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MORTE NO NlLO
Baseado no romance de Agatha Christie

- Desculpa.
- N�o faz mal, querido.

N�o acredito
que eles tenham feito aquilo.

Eu sei, eu sei...

- Tudo em que toco...
- N�o podes pensar assim.

Temo-nos um ao outro,
e a vida toda pela frente.

Estou falido, Jackie.
Que tipo de futuro � esse?

Tenho algum dinheiro de parte.
Deve dar para algum tempo.

Hei-de arranjar uma solu��o,
prometo.

Prometo-te, meu querido.

N�s amamo-nos e � s� isso
que importa, n�o �?

Ela n�o tem tido sorte nenhuma. Em
Paris, quando and�vamos na escola,

o pai dela fugiu com uma mulher

e a m�e perdeu o dinheiro todo
no crash da Bolsa.

A Jackie ficou sem nada.

N�o sei como se tem aguentado
nestes �ltimos anos.

- Aposto que ela quer algo.
- Ofereci ajuda, mas ela n�o quis.

N�o � terr�vel quando os nossos amigos
perdem tudo o que t�m?

Temos de os abandonar.

Ela parecia muito entusiasmada,

mas parece sempre.
E a faceta latina dentro dela.

Os rapazes voltaram do passeio.
Os homens ingleses...!

Tu e o Tim parecem muito �ntimos.
Passa-se algo que eu deva saber?

Credo, n�o! A �nica mulher na vida
do Tim Allerton � a m�e dele.

� tudo demasiado sofocliano
para o meu gosto.

E o bom Lord? Ainda anda
a suspirar por ti, n�o?

Ele n�o � muito de suspiros.

De acordo com a imprensa de
mexericos, est�o prestes a casar.

N�o! Ainda n�o! Nunca.
Pelo menos, n�o com ele.

Mas, querida, ele est� cheio dele.

Tamb�m eu.

Fabulosas! Aposto que custaram
mais do que a casa.

Beleza e dinheiro.
Nem acredito que gosto de ti.

- Joanna, tu n�o gostas de ningu�m.
- N�o gosto? Enfim...

Sim?

A Mademoiselle de Bellefort
vir� para a ceia.

Obrigada, Louise.

Mas que diabo se passa com ela?

Aquele namorado horroroso dela
est� outra vez preso

e ela pediu-me que lhe pagasse a
fian�a. Eu disse, ''De modo algum

''e, francamente, a pris�o
� o melhor s�tio para ele.''

- C�us!
- Ela h�-de esquec�-lo.

Posso?

O que querer� a Jackie?

Acontece, querida, que estou noiva...

Ent�o � isso! Quem � ele?

Chama-se Simon Doyle. � alto, bonito
e deliciosamente despretensioso.

Trabalhava na City,

mas eles est�o a reduzir pessoal
e ele ficou desempregado.

Linnet, se n�o casar com ele,
morro, simplesmente morro!

- Querida, est�s apaixonad�ssima!
- Soube que tinhas comprado esta casa

e achei que ias precisar
de um consultor e pensei,

''O Simon!'' Querida, � perfeito.
Adora o campo e sabe tudo sobre terras

e se n�o corresponder �s expectativas,
podes sempre despedi-lo.

Diz que sim, Linnet! Por favor!

Sabia que n�o irias desiludir-me!

Queremos ir ao Egipto
em lua-de-mel.

J� imaginaste? Andar por uma avenida
de esfinges com o homem que amamos?

Haver� algo mais rom�ntico?

Tr�-lo c�
e verei o que posso fazer.

- Por acaso, ele est� aqui.
- Como?

Trouxe-o pelo sim, pelo n�o.
Vais ador�-lo.

Simon!

� o Simon Doyle. Simon,
� a Linnet Ridgeway,

a melhor amiga que algu�m pode ter.

Isto � encantador.

EGlPTO - TR�S MESES DEPOIS.

N�o � o Hercule Poirot?

Refere-se � criatura atarracada
que vem a abanar-se pelas escadas?

N�o est�s a ser muito simp�tico.

Que diabo faz ele aqui?

Adorava que algu�m
dan�asse comigo.

Mas quem quereria dan�ar contigo?

- Talvez algu�m queira, se eu...
- E os porcos podem voar.

Lembra-te porque est�s aqui,
minha querida...

- Para ajudar, prima Marie.
- Precisamente.

Depois de preparares a minha dormida,
podes tratar da minha gemada.

N�o vais ficar rabugento,
pois n�o?

- Se houvesse mais jovens...
- Mas para qu�?

- Querias que a Joanna estivesse c�.
- N�o, n�o queria.

Na verdade, n�o me importava
se n�o voltasse a ver a Joanna.

N�o preciso da Joanna
quando a tenho a si...

Querido...

- Meu Deus, viste aquilo?
- Fale baixo.

- Ela tem idade para ser m�e dele.
- Ela � m�e dele.

Preciso de ar fresco.

Merci.

Monsieur Poirot.

- Madame.
- Salome Otterbourne.

- Enchant�.
- Ai esse encanto gaul�s.

- Os franceses s�o todos iguais.
- Eu sou belga, Madame.

Estava a pensar se gostaria
de dar um p�zinho avec moi?

- P�zinho?
- Eu sei que n�o devia ser assim,

mas, afinal, j� somos livres.

Eu fui uma grande apoiante
das Sufragistas, sabe...

Veio em trabalho, Monsieur?
H� casos s�rios para investigar?

Sabe, Madame,
eu sou um homem de lazer.

� essencial sair de Londres
em Janeiro, n'est-ce pas?

Pobre homem.
Ela j� lhe afincou as garras.

Vim pelo ambiente local.
O meu novo livro,

''Neve na Face do Deserto'',
� passado nesta zona.

Sem d�vida causar� sensa��o,
mas seja como for, falo a verdade.

Porque toda a gente tem tanto medo
do sexo?

As estrelas do espect�culo.

Era de esperar
que ela tivesse vergonha na cara.

N�o seja t�o antiquada.

Devo admitir que � muito bonita.

A Linnet Doyle � a �nica herdeira em
Inglaterra que n�o parece um cavalo.

Ol�, Andrew.

Formid�vel!

Por aqui.

Parece que toda a gente que � gente
est� no Egipto, ce soir.

O fasc�nio pela vida regalada,
� �bvio.

- Lembra-se do Simon?
- Sim.

� incr�vel, n�o �?

Milh�es de desempregados,

um lun�ticos prestes a assumir
o poder na Alemanha e s� se fala

de uma fedelha mimada que deixou
um Lord pelo noivo da melhor amiga.

H� quem tenha tudo.

Depende do que acha
que vale a pena ter.

- Ol�, Simon.
- Ol�, como est�?

- �ptimo.
- Ol�, Tim.

Linnet, voc� est� soberba.

� o Andrew Pennington, o meu curador
americano. Encontr�mo-lo no Cairo.

Pois, que coincid�ncia...

M�e, o Monsieur Poirot
deve querer descansar.

N�o, n�o...
Acho que � uma boa ideia.

Porque o meu jantar
parece n�o querer ir para baixo.

Se me der licen�a...

Mas � claro, Monsieur.
Podemos retomar em breve.

Au revoir.

Linnet!

Que surpresa divinal!

Estamos sempre a esbarrar
uma na outra, n�o �?

Ol�, Simon.

Pareces cansado, querido.
Ela deixa-te exausto, n�o �?

Eu agarrava-o bem, fofa.
Ele � escorregadio.

At� logo.

- Est� bem?
- Estou �ptima.

- Mademoiselle.
- Oxal� a minha m�e

n�o o tenha deixado de rastos.

- De todo.
- Sei como pode ser cansativa.

- A Linnet Doyle � muito bela, n�o?
- Oui, Mademoiselle.

E tamb�m � muito rica.

Li sobre ela em todos os jornais,
vi a foto dela em toda a parte,

mas nada pode preparar-nos
para o qu�o bela ela � ao vivo.

Acho que nunca odiei tanto ningu�m
� primeira vista.

Nem tudo o que brilha...

N�o no caso dela.
A vida � injusta, Monsieur Poirot.

A vida tem sido injusta
para a Mademoiselle?

J� conheceu a minha m�e.

Monsieur Poirot.

- N�o queria assust�-lo...
- N�o...

... mas estava ansiosa
para falar consigo.

Um seu criado, Madame.

- Talvez saiba quem sou...
- Sim, sei exactamente quem �.

Vamos ao que interessa: sou v�tima
de uma persegui��o intoler�vel.

Persegui��o?

Talvez pudesse explicar-se
um pouco melhor...?

� muito simples.
Antes de eu conhecer o meu marido,

ele esteve noivo de uma amiga minha,
Jacqueline de Bellefort.

N�o serviam um para o outro
e ele rompeu o noivado.

Infelizmente, ela n�o aceitou
bem a situa��o,

e, por puro despeito, optou
por seguir-nos para todo o lado.

E est� aqui em lua-de-mel,
segundo sei...

Exacto. Ela apareceu
pela primeira vez em Veneza,

depois em Brindisi, depois no Cairo,
e agora aqui.

Ela n�o pode continuar a fazer isto.

Mas ela tem esse direito.

Desculpe, n�o viu
como ela se portou ainda agora?

Oui, mas ela n�o a amea�ou,
nem a magoou fisicamente.

N�o, � evidente que ela est�
muito perturbada, Madame.

Se est� a insinuar que roubei o noivo
� minha amiga, est� enganado.

Ela amava-o, mas o sentimento
n�o era m�tuo.

Mesmo antes de nos conhecermos,
ele sabia que tinha errado.

Mas n�o houve um momento em que
tenha percebido que tinha escolha?

A senhora tem tudo, mas a sua amiga,
pelo que eu percebi,

s� o tinha a ele.

Perdoe-me a impertin�ncia, Madame,
mas suspeito que se sente culpada.

N�o podia, pelo menos,
tentar falar com ela?

Madame, estou de f�rias.

Estou certa de que poderemos
chegar a um acordo.

N�o, Madame,

Estou certo de que n�o.

Com licen�a.

Ela amea�ou matar-nos, sabe.

Mas ela tem tend�ncia
para dramatizar.

Suponho que viu o espect�culo...

Oui, Mademoiselle.

Receio ter perdido a cabe�a.

Eles servem uns Martinis
muito fortes aqui.

Enterre os seus mortos, Mademoiselle.

Foi a Sra. Doyle que o mandou?
Tamb�m j� � empregado dela?

Ela abordou-me, � verdade,
mas eu recusei.

Tem de olhar para o futuro.

- Isso queria ela!
- Estou a pensar em si.

- Tem a vida toda pela frente.
- O Simon � a minha vida.

Estou a ver que o amava...

Am�vamo-nos um ao outro.
E a Linnet era a minha melhor amiga.

- Como p�de ela...?
- Parte dos dois lados.

Ela sabia exactamente o que estava
a fazer e ele caiu.

Uma das mulheres mais ricas
de Inglaterra,

n�o me admira que lhe tenha
subido � cabe�a.

Sabe que t�nhamos planeado vir
para aqui em lua-de-mel?

- Ele ama-me, Monsieur Poirot.
- Mesmo agora?

N�o, agora n�o.

Agora acho que me odeia.

� bonita, n�o �?

Tenho muito boa pontaria.
O meu pai ensinou-me.

Tenho de admitir que me passou
pela cabe�a utiliz�-la,

mas depois pensei... n�o.

Seria muito mais divertido segui-los
para onde fossem

e quando eles pensassem que estavam
a salvo,

l� estaria eu,

o fantasma no banquete.

- Tem de parar com isto.
- E deix�-los em paz?

N�o abra o seu cora��o
ao mal, Mademoiselle.

Se o fizer, n�o h� regresso.

Ela roubou-me tudo,
Monsieur Poirot.

E eu quero mago�-la,

encostar a minha arma
� cabe�a dela

e, calmamente, premir o gatilho...

C�us, tenho tanto medo.

O que foi?

Ali... algu�m estava a ouvir...

- N�o vejo nada.
- Acho que se foram embora.

N�o posso fazer o que me pede,
Monsieur Poirot.

Bom dia.

Bonjour, Monsieur Doyle.

- Como est� a Madame?
- Exausta,

disse que precisa de dormir mais.

Estou faminto! N�o � �ptimo servirem
pequenos-almo�os � inglesa aqui?

N�o aguento aqueles bolinhos...
Como est�?

Conseguiu falar com a Jacqueline...

- Miss de Bellefort?
- Oui.

- E conseguiu faz�-la ter ju�zo...?
- N�o, infelizmente n�o.

Mas as raparigas decentes
n�o fazem esse tipo de coisas!

Ela est� a fazer uma triste figura
e dar cabo dos nervos da Linnet!

- E dos seus, Monsieur?
- Gostava de lhe apertar o pesco�o!

C� entre n�s, tenho um plano.

Vou fazer com que se saiba que a
Linnet vamos ficar por c� por agora,

mas tenho reservas para um cruzeiro
no Nilo que parte amanh� de manh�,

sob nomes falsos, claro.
- Claro.

Depois vamos fingir que vamos numa
excurs�o, a criada trata da bagagem,

subimos a bordo no �ltimo minuto
e j� est�!

Quando a Jacqueline perceber que n�o
vamos voltar, ser� tarde de mais.

O que acha? Bem pensado?

Ela � inteligente, Monsieur.
Veremos.

- Tamb�m irei no cruzeiro.
- Deveras?

Oui.

Oxal� n�o seja por nossa causa...

N�o, de todo. Fa�o os meus planos
com muita anteced�ncia.

� a �nica forma de ter sucesso
na vida, n'est-ce pas?

Sim, suponho que sim...

- Quem � aquele cavalheiro?
- Um tipo chamado Pennington,

o curador da Linnet.
Encontr�mo-lo por acaso no Cairo.

Devo dizer que ficou em estado de
choque quando soube do casamento.

- Quer juntar-se a n�s?
- N�o, n�o.

Mas agrade�o na mesma.

Gostei muito de falar consigo.
Tenho um prato de rins � espera.

N�o � a nossa mala?
Achas que ali fica bem?

Bem-vindos.
Bem-vindos ao S.S. Karnak.

- Pe�o desculpa.
- Importa-se?

Sai! Sai! N�o os deixe tocar
na bagagem. Eles n�o se lavam!

C�us, um t�mulo flutuante!
N�o me atirem para o mar.

O buraco negro de Calcut�!

� t�o bonito!

- Onde est� o resto da minha bagagem?
- Deixei-a com o homem.

Merci.

Mademoiselle.

Este lugar tem algo de especial,
n�o acha?

Algo perturbador
a que n�o se consegue resistir.

N�o fazia ideia de que eles vinham.

Isto � o para�so, querido!

Querida, pensei
que iam ficar no hotel!

Que maravilha! Tenho a certeza
que vamos divertir-nos imenso!

Recusou-se a ajudar, Monsieur Poirot,
agora veja o que aconteceu.

N�o tenho culpa disto, Madame.

Como ter� ela sabido
que n�s vir�amos no navio?

- Se est� a insinuar...
- N�o estou a insinuar nada,

Monsieur, mas digo-lhe o seguinte,
toda a gente me odeia.

Estou rodeada de inimigos.

O aspecto de alguns deles...

Depois de tudo o que fizemos
por eles...

- Monsieur Poirot!
- Madame. Monsieur Allerton.

Senhor Poirot,

talvez possa ajudar-me a ver quem
s�o os passageiros da lista.

- O Dr. Bessner, por exemplo.
- Ali, Madame.

Sim, o gordinho com a cabe�a rapada
e o bigode � Bismarck.

- Alem�o, v�-se logo.
- N�o, creio que � austr�aco.

� boche, n�o interessa.

Ent�o, por processo de elimina��o,
o cavalheiro com ar sorumb�tico

deve ser o Sr. Ferguson.
- Sim, um pensador progressivo,

pelo que sei.
- E mais um bolchevique radical.

Ali est� algu�m que me faria
atirar o chap�u para a arena.

- M�e!
- Aquele queixo brutal.

E � extremamente rico.
Como a maioria das pessoas aqui.

Credo, que feia!

Parece que foi desenterrada
numa escava��o.

N�o � encantadora?

Madame.

Ela sabe mesmo
fazer uma entrada em grande.

- Boa noite, Mademoiselle.
- Boa noite, Monsieur Poirot.

Est� surpreendido
por me ver aqui?

Sinto mais pena do que surpresa.

Escolheu um caminho muito perigoso,
Mademoiselle.

Duvido que pudesse voltar atr�s,
mesmo que quisesse.

Enfim...

Temos de seguir a nossa estrela.

O amor n�o � tudo.

Mas �, � sim.

Deve saber isso, Monsieur Poirot.

Com certeza compreende.

� terr�vel, Mademoiselle,

tudo o que perdi na minha vida.

- Boa noite, Monsieur Poirot.
- Boa noite.

Ent�o, Mademoiselle Robson,
a sua companhia n�o vem a bordo?

A prima Marie tem de ter muito cuidado
com a sa�de,

mas ela foi muito bondosa e disse
que eu podia vir.

- � muito generoso da parte dela.
- Pois �.

Foi maravilhoso ela ter-me trazido
nesta viagem. Tenho tanta sorte!

Sempre sonhei em viajar. � fant�stico,
j� imaginou...?

N�o � milagroso
o que o Homem pode criar?

Morreram pessoas
a construir isto, sabe?

Ent�o preferia que n�o houvesse
esfinges, nem t�mulos, nem templos?

S�o as pessoas que importam,
e n�o as pedras.

C�us, para que serviam?

Nunca pensei nisso.

Talvez fossem o equivalente
aos gnomos de jardim.

Boa tentativa, Simon,
mas foi um pouco ao lado.

A esfinge era um monstro da mitologia
grega com cabe�a de mulher.

V�s? E um corpo de leoa e...

N�o queres saber?
Fazia perguntas aos viajantes

e matava aqueles que erravam.

Assine aqui.

Este � o contrato de aluguer
do apartamento da Fifth Avenue.

Sim.

Sim, assine aqui.

- Est� tudo em ordem.
- Claro, mas eu gosto de ler tudo.

C�us, eu nunca li
um documento legal na minha vida!

- Que negligente da tua parte.
- Est� muito expl�cito, minha cara.

- S� tem muito jarg�o jur�dico.
- Eu assino na linha que devo assinar.

Isso pode ser muito arriscado,
n�o acha?

Querida, assim vamos ficar
aqui o dia todo.

- Porque n�o fazemos isto depois?
- Parece-me boa ideia.

Est� a ficar um calor de morrer.

- Onde estiveste?
- Desculpe, prima Marie,

mas n�o consegui encontrar.
- Es uma criatura in�til.

Eu consigo ser muito parva,
�s vezes.

Pois podes.

Esqueceu-se da revista.

Qual � o prop�sito
de algu�m assim?

E aquela rapariga rica? Assina uns
pap�is e depois tem de descansar

porque est� um calor de morrer.

O que o distingue, Monsieur Ferguson?

Consciencializo as pessoas.

E n�o ando por a� a pavonear-me.

Porque veio, Monsieur Poirot?

Estou de f�rias. E o senhor?

Estou a estudar doen�as.

- Monsieur Poirot...
- Madame.

Desculpe, � o movimento.

Parece que n�o tenho for�a nas pernas.

Estes balan�os e solavancos!

Acho que seria melhor se...

- Onde est� a desgra�ada?
- Volte para dentro, Madame.

Deixa-me a sofrer,
estas horas todas...

Oxal� n�o vamos ao fundo,
Monsieur Poirot!

S� de pensar em ser comida
pelos peixes...

- Aqui � perigoso.
- Sim, sim...

Pode ir borda fora.

E acabar os meus dias
nos bra�os de Neptuno,

coberta de carb�nculos
e restos de barcos...

N�o, n�o...

Sem d�vida foi uma agrad�vel surpresa

encontrar a Linette Doyle e descobrir
que ela tinha casado.

Foi, sim.

Ela escreveu-me a contar,

mas eu j� tinha deixado
Nova Iorque,

no Carmanic.
- No Carmanic?

Sim.

Ent�o foi uma sorte ter consigo
todos os documentos dela.

N�o tem nada a ver com isso.

Mas, j� que fala nisso, pedi que mos
enviassem quando nos encontr�mos.

Agora se me d� licen�a...

N�o caias no buraco...

... a deusa Hathor era vista
como a vaca alada da cria��o,

que deu � luz o universo inteiro.
- Fartou-se de trabalhar!

� confundida com Isis,
ocasionalmente,

que engravidou por magia
com a semente do seu pr�prio filho.

- Valha-me Deus!
- Cornelia!

Desculpe...

Uma rapariga jeitosa...

� disso que eu gosto.

Quando vamos ver mais pir�mides?
O Egipto devia estar cheio delas.

Vamos... j� chega.
V�o-se embora, pestinhas!

Que bela forma de ser lembrado!

Talvez eu mande construir uma
na terra

e tamb�m poder�s ser sepultado l�.
- Caramba!

Pelo menos os nativos
ter�o tema de conversa.

Meu Deus!

- Madame, Monsieur...
- Est�o feridos?

Isto � fascinante!

A deusa Hathor era uma bela mulher
com cabe�a de vaca.

Suponho que � melhor do que ser uma
vaca com cabe�a de uma bela mulher.

Este local est� cheio de rel�quias
hist�ricas como esta.

- Pensei...
- Sim, Monsieur, eu sei.

Eu sei o que pensou.

Tim, o que aconteceu?

Bonjour.

Pardon... Je ne comprends pas,
Monsieur...

Enganei-o? Poirot, sua raposa velha!

- Como v�o as coisas?
- Coronel Race!

- N�o acredito! Como est�?
- Exausto e imundo.

- Tirando isso, tudo bem.
- Mas que grande surpresa v�-lo aqui!

Temos andado a resolver
uns problemas, nativos problem�ticos,

alguns assass�nios,
esse tipo de coisas.

- Isso � muito janota.
- Merci.

Tem mesmo de me dar o nome
do seu alfaiate.

- Oui. Para onde vai.
- Vou subir o rio consigo.

Comigo? Mas pode ir num navio
do Governo.

Em circunst�ncias normais, at� iria.

Mas quando soube que o meu velho
amigo Poirot estava nas redondezas,

achei que seria mais divertido. Onde
voc� est�, acontece sempre algo.

- Pode j� ter acontecido.
- Que maravilha!

Madame Allerton, Madame Otterbourne,
permitam-me apresentar um amigo,

o Coronel Race.

- Miss Robson.
- Onde estiveste?

Est�s muito ofegante.

E toda manchada.

Desculpe, prima Marie.
Estava l� fora...

E o que fizeste com a minha estola
de veludo?

- Vou ver se est� no camarote.
- N�o pode estar no camarote.

Estava aqui depois do jantar
e ainda n�o fui a lado nenhum,

pois n�o, Dr. Bessner?
- N�o, Miss Van Schuyler.

Estava naquela cadeira
e agora j� n�o est�.

- Pensei que a tivesses levado.
- N�o, n�o levei.

Foi um presente
do Conde von Mecklenburg.

Miss Van Schuyler,

Miss Robson.

Bonne nuit, Mademoiselle.

- Parece fatigado, Monsieur Poirot.
- Oui, oui, c'est vrai.

Deve ser do calor.

Bonne nuit.

O Amor � a coisa mais doce

O que mais poderia trazer

O Amor � a coisa mais doce

Tal felicidade...

O Amor � a coisa mais doce

Cornelia! Junte-se a mim!

Certo...

- Decidiu ir-se deitar?
- N�o, n�o.

N�o quero ir j� para a cama.
Est� uma noite t�o bonita.

Est� fabulosa, n�o est�?

Perfeita para uma lua-de-mel.

- Dois gins bem servidos.
- N�o, n�o posso.

Disparate!

Quanto temos, Simon?

Desculpa...

Fizemos 120 abaixo da linha.

N�o � mal jeitoso, n�o acha?

Bem, isso eu n�o sei...

� melhor ter cuidado, n�o v� haver
por a� devoradoras de homens.

Pe�o desculpa,
de repente, fiquei muito cansada.

E o ambiente est� a ficar
muito pesado.

Sim, est� na hora da deita.

- Vens, Simon?
- Eu...

Vou s� acabar a minha bebida.

Boa noite.

- Enfim...
- Mas ainda nem tomou uma bebida.

- N�o...
- As raparigas t�m de ser unidas.

- Estou a morrer de sede.
- Obrigada.

Ao amor, ao casamento
e a essas coisas.

- Fale-me de si.
- C�us!

N�o h� muito para contar.

Vivo em casa dos meus pais, no
Connecticut. Numa terrinha, Bellfield,

e esta � a minha primeira viagem
� Europa e estou a adorar...

- Continue.
- Vivo com a minha m�e,

cuja sa�de est� infelizmente
um pouco debilitada, de momento.

Dorme muito mal e s� come
de vez em quando,

alguns dias, s� uma pe�a de fruta,
noutros dias, s� cereais...

- Continue.
- Sim. Sou todo ouvidos.

- Tenho mesmo de ir para a cama.
- N�o v�.

- Quero ouvir mais.
- N�o h� mais nada a contar.

- Por favor.
- Bem, adoro arte

e tenho aulas. Fa�o esculturas
e uns vasinhos...

Parece muito divertido.

- Toca a sineta, Simon.
- J� passa da meia-noite.

- Mas eu preciso de uma bebida.
- J� bebeste de mais.

E depois?

- Vou apanhar ar.
- Acho que est� na hora de...

N�o v�, Cornelia.

O Simon est� com medo

que eu lhe conte a hist�ria
da minha vida.

- Vai para a cama, Jackie.
- Tens medo de uma cena, n�o �?

Queres que me porte decentemente,
como te portaste comigo?

Achas mesmo que te safas assim?

Est�s b�beda.

Eu disse que te matava e, juro
por Deus, estava a falar a s�rio.

Miss de Bellefort!

Vou matar-te como um c�o!
Como o c�o imundo que �s!

Sr. Ferguson! Sr. Ferguson!

Santo Deus!

Eu n�o...

Ferguson, vem a� algu�m. Diga que foi
um acidente, que n�o foi nada.

N�o aconteceu nada.
Est�vamos a jogar �s charadas.

Um jogo. Divers�o...

Sim... sim.

Acho que ningu�m deve ter ouvido.
Parecia uma rolha a saltar.

- O que fiz eu?
- Vai ficar tudo bem.

Tirem-na daqui, por favor,
levem-na para o camarote!

E n�o a deixem sozinha,
em caso algum!

N�o se preocupe, Sr. Doyle.
Eu ficarei com ela.

Chamem o Dr. Bessner
para ver o que eu tenho.

Vou matar-me...

Por favor, n�o contem
� minha mulher...

Por aqui, vamos embora.
Est� tudo bem...

A perna dele... Meu Deus,
e se ele se esvair em sangue?

Miss de Bellefort,
acho que isso n�o vai acontecer.

Larguem-me!
Eu quero afogar-me!

Isso n�o resolveria nada.

Vou chamar o Dr. Bessner.

- Sabe que horas s�o?
- Precisamos da sua ajuda!

Gott in Himmel!

� mau. O osso est� fracturado
e perdeu muito sangue.

Herr Ferguson, temos de lev�-lo
para o meu camarote.

Com cuidado...

Cuidado...

N�o posso fazer mais nada.

Voc� foi um her�i, meu amigo.

Agora vou dar-lhe algo
para o ajudar a dormir.

- Algu�m disse � Frau Doyle?
- N�o. Pode esperar at� amanh�.

N�o devem culpar a Jackie.
A culpa foi minha.

Fui um pulha.
Ela n�o sabia o que estava a fazer.

Ela pode magoar-se a ela pr�pria.

Algu�m devia ficar com ela.

A Miss Robson est� com ela.

Ainda bem...

A pistola. N�o podemos deix�-la l�.

Os camareiros h�o-de encontr�-la.

Eu vou busc�-la.

- Desapareceu.
- Tem a certeza?

Sim. Caiu-lhe da m�o e ela pontapeou-a
para debaixo de uma cadeira.

- Eu vi. Mas n�o est� l�.
- Quem pode t�-la levado?

Entrez!

Meu caro Coronel, est�
uma bela manh�, n'est-ce pas?

Uma pessoa foi alvejada.

- Quem?
- A Linnet Doyle, ontem � noite.

Alvejada na cabe�a.

A pistola foi colocada
junto � cabe�a dela.

- Onde a pele est� chamuscada.
- Oui.

N�o houve luta.
Ela foi morta a dormir.

Hora da morte?

Ela est� morta h� seis horas,
talvez h� menos de oito.

Entre a meia-noite e as duas.

Posso perguntar com que autoridade
faz essas perguntas, Coronel?

O Director do Cruzeiro pediu-me que
tratasse de tudo at� ao pr�ximo porto.

Tenho alguma autoridade oficial, sabe?

- Estamos � disposi��o do Coronel.
- Sim.

- Ent�o, o que � isso?
- O qu�? Isto?

Parece muito simples, n�o parece?

Parece que, quando estava a morrer,

escreveu com o dedo mergulhado
no pr�prio sangue,

a inicial do nome do assassino:

Jacqueline de Bellefort,

uma jovem que, h� menos
de uma semana, me disse,

''S� quero encostar a minha arma
� cabe�a dela

''e, calmamente, premir o gatilho.''

Suponho que o marido dela
est� na porta ao lado?

De momento, est� a dormir
no meu camarote.

Passou a noite no seu camarote,
Dr. Bessner?

J� vi que n�o soube. O Sr. Doyle
tamb�m foi alvejado ontem � noite.

- O qu�?
- Na perna.

Mais algu�m?

� tudo.

Parece que a Mademoiselle de
Bellefort ficou agitada, tinha bebido,

e acabou por lhe dar um tiro.

O desgra�ado est� completamente
imobilizado.

Depois ela foi ao camarote
da Linnet Doyle e alvejou-a tamb�m.

N�o, imposs�vel.

Ela estava hist�rica e o Doyle teve
medo que ela fizesse algum disparate

por isso a Miss Robson ficou com ela
a noite toda.

- Quem descobriu o crime?
- A criada, Miss Bourget.

- Coronel, o meu gabinete est� pronto.
- Obrigado.

Se pudesse ser
o mais discreto poss�vel...

- � a nossa especialidade, amigo.
- Sim, claro.

Precisamos de falar com o Doyle.
Disse que ele ainda est� a dormir?

Dei-lhe um sopor�fero
muito forte.

Vou tomar o pequeno-almo�o e depois
verei se est� pronto para acordar.

- Obrigado, Doutor.
- Coronel.

� meia-noite, a Madame Doyle
estava viva e de boa sa�de.

- Sim, acompanhei-a ao camarote.
- Quem ficou no sal�o?

O Doyle, a Miss de Bellefort,
a Miss Robson e eu.

- O que estavam a fazer?
- O Sr. Ferguson estava a ler,

eu estava a bordar
e a Miss de Bellefort estava...

- A beber.
- Sim.

Como um peixe.

Tentei retirar-me, mas ela obrigou-me
a ficar e fez-me sentir incomodada

e o Sr. Ferguson tamb�m ficou,
at� foi para o conv�s.

Estava muito abafado l� dentro.

Depois, a Miss de Bellefort
sacou de uma pistola

e atingiu a perna do Sr. Doyle
e eu chamei o Sr. Ferguson.

O Sr. Doyle disse para n�o fazermos
barulho e apareceu um camareiro.

O Sr. Ferguson disse-lhe que
est�vamos a jogar um jogo

e a Miss de Bellefort come�ou a
chorar e lev�mo-la para o camarote.

Fiquei com ela enquanto o Sr. Ferguson
foi chamar o Dr. Bessner.

- A que horas foi isso?
- Que ma�ada, n�o sei.

Cerca da meia-noite e vinte,

porque era meia-noite e meia
quando fui para a cama.

E tem a certeza de que a Mademoiselle
de Bellefort n�o saiu do camarote?

Absoluta.

E n�o podia ter morto a Sra. Doyle
antes, � meia-noite e vinte?

Quanto tempo ficou com ela,
Mademoiselle Robson?

Fiquei com ela a noite toda.
N�o acordou uma �nica vez.

Acho que deve ter sido da bebida.

Bien. At� agora,
tem o �libi perfeito.

E o Monsieur Doyle n�o queria mesmo
que ela ficasse sozinha.

Sim, estava com medo que ela
fizesse alguma estupidez.

Ela at� disse que queria matar-se.

- E a pistola? O que lhe aconteceu?
- Ela deixou-a cair.

E pontapeou-a para debaixo
de uma cadeira,

mas quando fui l� busc�-la,

tinha desaparecido.

Desapareceu?

Agora estamos a chegar
a algum lado.

Tem a certeza
que a Mademoiselle de Bellefort

n�o recuperou antes de deixar
o sal�o?

- Sim.
- Absoluta.

E n�o teve oportunidade de voltar l�
para a ir buscar.

Quanto tempo passou entre a altura

em que o senhor e o Dr. Bessner
levaram o Monsieur Doyle ao camarote

e a altura em que foi procurar
a pistola?

- Cinco minutos?
- Cinco minutos.

Nesses cinco minutos, algu�m removeu
a pistola e n�o foi a Jacqueline.

Podemos assumir que a pessoa tinha
ouvido ou visto algo do que se passou.

- Como sabe?
- Porque disse-nos

que a pistola n�o ficou � vista, por
isso n�o foi descoberta por acidente.

N�o vi ningu�m no conv�s
antes de o tiro ser disparado.

- De que lado estava, Monsieur?
- Estibordo, acho eu.

Se algu�m estivesse a bombordo,
podia n�o ver a pessoa.

Suponho que n�o.

Algu�m ouviu o tiro,
para al�m do camareiro?

Duvido,

parecia uma rolha a saltar.

Ouviu alguma coisa,
depois de se ter recolhido?

Acho que ouvi algo a cair
na �gua, quando estava a adormecer.

E a que horas foi isso?

Como se diz em Franc�s
''interrogat�rio''?

- Responda � pergunta.
- 1 h? 12:55? 1 :05?

Quem sabe? � tudo?

Sim, obrigado pela ajuda, Monsieur.

A prop�sito...

- Quem � o senhor, afinal?
- Mas que pergunta t�o idiota!

Est� a ficar afectado pelo calor?

N�o, mas obrigado
pela preocupa��o.

Que homenzinho t�o grosseiro!

Mais uma coisa, Mademoiselle, j�
tinha visto a Madame Doyle antes?

- N�o. Nunca.
- Merci.

Bom dia.

N�o fui eu,
tem de acreditar em mim.

Eu estava em tal estado que podia
ter morto o Simon, mas n�o a matei.

Pronto...

N�s sabemos, Mademoiselle.

- Sabem?
- Sim, est� provado, mon enfant,

que n�o foi voc�.

Gra�as a Deus!

- Ent�o quem foi?
- E nisso que precisamos de ajuda.

N�o me lembro de ningu�m
que quisesse v�-la morta. Excepto eu.

Eu queria v�-la morta,
e ela est� morta.

- E morreu tal como eu disse.
- Com um tiro na cabe�a.

V�, eu tinha raz�o? Havia algu�m
� escuta naquela noite, no hotel.

- Quem poderia ter sido?
- De certeza que era um homem?

N�o, eu � que presumi que fosse.

Entrez.

- O Doyle pode receb�-lo agora.
- Ele est� bem?

Claro que n�o est� bem,
deu-lhe um tiro.

N�o vai morrer, pois n�o?

Ele � um homem forte.

Vamos lev�-lo � civiliza��o,
onde far� radiografias e ser� tratado.

Agora sabemos que n�o foi Jacqueline
de Bellefort que matou a sua mulher,

por isso pode dar-nos uma ideia
de quem possa ter sido?

Ela tinha inimigos ou ningu�m
tinha nada contra ela?

Sabe, Monsieur Doyle,

no primeiro dia do cruzeiro, tive
um encontro com a sua mulher.

Ela estava perturbada.
Disse que todos,

todos, repare, a odiavam
e que estava rodeada de inimigos.

Estava a exagerar, mas referia-se
a mais do que uma pessoa.

Havia um nome,
na lista dos passageiros...

- Qual era o nome?
- Ela n�o chegou a dizer-mo.

O pai dela trabalhava
no mercado financeiro

e muitas pessoas perderam
tudo o que tinham.

Num dia era ricas,
no dia seguinte estavam na mis�ria.

H� algu�m a bordo cujo pai
foi uma dessas pessoas,

algu�m que odiava o pai da Linnet.

Ela disse que era horr�vel
ser odiada por toda a gente

sem sequer a conhecerem.

Mas nunca mencionou um nome?

Diga-me, Mademoiselle Bourget,

a que horas viu a sua patroa viva
pela �ltima vez?

- Algures ap�s a meia-noite.
- E depois?

- Depois fui para o meu camarote.
- Ouviu ou viu alguma coisa?

- Como podia ter ouvido?
- S� a Mademoiselle � que sabe.

O meu camarote � no conv�s inferior,
do outro lado.

N�o � poss�vel eu ter ouvido algo,

a n�o ser que n�o conseguisse dormir

e tivesse voltado c� acima.
A� talvez tivesse visto algo,

um monstro a entrar ou a sair
do camarote da minha senhora.

Monsieur, imploro-lhe!
Sabe como �... O que posso dizer?

Tem calma, pelo amor de Deus!

H�s-de ficar bem.
Eu tomo conta de ti.

Ningu�m est� a acusar-te de nada.

O Monsieur � muito generoso.

Sabe de algu�m que n�o gostasse
da sua patroa?

N�o, Monsieur.
Toda a gente gostava dela.

Diga-me, Monsieur Doyle,

a sua mulher trouxe j�ias valiosas
para esta viagem?

- As p�rolas.
- Sabe alguma coisa dessas p�rolas?

- Ela usou-as ontem � noite.
- Viu-as quando ela se deitou?

- Sim, Monsieur.
- Onde as guardou?

- Na mesa-de-cabeceira.
- E onde estavam esta manh�?

N�o vi, porque quando
cheguei ao quarto

a �nica coisa que vi foi a Madame...

... morta.
- Oui bien, Mademoiselle, mas eu vi

e n�o havia p�rolas na
mesa-de-cabeceira esta manh�.

Merci.

Acho que ouvi um salpico
e algu�m a correr.

Ou ter� sido ao contr�rio?

- Sabe a que horas foi isso?
- Uma hora depois de me ter deitado?

Ou talvez mais,
n�o posso ter a certeza.

- J� conhecia a Madame Doyle?
- N�o,

mas ouvi falar muito dela atrav�s
de uma familiar, Joanna Southwood.

E atrav�s do Tim, claro,
que j� a conhecia.

Mais uma pergunta, Madame.

A sua fam�lia sofreu a n�vel
financeiro

com os neg�cios do pai
da Madame Doyle?

N�o. As finan�as da fam�lia nunca
sofreram a n�o ser por diminui��o.

A nossa pobreza
nunca foi alarmante.

Fui acordado por v�rias vozes,

depois ouvi algu�m a correr
ao longo do conv�s,

depois algo a cair na �gua.

De certeza que n�o foi um tiro
que ouviu?

Pode ter sido.

Ouvi uma rolha a saltar.

Talvez tenha sido o tiro
e tenha imaginado a parte da �gua.

Uma esp�cie de associa��o, uma rolha
a saltar, l�quido a sair...

- E depois disso?
- Mais nada.

Ouvi algu�m no conv�s
e depois algo a cair na �gua.

- Sabe a que horas foi isso?
- 1 :10. Olhei para o rel�gio.

- N�o ouviu um tiro?
- N�o, n�o ouvi.

Faz ideia do que pode ter sido
o ru�do do embate na �gua?

- Sim.
- Ai faz?

Sei exactamente o que foi.

Fui � porta do camarote. A filha
daquela mulher hedionda do turbante

estava debru�ada no corrim�o
e tinha lan�ado algo � �gua.

- Tem a certeza?
- Se n�o tivesse, n�o dizia.

- Sim?
- Encontr�mo-la, Coronel.

Bom trabalho.

Foi esta a arma que viu no hotel?

Foi sim.

Dois tiros disparados.
Deve ser esta a arma.

E a minha estola?
Vejam o estado em que est�!

Onde a viu pela �ltima vez?

- Tinha-a no sal�o, ontem � noite.
- Veja isto.

O assassino deve t�-la usado
como silenciador.

A impertin�ncia!

Miss Van Schuyler,
pode dar-nos licen�a, por favor?

O Conde Van Mecklamburg
vai ficar desagradado.

N�o faz sentido!

Se o assassino quer que acreditemos
que a Jacqueline � culpada,

porqu� deitar fora o rev�lver,
a prova mais evidente de todas,

ao Rio Nilo?

J� disse, n�o sa� do camarote.

� estranho, Mademoiselle,
algu�m me disse que a viu.

- Quem?
- A Mademoiselle Van Schuyler.

Olhou l� para fora e viu-a
a atirar algo para o rio.

- Que mais diz ela ter visto?
- Mais nada,

mas ouviu algo. Algu�m a andar
pelo camarote da Madame Doyle.

Claro que pode haver uma raz�o
perfeitamente inocente

para atirar algo ao rio.

Mas pensando bem...

- Foi morta com isso?
- Sim.

E acha que posso ter sido eu?

A Mademoiselle Van Schuyler
est� pronta para jurar

que a viu nitidamente
ao luar.

N�o era eu.

Eu estava morta para o mundo...

... como a Madame Doyle
est� neste momento.

Um crime passional,
n�o acha, Monsieur Poirot?

Aquela Jacqueline, meia latina,
a andar pelo conv�s,

de pistola na m�o.
Ou o Sr. Doyle, louco de desejo,

com a lux�ria a palpitar-lhe
nas veias.

Ou talvez a Miss Robson, a virgem
reprimida, de aspecto desenxabido,

perturbada pela proximidade
da paix�o de uma lua-de-mel...

Diga-me, Monsieur Pennington,

sabe de algu�m que quisesse ver
a Madame Doyle morta?

Bem, h� aquela Madame,
aquela jovem, Miss de Bellefort.

- Se o olhar matasse...
- Obrigado, Monsieur.

Talvez se recorde de que a Madame
Doyle escapou � morte por pouco,

no templo de Hathor.
- Ouvi falar disso,

mas estava dentro do templo
na altura.

O Sr. Doyle disse que havia algu�m a
bordo com rancor contra a fam�lia.

- Sabe quem poder� ser?
- Infelizmente, n�o.

Nenhum dos neg�cios do pai dela
poder� ter resultado

na ru�na de algum rival?

Que eu saiba, n�o.

Porque haveria o assassino
de roubar o len�o antes do evento?

Afinal, ningu�m sabia que a
Mademoiselle de Bellefort

e o Monsieur Doyle
iam ter uma discuss�o.

Talvez ele o tenha encontrado
quando foi buscar a pistola.

Ent�o porque n�o foi descoberto
enquanto a procuravam?

N�o, meu amigo,
n�o faz sentido.

N�o fique deprimido.
Havemos de descobrir a verdade.

Eu sei que hei-de descobrir.

O Doyle pediu para ver
a Mademoiselle de Bellefort.

- Oui, lev�-la-ei at� ele.
- Muito bem.

Sabia que o Monsieur Pennington
nos mentiu?

Mentiu?

Disse que estava no templo
quando a est�tua caiu. Mas n�o estava.

Eu tinha acabado de sair
de l� de dentro.

Entre.

Achei que devias estar preocupada,
queria que soubesses que estou bem.

Portei-me pessimamente contigo.

Simon, lamento muito...

Lamento imenso...

Como pudeste fazer-me isso? Como?
Sabes que eu precisava daquilo!

- Foi para o seu bem, m�e.
- Sua ingrata miser�vel!

- Fazes ideia de como sofro?
- A m�e n�o me deixa esquecer!

Mademoiselle,
posso dar-lhe uma palavrinha?

N�o vou estar com rodeios,

a sua m�e bebe, n'est-ce pas?

N�o precisa de dizer nada.

Quando a conheci, vi logo
que estava a proteg�-la de algo

e logo descobri de qu�.

A b�beda secreta, com a ast�cia
pr�pria dos b�bedos,

com uma reserva secreta escondida.

Acho que descobriu a reserva ontem

e, enquanto a sua m�e
dormia profundamente,

atirou as garrafas fora.
Tenho raz�o, n�o tenho?

Tudo come�ou quando os seus livros
deixaram de vender e ela sofreu muito.

Fez um p�ssima figura,

foi terr�vel.

Tinha de vigi�-la constantemente.
Ela come�ou a odiar-me.

- Pauvre petite.
- N�o tenha pena de mim, por favor!

Sei que as pessoas pensam
que sou arrogante e inst�vel,

mas a verdade � que j� me esqueci
como � ser am�vel.

N�o vai contar a ningu�m, pois n�o?

N�o, mas quero que me diga
aquilo que preciso de saber.

A que horas atirou as garrafas
pela borda fora?

- Talvez � 1 :10?
- Por a�, sim.

Como j� lhe disse, a Mademoiselle
Van Schuyler viu-a da sua cabina.

Agora diga-me, viu-a?

N�o, n�o vi. S� vi o conv�s e o rio.

Viu algu�m quando estava
a olhar para o conv�s?

Algu�m, seja quem for?

N�o, n�o vi ningu�m.

Merci.

Roubadas?

- Infelizmente sim, Madame.
- Aquelas lindas p�rolas!

Lembras-te daquela festa
em casa dos Portarlingtons,

quando roubaram os diamantes
da Lady Hooper?

A Pol�cia fez-te passar
um mau bocado por isso.

Pobre crian�a!
Parece terrivelmente infeliz.

N�o devia andar
por a� aos tiros �s pessoas.

Quem pensa ela que �,
a Annie Oakley?

Os Franceses t�m as m�os sujas
de sangue, n�s tamb�m temos

e um dia todos pagaremos caro
por isso, acredite!

Por favor, cale-se e coma!

Porque n�o esperaste por mim?

Tinha coisas para fazer.

Lembro-me de ter lido
sobre os diamantes da Lady Hooper.

Pois... Como de costume, a m�e
contou a hist�ria toda mal.

Eu n�o estava l� quando foram
roubados, s� quando descobriram

que a velhota andava
com falsifica��es ao pesco�o.

H� quem diga que ela pr�pria
estava metida nisso.

- A Joanna, sem d�vida.
- A Joanna n�o estava l�, m�e.

Se me permitem...

Soubemos que um valioso colar
de p�rolas, da falecida Sra. Doyle,

desapareceu.
- Como?

Vai ser efectuada uma busca
no navio.

Agradecia que permanecessem aqui
at� terminarmos.

E agradecia que se deixassem
revistar, de seguida.

Est� ali uma senhora que tem
urg�ncia em falar com o senhor.

- Mande-a entrar.
- Por favor.

- Miss Robson.
- Mademoiselle.

Em que podemos ajud�-la?

- Roubou-o?
- N�o, foi a prima Marie.

- A Mademoiselle Van Schuyler?
- Ela n�o tem culpa.

� a sua pequena idiossincrasia.
Foi por isso que vim, para a vigiar.

- Onde o encontrou?
- Nas meias dela, esta manh�.

� onde costuma esconder as coisas.
Claro que eu sabia de quem era,

por isso fui devolv�-lo, mas uma das
camareiras contou-me do assass�nio.

Estive em choque a manh� toda.
Os Van Schuylers s�o muito recatados.

Se isto sa�sse nos jornais
seria um esc�ndalo.

- Mas n�o vai sair, pois n�o?
- Bem, depende, Miss Robson.

N�o, n�o...

Faremos o melhor que pudermos
para o evitar, Mademoiselle.

- Muito obrigada.
- Por favor.

Obrigada, Monsieur...

Poirot.

Imita��o, meu amigo.

Agora vamos come�ar
a procurar o verdadeiro.

Duvido que o encontremos
no camarote da Sra. Doyle.

Nunca se sabe o que podemos
encontrar, Coronel.

''Das Kapital''...
O Conrad Ferguson � um bolchevique.

Sempre soube que o tipo
tinha algo de estranho.

Mas n�o � s� um bolchevique...

Parece que Monsieur Allerton
� muito religioso.

A cola...
Para que quereria ele isto?

N�o sei...

Monsieur Pennington.
S.S. Normandie.

Poirot.

Os passageiros foram revistados.

- E...?
- Nada,

excepto a Miss Rosalie Otterbourne,

que tinha um pequeno rev�lver
na carteira.

- Como reagiu ela?
- N�o reparou.

Eu estava de costas para ela,
na altura.

E ainda h� uma pessoa
que n�o revist�mos.

- Quem?
- A criada, Louise Bourget.

N�o conseguimos encontr�-la
em lado nenhum.

Morreu h� menos de uma hora. Foi
instant�neo. Apunhalada no cora��o.

Com o qu�?

Com algo assim.

Suponho que n�o lhe falta
nenhuma das suas facas.

Acha que eu mataria
uma simples criadita?

N�o, s� pensei...

Todas as minhas facas
est�o presentes e arrumadas.

Ainda bem.

E agora, se me d�o licen�a...

Ela tinha isto na m�o.

O canto de uma nota
de mil francos.

O que disse ela
quando a interrog�mos?

''N�o � poss�vel eu ter ouvido algo,
a n�o ser que n�o conseguisse dormir

''e tivesse voltado c� acima.
A� talvez tivesse visto algo,

''um monstro a entrar ou a sair
do camarote da minha senhora.''

Foi exactamente isso que aconteceu!
Ela voltou ao conv�s superior.

Ela viu algu�m entrar
ou sair do camarote.

- Chantagem.
- Sim, o assassino entra,

d�-lhe o dinheiro e,
enquanto ela est� a cont�-lo...

Est�o a falar do esc�ndalo,
mesdemoiselles?

Est�vamos a comparar batons.

- O que se passa, Monsieur Poirot?
- A criada da Madame Doyle

foi assassinada.
- A Louise?

Viu algo que n�o deveria
ter visto.

O qu�?

Algu�m a entrar ou a sair do camarote
de Madame Doyle ontem � noite.

Ela disse quem?

Jacqueline, d�-nos licen�a.

Claro.

- Porque n�o me conta a verdade?
- J� contei.

N�o, n�o me disse tudo o que viu
ontem � noite.

E n�o me disse o que tem na sua mala,
o pequeno rev�lver.

N�o tenho!

- Quero a verdade!
- E o que � a verdade?

Ontem � noite, viu algu�m sair
do camarote da Linnet Doyle.

Tenho raz�o ou n�o, Mademoiselle?

J� lhe disse que n�o vi ningu�m!

N�o est� a pensar em saltar,
pois n�o, meu velho?

Porque quereria eu fazer isso,

agora que tudo come�a
a encaixar-se?

S� tenho umas perguntas, Doutor.

Regresso daqui a tr�s minutos
e depois ter� mesmo de sair.

Merci.

N�o vou det�-lo por muito tempo,
Monsieur Doyle.

Ent�o, o que se passa?

Monsieur Poirot! Monsieur Poirot!

Monsieur Poirot, tenho de falar
consigo, tenho informa��es vitais!

- Sei quem matou a Linnet Doyle!
- O qu�?

- Sim, e tenho provas!
- S'il vous pla�t, Madame.

Merci. As minhas teorias
sobre instintos primitivos

est�o perfeitamente comprovadas.

Sabe que quem matou a Louise,

ou l� como se chama,
tamb�m matou a Linnet Doyle?

Vi a pessoa
com os meus pr�prios olhos.

Viu a pessoa
que matou a minha mulher?

Foi depois do almo�o. Eu tinha
neg�cios com um funcion�rio do navio

para me arranjar...
algo de que eu precisava,

�amos encontrar-nos
no conv�s inferior.

Enquanto caminhava, abriu-se a porta
de um camarote e a rapariga, Louise,

Budget... espreitou c� para fora.

Acho que ela esperava algu�m, quando
viu que era eu, voltou para dentro.

Na altura n�o achei estranho,
segui o meu caminho,

fui ter com o homem e voltei
para tr�s. Quando o fazia,

vi algu�m bater � porta da criada
e entrar!

Sim?

Sim!

- Mas quem era?
- Eu n�o disse?

Era...

O que diabo foi aquilo?

- Viram algu�m?
- N�o.

� a arma do Pennington.
Vi-o a limp�-la no outro dia.

Como explica que a sua arma
tenha sido utilizada?

- N�o fa�o ideia.
- Algu�m sabia que tinha uma?

Nunca fiz segredo disso.

Diga-me, Monsieur Pennington,

a Linnet Doyle ainda n�o era
legalmente adulta quando casou?

Teria feito 21 anos em Julho.

E seria a� que assumiria
o controlo da fortuna?

De acordo com o testamento do pai,

a Linnet ficaria com o dinheiro
quando fizesse 21 anos

ou quando se casasse.

E este casamento t�o repentino,
deixou-o consternado?

- Porque deveria deixar?
- Talvez os neg�cios dela

n�o estivessem na perfeita ordem
em que deveriam estar.

- O que est� a insinuar?
- O que ela teria reparado

quando assumisse o controlo
no regresso a Inglaterra.

E essa perspectiva alarmou-o
de tal modo

que arranjou logo um encontro
aparentemente casual no Cairo?

A carta dela chegou um dia depois
de eu ter partido a bordo do Carmanic.

Ent�o porque � que,
na sua bagagem,

s� tem os autocolantes do Normandie,
que partiu dois dias depois?

N�o h� nada mais f�cil do que
verificar listas de passageiros.

Acho que veio aqui para arranjar
maneira de se safar do problema

e tentou, sem sucesso, obter a
assinatura dela em certos documentos.

E enquanto andava pelo tecto
do Templo de Hathor,

deslocou uma est�tua que caiu
muito perto do seu objectivo...

- Isso � um disparate!
- E teve uma oportunidade similar

na viagem de regresso a casa,

quando a morte dela seria atribu�da
quase de certeza a outra pessoa,

n�o esquecendo o facto, irrefut�vel,

de que a sua arma foi utilizada
para disparar e matar

uma mulher prestes a revelar
a identidade do assassino.

Tr�s homic�dios, Monsieur Pennington!

Posso assegurar que as autoridades
far�o uma investiga��o

muito rigorosa ao estado
do patrim�nio de Madame Doyle.

Est� bem!

A culpa � desta maldita crise.
Esperava que, com um pouco de sorte,

pudesse ter tudo resolvido at�
� altura de ela assumir o controlo.

E a cabe�a da est�tua foi uma
oportunidade demasiado tentadora.

Foi um acidente! Tropecei
no meu taco de golfe.

E tamb�m n�o a matei!

Est� a ouvir?

N�o vai conseguir culpar-me dessa,
nem agora nem nunca.

Uma fedelha mimada, uma parasita
dom�stica e uma carca�a b�beda,

o que importa se est�o mortas
ou n�o?

Voc� � mesmo o homem
mais grosseiro...

� o futuro que importa, mulher,
e n�o o passado.

J� pensou, nem que seja
por um segundo, que algu�m, algures,

possa estar a sofrer pela pobre criada
ou o qu�o triste estar� a Rosalie?

Quanto � Linnet Doyle,
ela era t�o bonita...

� incr�vel, n�o �?

Sabia que o pai da Cornelia foi
praticamente arruinado

pelo pai da Linnet

e ela s� sabe falar da beleza
desta. Incr�vel!

Pensei que dizia que � o futuro
que importa, n�o o passado.

Touch�.

Quer casar comigo?

- Como?!
- Vai contra todos os meus princ�pios,

mas acho que devia mesmo.
Que tal?

� uma ideia repugnante.

Isso � um ''n�o''?

Voc� � opinativo, inst�vel,

mal-arranjado, desagrad�vel

e incrivelmente...
incrivelmente irritante.

- Mas tirando isso...
- V�?

Est� caidinha. Acho que vou
falar com a velha carca�a!

Deve ser um bom dia para si,
n�o?

Caem que nem tordos!

Boa tarde.

Para ir directo ao assunto,
quero casar com a sua prima.

Na verdade, j� lhe pedi a m�o.
Infelizmente, recusou,

mas n�o se preocupe,

vou insistir at� que ela aceite.

Posso assegurar-lhe, senhor,
que tomarei medidas

para que ela n�o seja sujeita
a tal persegui��o.

O que tem contra mim, exactamente?

Eu n�o sou assim t�o mau.
Anatomicamente, est� tudo no s�tio,

em perfeito funcionamento
e sou bastante inteligente,

qual � o problema, ent�o?

- Posi��o social, Sr. Ferguson.
- Compreendo.

Cornelia, anda c�, portaste-te
mal com este jovem?

N�o, claro que n�o...

A sua prima diz
que n�o sirvo para si.

Na ordem natural das coisas,

ela acha que sou o equivalente
aos animais.

- � assim que me v�?
- N�o � isso.

- �...?
- Sim...?

Ela n�o � maravilhosa?

Um pouco exc�ntrico,
como o resto da fam�lia.

Recusa-se a usar o t�tulo
devido �s ideias progressivas.

- T�tulo?
- Sim, Lord Dawlish. N�o sabia?

Ele est�, como dizem,
cheio dele, claro,

mas tornou-se comunista em Oxford.

Lord Dawlish?

Reconheci-o por uma foto no jornal,
depois reparei no anel com sinete,

com o bras�o dos Dawlish.

N�o h� d�vida, garanto-lhe!

Agrade�o-lhe muito, Monsieur Poirot.

Monsieur Allerton,

gostaria muito de lhe dar
uma palavrinha.

- O que posso fazer por si?
- N�o pode fazer nada, Monsieur,

a n�o ser sentar-se e ouvir.
- Sim... pois bem,

sou muito bom nisso.

Pode contar comigo para dizer
''Viva!'' nos momentos certos.

''Viva!'' serve muito bem.
Obrigado.

Merci.

Para come�ar, a sua amizade
com a sua prima, Joanna Southwood.

Nos �ltimos tr�s anos, a Scotland Yard
tem andado ocupada

com v�rios roubos de j�ias.

Sei que o m�todo tem sido sempre
o mesmo. Oui,

a substitui��o do original
por uma imita��o.

A aten��o logo se concentrou
na Mademoiselle Southwood.

Ver� que cada uma das v�timas
tinha sido amiga, ou conhecida dela.

Tamb�m se tornou claro que n�o era
ela a fazer a substitui��o.

Tinha um ourives que fazia uma c�pia
e a substitui��o era feita por outrem.

Mas a identidade dessa pessoa
permanece um mist�rio.

- Viva!
- Oui.

Nos �ltimos dias, vieram � tona
certos factos muito �teis.

A sua presen�a na festa
onde ocorreu um dos roubos,

o seu �bvio inc�modo
pela minha presen�a aqui,

e a descoberta de que as p�rolas
de Linnet Doyle tinham desaparecido.

Mas que descobri eu?

Descobri que as p�rolas que foram
roubadas e devolvidas

eram uma imita��o,

previamente substitu�das pelas
verdadeiras.

Seria f�cil para a Mademoiselle
Southwood encontrar uma oportunidade

para examinar as p�rolas da amiga
e para mandar fazer uma c�pia.

Depois, era uma quest�o de esperar
pelo momento certo

para voc� fazer a substitui��o.

Bien! Mas soube que a Linnet Doyle
ia ao Egipto em lua-de-mel...

Parfait, n�o?

A Mademoiselle Southwood
mandou-lhe a imita��o,

talvez escondida num pacote
com livros,

e ficou � espera da sua hora.

Finalmente, fez a substitui��o,

regressou ao seu camarote...

... e escondeu-as colando-as
num ros�rio.

Infelizmente para si, a noite
que escolheu para o acto

foi a noite em que a Linnet Doyle
foi assassinada.

Ainda pior foi o facto de o terem
visto a sair do camarote dela.

Viva, n�o diria, Monsieur Allerton?

- Quem me viu?
- A Mademoiselle Rosalie Otterbourne.

- Ela contou-lhe?
- N�o. Quando a confrontei com isso,

mentiu.
- Porqu�?

Talvez por ter pensado que o homem
que viu

era o assassino.

Com certeza, n�o pensa que...

A Madame Doyle estava viva ou morta
quando roubou as p�rolas?

N�o sei. N�o sei, mesmo.

Ouviu-a respirar?

N�o sei dizer.

Ou�a, seu vigarista,

o Monsieur Poirot pode construir
um caso s�lido contra si

que estar� na forca antes de poder
clamar inoc�ncia.

N�o matei ningu�m! Admito ter
substitu�do as p�rolas,

mas matar n�o! Juro!

Garanto-lhe que seria um caso
muito convincente.

Sugiro que, quando eu examinar
o ros�rio, n�o encontre nada l�,

visto que a Mademoiselle Otterbourne
insiste em dizer que n�o viu ningu�m

no conv�s ontem � noite,
neste roubo em particular,

n�o h� provas contra si.

As p�rolas foram roubadas
por uma cleptoman�aca

que j� as devolveu.

N�o sei o que dizer, Sr. P.

Nas presentes circunst�ncias,
Sr. A,

eu diria que isto n�o � mau.

Ent�o fica assim. S� tenho de devolver
as verdadeiras ao Sr. Poirot.

- Porque n�o disseste que me viste?
- Podiam desconfiar de ti.

- Desconfiaste de mim?
- N�o.

- Sei que n�o matarias ningu�m.
- N�o passo de um ladr�ozeco.

Vieste bater � porta errada.

Timothy...

Mesdemoiselles,

Messieurs,

� um prazer informar-vos

de que o puzzle
est� finalmente completo.

Por onde come�ar?

O nosso grande erro,
e incr�vel que eu tenha ca�do nele,

foi supor que este crime tinha sido
espont�neo. Assim n�o foi.

Foi trabalhado meticulosamente
em cada pormenor,

inclusive ao drogarem o vinho
de Hercule Poirot!

Puseram-me a dormir
para que eu n�o pudesse participar

nos eventos da noite.

Nada mais f�cil do que colocar
um narc�tico na minha garrafa,

em cima da mesa da sala de jantar.

E o meu sono... Bien,
tinha estado um dia quente.

O envenenamento do vinho teria de ter
ocorrido antes do jantar, �s 19:30,

mas, mesmo nessa altura,
n�o se me afigurava a premedita��o.

O primeiro golpe
na nossa ideia pr�-concebida

deu-se quando o rev�lver
foi recuperado... do Rio Nilo.

Se estiv�ssemos certos, a arma
nunca teria sido atirada borda fora.

E a estola embrulhada
� volta do rev�lver

dava sinais de que tamb�m
havia sido disparado,

mas as marcas da bala
n�o tinham sinais de queimadura.

O que significa que o rev�lver tinha
sido encostado contra a sua cabe�a

e sabemos que a estola n�o foi
utilizada contra o Monsieur Doyle,

porque h� duas testemunhas
que o confirmam.

Ent�o, deve ter sido disparado um
terceiro tiro, do qual nada sab�amos.

A seguir, os dois frascos de verniz.

A Madame Doyle sempre pintou
as unhas de ''Cardinal'',

um tom de vermelho escuro
e profundo.

O outro frasco era de ''Rose'',
um tom de cor-de-rosa.

Mas as gotas que a� restavam
eram de vermelho vivo

e, em vez do habitual odor,

aquele frasco cheirava a tinta.

Isto levava ao len�o que tamb�m
estava manchado de vermelho vivo,

onde estava embrulhado o rev�lver.

Depois ocorreu algo que eliminou
todas as d�vidas.

Quando perguntei � Louise Bourget,
a criada, se tinha visto algo, disse.:

N�o � poss�vel eu ter ouvido algo,
a n�o ser que n�o conseguisse dormir

e tivesse voltado c� acima.
A� talvez tivesse visto algo,

um monstro a entrar ou a sair
do camarote da minha senhora.

Porque haveria de nos dizer isto?

Se sabia quem era o assassino,
porque n�o dizer logo,

ou ficar calada

e pedir dinheiro ao culpado?
N�o fez nada disso. Porqu�?

S� pode haver uma raz�o,

estava a dar a entender ao assassino
que sabia.

Assim, o assassino
devia estar presente.

Est� a acusar-me?

Porque a mataria, Dr. Bessner?
E o Monsieur Doyle?

H� testemunhas que juram que n�o saiu
do sal�o antes de come�ar a briga,

e que ficou ferido numa perna, o
que o tornava fisicamente imposs�vel.

Assim, o Dr. Bessner
deve ser o culpado,

mas... porque haveria a Louise
de insinuar algo ao Dr. Bessner?

Podia ter falado com ele
quando quisesse.

S� havia uma pessoa,
uma s� pessoa,

que correspondia � sua necessidade.

Simon Doyle!

Caramba!

Disparate! Um disparate pegado!

Esteve sempre acompanhado,
ela podia n�o ter outra oportunidade.

Monsieur, imploro-lhe!
Sabe como �... O que posso dizer?

Tem calma, pelo amor de Deus!

H�s-de ficar bem.
Eu tomo conta de ti.

Era essa a garantia que ela queria
e conseguiu-a.

- Imposs�vel! O homem n�o se mexia!
- Exactamente!

- Isto � uma afronta!
- Mas o que tinha visto ela?

Miss de Bellefort!

Vou matar-te como um c�o!
Como o c�o imundo que �s!

Sr. Ferguson! Sr. Ferguson!

E depois?

Tirem-na daqui, pelo amor de Deus!
Levam-na para o camarote!

E n�o a deixem sozinha,
fa�am o que fizerem!

N�o se preocupe, Sr. Doyle.
Eu ficarei com ela.

Chamem o Dr. Bessner
para ver o que eu tenho.

Mas todos esses camarotes
ficavam a bombordo.

O camarote da sua mulher,
Monsieur Doyle,

era a estibordo.

Esta era a sua �nica oportunidade

e s� precisava de mais uns minutos.

O que foi testemunhado n�o foi
o que realmente ocorreu.

O Monsieur Allerton
ouviu um estalido...

Ouviu salpicos na �gua,

e ouviu outra coisa. Os passos
de algu�m a passar pela sua porta.

Quem poderia andar a correr
a estibordo? Ningu�m.

Excepto o Simon Doyle.

Pensou nisso tudo sozinho?

Mas isso n�o faz sentido!
Isso s�o cal�nias!

Tal como eu disse, parecia um crime
cometido no impulso do momento.

Mas n�o foi.

N�o foi por acidente que tinha
tinta vermelha no bolso,

n�o foi por acidente que o rev�lver
foi pontapeado para debaixo do sof�.

- Jacqueline!
- Oui.

Qual seria o �libi do Monsieur Doyle?

Ter sido alvejado por Jacqueline.
E o �libi de Jacqueline?

Mademoiselle Robson, que ficou com
ela toda a noite por insist�ncia dele.

As duas metades do assassino,
com todas as qualidades requeridas:

o plano engenhoso de Jacqueline,

e o homem de ac��o para o executar.
Tinham sido amantes...

Reparem que ainda s�o amantes
e tudo faz sentido.

Mas o seu plano acabou por correr mal,
n�o foi, Monsieur Doyle?

Louise, a criada, viu-o e deu-lhe
a conhecer as suas inten��es,

o dinheiro para se manter calada.

Conseguiu informar a Jacqueline

e dizer-lhe onde estavam os bisturis
do Doutor.

E assim foi...
Ela devolveu o bisturi,

foi a correr almo�ar,
chegou atrasada e ofegante.

Mas nem tudo estava bem,
a Madame Otterbourne viu-a,

e veio a correr contar-nos.
Falou com ela em voz alta...

Viu a pessoa que matou
a minha mulher?

Pensei que fosse nervosismo.
Mas a porta estava aberta

e estava a alertar sobre o perigo

a sua parceira no crime...
que actuou com rapidez.

Lembrou-se que Monsieur Pennington
tinha uma arma no camarote.

Escondeu-se por detr�s da cortina e...

Mais um problema resolvido.

Estou certo ou n�o, Monsieur Doyle?

O que aconteceu � primeira bala
disparada pela rapariga?

O que se passa, Monsieur Doyle,
o gato comeu-lhe a l�ngua?

Atingiu o sof�.

Removeu-a e atirou-a pela janela.

Trazia consigo um cartucho
sobressalente

para fazer parecer que tinham
sido disparadas duas balas...

N�o foi, Monsieur Doyle?

O crime quase parfait,

mata a sua mulher, herda o dinheiro
e, na altura devida,

casa com o seu verdadeiro amor.

Parece que pensou em tudo,
Monsieur Doyle, excepto numa coisa.

Hercule Poirot.

Lamento... lamento!

Pronto, Monsieur Doyle.

O carrasco local

� muito eficiente.

O mecanismo
funciona como um rel�gio...

... geralmente.

Amo-o loucamente.
N�o consigo evit�-lo.

Como eu digo,
o amor obriga-nos a coisas...

Pens�mos em tudo com tanto cuidado,

mas ele escreveu um ''J''
na parede com o sangue dela,

que coisa t�o est�pida,

mas absolutamente t�pica.

Ainda assim, t�nhamos conseguido.

At� a Louise Bourget,

como se diz,
ter atrapalhado tudo.

- Sim, n�o acredito que fiz aquilo.
- E depois a Madame Otterbourne.

� extremamente f�cil matar pessoas,
Monsieur Poirot.

Come�amos a sentir que n�o importa.

Naquela noite, no terreno do hotel,
em que disse ter visto algu�m...

... n�o havia ningu�m, pois n�o?

S� um pequeno arenque vermelho,

para o assustar.

Lembra-se quando eu disse
que tinha de seguir a minha estrela?

Extinguiu-se finalmente, n�o foi?

Monsieur Pennington, deve estar
contente por regressar a casa.

N�o tenho a certeza
se ainda tenho casa,

mas obrigado pelo interesse.

- Ele h�-de safar-se.
- Oui.

Mademoiselle.

Monsieur Poirot! Tenho �ptimas
not�cias! Decidi casar-me!

Que excelentes not�cias,
Mademoiselle.

- Quem � o felizardo?
- O Dr. Bessner.

- O Bessner?!
- Pediu-me em casamento ontem � noite.

Ele � t�o generoso. Diz que posso
ajud�-lo no seu trabalho.

Vai ensinar-me tudo sobre a neurose.

Posso dar-lhe os meus parab�ns,
Mademoiselle?

- Apoiado.
- Obrigada.

- Contou � sua prima?
- Sim, ela ficou encantada!

E os meus parab�ns ao Dr. Bessner.

Obrigado, estamos muito felizes.

Sim.

- Lamento.
- Pois. N�o sou muito experiente

nestas quest�es, sabe?
Achei que tinha encontrado um tesouro.

Acontece, Monsieur Ferguson,

mais frequentemente
do que imaginamos.

- Adeus.
- Au revoir.

Coronel.

Quem iria imaginar que daria nisto?

Foi a Mademoiselle que disse
que a vida � injusta.

Ol�, Simon.

Fiz asneira outra vez, n�o fiz?
Confessei tudo. Desculpa...

� um jogo de loucos, meu querido,
e n�s perdemos, s� isso.

Por favor, posso beij�-lo? N�o sei
se terei outra oportunidade.

Adeus, meu querido.

Sabes o quanto te amo...

Adeus.

Onde arranjou ela aquilo?

Tinha duas. P�-la na sua mala,
Mademoiselle, quando revistaram tudo

e recuperou-a quando foi
ao seu camarote, mais tarde.

Sabia disto?

Nem sempre � assim t�o simples.