All language subtitles for LEG-PT 230828 Filme Graffiti pelo fim da Violência Doméstica

O Museu Vivo NAMI

é uma proposta de um quilômetro de murais

expostos aqui na comunidade
Tavares Bastos, no Rio de Janeiro.

É um museu a céu aberto que dialoga
com o território, com as interações.

São pessoas passando pelas ruas,
materiais de obras no fundo...

E é isso que faz nosso museu ser vivo,
o nosso museu dialogar com as pessoas

dialogar com o território,
é a arte em movimento.

E nessa visita

nós vamos conhecer cada um desses murais
feitos no último ano.

Nosso objetivo
é promover a Lei Maria da Penha,

combater a violência doméstica
e promover os direitos de mulheres cis,

transsexuais, travestis,

os povos originários
e pessoas com deficiência.

E agora a gente vai conhecer

esse novo circuito de murais
composto de dez graffitis.

Vem comigo nessa visita!

Aí aqui,
você que faz porque...

Aí você só segue ali a retura.

E então, gente,
meu nome é Márcia Falcão,

eu sou formada em
pintura pela EBA.

Ano passado, durante a pandemia de NAMI,
lançou um edital emergencial.

Dentro do edital havia alguns temas
que a gente podia escolher

para produzir um trabalho e o meu croqui
tratava da história das mulheres.

Eu fui buscando dentro
da minha própria poética,

que acaba tratando de diálogos
com a história da arte

e trouxe um dos elementos que eu mais uso,
que são as Cariátides.

E aqui a gente vai fazer várias
representações dessas esculturas gregas

deslocadas para esse cenário carioca,

com as suas próprias histórias

e sempre tentando harmonizar tudo,
toda a composição.

Eu não costumo trabalhar um elemento
e depois o outro elemento

costuma trabalhar o todo,

a pintura como um todo.

A história da luta das mulheres

precisa ser compreendida
exatamente a partir de quem elas são,

como é que elas vivem,

qual é a sua história
nesse mundo, né.

Então, quando a gente fala da história
de luta das mulheres negras,

nós falamos de uma história milenar

que atravessa a nossa história
e a história

no nosso continente, no nosso país,
a partir de um crime

de lesa humanidade chamada
escravidão transatlântica.

E a partir daí que a gente reconhece
a luta das mulheres negras.

Elas lutaram por liberdade,
por melhores condições de vida

e, sobretudo,
pelo reconhecimento das suas humanidades.

O meu processo de pintura
tem muito gesto e

para eu carregar isso
para o resultado final,

eu uso bastante pastel oleoso,

pinceladas bem fluídas.

Eu gosto de dar um protagonismo
para a pintura,

então em vários momentos

tem áreas de maior transparência

e também de mais opacidade.

Eu gosto de trabalhar
com bastante hachura.

Não sou graffitiira, não sou muralista.

Eu sou mais de trabalhar sobre lona,
sobre tela.

Mas foi uma

uma grata surpresa,
porque o muro ele tem uma aspereza.

Quando eu passo o pincel
não tão encharcado,

mas eu ganho um pouco da plasticidade

que eu tenho
quando eu trabalho com pastel oleoso.

Então isso para mim é bom,
porque já tem uma paridade com

a matéria com plasticidade, que
eu gosto de trabalhar na minha pintura.

Cada personagem dessa é uma coluna

e eu vou começar
a trazer mais detalhamento.

E depois eu continuo fazendo isso
no fundo,

na base, nas laterais.

Quando a gente olha

a história do Brasil,
a gente vai ver a história de mulheres

enfrentando barreiras,
diminuindo barreiras

para conseguir seus direitos
e, sobretudo, para conseguir coletivamente

ter acesso a bens e serviços
em melhores condições de vida.

Então, quando a gente fala da história

do feminismo no Brasil,
a gente fala da história

de um grupo de mulheres,
mulheres brancas, classe média, alta,

que reivindicam direitos
e efetivamente esses direitos

têm uma dimensão coletiva e vai
se espraiar para outros grupos também.

Mas necessariamente não significa
que a luta pelo direito das mulheres

começa aí.

Então, o movimento feminista estabelece
diferentes ondas do feminismo

para marcar pilares de construção
da história das mulheres.

Mas nós, mulheres negras, marcamos essa
esse processo de outra forma.

Nós marcamos desde a presença
da primeira mulher no Brasil,

uma mulher negra,
escravizada pela luta, pela liberdade

e também pela luta
de igualdade entre mulheres.

Então mulheres, mulheres negras,
mulheres indígenas,

mulheres brancas,
todos os outros grupos que se identificam

têm identidades relacionadas
a essa condição de gênero.

Lutaram por muito tempo
para ter a sua liberdade.

Em 30, 40 anos,

os direitos das mulheres se modificaram
e as suas reivindicações também

renovaram todas essas relações.

Mas elas não foram suficientes
para romper com as assimetrias de raça,

de orientação sexual,
de identidade de gênero,

porque ainda mulheres não perceberam
que nós não somos uma única mulher.

Nós somos diferentes
e temos diferentes processos

que balizam as nossas condições
e os nossos direitos.

Então,

nós temos uma referência
a Conceição Evaristo

do Bonte das Maravilhas,
as meninas do Bonde das Maravilhas,

uma mãe, as minhas filhas,

uma mulher bem vestida, gata gostosa

e uma mulher grávida.

Eu queria realmente que fosse possível
que a leitura fosse

de que a gente que está aqui fora,
passando pelo espaço urbano,

estivesse ali também,
representando todas nós,

mulheres cariocas.

O topo faz referência

ao entablamento,
que faz parte da arquitetura grega

e aqui a gente traz esse elemento pesado

que representa um pouco de cimento
sobre a cabeça delas.

Com essa...

Não é um desenho,
mas é uma intenção de bandeira.

A base,

a minha intenção é que representasse
as mulheres que já foram

e que suportam essas colunas

que sustentam a sociedade brasileira.

A força da luta das mulheres negras

vem para dizer que
para termos uma sociedade

onde os valores feministas,
concepções feministas, democráticas

e de outras ordens de direitos humanos
é necessário reconhecer

que essa desigualdade entre mulheres
precisa ser vencidas.

E talvez o melhor exemplo,
o exemplo mais importante

que é clássico também nesse debate,
tem a ver com o trabalho doméstico

e o quanto o trabalho doméstico impulsiona

a liberdade,
os direitos das mulheres brancas

e põe em risco as condições de vida
e de direitos das mulheres negras.

No ocidente.,

que são os países da Europa,
Estados Unidos...

A gente observa que
as relações de gênero

acabam por
dividir as pessoas

entre homens e mulheres,

onde a nossa sociedade
é dominada por pessoas

reconhecidas pelo
gênero masculino,

e onde pessoas reconhecidas
pelo gênero feminino

acabam por serem
subalternizadas.

Mas a gente já observa
que a questão de gênero

não é uma questão biológica,
é uma questão social.

Essa divisão de que as pessoas têm
que ser pautadas, classificadas

e colocadas em caixinhas
a partir do que é considerado o seu sexo biológico,

a genitália,
o órgão genital que é a pessoa possui

é extremamente violento

e serve como marcador de
desigualdade de gênero.

A gente pode dizer

que não existe só homem e mulher
pautada pela cisgeneridade.

A gente precisa pensar
outras identidades de gênero.

É possível ser uma
mulher cis como eu sou.

É possível ser um
homem trans.

É possível ser
uma mulher trans.

É possível ser agênero,

pessoas que não
se identificam

com os desenhos estabelecidos
e apresentados para gênero.

Os gêneros são múltiplos,

e a gente precisa
superar os padrões dicotômicos

de homem cis e mulher cis, que na verdade
foram criados na nossa história

para excluir pessoas que de alguma forma
não se adequaram a esses padrões.

Na própria arte,

eu gosto muito de passear,
tanto nos materiais,

não gosto de me
privar a só um,

tanto que eu experimento
performance,

experimento pintura,
experimento texto...

Quando eu me inscrevi,
eu ainda estava bastante na figuração

e sempre que eu vou para figuração
eu tento aproximar do humanoide,

da coisa humana,
eu gosto de tirar esse papel.

E aí, enquanto artista também eu
venho trazendo mais o processo reflexivo.

Assim, eu estou querendo focar mais
na questão filosófica e crítica mesmo.

Tanto que meu novo...
meu trabalho atual

eu estou mais questionando,
fazendo perguntas diretas,

eu lanço uma frase...

Eu costumo fazer intervenções urbanas
com uma frase, questionando se o surto

seria um momento de lucidez diante de tudo
o que a gente está vivendo nesse Brasil,

de tudo o que uma vivência
de uma mulher negra periférica vive.

Acaba sendo repetitivo,
mas tá precisando ser repetitivo, sabe?

Então, no meu processo criativo tem
muito disso, só que de uma forma subjetiva.

A nossa sociedade pauta

o gênero masculino cisgênero

como centro da
discussão social,

como a pessoa que
vai dominar as relações

e quem não corresponde a esse padrão
acaba por ser subalternizado,

ou seja, é importante dizer.

que mulheres cis e trans,

que pessoas negras
não nasceram subalternas,

elas foram subalternizadas
por conta dessas estruturas de poder.

E como todo projeto de poder.

Ele se dá a partir de uma série
de relações de opressão

e elas se manifestam
inclusive a partir da violência.

É importante dizer que o Brasil
é um dos países

que mais mata pessoas
trans e travestis.

O Brasil é também um país
onde a gente observa índices alarmantes

de violência doméstica.

Infelizmente, muitas vezes
mulheres trans e cis

não estão seguras
dentro de suas casas,

que é um espaço onde deveria ser um
lugar de acolhimento e de segurança.

É muito importante
a gente dizer que sim,

o gênero é um marcador de violência,
inclusive dentro das famílias.

Se a gente ouve
falas como:

“a mulher é quem
tem que cuidar da casa,”

“a mulher é quem
tem que cuidar dos filhos.”

Por quê?

O que torna uma mulher
diferente de um homem

que faz com que ela tenha
que desempenhar determinados papéis?

As mulheres,
cis e trans,

sofrem pela questão
do machismo

e pela questão também
da desigualdade de gênero.

E se a gente fizer um
cruzamento com a questão racial,

a violência fica mais grave ainda.

É muito importante
a gente observar

que é preciso que a gente quer
políticas públicas para redução da violência,

para a inserção de pessoas
trans com mercado de trabalho.

Porque a gente precisa combater
essas estruturas que foram construídas

historicamente
e que excluem as pessoas

que não se enquadram
no padrão cisgênero

e heteronormativo, construído
historicamente na nossa sociedade.

A gente tava aqui,
várias pessoas passam e falam:

“É um homem?
É uma mulher?”

“Que coisa é essa?
Quem é que tá...”

E aí, “ué e por que não
está saindo pela porta?”

Porque as pessoas pensam isso

ou você tem que se enquadrar como um homem
ou como uma mulher.

E se tem uma porta,
você tem que fazer o óbvio.

E aí eu ia te pedir para falar
um pouquinho sobre isso.

Conta um pouco sobre o processo criativo
do seu mural e como, que eu fui percebendo,

ele pode trazer as questões de gênero
para gente discutir.

Acho super interessante esse processo,
tanto da criação

quanto do processo de escolha,
que foi bem inusitado.

Eu escrevi quatro pinturas,
quatro croquis,

em três temas.

A pintura selecionada
foi a pintura dois,

só que ela foi entendida pela seleção
como a pintura um.

Eu criei ela pensando
na questão dos homens estarem em ascensão

e essa coisa de hackear mesmo,
de quando fecham portas

a gente pular
as janelas.

O pessoal da seleção
entendeu como se fosse de gênero.

De primeira eu estranhei
e fui reler a imagem

e quando eu olhei
eu falei: Super!

E aí eu achei muito incrível
isso da arte se mostrando mesmo subjetiva

e vai ter várias leituras,
e eu poder ter um novo olhar

sobre uma coisa que eu mesma
criei e que eu tenho super vivência nisso,

super dá, é o que eu faço
também, é o meu rolê de vida também.

Esse mural,
por exemplo, que é mais figurativo

com esse processo da seleção, me mostrou
que ainda sim ele pode ter várias leituras

para várias nuances
que também se encontram, né?

Por isso eu gosto da pergunta,
mesmo que não seja

num primeiro momento,
descarado,

tudo isso está inserido
para encontrar em você,

em quem está
observando esse lugar.

Olá, eu sou o Ju Angelino.

Sou daqui do Rio de Janeiro,
venho da comunidade Morro do Dendê.

Estou aqui hoje executando
um mural pela Rede NAMI

com o tema Machismo,
onde eu fui selecionada

pelo edital emergencial
durante a pandemia.

Executar essa pintura
aqui com o tema Machismo.

Está sendo um trabalho
de retrospectiva

não só da minha carreira
como da minha vida mesmo, assim...

No momento em
que eu enviei

a proposta do layout
eu estava vivenciando

essas questões em torno
de ser uma mulher de periferia

tendo que enfrentar vários
machismo por várias partes,

não só na família, quanto na comunidade,
na sociedade, enfim.

Então esse trabalho

vai meio que representar

não só eu, mas todas as meninas
que passam pelas mesmas situações

tendo que quebrar
essas barreiras.

Eu fiz o esboço com
cinza aguadinho

para não comprometer muito a pintura
quando for entrar com os tons mais claros.

E usei as cores primárias
vermelho, amarelo.

Pensando num tom de pele
bem saturadão mesmo,

para ficar vibrante.

E aí eu venho no pincel
mesmo fazendo esse degradê,

de forma bem solta,
sem nenhum compromisso de marcar

bem o desenho da anatomia
do corpo e tal.

Pensando muito nessa ideia
de graffiti mesmo, né,

que foge um pouco
dessa dessa coisa

bem realistona e tal.

E aí eu matando essa
questão do corpo, né?

Eu venho mais
tranquila para improvisar,

fazer um freestyle
assim em torno da figura,

pensando em fundo...

É isso, é um pouco
de improviso.

Mas com uma ideia já bem elaborada,
tanto na paleta de cores quanto na forma

de fazer a tinta que eu gosto
desse trabalho de fazer a cor.

E aí eu venho
depois com o spray,

com as cores mais vibrantes
para dar aquele salto na luz.

E é isso.

Quando a gente
vai observando

a história do mundo mesmo,
a história da nossa sociedade,

a gente vê que existem
vários mitos fundadores.

E esses mitos fundadores
vão criando formas

da gente de se relacionar,

vão criando modelos que
inspiram a nossa vida

e a gente consegue ver
que o machismo está presente

nos mitos fundadores
da nossa sociedade.

Dando um exemplo
bem simples:

várias de nós

já devemos ter ouvido falar,
por exemplo, na história de Adão e Eva,

colocar a Eva
como proveniente,

inclusive fisicamente, de Adão,
vindo da costela dele.

Já Adão nasceu do pó da terra,
foi criado enquanto o primeiro ser.

Então a gente já tem na nossa história
um mito que coloca a mulher

em um lugar
muito difícil

e subalternização
com relação ao homem.

E um outro
mito fundador

que é muito importante
também que são os nossos contos de fadas.

A história da Borralheira ou da Cinderela
fala de uma mulher

que foi rejeitada pelo pai,
vai viver com as irmãs

e com a madrasta,
é também rejeitada.

Então, vejam bem,
a história já coloca as mulheres

dentro de uma situação de conflito
e de disputa, que é uma das ferramentas

que o machismo utiliza para nos colocar
umas contra as outras.

E ela só consegue ser valorizada
quando é isso que ela tem

gestos, um corpo delicados.

Então partir desses exemplos,
a gente consegue perceber que o machismo

está na base
da nossa sociedade.

Ele foi criado para oprimir mulheres
e para colocar os homens

em situação de vantagem.

Hoje em dia a gente
tem uma série de ações

de mulheres que estão
na luta contra o machismo.

Mas é muito importante
a gente não perder essa perspectiva:

o machismo é um
sistema de opressão

que muitas vezes funciona
de uma forma invisível,

mas ele está nas bases
da nossa sociedade.

Esse mural representa
não só a questão do eu como mulher

artista de periferia

ter que enfrentar várias barreiras,

Tendo também que lidar
com a pandemia.

Ter que estar preso em casa
por dois anos

porque eu vivo do meu
trabalho artístico somente,

é a minha única renda.

Pintar uma figura de uma mulher
saindo de uma casa

que não...

não comporta mais
a grandeza dela é muito simbólico,

assim,
por diversos motivos.

E almejar ir para
outros lugares,

almejar me movimentar,
ocupar outros espaços maiores.

E eu coloquei elementos de casa,
de uma casa,

como se essa figura,
essa pessoa que pode ser eu

ou pode ser qualquer outra mina que passe
pelas mesmas coisas que eu, crescendo

a ponto de não mais caber naquele lugar,
naquele espaço limitador, pequeno.

O machismo está presente
nas nossas vidas

e afeta o nosso cotidiano
de várias formas.

Como por exemplo,
a família.

Infelizmente,
a sociedade brasileira foi construída

em cima da subjugação
e de uma série de crimes

cometidos contra mulheres,
especialmente negras e indígenas.

Quando os colonizadores
chegaram no Brasil, as mulheres negras

foram estupradas,

foram colocadas em
situação de escravidão

e as mulheres indígenas
também.

Hoje em dia a gente
consegue ainda observar

que as mulheres estão em condições inferiores
aos homens na sociedade brasileira.

E isso se manifesta a partir dos salários

que são menores para mulheres
do que para homens.

A maternidade compulsória também.

As mulheres até hoje não tem direito
a decidir sobre o próprio corpo.

A violência contra a mulher
é uma coisa que é muito importante,

que é a pouca ocupação de mulheres
em espaços de poder,

justamente porque o machismo vem
desde a raiz da nossa sociedade,

aparecendo também nas questões menores
do nosso dia a dia e do nosso cotidiano.

Ju,

queria, enfim, dizer que é uma felicidade
enorme estar com você.

Você é uma artista que eu admiro muito
há muito tempo

E eu acho que esse mural

me traz uma série de lembranças,
tanto em relação ao seu trabalho,

a sua história,
quanto a relação que papéis de gênero

buscando justamente essas estratégias,
essas ferramentas.

Não uma mulher de pele alva
é uma mulher que a gente

consegue identificar como
uma mulher não branca.

Então, eu vi uma mulher

com a qual eu me identifico
muito, saindo dessas amarras do machismo.

O foco da parada,

além de ser uma figura feminina
é uma figura feminina de periferia.

Então eu acho que
o recado foi dado, assim.

Me sinto um
pouco mais...

aliviada, feliz por essa mulher maravilhosa
ter feito essa leitura de trabalho.

Ah, vem cá!

Ai amei...

- Totalmente não ensaiadas!
- Não, é, eu sei!

Olá, meu nome é Edju,
eu tenho 39 anos,

Eu comecei a grafitar
pela Rede NAMI

no projeto
AfroGrafiteiras

Os meus graffitis normalmente
falam da mulher, da força dela

das coisas pelas
quais ela passam,

as necessidades, as violências,
o auto amor, o auto cuidado.

Então hoje o nosso trabalho
vai ser sobre violência psicológica

e outro fazer um graffiti aqui
retratando isso.

A violência psicológica
é qualquer conduta

que cause dano emocional
e prejudique a auto estima da mulher.

Ela é muito sutil.

Geralmente ela vem acompanhada de
outras violências, como a física,

e ela traz consequências
muito graves para a saúde

emocional
e física da mulher.

Como exemplo
de violência psicológica,

nós temos as ameaças,
as humilhações.

Muitas vezes o agressor isola
a mulher nos amigos e na família

para poder manipular
com mais facilidade.

Ele distorce e omite os fatos
para deixar a mulher em dúvida

sobre a sua
sanidade mental.

É o famoso Gaslighting e faz a mulher
se passar por louca

para os amigos
e familiares

e ela acredita
realmente nisso.

E para a mulher se curar
dos males da violência psicológica,

é muito importante ela perceber que
está sofrendo esse tipo de violência.

Por ser muito sutil,

A mulher muitas vezes confunde
com o carinho excessivo, com o cuidado.

E por isso é muito importante
ela procurar ajuda de um profissional,

de uma rede de apoio
para conseguir se fortalecer

e romper esse ciclo.

A minha inspiração
para o meu desenho

foi a violência psicológica.

E aí, pensando nisso, eu comecei
a criar a partir do fundo.

O meu trabalho,
nesse caso,

é uma boneca que está
sendo manipulada.

Então eu queria muito
que ele tivesse

um fundo escuro que
lembrasse um cenário,

mas que ao mesmo tempo
tivesse essa coisa do...

da questão de
como é difícil

você lidar com a violência psicológica,
como você deixa de ser você

Passa a agir e a falar
pela voz de outra pessoa, né.

Por isso essa marionete,

esse olhar triste,
esse sofrimento,

e essa coisa da
manipulação.

Então, tipo, ela está sendo manipulada
por outra pessoa,

a fala dela está sendo dita
por outra pessoa,

por isso a boca dela está costurada,
ela fica muito direita, fala dela.

E aí a única forma de ela expressar
meu olhar, o dela.

Perfeita a sua fala.

Perfeito o retrato que você fez
porque é violência psicológica

ela realmente faz isso.

Ela diminui a
autoestima da mulher,

a mulher, ela é manipulada
o tempo inteiro.

Nunca começa
com um tapa.

Ninguém nunca chega
e bate em você de primeira.

Geralmente, vem o que?
Com a violência psicológica,

Com essa diminuição da autoestima,
com essas humilhações.

Isso tudo vai passando para,
na maioria das vezes, violência física.

Então é uma violência que
a gente precisa falar,

informar e mostrar
para outras pessoas,

porque se você
não se percebe

na violência psicológica,
se você não entende que está vivendo

esse tipo de violência,
você não vai sair dela.

Oi, eu me chamo
Larissa Teixeira,

tenho 24 anos, pratico arte
desde que eu me conheço por gente.

Meu primeiro contato com o graffiti
foi a partir do AfroGrafiteiras,

e depois dali eu comecei a me interessar
pela pintura na parede,

que é algo sensacional.

Eu começo pintando o muro
aplicando a base

e depois com uma tinta mais clarinha,
quase transparente,

eu faço a marcação
do meu desenho.

eu preparo o látex com a cor
que eu vou usar de fundo.

Depois eu uso o graffiti

para dar um tchan
que o graffiti lhe dá todo um brilho.

Algumas áreas
eu uso apenas o graffiti,

outras eu uso a base do
látex para me auxiliar.

A violência sexual

inclui qualquer ação cometida
para obrigar a mulher

através da força física
ou da violência psicológica,

a ter relação sexuais.

ou presenciar práticas sexuais
sem a sua vontade.

Como exemplos de violência sexual
nós temos um estupro.

Impedir a mulher de utilizar
métodos de contraceptivos

no caso do
anticoncepcional.

forçar a mulher
a abortar,

limitar ou anular o exercício dos
direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

Você já ouviu falar
em estupro marital?

É muito comum, mas
muitas mulheres não enxergam como estupro.

Quando a mulher não quer
ter relações sexuais,

seja por estar cansada
ou por problemas de saúde

o homem não
pode obrigá-la.

Quando isso acontece,
é estupro marital.

É importante a gente ter em mente
que nenhma mulher

é obrigada a ter relações sexuais
se ela não quiser.

O homem não pode nos obrigar
a ter relações sexuais.

Embora seja muito comum
e até mesmo naturalizado pela nossa sociedade.

Essa arte eu desenvolvi
a partir do tema mesmo,

que é violência sexual
e que ela mesmo já diz:

“Meu decote não
é um convite.”

Justamente por
conta das situações

que as pessoas justificam abusos sexuais
estupro, invasão do corpo da mulher

por conta da vestimenta, por conta de
um vestido, por conta de um short.

É um olhar indesejado
vindo de um homem,

é um toque não permitido
dentro de um transporte público.

E aí, essa arte está servindo
bem de recado, mesmo

E aí eu retratei
aqui o decote

e muitas das vezes isso
é uma desculpa

para que os homens
queiram nos invadir.

E aí a sociedade no geral
usa como defesa

que a culpa é da
vestimenta da mulher

ou é do olhar da mulher,
ou é do batom que a mulher usa.

Perfeito, Larissa,
é exatamente isso.

A gente pode usar o que a gente quer,
qualquer tipo de vestimenta

e o homem não tem o direito
de invadir o nosso espaço.

Então, esse é um assunto que precisa ser
realmente discutido e debatido

todos os dias
pela sociedade.

Hello, people,
aqui a Roberta Holiday

sou cineasta e agora também
estou artista plástica.

No momento a gente está se preparando
para fazer um mural

sobre a violência contra as mulheres
e o meu tema será a violência moral.

Participei do da AfroGrafiteiras,
2020-21

E eu estou amando esse momento
estou amando tudo o que está acontecendo,

conhecer pessoas
incríveis.

Eu vou usar giz
para fazer o risco.

Vou usar tinta látex,
então eu ter mais segurança para usar,

usar trinchas e pincéis...

Essa vai ser minha primeira experiência
assim, que vai ficar na rua.

E aí, não sei gente,
estou animada!

Estou apreensiva
pois também sou ansiosa!

Mas eu acho que vai
dar tudo certo.

A violência moral
é considerada

qualquer conduta que configure
crime de calúnia, injúria ou difamação.

ela está intimamente ligada
com a violência psicológica,

com as humilhações, com xingamentos,
com a diminuição da auto estima da mulher.

A calúnia ocorre
quando o agressor

imputa à mulher um crime
que ela não cometeu.

Quando ele diz que ela roubou os bens
dele, carro, moto...

Já o crime de injúria ocorre
quando o agressor ofende

a dignidade da mulher,
chamando ela, por exemplo, de vagabunda,

de ladra...

A difamação ocorre
quando o agressor imputa à mulher

fatos que manchem a sua reputação,
como chamá la de adúltera,

incompetente.

Esse tipo de violência
acontece frequentemente nas redes sociais

e é muito importante
quando a mulher verificar nessa situação,

printar a tela,
salvar essas informações,

porque na hora de
registrar uma ocorrência

é uma prova que ela tem
contra o agressor.

A inspiração para a obra foi pensada

quando teve um exercício
do curso da AfroGrafiteiras

sobre a violência
contra a mulher.

E aí eu pensei

nesse momento que a mulher
está sofrendo violência

em várias camadas, né?

E aí no desenho
terão algumas palavras, entendeu?

Em volta dessa
personagem.

E aí eu trouxe essas cores,
cores quentes

que tem essas palavras, né?

Como violência,
como tristeza...

E ai trazendo um pouco
mais do azul,

que é uma cor que também transmite
muita tranquilidade

nesse momento
que a pessoa começa a resgatar

e ter consciência de que está passando
por um momento difícil.

Então foi mais ou menos o que eu pensei
na hora de criar esse esboço

Eu quis trazer cada cor
um sentimento, né?

E nisso, eu coloquei
as palavras.

Tem a palavra coragem,
tem enfrentamento, que está aqui também.

Quando a mulher se percebe
nesse momento de violência,

ela vai em
busca de ajuda, né?

Com pessoas que ela tem,
uma relação de de carinho, de cuidado.

E aí eu pensei.

E aí eu pensei mais ou
menos assim, Catarina,

quando eu pensei em
criar esse mural.

Incrível, né?
Cores bem fortes também, né?

- Sim,
- E retrata bem essa questão da violência.
e a violência moral.

E a violência moral está muito
atrelada à violência psicológica.

Tudo isso mexe muito
com a autoestima da mulher, né?

Então, acho que você retratou bem isso
o medo, a tristeza.

E quando você diminui a autoestima,
ela tem essa dificuldade de se reconhecer

na violência doméstica.

Eu sou Aduda,
Ana Eduarda

Eu sou um artista autodidata
e passei na convocatória do...

de 2020 da Rede NAMI,

para mulheres artistas em
momento de pandemia.

E hoje a gente vai começar
a execução do mural.

E aí eu vou construindo
cor por cor,

Às vezes acontece
de dar vontade

de fazer uma coisa mais complexa,
com vários tons...

De uma forma
muito orgânica,

eu sou livre
no criar,

Eu não fico presa extremamente
ao croqui, a ideia é aquela,

mas ela se constrói conforme o muro
permite e conforme a arte quer falar.

Vai ser um momento muito especial
para mim, porque eu nunca fiz um mural

dessa magnitude
num lugar público, né?

Então vai ser muito especial.

A violência patrimonial é
a tentativa de controlar a mulher

através do dinheiro
e dos bens.

E esse tipo violência,
na maioria das vezes impede que a mulher

quebre o ciclo e consiga sair de casa,
consiga sair de perto do agressor,

porque em muitos casos
ela depende financeiramente dele

e infelizmente não há
políticas públicas

que acolha essa mulher.

Quando o agressor retem
ou subtrai o salário da mulher,

queima os documentos,
quebra os objetos de trabalho,

não paga a pensão alimentícia,

deixa de prover o básico
para o núcleo familiar

estamos diante da
violência patrimonial.

Um exemplo prático de
violência patrimonial:

Eu atendi uma vítima casada
que ficou desempregada,

que já vinha sofrendo outros de violência,
como violência psicológica

e violência física.

E o agressor queimou os
documentos dela,

inclusive carteira de trabalho,
CPF, identidade,

justamente para dificultar

que ela consiga arrumar um emprego
e sair da casa e deixar o lar.

Ela conseguiu um forninho
e uma estufa de amigos

para poder vender salgados na rua,
vender salgadinho

e ter alguma forma
de subsistência.

O que ele fez?

Foi lá e quebrou o forninho,
quebrou a estufa.

Justamente para ela não conseguir ganhar
dinheiro e depender dele.

E para piorar a situação,
ele desligou a luz da casa e a água.

Deixou a mulher sem recursos
para que ela possa sobreviver.

Quando teve o edital,
as coisas lá em casa estavam muito incertas.

E assim, primeiramente
eu vi uma oportunidade de mostrar

o meu trabalho.

Foi primeiramente por isso,
na verdade, para poder dar um outro passo, sabe?

Passar a zona do medo
e fazer o que eu quero fazer,

que isso aqui é arte, é arte para todo
mundo, é arte para ser vista,

é arte para curar

porque para mim arte é
um proceso de cura também.

Eu fiz uma mão

rasgando uma
carteira de trabalho

que é o nosso símbolo
de empoderamento do indivíduo.

Nós mulheres
queremos ser

Empoderadas,
independentes, né?

E ela está atrelada
por uma algema

a essa pessoa que não quer
permitir que ela se desenvolva.

Quando você tira o direito
a independência financeira,

ao trabalho, a realização,
você tira dinâmica de vida da pessoa.

Ela não vive, né?

Como se você tivesse

o mundo, o universo
daquela pessoa.

Quem disse que eu
quero ser o seu brinquedo?

Que eu quero ser
refém do seu dinheiro?

Eu quero ser refém

do que você está me dizendo
que é uma coisa boa,

mas não é porque tira a
minha liberdade perfeita.

Perfeita essa questão que você falou do disfarce né,
desse cuidado.
Você não precisa trabalhar,

“você não precisa trabalhar,

“eu te dou tudo.

“Para que você
vai ter esse esforço?

“Você fica em casa
cuidando de mim.”

- E na verdade, isso é um domínio
sobre aquela pessoa.

Quando a mulher sofre
a violência patrimonial,

ela tem dificuldade de
romper o ciclo da violência.

Porque se a gente for parar
para pensar

no país que a gente vive,
que é extremamente desigual,

o trabalho é uma forma
dela conseguir ter autonomia,

se empoderar
e muitas vezes sair também.

- Se libertar mesmo.
- Se libertar.

Oi, eu sou Cibele Arcanjo,
sou artista visual, pintora.

Eu sou bacharel em pintura
pela UFRJ, pela EBA

E eu fiz uma proposta para o
mural de violência física

aqui no edital
da Rede NAMI.

E aí eu queria fazer uma coisa
que tivesse a ver com o rosto,

porque a violência física está muito
ligada também àquela coisa de

enfim, pancadas no rosto que
a gente esconde, maquiagem

não sei o quê e tal,
queria trazer isso.

E aí, no decorrer do
meu processo,

eu fui pesquisar imagens de referência
e por acaso eu achei a foto

de uma mulher que
sofreu violência física,

que é a Sandra Marta da Silva,
que eu achei essa foto.

E aí eu resolvi juntar tanto a minha ideia
com a ideia de retratar

ela mesmo com
a fisionomia dela.

Aí chegando
no graffiti...

Longa história...

Chegando no graffiti,
eu faço uma projeção

da minha
imagem digital

com a ajuda de um
projetor mesmo.

E eu marco com um spray

depois eu venho
preenchendo as camadas e...

Criando o volume, né?

Pensando nas proporções,
nas formas, nas...

Formas abstratas
que tem dentro do rosto.

E aí é pintura...

A violência física
é qualquer conduta

que ofenda a integridade
ou saúde corporal da mulher.

Normalmente, a violência física
apresenta um padrão cíclico.

O que é isso?

É um ciclo de violência.

E esse ciclo de violência
é composto de três fases:

a fase da tensão é anterior
à fase da agressão,

e geralmente se caracteriza
pela violência psicológica.

Ali há as ameaças,
as humilhações, os xingamentos...

Na fase de explosão
é a fase da agressão propriamente dita.

É quando o agressor bate, chuta,
machuca, empurra a vítima

e, por fim, a gente tem a lua de mel,
a fase da manipulação afetiva,

dos pedidos de desculpas, de que
aquele incidente não vai mais acontecer

e, na maioria dos casos, a mulher acredita
que o ciclo de violência chegou ao fim.

Mas não é isso que acontece.

Esse ciclo vai se intensificar
e ele vai voltar a se repetir

e muitas vezes pode acarretar
na morte da mulher,

que é o caso do
crime de feminicídio.

Pessoalmente,
achei desafiador

fazer uma arte para os assuntos,
porque são assuntos sensíveis.

Eu tentei trazer de uma forma
que ao mesmo tempo trouxesse uma sutileza

para o assunto

mas não perdesse a
profundidade dele.

Então eu trago o retrato dela
nessas cores frias.

Em volta dela
vão ter tulipas

e as tulipas quando são dadas
de presente em casais,

ela significa amor
eterno e verdadeiro.

Então eu trouxe elas despetaladas para
estar falando um pouco dessa violência

e da dificuldade que muitas
mulheres se encontram

para poder sair
desses relacionamentos.

Muito louca as vontades
que eu tinha, cara...

Eu via aquela
galera do graffiti, é...

Tipo assim, o graffiti
“old school” mesmo

com toda aquela narrativa de
que você começa como “toy”

e você vai virar “King” um dia.

Aí eu tinha muito essa pira, cara,
“eu sou muito toy

“eu tenho que melhorar,
eu vou ser King”,

aí eu “não vou ser Queen”,

Aí eu ficava...

“Queen”, aí...

Eu comecei assinando “Scare” porque eu vou colocar, eu quero ser uma coisa assustadora,

porque eu botava a parada...
Eu quero ser uma coisa assustadora

e tal ai botava
o nome “Scare”...

A galera acahva
que era homem

“Pô, você viu
tem um Scare aí”...

“Tem um ‘Escare’”,
falavam escare

“Tem um ‘Escare’ aí brotando,
quem é? Você conhece?”

Aí eu: “vou começar
a assinar ‘Queen’”.

Aí a galera
começou a associar...

“É uma mina, mané.
É ‘Queen’ alí?

E aí ficavam assim sabe...
Que coisa!

Essa é a Sandra Marta da Silva.

Ela é uma mulher comum,
viveu a vida dela com um companheiro

que maltratava e batia nela.

No final ele assassina
ela e ainda arranca a face dela.

Então é um crime
de muito ódio, né?

Foi um caso que tinham pessoas
em volta que ouviam

e que sabiam que eles brigavam toda noite
e ela pedia socorro toda noite.

E ainda assim
o crime acontece.

E aqui, então, eu trago
o rosto dela de volta,

mesmo que simbolicamente,
e que ela possa ser relembrada com...

com a sua história...

e como um potencial de vida
que foi interrompido também.

Perfeito, eu adorei essa simbologia
das tulipas, não conhecia,

e ficou muito bem retratado.

E essa questão que você falou do silêncio
também achei perfeita,

porque a gente ainda tem a impressão
quando fala a gente, a sociedade,

de que briga de marido e mulher
ninguém mete a colher.

É por isso que cada vez mais
o número de feminicídio

que é a morte de mulher pelo simples
fato de ser mulher tem aumentado.

E um dado também
importante.

A Sandra era uma
mulher negra.

- Sim.

E as negras, as mulheres negras
são as maiores vítimas de feminicídio

e também de
violência doméstica.

Por isso também
esse silêncio.

Porque não
há comoção

quando corpos
negros morrem.

Então isso acontece
cotidianamente.

Oi, meu nome é Lídia,
eu sou publicitária de formação.

Hoje eu trabalho como
social mídia e design gráfico

e a ilustração é um dos meus
principais hobbies.

Nesse mural eu utilizei dois métodos
com o pincel e com o spray.

Eu nunca tinha utilizado o spray,
mas o resultado foi gratificante.

Eu gostei muito
dessa experiência.

Também não imaginava
que podia ser feito dessa forma.

Para mim quem
grafitava só usava o spray,

então já foi mais uma
desconstrução aí.

Feminicídio é a pratica de homicídio
contra mulheres por elas serem mulheres.

Ele acontece dentro da lógica
da violência doméstica

e por questões de ódio
e menosprezo à condição da mulher.

Lógica e sobreposição de gênero,
raça, classe e sexualidade,

onde o homem se considera
um local de poder, posse,

propriedade.

Mulheres que
saem dessa lógica,

que não respeitam, enfim,
que não seguem toda uma estrutura

de gênero de papel
social de gênero.

Elas recebem da sociedade
como um todo um controle.

E esse controle pode
ocorrer de diversas formas,

de diversas
maneiras de violência.

Então, a violência, ela é praticada
psicologicamente, praticada moralmente.,

Patrimonialmente...

E principalmente, dentro
da discussão do feminicídio,

através da
violência física.

Então, a Lei do Feminicídio foi criada
no governo da presidenta Dilma Rousseff,

e ela traz a discussão do homicídio praticado contra
a mulher em razão do gênero feminino.

em razão do
gênero feminino.

A lei é importante
porque ela estabelece o discurso.

Esse reconhecimento do Estado
de que existe um problema

de que o Brasil
mata muitas mulheres

isso traz uma responsabilização
para o Estado.

Só que não adianta criar uma lei
e achar que o problema está resolvido.

É criar lei
e criar mecanismos efetivos.

A lei traz a discussão, a sociedade
repara que existe um problema,

e a partir daí é necessário outras ferramentas
para poder lidar com o problema.

A primeira ferramenta
é o acolhimento,

as denúncias

elas precisam ter
diversos canais.

Muitos países trabalham
para além dos telefones

com o aplicativos
aplicativos de sigilo.

Mas é necessário também
um treinamento.

um treinamento das pessoas que vão assessorar
e atender essas mulheres.

Então, o condicionamento,
o trabalho de base dentro das delegacias,

dentro do Ministério Público, também,
para que essas pessoas

discutam o gênero dentro de uma construção social
e saiam da lógica do sexo biológico.

O feminicídio
é o último dos atos,

é a última ponta de um
ciclo de violência.

Essa mulher precisa sair
antes desse tipo de relação.

Existem múltiplas violências
que ocorrem antes

e essas violências passam por setores
totalmente distintos.

Não é necessariamente uma discussão
de patriarcado tão e somente

Existem outras discussões.

Então, a partir do momento que o Estado
reconhece que existe um problema,

é preciso reconhecer que esse problema
vem de diversas fontes diferentes

e que precisa ter políticas públicas
em todas essas áreas.

Bom, quando eu fui
uma das selecionadas

do edital da Rede NAMI,
eu fiquei muito surpresa, na verdade.

Me ajudou bastante
aquele auxílio,

não só o auxílio em si,

mas o fato de eu poder contribuir
de alguma forma minha arte para as ruas.

Então,
eu acho isso incrível.

Eu acho que esse tipo de edital
é muito importante paras artistas,

principalmente,
que tem poucas oportunidades

e tem pouca
visibilidade também.

Então eu acho
que é fundamental

O STJ recentemente

decidiu que o feminicídio se aplica
a mulheres transexuais e transgênero.

E a discussão fala sobre a
estrutura do patriarcado

que alcança toda
e qualquer mulher.

E estabelece que quando
a gente fala termo mulher,

a gente precisa trabalhar sobre a lógica
de que não existe uma unidade.

O termo mulher é
identificado pelo STJ

dentro da lógica da identidade de gênero
e como a pessoa se sente.

Então o STJ abriu a discussão,
levou essa discussão para outros tribunais

e outros tribunais
têm decidido

pela aplicação do feminicídio
a mulheres transexuais e transgêneros.

Mas o grande problema disso
é que não existe lei.

E se não existe lei.

O primeiro contato dessa mulher
como uma possível proteção são as delegacias

e as delegacias
não trabalham sobre essa lógica.

As delegacias não discutem identidade
de gênero, mas sim sexo biológico.

Muitas mulheres chegam às delegacia
e não são vistas nesse local

e aí passa para ser atendida
para a delegacia de homicídio

e a gente não
tem dados.

E quando a gente não tem dados,
a gente não trabalha políticas públicas,

se a gente não trablha políticas públicas
a gente não muda estruturalmente.

Então é importante sim, uma lei

para poder levantar esse debate,
para poder trazer

um outro tipo de acolhimento
e um outro tipo de tratamento.

Então, a minha artigo

primeiro de tudo que
eu pensei foi no fundo

preto, representando o luto

por esses crimes
de feminicídio.

E esses raminhos
vermelhos

Foi a representação
do sangue derramado.

infelizmente, por essas mulheres
vítimas desse crime.

Eu tentei representar algumas etnias aqui,

o máximo que eu consegui
para ocupar o espaço desse mural.

Essa luta é mais para uma pessoa
olhar e falar o que eu posso fazer

para isso parar?

E a gente tem diversas formas,
que é forma de denúncia,

que é a forma de você falar.

O fato de você conscientizar
outras pessoas também já contribui.

Eu fiquei muito impactada
com a frase que você coloca, né?

É você trazendo isso numa perspectiva
de que nós temos que nos unir.

Nós, mulheres, nós devemos nos unir,
mas devemos nos unir,

entendendo que somos muito diferentes,
somos múltiplas.

Os índices de feminicídio

eles atingem as mulheres como um todo,
todas as mulheres.

Só que temos mulheres específicas
que estão morrendo muito mais

e recebem as violências de gênero
em uma outra intensidade.

Então são as mulheres negras,
mulheres que saem da lógica

cis heteronormativa, que estão sofrendo
com os índices de feminicídio no Brasil.

Então, a sua arte,
ela passa isso.

O discurso,
ele precisa ser trabalhado

e a estratégia de resistência
e luta é coletiva.

Mas olhando para as nossas diversidades,
olhando para nossas cargas de opressão.

Olá, meu nome é Cynthia,

eu sou graffitiira
visual, professora, produtora.

Trabalho muito com
o tema do território

e também a
questão da mulher.

Tenho um projeto de exposição coletiva

chamado Subhumanidade,
um lugar da periferia na arte contemporânea.

Normalmente eu trabalho
só com o spray,

mas nesse mural
eu trabalhei com o spray e tinta látex.

Eu fiz a base, né, as
grandes áreas coloridas

com uso de spray e
depois os detalhes

eu quis fazer com o pincel e a tinta,
porque eu estou mais acostumada

a fazer murais maiores e também sempre
centrado mais no rosto das personagens.

Eu quis fazer um estilo diferente porque
eu achei que tinha mais a ver com o tema.

O Disque 180

é uma central de atendimento remota
sobre direitos das mulheres,

com ênfase no enfrentamento de violência
contra elas, precisamente direitos humanos

das mulheres.

Serve para informação,
orientação.

Eles fazem um rápido
acolhimento por telefone

quando é a própria
mulher que liga.

A ideia é sempre garantir a gratuidade, ou
seja, não precisa ter crédito no celular

para poder fazer a ligação,
porque a gratuidade é 100%.

Todas as violências
podem ser denunciadas

mas, mais importante
do que fazer uma denúncia,

muitas das vezes sabem informações
a respeito desses seus direitos.

Muitas mulheres não sabem informações
sobre os seus direitos,

como elas podem

e devem ser tratadas
no seu ambiente de trabalho,

como elas podem e devem ser tratadas
numa unidade de saúde.

Elas ligam e elas vão ter orientações
e informações, principalmente informações

sobre aquela demanda de violência
que ela tem.

Elas vão decidir
ir numa delegacia...

Ela vai saber
o que buscar,

que direitos buscar.

É importante lembrar

que 0 180 não efetua
o atendimento direto.

Ou seja, se essa mulher ligar
em razão do socorro,

ela não terá o
pronto atendimento.

Nesse caso,
ela terá que ligar para o 190.

O meu tema foi
o Disque 180.

Então essa campanha para que as mulheres
denunciem a violência.

E não só a gente,
mas também pessoas que presenciam, né.

Ninguém fique calado
so presenciar ou ficar sabendo

uma violência contra a mulher
é muito importante.

Por isso que todo mundo deve saber
disque um oito zero, disque 180.

Mas a responsabilidade
não é só da mulher.

Toda a sociedade tem que saber
fazer esse trabalho também.

Importante dizer que o
enfrentamento da violência,

a interrupção
da violência,

a superação da violência não está
atrelada nem exclusivamente,

nem essencialmente
à denúncia.

Pode se buscar
a toda a rede

Rede para que haja uma interrupção
do ciclo da violência,

para que haja o
fortalecimento dessa mulher.

Para que não recaia
em novas dinâmicas de violência.

É fundamental que essa mulher esteja
ciente dos seus direitos,

que essa mulher esteja fortalecida na sua autoestima,
na sua autoconfiança e na sua auto imagem.

no CIAM, tem o atendimento
técnico, a mulher chegando,

ela pode ser atendida pela técnica
que já esteja disponível.

Ou assistente social ou psicóloga,
também vai ter orientações jurídicas

e aí, dependendo da
demanda que ela traga.

O que pode ser cobrado no que diz
respeito ao Disque 180,

e a toda rede
especializada de atendimento à mulher.

É que haja investimento,
haja orçamento previsto

e execução orçamentária
na área de políticas para as mulheres.

Porque sempre
que se divulga,

se investe em recursos na
divulgação dos Disque 180

se está falando também de
direitos humanos das mulheres

se está falando do enfrentamento
à violência contra as mulheres.

Eu procurei ser o mais
didática possível

porque pra mim o mais importante
é que as pessoas entendessem a mensagem.

Muita gente não sabe que o serviço existe
ou sabe, mas não sabe como ter acesso.

Então, eu quis deixar bem claro
para que as pessoas entendessem

que elas
podem denunciar

e que qualquer mulher
pode ter acesso a serviço.

Ah, sim, bem interessante a sua pintura, eu
gostei bastante e ela causa impacto, né?

São três mulheres juntas
com um número.

Só olhando assim já se entende a questão,
só basta ligar.

Eu quis representar vários tipos
de mulheres diferentes, né?

uma mulher do campo, uma mulher urbana
uma mulher mais jovem,

porque não importa
que mulher você seja,

você pode
também acessar.

Quando a gente fala de violência
e violência contra as mulheres,

a gente sempre pensa na questão
do fortalecimento dessa mulher.

Eu acredito que a arte,
ela traz esse olhar.

Pode contribuir

com a superação e a evolução também
enquanto mulher, enquanto pessoa.

Violência de gênero

é um tema muito caro para o nosso país.

E se nós não debatermos isso nas escolas,

nos bares, nas nossas famílias,
nos nossos ciclos de afetos,

a gente vai continuar

repercutindo os mesmos ciclos de violência.

Política pública não se faz de cima para baixo,

É de baixo para cima, é a sociedade
debatendo quais são as violências,

debatendo a estrutura, falando sobre
machismo, falando sobre patriarcado,

sobre opressão.

Construção de gênero que nós podemos falar

numa sociedade verdadeiramente igualitária.

São cinco tipos trazidos pela lei,

mas existe uma consequência desses cinco tipos

Silenciamento.

Então vamos debater violências, vamos debater gênero,

vamos ser anti racistas,

vamos lutar contra a transfobia,

vamos lutar contra a opressão aos povos indígenas.

Vamos falar com as nossas crianças,

vamos falar com os nossos mais velhos,
vamos construir.

E construir é construir coletivamente.

Essa luta não é uma luta só de mulheres,
é uma luta da sociedade

E é por vida, é por direitos.