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Shetland

Catherine, é tarde.
Tenho de ir para casa.

Então, anda, pequenina.
Vou levar-te a casa.

Ela está atrasada.

Disse que chegava à meia-noite
e está atrasada.

Jimmy, para de pensar
como um polícia.

Ela está com os amigos.

- Não lhe vai acontecer nada.
- Eu sei.

O solstício de verão!

É nojento.

Ela vai ficar tão zangada contigo!
Caramba!

Vai dizer: "Estiveste
com aquela Catherine Ross?"

Ela não gosta de quem sou
quando estou contigo e não te grama.

Eu sei.

Paciência!

Despacha-te!
Cuidado com as pedras.

O velho desta casa...

- Porque o acham estranho?
- Porque ele é estranho.

É um velho assustador.

Catherine,
tenho de ir para casa!

Pensava que gostavas
de homens mais velhos assustadores.

- Amanhã, é domingo. Há missa.
- Anda!

- Por favor, não faças isto!
- Vem!

- Olá, Cass! Divertiste-te?
- Sim. Foi ótimo.

Há comida...

- Boa noite.
- Boa noite.

Já te vi.

- Vives na casa dos Bruce.
- Sim.

Tenho bolo.

Querem bolo?

Chiça!

Não podemos comer bolo.
A minha amiga tem de ir para casa.

Amanhã, é domingo. Há missa.

Sim, são penas.

Como as do pássaro.

Vê?

- Vai. Já estás atrasada.
- Tu também.

Eu sei, mas é segunda
e desculpam-me.

Que tengas un buen día!

Ainda bem
que não paguei só o bronze.

- Adeus!
- Adeus!

Fila um.

Tabby...

- Depressa.
- Jemima...

Desculpe o atraso.
Ela não se sente muito bem.

Adeus, querida.
Sobe as escadas.

Kitty Collins, se estás
em condições de vir para a escola,

estás em condições de ficar.

Vamos.

Para nos falar de um assunto
que nos diz respeito a todos,

eis a nossa procuradora,
Rhona Kelly.

Bom dia.

Antes de mais, gostaria de dizer
que é um prazer estar aqui hoje

para vos inteirar
de certas mudanças de procedimento

na Procuradoria.

Devemos, e fazemo-lo,
dar prioridade a certos casos

em virtude da gravidade
dos crimes...

... e do impacto nas vítimas...
- Estou?

Duncan?

Ela fez-me sinal,
quando eu ia a passar.

Não quis deixar a rapariga,
caso os pássaros voltassem.

Eles estiveram a bicar.

- Bom dia. Sou o inspetor Perez.
- Jess Collins.

Ela chama-se Catherine Ross.
É a minha babysitter.

Tem dezassete anos.

Sabe como posso contactar
os pais dela?

Só há o Euan, o pai.

- Está na plataforma petrolífera.
- Em qual?

North Cormorant.

Vi-a ontem à hora do lanche.
Ela estava bem.

Jess, vou precisar de falar consigo,
mas não agora.

Posso levá-la, se quiser.

Certo.

- Onde está a Tosh?
- Vem a caminho. Estava no dentista.

- Tenho a tenda no carro.
- Não adianta. A maré vai subir.

Liga à Cora McLean e diz-lhe
que preciso dela aqui agora.

Sim.

Irra, Jimmy! Porque me chama
quando são jovens?

Cora! Ela está na água.
Está a arrefecer depressa.

Precisa de ajuda
para a virar?

Obrigada.

Ainda não há rigidez.

Ela ainda guarda calor
e está abaixo da marca da maré alta.

Eu diria que morreu
nas últimas doze horas.

- Pode restringir o intervalo?
- A equipa forense vem a caminho.

Tenho o equipamento de natação
na mala. Sirva-se da toalha.

Toca a trabalhar.

Mr. Bain?

Sou o inspetor Perez.
Posso entrar?

De onde vem?

De Fair. Sou natural de lá.

Depois, fui para Glasgow.
Agora, vivo em Lerwick.

Encontrámos um corpo na praia.

Pergunto-me se viu
ou ouviu alguma coisa.

Vi os pássaros.

Eles arrancam os olhos
de um cordeiro doente à bicada.

Depois, é preciso partir-lhe
o pescoço.

É que, daqui de cima,

pensei que pudesse ter visto.

Alguma coisa estava a chamar
os pássaros.

- E lembrou-se de ir ver?
- Ela estava morta.

- Porque não ligou para a Polícia?
- Não tenho telefone.

Podia ter pedido a um vizinho.

- Os vizinhos não falam comigo.
- A que horas foi isso?

Às cinco.
Não durmo bem no crepúsculo.

É a Catherine Ross.

Ela esteve aqui no solstício,
com a filha da professora.

Não as convidei.
Elas apareceram e pronto.

Depois, ela voltou ontem.
Vinha no autocarro.

Viu-a no autocarro?

Não. Não era o meu dia
de ir a Lerwick.

Passei pela paragem
e ela estava a sair.

- Ontem, domingo?
- Sim. Ela sabia que eu tinha bolo.

Tinha fome.
Tinha passado a noite a andar.

Ela disse porquê
ou onde tinha estado?

Não.

Quanto tempo ficou ela?

Uma hora.
Disse que ia para casa dormir.

Desculpe incomodar, mas...

Precisam do inspetor.

Onde esteve ontem à noite?

Aqui, na cama.

Vou querer falar consigo novamente,
Mr. Bain.

Não vá a lado nenhum
sem nos avisar.

Onde haveria de ir?
Não é o meu dia de ir a Lerwick.

Ele conhecia-a.
Ela visitou-o ontem

e ele viu o corpo
hoje de manhã.

- Ele disse isso?
- Não tentou esconder.

Disse que a viu às cinco da manhã.
Não dorme bem nesta altura do ano.

Quem dorme? Nunca está escuro o
suficiente nem por tempo suficiente.

Quem dera
que apagassem o raio da luz!

Dos bolsos dela.

- Nada de telemóvel?
- A água estava por todo o lado.

Há uma escola primária ali em cima.
Temos de a retirar rapidamente.

Está bem.
Vou contactar Aberdeen.

Jornalistas?

Tens razão.
Devemos retirá-la rapidamente.

Ainda não conseguimos contactar
o pai da Catherine.

Sabe com quem ela fica,
quando ele está fora?

Com ninguém.

A Catherine só veio viver com o Euan
há um ano, quando a mãe morreu.

Ele viveu sozinho durante anos.
Ela andava num colégio interno.

Eles não viveriam bem
com muito controlo.

Isso não significa
que não gostassem um do outro.

Alguém mencionou a filha
da professora. Sabe quem é?

Sim. A Sally Henry. A mãe dela,
a Margaret, é a professora primária.

Ela e a Catherine eram amigas.

Foi um grande choque
para a Sally.

Foi um grande choque para todos,
embora talvez não uma surpresa.

Aquela rapariga
gostava de provocar uma reação.

Lamento. Tenho de perguntar isto.
Onde estiveste ontem à noite, Sally?

- E a senhora, Mrs. Henry?
- Que lhe parece? A dormir na cama.

Sabes onde a Catherine esteve
no fim de semana?

Não se pode culpar
as crianças, claro.

Ficam por sua conta,

a beber até cair em Lerwick
todos os fins de semana.

Sally, porque não damos uma volta
para não atrapalhar a tua mãe?

- Mas fiz café.
- Deixe estar. Levamo-lo connosco.

O que se passa?
Quem é aquele com a Sally?

Houve uma morte.
Foi a amiga dela, a Catherine Ross.

Ela está bem?

- Não a ouviste? Ela está morta.
- Referia-me à Sally.

Sabes, o que me disseres
não sai daqui.

Os teus pais não têm de saber.

Ela nem sempre me contava
o que ia fazer.

Não posso sair muito.

Ela não gostava de se gabar.

E no sábado à noite,
quando foram visitar o Magnus Bain?

A Catherine achou que seria
um desafio bater-lhe à porta.

- E depois disso?
- Vim para casa.

E a Catherine?

Já disse que ela nem sempre
me contava o que ia fazer.

E no domingo?

Ontem. Viste-a?

Ela telefonou-me.

No fim da tarde.

Não pude sair porque tinha
trabalhos de casa.

- Ela era uma boa amiga?
- Nunca tive uma amiga como ela.

- A Catherine tinha namorado?
- Não.

Tinha namorada?

Não.

Alguém andava atrás dela?

Nós gozávamos com Mr. Scott.
Ele estava sempre a olhar para ela.

- Um professor?
- Ela achava-o ridículo.

- Perez não é um nome de Shetland.
- Pois não.

Dizem que veio para cá
com um naufrágio da Armada.

Um marinheiro espanhol amou
uma rapariga de Fair.

O inspetor
não parece muito espanhol.

Não. Acho que devo sair a ela.

Porque disse a tua mãe
que a Catherine gostava de provocar?

A Catherine achava que os adultos
tinham de merecer o seu respeito.

- Nem sempre era educada.
- Com a tua mãe?

Com qualquer pessoa.

Billy, conseguiste contactar
o Euan Ross na North Cormorant?

- Ainda não.
- Insiste.

Temos de revistar a casa e não quero
que ele saiba disto pelo Facebook.

Sim. Chefe...

Tenho recebido telefonemas
do meu amigo Reg Gilbert,

o senhor jornalista,

sobre um possível assassino em série
em Shetland.

- Não sei do que está a falar.
- É o investigador mais graduado.

Devia informar-me a mim
e não o contrário!

Desculpe.
Podemos ir lá fora?

Sabe porque não fumar aumenta
a esperança de vida?

Porque cada hora demora
três dias a passar.

Há dezanove anos,

Catriona Bruce desapareceu
de Ravenswick.

A mesma aldeia?

Nunca encontraram o corpo.

A equipa de Inverness concluiu
que não houve crime

e ela caiu do penhasco
onde foi vista a brincar,

mas, depois de hoje,
o Reg anda a escabulhar.

Anda à cata de uma história,
procura uma ligação.

Se existir uma hipótese
de a encontrar, quero saber.

- É a mesma morada.
- O quê?

A da Catherine e a da Catriona.
É a mesma morada.

CONTINUAM AS BUSCAS
POR CATRIONA

PAIS DA DESAPARECIDA
PEDEM INFORMAÇÕES

DESAPARECIMENTO FOI
ACIDENTE TRÁGICO

- Estou?
- Chefe...

... tenho o Euan Ross em linha.

Vou passar a chamada,
está bem?

Está bem.

Estou?

Bom dia, Mr. Ross.
Fala o inspetor Perez.

Está acompanhado?

Sim. Enviaram o gerente.
O que se passa?

Tenho más notícias para si.

A sua filha, Catherine,
foi encontrada na praia...

... em Ravenswick.
- O quê? A minha...

A sua filha está morta.

Euan?

Estou?

Cora!

- Cassie...
- Olá.

Tenho de sair.
Demoro uma hora, está bem?

Está bem.

Que foi?

É verdade
que a Catherine Ross foi agredida?

Sexualmente?

- Quem diz isso?
- As pessoas. No Facebook.

Nunca me deparei
com uma rapariga morta

sem esse ser um dos boatos.

O que já de si é deprimente,

mas, neste caso, posso assegurar-te
que é pura especulação.

A morte ocorreu
entre a meia-noite de ontem

e as quatro da manhã de hoje.

Ela foi morta onde foi encontrada,
estrangulada com o próprio cachecol.

- Há sinais de agressão sexual?
- Não.

Mais alguma coisa?

Sou apenas médica
de clínica geral.

O resto pode esperar
pelo patologista de Aberdeen.

Que me dirá o mesmo que a Cora,
mas daqui a três dias.

Cora...

Ela tinha arranhões no pescoço
e pele sob as unhas.

Palpita-me que descobrirão
que é dela.

Ela tentou enfiar os dedos
debaixo do cachecol para o puxar.

Mas não havia
ferimentos defensivos,

portanto,
ou a apanharam de surpresa...

Nesta altura do ano?
Há sempre luz.

Ou ela conhecia a pessoa a ponto
de a deixar aproximar-se muito.

O que se passa?

Então?

Que foi?

Mesmo que a equipa do continente
se tenha enganado

e a Catriona tenha sido raptada,
ela era uma criança

e o corpo nunca foi encontrado.

A Catherine tinha
mais dez anos

e o corpo foi deixado
num espaço aberto, à vista.

O perfil das vítimas
e o método são diferentes,

para não falar dos dezanove anos
de intervalo.

Não vejo a mesma mão
em ambos os crimes.

E o facto de ser a mesma aldeia
e a mesma casa?

Até os nomes delas
são parecidos.

Os tabloides adoram isso,
mas não é uma ligação.

O que me preocupa é que as pessoas
comecem a comentar

e, de repente, desatem a procurar
aberrações e monstros

e esqueçam
o que viram realmente.

Está bem. Emitimos um comunicado.
"Apesar de certas semelhanças,

a Polícia crê que não existe ligação
entre a morte de..." e por aí fora.

Muito bem.

Segundo a Cora,
que, como todos sabemos,

nunca se engana, a hora da morte
é entre a meia-noite de domingo

e as quatro da manhã
de segunda.

No sábado à noite,
no solstício,

a Catherine e a amiga, a Sally,
vão a uma festa na praia

e, depois, visitam Magnus Bain.

A Sally vai para casa.

A Catherine passa a noite
fora de casa,

supostamente, em Lerwick,
porque, na manhã seguinte,

no domingo,
sai do autocarro de Lerwick,

torna a cruzar-se com o Magnus
e vai a casa dele comer bolo.

À hora do lanche no domingo,
visita Jess Collins.

E sabemos que é vista
várias vezes depois disso.

Veem-na pela última vez
às oito e meia,

quando ela vai a casa de um vizinho
beber leite. Toda a família a viu.

Ela é morta...

... aqui,

entre a meia-noite
e as quatro da manhã.

O nome Magnus Bain aparece muito.
Ele viu o corpo e não disse nada.

- Além disso, é muito estranho.
- Isso não basta para investigarmos

e ele afirma
que os vizinhos não falam com ele.

Confirmámos isso?

Não são só eles que o evitam.
Ele vive em reclusão.

- Era bem capaz de não fazer queixa.
- Conhece-lo?

Só pela reputação.
É como a Tosh diz.

- Ele é estranho.
- Se ela conhecia o assassino,

terá combinado encontrar-se com ele?
- Ou talvez já estivesse com ele.

Chefe, ligaram de Aberdeen
por causa das fotos das pegadas.

São das botas dela.

- E aquela fibra debaixo da unha?
- Ainda não há novidades,

mas estão a contar consigo
na escola.

Tosh, acompanha-me.
Sandy, vai à casa dos Ross.

Revista o quarto da Catherine.

Todos vocês conheciam
a Catherine.

Talvez alguns saibam
ou soubessem coisas sobre ela

que ela teria preferido esconder,

mas precisamos de saber
com quem ela esteve

e o que fez,
nas 24 horas antes de morrer.

Quando alguém morre,
sobretudo em circunstâncias destas,

há sempre boatos à volta
do que pode ter acontecido ou não.

Esses boatos não ajudam.

Só assustam as pessoas.

Não quero que tenham medo.

A sargento McIntosh estará aqui
toda a manhã.

Se alguns de vocês souberem
alguma coisa,

seja o que for,
por favor, falem connosco.

Importam-se de voltar
para as salas,

a não ser que tenham
informações para a Polícia?

Conhecia-la bem?

Hugo Scott?

Sou o inspetor Perez.

Queria dar-lhe uma palavrinha
sobre Catherine Ross.

Desculpa.

Posso falar contigo?

O que se passa?

Fui professor dela
de Cinema e Fotografia.

Também tratei da inscrição dela.

- Como era ela?
- Inteligente.

Um desafio.
Podia dar muito trabalho,

mas também era recetiva,
interessada e participativa.

Eles não são todos assim,
acredite.

- Ela era popular?
- Era admirada, sem dúvida.

Mas talvez fosse demasiado arisca
para ser mesmo popular.

Tinha um olhar satírico
e um desprezo impressionante,

mesmo para alguém
com dezassete anos.

Isso não cativa propriamente
os colegas.

Nem os professores, calculo.

Não. Eu e a Catherine
entendíamo-nos muito bem.

Via-a fora da escola?

Não de encontro marcado,
se é o que está a sugerir.

Então, por acidente?

É quase impossível de evitar,
se se vive em Lerwick.

Estou a pensar mudar-me
para Bressay e aprender a remar.

O que o trouxe a Shetland?

Quis vir para um lugar
onde pudesse fazer a diferença.

Sabe como é.
Conquistar corações e mentes.

Aquilo parecia um confessionário.

Os desgostos e a saúde sexual
de uma geração em pormenor.

Se a Cassie conhecer
um tal Peanuts, tenha receio.

E a Catherine?

Era uma excluída,
mas pareceu-me que por escolha.

Todos disseram que ela fazia questão
de não usar as redes sociais.

Isso é que é querer ser diferente
dos outros.

Alguém mencionou
o professor Hugo Scott?

A mim, não.

Está bem. Investiga um pouco.
Vê se há algo que nos interesse.

Está bem.

Chefe, teve uma visita
na sua ausência.

- O Alan Isbister.
- O playboy de Whalsay?

Ele teve de ir às docas
no seu carrão caro

para uma reunião muito importante,
mas passa cá no regresso.

Ao que parece,
quer falar do caso.

Desculpe.
Procuro Alan Isbister.

Não sabia
que trabalhavas aqui.

Faço de tudo,
desde que ganhe dinheiro.

Estás a poupar
para cancelar outro casamento?

- O Isbister está na doca seca.
- Obrigado, Drew.

Mande beijinhos meus à Tosh.

Inspetor Perez! Eu disse
ao seu agente que voltava lá.

Ele é meu sargento,
não meu mordomo.

Da próxima vez
que o senhor tiver informações,

dê-as a quem estiver na receção,
entendido?

Estou só a tentar ser
um bom cidadão.

Então, despache-se.

Organizo sempre
uma festa no solstício de verão.

A festa começa
quando as outras terminam,

para impedir a ressaca
e continuar a beber.

A Catherine Ross esteve lá.

Eu não a conhecia. Só reconheci
a cara dela nas notícias.

Quem a levou?

Só forneço o álcool, abro as portas
e deixo a festa acontecer.

Posso dar-lhe uma lista
de quem convidei, se isso ajudar.

Ela fazia parte da multidão.
Mal reparei nela.

Não tem trinta anos?

Ela tinha dezassete
e isso não a fez destacar-se?

A casa estava aberta.

Até devia haver lá
gente com setenta anos.

Onde fica essa casa aberta?

É a minha casa
na ilha principal.

A Haa.

Fique na ilha principal
até ordem minha em contrário.

Isto é uma lista de todas as pessoas
de que ele se lembra.

- E as de que não se lembra?
- É um ponto de partida.

Onde esteve a Catherine,
com quem,

o que fez?
- O Isbister tem uma certa fama.

Gostei de gente de 17 anos aos 17,
mas isso passa.

- São só mexericos reles.
- Bastante generalizados.

O Alan nunca cresceu.

O pai é o magnata
que ganhou dinheiro com o arrastão.

Além disso,
a mãe nunca o perdia de vista.

Pensava que os Isbister tinham
uma transportadora.

- Veem-se camiões por todo o lado.
- A pesca é a verdadeira atividade.

Está aqui metade do raio da ilha.

Porque não fui convidada?

Billy, arranja-me a videovigilância
de Union Street, Harbour Street

e Lower Hillhead
na noite do solstício.

- Billy!
- Sim?

2h40 da manhã,
em Commercial Street.

Sim, chefe.

Para onde vai ela?

Para o passeio marítimo?
As docas?

A paragem de autocarro?

- Como vai a lista interminável?
- Bem. Vai demorar um pouco.

A festa
para a qual não foste convidada.

- Sabe uma coisa?
- Não. O quê?

A paragem de autocarro de Lerwick,
na noite de sábado para domingo.

Excelente. Obrigado, Billy.

Talvez ela nos tenha escapado.
Talvez tenha ido para outro sítio.

Lá está ela.

Estou? Esquadra de Lerwick.

Chefe, era o Euan Ross.
Ele chegou.

Está bem.

Quando encontrámos
o corpo da Catherine,

ela não tinha as chaves de casa
nem o telemóvel.

Não costumamos trancar
as portas.

Mas o telemóvel?
Ela nunca o largava.

Talvez tenha saído à pressa.

O agente que revistou a casa
também não o encontrou lá.

Acha que alguém o roubou?

Foi um assalto que correu mal?

Não, não parece.

Ela era muito nova
para viver sozinha.

Isso é uma pergunta?

Não. É muita liberdade.
Não há ninguém a perguntar...

... onde vamos,
o que fazemos,

quando temos de estar em casa.

- Sabe o que ela fazia?
- Saía.

Mas não muito.

Gostava de estar sozinha.

Andei naquela escola.

Sou de Fair.

É uma escola muito fechada.
É difícil estar à parte.

- Posso fazer-lhe uma pergunta?
- Pode.

Foi rápido?

Foi rápido.

Não imediato.

Boa noite, Jess.
Estou algo preocupado com o Euan.

O que dirão os vizinhos?
Dois homens de visita numa noite.

Isto é praticamente um bordel.

Desculpe.
Não quis interromper a sua noite.

Não. O Duncan só veio ver
como eu estava.

Obrigada.

- Olá.
- Olá!

Como se conhecem?

Bem, a minha ex-mulher e o Jimmy
estiveram juntos muito tempo,

antes de ela falecer.

Em resultado disso, partilhamos
a nossa filha muito encantadora

e muito teimosa.

Sou o pai dela.
O Jimmy é o pai presente.

Sim. Tenho de voltar para ela.
Boa noite.

Pode segurar nisto?
Só lhe quero dar uma palavrinha.

Jimmy!

- O que estás a fazer?
- Que foi?

Disseste-lhe que és casado?

Por favor! Estamos só a beber
um copo de vinho.

A Cassie ainda agora superou
a última traição.

Jimmy!

Paras de levar esse cão a nadar
todas as manhãs?

É o banho dele.

Gostavas que te dissesse
para não te lavares?

Eu fico a cheirar melhor.
Os cães molhados tresandam.

Tosh...

É um briefing. Informa-nos.

Investiguei o Hugo Scott. Ele tem
uma bela carreira, sem antecedentes.

Quanto a excluir as pessoas
de Ravenswick do crime,

a maioria delas estava a dormir
e confirmar álibis é complicado.

Muito bem. E os convidados da festa
do Alan Isbister?

Continuo a percorrer a lista.
Até agora, nada.

Fala-se muito do Magnus Bain.

Esta investigação não é conduzida
pela opinião pública.

- Se calhar, devíamos investigá-lo.
- E investigamo-lo,

mas fazemos perguntas,
não tiramos conclusões precipitadas.

- Aberração!
- Atrasado!

Pedófilo!

- Pervertido!
- Sacana!

Velho nojento!

Velho estúpido!

O Magnus Bain disse-me
que a Catherine voltou à casa dele

porque sabia que ele tinha bolo.

Acho que ela podia ter comido bolo
em qualquer lado.

Perguntei-me se saberias outra razão
para ela ter voltado lá.

Talvez por ele ser tão estranho.

A Catherine gostava
de gente esquisita e desajustada.

Então, porque gostava de ti?

Não me pareces ser
essas coisas.

Talvez ser filha de uma professora
seja bom, se a mãe for popular.

Se não for,
somos essas coisas.

Então, vai falar
com o Magnus Bain.

Mais vale tarde que nunca.

Mrs. Henry, tem algo concreto
para me dizer?

Pensava-se que era bondade
deixar os filhos falar com ele.

Havia mais inocência
naquela altura.

Hoje em dia,
estamos mais bem informados, não?

Muito bem.
Obrigado pelo teu tempo.

- Onde está o meu pai?
- No monte.

Qual é o mal disso?
Ele é educador ambiental.

Seja o que for que ele está a fazer,
seja com quem for, não o censuro.

- Quem é a menina?
- A Agnes, a minha irmã.

- Ela morreu.
- Aquela é a sua mãe?

Não tenho leite.

É o meu dia de ir a Lerwick,
mas não consegui sair.

Sabe porque vieram eles aqui,
não sabe?

Eles relacionam o Magnus
à morte da Catherine.

Não.

O que fez,
depois de ela se ir embora?

Vi televisão.

O que viu?

Um fulano qualquer a pescar.

Talvez isso tenha sido ontem.

Certo. Magnus...

Alguém o viu entre a saída
da Catherine da sua casa no domingo

e a minha chegada
no dia seguinte,

alguém que saiba dizer
onde o Magnus esteve?

Está bem.

Gostaria de recolher
as suas impressões digitais

e uma amostra de ADN.

Não precisa de fazer
nenhuma dessas coisas,

mas isso ajudar-me-ia a provar
onde esteve ou não.

A tinta entra nos vincos.
Demora muito tempo a sair.

Já recolheram
as suas impressões digitais?

- Quando a Catriona desapareceu?
- Não.

Eu disse-lhes
que não a tinha visto.

Eles foram-se embora.

Ninguém me manda cartas.

É da Catherine Ross.

O que é?

Ela mandou-me uma carta.

Porque tirou ela esta foto,
Magnus?

Pedi-lhes uma proposta
para o projeto do final do ano.

A foto pode ter tido que ver
com isso.

- Sabe como foi tirada?
- O sujeito sabe, com certeza.

O sujeito não liga à tecnologia.

A Catherine gostava
de coisas retro.

Queria uma Hasselblad,
mas não tinha dinheiro.

O que é isso?

Uma máquina que fotografa
neste formato quadrado.

É cara. A Catherine arranjou
uma aplicação para o telemóvel.

A foto foi tirada
com o telemóvel dela?

Então, ela teve de a tirar,
ir a casa, descarregá-la

e imprimi-la?

Pode tê-la imprimido
do telemóvel,

mas, pelo aspeto da foto,
eu diria que a retocou primeiro.

Reforçou os pretos.
É muito Don McCullin.

Muito Catherine.

A Catherine Ross tirou uma foto
ao Magnus Bain com o telemóvel

no dia em que morreu.

Podemos contactar Aberdeen
para ver se nos dizem

quando ela a descarregou
para o portátil?

- Com certeza.
- O que aconteceu em Ravenswick?

Impressões digitais
e uma amostra de ADN.

Parece que não é uma estreia
para o Magnus.

- Podes ver se temos algum registo?
- Entendido.

- E um álibi?
- Ele não tem álibi!

O homem é um eremita.
Não vê ninguém dias a fio,

a não ser no maldito dia
para ir a Lerwick,

mas não tem um motivo.

Não há nada que o ligue a isto
a não ser falatório

e o falatório pode ser instigado.

E se alguém quer que suspeitemos?
E se for uma distração?

Quem?

Não sei.

Alguém com dinheiro suficiente
para comprar mexericos.

Desculpa, Tosh. Muito bem.

- O que perdi?
- Chegou o relatório da patologia.

Não há nada de novo.
Corresponde ao que a Cora disse

e temos notícias da fibra
sob a unha da Catherine.

É cânhamo de um tapete.

- Que tipo de tapete?
- Antigo e talvez de origem turca.

Parece que concluem isso
pela tinta.

Mostra-me a lista de convidados
do Isbister.

Disse-me que nunca combinou ver
a Catherine fora da escola,

correto?
- Correto.

Ela nunca veio
a este apartamento?

Porque haveria de vir?

Belo tapete.

- É turco?
- É, mas...

São muito característicos.

Têm padrões
e tintas muito característicos,

ao que parece.

A Catherine roía as unhas.
Reparou nisso?

Talvez fosse dos nervos.
Não sei.

Isso deixa-as irregulares.

Há coisas que ficam presas,
como fibras.

- Quero um advogado.
- Acho boa ideia.

"Muito Don McCullin."

O que significa isso?

Olha para uma bela foto,
tirada com perspicácia e cuidado,

e é como se já a tivesse visto,
como se não fosse novidade para si.

O que disse sobre a Catherine
de ela ser interessada,

recetiva e participativa
não era sobre ela.

Era sobre a forma
como ela reagia a si.

Ela veio cá pedir
um DVD emprestado.

Só isso.

E como ficou com uma fibra
do seu tapete sob a unha?

Conversámos.

Talvez ela se tenha sentado
no chão.

- Estou preso?
- Agora, está.

A minha mãe pensa
que estou no quarto.

- E se vai ver?
- Diz-lhe que te apeteceu passear.

Devias vir ao barco.

Temos mais privacidade.

Gostavas de ir?

- Não te ouço.
- Gostava.

Antes do fim do período, sugeri-lhe
alguns filmes que lhe agradariam.

Se ela não os encontrasse,
eu emprestava-lhos.

- Que tipo de filmes?
- Filmes new wave franceses.

Quando foi a Catherine
a sua casa buscá-los?

No sábado à noite.

- A que horas?
- À meia-noite.

Ela disse
que estava de passagem.

- À meia-noite?
- Pensei que ela vinha de uma festa.

Eu ia à festa do Isbister
e ela pediu-me que a levasse.

A Catherine sabia dessa festa
antes de o Hugo a mencionar?

Não me lembro.

Tinha bebido.

Daí ter sido menos... prudente
que o normal.

E como foi menos prudente,
aceitou levá-la?

Precisamos que o diga
em voz alta.

Para a gravação.

Sim. Aceitei levá-la.

- Porque não nos contou antes?
- Mal chegámos, ela desapareceu.

Não a tornei a ver.
Não tinha nada útil para dizer.

- E sabia o que pensariam.
- O que pensaríamos?

Que eu tinha uma relação imprópria
com ela.

E tinha?

Não.

Não!

Com licença. Tosh...

Tosh, estamos a fazer perguntas,
não a marcar pontos.

- Para de o provocar.
- Desculpe.

- Mas ele é um cobarde idiota.
- Eu sei.

Mas estou a falar a sério.

Ela tinha dezassete anos.

Conheci o Drew
com dezassete anos.

Era muito nova.

Fico bem aqui.

- Tens a certeza?
- Vivo já do outro lado do monte.

Não te vais assustar,
depois da morte da tua amiga?

- Há nevoeiro.
- Já fiz isto antes. Vou a correr.

Está bem.

Adeus.

Se já acabaste de amuar,
tens o lanche no forno.

Pensei que era a Sally.

- Onde está ela?
- No quarto.

Não. Acabei de ver.

Ela perguntou por ti.
Disse-lhe que estavas no monte.

Depois de tudo o que aconteceu,
ela anda lá fora sozinha?

Alex, espera. Alex!

- Sally!
- Pai!

Catherine?

- Catherine!
- Pai!

- Sally!
- Sally!

Sally!

Pai!

- Pai!
- Sally!

- Pai!
- Dá-me a tua mão. Vem, querida.

Pai, há alguma coisa ali! Pai!

Inspetor...

Com licença.

Encontraram um corpo
no monte em Ravenswick.

Acham que é a Catriona Bruce.

Tradução e Legendagem
Sónia Coelho / Wordzilla