isso?"

Ele: "Serei o tipo que matar�o.

Serei o tipo que servir� de exemplo."

A equipa do John
reconheceu que estavam em apuros

e o dia do ajuste de contas
estava a chegar.

Est�o todos assustados, John.

Que se fodam.
Tenho medo quando aposto em tr�s jogos

e perco os tr�s. Ent�o, fico borrado.

O que me importa esta treta?

O John rodeava-se de tipos duros.

Porque ele sabia o que ia fazer

e queria ser forte.

Talvez uma semana ou duas
antes do Paul Castellano ser morto,

o Paul menosprezou o John

e nomeou Tommy Bilotti como subchefe.

Esse foi o grande erro.

O John disse: "Est�o a brincar comigo?"

O John achava que era o pr�ximo.

N�o te queremos a ti nem ao Bilotti.

Para o John, isso foi a gota de �gua.

Se eu sou o John Gotti, vou sentar-me.

Digo: "Olha-me este.
Quer matar o meu irm�o.

Em vez de me nomear subchefe,
ele nomeou o Tommy Bilotti.

Eles vir�o atr�s de mim."

Aquele cabr�o.

Ele � um cabr�o. E � tudo o que ser�.

Cabr�o de merda.

O Paul Castellano
sabia que o John era uma amea�a

e queria o John fora de cena.

Ele comentou com algu�m
que trataria do John Gotti,

logo ap�s o Natal.

O John Gotti � um g�ngster.

O John Gotti est�-se a cagar para o Natal.

Era matar ou morrer.
E isso foi a gota de �gua.

Houve uma grava��o em particular
gravada em junho de 1985.

N�o dava para ouvir bem.

INAUD�VEL

VOLTAR � PAUSAR � GRAVAR

J� a t�nhamos ouvido,
mas n�o prest�mos muita aten��o.

Mas ouvimo-la vezes sem conta.

Sabes o que vamos fazer?
O Tommy e o outro tipo�

O Tommy e o outro tipo�

� v�o ser limpos.

� v�o ser limpos.

Sabes o que vamos fazer?
O Tommy e o outro v�o ser limpos.

Fic�mos entusiasmados.

Agora t�nhamos
a conversa sobre um poss�vel crime.

Em dezembro de 1985, Paul Castellano
e Tommy Bilotti s�o mortos.

John Gotti tornou-se o alvo principal.

O FBI

Est�vamos a vigiar o John.

Mas o John Gotti
j� n�o sa�a mais � rua e matava algu�m.

Mandava algu�m fazer isso.

Tinha de descobrir
como conseguir essa prova.

� preciso escutar
um tipo como o John Gotti

para o prender.

A inten��o era tentar p�r
uma escuta no Clube Bergin.

Descobrimos que a ECCO
fez isso antes de n�s.

� o pre�o que se paga
por ir atr�s do John Gotti.

H� muitos egos envolvidos,
outros que o queriam apanhar.

� um grande caso
para um procurador ou agente.

O Bruce tinha apenas um foco,

a fam�lia Gambino.

N�o havia nada mais importante
no mundo e era o foco dele.

E o quintal dele n�o era da nossa conta.

Era tipo�

N�o gostavam de n�s.

N�o fal�vamos com eles
e n�o vou falar disso.

�ramos os �nicos em jogo
em Nova Iorque, na altura,

e avan�ar�amos com o nosso caso.

A 26 de dezembro, lig�mos
as escutas no Clube Bergin de novo.

Volt�mos a ouvir o John Gotti.

E saiu-nos a sorte grande.

Grav�mos conversas
que mais ningu�m poderia ter

logo ap�s ele se tornar chefe.

Ele n�o deixava espa�o para disc�rdia.

Achas que est�s a lidar
com um tolo? Ouve-me.

Eu podia acabar com os capit�es
sem passar dos limites.

Um novo chefe faz isso.

O John Gotti
fez com que as pessoas o elogiassem.

Ele disse: "John, eu sempre soube.
Quando eras novo, serias o nosso chefe.

Que orgulho! Juro por Deus.
Tu �s Jesus Cristo. Sabes?"

Ele descobria tudo
o que dava dinheiro a Paul Castellano.

� isso.

� isso?

Parece que tens 50 milh�es de d�lares.

Ouvimos grandes conversas
dele a falar de dinheiro

que vinha do cais,
que vinha do Clube do Bet�o,

que vinha de todos os capit�es,
de todos os soldados.

E o melhor � que ele
os chamava pelos nomes completos.

Joe Butch. Frankie DeCicco. Joe Gallo.

Jimmy Coonan. Bobby Kabert. Tony Lee.
Sonny Ciccone. Tommy Gambino.

Est�vamos a ver
que a lagarta tinha sa�do do casulo,

agora era borboleta.

O chefe da fam�lia Gambino.

Ouvimos todas aquelas conversas.

Quando o John se tornou chefe,
�ramos os donos da cidade.

Cada estrato social, sindicato, neg�cio.

N�o podias p�r tijolos, cimento.
Eles estavam metidos em tudo.

Conhe�o donos de grandes empresas
que foram extorquidos.

Eles pagavam. Estavam com medo
porque este tipo era assustador.

N�o para n�s.

Para n�s, era �timo. Era excelente!

Ganh�vamos 90 mil,
100 mil d�lares em neg�cios diariamente.

Todos os dias. Era muito dinheiro.

A lei vai ser dura connosco, est� bem?

Se eu conseguir andar um ano
sem ser interrompido,

vou montar um esquema
que nunca v�o conseguir fechar.

Nem destruir, mesmo que morramos.

- Vai ser bom.
- � um legado e tanto.

Ap�s o homic�dio de Paul Castellano,
John Gotti n�o foi acusado.

O advogado de John Gotti disse

que os federais n�o perguntaram nada.

Nem pediram um interrogat�rio.

Mas surgiu um caso antigo
e insignificante de agress�o

sobre um lugar de estacionamento.

Gotti tinha um caso pendente
em Queens, a sua terra natal.

Envolvia um reparador de frigor�ficos
chamado Romual Piecyk.

FEVEREIRO DE 1986

Cerca de 18 meses
antes do homic�dio de Castellano, em 1984,

Piecyk conduzia
do trabalho para casa, em Queens,

e um carro bloqueou-lhe o caminho na rua.

Ent�o, ele come�ou a buzinar.

N�O ESTACIONE, N�O PARE!

John Gotti deu-lhe um soco
e os dois lutaram na rua.

LUTA
ENGARRAFAMENTO

Pens�mos: "Ele foi t�o est�pido
para bater em algu�m em plena luz do dia?"

Ele estava irritado naquele dia.

Piecyk ficou muito irritado
e foi chamar alguns pol�cias.

Encontraram o John Gotti e o amigo dele,
e os dois foram presos.

Quatro pol�cias prenderam Gotti

v�rios minutos ap�s a agress�o.

Isto foi em 1984.

Avancemos para o in�cio de 1986.

FEVEREIRO DE 1986
PRIMEIRO JULGAMENTO

O procurador de Queens queria levar
este caso de agress�o e roubo a tribunal.

Eu era procurador na Procuradoria.

Foi o caso mais simples
a envolver um mafioso que pod�amos ter.

Havia uma testemunha.
Foram presos minutos ap�s a ocorr�ncia.

N�o t�nhamos receio de prejudicar
o caso do homic�dio de Castellano.

At� os nossos informadores se riram disso.

Embora n�o parecesse assim t�o grave,

vendo o cadastro de John Gotti,
com o aumento da senten�a,

por ser reincidente,
ele apanharia at� 15 anos de pris�o.

Para ele, se fosse condenado, seria grave.

O caso foi a julgamento
quando o John Gotti era um capo,

ele era um dos 20
ou 30 capit�es da fam�lia.

Consegue imaginar?

Apresenta queixa
contra algu�m que nem conhece,

porque o atacaram na rua,

e descobre que ele � o novo padrinho.

NOVO PADRINHO CHEFIA O BANDO DOS GAMBINO

Na prepara��o para o julgamento,
tentei contactar o Romual Piecyk.

N�o havia Romual Piecyk.
N�o o encontrei em lado nenhum.

Ele n�o vivia no mesmo local.
Os contactos dele n�o funcionavam.

Eu n�o tinha testemunha.

O caso dependia
do depoimento do Romual Piecyk.

Foi como se tivesse desaparecido
da face da Terra. Desapareceu.

Competia-nos achar,
atormentar e matar testemunhas.

O meu pai dizia:
"N�o se ganha dinheiro na pris�o."

Quando algu�m nos mete em sarilhos,

faremos tudo para ficarmos livres.

URG�NCIAS

Por fim, a pol�cia encontrou-o
num hospital do condado de Nassau.

TESTEMUNHA CONTRA GOTTI HOSPITALIZADA

Quando o vi com o bra�o ligado,
o que era �bvio?

Era como se fosse um filme mau.

Dizem que ele � um padrinho de renome.

Ele j� n�o queria testemunhar.

Ele n�o teve escolha.

Era uma testemunha a ser obrigada a depor.

JULGAMENTO DO PADRINHO

Romual Piecyk e a mulher Jeanette
vivem com medo

desde que ele acusou este homem,
o chefe da fam�lia do crime Gambino,

John Gotti, h� 18 meses.

Era uma situa��o feita para os m�dia.

A� vinha o John Gotti ao tribunal.

Finalmente, o tipo que nos disseram
que mandou matar o chefe da m�fia

est� � nossa frente.

Ele era um estere�tipo.

Parecia o padrinho.
Ele vestia-se como o padrinho.

L� estava ele, o padrinho.

A m�fia antes de John Gotti

parecia sempre ser de velhotes
com fatos amarrotados ou fatos de treino.

E n�o muito atraentes.

E ele chegou como uma estrela de cinema.

Entrou com um fato de 2 mil d�lares,

com uma gravata pintada � m�o,
anel no dedo mindinho, penteado perfeito.

Muito ciente da imprensa.

Muito ciente de como pareceria ao p�blico.

- Algo a dizer sobre este caso?
- N�o.

Sobre as acusa��es contra si.
Dizem que assustaram o homem?

Ele n�o me parece assustado.

Ele n�o era como os outros chefes da m�fia

e gostava dos holofotes.
N�o se escondia. Ele n�o dizia:

"Sai da frente." Ele n�o te afastava.

Ele passava

como se o Mar Vermelho
se abrisse para John Gotti.

C�maras por todo o lado.

"Aqui estou.
Vou ficar em primeiro plano. Obrigado."

Est�o confusos.

Piecyk estava no banco das testemunhas

e eu perguntei-lhe,

"Olhe � volta do tribunal, Sr. Piecyk.

Consegue identificar
quem acabou de descrever?"

Ele olhou para o teto.

Estavam � frente dele.

Em vez de apontar e dizer:
"Voc�s fizeram-me isto,

por isso estamos aqui",
ele disse: "N�o sei."

Uma testemunha no julgamento de John Gotti

teve amn�sia no banco das testemunhas.

Acredita que a testemunha
foi coagida de alguma forma?

Acredito que ele tem medo
e que testemunhou com medo de morrer.

A ju�za Ann Duffice rejeitou
as acusa��es de agress�o contra Gotti.

- N�o est�o confusos.
- Algum coment�rio?

Ap�s o depoimento,

o New York Post
publicou uma manchete cl�ssica.

"I Forgotti."

E nasceu uma lenda.

Depois disso, foi uma cobertura
ininterrupta de John Gotti.

GOTTI SAFOU-SE

Gotti preencheu o vazio.

Gotti ganhou destaque em Nova Iorque

numa altura em que havia
uma crise de sem-abrigo,

uma epidemia de crack,

Reagan acabava com os sindicatos

e o in�cio da desigualdade econ�mica.

As not�cias eram sombrias
na Nova Iorque dos anos 80.

Ent�o, quando algu�m surge
e parece um super-her�i,

n�s gostamos dele.
Ele passou-lhes a perna.

Nova Iorque gosta disso.
Ele passou-lhes a perna.

Ele apareceu na capa da New York Magazine.

Ele tinha poder, alcance.

E continuou a ter destaque sem parar.

Foi o in�cio da era dos tabloides
e as pessoas ficaram fascinadas.

Foi feito para os tabloides.
Foi feito para esta cidade.

Foi feito para a imagina��o do p�blico.

Foi o que Gotti fez.
Ele capturou a imagina��o do p�blico.

Os m�dia ajudaram a constru�-lo.

Os mafiosos s�o egoc�ntricos.

O John era egoc�ntrico.

Uma coisa sobre os mafiosos, at� para mim,

mentem quando dizem
que n�o gostam de aten��o.

Adoram ver os nomes deles no jornal.

Quando o meu nome apareceu
num jornal, fiquei radiante.

Naquela sexta-feira, pensei: "Meu Deus!"

Eu parecia uma celebridade.
O John tamb�m se sentia assim.

Caguei para o que dizem.
Sei quem � quem nesta cidade.

Ent�o, sim, foi empolgante�

Mas todos acab�mos por pagar o pre�o.

O FBI

Chega-se a um ponto da investiga��o

onde n�o temos o que fazer.
Seguimos as pistas

e vimos que s� o resolver�amos
se houvesse uma revela��o.

Havia conversas criminosas,
mas n�o bastavam

para termos um caso que pud�ssemos ganhar.

O governo diz que Gotti
lidera a fam�lia Gambino,

a maior m�fia do pa�s.

Mas Gotti � um homem livre.

Quando John Gotti se tornou
o chefe da fam�lia Gambino,

o FBI n�o tinha um caso contra ele.

A ECCO n�o tinha um caso contra ele.

Mas n�s t�nhamos.

T�nhamos um bom caso contra ele
e �amos process�-lo.

Chamo-me Diane Giacalone
e era procuradora-adjunta dos EUA

no distrito leste de Nova Iorque.

O DEPARTAMENTO DE JUSTI�A

O padrinho tem um grande problema hoje.
John Gotti pode ser preso numa semana.

O julgamento de Piecyk
foi o aperitivo antes da entrada.

A entrada veio e era o julgamento federal

no distrito leste de Brooklyn,
o governo dos EUA contra John Gotti.

As acusa��es eram homic�dio,
apostas ilegais,

agiotagem e roubo de cami�o.

Um juiz decidiu que Gotti e outros sete

enfrentar�o acusa��es
de extors�o em abril.

O governo apanhou-o.

CRIME ORGANIZADO

APOSTAS ILEGAIS

O meu pai olhou para o jornal e disse:

"Acabou-se tudo. Estamos feitos."

Desculpe, John.

T�nhamos provas
para condenar o John Gotti e os capangas.

Mas n�o est�vamos preparados
para o fogo cruzado que se seguiu.

Legendas: Nuno Oliveira