All language subtitles for Murder at the Cottage S01 E03 - Episode 3.WEBRip.pt

POLÍCIA

É tão difícil resumir isto
de forma simples,

mas, como todos sabem,

há 20 e tal anos,
houve um homicídio em West Cork.

Na altura, era jornalista,
jornalista freelance,

e acabara de escrever sobre o crime.

Em poucas semanas,

fui falsamente identificado
pelos guardas como suspeito.

Isso começou há cerca de 20 anos.

E, ao longo desse período,

fiz tudo o que pude
para reclamar a minha inocência,

porque sei que não tenho nada
que ver com isto.

Sei que a falsa narrativa
de que eu tive algo a ver com isso

é um mito.

Não posso provar isso, eu sei disso,

é difícil, a diferença entre
saber algo e conseguir prová-lo.

Fiquei numa situação

em que fui acusado do homicídio
em França.

Não podia sair do estado.

Estava sujeito a dois mandados
de detenção europeus.

E não sabia
como a situação se iria desenrolar.

Só sabia que ia ser horrível.

Isto é tudo vegetais no verão,

por isso, temos sempre algo
para colher e comer.

Brócolos roxos!

É por isso que não tenho
unhas nos polegares.

É delicioso, garanto-vos.

E são ótimos salteados.

É uma tragédia, temos uma situação
em que uma mulher é assassinada

e depois temos este encobrimento.

Os franceses recebem a garantia
em 1997.

"Não se preocupem,
sabemos quem matou a vossa filha.

É um canalha inglês
chamado Ian Bailey.

O único problema é que

não temos provas suficientes
contra ele.

Mas não se preocupem,
vamos resolver isto."

ORGULHO IRLANDÊS
"PAT THE BAKER"

Ótimo.

Pronto, o que temos?

Pormenores das testemunhas.

Não quero rever isto tudo,
mas isto foi logo no início.

Estas são as primeiras manchetes
dos jornal.

Terça-feira, 11 de fevereiro.

Foi no dia a seguir
à primeira detenção.

"Suspeito de homicídio
libertado pela Polícia."

16 de Fevereiro de 1997.

Esta é uma fotografia minha.
Este era eu, na altura.

JORNALISTA DE CRIME
TORNA-SE SUSPEITO PRINCIPAL

Caramba.

Conheci o Ian no dia em que o corpo
da Sophie foi encontrado.

Chamaram-me, trabalhava
como fotógrafo de imprensa.

A cerca de 250 metros,
vira-se à direita.

Fui buscá-lo a casa e ele disse-me
o caminho para a casa da Sophie.

Quando foi o primeiro dia

que soube que a Polícia
investigava o Bailey?

No início de janeiro,

ligaram-me e perguntaram
se podiam falar comigo.

Estavam sempre a perguntar-me
se tinha notado algo no Ian.

Se reparei em cicatrizes nas mãos,
na cara, ou em marcas.

Respondi que não tinha visto nada.

Mas percebi logo
que andavam de olho nele.

Se bem me lembro, foi preso pela
primeira vez numa segunda-feira.

Uma jornalista ligou-me
e disse que ele ia preso naquele dia.

Disse que os guardas
estavam em casa dele.

Isto foi pelas 8h da manhã.

Foi-me dito por uma jornalista,
mas penso

que foram os guardas a dizer-lhe.

- Foste por aqui?
- Entrei por aqui.

Naquela altura,
podíamos entrar livremente,

ir para as traseiras do edifício
e atravessar o parque.

Antes das 11h da manhã,

o Superintendente Noel Smith,
responsável pelo caso,

anunciou que o homem detido
seria libertado sem acusação.

Está desiludido?

Parece mais desiludido do que eu.

Pensaram que eu vinha
a segurar uma cabeça.

Esta semana, um jornalista,
Eoin Bailey,

foi detido e interrogado durante
12 horas sobre o homicídio,

e num desenvolvimento invulgar
para a Irlanda,

foi identificado em vários jornais
como tendo sido...

Quando chegou aos jornais,

todos ficaram a saber quem a Polícia
acreditava ter cometido o crime.

Todos em Schull tinham uma opinião,

ou apoiavam o Bailey
ou estavam contra ele.

O telefone não parou de tocar.
O local estava cheio de jornalistas.

Tivemos as cortinas da casa corridas
durante um mês após a detenção.

Escuridão completa em casa.

Arranjei um advogado,
um homem chamado Con Murphy,

ele apareceu e disse:
"Não digas nada, fica quieto."

O pequeno caminho
onde Eoin Bailey vive

está bloqueado por carros da imprensa
que quer falar com ele.

O meu instinto diz se não tive nada
a ver com o que fui acusado,

não vou ficar calado.

A Polícia diz que não divulgou
o meu nome, mas quem divulgou?

Estás a dizer que não mataste
a Sophie Du Plantier,

nem estiveste envolvido.
- Estou a dizer que não a matei.

Não tinha conhecimento da sua morte
e estou inocente.

EU NÃO MATEI A SOPHIE

Depois da primeira detenção,
foi um inferno.

Foi terrível, chocante.

Engraçado,
cria uma bola de medo.

O medo sente-se nas entranhas.

Tinha 39 anos quando isto começou.
Agora tenho 62. Perdi muito cabelo.

Muitos dos meus dentes não são
meus, também prenderam a Jules.

Como se lida com uma situação dessas?

O Ian Bailey convidou-me para
a sua casa, na sua cozinha quente,

enquanto a Jules Thomas fazia chá
e oferecia scones.

Uma situação extraordinária.

O Ian era uma pessoa
que desejava publicidade.

Não sou violento,
sou uma pessoa pacífica.

Não sou nenhum assassino.

Ele não podia ser normal.

Ele sempre adorou a atenção e quanto
mais aparecia no jornal, mais queria.

Mas acho que, sempre
que ele dava uma entrevista,

só vinha reforçar a sua associação

a toda a investigação.

Com toda esta publicidade,

pode ficar em West Cork?
Quer ficar em West Cork?

Quero ficar em West Cork
e penso que ficarei.

Mas a nuvem que paira sobre
o seu nome não desaparecerá

até alguém ser acusado e condenado

pelo homicídio
de Sophie Toscan Du Plantier.

Correto.

É um grande problema
com que tenho de viver.

Quando falamos da minha mãe,
é sempre sobre a morte dela.

A verdadeira história
da minha mãe

não é a hora em que foi morta,
mas 40 anos antes

e toda a vida
que ficou para trás.

PIERRE LOUIS BAUDEY-VIGNAUD
FILHO DE SOPHIE

Pierre Louis é filho de Sophie,
do seu primeiro casamento.

O único filho tinha apenas 15 anos
quando ela foi assassinada.

Durante a infância, passou momentos
mágicos com a mãe, em Toormore.

Após a morte dela, o Pierre Louis
decidiu ficar com a casa

e ainda vai para lá todos os anos.

Continua a ser uma ligação tangível
à mãe.

Isto é um pedaço do mapa que ela usou
quando escolheu a casa,

em 1990,
e ela tinha visitado várias casas.

Sempre que via uma,
marcava-a no mapa a vermelho,

se a casa fosse interessante.

Selecionou duas,
uma em Connemara e esta.

Na altura, esta sala não tinha sofás.

Tinha um tapete e três poltronas.
Mais nada. Só isso.

O princípio, já quando eu era
criança, era sentar-me na sala a ler

e não fazer mais nada, por isso,
houve uma grande procura de...

... não diria meditação,
mas o conforto não era prioridade.

Estávamos lá para...

... para desfrutar do silêncio

e da salamandra
que ardia lá ao fundo.

Deixem-me mostrar-vos
uma coisa.

Para verem até que ponto
a minha mãe era pouco vaidosa,

esta era a única fotografia dela
que existia em casa.

Com o passar dos anos,
desapareceu completamente.

É uma foto dela de quando
foi à Índia, em Sarasota.

Veem-se aqui uns pés,
ela estava de pé.

Este casaco era da minha mãe.

Foi o casaco que ela usou aqui
e colocou-o ali há 25 anos

e aqui ficou desde então.

É uma história. Não está nas paredes,
está pendurada na porta.

Era este o chá que ela bebia

e não lhe mexi.

Deve estar...

Deve estar bolorento,
mas o mais importante é o cheiro.

A casa é uma ligação a ela,
para explicar quem ela era, para mim.

Não vivo o horror que aconteceu aqui,

não só porque não penso nisso,

mas porque, inconscientemente,
o meu cérebro compartimentou

o drama e o horror.

Aqui houve gritos,
sangue nas paredes,

mas a minha alma está ligada

àquilo que aqui vivi antes, como vivo
hoje e como viverei amanhã.

Tudo o que aconteceu na altura
que a minha mãe foi morta

é algo que vejo à distância.

Gosto muito desta foto,
fica bem aqui.

Não tenho muitas fotos nossas,
só uma,

mas a cozinha é um bom sítio
para estarmos juntos.

Ainda sentimos tristeza pela tragédia
que aconteceu em Goleen.

Os vizinhos estavam ansiosos.

Deixa toda a gente pouco à vontade.

Durante a investigação,

a Polícia prendeu pessoas
e entrevistou centenas.

Apesar disso, o responsável
pela morte da Sra. Plantier

e a paz e tranquilidade de Cork
ainda não foram encontrados.

Andava tudo apavorado,
as mulheres andavam apavoradas.

Depois começou a haver relatos,
como o filho do meu vizinho

a quem o Bailey disse no carro
que tinha cometido o homicídio.

4 DE FEVEREIRO DE 1997

Ele tinha 14 anos. Uma quarta-feira,
uns meses após a morte da Sophie.

O Malachi viu o Sr. Bailey na cidade

e apanhou boleia com ele,
o que era normal por aqui.

Disse que entrou no carro

e o Sr. Bailey estava a comportar-se
de forma agitada.

Ele voltou-se e disse-lhe

que lhe tinha esmagado os miolos,

disse "raio dos miolos".

O Malachi ficou muito aflito
nessa altura.

Não percebeu
se estava a dizer a verdade

ou se estava a agir de forma
tresloucada.

Na Irlanda,
há 4,5 milhões de habitantes.

Porque é que um tipo admitiu
ter sido ele a cometer o crime?

A Polícia focou-se no Bailey
muito rapidamente após o crime.

Sim, mas nenhum outro homem
da área passou despercebido.

Mas, pelo que consegui perceber,

a Polícia irlandesa não pôde
interrogar ninguém em França.

Não.

Quando atravessaram França

e, por cortesia,
foram à esquadra local,

disseram-lhes para esperarem.

Um agente veio perguntar
do que se tratava.

Eles disseram-lhe
e ele disse-lhes logo

que não deviam investigar
e questionar cidadãos franceses

e que deviam regressar ao aeroporto
e à Irlanda.

É o sistema francês.
É assim que funciona.

As provas teriam de ir para lá
e depois os franceses assumiam.

O facto de ele conhecer
a cena do crime,

sabia que a área seria difícil,

saber o que lá estava,
foi como entendi.

Concordo, a menos que tenha sido
um homicídio encomendado.

Só digo que, se vais por um caminho,
não podemos ir pelo outro.

Não adiantava investigar em França.

A Polícia sabia que todos
os contactos deixam vestígios.

Por isso, enviaram os testes forenses
com grandes expectativas.

O que veio seria muito invulgar.

Havia tão pouco ADN nas silvas

que não era possível
produzir provas.

Nenhum ADN de Bailey
foi encontrado nas unhas da Sophie.

A amostra de cabelo de Bailey
não correspondia,

pois o cabelo nas mãos
de Sophie acabou por ser dela.

O sangue na porta era de Sophie.

O portão foi tirado, porque havia
sangue no topo do portão.

Era sangue de Sophie?

Era só sangue da Sophie, mais nada.

Não havia provas
de agressão assexual.

Ele deixaria impressões digitais,
certo?

Podem ser limpas facilmente,
se esfregar desaparecem.

Mas ideia da Polícia era um ataque
frenético de um sociopata

e depois já parecia
um criminoso experiente

que limpa o local.

- Não combinam.
- Pois não.

E é improvável.

O bloco com sangue.

Não tinha
impressões digitais?

Não, porque a superfície do tijolo

não agarra impressões digitais.

Esta pessoa teve muita sorte.

Absolutamente,
sem qualquer dúvida.

Sem dúvida.

Devia haver mais provas,

pois a teoria da ciência forense é
que todo o contacto deixa vestígio.

Não. Temos de encontrar
esses vestígios.

Não há qualquer prova

que possa incriminar o Ian Bailey.

E o Bailey, sem que lhe fosse
exigido,

deu amostras, ele não escondeu nada.

Depoimento de Brian Jackson,
a 7 de Fevereiro de 1997.

"Lembro-me que, por volta do Natal,

cheirou-me a queimado
e ouvi um crepitar.

Cheirava a uma queimada
de mato e restolho.

Achei invulgar o Ian estar a limpar
o jardim naquela altura do ano

ou em qualquer altura do ano."

Fizemos uma fogueira

para limpar a casa,
pois tinha lá estado gente

que não levara a tralha toda.

Um colchão velho e essas coisas.
Fizemos a fogueira nas traseiras.

Mas isso foi em novembro
ou até outubro.

Dizem que o incêndio no estúdio
foi na época do Natal.

Acho que isso foram os guardas
que disseram.

Investiguei a fogueira
relatada por habitantes locais

e encontrámos nos restos queimados

mobília, mobiliário de cama,
roupa de cama.

Ele usava um sobretudo preto.

Não encontrámos o casaco preto,
foi queimado.

Por esse motivo,

é compreensível
que ele não tivesse sangue.

Não encontraram ADN
em nenhum dos seus pertences.

O que aconteceu
ao sobretudo preto do Ian?

Levaram-no, a Polícia levou-o,
deve ter sido cortado aos bocados

e foi analisado para sangue.

Detetive Pat Joy.

"A 10 de fevereiro de 1997,

fui a uma casa conhecida
como Studio House Schull,

lá, num quarto junto à cozinha,

encontrei um sobretudo preto no sofá.

Coloquei-o num saco de papel
castanho, que fechei e marquei PJ24."

Sim, a sério.

Foi o que aconteceu ao casaco dele.

Um dia, talvez façam
uma colcha de retalhos.

Pois.

Talvez tenha sido outro casaco preto
a arder na fogueira.

Pronto Não! Fora!

Eu sei o que estás a fazer.
Fora, fora, fora!

Vá lá. Não é linda?
É uma Bluebell.

Tive algum sucesso
como jornalista noutra vida

e não me estava a sair mal aqui.

Eu escrevi isto tudo.

A data do Daily Star e tudo,
na primeira página.

Como jornalista freelancer,
somos uma caneta para alugar.

A brincar, refiro-me a um jornalista
freelance como "presstitutos".

Mas cheguei a um ponto
com 28, 29 anos,

em que me deparei com o vazio
total do jornalismo e dos danos,

porque temos uma posição poderosa.

Parte do que fazia,

formei-me
como estenógrafo judicial...

Comecei a interessar-me pelo budismo
e decidi mandar tudo ao ar.

Já não aguentava mais.

Ganhava a vida a escrever

sobre as desgraças dos outros.

Não aguentava mais.

Foi na altura em que vim
para a Irlanda, tinha 38 anos.

A Polícia disse que sabia
muito do caso.

Sabia demasiado.

Temos fontes como jornalista

e estava a lançar
os principais artigos.

Porquê? Estava cá,
os franceses a chegar,

tinha ligações com eles,
e era o único a fazê-lo.

Era um grande furo
e estava a cobri-lo.

Depois comecei a ouvir rumores,
as pessoas e jornalistas diziam-me,

que andavam a dizer que
tinha sido eu que a matara.

Eu disse que sim, claro que sim.
Precisava de uma história.

É ironia, estou a ser sarcástico,
não é uma confissão.

Na maioria dos casos,
a Polícia investiga

e passa o caso ao Ministério Público.

É uma questão constitucional

para que os guardas
não possam acusar ninguém

de delito grave, a não ser que
autorizado pelo Ministério Público.

Os agentes deste país são muito bons.

São muito competentes
e já tinham trabalhado imenso.

Imenso trabalho.

Pensaram que tinham reunido
provas suficientes...

Na ponte Kealfeadda,
vi o homem na estrada...

... para convencer o Ministério
a apresentar queixa.

O Ministério Público
tinha outra opinião.

Do ponto de vista deles,

não tinham provas científicas nem
forenses que ligassem o Ian Bailey.

O motivo de Bailey se ter levantado
para escrever um artigo

na noite do crime
revelou-se plausível.

Como era o único jornalista local,
foi o primeiro no local do crime.

Disse que foi logo
ter a casa de Sophie,

porque foi informado
de que o falecido era francês.

O Ministério Público
aceitou a explicação.

Enviamos documentação
para o Ministério Público assim.

Dissemos que o Ian Bailey admitira
ter cometido o homicídio.

Na semana seguinte,
afinal já não é nada,

era só humor negro,
e isto e aquilo.

É muito frustrante
ouvir aquilo.

Ignoraram-nos,
o nosso Ministério Público,

desconsiderou o facto de ter
as mãos arranhadas no dia seguinte.

Disse que estava a cortar
uma árvore de Natal

e daí vieram os arranhões.

Sim, estava com o Ian.

Para quê comprar
uma árvore

quando se tem uma árvore
no jardim com três metros de altura?

Houve agentes a subir às árvores

e tudo para ver,
se tínhamos cortado alguma

em anos anteriores.

Detetive Pat Joy.
"A 19 de fevereiro de 1997,

o agente Bart O'Leary
indicou-me um abeto de Sitka

perto do estúdio em Lissacaha.

O topo tinha sido cortado da árvore,
fotografei-o,

o agente Kevin Kelleher,
também presente, subiu a árvore.

Quando desceu,
fotografei as mãos dele."

Não tinha uma única marca.

Vários agentes tinham visto arranhões
nas mãos e na cara de Ian,

mas nunca tiraram fotos.

Em vez disso, fizeram esboços.

Este é o registo oficial
dos infames arranhões.

Havia outra referência visual
das mãos de Ian

gravada no mergulho de Natal,

no dia em que
Ian declamou um poema

e a mulher que filmou
fez a seguinte declaração.

"Quando acabou de recitar,

parei de gravar
e desejei-lhe um feliz Natal

e estiquei a mão direita
para o cumprimentar.

Tinha as mãos nos bolsos

e cumprimentou-se
com a mão direita."

A Polícia questionou-a,

pois a mão direita de Ian
não está no bolso

e tem a mão esquerda
segura uma câmara.

"As costas da mão estavam
cobertas de arranhões visíveis."

Aqui estão as mãos dele.

É difícil dizer,
se ele tinha arranhões,

mas os agentes disseram
que tinha arranhões nos braços.

Se ele tivesse o sobretudo vestido
na ponte Kealfeadda,

temos de acreditar que o tirou
para a matar e voltou a pô-lo.

Talvez o Ian Bailey tivesse
conhecimento forense.

Talvez tenha tirado o casaco
antes de atirar o bloco

para evitar os salpicos de sangue.

A memória desvanece-se
e acho questionável

que esta declaração tenha sido
tomada pela Polícia dez anos depois.

Depoimento efetuado
a 4 de Maio de 2006.

INSPETOR PATRICK FINLAY
SARGENTO DENIS TREACY

Todas as provas sobre arranhões
eram muito especulativas.

Num julgamento com júri,
especialmente por homicídio,

é muito provável que um juiz diga:

"Não permito estas provas,
são danosas."

Só pode acusar
se acreditar que há provas

para apoiar a Procuradoria.

27 DE JANEIRO DE 1998

A minha segunda detenção, um ano
depois, no meu aniversário,

fingiram não saber
que era o aniversário.

Disse: "Têm a minha data
de nascimento nos formulários!

Sabem que faço anos."

"Então, parabéns."
"Vão-se lixar."

Não foram tão hostis
como os primeiros que me prenderam,

mas não gostei muito de os ver.

A segunda detenção foi em janeiro
de 1998, não foi apresentada queixa.

Acha que, um dia,
o assassino será descoberto?

Sabemos quem é,
o problema é a detenção.

Tenho a certeza.

Entretanto, em França,
o segundo marido de Sophie, Daniel,

lutava para manter a pressão.

Mas mesmo com a ajuda do Presidente
francês e amigo, Jacques Chirac,

não conseguiu que Bailey
fosse acusado de homicídio.

Ano e meio depois da morte da Sophie,

Daniel casou pela quarta vez.

No mesmo fim de semana, a família
de Sophie erigiu a cruz em Toormore.

A sua nova esposa, Melita,
teria compreendido a sua dor,

ela própria tinha sofrido o trauma
de um homicídio,

o da mãe, que como o homicídio
de Sophie continua por resolver.

Apesar das suas críticas aos guardas,

Daniel viajou até Cork em 2000
para se encontrar com eles.

Disse que nunca mais lá regressaria.

Fui ao escritório
de um amigo advogado

e lá disseram-me o que sabiam,
sabiam tudo.

O Inspetor Dwyer recebeu-os.

Obrigado, senhores.

Não há testemunhas do homicídio,
mas há um conjunto de provas.

Em França, teria sido julgado
e condenado, o mesmo caso.

Hoje, passou aqui uma senhora
que me deixou esta caixa.

Perguntei-lhe o nome.

Ela disse que a vinha buscar depois.

Disse que era Pandora,
Sra. Pandora.

Disse-me para ter cuidado
se a abrisse.

Mas saísse o que saísse,
no fundo da mesma caixa,

haveria um pouco de esperança.

E é isso que procuro.

Este é o departamento dos ovos.

Pronto.

Bom dia, boa gente!

Não nos antecipámos
sempre vivemos o presente

e é o mais saudável.

O Ian escreve e eu pinto.

Foi o que sempre fizemos.

Durante os primeiros anos,
não vimos muitas pessoas.

Locais, as pessoas afastaram-se
muito de nós.

Era 50-50.

Metade das pessoas acreditava
que não tínhamos feito nada

e a outra metade acreditava que sim.

Foi muito estranho.

É bom vê-lo,
se quiser conselhos sobre galinhas,

venha ter connosco,
porque somos pessoas de galinhas.

Adeus, tudo de bom!

As pessoas vêm ter comigo
e desejo-lhes o melhor.

Dá-me uma espécie de... ânimo.

Fico muito grato
e comove-me muitas vezes.

É isto. Obrigaram-me a ser
um vendedor de porta a porta,

a fazer pela vida.

É o pôr do sol na Baía de Dunmanus,

pintura a óleo, moldura de madeira.
Podemos negociar.

Conheci-o quase há 30 anos.

Criei três filhas lindas,
acham que devia ter deixado o Ian.

É a opinião sincera delas.

Porquê?

Porque denigre-me estar ligada a ele.

Levei uns quadros
a uma galeria nova em Clonakillty.

Ele ia ficar com alguns
quando fui lá

e eu disse-lhe que voltava
dentro de numa semana.

O Ian levou-os e ele disse:

"Não os quero." Sem mais.
"Não quero ter nada a ver consigo."

Existe essa discriminação.

Reunimos isto numa pasta,

todo o correio de ódio que o Ian
Bailey recebeu na casa dele.

"Um novo lar."

"Sai daqui.
'Espero que sejas feliz.'"

"Para o Ian Bailey,
o agressor de mulheres,

e Jules, a bruxa de cara enrugada,
apodreçam no inferno."

Agora é o Ian e a Jules.

A bruxa de cara enrugada,
como se ela estivesse envolvida.

"Jules Thomas,
a bruxa do bairro de Schull."

Isto é uma carta da Polícia
sobre ameaças por telefone.

"Um dia destes,
faço-te uma visitinha."

Uma seringa no correio.

O que é isto?
Sim, parecem cartuchos.

Ele parece não acreditar
que alguém esteja contra ele.

É uma espécie
de dislexia emocional,

que não sabe ler ou não quer ler,
mas é complexo.

Mil flechas dispararam
E não mataram o espírito

Mil flechas dispararam
E não mataram o poeta

Depois é a parte declamada
do poema,

e uso o tambor no final.

Mil flechas dispararam contra mim

E não mataram o espírito

Mil flechas dispararam contra mim
E não apagaram a chama

Mil flechas dispararam contra mim
E não mataram o poeta

Vim para a Irlanda para ajudar
um primo e nunca mais saí.

Schull era um local descontraído.

Era um bom lugar para se estar.

Muita música tradicional.

Boa gente.

Sabe onde estava quando ouviu falar
do homicídio de Sophie?

Estava num autocarro

a vir de Ballinascarthy,
no autocarro nacional.

Ouvi a notícia pela rádio,
disseram que...

Tinham encontrado o corpo de uma
mulher num caminho, em West Cork.

O meu medo era que tivesse
sido a Jules.

- Pensou que a tinham assassinado?
- Sim.

Foi seis meses antes do homicídio.

Era cedo e bateram à porta.

Era a Virginia, a filha da Jules

com um médico a perguntar
se podia levar a Jules ao hospital.

Quando entrei pela porta,

ouvi uma espécie de animal.

É a única explicação possível,
sons de animais.

Tinha um olho completamente inchado
e altos na cabeça.

Hematomas na cara.

As pessoas que estavam em dúvida
começaram a considerá-lo.

Ele bateu numa mulher.

FOTÓGRAFO DE IMPRENSA

Talvez tenha ido longe demais,
desta vez.

Jules, receio ter de lhe perguntar
sobre a violência.

Bem, ele estava sempre a beber.

Estava bem quando não bebia e isso
traz ao de cima o pior das pessoas.

Bebem demasiado,
sobretudo bebidas brancas.

Imagine como o Ian se irritava
com bebidas brancas.

Não, já esqueci isso.

Curei-me de pensar nisso,
por isso, não penso.

Para quê continuar a matutar nisto
se só me fazia sofrer?

Não é violento desde então,

apesar de se debater muito,
ele nunca me tocou.

Ficou com imensos remorsos depois.

Não é bom.

Só tem de beber menos
e controlar-se mais.

Há uma pessoa boa dentro dele.

Ambos bebíamos demasiado.

É aquele tipo de pessoa impulsiva
que age por capricho?

É irrefletido,
nem sequer é um capricho.

É como um impulso,
como uma criança

a fazer birra, percebe?

Não acho que seja preconcebido.

O meu comportamento foi muito mau.

As fotos da Jules,

ficarão ligadas à Sophie Du Plantier
para sempre

e é muito difícil de ultrapassar.

Para minha grande vergonha, magoei-a.

Acho que em duas ou três ocasiões,

o álcool foi grande responsável.

É a minha vergonha eterna.

Mas eu não tive nada a ver
com este crime.

Jules, importa-se que pergunte
se tem medo do Ian?

Não.

Não, não tenho medo dele.

Muitas vezes, fico furiosa com ele,
mas não tenho medo.

Bailey diz que a cobertura
após a primeira detenção

foi o início
da sua demonização.

O advogado disse que o Sr. Bailey
foi julgado pela imprensa.

Em 2003, para tentar limpar o nome,
Ian Bailey processou oito jornais.

A defesa dos jornais foi

que não disseram
que matou a Sophie,

mas que a Polícia
o tratou como suspeito

e que tinham o direito
de informar isso.

O Bailey processou o jornal

por o terem impedido de trabalhar,
arruinando-lhe a vida.

Teriam de provar
que ele era capaz de matar.

Os agentes ajudaram
e tenho a certeza disto,

ajudaram os jornais

e foi quase como se o levassem
a julgamento.

O juiz do julgamento por difamação
disse, por várias vezes,

que não era
um julgamento de homicídio.

Intimadas mais
de 70 testemunhas relutantes,

mas menos de metade depôs.

A defesa dos jornais mostrou provas

de um homem que, em várias ocasiões,
admitiu ter matado Sophie.

A prova mais convincente foi dada
por Richie e a Rosie Shelley.

Estavam a celebrar
a passagem de ano de 1998.

Conheceram a Jules Thomas
e o Ian Bailey

e foram convidados para a Prairie.

Depoimento de Richie Shelley.
2 de julho de 1999.

"O Ian foi para a cozinha,
a chorar e ficou muito emocionado.

Achei estranho ver um homem
daquele tamanho a chorar.

Enquanto chorava, dizia: 'Fui eu.'
Repetiu esta afirmação

umas quatro ou cinco vezes.

Cada vez que dizia que o tinha feito,
eu perguntava-lhe: 'Fizeste o quê?'

Ele nunca me respondeu.

Quando insisti com a pergunta,
ele disse: 'Fui longe de mais.

Fui longe demais.'"

Era evidente que não
havia ali conflito de interesses.

Um adolescente local afirma
que, do nada, ele lhe disse:

Uma noite, fui lá com uma pedra
e esmaguei-lhe o raio dos miolos.

Aquela parte podia ser chamada
de Estado contra Bailey.

Ele confessou a 11 pessoas.

Porque iam inventar?

Cada uma dessas confissões era
sustentada por testemunhas credíveis.

Ian Bailey nega
ter conhecido a Sophie.

Contudo, Alfie Lyons,
vizinho dela, disse ao tribunal,

que tinha 90 por cento de certeza
que os tinha apresentado.

Ele estava aqui a jardinar.

Disse-lhe: "A Sophie está em casa."

Depois, ela veio ter comigo
e apresentei-a ao Bailey.

Eu disse: "Este é o Ian Bailey.

Ele tem feito algum trabalho
de jardinagem para mim."

Ele aproximou-se,
apertou-lhe a mão e foi isso.

Quando se tornou importante,

depois de a Sophie ser assassinada,

quando me perguntavam
sobre isso,

eu... conseguia lembrar-me,

e, no entanto,
a memória é tão elusiva,

que não podemos ter certeza

de que as nossas memórias
correspondem à realidade.

Só posso dizer que me lembrava,

e tinha 90 por cento de certeza
de que tinha acontecido.

O Estado opôs-se a que o depoimento
dos agentes da investigação

fossem admitidos como prova.

Mas os jornais queriam
ver o diário do Ian Bailey,

que tinha sido retido pela Polícia

e fora examinado como parte
da investigação geral.

O que continham os diários?

Tudo o que fui escrevendo
ao longo dos anos.

Muita coisa era só gatafunhada,

e eu guardava todos os artigos

e coisas pessoais que ia escrevendo
e ia empolá-las

e pôr num livro chamado: "Lições
de Vida, o Modo Difícil. Parte um."

O advogado disse-lhe que foi assim
que começou a referência aos diários.

Ele disse: "Descrever-se-ia
como um animal, Sr. Bailey?"

O Bailey disse:
"Não me descreveria como um."

E repetiu: "Pergunto outra vez,
descrever-se-ia como um animal?"

Ele disse:
"Não me descreveria como um animal."

E disse: "Estranho.

Porque tenho aqui um diário

onde se descreve como um animal

pelas agressões
que infligiu à sua companheira."

Poder-se-ia ouvir um alfinete cair
depois disso.

Os diários do Bailey foram analisados
pela ciência forense.

Escritos sobre violência,
sobre álcool, abuso de substâncias,

sobre preferências sexuais,
comportamento pessoal.

Uma enorme atenção centrou-se
no historial de violência do Bailey

contra a companheira,
Jules Thomas.

São textos meus.
coisas pessoais

coisas extremamente pessoais,

que analisei e percebi
que andava a beber demais.

Era uísque, basicamente.

Os nossos espíritos
nunca devem beber de mais.

Uma das provas mais interessantes

durante este caso de difamação
aqui na ponte Kealfeadda,

a 1,6 km da casa de Sophie.

Uma comerciante disse
ao tribunal que viu Ian aqui às 3h,

na noite do homicídio da Sophie.

Depoimento de Marie Farrell.

"Agora sei que esse homem,
é Ian Bailey, da Schull."

A Marie Farrell foi a principal
testemunha no caso de difamação.

O testemunho dela foi fundamental,

porque Ian Bailey sempre disse

que não tinha saído de casa
no dia 22 de dezembro.

Eu estava no tribunal
e foi espantoso ouvir

a prova que ela dera.

E foi para o julgamento
por difamação.

Estava em pânico.

Ela disse que foi assediada
por Ian Bailey,

que se sentia sentia ameaçada
por ele.

Ela disse ao tribunal...

Fazia-me gestos
como que a cortar a garganta.

Estava a torturar-me.

A minha vida era um pesadelo,
porque nem podia estar na loja.

Disse que
me andava a assediar

e que ligava para a loja
e me ameaçava

e nada disso aconteceu.

- Alguma vez fez isto?
- Nunca, nunca.

Nunca ameaçou
cortar-lhe a garganta?

Nunca.

O que receberam de si
foi um depoimento a dizer

que o viu à porta da sua loja
e na ponte Kealfeadda.

Passar o Natal sozinha
em West Cork....

O homicídio ocorreu e a Polícia
foi à loja com uma cassete de vídeo

que pediram para eu ver

e dizer se era o homem
que eu tinha visto.

Levei-a à esquadra em Schull
no dia seguinte

e disse: "Não é o homem
que estava à porta da loja."

Eles disseram: "Sabemos que o homem
que está na gravação, o Ian Bailey,

matou aquela mulher e, se não
for travado, vai voltar a matar.

Ninguém o pode colocar fora de casa
naquela noite,

mas se disser que o viu,

basta um depoimento de duas frases
e pronto.

Lembro-me de estar
no banco de testemunhas

e de pensar: "Vou dizer ao juiz
que é tudo mentira e saio daqui."

Mas olhei para o fundo da sala

e estavam lá muitos dos agentes
envolvidos no caso.

Por isso, não disse nada.

Era uma ação civil e, por defeito,
passou a julgamento por homicídio.

O julgamento por difamação foi como
um julgamento de homicídio.

O julgamento por difamação
provocou o incêndio,

e, das cinzas, a ilusão esmorecida
de um julgamento por homicídio

começaria a surgir em França.

Começa a estática...

Hoje, o juiz Patrick Moran decidiu
contra o Ian Bailey nos três pontos.

Os jornais não o identificaram
como assassino

e o juiz Moran não hesitou em
descrevê-lo como um homem violento.

Mas agora somos livres...

Onde existia conflito
em aspetos cruciais das provas,

o juiz Moran acreditou
nas testemunhas a favor dos jornais.

Só um de nós existia...

Não entendo este verso.
Ainda não o consegui compreender.

Ian perdeu a batalha dos jornais,
mas alcançou duas vitórias técnicas.

Conforto no facto de ter
vindo a limpar o seu nome,

mas saiu
com a sua reputação desfeita.

Sr. Bailey, o que pensa
da sua reputação agora?

Há 25 anos, a família de Sophie crê

que há um assassino à solta
na Irlanda.

Encorajados pelas provas vindas a
lume no julgamento por difamação

e o fracasso das autoridades
em acusar Bailey,

decidiram que era altura de eles
próprios resolverem o assunto.

Qual o melhor filme que já viu?

Ana Catarina Moita de Santos Sequeira
Iyuno-SDI Group