All language subtitles for La Soufriere (Herzog, 1977)

� espera de uma cat�strofe inevit�vel

Um document�rio de Werner Herzog

Em partes do mundo...

come�ou a tremer por toda a parte.
No norte da It�lia e nas Filipinas

E o restante na China
e na Am�rica Central.

Em agosto de 1976 houveram claros sinais

que o vulc�o La Soufri�re,

na ilha caribenha de Guadalupe,
estava pra entrar em erup��o.

A montanha vinha dando
sinais desde a primavera

pelo que disseram os cientistas.

Ao final de agosto, os
acontecimentos ficaram dram�ticos.

J� n�o previasse uma erup��o normal...

e sim uma explos�o de toda a montanha
com uma for�a de 5 ou 6 bombas at�micas.

Por consequ�ncia, foram evacuados
75.000 habitantes dos arredores

toda a parte meridional da ilha.

O evento me fascionou
imediatamente quando li no jornal

que um �nico campon�s pobre que vivia
na encosta do vulc�o se negava a partir.

Nesse mesmo dia, parti
com dois cinegrafistas:

J�rg Schmidt-Reitwein e Ed Lachman.

No dia seguinte, est�vamos em
Basse-Terre, no extremo sul da ilha,

um povoado de 17.000 habitantes,
que estava na zona de perigo.

O lugar estava completamente deserto,

mas na pressa se esqueceram
de desligar os sem�foros.

Os telefones p�blicos
tamb�m funcionavam.

e em muitas casas estavam ligadas as
geladeiras e os condicionadores de ar.

Em uma casa, encontramos
um televisor ligado.

Este � o posto da pol�cia.
Totalmente abandonado.

Nos agradou n�o ter a lei por perto.

A maioria das lojas
foram esvaziadas depressa.

Esta � uma loja de sapatos.

O sil�ncio era espectral, s� se escutava
alguma porta sacudida pela vento...

e o gotejo d'�gua.

A rua pertencia aos animais.
Encontramos asnos, porcos,

galinhas, e, sobretudo, c�es.

Os c�es ficaram famintos por dias,
n�o haviam sacos de lixo pra vasculhar.

At� pararam de procurar.

Encontramos muitos deles mortos
de fome e os cad�veres fediam.

O lugar era espectral, como uma
paisagem de fic��o-ci�nt�fica.

Este � o cais do porto, sem barcos.

Logo, � noite, a
situa��o ficou dram�tica.

Ocorreram fen�menos s�smicos,
com 1400 sacudidas em 10 horas.

Mais do que nunca a
explos�o parecia imediata.

E os �ltimos ci�ntistas
tamb�m haviam fugido.

Se previa que a cat�strofe
ocorreria nas horas seguintes.

A 35 kms de dist�ncia
instalamos uma c�mera autom�tica

que capturaram estas imagens.

Logo sobrevoamos Basse-Terre
em um helic�ptero.

Durante o v�o, tivemos a impress�o

de estar presenciando as �ltimas
horas de exist�ncia daquele lugar,

e de estar filmando as �ltimas
imagens que se fariam daquela cidade.

No mar encontramos serpentes
afogadas em toda parte.

� noite vinham aos montes
pela selva da montanha.

e chegavam ao mar, onde se afogavam.

O sil�ncio e abandono
da cidade eram tais,

que nos despertou a curiosidade
e nos umpulsionou a ir ver

a origem de todos estes acontecimentos,
quer dizer, a cr�tera do vulc�o.

Ao longo de todo o caminho,
encontramos cartazes de aviso.

O maior perigo eram os gases venenosos.

Aquele dia, as barreiras
militares a 40 km de dist�ncia

ficaram dif�ceis de passar
sem uma permiss�o especial.

Evitamos os bloqueios
atravessando o pa�s de carro.

O caminho terminava a
1300 metros de altura.

O vulc�o por si s�, tem
uns 1500 metros de altura.

Logo, pela primeira vez, sentimos medo.

De repente uma nuvem de g�s t�xico

descendo por um lado da montanha,

e tudo que pod�amos fazer era
voltar parte do caminho e esperar.

Logo, ap�s algumas
horas, a situa��o melhorou

porque o vento mudou de
dire��o. Decidimos continuar.

Seguimos os cabos el�tricos que
levam at� os sism�grafos dos ge�logos.

Estavam instalados diretamente
na borda da crat�ra.

O terreno estava quente e inseguro.

L� em cima haviam grutas que
exalavam vapores sulf�ricos.

Conseguimos nos aproximar
da borda e tirar fotos.

A montanha estava
separada por 100 metros.

Filmamos calmamente por horas,

mas ao voltar o cinegrafista
Ed Lachman esqueceu suas lentes.

Decidimos voltar no dia
seguinte para pega-las,

se a montanha ainda estivesse ali.

A consci�ncia do perigo era
muito forte em Guadalupe,

pois em 1902 havia ocorrido uma
cat�strofe em Martinica, a ilha vizinha.

Esta � uma foto da cidade
de Saint-Pierre na Martinica.

Foi tirada em 1901.
Haviam 32.000 habitantes.

A cidade era o centro
administrativo e cultural da ilha.

Incluindo um hip�dromo
e um teatro de �pera.

Assim como Basse-Terre, a cidade
estava situada pr�xima de um vulc�o.

El Pel�e.

Os sinais do vulc�o foram
id�nticos aos do La Soufri�re.

A popula��o queria fugir,
mas como haviam elei��es

j� suspendidas anteriormente
por outros motivos,

o governador local convenceu
as pessoas a ficarem.

S� algumas centenas abandonaram
a cidade. As demais ficaram.

Esta � uma foto tirada em 6 de maio
de 1902, dois dias antes da cat�strofe.

E esta � a �ltima foto
tirada antes da cat�strofe.

As pessoas se alarmaram.

Alguns se reuniram na praia
pensando que ainda podiam escapar.

Ent�o, no dia seguinte, isto.

� uma foto de verdade, n�o uma pintura.

Na �gua boia uma vaca morta
e no fundo � direita...

pode-se ver o barco canadense
Roreima, semi-afundado.

Atracou para resgatar os fugitivos.

Afundou com toda a
tripula��o, ningu�m sobreviveu.

Da cidade sobrou apenas
pedra sobre pedra.

S� sil�ncio.

As equipes de socorro horrorizadas
n�o encontraram nenhum sobrevivente.

As pessoas queimaram feito carv�o.

Num total de 30.000 mortos.

O que aconteceu?

N�o foi uma erup��o de lava normal.

A montanha explodiu numa
nuvem de g�s incandescente.

Como uma chama. Tudo
durou alguns segundos.

Spaghetti carbonizado num prato...

e aqui p�o, petrificado e preto.

Se encontrou um sobrevivente, s� um.

Se tratava do jovem ladr�o
Cyparis, que estava na pris�o.

O interessante � que s� sobreviveu...

por ser o cara mais mau da cidade.

haviam mais uns 60 ou 70 prisioneiros,

mas ele era o �nico com
um comportamento t�o ruim

que com frequ�ncia
brigava com os guardas.

Como castigo o puseram na solit�ria.

Quando foi golpeado pelo calor do solo

e teve graves queimaduras nas costas.

Mais tarde, foi exibido como
atra��o de um circo americano.

e viveu at� 1956.

Aqui uma foto de Cyparis no hospital

onde ele sofreu por muitas semanas.

As horas passaram e a espera come�ou.

O sil�ncio foi aumentando...

e o vulc�o La Soufri�re
se cobriu de nuvens.

N�o sab�amos

se a cat�strofe iria ocorrer
em um minuto ou no dia seguinte.

Como n�o se via nada, o
medo tomou car�ter an�nimo.

Aquele dia encontramos o homem que
se recusou a ir embora e outros dois.

Tivemos de acord�-lo.

Que h�?

Voc� se recusou a
abandonar a cidade, n�o foi?

Sim, estou aqui como Deus
manda. Esperando minha morte.

Tampouco saberia para onde
ir. N�o tenho nada, sou pobre.

- Espera sua morte?
- Sim. Ningu�m sabe quando chega.

Quando Deus quer.

N�o chama s� a mim, chama-nos todos.

Como a vida, a morte tamb�m
� eterna. N�o temo nada.

Sim, porque � o desejo de Deus.
Ningu�m sabe a hora de sua morte.

- Est� com medo?
- N�o, nem um pouco.

Por que n�o?

Deus chama a todos,
n�o s� um, n�o s� eu.

Isto est� guardado.

Por que n�o quer fugir?

Pra onde quer que eu v�?

A morte sempre te espera, �
eterna. n�o tenho medo de morrer.

N�o tem medo?

N�o, n�o h� nada a fazer.

Me fale do vulc�o La Soufri�re.

�, o vulc�o... sempre
est� l�, sobre n�s.

Mas a situa��o � muito perigosa, n�o?

Sim, obviamente � perigosa...

Mas vou ficar aqui. Que diferen�a faz?

Mas � perigoso ficar aqui.
� como estar sobre uma bomba.

Sim, mas estamos aqui como Deus manda...

Sim, como Deus quer, e
n�o tenho medo, de nada.

Por que deveria fugir? Pra
voltar logo? e pra onde eu iria?

Me fale algo sobre sua vida.

Estou feliz comigo mesmo,
pelo que eu tenho por dentro.

N�o possuo nada, absolutamente nada.

E espero minha morte.
V�? Assim a espero.

Tamb�m espero por um ciclone,
que haviam previsto...

mas j� vi muitos ciclones.

Cliclones vem em Agosto ou Setembro,
j� vi alguns na minha �poca.

Voc� ainda � jovem,
ainda n�o passou por um.

Que tenho a perder?

N�o temo a morte.

Estou aqui, sempre
cuidando dos animais.

Deixaram o gado aqui e
eu cuido deles. Os salvo.

E se piorar muito,
talvez eu os mate hoje.

Queria ver meus filhos que
est�o em Pointe-�-Pitre.

Mas n�o tenho medo de morrer.
Todos tem que morrer um dia.

Tenho 55 anos e n�o tenho mais medo.

Todos vamos morrer
um dia, simples assim.

Tenho 15 filhos.

Um, dois, tr�s, 15 filhos.

Foram para Pointe-�-Pitre,
eu os mandei pra l�.

Mas onde fica o La Soufri�re? onde
fica o vulc�o? pode me mostrar?

N�o podemos v�-lo.

Sim, est� l� atr�s, acima.

Explique-me a situa��o.

Mas n�o sou um especialista,
n�o tenho instrumentos.

Estou s�. N�o h� nada mais.

Vai mal por aqui.

- Tem medo?
- N�o, n�o tenho medo.

- Por que n�o?
- Por que deveria?

Temos que morrer um
dia, e agora estou aqui.

Estou aqui e sou pobre.
S� tenho a mim pra cuidar.

Tamb�m poderia partir.
Todos fugiram.

N�o tenho medo. De nada.

Tamb�m pode me levar pra
Pointe-�-Pitre com voc�, se quiser.

Mas tamb�m posso ir at� o La Soufri�re.

Posso ir pra minha casa por aqui...

Mas se me levar pra Pointe-�-Pitre
com voc�, eu vou junto.

O vulc�o n�o explodiu. Os dias passaram.

Os sinais de cat�strofe
foram diminuindo.

Ap�s v�rias semanas, as pessoas
voltaram �s vilas e � cidade.

A erup��o que falhou
permanecer� como um enigma...

pois nunca na hist�ria da vulcanologia

houve sinais dessa magnitude

e que logo n�o deram em nada.

Provavelmente o vulc�o
cair� logo no esquecimento.

Em minha mem�ria n�o
� o vulc�o que fica.

Mas acreditar nas condi��es de pobreza

que os negros vivem na ilha.

Para n�s, rodar este filme
adquiriu um car�ter pat�tico.

E assim tudo termina em nada,
de fato, num rid�culo total.

Agora ser� um document�rio de
uma cat�strofe inevit�vel...

que nunca ocorreu.