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BEM-VINDO DE VOLTA

Todos sabem
sobre o assassinato de Jill Dando

na porta de sua casa.

Está ansiosa com a nova fase
que vem pela frente?

Jill era uma pessoa muito otimista

e ela iria querer
que fizéssemos algo positivo.

Se passou um ano inteiro
desde que Jill foi morta

e não tinham encontrado o culpado.

Como você está?
O tempo cura tudo. Está melhor?

Muitas pessoas me deram apoio.

Ela era a queridinha da Grã-Bretanha.

É inacreditável
que não conseguiram encontrar

o assassino de Jill Dando.

Eu estava me arrumando
para um encontro da igreja.

Vamos às notícias de hoje.

O homem detido pela Scotland Yard
suspeito de assassinar

a apresentadora da BBC Jill Dando…

Escutei a notícia
de que alguém havia sido preso.

…mora perto da antiga casa da Srta. Dando.

Achei maravilhoso que, finalmente,

alguém seria responsabilizado
pela morte da Jill.

A polícia coletou itens
da casa dele para análise.

E então o repórter falou o nome dele…

…Barry Bulsara.

Fiquei sem reação.

Eu pensei: "Não pode ser
o mesmo Barry Bulsara.

Isso é loucura.

É o meu irmão.

Será que foi ele?"

O ASSASSINATO DE JILL DANDO

Hoje, a Scotland Yard emitiu
uma declaração de que prenderam

um suspeito do homicídio.

DELEGACIA

A Scotland Yard não confirmou
a identidade do homem.

DELEGACIA DE HAMMERSMITH

Foi um grande avanço prender o homem

suspeito de matar Jill Dando.

É 27.

Escrevi nos meus registros:
"Temo que o doente, o solitário…

o apaixonado, o psicopata,

o perturbado ou o obcecado
tenha sido o responsável."

Barry George era tudo isso.

O assassinato
de Jill Dando era considerado

um dos maiores casos…

INVESTIGADOR-CHEFE

…da Polícia Metropolitana.

Quatro mil pessoas foram interrogadas
de um jeito ou de outro.

Então, eu estava focado
em prender o culpado.

INTERROGATÓRIO DE BARRY GEORGE
1º DIA

Você tem uma arma?

Réplica.

Então você tem uma réplica de uma arma?

Sim, senhor.

O interessante foi
que ele respondeu às perguntas

durante o interrogatório.

Não era uma arma. Era uma réplica.

Muitos interrogados por homicídio
não responderiam.

Barry, vou fazer algumas perguntas.

Só quero que tente se lembrar

de como foi
quando você foi detido e preso.

A polícia queria falar comigo.

Eu não sabia o motivo,

porque eu não havia cometido nenhum crime.

Você conhecia a Jill Dando?

Nunca a vi na minha vida.
Não sabia quem era.

A polícia me interrogou várias vezes.

Eu realmente não sabia quem ela era.

Você comprou uma G145 8mm,
automática, de festim?

Não, senhor.

- Já teve uma dessas?
- Não, senhor.

- Já manuseou uma?
- Não, senhor.

- Já atirou com uma?
- Não, senhor.

Sabíamos que ele estava mentindo.

Havia uma foto de George
segurando uma arma

do mesmo tipo da que supostamente
teria matado Jill Dando.

Reconhece a pessoa na foto?

Não era eu na foto.

Quem você acha que é?

Pode ser qualquer um.

É uma foto sua, Sr. George.

Boa noite. A polícia,
em busca do assassino

da apresentadora Jill Dando,
deteve o dia inteiro um homem…

Suspeito de assassinar ano passado

a famosa apresentadora, Jill Dando.

SEDE DO DAILY MIRROR
CANARY WHARF, LONDRES

A notícia da prisão de Barry George
foi quase tão grande…

EX-REPÓRTER CRIMINAL

…quanto a notícia da morte de Jill Dando.

Meus chefes queriam saber tudo:

quem era esse cara
e cada pequeno detalhe de sua vida.

Comecei a ligar para meus contatos.

Finalmente, consegui falar com alguém,

e minha fonte estava no topo do comando.

Ele me disse:
"É um cara chamado Barry Bulsara."

Eu disse: "Barry Bulsara?
É algum parente do Freddie Mercury?"

Eu sabia que seu nome verdadeiro
era Bulsara, um nome bem incomum.

E pensei: "Não pode ser coincidência."

A análise forense da casa do suspeito
e de seu conteúdo

vai continuar durante o resto do dia.

Estava em todos os jornais e canais.

A polícia diz ser um avanço significativo

na investigação que já dura 13 meses.

Os jornalistas não paravam de me ligar…

AGENTE DA JILL

…tentando conseguir uma declaração.

A polícia ainda está interrogando o homem.

Para mim, estava claro
que era o maior evento do ano.

Depois de 24 horas,
eles podem solicitar mais tempo

para interrogá-lo.

Os representantes
de Freddie Mercury diziam:

"Ele não tem um primo chamado Barry

e não sabemos quem é esse cara."

A família do cantor negou o parentesco.

Então pensei: "O que vamos dizer?

Que o cara é um fantasista?"
E ele falou: "Bom, vamos dizer

que ele não parece ser uma pessoa sã."

CORK
IRLANDA

Foi um alívio ninguém saber…

IRMÃ DE BARRY GEORGE

…que o sobrenome dele era George.

Somos uma família comum.

Essas coisas não acontecem
com pessoas comuns.

Achei que tudo se acalmaria,

e não teríamos que contar a ninguém
que isso aconteceu.

Acreditei que fosse um engano.

Eles logo perceberiam
que era o cara errado e o soltariam.

INTERROGATÓRIO DE BARRY GEORGE
2º DIA

É importante dar a todos
a chance de serem inocentes

e deixar que provem isso,

porque eles logo vão revelar se não forem.

- Você está mentindo?
- Não, senhor.

- É primo do Freddie Mercury?
- Não, senhor.

Já falou para as pessoas
que era primo dele?

Já, senhor.

- E é mentira?
- Sim, senhor.

As coisas foram de mal a pior.

Eu pensava: "Estão tentando me incriminar,

me usar como bode expiatório.
Simples assim."

Qual seu interesse na Jill Dando?

Não tenho nenhum interesse nela.

Eu não sabia quem ela era.

Você sabe quem era Jill Dando?

Até a morte dela, eu não fazia ideia.

Barry George dizer
que não conhecia Jill Dando,

que nunca tinha ouvido falar dela,
era mentira.

Encontramos fotos
de apresentadoras no apartamento dele.

ENCONTREI O AMOR FORA DA TV

As pessoas curtem celebridades.

Elas caçam autógrafos e vão às locações.

Mas o interesse de Barry George
parecia privado, quase um segredo.

Ele sabia quem era Jill Dando.

Era frustrante e difícil.

Apesar de todas
as informações encontradas,

não havia nada na época

que poderia ser usado
para acusar George de homicídio.

Tínhamos o máximo de 96 horas de custódia.

Ele teria que ser acusado ou solto.

O público que assiste a programas como CSI

quer as provas irrefutáveis, concretas,

que, na realidade, nem sempre existem.

AGENTE RESPONSÁVEL PELAS PROVAS

A investigação é metodologia e processo.

CANO RAIADO
CANO LISO

Voltei às provas forenses.

Fiz uma busca na casa dele.
Encontramos um casaco.

Um casaco comprido que era muito parecido

com o que as testemunhas descreveram
ter sido usado pelo atirador.

Foi fotografado no laboratório
e enviado para análise forense.

Supostamente, o casaco
que coletaram como prova

era um casaco preto
de caxemira como este aqui.

E se fosse do criminoso,
haveria traços de caxemira e lã.

Muitas fibras.

O material forense desgasta rapidamente.

Então a chance de ter sangue,

fibras ou resíduos de disparo
de arma de fogo era mínima,

porque estávamos um ano atrasados.

Se não achássemos uma prova

que ligasse George à cena do crime,

ele teria que ser solto.

E então recebemos o relatório.

O laboratório encontrou
um único resíduo de disparo

no bolso do casaco comprido.

George teve contato
com resíduos de disparo de arma de fogo.

E, de todos os tipos que poderiam ser,

a partícula era do mesmo tipo
da encontrada na cena do crime.

Isso mudou dramaticamente a investigação.

Como você explica o resíduo de disparo
no bolso do seu casaco, Sr. George?

O bolso do casaco
que você estaria vestindo

no dia que Jill Dando foi morta.
Como explica isso?

Não posso explicar.

Não tenho conhecimento.

Foi quando sua advogada
aconselhou a não comentar mais.

Agora tínhamos provas suficientes.

E ele foi acusado de matar Jill Dando.

Depois de quatro dias
na delegacia de Hammersmith,

o autoproclamado Barry Bulsara
foi acusado de homicídio

sob seu nome verdadeiro,
Barry Michael George.

O detetive liderando a investigação,
Hamish Campbell,

deixou a delegacia sem comentar nada.

O Sr. Bulsara foi levado
à cadeia no sul de Londres.

Hoje, Barry Bulsara vai passar
sua primeira noite na prisão

pelo assassinato de Jill Dando.

Eu estava em Cork,
numa loja de departamentos,

e recebi uma ligação da advogada de Barry.

Pensei que ela estava me ligando
para falar que iam soltá-lo.

Mas não foi isso que ela disse.

Ela disse: "Sinto muito.

Tenho que te contar que vão acusá-lo."

Ela disse: "Encontraram
resíduo de disparo no casaco dele."

Naquele momento,
me perguntei se havia sido ele.

PRESÍDIO DE BELMARSH
THAMESMEAD, LONDRES

Passei 32 anos na prisão
e estava cumprindo pena em Belmarsh.

Eu conhecia um jornalista
que trabalhava na Punch.

Ele me telefonou um dia
e disse que Barry George foi preso…

JORNALISTA

…por homicídio com uma arma de fogo.

"Você consegue uma entrevista?"

Eu disse: "Consigo."

Desliguei e me aproximei
de um guarda amigável.

Eu disse: "Barry George está aqui."
Ele disse: "É, no hospital."

Voltei para minha cela.
Meia hora depois, fingi um infarto.

Os guardas vieram correndo,
me levaram para o hospital,

e eu o reconheci das fotos dos jornais.

Tentei puxar assunto com ele.

Obviamente, não podia escrever nada

porque eu estava lá
por suspeita de infarto,

e suspeitariam se eu tivesse
um caderno e uma caneta.

A primeira pergunta que fiz foi:
"Qual é seu nome?"

E ele respondeu: "Barry."

Eu disse: "Certo. Você gosta de armas?"

Ele me olhou por um minuto e disse:
"Gosto de Guns N' Roses."

E lembro de pensar:
"Ele deve estar dopado."

Porque ele falava muito devagar.

E eu queria uma história interessante.

"Sim, eu matei Jill Dando."
Seria meu furo de reportagem.

"Você a matou?"

Ele respondeu que não.

E continuei: "Sabe quem foi morta?"
Ele disse: "Jill Dando."

Eu olhei para ele e pensei:

"Tem algo de errado com esse cara."

Enviei a entrevista
e disse: "Falei com ele.

Ele não é capaz de cometer
uma execução em plena luz do dia

e não falar sobre isso por um ano."

Não tinha como ele manter esse segredo.

Ver Barry por trás
daquela tela de acrílico

foi algo terrível.

Ele parecia muito vulnerável,
e não podíamos nos tocar,

mas ele colocou a mão contra o vidro,
e eu coloquei a minha.

Ele olhou em meus olhos
e disse: "Não fui eu."

E eu pensei: "Certo.
Isso é o suficiente para mim."

Eu disse: "Vamos lutar contra isso."

Precisávamos do melhor advogado possível.

Michael Mansfield, claquete 9.

ADVOGADO

Seria útil se pudesse listar

alguns dos grandes casos
em que você trabalhou.

Quanto tempo você tem?

Houve sérios atos de violência
feitos por policiais…

Michael Mansfield é
um proeminente advogado.

Ele representou os Seis de Birmingham.

Os Quatro de Guildford,
os Três de Tottenham…

O Domingo Sangrento no norte da Irlanda.
O desastre de Hillsborough.

Ainda não foi feita
uma investigação completa

dos acontecimentos.

Mohamed Al-Fayed e Diana.
Foi um caso grande.

Uma série de casos envolvendo
a comunidade negra,

e então isso culminou
na investigação do caso Lawrence.

Quando conheci o Barry,
levou um tempo para criar uma relação,

o que às vezes acontece.

Não entendi a seriedade

de como a mente dele funcionava.

Ele não respondia
como a maioria das pessoas.

Minha preocupação era se o caso
tinha sido influenciado pela teoria

de um homem solitário.

Qual é o caso contra ele?

Ele é uma figura esquisita,
ele é obcecado por mulheres,

mas não particularmente pela Jill.

Ele tinha interesse em armas.

E tudo isso produz um caso incontestável

de que ele é o culpado.

Não, ele não é.

Se eu fosse um policial,
minha abordagem seria outra.

Quase toda cena de crime
contém a resposta.

AVENIDA GOWAN, S.W.

Fui de bicicleta dar uma olhada.

O jardim é pequeno.

Daria uns cinco passos do portão.
É pouca coisa.

Entre o ponto
que ela fecha a porta do carro

e anda até a porta da frente
tem poucos metros.

Não pode ter sido apenas um atirador.

Tem que ter sido alguém
que já sabia do paradeiro dela.

Em qualquer cenário,
a teoria do Barry George como assassino

não funciona.

Ele tinha que estar
com a arma pronta para atirar

e agachado no jardim da frente
para que ela não o visse.

Ele teria que estar lá por horas.

Não é plausível.

Percebi que era uma injustiça.

O sentimento que tenho
não é de tristeza, e sim de raiva.

Quero fazer algo sobre isso.

Tive que me perguntar: "Isso está certo?"

É justo? Ele está apto para ser julgado,
entender o processo?

Pedi que ele fosse examinado
por psicólogos,

para fazer algum tipo de avaliação.

Fiquei sabendo que a equipe jurídica
estava com dificuldades com Barry George.

Michael Mansfield disse:
"Tem algo de errado aqui…

PSICÓLOGA CLÍNICA E FORENSE

…e precisamos avaliá-lo."

Meu pensamento foi:
"Como vai ser essa pessoa?"

Porque a imprensa toda só falava

do monstro que matou Jill Dando.

Mas, quando eu cheguei,
ele estava muito angustiado

e muito confuso.

Era extremo. Vinha tudo de uma vez.

Parecia uma avalanche de palavras.

"Eles fizeram isso e aquilo."

Descobri que ele tinha
um funcionamento intelectual limítrofe,

o que é extremamente baixo.

Sua memória operacional,
sua velocidade de processamento,

na verdade,
tudo estava no primeiro percentil.

Então 99% das pessoas teriam
um desempenho melhor do que o dele.

SEU NOME É BARRY BULSARA

Todos os jornais publicavam
informações sobre ele.

A VIDA FANTASIOSA DE BARRY GEORGE

O que encontramos foi algo bem excêntrico.

JORNALISTA E APRESENTADORA

Rapidamente ficou claro
que Barry George havia criado

um tipo de vida fantasiosa para si.

GEORGE FINGE
SER PRIMO DE FREDDIE MERCURY

Nos anos 80, ele foi multado
por fingir ser um policial.

Dizia às mulheres que era da Força Aérea
e do Serviço Aéreo Especial,

mas, na realidade,
ele havia sido rejeitado pelo Exército.

Você não é maluco?

Não.

Então surgiu essa gravação.

Nela, ele se chamava Steven Majors

e estava fazendo acrobacias
que envolviam passar por cima

de quatro ônibus de dois andares
usando patins.

Então você nunca fez algo assim antes?

Nunca foi feito no mundo.

Você não praticou em uma minirrampa?

Não.

Acho que ele deslocou a coluna,
fraturou o fêmur,

e você pensa: "É um grande fantasista."

Mas você poderia dizer
que esse era o homem

que se aproximou de Jill Dando
e atirou em sua cabeça a sangue-frio?

Este caso tem duas dimensões.

Uma é um culpado,

e a outra coisa
que precisamos entender são as provas.

Tem a balística, especificamente
a cápsula deixada pela bala.

Ela foi adaptada.

A crimpagem da cápsula é algo raro.

Alguém escreveu para a polícia,
tentando ajudar,

dizendo: "Conheço esse tipo de munição.

Servi no leste europeu nos Balcãs,

e a crimpagem é característica de lá."

Aí você se pergunta:
"Aonde isso te leva?" À Sérvia.

Havia uma conexão sérvia.

Bem ali na entrada.

E tinha acontecido antes.

BELGRADO
SÉRVIA

No início de abril,
mês do assassinato de Jill Dando,

outro jornalista também foi morto

do lado de fora de sua casa em Belgrado,
uns 11 dias antes.

O envolvimento do sérvio no assassinato
foi descartado.

Não há ligação
entre essas teorias especulativas

que nós…

Não estou zombando,

mas acho que a polícia não levou a sério

porque não houve investigação de verdade
sobre a conexão sérvia.

Tinha todas as características
de uma execução orquestrada,

que, pra mim,
aponta na direção oposta do Barry George.

Estou me empolgando?

NOVA SCOTLAND YARD

Grande parte do caso foi tentar investigar

algumas das mulheres
que estavam nas fotografias.

As fotos não reveladas.

Se eram só pra mim,
por que não as revelei?

Porque havia muitas fotos.

Eles disseram que eu…

Como foi que falaram?
Que eu perseguia pessoas.

Mas, se eu falasse com alguma pessoa,

e em algum momento ela não se sentisse
confortável na minha presença,

eu ia embora.

À medida que nos aproximávamos
do julgamento,

outros detalhes começaram a surgir.

Houve um aumento real no nível
de comportamentos perturbadores.

Fomos de um fantasista
inofensivo e excêntrico

para algo muito mais sinistro.

ATIVIDADE CRIMINAL

Houve uma prisão
por tentativa de estupro, abuso sexual.

Então, é claro, outra prova apareceu.

Ele era obcecado pela Princesa Diana

e foi pego na área
do Palácio de Kensington

com uma corda, equipamento de combate,
portando um facão de 30cm.

E naquela época,
a polícia pensou que era algo inofensivo,

o que, pra mim, é chocante.

Não era um comportamento normal.

Então, para a imprensa,
isso era outra peça do quebra-cabeça

que apontava a possibilidade
de Barry estar envolvido.

CENTRO DE LONDRES

Em maio passado,
Barry Michael George foi preso.

Hoje começa o julgamento no Old Bailey

e deve durar pelo menos
seis semanas. Ele nega o crime.

Eu era o repórter jurídico
do London Evening Standard.

Havia um desespero por informação…

EX-REPÓRTER JURÍDICO

…por conta do julgamento.

A rua em frente ao Old Bailey
estava repleta de jornalistas.

Parou o trânsito.
Era um grande evento midiático.

Dois anos e oito dias
depois do assassinato de Jill Dando,

seu noivo, Alan Farthing,
chegou ao Old Bailey.

Com ele, o irmão de Jill, Nigel,
e outros membros da família Dando.

Da família do réu,
Michelle Diskin, a irmã de Barry George.

George será defendido
por Michael Mansfield.

Foi a primeira aparição em público
de Barry George desde sua prisão,

o que foi algo grande,
porque todos queriam ver

o homem acusado de matar Jill Dando.

Me deixaram ficar perto de Barry.

Ele parecia completamente perdido.

Quando a promotoria começou
a resumir o caso,

pudemos ouvir mais detalhes

do que exatamente era
o caso contra Barry George.

Nas primeiras semanas
do julgamento, descobrimos

que a testemunha da Avenida Gowan
supostamente teria visto Barry George

naquela rua às 7h30.

Susan Mayes disse ter certeza
de ter visto o réu

perto da casa de Jill Dando.

A Sra. Mayes contou que o homem

parecia nervoso e tentou esconder o rosto.

Também descobrimos
que Barry George havia tentado

refazer seus próprios passos
naquela manhã.

No mesmo dia, George visitou
um centro de orientação chamado HAFAD.

Dois dias depois, ele voltou tentando
estabelecer a hora que esteve ali.

E pela visão da promotoria,
ele estava tentando criar um falso álibi.

E tinha, é claro,
a partícula de resíduo de disparo

que foi encontrada no bolso do casaco

e que, segundo a promotoria,
era prova de contato com uma arma de fogo.

Nos interrogatórios,
George não conseguia explicar

como a partícula foi parar em seu casaco,

e o júri ouviu
que era uma prova de sua culpa.

A promotoria alegou
que eu a empurrei para o chão

e coloquei a arma em sua cabeça.

Mas se eu a empurrei para o chão…

- Se importa de ser cobaia?
- Tudo bem.

Se eu te empurrasse…

- Você está olhando para porta…
- Sim.

- Colocando sua chave na porta.
- Sim.

Se eu te empurrasse, e alegaram

- que empurrei com a mão esquerda…
- Sim.

Haveria muito sangue
ou resíduo de disparo sobre o agressor.

Eles encontraram uma partícula, certo?

Caso encerrado.

Chegamos ao fim da acusação

e percebemos que isso era tudo que tinham.

A partícula de resíduo de disparo
era a prova bombástica,

mas, na verdade, todas as outras coisas,

apesar de desagradáveis,
eram muito circunstanciais.

Quando a promotoria acabou a acusação,
a dúvida era se seria o suficiente.

Há uma antiga máxima na Scotland Yard:

só depois que o Michael Mansfield
nos interrogar

sobre o conteúdo do caso

é que merecemos nosso lugar ali.

É claro, havia um nível de nervosismo,

porque não dá para enganar o Sr. Mansfield

nem fugir das perguntas dele.

Michael Mansfield uma vez disse que,

sempre que ele interroga
um policial no tribunal,

ele pensa: "Este homem está mentindo."

Então, o grande momento chegou:
Michael Mansfield

foi interrogar Hamish Campbell.

Era uma luta por controle.

Você encontrou
uma partícula de resíduo de disparo,

mas isso vale para o oposto, não é?

A ausência de partículas
nos outros lugares

do apartamento dele é importante.

George teve contato
com resíduo de disparo, com fulminante,

mas ele negou ter atirado
com qualquer tipo de arma por muitos anos.

Não há provas indicando
que ele possuía uma arma

que poderia ser a arma do caso.

A posse de armas,
cartões com informações sobre armas,

as revistas, o coldre.

Se tivessem investigado a conexão sérvia…

Nós investigamos a questão sérvia
com os serviços de segurança,

e nenhuma prova sugeria

que os sérvios ou o conflito com a OTAN
fossem os responsáveis.

O que provava a obsessão pela Jill Dando?

Ele pode ir até mulheres para conversar

e fingir ser o primo de Freddie Mercury,

mas isso não o torna um assassino.

Barry George era perfeitamente capaz
de cometer aquele crime.

Barry George não matou Jill Dando.

O advogado de defesa Michael Mansfield
sugeriu que a apresentadora do Crimewatch

foi assassinada
por um atirador do submundo

ou um sérvio armado em retaliação…

O Sr. Mansfield disse ao júri
que não há provas, desde os anos 80,

de que seu cliente possuía

ou havia comprado armas…

O Sr. Mansfield também apontou
que a polícia não encontrou

nenhuma prova forense de uma arma
no apartamento do Sr. George.

Eu já estava confiante
de que não seria uma condenação

porque, pelas provas,

era bem óbvio que não havia sido Barry.

O juiz levou três dias
para revisar todas as provas.

E então o júri foi enviado para deliberar.

O Sr. Justice Gage disse
para não terem pressa com o veredito

e pediu que seja uma decisão unânime.

Estávamos só esperando
pelo veredito no tribunal.

Fomos chamados de volta ao tribunal.

Disseram que tinham uma decisão.

Um membro do júri estava chorando,

e isso poderia significar muitas coisas.

O primeiro jurado se levantou.

Eu olhei nos olhos dele.

Então perguntaram:
"Vocês consideram Barry George

culpado ou inocente?"

A resposta foi…

Me consideraram culpado.

Como podem ter me condenado?

Olhei para o Barry.

E o olhar em seu rosto…

Era de uma pessoa desolada.

E então foi um caos.

Nesta tarde, no Old Bailey,
Barry George foi considerado culpado

pelo assassinato de Jill Dando.

O juiz disse a Barry George que suas ações
privaram o noivo, a família,

os amigos e o público de uma personalidade
muito amada e popular.

VEREDITO

Um homem misógino
foi sentenciado à prisão perpétua…

Dando fim ao caso
que chocou o país em 1999.

Você é imprevisível e perigoso,
e continuará assim por muito tempo.

Só pode haver uma sentença:
a prisão perpétua.

Enquanto Barry George começa
a cumprir a sua pena,

as pessoas se perguntam
o que fez um excêntrico inofensivo

virar um assassino frio?

CULPADO
PRISÃO PERPÉTUA

Barry George,
a pessoa que sempre buscou a fama,

de repente vira
o homem mais famoso da Grã-Bretanha.

Uma fama que ele provavelmente não queria,
mas com certeza levou.

Isso me afetou muito,
porque fizemos de tudo que podíamos.

Tínhamos demonstrado
um caso extremamente fraco.

Eu pensei: "O que eu fiz?
Eu acertei ou errei?"

Eu não tinha dúvidas,
e se as pessoas lerem as informações

e entenderem os fatos, como o júri fez,

terão certeza
de que Barry George é culpado.

Aquele veredito de culpado
foi visto como uma vitória.

Em nome da família da Jill,
eu gostaria de dizer

que aprecio o veredito de hoje.

Entendam que esses últimos dois anos

foram muito difíceis
para as pessoas próximas à Jill.

Mas ganhamos forças graças ao enorme apoio

das pessoas de todo o país
que amavam a Jill.

Como se sentiu na hora?

Não vou responder isso.

Por causa do que aconteceu a seguir.

IRLANDA
2023

Moro na Irlanda agora.

É calmo aqui.

Você é tratado como lixo
em Londres, mas aqui não.

- Um momento.
- Está bem.

- Pausa para tomar algo.
- Tomar algo.

Fiquei preso por oito anos.

Eu estava com a consciência limpa
e sabia que era inocente.

Eu levava um dia de cada vez.

Eu só mantinha
meus olhos e ouvidos atentos,

esperando escutar

algo bom.

E aconteceu.

Sou Raphael Rowe.

Sou jornalista investigativo.

Anos depois da condenação do Barry George…

JORNALISTA INVESTIGATIVO

…a irmã dele me procurou.

Ela queria minha ajuda

para mostrar que o irmão
havia sido condenado erroneamente.

Eu trabalhava no Panorama da BBC,

mas, quando eu tinha 20 anos,

fui condenado erroneamente
por assassinato e roubos.

Passei os próximos 12 anos
em prisões de segurança máxima.

Esperei muitos anos por isto.

A única razão de eu estar aqui agora
é por causa da minha irmã…

E Michelle foi convincente.

Ela parecia minha irmã

quando dizia: "Ajude meu irmão."

Isso me tocou.

SERVIÇO PENITENCIÁRIO

Não cometi este crime.

Não mereço estar aqui.

Quando falei com Barry George,

ele me disse que era inocente,

mas não era capaz de me dizer
por que era inocente.

Então você não matou Jill Dando?

Claro que não.

Certo, vou ver se consigo descobrir

se ele está falando a verdade.

Fiz o que faço de melhor…

…que é ler cada linha dos depoimentos,

procurando por inconsistências.

E fiquei chocado com o que encontrei.

A única prova
que supostamente o ligava ao crime

era o resíduo de disparo.

A ligação está lá,
o júri ouviu, você é culpado.

Por que estaria lá se não cometeu o crime?

Então fui para Boston,
nos EUA, para falar com o FBI,

que questionou a confiabilidade
das partículas de disparo,

porque isso não era mais usado

em casos nos EUA
por conta de contaminação.

Perguntei a um especialista em balística:

"Era da bala que matou Jill Dando?
Era de um disparo?"

Se esta partícula
fosse encontrada em um táxi,

ninguém pensaria
que era um resíduo de disparo.

Ele enfraqueceu a base científica

que foi usada
no julgamento de Barry George.

No fim das minhas investigações,
apresentei o que descobri

ao Comitê de Revisão de Casos Criminais,

e eles autorizaram um novo relatório

dizendo que esta prova balística
não deveria ser admissível

como prova de culpa ou inocência
e não poderia mais ser usada.

Foi quando o tribunal retirou a condenação

devido ao novo entendimento
em relação ao resíduo de disparo.

Então tinha que haver um novo julgamento.

Foi como um déjà-vu.

Michelle chegou da Irlanda
depois de esperar anos

pela revisão do caso de seu irmão.

Hoje, esperamos obter justiça
para o Barry. Obrigada.

O juiz perguntou qual era a decisão.

E ele disse: "Inocente."

Pela primeira vez nesses anos,

demonstrei emoção.

Levantamos e gritamos. Estávamos felizes.

Seguindo o veredito, a promotoria disse

que o Sr. George tem o direito
de ser visto como um homem inocente.

Eu ainda estava tentando entender.

Barry George deixando Old Bailey

como um homem livre
pela primeira vez em oito anos.

Estava feliz de sair de lá.

Com alegações contra você
24 horas por dia,

sem parar…

Como você se sentiria?

Barry George deixou o tribunal
pelos fundos.

Ele entrou no carro parecendo exausto,
mas muito aliviado.

Minha irmã é minha fortaleza.

Não conte a ela que falei isso.

Estamos decepcionados
com o veredito de hoje,

principalmente pela família
e pelos amigos da Jill.

Se acho que ele tinha
que ter sido inocentado?

Aceitamos e respeitamos
a decisão do tribunal.

Acho que o veredito de culpado em 2001
foi o correto.

Vamos refletir no veredito de hoje

e reconsiderar os próximos passos.

Muito obrigado.

É uma vergonha
para a Polícia Metropolitana?

Obrigado.

Barry George está livre.

Mas a dúvida continua:

se ele não matou Jill Dando, quem foi?

2023
24 ANOS APÓS O ASSASSINATO

O interessante é que,
após Barry ser absolvido,

não houve mais investigações sérias
sobre a morte de Jill Dando.

Na opinião da polícia,
era um caso encerrado.

O caso esteve nos noticiários
ou foi assunto discutido

todos os anos por 23 anos.

As pessoas gostam de um mistério.

Mas não acho que seja um mistério.

Se eu perguntasse:
"Você matou Jill Dando?" O que você diria?

Apenas que não.

Fico revoltado por terem tirado
oito anos da minha vida.

Eles me perseguiram, basicamente.

Você acha que Barry George é o culpado?

Eu achava que sim.

E agora?

Não mudei minha opinião.

Se alguém neste documentário

disser que Barry George a matou,

essa pessoa precisa de terapia.

Eles usaram todos os recursos
que tinham neste cara,

enquanto o verdadeiro culpado está solto

e jantando em algum lugar.
Isso é ridículo.

Barry George foi absolvido pelo júri,
o que é o carimbo da inocência.

E a polícia diz: "Não vamos procurar
mais ninguém. Ele é o culpado."

Desculpe, o caso deveria estar aberto.

Deveriam investigar.

O público também sabe
que não teve nenhuma resolução.

Então faz sentido
quererem investigar por conta própria.

QUEM MATOU JILL DANDO?

PESQUISA GOOGLE

QUEM MATOU JILL DANDO?

O que aconteceu naquela manhã
continua um mistério,

e o assassino nunca foi punido.

Houve muitas matérias dizendo

que talvez isto ou aquilo

tivesse a ver com Jill.

Repercute por um dia e então desaparece.

E eu só dou de ombros.

Elas não parecem plausíveis,
não vão adiante.

São noticiadas por 24 horas
e então são esquecidas.

PRESTES A EXPOR

As teorias que surgiram…

NOMES IMPORTANTES SEGUNDO JILL

JILL RECEBEU AMEAÇAS DE MORTE

…no decorrer dos anos,
de que Jill investigava algo

que pode ter sido uma das razões
de quererem silenciá-la

não me convencem.

MORTA POR ENGANO?

Ela não faria isso sozinha,

e quem sobreviveu ao assassinato

ficaria mais determinado
a expor a investigação secreta.

Você ouve sobre pessoas horríveis
fazendo coisas horríveis,

e isso é o que me assusta:
a mentalidade de algumas pessoas

que podem fazer coisas terríveis.

Você tem alguma ideia
de quem seja o responsável?

Não quero falar sobre isso
pela minha própria segurança.

Mas há boatos
no mundo do crime de quem foi,

vamos dizer assim.

Não é quem você pensa que é
e não é Barry George.

Foi um profissional.

Pode dizer o porquê?

Não. Se eu contar,
você vai saber quem foi.

Que conselho você daria
para os novos jornalistas?

Quando comecei,
eu ia às reuniões municipais

e entrevistava o casal
comemorando bodas de ouro.

Você conhece as pessoas reais.

Ser um bom jornalista é descobrir
quem as pessoas realmente são.

Como jornalista, você não para
de pensar em crimes não resolvidos.

Estar aqui 24 anos depois dizendo

que ainda não sabemos
quem matou Jill Dando

é algo surreal para mim.

Crimewatch traz resultados.
Entramos no ar, e dez minutos depois,

pessoas estão telefonando
com todo tipo de sugestão.

Foram 20 anos de pessoas vindo até mim

e fazendo as perguntas
que estou respondendo agora.

E estou bem com isso.

Acredito que um dia
haverá uma resposta para isso.

Se surgirem novas provas. Espero que sim.

Mas vamos ter que esperar para ver,

até o dia em que a polícia vai dizer:

"Temos provas suficientes
para prender o assassino."

Você fica preocupada
com o que vê em Crimewatch?

Fico. Mas os crimes que mostramos
são muito raros.

Não é algo que você anda na rua

e pensa que vai acontecer com você.

Legendas: Ana Romão