All language subtitles for Tales of Irish Castles (2014) t01e01

Os castelos são os nossos monumentos
mais dramáticos da Idade Média,

construídos como monumentos
ao domínio e ao poder.

Espalhados pela paisagem irlandesa,

estas construções ancestrais,
com grandes muralhas e torres altas,

não deixam dúvidas
sobre a sua missão militar e defensiva.

Espero termos trazido uma escada.

Os aristocratas anglo-normandos
que invadiram a Irlanda no século XII

construíram os seus castelos
para controlar e intimidar os irlandeses.

Após a consolidação do domínio inglês,

os castelos serviram
como centros administrativos,

guarnições e prisões,

bem como luxuosos lares
para os senhores ingleses.

Nesta série, vou contar-vos histórias
sobre cercos dramáticos,

batalhas sangrentas,
estilos de vida luxuosos,

assombrações,

famílias em conflito e senhores feudais.

Afinal, a história dos castelos irlandeses
é a história da própria Irlanda.

Não sou grande fã de história.

Não lhe ligava nenhuma na escola.

Não sabia
que Dublin fora uma cidade murada,

nem que os nossos castelos

foram construídos pelas mesmas pessoas,

uns tipos chamados anglo-normandos,

descendentes dos franceses da Normandia

que conquistaram Inglaterra
na Batalha de Hastings, em 1066,

e se tornaram a elite dominante.

Na altura,
os irlandeses viviam em ringforts,

Alan Hayden
Diretor da Archaelogical Projects Ltd.

basicamente, casas de pedra
dentro de círculos murados.

A paisagem da Irlanda
está salpicada de ringforts.

Ned Kelly
Museu Nacional da Irlanda

São as residências fortificadas

da aristocracia irlandesa local,
os grandes agricultores.

Vivendo com os irlandeses nativos,
tínhamos os vikings.

Esses tipos grandes da Escandinávia
andavam por cá há 300 anos

e controlavam os portos comerciais
de Limerick, Wexford, Waterford

e, o mais importante de todos,
o de Dublin.

Pat, fala-me da Dublin dos vikings,
como era?

Uma cidade incrivelmente apinhada, que
cheirava mal, barulhenta e movimentada.

Pat Liddy
Historiador de Dublin

A indústria dava cartas,

até construíam novas chalupas aqui,

os grandes barcos de guerra
da frota viking eram feitos em Dublin

porque tínhamos carvalhos
à volta da cidade.

Ao que parece,

a produção elevada
continua igual por aqui.

Continua barulhenta e malcheirosa.

A importância das cidades dos vikings
não pode ser

menosprezada, porque quem controlasse

uma cidade viking

poderia tornar-se poderoso e rico.

Dublin, claro, foi sempre o grande troféu.

-Isto era o limite da cidade.
-Estas muralhas aqui

foram feitas pelos vikings.

Estamos a andar
no que outrora foi o rio Liffey,

que subia e quase batia nestas muralhas.

-O Liffey chegava até aqui?
-Sim.

A Irlanda do século XII
era uma confusão de clãs antagónicos

e reis locais a tentar ganhar poder.

Dois dos grandes rivais da altura
eram Rory O'Connor,

o grande rei da Irlanda,

e Dermot MacMurrough, rei de Leinster.

Dermot MacMurrough era rei de Leinster

e era reconhecidamente

Dr. Gillian Kenny
Investigador, Trinity College Dublin

um déspota.

Dermot tem muita má fama

como o tipo que...

...convidou os normandos para a Irlanda.

Mas Dermot era um homem típico da época.

Em 1167, um conflito sangrento
viu Dermot ser despojado do seu título.

Mas em vez de desistir,

navegou até Inglaterra
para pedir ajuda ao rei Henrique II.

No início, Henrique
não se queria envolver diretamente,

mas deu autorização a Dermot
para que procurasse apoio

das suas tropas de elite,
os poderosos cavaleiros.

Um deles era o galês Richard de Clare,

conhecido por todos como Strongbow.

Dermot ofereceu a Strongbow terras,
a mão da sua filha Aoife em casamento,

e, por fim,
o seu título em troca de ajuda.

E chegaram a um acordo.

Richard FitzGilbert declarou que era
o conde de Pembroke no País de Gales.

É o filho
de uma família normanda muito conhecida

que estava numa maré de azar,

tinham apoiado o lado errado
na Guerra Civil inglesa

no início do século XII.

Ele quer ganhar dinheiro e fugir

da soberania excessiva
do rei de Inglaterra.

E Dermot MacMurrough
chega na altura certa,

porque Strongbow
precisa de sair de Inglaterra

e criar um nome para si mesmo,
que é o que faz

quando fica com o Reino de Leinster.

O plano era invadir
a Irlanda pelo sudeste,

antes de irem para Dublin.

Os mercenários anglo-normandos,
com cavaleiros

e arqueiros experientes,

eram o exército tecnologicamente
mais avançado da altura.

Os irlandeses não saberiam
o que lhes acontecera.

Estes homens
estavam extremamente bem treinados

e treinavam para lutar
como unidades militarizadas.

Quando Guilherme, o Conquistador,
invadiu a Inglaterra em 1066,

os seus soldados normandos
trouxeram montes de novas tendências.

A lança, o escudo kite.

E a última moda...

A cota de malha.

Tudo isto tratou dos ingleses
na Batalha de Hastings em 1066.

Tal como eles trataram de nós
cem anos mais tarde.

É bastante notável
que tenha havido tão poucos homens

envolvidos no desembarque inicial.

O segredo das guerras, muitas vezes,

é ganhar a batalha psicológica.

Lar Joye
Museu Nacional da Irlanda

Se, ao chegarmos,
intimidarmos e assustarmos o inimigo,

já ganhámos a batalha nessa fase.

O inimigo não quer lutar.

Os irlandeses
nunca tinham visto cavaleiros,

nunca tinham visto homens
com arcos e flechas.

A organização, as técnicas de construção,
os cavaleiros...

David Sweetman - Arqueólogo

Era algo com que nunca se tinham deparado.

A combinação de arcos e cavalos,

que eram basicamente os tanques medievais,

teve um grande sucesso.

Cá está ele,

o tipo que todos culpamos
pelos 800 anos de opressão.

Veem? Nesse dia, estive atento na escola.

Mas a verdade é que Strongbow

não representava mesmo a coroa inglesa.

A primeira invasão foi mais...

Uma iniciativa familiar em grande escala,

em que todos trabalhavam como freelancers.

Mas Strongbow conseguiu um bom acordo.

Ofereceram-lhe um título,
uma menina bonita,

terras e dinheirinho do bom.

Mas iria ser algo muito arriscado.

Ele ganha a batalha e recebe o prémio

ou perde a batalha
e vai para casa sem nada.

Ou, mais do que provável, morre a tentar.

É uma espécie de versão de alto risco
do Deal or No Deal.

Em maio de 1169,
desembarcaram perto da baía de Bannow.

Wexford foi
a primeira cidade viking a cair.

Tomar Waterford
seria o passo estratégico seguinte.

Os atacantes conseguiram

derrubar parte da muralha,

entraram pela porta e chacinaram tudo

o que se aproximou deles.

A Torre de Reginald em Waterford era,
na altura, uma estrutura viking de madeira

e foi aqui que Strongbow executou
o último rei viking da cidade.

Alguns anos depois, os conquistadores
substituíram-na por esta torre de pedra,

forte, sólida e indestrutível.

Com paredes de 3 metros de espessura,
a Torre de Reginald era impenetrável

e um símbolo poderoso
do que estava para vir.

Estas construções de pedra tornar-se-iam a
imagem de marca da invasão anglo-normanda.

E, em 30 anos,

dominariam a paisagem
de Waterford a Belfast Lough,

e para oeste, até às margens do Shannon.

Com o sudeste conquistado,

era hora de os cavaleiros
irem a um casamento.

Convites foram enviados
e fatos foram alugados e polidos

para o evento do ano.

O casamento de Strongbow
com Aoife de 25 anos,

princesa de Leinster.

A aristocracia irlandesa casava as filhas

com outros aristocratas

desde tempos imemoriais.

E o quadro de Daniel Maclise desse cenário

será provavelmente uma imagem romantizada.

Decerto limparam todos os corpos
antes de a noiva caminhar pelo altar.

Não, ela não se teria casado

rodeada de hordas de corpos
e mulheres em pranto.

Isso não aconteceria.

Mas também deve ter enviado,

bastante claramente, o sinal

de que vinham para ficar.

Não iam

apenas roubar o gado e voltar para casa.

Estavam na Irlanda para ficar.

E isso, tenho a certeza,
fez muitos sentirem calafrios.

Logo à partida,
o rei Henrique não gostava de Strongbow.

Assim, ao ouvir
que Strongbow se estava a armar em nativo,

pavoneando-se por lá,
casando com princesas irlandesas

e denominando-se rei de Leinster,

bem, então, era hora de agir.

Assim, em 1171,
Henrique chegou com 400 navios,

cheios de cavalos e homens

e com provisões suficientes para todos.

Devem ter demorado séculos
a fazer as malas.

Henrique foi o primeiro rei inglês
a pisar o solo da Irlanda.

E a sua presença
pôs Strongbow no seu lugar.

Juntos, partiram para norte,
com Dublin debaixo de olho.

Ao saírem de Waterford,
Strongbow e os seus homens,

com um melhor equipamento e cavaleiros,

tinham uma grande vantagem
sobre os irlandeses.

E conseguiram lidar
com qualquer escaramuça que apareceu.

E rapidamente devastaram

a maior parte de Leinster.

Seguindo, depois, para Dublin.

Na altura, controlar Dublin era chave.

Dublin era uma próspera cidade viking.

Cunhava moedas
e os locais pagavam impostos.

E, a partir dali,

os vikings comerciavam por todo o canal.

Para o norte, até à Escandinávia,
e para o sul, até Espanha e França.

Por isso, quando os normandos chegaram,
a captura de Dublin era muito importante.

Tropas de Inglaterra podiam desembarcar
aqui em qualquer momento

para, depois,
serem enviadas para norte, oeste ou sul.

Ou onde quer
que fosse preciso dar tareias.

Percebendo o que estava a acontecer,

os irlandeses uniram-se
sob o comando de Rory O'Connor,

o grande rei da altura,

que, infelizmente,
não era o homem certo para a tarefa.

Foi uma pena para a Irlanda

que provavelmente
o menos eficiente dos O'Connor,

em termos de liderança militar,

fosse o grande rei
durante a invasão anglo-normanda.

Eu não teria votado nele.

Com 10.000 tropas agrupadas
em redor de Dublin,

a cidade esperou
que os anglo-normandos chegassem.

Rory não era muito inteligente,
abençoado seja.

Pensou que tinha bloqueado todas
as estradas para Dublin que vinham de sul.

Assim, reuniu o exército
fora de Glendalough.

Por alguma razão,
esperava que viessem por aí.

Mas Dermot conhecia todas
as estradas de Leinster,

o que fazia sentido,
já que era o rei de Leinster.

E comandou o exército pelas montanhas
que atravessavam Glendalough.

Uma manhã, as pessoas acordaram em Dublin

e tinham os normandos à porta.

Acabara-se o jogo.

O exército invasor
atravessou as muralhas da cidade,

massacrando qualquer resistência
no seu caminho

e atacando
o centro da fortaleza de madeira viking.

Estavam cá dentro.

Estavam dentro, mas houve
muitas tentativas de os expulsar.

O grande rei da Irlanda deu o seu melhor.

Cercou a cidade
com cerca de 10.000 tropas,

mas os normandos derrotaram-nos.

Os vikings fizeram uma tentativa
de recuperar a cidade.

Falharam.

Mas a vida continuou.

As pessoas da cidade
continuavam a fazer comércio,

as importações e as exportações
continuavam iguais.

Os barcos vikings ainda eram usados

para trazer e levar bens.

E os próprios vikings apenas
mudaram de uma zona da cidade para outra,

foram do sul da cidade para o norte.

-Não mudou muito.
-Não muito.

Não ao princípio, pelo menos.

Na altura,
os cidadãos não viram grande diferença.

A força conquistadora identificou
o lugar da cidadela viking

como o melhor sítio
para o seu castelo defensivo.

Inicialmente, tiveram de se contentar
com uma estrutura de mota.

Demoraria quase 40 anos
até adquirirem os terrenos

e começarem a construir
as grandes muralhas e torres defensivas

que formariam o Castelo de Dublin.

Quando Dermot MacMurrough foi a Inglaterra
à procura de tropas,

despoletou uma invasão

que acabaria na conquista da Irlanda

e iniciaria
o nosso primeiro boom na construção.

Strongbow,
com os seus mercenários experientes

e poder de fogo superior,

rapidamente devastou
as terras a este do Shannon.

O poder seria gerido através
de uma rede de castelos defensivos,

como nunca tinham sido vistos na Irlanda.

A forma anglo-normanda
de construção de castelos tinha começado.

Os irlandeses tinham estragado tudo.

O'Connor tinha estragado tudo.

Ned Kelly
Museu Nacional da Irlanda

E os nórdicos tinham estragado tudo.

Desde que os anglo-normandos
estabeleceram o castelo em Dublin,

só em 1922

é que a cidade
voltaria a ser dona de si mesma.

O contexto político
foi mudado para sempre.

Agora, vamos entrar...

No St. Patrick's Hall, a divisão
mais importante do Castelo de Dublin.

-Esta é a divisão funcional.
-Sem dúvida.

É onde ocorre
a tomada de posse presidencial

e os banquetes de estado
para convidados reais

Melanie Phillips
Guia, Castelo de Dublin

e chefes de estado.

-Vejam bem o teto.
-Sim, é fantástico.

Estamos a olhar para o quê?

Para a resignação
dos chefes irlandeses em 1169.

A resignação dos chefes irlandeses.

Sim, quando se renderam a Henrique II,

rei de Inglaterra. Temo-los ali,

alinhados à frente,
prontos a entregar o país.

Assim?

É uma representação romântica
do que aconteceu,

mas num ano ou dois, sim,
todos se tinham rendido.

Estavam todos com armaduras
e os irlandeses...

Não, exatamente.

-Trajes normais.
-Era um jogo.

Representa o facto de serem considerados

de um estatuto e classe inferiores.

Eram quase considerados selvagens
em comparação com os ingleses.

E quem é o cavalheiro por trás dos dois...

-O infame rei Henrique II.
-Certo.

Foi a ele

que Dermot pediu permissão
para que Strongbow

viesse e interferisse na nossa vida.

Henrique II é também o pai

do célebre Ricardo, Coração de Leão,
e de João I.

E João I foi quem construiu
o Castelo de Dublin.

E construiu o primeiro castelo aqui,
neste lugar.

Para a coroa inglesa
manter-se no poder na Irlanda,

precisava de uma rede de súbditos leais
que defendessem os seus interesses.

Por isso,
as terras foram divididas pelos cavaleiros

e a grande caça às terras começou.

Acho que os magnatas anglo-normandos

estavam mais interessados em assegurar-se

de que arrebatavam quaisquer terras
que lhes fossem oferecidas.

Para as poderem fortificar
e manterem essas terras

na sua posse.

Começaram a construir pela costa oriental.

Também começaram a construir
bem cedo em Dublin.

Dr. Gillian Kenny
Investigador, Trinity College Dublin

Erigiam motas e recintos fortificados

em pontos-chave, normalmente
em travessias de rios e sítios assim.

Tratava-se de dominar o território.

Ao construir um castelo, estamos a dizer:
"Viemos para ficar."

Sempre que os normandos vinham,
construíam fortificações.

E os castelos iniciais

que construíram eram de terra,
pedra e madeira.

E, a partir dessa espécie inicial

de zona fortificada,
construíam um castelo de pedra

e rapidamente adotavam a forma de vida

inglesa.

Antes de Henrique sair da Irlanda,
tentou montar um sistema

para prevenir futuros atos de rebelião.

Cada vez mais preocupado com Strongbow,

principalmente depois do seu casamento
com Aoife e por a morte de Dermot em 1171

ter feito de Strongbow, rei de Leinster,

Henrique começou a dividir as terras
por outros cavaleiros de confiança

de forma a mantê-lo sob controlo.

Henrique II

estava bastante preocupado
que Strongbow se tornasse

rei da Irlanda.

Tinha de se estar sempre preocupado
na era medieval,

podiam espetar-nos uma faca nas costas
ou envenenarem-nos,

decapitarem-nos, etc.

Precisava de um contrapeso
em relação a Strongbow.

E esse contrapeso foi Hugh de Lacy.

Hugh de Lacy não fazia parte
dos primeiros homens galeses de Strongbow.

Leal a Henrique,
que se chamava agora "Senhor da Irlanda",

de Lacy foi recompensado com grandes
parcelas de terra a norte de Dublin

e com os títulos de lorde de Meath
e governador chefe.

Como qualquer
grande senhor anglo-normando,

quer estabelecer a sua autoridade
no seu novo reino.

Foi-lhe dado o Reino de Meath,

mas ele tem de o conquistar.

Apesar de Henrique II lho ter dado,
não era dele.

Alan Hayden
Diretor da Archaelogical Projects Ltd.

Tinha, na verdade, de o ganhar.

Hugh de Lacy construiu
o que iria ser um dos primeiros

e melhores castelos de barões
quer da Irlanda, quer da Inglaterra.

O Castelo de Trim,
para mim, é maravilhoso.

Acho que é mesmo imponente.

Nenhum outro castelo é como o de Trim.

Era uma fortaleza,
na verdade, à escala europeia.

Como sou de Dublin, detesto dizê-lo,
mas o condado de Meath

tem o melhor e o mais impressionante
castelo normando da Irlanda.

Como senhor,
não era importante ter um castelo

com 22 seteiras,
algumas paliçadas e muitos portões.

Três guarda-roupas encastrados,
que são, obviamente, sanitas,

uma muralha e um grande salão.

Mas dava mesmo bom aspeto.

Na altura, esta estrutura magnífica

era a construção mais imponente no país.

Construída numa colina acima do rio Boyne,

a sua enorme muralha
foi guarnecida com sete torres

e dois portões bem protegidos.

Dá para ver
porque filmaram o filme Braveheart aqui.

De Lacy escolheu Trim

por estar no rio Boyne e ter fácil acesso

ao porto medieval em Drogheda,
para poder trazer mantimentos.

Os rios eram as autoestradas medievais.

Se pensássemos em trazer
um carregamento de cerâmica

de Dublin para Trim,

na Idade Média,
era muito mais seguro pô-lo num barco.

Chegaria intacto.

Esta zona aqui é onde o rio Boyne afluía

contra a base das muralhas.

E aqui era onde atracavam

os barcos de fundo raso
que chegavam do porto em Drogheda,

com mantimentos para o castelo.

O castelo original de de Lacy
era uma construção de madeira,

rodeada por um fosso defensivo,
empoleirada numa colina.

Mas rapidamente começaram a trabalhar
numa fortaleza de pedra

permanente e impressionante.

Os irlandeses
nunca tinham visto tal coisa.

A seguir, foi a muralha,

que criou este pátio exterior enorme,
ou paliçada.

A paliçada era onde se encontravam
os quartéis dos soldados,

as oficinas, os estábulos, vários
lavradores e os animais para a cozinha.

É um sistema impressionante.

Durante centenas de anos,
o Castelo de Trim foi inexpugnável.

O que de mais especial tem é a fortaleza.

Tem uma planta
e traçado completamente únicos.

A fortaleza tem mais a ver com geometria
do que propriamente defesa.

A defesa do castelo concentra-se,
sim, nas muralhas exteriores.

Mas a planta completamente única

da fortaleza torna-a mesmo especial.

Temos uma grande

e dramática fortaleza no meio do castelo,

que foi provavelmente pintada de branco
ou caiada,

com grandes corredores à volta.

Impressão do Castelo de Trim
Séc. XIII

Plataformas de luta no cimo
e um telhado vermelho.

É como algo saído da Disneylândia,
mesmo impressionante.

Que podia ser visto de todo o lado.

Quando penso em Trim,
o mais interessante é vermos

essa mudança na fortificação muito cedo.

Mostra que as ideias
passavam muito depressa

no mundo medieval.

Kieran O'Conor
Departamento de Arqueologia, NUI Galway

Pessoas como Hugh de Lacy,
que construiu Trim, deslocam-se

entre Inglaterra, País de Gales e França,
talvez até mais longe.

Num certo sentido, Trim está na vanguarda

do design de castelos
no fim do século XII.

Europa.

Trim era o castelo
mais impressionante do país,

de longe.

É um dos melhores exemplos
de um castelo anglo-normando na Europa.

Situado no limite de Pale,
tornou-se o centro administrativo,

o baluarte da coroa inglesa.

E por causa disso,
tal como o Castelo de Dublin,

foi constantemente melhorado e restaurado
para refletir o seu estatuto real.

Este é o lado norte da fortaleza.

Mesmo num dia de sol, está frio.

A torre que estava aqui
era uma torre de serviço.

As outras torres eram de alojamento.

Na fortaleza, não existe poço.

E um castelo tem de ter água, claro.

Nas alturas dos cercos, tem de haver água.

Por isso, desde o início,
houve um engenhoso sistema de recolha

de toda a água que vinha dos telhados.

É alimentado
por uma série de tubos e canos,

vindo dar a esta torre norte aqui.

Mas o mais interessante
em relação à torre e à cozinha

é que encontrámos o lixo
das verdadeiras cozinhas também

e da mesa.

Temos uma fantástica coleção
de ossos de animas e de aves

dessas cozinhas.

E, claro, terão havido
grandes banquetes medievais aqui.

Não poupavam em nada
para os grandes espetáculos

e grandes ocasiões. Uma das coisas

que faziam era agarrar num cisne,

recheá-lo com um ganso
e rechear o ganso com um faisão.

Recheavam o faisão com um pato,
o pato com uma pomba

e a pomba com qualquer outra coisa.
Chegavam a ser 12 aves diferentes.

É o tipo de coisa nojenta que encontramos.

Mas tínhamos tudo deste lado do castelo.

Encontrámos os ossos todos,
examinámos o solo

e encontrámos minúsculas espinhas
de peixe e ossos de ave.

Sabemos exatamente o que comiam.

Era difícil
gerir um castelo naqueles dias.

Havia o senhor, os seus cavaleiros.

Os escudeiros,
a mulher do senhor, as suas aias,

um par de criados, padres.

Se viessem todos...

Após umas semanas
a irem todos à casa de banho,

indo os objetos pelo cano até ao fosso,
isto tresandaria.

Tresandaria a sério.

E, então, o senhor dizia: "Vamos embora."

E ia para outro dos seus castelos.

O cheiro devia ser absolutamente horrível
no meio do...

Do verão, por isso,
fugia a sete pés de volta para Dublin

e fazia com que fumigassem
e limpassem isto tudo.

"Vou até Drogheda,

"ou até Darro ou outro sítio qualquer."

Antes de também se tornar sujo.

Estavam sempre a deslocar-se
e ele trazia o seu séquito com ele.

É diferente, sabem,
a Irlanda é uma sociedade fronteiriça.

A Irlanda é rude, na sua essência.
Quero dizer, é difícil.

Deparei-me com vários exemplos

de mulheres que escreveram ao rei
a pedir, essencialmente,

que trocasse as suas terras irlandesas
por umas inglesas.

Porque dão demasiado trabalho.

É difícil. A vida num castelo irlandês,

para uma mulher no século XII e XIII,

não teria sido fácil.
Havia muito pouco conforto.

É uma forma de vida dura e militar.

Esta foi a única lareira
que tiveram nos primeiros 20 anos.

PJ Reilly
Guia, Castelo de Trim

A chaminé, em espiral, está em bom estado.

A zona da verga desapareceu.

Até à grade,
vemos o contorno da pedra do lar.

Estes nichos na parede por trás

faziam parte
da mobília encastrada da altura.

Eram semelhantes
ao que os armários são para nós, hoje.

Serviam também como luzes de parede.

Colocavam-se velas dentro dos nichos

e esticava-se um estômago de ovelha
numa estrutura de madeira,

dava o efeito de um candeeiro.

Este é o assento original da janela.

Esta é uma das janelas do salão.

Podíamos sentar-nos aqui
e teríamos uma linda e grande janela.

Estas janelas só existem
na parte do castelo virada para o rio

devido a uma questão de segurança.

Permitiam que balançássemos
para os lados e disparássemos flechas.

Costumavam ser usavas bestas,
em vez de arcos,

por serem mais fáceis
de usar num sítio pequeno.

Eram peritos na construção de castelos.

Até as escadas foram bem pensadas.

Veem como vão
no sentido dos ponteiros do relógio?

Isso coloca
o espadachim destro em vantagem,

ao vir de cima.

Porque o espadachim destro
ao vir daqui debaixo

não conseguiria brandir a sua espada
sem acertar na coluna central.

Tudo nestes castelos

dificultava a sua conquista.

Mas nenhum irlandês, nenhum nativo
deste país alguma vez tentaria

entrar em Trim
porque está demasiado bem protegido.

Não faz sentido.

O Castelo de Trim seria
o centro do poder inglês durante décadas.

Mas para lá de Pale, era terra de bandidos
e os senhores irlandeses ainda dominavam.

Há a ideia de que os anglo-normandos
de alguma forma vieram,

chegaram, viram e conquistaram.

Mas não, há grandes partes do país

a que não podemos ir se formos ingleses,
porque seremos atacados.

Uma grande parte da Irlanda
não foi conquistada

e os senhores irlandeses nativos
ficaram no seu lugar.

É como se fossem dois mundos.

Não é uma cultura uniforme, total.

São duas culturas muito diferentes,
lado a lado.

Frequentemente em conflito.

Enquanto os normandos assentavam,
a vida em Dublin voltava ao normal.

Strongbow não tinha durado muito.

Morreu em Dublin em 1176

e o poder na cidade acalmou
sob o controlo da coroa.

Enquanto os normandos assentavam
e se habituavam à vida em Dublin, Pat,

como era para a gente de Dublin?

Primeiro, os normandos
trouxeram regras para a cidade.

-Um pouco de ordem.
-Um pouco de ordem.

Novos forais e leis
chegavam do rei de Inglaterra.

A cidade expandiu-se,
o comércio com Inglaterra aumentou.

Era um excelente sítio onde estar.

A população aumentou.
Mas era preciso estarmos na cidade.

Estamos a falar de quantas pessoas?

-Aumentou para umas 10.000.
-Então...

Talvez seja uma pergunta parva,
mas como era a relação

entre os nativos de Dublin
e as pessoas dos castelos?

Os nativos de Dublin nesta altura...

Pat Liddy
Historiador de Dublin

-Se se refere aos irlandeses...
-Sim.

...podiam trabalhar aqui de dia,

mas não dormir aqui à noite.

Tinham de sair e ir para sítios
como Irishtown ou Ringsend.

Não confiavam neles
para os deixar aqui à noite.

Isto tornou-se uma cidade inglesa.

Era território irlandês fora da cidade,
inglês dentro das muralhas.

O aspeto marcante
da ocupação anglo-normanda

é que os irlandeses gaélicos
estavam excluídos do código legal.

Dr. Gillian Kenny
Investigador, Trinity College Dublin

Os irlandeses gaélicos não estavam
protegidos pela lei inglesa.

Podíamos matar um irlandês
e não ter de responder por isso.

Obviamente que isto colocava
o povo gaélico, relativamente

à área de influência legal,
numa clara desvantagem.

Dentro das muralhas,
os anglo-normandos desenvolveram a cidade,

construíram igrejas e entregaram
o comércio a mercadores de Bristol.

Mas para manterem o domínio,
tinham de melhorar o seu forte de madeira.

Tinham de construir um castelo aqui.

Mas Dublin estava uma confusão,
quero dizer,

era uma cidadezinha apertadas e suja, com
casas de madeira e ruelas malcheirosas.

Só a requisitar as terras, demoraram anos,

por isso, nunca conseguiriam construir
uma estrutura imponente como Trim.

Com a sua impressionante fortaleza
e a sua grande muralha

com mais de 400 metros.

O Castelo de Dublin
foi sempre uma guarnição suja.

E era a casa do xerife,
das suas tropas e, claro,

dos cobradores de impostos.

Tudo girava à volta de dinheiro

e Dublin tornou-se fonte de dinheiro
para a coroa inglesa.

Os impostos saiam da Irlanda
para o tesouro público inglês.

Ned Kelly
Museu Nacional da Irlanda

As atividades do rei inglês
eram um constante sorvedoiro

de mão de obra e riqueza
da colónia anglo-normanda na Irlanda.

Por exemplo,
paga-se imposto quando se casa.

Paga-se imposto quando se morre.

Foi concebido todo um sistema.

Se tivessem cidades nas suas terras

havia várias taxas a pagar.

Durante a Idade Média, a Irlanda
foi uma economia pobre em moedas.

Não havia muitas moedas a circular,

simplesmente porque eram pagas a Londres.

Só quando o filho do rei Henrique,
João, subiu ao poder

é que o Castelo de Dublin
realmente prosperou,

mas por todo o país
estavam a ser construídos castelos.

Havia dinheiro a ganhar,
com cada oportunista

a tentar marcar o seu território.

Apenas oito anos
após a invasão de Strongbow,

que estabeleceu o domínio
anglo-normando em Cork,

Waterford, Wexford, Dublin e Trim,

John de Courcy, que era membro
da tal guarnição de Dublin,

decidiu ir numa demanda solitária,

foi para norte

e chegou a Carrickfergus em 1177.

Era o sítio perfeito
para construir o castelo, não era?

John de Courcy
construiu o seu castelo em Carrickfergus,

com uma vista espetacular
de Belfast Lough.

No entanto,
construiu-o sem autorização do rei.

A localização era perfeita,

longe o suficiente de Dublin
para um cavaleiro rebelde

exercer o seu domínio,

mas facilmente defensável por terra e mar.

À vontade.

Ruairí, em relação
ao que podemos ver à nossa frente hoje,

em relação a de Courcy,
por onde começou ele?

Ele estava na guarnição de Dublin

Ruairí Ó'Baoill
Centro de Trabalho Arqueológico, QUB

e, em 1177, veio com 22 cavaleiros armados

e 300 soldados a pé.

E estabeleceu um reino semi-independente
para si mesmo em Ulster.

E fez-se aqui, em Carrickfergus.

A dada altura, um dos arquitetos militares
deve ter-lhe dito:

"É numa rocha. Está louco?

"Veja a linha da costa ali. Construa lá."

De Courci ter-lhe-ia dito:

"Construa-o onde há uma fonte natural

"para termos água o ano inteiro
se nos cercarem."

O promontório onde assenta
é facilmente defensável.

Está na costa, ou seja,
era-lhe fácil estabelecer contacto

com o sogro,
que era o rei da Ilha de Man,

já que tinha casado com a sua filha,
e com Cúmbria, de onde era nativo.

Foi tudo muito bem escolhido.
E ainda existe um porto natural ao lado

para os barcos atracarem
e abastecerem, em caso disso.

Dá para ver o quão impressionante é.

Era visível da terra e do mar
a quilómetros de distância.

Podíamos colocar guardas no cimo

a vigiar, etc.
E era uma verdadeira declaração de poder.

Ele não ficou muito tempo.

Não. Ele começou a cunhar
as próprias moedas.

Era conhecido como Príncipe da Ulster,

apesar de não ter esse título oficial.

Tinha basicamente um reino próprio

e o rei João começou
a ficar irritado com ele...

Enviou outro cavaleiro normando,
Hugh de Lacy,

para se livrar de de Courcy,
e em 1205 de Courcy foi expulso.

E Hugh de Lacy ficou no poder.

Estes tipos tinham-se em grande estima
e diziam:

"Gosto disto. Vou construir um para mim."

Sem dúvida. E no condado de Antrim,

bastante longe
do centro de poder em Dublin,

podíamos estabelecer um reino.

Assim que dominássemos
os irlandeses locais,

podíamos fazer coisas
como cunhar moedas e reinar como um rei.

Assim que de Lacy tomou Carrickfergus,

devolvendo-o ao controlo da coroa,

o rei João procurou estender
o seu poder para oeste.

E, desta vez,

certificar-se-ia de que estaria
em controlo desde o início.

Limerick ainda era uma cidade

viking, onde se falava nórdico,

até os normandos chegarem.

E se íamos

conquistar o país,
tínhamos de conquistar a cidade.

Os normandos chegam,
pela primeira vez, em 1175.

Brian Hodkinson
Museu da Cidade de Limerick

É uma cidade importante a ter.

Se tivermos Limerick...

Podemos controlar
o que se passa no leito do Shannon.

Eventualmente, o rei João constrói

o que é, hoje,
conhecido como Castelo do Rei João.

João nunca chegou a Limerick.

Mas é chamado de Castelo do Rei João
porque é um castelo real.

Foi construído por um decreto real.

E era um castelo de vulto.

Foi gasto muito dinheiro nele.

Temos um registo de 1211 ou 1212 que diz

que foram gastas no castelo
cerca de 700 libras.

O que é uma quantia
absolutamente colossal naquela altura.

Hoje, seria o equivalente
a uma enorme infraestrutura

no valor de milhares de milhões.

João desconfiava
de muitos dos seus barões,

por isso, em vez de entregar
Munster aos seus barões,

deixando-os partilhá-lo entre si,

criou um centro para si mesmo
em Limerick,

para que também tivesse
uma base de controlo na zona.

E acho que é essa a razão

de o rei João ter construído o castelo,
simplesmente por ter medo

de que os seus próprios barões
se quisessem revoltar.

O Castelo de Limerick
era outro centro-chave.

E foi estabelecido,
não como posto isolado,

mas como uma das maiores e mais seguras
bases militares

do país.

Para além de construir o castelo,

transformaram Limerick
noutra cidade murada da Irlanda,

juntamente com Waterford e Dublin.

Foi desenvolvido
um sistema de leis e forais ingleses.

Tudo gerido do interior
da imponente fortaleza de um castelo.

Enquanto as incursões anglo-normandas
à Irlanda

no fim do século XII e no início
do século XIII correram bastante bem,

os meados do século XIII viram a colónia
no pico do seu poder.

E podemos dizer
que dominavam a maior parte da ilha.

À medida que o século XIII avançou,

a Irlanda tornou-se dois países separados.

As chamadas "Terras da Paz",
que os ingleses controlavam,

e as "Terras da Guerra",
ainda controladas pelos irlandeses.

Os cavaleiros que foram para oeste

sobreviveram casando
e juntando-se aos clãs locais.

Ao dirigirmo-nos para oeste,

a partir de Dublin, por exemplo,
assim que saímos da zona de Pale,

torna-se tudo...

Torna-se tudo mais gaélico.

Não é totalmente gaélico.

Dra. Gillian Kenny
Investigadora, Trinity College Dublin

Há sempre interações com famílias
anglo-normandas da vizinhança.

Mas, ao dirigirmo-nos
para oeste e atravessarmos o Shannon,

torna-se...

A influência inglesa
torna-se menos pronunciada.

Ned Kelly
Museu Nacional da Irlanda

Parece que os irlandeses continuaram

com a sua forma de viver tradicional.
Quando muito,

em vez de terem sido os irlandeses
a serem arrastados

para o mundo anglo-normando,
foram mais os anglo-normandos

a serem arrastados para o mundo irlandês.

Nas margens do Lough Corrib,

o Castelo de Ashford
é um dos castelos mais bonitos da Irlanda.

Foi construído pelo cavaleiro
anglo-normando, William de Burgo,

que fora governador de Limerick,
antes de partir para oeste.

Como muitos cavaleiros, casou bem.

A sua mulher era a filha
do rei de Thomond

e essa aliança permitiu aos de Burgo

tornarem-se a família mais poderosa
de Connaught.

Os de Burgo construíram a sua torre
para vigiar o Lough Corrib.

E para se protegerem
do clã nativo dos O'Connor.

Os de Burgo
eram uma orgulhosa família de cavaleiros

do País de Gales,
que lutaram na Batalha de Hastings.

Com as suas cotas de malha e arqueiros,
a conquista aqui foi rápida,

tornando-se a família governante
da maioria de Connaught.

E construíram uma cidade murada em Galway.

Mas a sua lealdade à coroa
não era muito convicta.

No século XIV,

já se tinham tornado mais irlandeses
que os próprios.

Está tudo na maior, percebem?

Aqui, a apanhar este sol glorioso.

Cheio de proteções.

Nem uma brisa de vento.

A disparar contra um alvo de plástico.

Digo-vos uma coisa.

Se estivermos no cimo de um promontório,

com vento horizontal a 100 km/h e 300
tipos a dispararem flechas contra nós...

Já é outra cantiga, não?

Ao que parece, na altura,

se um arqueiro fosse capturado,

havia uma coisa bastante macabra
que os inimigos lhe faziam.

Se não lhe cortasse a cabeça,

cortavam-lhe o dedo,
para não poder puxar o...

É isso.

-Tornavam-nos inúteis.
-Tornavam-nos inúteis.

Diz-me que gravaste aquilo.

Com a sua galeria de donos invulgares,

o Castelo de Ashford,
agora um hotel de cinco estrelas,

dá-nos um microcosmo
de 700 anos da história irlandesa.

No século XVII,
após 350 anos sob o governo dos de Burgo,

a propriedade tinha passado
para a família Oranmore and Browne,

descendentes dos de Burgh,

que tinham ajudado
na conquista inicial de Connaught

e construído o seu castelo em Galway.

Os Browne ficaram
com o Castelo de Ashford até 1852,

Robert O'Byrne - Autor e Vice-Presidente,
Sociedade Georgiana Irlandesa

quando foram forçados a vender
grande parte das terras.

Como muitos senhorios nessa altura,
estavam cheios de dívidas.

Tinham sido deveras extravagantes.

Mas a fome
na segunda metade da década de 1840

levou-os a eles,
e a muitos outros senhorios, ao limite,

porque não recebiam rendas.

Por isso, tinham muito poucas receitas,

mas tinham já grandes dívidas.

Assim, fundou-se uma organização chamada
Tribunal de Bens Onerados.

Era uma espécie de NAMA daquela época.

Precisamente para ficar
com a responsabilidade

desses bens endividados e vendê-los.

Nessa altura, havia um homem
chamado Sir Benjamin Lee Guinness,

que talvez fosse o maior empresário
do seu tempo,

à frente do fabrico de cerveja Guinness.

E estava à procura

de uma propriedade de caça
na zona oeste da Irlanda. E, em 1852,

ele descobriu Ashford, a Casa Ashford,
como era chamada na altura,

e comprou-a.

Foi Arthur Guinness
quem fez as grandes mudanças na casa.

Como era moda na altura,
usou o mesmo arquiteto

da Abadia de Kylemore,

que foi construída
por outro industrial rico.

O revivalismo gótico tinha chegado.

E possibilitou afirmações espetaculares
de riqueza de homens

que queriam uma ligação
ao romantismo do passado.

Já não servindo para defesa,

o que foi outrora chamado de Casa Ashford,
tornava-se agora o Castelo de Ashford,

escondendo a torre de Burgo original.

O Castelo de Ashford...

Agora, já só servia como decoração.

A família Guinness era conhecida
pelo seu bom trabalho na zona

e pelas suas famosas festas de caça.

O local Martin Gibbons é o maître d'

e a terceira geração da sua família
que trabalha no castelo.

É claro que a ligação da sua família

ao castelo vem de há muito.

Vem do tempo do meu avô,
também de nome Martin Gibbons.

Trabalhou aqui no início do século XX,
para os Guinness.

Era o couteiro da propriedade.

Acredito que os couteiros
eram deuses aos olhos dos Guinness.

Martin Gibbons
Maître-d, Castelo de Ashford

Eles cuidavam da propriedade.

Caçavam nos meses de inverno,

e tinham festas e convidados na casa.

E vinham no verão para pescar.

Era a sua casa de campo,

a sua residência principal era em Dublin.

-Nada mau, pois não?
-Não.

Não é uma má casinha de campo.

Não. A última divisão
que os Guinness construíram é

agora o bar de cocktails
Príncipe de Gales.

Foi construído para a visita de Jorge V,
que esteve cá em 1905.

Então, o seu avô estava a trabalhar aqui?

-Sim, trabalhava aqui.
-Então, terá conhecido...

Terá conhecido Jorge V.

Ele estava no grupo de caça
quando foram para a Floresta de Ballykine,

a oeste daqui, perto de Clonmore.

A propriedade, nessa altura,
tinha 11.500 hectares.

Ou seja, toda a terra

entre o Lough Corrib, aqui,

e o Lough Mask, que fica a 1,60 km daqui.

E claro que terão vindo...

Quando os Guinness vinham cá,

deviam vir por Galway, certo?

Para Galway. Navegavam a sul,
pela costa sul até à baía de Galway.

Ancoravam os barcos
e traziam os iates de Galway até aqui.

Devem ter sido belos tempos.

Aonde quer que os Guinness fossem,
deixavam grandes monumentos.

Então, Jorge V ficou aqui.

Mas, na parte final do século passado,

teve muitos visitantes famosos
porque um elemento muito famoso

da história irlandesa aconteceu aqui.

-Um filme muito famoso foi filmado aqui.
-Sim, em 1951.

-Sim.
-Sim, em 1939,

Ashford tornou-se um hotel.

Foi transformado
num hotel pela família Huggard.

E, depois, em 1951, o filme
O Homem Tranquilo foi filmado aqui.

John Ford, como realizador,
Maureen O'Hara

e John Wayne...

-Sim.
-O próprio Sr. Swagger.

-Ficaram no hotel?
-Sim, durante seis semanas.

A história...

A história de que Maureen O'Hara...

Ela costumava dizer
que John Ford tinha proibido álcool

-nas filmagens, em 1951.
-A sério?

-Sim.
-Porque o Sr. Wayne gostava...

-De uma pinga, sim.
-Não gostava?

Então, Ford disse-lhe: "Nada de beber."

-Nada de beber.
-Durante toda a filmagem?

-Sim.
-Ele deve ter arranjado uma bebida.

Acha mesmo
que obedeceram à proibição de beber?

-Acho que não.
-Eu também não.

Ainda é falado hoje.

Não importa se ao pequeno-almoço,
se ao jantar à noite,

alguém lembra sempre uma parte do filme.

Em meados do século XIII,

os anglo-normandos
tinham estabelecido a sua presença

numa larga faixa do país.

Agora, o seu domínio seria consolidado
através de grandes condados,

poderosas dinastias de cavaleiros,

que geriam territórios enormes
em nome da coroa.

E o mais rico e poderoso
viria a ser William Marshal,

o maior cavaleiro de todos os tempos,

que, ao casar com Isabel,
filha de Strongbow e Aoife,

forjou uma aliança que veria
o par tornar-se no casal mais poderoso

das Ilhas Britânicas.