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Se llevaron a cabo EVENTOS para ilustrar algunos hechos reales

FRANK WILLIAMS dirige un equipo de Fórmula 1 tiene 48 años

Aún así sentir toda esa emoción, Frank?

Absolutamente.

Me encanta todo de la Fórmula 1, la cosa real.

Su velocidad en las curvas, parece sobrehumana.

Creo que entren en la cabina y sufren una metamorfosis.

Son sumamente rápido,

su control en las curvas es absurdo.

A Equipo Williams F1 ganado siete PILOTOS CAMPEONATO

Nueve campeonatos CONSTRUCTORES

Vamos dentro. Es mucho ruido aquí.

Si usted es piloto de jet ...

es una cosa maravillosa, ¿no?

¿Por qué? ¿Por qué el vuelo supersónico.

Estoy sin habla a pensar que el control de velocidad que los coches.

No en Top Gun que Mav dijo Goose?

"Necesito para la velocidad."

Nunca he olvidado.

-Y siempre lo tiene? ¿Cómo?

¿Alguna vez ha tenido?

Siempre he sido un niño, y siempre me ha gustado la velocidad.

Velocidad me puso en una silla de ruedas.

Como familia, nunca discutimos:

"Vamos a hacer esto o aquello."

O: "mamá necesita terapia, los niños,

Papá necesita terapia para superar ".

Nunca hablamos del accidente de padre de familia, que nunca.

Pero la esposa de Frank, Ginny, estaba hablando con OCULTO

He intentado no entrar en pánico.

Su vida pendía de un hilo.

Pasó seis semanas muriendo todos los días. Es mucho tiempo.

Si no fuera por mi madre,

Creo que Williams no estaría aquí.

Creo que Williams no siempre fue solamente mi padre.

También tiene que ver con ella.

Se puso de pie junto a él en las peores horas. Él salvó su vida.

Recuerdo pensar en él tetrapléjico.

Estaba solo y en un estado lamentable.

A Williams é diferente.
É a última equipe à moda antiga,

com os nomes dos donos na porta…

PILOTO DA WILLIAMS, 1973

…e Williams é a única restante.

Frank raramente dá entrevistas,

e já não é mais tão acessível aos fãs.

Se hoje o vemos
e se for por causa da saúde…

Não o vimos no fim de semana.

Vimos Claire Williams na sexta-feira.

Ela é ótima dando entrevistas
para a TV e tudo.

É interessante ter uma mulher
como diretora da equipe.

CLAIRE, FILHA DO FRANK

PROMOVIDA A VICE-DIRETORA
DA EQUIPE WILLIAMS EM 2013

A MULHER DE MAIOR VISIBILIDADE
NA FÓRMULA 1

Acho que eu me atrevi a sonhar alto,

mas nunca, jamais,
imaginei ser a diretora de tudo.

Em parte, acho que é por ser mulher,

e, imagine,
é impossível eu entender de carros.

E é a paixão do meu pai.

Ele não quer deixar nas mãos de ninguém.

O Marussia, de Will Stevens, dá passagem
a Valtteri Bottas e Max Verstappen,

mas Verstappen está na cola da Williams.

E a Williams?

Em que lugar ela ficará hoje?

Pode ganhar um ponto.

Entre as dez melhores.

-Acha que ainda estão cogitados?
-Não. Este ano, de jeito nenhum.

Jacques, você foi o último piloto
a ganhar um campeonato para a Williams.

EX-PILOTO DA WILLIAMS

Isso é verdade.

-Quando foi?
-Em 1997. Há 20 anos.

Faz muito tempo.

-Muito.
-Tempo demais.

Chega Bottas, tenta outra vez.

Ele desistiu. Nada a fazer.

Temo que a Williams saia de Mônaco
de mãos abanando.

É frustrante. É como bater
a cabeça numa parede de tijolos.

O que temos de fazer?

Eu preciso manter a cabeça erguida.

Quero poder fazer isso,
mas agora não consigo.

Acha que o Frank se sente como você?

Tenho certeza que sim.

Ele confiou em mim. E quero que ele
nunca duvide dessa confiança.

Alguma vez você mesmo duvida?

Agora, não.

Ainda me resta força para lutar.

Claire é uma peça, durona.

Sempre realiza o que se propõe a fazer.

É como a mãe, ela era assim.

Não fazia muito auê, só fazia acontecer.

Adoro esta época do ano,
a chegada do outono.

Plantamos estas árvores desabrochando.

Parecem mortas agora.

Foram estas que plantamos…

no segundo ano da morte dela.

Eu queria algo aqui,
onde vir e trocar ideias.

-Você faz isso?
-Faço, muito.

Pergunto por que não conseguimos arrumar

as porcas das rodas nos nossos pit-stops.

Imploro para ela ajudar o pessoal de P&D

que se empenha tanto.

Certo.

Tenho uma caixa de recortes de jornal

de quando fui vice-diretora da equipe.

Pensei em enquadrar os recortes
para me sentir orgulhosa,

mas vieram parar na edícula.

Esta é uma bela foto

de quando ganhamos em Barcelona
com o Pastor.

Foi a última vez que ganharam?

A última vitória foi em Barcelona, 2012.

Outra foto do meu pai
que alguém me enviou.

Incrível, ele levantando duas rodas.
Sarado ele, não?

Incrível.

Ele estava em perfeita forma
antes do acidente.

Um artigo horrível que saiu
com um trecho do livro da minha mãe.

Depois do acidente,
Ginny quase teve uma crise nervosa.

ESCRITORA E AMIGA DE GINNY WILLIAMS

Emocionalmente,
era difícil se comunicar com Frank.

Frank é zero emoção.

E ela deve ter achado que um livro

seria um modo de chegar até ele.

“Geralmente eu não faço
resoluções de Ano-Novo,

mas, no final de 1988,

resolvi que no ano seguinte

anotaria tudo que aconteceu entre mim
e o Frank nos últimos 20 anos.”

ESCRITORA PAMELA COCKERILL

CONVERSAS GRAVADAS
COM GINNY WILLIAMS

PARA O SEU LIVRO
“UMA VIDA DIFERENTE”

Sim.

São as fitas minúsculas

com umas seis horas de gravação.

Isso entra… ali.

Frank realmente nunca foi comunicativo.

Ele não fala de seus sentimentos.

De jeito nenhum.

Quando ouviu isto pela última vez?

Acho que desde que transcrevi tudo.

Acho que foi há uns 25 anos.

Ela ainda parece estar tão viva.

Vinte e cinco anos depois,
revivo a conversa.

Fico triste por ela não estar mais aqui.

-Oi, Pamela. Tudo bem?
-Nem perguntarei quem é.

Sinto que devo te dar
um abraço ou um beijo.

Sinto que a conheço bem.

Olhando para você, parece que a conheço.
Verdade.

É estranho.

-É estranho.
-Verdade?

-Me pareço com a minha mãe?
-Sim.

Foi estranho, pois eu não…

Ela escondeu da família inteira.

Ela às vezes se comportava
de um modo suspeito,

saía escondida,
ou eu achava o gravador no porta-luvas.

Para mim, ela estava tendo um caso.
Perguntei direto,

mas ela nem assim me contou
do que se tratava.

Não me lembro em que ano foi,

mas Frank montou uma empresa
para ajudar jovens pilotos.

Eu ia me casar com um cara,
e ele pôs o carro no estábulo do Frank.

E juntos fomos ver o carro, ou o mecânico.

Lá eu vi o Frank,
em uma garagem bem caída em Slough.

Ela conheceu o Frank

três meses antes
da data em que se casaria,

o noivo a apresentou ao Frank.

E houve uma conexão eletrizante
instantânea entre ela e o Frank.

Acho que ela tinha 20 anos. Era jovem.

Ela pensou: “E agora?
Flores encomendadas, o casamento…”

Não sabia o que fazer.

Um cara com olhos que te atravessam.

Eu nem falava, não saía nem uma palavra.

Eu queria ser inteligentíssima
e comentar sobre carros.

Mas eu não conseguia.

Depois que o vi, foi o fim.

Ela era loira, olhos verdes,
cabelos grossos,

muito bem-educada, lindas roupas
e de família rica.

O modo como falava era tão agradável,
um senso de humor enorme.

Adorava corridas.

EX-GERENTE DE PATROCÍNIO DA WILLIAMS

Ela entendia de corridas,
sabia escolher pilotos.

Frank deve ter pensado: “Inacreditável.

Ela fez faculdade na Suíça.

IRMÃO DA GINNY WILLIAMS

Tem labradores no quintal…
Achei a perfeita.”

Acho que foi o que ele disse aos amigos.

Era fantástico conversar com ela.

MELHOR AMIGO DO FRANK

Era como conversar com um amigo,
mas que usava Chanel 5. Demais!

Porém, na época, sair de um casamento,
ou de um noivado,

era quase impossível.

Os convites estavam distribuídos,

e teria sido difícil demais
cancelar o casamento.

Bem, ela acabou se casando.
Mas a atração continuou.

Era o charme do Frank Williams, acho.

O sorriso e os olhos verdes,
minha mãe pirou.

Lembro de cruzar a rua
e lá estava ela no carro.

Eu: “O que você faz aqui?”
Ela: “Brode, não conte a ninguém.”

Ela tinha um frasco e sanduíches,
estava ali desde 9h,

esperando o Frank ir
até a banca do outro lado

para ela saltar e dizer:
“Frank, que coincidência ver você aqui.”

Ela não fez isso uma vez,
fez a semana inteira.

Daí em diante,
minha ocupação era procurar o Frank,

ir até Slough ou ter certeza
que quando ele corresse

eu estivesse em um local visível.

Acho que planejei me casar com o Frank,
de um jeito ou de outro.

Eu o queria.

Era um mundo mágico,
esse em que o Frank corria.

Era como o clube do Bolinha.

Acho que o Frank adorava
ser parte daquilo.

Talvez porque não tivesse participado
de um grupo, de uma turma,

quando ainda era jovem.

Ele nunca comenta,
mas o pai abandonou a mãe dele.

A mãe dele era bem pobre.

Meu pai era piloto de guerra
e deixou minha mãe.

Fui criado por ela.

Ela praticamente me criou sozinha.

Moravam em Jarrow, em South Shields.

Esse ambiente era pesado,
difícil de sair dele.

E minha avó teve de escolher.

Ela sacrificou o ambiente normal de um lar

para dar ao meu pai
uma chance melhor na vida,

mandando-o estudar longe.

Lembro-me de ter sido enviado
a uma escola católica.

Eu não tinha nem cinco anos

e fugia para a estação de trem.

Eles avisavam: “Ele voltou.
Não deixem que se repita.”

Sempre que eu voltava,

tiravam as minhas calças
e me batiam com um cabide.

Não me importava. Eu era feliz na escola.

-Era feliz lá?
-Eu era feliz, sim.

-Então por que fugia?
-Eu não era tão feliz assim.

Não, eu adorava trens. Trens e movimento.

Tentava pegar carona de carro.

Me enfiava nos carros
dos pais que apareciam.

Às vezes, me davam uma volta na rua.

Eu adorava carros.

Acho que o Frank ficou em Dumfriesshire

durante o tempo que estudou,
dos quatro aos 16 anos.

Não me interessei pela faculdade.

Passei três anos em um convento.

Um ano nesta escola
e outros nove trancado.

Eu queria liberdade.

Por 80 libras,
comprei um Austin de corrida.

Era uma máquina, viu? Um carro veloz.

Foi como entrei para corridas de carro.

Ele era totalmente obcecado por corridas.

Chegava a ser ridículo. Ridículo.

Nada mais importava.

Acho que ele nunca entrou
em um supermercado.

AINDA JOVEM,
FRANK SE MUDOU PARA HARROW

COM UM GRUPO QUE ADORAVA CORRIDAS

No início, não havia lugar para ele,

e ele dormia por lá num saco de dormir.

Todos tinham apelido.

Roger Bunting era Bunt.
Charles Lucas era Charlie Luke.

Piers Courage era Porridge,
e Frank era chamado de Porreta.

“O Porreta está aí?”

“Não, ele vem depois.” “Certo.”

Eram todos aristocratas, ricos,
querendo participar de corridas…

EX-ENGENHEIRO DA WILLIAMS

…e Frank estava entre eles.

Ele não era aristocrata nem rico.

Eram ex-alunos da Eton.

E, para ele, deve ter sido um mundo novo.

Todos que moravam ali
tinham dinheiro de família.

Frank não tinha, e nem eu.

Precisava ganhar dinheiro.

Ele ganhava dinheiro
vendendo e comprando peças.

E passava o tempo todo vasculhando o país,

comprando coisas por uma libra
e vendendo por duas.

Ele se autodenominou
“Carros de Corrida Frank Williams”.

Os organizadores queriam certos pilotos

porque, na França, tinham Matras.

Queriam ter os pilotos
Beltoise e Servoz-Gavin.

A Itália queria a Ferrari no autódromo.

E a Inglaterra queria uma BRM.

Ele me parecia ser o maior revendedor.

Ele foi crescendo e logo

estava vendendo carros para pilotos
europeus, na Itália principalmente.

Um cliente italiano ligou para o Frank.

“Franko, compra meu carro?
Preciso de um Brabham novo.”

“Eu te dou X.” “Eu vou buscar então.”

E o mesmo cliente pediu um carro novo.

Ele desmontou o carro, pintou de novo,
refez a galvanização e o polimento.

E, três meses depois,
era um carro novinho e perfeito,

com número de chassis novo,
obtido da Brabham por baixo do pano.

O cliente pegou o carro,

mas estava pegando o carro original.

Sei de um cara que teve
o mesmo carro por três anos,

mas todo ano achava que era um novo.

Acho que sempre quis me rebelar.

Acho que eu procurava um… Como dizer?

Pouco de encrenca.

Ginny cresceu em um ambiente protegido,

e de repente,
apareceu um cara que não seguia regras,

um cara emocionante.

Íamos a festas aos sábados à noite.

Frank estava dançando com a Ginny,
já estava obsceno.

O marido, soltando fumaça pelas ventas.

Eu disse ao Frank:

“Frank, o que você está fazendo?

Não faça isso. Dance normalmente.”

A única coisa
que ele não estava fazendo era transar.

Frank disse: “Não percebi.”

Ginny disse: “Eu nem vi.” Mas todos viram.

E aí começou a parada toda entre os dois.

Ela se mudou para um apê.

E ela pensou:
“Como digo ao Frank que estou aqui?

Ele não pode saber

que larguei meu marido por causa dele.

Ele sairia correndo.”

Ele não bebia.
Mas adorava suco de laranja fresco.

Ela escreveu uma carta:

“Se você gosta de suco de laranja,
agora tem aqui…”

E colocou o endereço dela.

Um ou dois dias depois,
tocaram a campainha. Era ele.

Procurando suco de laranja?

Suco de laranja, obviamente.

E lá se vão os dois.

Frank Williams arranca lá de trás.

Está em terceiro, na terceira fileira.

Isso é muito bom.

Na época,
ele queria ser o melhor piloto do mundo.

Quem é o carro amarelo passando?

Frank. Veja como se esgueira.

Que briga entre os dois. Eu digo que…

Ele corria com sedãs,

mas nunca tinha um limite.

Cada vez mais veloz, saindo do circuito.

- Quem está ali?
- Frank Williams.

Frank tentando a todo custo.

Ele sempre foi veloz, porém perigoso.

Quando comecei na Fórmula 3,

encontrava pessoas que me diziam:

“Conhece Frank Williams?”

“Sim, eu conheço.”

“Ele é veloz, ele bateu aqui,
ele acelerou aqui,

fez várias coisas.”

A reputação do Frank
era de ser muito veloz,

mas que vivia saindo da pista.

Ele teria vencido várias corridas,

porém rodopiava e sofria acidentes.

Ele não tinha limites,
nem mesmo nas ruas normais.

-Como era?
-Diabólico.

Onde aprendeu a dirigir?

No Morris 1000 da minha mãe.

Ela não queria me emprestar o carro.

E tinha razão,
pois acabei capotando com ele.

-Já capotou vários.
-Não muitos.

Sempre que falamos de carro,

parece que capotou.

Não falei de tantos carros, falei?

Não, mas… Qual foi
seu primeiro carro de corrida?

Um A35.

-O que houve com ele?
-Capotou.

Ele era competitivo consigo mesmo
num carro de corrida.

Ele quase marcava num cronômetro

para ver se batia o próprio tempo
em um percurso.

Frank chegava toda noite dizendo:

“Fiz 33 minutos e meio hoje.

Vou me matar na pista
se não tomar cuidado.”

LENTO DEMAIS

Eu, nervosa, dizia:

“Não irei ao seu enterro.”

Eu ficava tão brava!

O Frank era suicida.
Ultrapassava do meio da pista.

Acho que se tocou
de que uma hora iria se machucar.

Não pode ter tantos acidentes
na rua e nas pistas.

Vai se machucar. Ainda mais antigamente,
quando carros eram letais.

Entrei na Fórmula 1

porque, depois de dois, três anos correndo
perigosamente pelo continente,

ficou óbvio que eu tinha muita coragem,

porém pouca habilidade para pilotar.

Na mesma época,
fiz amizade com um jovem, Piers Courage,

um piloto brilhante.

Foi a oportunidade de o Frank
montar um carro de Fórmula 1.

Piers concordou em pilotar.

Piers e eu começamos em 1969.

Piers Courage era um piloto entusiástico,
estiloso, de F1

que conquistou todos aqueles
que amavam a Fórmula 1.

E Piers era o que Frank imaginava ser
um piloto de GP.

Ele era ativo, charmoso,

tinha uma esposa linda e muito cobiçada.

Além de ser muito bonito,

vivia com cabelo e roupa impecáveis.

Ele sempre foi o mais elegante,

de blazer abotoado,
colete cinza, sapato Gucci.

Ele parecia quase intocável.

Lembro um discurso dele.

Ele tinha um gaguejo
de escola pública inglesa.

O entrevistador perguntou:

“Como será o seu carro no fim de semana?”

Ele: “Eu acho que será ‘explo-plo-sivo’.”

GRANDE PRÊMIO DE MÔNACO

Esperando mais
que o segundo lugar do ano passado

estava Piers Courage no De Tomaso,
apoiado por Frank Williams.

No ano passado,
tive uma câimbra horrível no pé direito,

e bolhas nas mãos de trocar a marcha.

Eu adorava o Piers,

mas, na época, era:
“Piers é maravilhoso. É o meu cara”.

Era tudo de bom para mim.

Piers e Frank eram ótimos juntos.

Quase feitos um para o outro, eu acho.

Era o Piers se aprimorando como piloto,

e o Frank se aprimorando
como dono de equipe, o construtor.

Segundo lugar em Monte Carlo.
Você acredita?

Segundo lugar no GP dos EUA. Crê?

Quinto no Silverstone. Estávamos bem.

Todos queriam ser piloto,
e Piers estava nesse caminho.

Ganhou de Jackie Stewart e Jim Clark,

e era um piloto excelente.

De repente, ele morre em um acidente
horrendo no carro do Frank.

Eu estava na corrida,
e foi um acidente horrível.

Sabíamos que era o Piers naquele acidente…

PILOTO DE F1 1965-1973

…porque o capacete dele saiu.

E quando ouviu a notícia,
como ficou sabendo?

Só posso dizer que foi um grande choque.

Eu era muito jovem.
Não espera um choque destes.

E lembro de ter ido falar
com o organizador,

o nome dele era John Corsmit.

E eu disse:
“John, me fala, o Piers está morto?

Tem certeza disso?”

Ele disse: “Tenho.”

Eu: “Me diga outra vez.”

Disse três vezes: “Ele morreu, Frank”.

Eu disse: “Está bem.”

Era meu o dever de contar à esposa dele.

E eu prefiro não falar disso.

PILOTO MORRE EM CHAMAS

Sally, a esposa, ficou em péssimo estado.

Mulheres de pilotos de corrida
têm uma vida mais dura, eu acho,

do que qualquer piloto.

Eu me lembro de ir ao enterro,
e Frank foi fantástico.

Ficamos à entrada da igreja
recebendo as pessoas.

Muita gente veio.

Ele cumprimentou muitos,
agradecendo por terem vindo.

Depois da cerimônia, ele sumiu.

Voltei para a igreja. Estava vazia.

Frank estava em pé, atrás de uma coluna,

totalmente acabado,

lá parado, chorando sem parar.

E eu disse: “Vem. Vamos para casa.”

E o clima despreocupado entre nós

se dissipou ali.

NASCIDO AOS 27 DE MAIO DE 1942

MORTO EM ZANDVOORT
NO GP DA HOLANDA, 21 JUNHO 1970

Mas sei que não falavam muito.

Não falavam muito do Piers em casa.

Acho que meu pai nunca…

não sei como supera a morte
de um piloto num carro seu.

A capacidade do Frank de continuar,

para mim, é padrão em corridas.

Conheço os pilotos,
e a maioria só pensa no amanhã.

Raramente olham para trás

e muito raramente deixam
a emoção atrapalhar a motivação.

Uma hora de vida intensa
vale mais que uma década de mesmices

A taxa de mortalidade
era estupidamente alta.

Era aceito que você
pudesse não sobreviver.

Eu mesmo não achava que sobreviveria
à minha carreira na F1,

as chances não eram boas.

Na segunda volta, desastre.

Von Trips perde o controle,
mas a corrida continua.

Esses carros eram armadilhas mortais.

Em uma colisão frontal,
o carro virava um envelope,

e você não saía dele.

Os carros pegavam fogo facilmente.

Um pequeno impacto e o sistema
de combustível já vazava.

Incêndios eram um problema.

Tivemos muitas mortes,

uma a cada fim de semana
em quatro fins de semana consecutivos.

Quatro amigos nossos morreram.

O etos da Fórmula 1 na época era:

se acontecer, é um horror,
mas teremos a próxima corrida.

Como cair do cavalo e montar outra vez.

ASSOMBRADO, WILLIAMS ENCONTRA
RAZÃO PARA CONTINUAR

Meu pai deu uma entrevista
ao The Times depois que Ayrton morreu.

“Uma das figuras mais marcantes
na Fórmula 1

expõe a alma com a morte de seu astro
e o revival de sua equipe.”

Meu pai disse: “Ainda não absorvi o fato
de o Ayrton ter morrido.

Esse raciocínio lento
me ajudou a superar meu acidente.

Talvez venha daí minha calma
ao falar que ele está morto.”

O ex-campeão de Fórmula 1, Ayrton Senna,

foi declarado morto.

Senna sofreu graves lesões

quando seu carro saiu da pista
e bateu numa parede de concreto.

Eu me lembro do enterro do Ayrton.
Mamãe disse: “Nem pense em chorar.

Não é hora de ficar triste.
Não é uma perda sua.”

Minha mãe era muito amorosa.

Ela tinha a mentalidade do meu pai,
de guardar as emoções.

Acho que os dois achavam
que emoção era fraqueza.

Bem, não é comum um homem
demonstrar sentimento, seriamente.

Talvez raiva, sim.

Você nunca deve chorar nem nada disso.

Você nunca deve chorar ou…

Eu derramei umas lágrimas
quando Piers morreu, sim.

E um pouco com Ayrton.
Eram minha responsabilidade.

-Quando Ayrton morreu?
-Claro.

Era responsabilidade nossa.

Ele estava em um carro mantido por nós,
como o Piers.

Era um carro mantido pela Williams.

E como você se sentiu nesse dia?

Nada bem.

CIDADE DO MÉXICO

Aí vem ele por fora.
Ultrapassagem atrevida daí.

Mamma mia, mamma mia! Eles vão bater.

Bottas na pista! Eles batem!

E Räikkönen está fora.

-Vá se danar.
- Räikkönen saiu.

Nosso orçamento anual
beira os 110 milhões de liras esterlinas,

quando Red Bull, Ferrari e Mercedes

funcionam com duas ou três vezes mais.

Do ponto de vista financeiro,
somos os desfavorecidos.

A conotação negativa para mim

é que parece que a Williams
é mais fraca que as outras,

mas não somos.

Já sofremos muito mais que outras equipes,

e nós sempre lutamos.

E Bottas termina em terceiro lugar.

Incrível classificação
depois do incidente com Räikkönen.

Finalmente, é a Williams no pódio.

Estou feliz. Com coração disparado.

Foi intensa.

Em terceiro lugar,
Valtteri Bottas, da Finlândia.

E a sua mãe viu você neste papel?

Não, ela não viu, e isso…

bem, para mim, é triste.

É uma tristeza profunda.

Lamento por isso e por ela
não ter visto a equipe renascer,

pois era o que ela queria muito ver.

No final, ela ficou arrasada.

Morávamos juntos havia dois anos,

e não acho que ele achava
que tinha obrigações comigo.

E havia um limite na minha disposição
de levar aquilo adiante.

Eu fiquei grávida
pensando em forçar a situação.

Percebi que se eu quisesse esposa,

ela seria a melhor que eu encontraria.

Ele estava saindo e perguntou
se seria uma boa ideia nos casarmos.

O que eu achava?

Fiquei feliz da vida. Nem acreditava.

Eu pulava de alegria.

O casamento foi simples,
nada de branco por toda parte.

Foi num… Como se chama aquilo?

Com juiz de paz.

-Cartório.
-Muito obrigado.

Meu pai disse que arrumaria
o cartório e não arrumou,

que compraria alianças,
mas não teve grana.

Minha mãe teve de emprestar
dinheiro do Dave Brodie.

Ele comprou as alianças.

Foi isso. Cheguei 15 minutos antes,
paguei oito liras.

Nunca recebi de volta.

Tudo terminou em 15 minutos.

Os pais dela não foram, claro.
Não sei se aprovavam a união.

Saímos e eu disse:
“Que dia lindo. Vamos comemorar.

Vou pagar um almoço espetacular
para vocês.”

Frank disse: “Não. Estou trabalhando”.

E ele foi trabalhar. Pronto.

Não sei qual homem sensato
acharia isso correto,

mas meu pai achava e foi trabalhar.

Minha mãe foi almoçar e não deu muita bola

porque já estava acostumada.

Meu pai é totalmente diferente
dos homens normais.

Frank, desde que o conheci,
sempre pareceu sarado, atlético,

e ele vivia correndo.

Toda noite uma corrida.

Ele corria em todo circuito
nas pistas de corrida.

Corria uma volta
e, se não fosse, ficava mal.

Para ele, era um vício.

Frank era muito focado, eu diria,

alguns diziam que limitado.

Alguns achavam que Frank está
estranho por causa do acidente.

EX-ENGENHEIRO-CHEFE DA WILLIAMS

Bem, não é. Ele sempre foi incomum.

Existe muita repressão contida no Frank.

Uma determinação incrível.

Uma obsessão retentiva extraordinária.

Acho que esse pessoal de corridas

é imensamente competitivo, como nunca vi.

Não são muito maduros
intelectual ou culturalmente…

ESCRITOR

…porque não leem nem pensam muito,

a menos que seja sobre o que fazem,

e nisso eles pensam num nível absurdo.

Nós sempre fomos meio antissociais.

O pessoal de corrida é bem fechado.

Nunca fui íntimo do Frank socialmente.

Nós nunca…

acho que nunca nem jantamos juntos.

Ele achava que coisas como socializar,
tomar um drinque ou relaxar

eram perda de tempo.

Não tem outros interesses além da corrida.

Ele não lê.

Não tem nada acontecendo na vida dele

fora os carros de corrida.

FORÇA NA CADEIRA DE RODAS

“Sou viciado em corridas”,
Frank Williams declara.

“A corrida é tudo que me interessa.”

E ele diz:
“Tenho uma família que eu amo muito,

mas que vem depois dos negócios.

Sem sombra de dúvida.”

Você passava as Festas com a família?

Nunca fiz isso.

Agora é tarde demais. Nunca me interessei.

Meu Deus, que vergonha.

Mamãe queria levar
os três filhos a um hotel.

Era tradição de família tirar uma foto

na varanda com a mamãe.

Somos eu e ela ali, quando fiz 16 anos.

Olhe para mim, que horror.

No total, fomos a Marbella
com ela 32 vezes, 32 anos.

-Seu pai foi quantas vezes?
-Nunca foi.

E não te incomodava?

Não. Mamãe sempre dizia
que não adiantava ele estar lá,

porque iria nos enlouquecer.

Nós íamos e nos divertíamos muito.

Passe aquela roda, rápido, a de baixo.

Joe, tem outra roda montada?

Em que ano disseram
que o Frank estava sendo…

Muito malsucedido?

Em 1972, 73, 74, 75, 76.

Era a piada dos pilotos.

Quer arruinar sua carreira?
Seja piloto da Williams.

Frank aguentou muitas críticas
pelo que fazia.

Ele era o pobre coitado
que não tinha onde cair morto,

e seus carros eram lixo,

não tinha nem peças para eles.

Frank não podia comprar pneu novo

e corria com pneus Firestone
de segunda mão, eu acho.

Deveriam banir os pneus. São muitos.

Não fosse a Ginny,
a Williams não teria sobrevivido,

porque a grana que movia tudo era dela.

Você estava dura quando se casou?

Eu tinha uma mesada,
que era de 40 libras por mês.

Parece patético, mas não era, na época.

Dava para alimentar duas pessoas
com cinco libras por semana.

Era insignificante,
mas nos mantinha funcionando.

Lembro de a Ginny ter dado
oito libras para ele

sair e comprar peixe e fritas.

Ele saiu, comprou oito velas Champion

e só voltou três dias depois.

Meus pais não ficaram felizes

quando souberam que ela vendeu
o apê para ajudar o Frank

e dar dinheiro para ele.

O denominador comum

na primeira década
de sua relação com a Virginia,

seria a penúria.

Os bancos odiavam o Frank.

Dez anos de cheques sem fundo.

Ninguém aceitava cheque do Frank.

Eu recebia cheques sem fundo.
E eu: “Preciso de dinheiro.”

Ele: “Eu te dou 20”. E voltava.

A equipe de Frank Williams está na pior.

Carros nas últimas fileiras,
7º e 8º lugares.

Uma situação dura.

Quem não ganha, não tem dinheiro,

e sem dinheiro não pode ganhar.

Estávamos péssimos financeiramente.

Frank veio me ver e disse:
“Brode, não posso mais.”

Ele tinha uma pilha enorme de dívidas.

De repente,
um cara que vivia sondando o Frank,

dando grana aqui e ali, Walter Wolf,

fez algo que sempre acontece nos negócios.

Walter comprou a dívida do Frank

e assumiu o comando
da equipe da F1 da Williams.

Walter, obviamente,
era inteligente nos negócios.

Fez uma fortuna de muitos milhões sozinho.

Pensei: “Vamos tentar.”

Mas em meados de 1976,

ficou claro para o Walter
que a equipe não funcionava bem,

e que Frank não tinha capacidade
de virar o jogo.

FRANK WILLIAMS (CARROS DE CORRIDA) LTDA.

Frank foi à fábrica, pôs a chave na porta.

Não abria.

Abriu uma janela e disseram:

“Pegue suas coisas.
Você não pode mais entrar.

Está expulso da fábrica.”

Ele não acreditava.
Foi expulso da própria fábrica.

Era a vida dele.
Tudo naquele box e na fábrica.

Seis semanas depois,

o carro do Frank,
agora chamado de “O Lobo”,

foi à América do Sul
e ganhou sua primeira corrida.

Frank passou a vida esperando
por aquele momento.

Alguém ligou e nos avisou do resultado.

Eu fiquei arrasada.

É para a gente se sentir como?

E eu odiei, acima de tudo,

ver a Williams ser chamada de “Lobo”.
Odiei isso.

Um dia, a Ginny me ligou

e disse: “Tenho problemas com o Frank.

Ele caiu em depressão.

Não tira o pijama há seis semanas.”

Fui lá às 11h, olhei para ele

e disse: “Que porcaria é essa, Frank?

Você ainda está de pijama.”

E ele: “Brode, eu não consigo
organizar meus pensamentos.”

Eu sabia o que o estava matando.

Depressão não é para ele…
Nem entra no vocabulário dele.

Mas acho que ele tem vergonha,
pois deveria pensar:

“Não há por que se deprimir.”

Precisa sofrer a depressão para sair dela.

Eu disse: “Deve ter um jeito
de você voltar à Fórmula 1.”

E ele disse: “Não sei.

Mas andei pensando,

e posso conseguir 185 mil

de uma empresa de cerveja belga
chamada Belle-Vue,

mas teríamos de usar um piloto belga
chamado Patrick Nève.”

Eu disse: “E daí?

É o começo da nova equipe de Fórmula 1.”

“Você acha?” Eu disse: “Acho, Frank.

Tire esse pijama feio e vá fazer
o que faz de melhor.”

Acho que deu um empurrão nele:
“Espera aí, vou fazer isto.”

À minha mesa, eu disse:

“Você faz uma lista de nomes de equipes
e eu, outra.”

E que nome você escolheu?

Tivemos de pensar demais, fundir a cabeça,

mas foi Williams Grand Prix
Engineering Ltd.

Eu disse: “Vou tirar uma folga.
Vamos achar uma fábrica.”

Ele adorou.

FRANK VOLTOU À FÓRMULA 1 COM A NOVA
EQUIPE, PATROCINADA PELA BELLE VUE

Estava tudo bem precário,
mas eu adorava o que fazia.

Estava otimista e senti que daria certo.

No fim, quem é piloto, é piloto.

É que o negócio vicia.

Vicia?

Pega você.

Há 140 mil fãs em Silverstone.

Hamilton na direita

e Nico Rosberg na esquerda.

O GP da Inglaterra vai começar.

Dada a largada, vamos lá. Quem vai ser?

Bom começo na segunda, Williams e Massa.

Williams passa os dois carros da Mercedes.

Massa na frente.
Bottas tenta o segundo com Hamilton.

Hamilton se encrencou, mas resiste.

E que corrida esta.

A equipe da Williams largou bem.

-Valtteri é mais rápido.
-É. Deve passá-los.

Ele deve passar.

Cuidado!

Hamilton sai da pista
tentando assumir a liderança.

Pode ser a chance de Valtteri Bottas.

Bottas fica em segundo lugar.

Na pole,
temos a Williams em primeiro e segundo.

Não aguento olhar. É impossível.

Meu coração não aguenta. Vou enfartar.

Bottas procura a liderança
e Lewis Hamilton continua pela pista.

Vamos ver o box de Valtteri Bottas.

Foi ótimo.
Hamilton já está na reta da chegada.

Ele está do lado.
Hamilton reassume a liderança.

E por onde vem Bottas?

De trás do companheiro de equipe,
Felipe Massa.

Hamilton está liderando de longe.

Lewis Hamilton ganha o GP da Inglaterra!

Ele teve de brigar.

A Williams tem de se conformar
com quarto e quinto,

mas dá pena da Williams.

Ele sempre mostrou seu espírito lutador.

E acabou se fortalecendo
diante das dificuldades.

Mas ele fez uma corrida e tanto.

Mas ainda acho que ele queria tudo,

tudo junto, em vez de vencer.

Ele lutava pela Fórmula 1.

Patrick Head é o gênio técnico
da Williams,

o engenheiro sábio que dá força
ao líder carismático.

DEPOIS DE OITO ANOS NA FÓRMULA 1
SEM UMA VITÓRIA,

FRANK CONVENCEU PATRICK HEAD
A ENTRAR NA WILLIAMS

Conheci o Patrick, a melhor coisa,
depois da esposa com quem me casei,

que me aconteceu na vida.

Ele era um engenheiro talentoso.

Patrick é uma pessoa
que não engole desaforo.

Ele é o valentão.

Se não consegue o que quer,
ele mete bronca.

Muita gente tem medo dele.

Ele é grandão e tem porte agressivo.

E os funcionários novos não ficavam
à vontade com ele.

Você entende. Sabiam quando tinham errado.

Acho que os antepassados
do meu pai eram militares.

Um deles, o general Michael Head,
foi soldado em Wellington.

Acho que não querer falhar
era uma motivação bem forte.

Este carro está meio segundo
mais lento que o outro.

Acho que a esta altura,

Frank tinha grandes expectativas
com o Patrick.

Uma coisa diferente
que o Patrick deu ao panorama todo

foi ter tornado a Fórmula 1 mais segura.

Os carros do Frank
passaram a terminar a corrida,

algo que não faziam antes.

E foi onde a vida da Williams mudou.

As equipes britânicas lideravam
com designs inovadores,

sendo o mais recente a saia aerodinâmica,

um painel rígido se estendendo pelo chão

entre a roda da frente e de trás,

criando o fenômeno chamado efeito solo.

Para Frank Dernie,
um gráfico simples mostra mais sucção

debaixo do Williams com saia.

Tirando a saia, terá pouco fluxo ali.

O que fez grande diferença

foi uma carenagem na lateral do motor

que mantinha o fluxo até a ponta de trás.

Fiz o teste em um túnel de vento
antes do Silverstone em 1979,

e foi o maior ganho de desempenho
que já vi em um carro.

Voltei correndo do túnel de vento
e desenhei as peças.

Mandamos fazê-las
para usar em Silverstone.

Lembro de entrar no carro
pela primeira vez

pensando: “Minha nossa.”

Qual era a diferença?

PILOTO DA WILLIAMS, 1978-1981

Estava melhor, muito melhor.

Nem me peça para ser mais técnico,
pois vou parecer um tonto.

Fomos testar e, pela manhã,
todos tinham corrido.

Acho que a melhor volta

foi de 12,9 ou algo assim.

E me lembro bem que o Alan fez

em um minuto a menos, 11,88, num instante.

E todos os outros tiveram 13 em média.

Foi bem estranho, você lá com seu carro,

e todos olhando para você.

Eles não conseguiam acreditar.

Diria que quando Jonesy deu certo, em 79,

nós todos ficamos surpresos.

Acho que Frank também ficou surpreso.

Durante o treino,
Alan Jones, no Saudia-Williams,

bateu o recorde em sete segundos,

o que hoje em dia é muito.

Alan era másculo,
tudo que se espera de um australiano.

Personalidade forte,

não levava desaforo de ninguém.

Ele gostava de se divertir, de beber.

Acho que sofria tentando manter o peso.

Depois da corrida,
sempre o víamos engolindo uma cerveja

ou duas ou três.

Há dois motivos para beber
no esporte automobilístico.

Para lamentar e para comemorar.

Então a cerveja está garantida.

Duas Williams na frente,

o incrível veterano,
o suíço Clay Regazzoni.

Clay não está tão rápido quanto era.
Ele agora é o segundo,

com Alan Jones, na equipe da Williams.

Esperávamos que Regazzoni
fosse mais veloz que Jones,

mas ele nunca foi.

Jones acabou sendo muito melhor
do que qualquer um podia imaginar.

Tudo pronto para o Grande Prêmio
da Inglaterra de 68 voltas.

PRIMEIRA VOLTA

E abrindo caminho,

os dois carros Saudia-Williams
entrando na virada Copse.

E lá vem Jabouille.

Jean-Pierre Jabouille vai passar.

Muita velocidade e potência aqui,
510 de cavalo-vapor, e ainda…

Alan Jones lidera.

Quando Alan ficou na liderança e sumiu,

Patrick e eu contávamos as voltas,
rezando para diminuírem logo

porque era um carro novo.

Não era bem de confiança

e seria um grande feito para a equipe.

Tornou-se realidade.

Alan Jones está disparado agora.

Assumi uma liderança confortável

e, de repente, nos retrovisores,

vi fumaça saindo de trás do carro

e achei que havia algo errado.

Alan Jones está com problemas.

E parece que ele fundiu o motor.

Eu devia ter ficado,

mas eu estava com raiva.

Entrei no meu carro

e voltei para Londres a 480 km por hora.

Clay Regazzoni é o novo líder
do 33º GP da Inglaterra.

Clay Regazzoni prestes

a ganhar a primeira corrida
para a equipe da Saudia-Williams,

e Frank Williams vai morrer de felicidade.

Clay Regazzoni cruza a linha
e ganha o Grande Prêmio.

Fomos muito mais rápidos,

mesmo o Clay sendo menos veloz que o Alan.

E quando o Alan quebrou, ele ganhou.

Ganhamos o GP da Inglaterra.

Isso nem em livro se vê. Foi demais.

Clay, o que este carro
da Williams tem de tão bom?

Tudo.

A primeira vitória de Frank Williams
na Fórmula 1

desde que começou, dez anos antes.

Frank Williams, este deve ser o dia
mais feliz da sua vida profissional.

Sem dúvida. É verdade.

O que você sentiu naquelas últimas voltas?

Pavor de o carro não terminar.

Perdemos o Al.
Tive pavor de perder o Clay,

mas o carro foi demais.

Frank, sempre vimos todo seu esforço,

desde 1969 nestas corridas.

Frank Williams, que não desistiu
da Inglaterra. Meus parabéns.

-Muito obrigado.
-Obrigado.

Meus pais, depois que todos se foram…

FILHO MAIS VELHO
DE FRANK & GINNY

…ficaram ali, de braços dados,

sem querer que o dia terminasse.

Foi surreal.

Qual foi a sensação?

Acho que foi um alívio.

Pois muita gente pensava:

“Esse maldito Frank nem sabe o que faz.”

Mas eu insisti.

Para mim, já estava mesmo na hora.

A partir daquela temporada,
acho que dominamos tudo.

Éramos uma ou duas voltas
mais velozes que os outros.

Eu ganhei os próximos três GPs.

Ganhei o GP da Holanda, da Áustria,

e o da Alemanha.

Jones conseguiu, ele é o campeão mundial.

WILLIAMS DOMINOU A FÓRMULA 1
EM 1980,

GANHANDO 2 CAMPEONATOS DE PILOTO
E 2 DE CONSTRUTOR

Este é o campeão mundial de 1982,
Keke Rosberg.

De repente, ele ficou famoso.

E para os famosos, tudo fica mais fácil,
não?

É duro para os caras famosos.

São muitas mulheres lindas
dando em cima deles.

Acho que os homens são muito idiotas.

Sentem-se bajulados. “Consegui.”

“Este é o prêmio extra. Eu ganhei.”

Mas eu acho que era inevitável.

Haveria mulheres tentando agarrar o Frank.

E ele sabe escolher.
Sempre gostou de mulher bonita.

Como o Frank,
as mulheres se jogavam em cima de mim.

Uma hora, a gente acaba pegando uma.

Elas punham bilhetes
no para-brisa do meu carro.

Havia groupies pelo circuito

que desfilavam pelos pits. Loucura.

Eram as marias-gasolinas. Nós pegávamos.

Em todo esporte,

há um grupo de mulheres lindas
para a hora da festa.

RECEPÇÃO F1
E AMIGA DE GINNY WILLIAMS

Elas aparecem nas festas à noite,

às vezes na área de recepção.

E muitos patrocinadores contratam garotas,

altas, de pernas longas e lindíssimas.

A Fórmula 1 é um coquetel estonteante
de egos temperamentais

com um domínio profundo e subjacente
do sexo masculino.

Quando comecei,
poucas mulheres trabalhavam na Fórmula 1.

Algumas equipes tinham uma mulher
no catering , talvez um casal.

Na imprensa, havia algumas mulheres.

Mulheres eram irrelevantes.

Elas faziam chá, marcavam voos,

ou proviam acompanhamento de luxo
aos pilotos e donos de equipes.

Eu me lembro de saber de uma pessoa
e ficar profundamente irada.

Mas acho que eu costumava
exagerar com o Frank.

-Não foram casos…
-“Indiscrições”?

Sim, eu reagia exageradamente
e isso o irritava.

Ele dizia que elas não eram importantes?

Não, ele negava mesmo.

Ele mentia,
dava as desculpas mais esfarrapadas.

Embora ela fosse perfeccionista,

ela sabia que a vida
era cheia de concessões

e essa era uma delas.

Ela se apaixonou por Frank,

mas se apaixonou pelo pacote todo.

E como ela era completamente
apaixonada por ele, pronto.

Ela lidou com isso. Eu não lidaria.

Suas amigas alguma vez disseram:

-“Por que aguenta isso?”
-Sim.

Você explicava?

Não, porque eu acho que elas pensavam

que eu gostava de ser maltratada.

Você imaginaria, naquela época,
uma mulher ser chefe de equipe…

Não, de jeito nenhum.

Homens nesse ramo
de corridas são sexistas.

Acho que são os mais sexistas
de todos os esportes.

Mulheres sempre passarão
por mais escrutínio.

Ainda existe um grupo enorme na Fórmula 1

que acha que mulheres
não podem fazer o mesmo que homens.

A tradição da Fórmula 1
é de um esporte dominado por homens,

mas muitas mulheres hoje
trabalham nesse esporte,

não só nos cargos mais altos.

Temos engenheiras,
mulheres em aerodinâmica.

As coisas estão mudando.

O seu pai foi um ícone
em se tratando de Fórmula 1.

Foi mais difícil provar sua habilidade
por ser mulher

ou por ele ser seu pai?

Este papel meu na Fórmula 1
não foi meu sonho de criança.

Mas as circunstâncias mudaram,
abriram uma vaga,

e fui convidada, não pelo meu pai.

Aliás, ele disse:

“Ela nunca vai trabalhar para mim.”

Na sua vida privada,

em quais situações gosta de ser mulher?

Sempre me fazem esta pergunta.

Ontem à noite me perguntaram.

Perguntaram em quatro entrevistas
que eu dei ontem.

Mas ainda acho estranho

as pessoas se surpreenderem
de ver uma mulher fazer isto.

Realmente me irrita.

SEDE DA WILLIAMS
WANTAGE, INGLATERRA

JONATHAN, IRMÃO MAIS VELHO DA CLAIRE,
DIRIGE O DEPTO. DE HERANÇA DA WILLIAMS

O Depto. de Herança é independente.

Nós temos apoio do pessoal da fábrica,

mas somos eu e o Dickie, basicamente.

Praticamente, somos só nós dois aqui.

Chegando aqui nos componentes maiores.

Dá para ver que são pesados,
afundam as prateleiras.

Que mais? Caixa sem número.

O que nós temos aqui?

A Claire vem aqui, Johnny?

Acho que ela nem sabe
que esta sala existe.

-Eu não.
-Não?

Não. Ninguém vem aqui, eu acho.

Eu e o Johnny.

O Johnny gostava muito
de brincar de soldado.

-Como vão as coisas?
-Nada bem.

Você pode comentar?

Johnny, sabe, é…

Acho que toda família tem, sempre vai ter

algumas dificuldades, não é?

Infelizmente, Johnny e eu temos.

Acho que é algo do qual
vou acabar me arrependendo,

não gostando a vida inteira.

Tem a ver com o trabalho ou…

Tem, sim, infelizmente.

Porque você chegou à posição em que está

e ele não.

É. Exatamente.

Eu não sou a mais velha, e não sou homem.

E aqui somos eu e a Claire.

Vocês parecem íntimos aí.

Isso foi 30 anos atrás.

Bem, é horrível.

Ele acha que eu fui ambiciosa,

que eu me coloquei na situação.

e que fiz lobby… que cavei minha entrada.

E não foi…

Isso não foi verdade.

A mãe deles ficaria extremamente triste

e acho que é algo que ela teria resolvido,

como ninguém mais teria.

Não acredito que o Frank tivesse.

Frank sempre achou que mulheres
julgavam melhor o caráter das pessoas.

E o Frank frequentemente fazia

alguém de quem estivesse desconfiando
vir até mim.

- Os pilotos?
- Pilotos ou qualquer outro.

Muita gente vinha à nossa casa,

e ele perguntava o que eu achava
dessas pessoas.

Lembro um dia, em 1984,
as crianças como sempre

acordam mais cedo que os pais.

E tinha um homem, de bigode,

e sotaque diferente do nosso,
obviamente de Birmingham,

andando pela casa e dando bom-dia.

Quase morremos de susto, e saímos
correndo para o quarto dos meus pais,

dizendo: “Tem um homem em casa.”

E eles: “Não. É o piloto do papai.

É Nigel Mansell.”

Dizem que irá para a Williams.

-Algum comentário?
-Williams? Quem são eles?

Quando Nigel estava no auge,

era ótimo piloto, como todos.

Fora do carro, dava trabalho,
mas dentro, ele era o máximo.

Nigel é o tipo três-em-um.

Ele é um piloto absolutamente fantástico

maravilhoso na hora de ultrapassar alguém.

Mansell vem por fora e ele ultrapassa.

Nigel Mansell assume a liderança
e quase tira Ayrton Senna.

Como homem de família, ele é um amor.

Tem uma família linda e adora os filhos,

é fiel à esposa,
diferente de outros pilotos.

Mas como pessoa, fora do carro,
ele é um grosso.

É muito difícil trabalhar com ele.

Dirija mais devagar, comporte-se!
É um pesadelo, e alguém…

E era por isso
que gostávamos tanto do Nelson

e achávamos Nigel um pouco demais.

NO FIM DA TEMPORADA DE 1985,

NELSON PIQUET, BICAMPEÃO MUNDIAL,
ENTROU PARA A WILLIAMS

AO LADO DE NIGEL MANSELL

Nelson Piquet entrou no lugar
de Keke Rosberg em 1986.

Foi contratado porque o Frank
adorava o Nelson Piquet.

Piquet já era bicampeão mundial.

Frank amava o jeito brasileiro do Nelson,

suas namoradas, sua cara bonita
e como ele se comportava.

Ele tinha iate particular
e um helicóptero no iate.

Ele tinha jatinho, um Citation 10,

que, na época, era o mais veloz do mundo,

e ele mesmo pilotava.

Nelson era alegre, amava a vida,
um cara muito legal.

Nigel era um cara sem sal nem açúcar,

daqueles que tomam leite quente
antes de dormir.

Na época, eu achava Nelson
o melhor piloto do mundo,

e fiquei feliz com a chegada dele.

Ele quis a Williams porque achava
que éramos os mais velozes.

Nelson achava que com tudo isso
ele venceria outro campeonato.

PENSANDO NO PRIMEIRO
GRANDE PRÊMIO DE 1986,

A EQUIPE DA WILLIAMS
FOI AO SUL DA FRANÇA

TESTAR SEU CARRO NOVO

Estávamos nos últimos testes
da pré-temporada,

no Circuito de Paul Ricard,

com Nigel Mansell e Nelson Piquet.

Frank foi ver, já que estava
superfeliz com a performance.

Meu pai estava no teste da pré-temporada.

Era uma tarde de primavera,
e minha mãe sugeriu andarmos de bicicleta…

fazer um piquenique em um parque.

O dia estava muito lindo.

Voltamos e esperamos
meu pai voltar para casa.

Mas ele não voltou.

O teste estava indo bem.

Acho que Frank ficou feliz
com a temporada e pensou:

“Vamos mostrar a eles
que podemos ganhar o campeonato.”

Ele iria correr uma meia maratona
no domingo de manhã.

Frank, louco para voltar
e fazer a maratona…

Era uma maratona municipal.
Ele era muito bom.

CIRCUITO DE PAUL RICARD

Ele e o Peter Windsor,
o cara do marketing na época,

foram até o aeroporto.

Estavam com um Ford Sierra da Avis.

Ele disse: “Entre. Vamos.”

E no afã de voltar para casa…
Já sentiu esse afã de chegar em casa?

-Quando quer chegar logo?
-Tem de voltar.

Pegar o último voo.

Ele pegou uma estrada sinuosa
atrás do circuito,

uma estrada estreita e cheia de curvas.

E ele dirigia o Sierra 1600,

virando com tudo, brecando na última hora.

Eu me lembro de dizer ao Frank,

quando a traseira derrapou
ao frear numa curva fechada:

“Os freios estão bons, Frank?”

Ele disse tremendo:
“Frank, você sempre dirige assim?”

Você não fala assim com seu chefe,

manda ir devagar.

Ele disse que os freios estavam bons.

Eu estava correndo.

De repente, estrada aberta.
Era uma descida,

e havia uma curva fechada
a menos de 300 metros.

Lembro de ter visto pela janela
uma mureta de pedra.

Parecia que íamos bater nela.

Minha reação foi afundar no banco.

Ao bater na mureta,
o carro foi pelos ares.

Houve um silêncio horrível,

e aí um barulho estrondoso e batemos.

Meu pescoço deu um estalo. Uma dor aguda.

Capotar não dói desse jeito.

Lembro de o Frank dizer
depois de dez segundos:

“Você está bem?
Não consigo me mexer. Estou preso.

Me tire daqui. Desligue o motor”.

Já cheirava a gasolina.

Estava suspenso a uns 10 cm,
de cabeça para baixo.

Sangrava muito porque ele bateu a cabeça

com o impacto do teto.

Ele soltou o cinto e caí
com a cabeça sobre o pescoço.

Só me lembro de tentar estabilizar
a cabeça e o pescoço dele

e tirá-lo puxando por baixo dos braços.

E ele começou a dizer:
“Peter, eu sou católico.

Se algo acontecer,
quero que você me dê a extrema-unção.”

Estávamos guardando tudo

quando um jovem francês de lambreta
veio me procurar.

Ele disse que Frank Williams
havia saído da estrada

e queria ajuda.

Nelson disse: “Droga, é cheia de curvas.

Conheço a estrada. Vamos ver.”

PILOTO DE F1 1978-1991

Não sabíamos exatamente o estrago…

mas sabíamos que era algo muito sério.

Fomos para lá o mais rápido possível,

e a vida do Frank corria perigo.

PILOTO DE F1, 1980-1995

Nigel se responsabilizou
de ir com o Frank na ambulância,

segurar a mão dele, estar com ele.

Na época, temi pelo Frank,
pelo seu bem-estar e pela sua vida.

Alguém precisava manter o ânimo
e fazer a coisa certa, e rápido.

Mas já estava bastante claro

que havia grande chance
de ele ter quebrado o pescoço.

Quando liguei para Patrick Head,
eu disse que, pelo raio X,

o Frank havia quebrado
a coluna vertebral e estava…

Eu disse: “Acho que ele está ferrado.”

Ele estava muito mal.

No dia seguinte,
a Ginny e eu fomos a Marseille de avião.

Ela estava arrasada,
mas era uma mulher corajosa.

Eu tentei não entrar em pânico.

A vida dele estava por um fio.

“Eu me joguei sobre o Peter.”

Acho que fiz isso, desmaiei no ombro dele.

Certo.

A primeira vez que senti
que seria extremamente grave

foi quando o médico da UTI

chamou Ginny e eu ao consultório

e disse: “Quando querem levá-lo
para a Inglaterra?”

Entendi na hora
que sabiam que ele morreria,

e não queriam que morresse lá.

Ele me disse:
“O que mais quer que a gente faça

para manter seu marido vivo?” Meio grosso.

Falam assim comigo, eu retruco.

Eu me defendo.

Acho que ele pensou
que deveria deixá-lo morrer.

Eu mandei o médico fazer
todo o possível para ele viver.

Quando a Ginny soube que os franceses
deixariam o Frank morrer,

ela arrumou um avião
e o levou para Heathrow,

foi de ambulância ao hospital de Londres,

e, 20 minutos depois,
estava ligado a máquinas inglesas.

Ele estava num estado chocante.

Primeiro, fizeram
uma traqueostomia no Frank,

no hospital em Londres.

Correu tudo bem,

Frank ficou aliviado e pôde respirar,

pôde expelir a água dos pulmões.

A Ginny aprendeu a usar
a máquina que extraía o líquido,

para ajudar,

e em um dia ou dois já tirava sozinha.

Ela pensou: “Vou gerenciar as enfermeiras

ao redor do Frank
como ele dirige a equipe de corrida.”

Eu quis marcar meu lugar.
Deixar bem claro.

Era esse sentimento… tipo um cachorro

que marca seu território.

Quis deixar claro que era meu território.

Ginny ficou de guardiã dele.

Ele teve morte clínica três vezes.

Não fosse a Ginny pular sobre ele,

bombear os pulmões e o ressuscitá-lo,

não as enfermeiras nem médicos,
mas a Ginny,

ele teria morrido.

Lembro de um dia estar de folga
e a Ginny “de plantão”.

O chefe da UTI veio:

“Normalmente, Sra. Williams,
nesta situação,

desligamos as máquinas, mas precisamos
da autorização da família.”

E perguntei ao Peter:
“Ele disse para deixar o Frank morrer?”

E ele disse:
“Ginny, não, o Frank quer viver.

Ele terá que ajustar muita coisa,
mas tem os filhos.

Há árvores, luz do Sol, ele é determinado.

Todos o amam, ele é especial.

Ele não quer que a gente desista fácil.”

Você duvidou alguma vez
se Frank deveria ser mantido vivo?

Sim.

Aliás, eu disse para ele:

“Frank, sou seu melhor amigo,
faço qualquer coisa por você.

Se quiser, eu mato você sufocado.”
Juro que eu disse isso.

Eu disse: “Mas primeiro me convença

de que seus filhos não vão querer você
em qualquer estado.

Então, não me peça para fazer
algo que seus filhos não aprovem.”

Ele disse: “Não farei isso, David.”
Ele já falava.

“Eu nunca faria isso.”

AGONIA DO CHEFE DA CORRIDA

Escrevi este livro ainda pequena.

Escrevi: “Achei que seria legal
fazer um álbum do meu pai.

Eu queria ter onde guardar lembranças dele

antes que eu me esquecesse.

Espero que eu nunca esqueça
como ele era antes do acidente.

Todos acham que seu pai é o melhor.
Não sou exceção.

Adoro o meu pai.
Parece bobagem, mas ele é meu herói.”

Eu comecei a levar CDs para ele ouvir,
para passar o tempo.

Lembre-se que ele era maratonista.

Corria 19 km por dia
e ficava mal se não corresse.

Foi uma mudança radical na vida dele
quando ele sofreu este acidente.

Que tipo de música levava para ele?

Bach.

Eu achava o meu amigo, Frank,
indestrutível.

Ele se safava de tudo.

Frank vai ficar bem.
Só que desta vez, não.

Eu o visitava duas, três vezes por semana.

Sempre dava um beijo nele.

Eu dava um beijo na testa.

Dizia: “Seu amigo Brode está aqui.”
Ele piscava os olhos.

Ele não podia falar,
coisas na boca, no nariz.

Era horrível de ver.

No começo, foi muito desconforto
e muita dor. É inevitável

quando uma parte do seu corpo
leva uma pancada forte.

Mas não posso dizer que foi terrível.

Não me lembro muito disso.

O corpo tem ótimos meios para se proteger

quando sente dor ou desconforto.

Primeira coisa que disseram:
“Pescoço quebrado, recuperação longa.

O quanto vai recuperar é incerto.”

Claro, sabiam que eu não me recuperaria,

mas não se diz isso a alguém
logo que acorda:

“Você se ferrou de vez, cara.”

Acho que pela primeira vez,
a Virginia desmoronou na minha frente.

Foi um momento horrível.

Eu lembro de abraçá-la,

e ela dizia:
“Frank vai ficar tetraplégico.

Ele não anda, Jamie. Não pode fazer nada.”

E eu: “Vai ficar tudo bem.”

Mas eu tinha essa sensação.
Não sabia se ia ficar tudo bem.

Por muito tempo, três ou quatro meses
após o acidente,

não havia certeza se ele
poderia um dia sair do hospital.

E para todos os propósitos,
ele estava morto para a equipe.

Lá estávamos nós, com o carro mais veloz.

Venceríamos todas as corridas,
com dois pilotos fantásticos,

estava tudo certo, e de repente, o chefe,

a figura chave,
sofreu um acidente horroroso,

e foi uma mudança radical.

Acho que foi aí que percebemos:

E agora, para onde vamos?
O que será de 1986?

Esperamos abrir o GP do Brasil
e a temporada de 1986.

Infelizmente, Frank Williams,
chefe da equipe Williams, não veio

devido a um grave acidente na França.

PENA VOCÊ NÃO ESTAR AQUI, FRANK

Para a equipe,
é mais um incentivo para correr bem.

NÃO SE PREOCUPE, FRANK
ESTAMOS CUIDANDO DE TUDO

Eles entraram com tudo.

Em vez de tristes, disseram:

“Diga ao Frank para não se preocupar.

Venceremos as próximas corridas.”

Dada a largada.

Início incrível de Nigel Mansell,
que já passou Nelson Piquet.

Senna, Mansell e Piquet

é a ordem em que estão agora.

Mansell está grudado no Ayrton Senna.

Na primeira corrida,
Nigel bateu na primeira volta

tentando passar o Senna
numa manobra bem idiota.

Mansell parece estar fora,

e na segunda posição, Piquet.

Alboreto em terceiro lugar.

E tentando a liderança,
aí vem Nelson Piquet.

Nelson Piquet lidera na terceira volta.

Esta é para você, Frank.

Nelson Piquet vence o Grande Prêmio
do Brasil de 1986,

e podem ouvir a multidão enlouquecida.

Foi um dia muito especial para mim.

Foi um ótimo presente para o Frank.

Ele está lá em seu leito,

e acho que ficará feliz ao ver a corrida.

Esperamos que Deus ajude o Frank.

Nosso carro era melhor,

e a única coisa que nos impediria

de ganhar o campeonato

seria uma rixa interna
entre o Nelson e o Nigel.

Acho que aquilo foi usado
para motivar o Frank.

Precisamos de você, Frank,
para segurá-los.

Haverá problemas se deixarmos
os dois correrem soltos.

Precisamos resolver isto logo.

Nelson disse que o Frank disse:
“Você será o piloto número um.

Sempre terá o carro extra,
e a equipe girará em torno de você.”

Eu fui lá vencer o campeonato.
Fui como o piloto número um.

Mas Nigel não aceitava ser segundo piloto.

Ele dirigia o mais rápido que podia

e muitas vezes era mais veloz
que o Nelson.

Nigel ia em cima dele, era agressivo.

Nelson me disse:
“Era ser o segundo ou morrer.”

Acho que fui um pesadelo
como segundo piloto,

sendo veloz como eu era.

Era um horror.

Eles se odiavam.

Nelson insistiu que fôssemos ao hospital

falar com o Frank,
que estava quase morrendo.

Dizer: “Frank, você disse isso e isso,

e Patrick dirige a equipe
como se ambos fôssemos o número um.

Não foi isso que você me disse.”

E acho que o Frank
não podia nem responder.

Ele estava quase desmaiado.

Quando as coisas não iam bem
como Nelson queria,

quando Nigel era mais veloz,

Nelson achava que só podia ser

porque Mansell tinha
tratamento preferencial.

Toda a equipe britânica
preferia o piloto britânico.

A Williams certamente queria
um campeão britânico, não eu.

Nelson acha que o Nigel
era preferido por ser britânico.

Não acho isso verdade.

Poderia ser, mas o Nigel era tão chato

que era difícil pender para o lado dele.

Certa vez,
ele estava reclamando de alguma coisa:

“Viu o que ele fez comigo?”, na rádio.

E Patrick disse, na rádio:
“Que saco, não reclame, Nigel”,

ele desligou o rádio.

O Patrick cuidou da empresa
na minha ausência.

Foi duro para ele.

Ele ficou com o peso enorme
das responsabilidades.

Ele não estava pronto.

Eu estava até o pescoço

com dois caras determinados
a ser campeões mundiais

e não queriam me ouvir dizer:

“Não posso cuidar bem dos seus carros

porque estou preocupado
com Frank Williams.”

Foi uma época muito estressante
e difícil para a equipe.

Para mim, foi tudo um desastre,

mas Frank não estava lá.

Eu não podia ir ao hospital

dizer: “Frank, aconteceu isso e aquilo.”
Não era justo.

O problema dele era muito maior que o meu.

Frank ainda estava na UTI,

e ficou na UTI por muito tempo.

Acho que só doze semanas depois

ele conseguiu ir para casa.

Foram as semanas mais longas
que você pode imaginar.

Ficamos aliviados e felizes
de ter meu pai de volta.

Ele estava em casa agora.

Sim, a vida era diferente,

mas ainda tínhamos nosso pai,
ainda éramos uma família.

Ele ainda tinha a Fórmula 1,
e isso deu forças a ele.

Frank Williams ficou tetraplégico.

Dos ombros para baixo,

ele não controla as funções do corpo.

Menos de seis meses depois do acidente,

ele forçou a movimentação dos ombros,
que funcionavam parcialmente,

para empurrar a cadeira.

Os braços eram pistões
de carne e osso, ele não sentia.

Está paralisado dos ombros para baixo.

Ele pode levantar os braços.
Se quiser coçar o rosto,

ele empurra as mãos até o rosto.

CUIDADOR DO FRANK

Mas ele não pode usar os dedos.

Por que “Inferno em rodas”?

Porque a vida do meu pai
é um inferno na cadeira.

Ele vive com muita dor.

Acho que as pessoas não sabem

quanta dor o Frank sente todos os dias,

todos os minutos de todo dia.

Você não saberia, não é?

Não, você nem imaginaria
que ele tem do que reclamar.

Ele nunca acha que tem do que reclamar.

Que foto linda da mamãe…
Papai está ruim, mas ela está bem.

E a Ginny? Como a Ginny reagiu?

Ela é uma mulher muito forte,
não se abate.

Ela cuidou muito bem de mim.

Deve ter sido duro para ela.

De repente, você não é mais marido

e ficam um tempão cuidando de você.

É difícil para quem não morou
com um tetraplégico

saber como é quase perder o marido,
mas não totalmente.

Como era não poder dormir com o Frank?

Não falo de sexo, mas o aconchego.

Eu me lembro de pensar:

“Não vou poder dormir
na cama com o Frank.”

Dormi várias noites sem ele na minha vida

porque ele estava fora,

mas a realidade bateu.

Nunca mais passarei a noite
na cama com ele.

O relacionamento deles certamente mudaria.

Frank exigia cuidados o tempo todo,
dia e noite.

Já que era uma vida
diferente para o Frank,

seria igualmente diferente
para a Virginia.

PREFÁCIO

“Geralmente eu não faço
resoluções de Ano-Novo,

mas no final de 1988,
resolvi que no ano seguinte

eu anotaria tudo que aconteceu
entre mim e o Frank

nos últimos 20 anos,
antes e depois do acidente

que o deixou paralisado
do pescoço para baixo.

Pensei que seria um exorcismo,

um modo de tirar isso de mim
e olhar para frente de novo.”

Ao ler, pensei: “Deus,

ela passou por tudo isto
sem falar com ninguém.”

Não dividiu este peso com ninguém.

Por que acha que ela dividiu então?

Ela disse ser um exercício
de catarse para ela,

porque meu pai era o astro, não?

Ele que era o famoso.

Sempre comentam do meu pai:

“Frank Williams é incrível,
é maravilhoso.”

Ela sempre ficou em segundo plano.

Ela não fez isso
por querer fama nem lisonja.

Foi porque queria que as pessoas
soubessem da história toda.

“Ele se lembra pouco
dos primeiros dias depois do acidente.

Ele nunca me perguntou sobre a França

ou o hospital em Londres

nem como foram
estes últimos anos para mim.

Agora ele vai saber.”

Você leu o livro dela?

Não, não quero ler.

Por que não quer ler?

Nele há uma emoção peculiar.

Eu gostaria que ele lesse

porque acho que seria
em respeito à minha mãe

entender o que ela sofreu.

Mas eu, bem, eu acho…

Não sei, acho que deve ser
demais para ele ler isso.

Ele não vê necessidade,
mas eu gostaria que lesse.

Acha que um dia o lerá?

Talvez antes de eu morrer,
mas não agora, com certeza.

Esta foto deve ser do primeiro GP
do Frank depois do acidente.

A vida mudou muito para todos.

FRANK APARECE EM PÚBLICO
PELA PRIMEIRA VEZ APÓS ACIDENTE

NO GRANDE PRÊMIO DA INGLATERRA
DE 1986

Quando Frank surgiu na cadeira de rodas,
as pessoas enlouqueceram.

É ótimo estar com a equipe,
estar na pista outra vez.

BEM-VINDO FRANK
DE BRANDS HATCH

Na pista,
Frank Williams comemora o sucesso

pela primeira vez nesta temporada.

Piquet e Mansell ficaram em primeiro
e terceiro lugares no treino.

Ele fez uma visita simbólica,

mas estava resolvido a estar lá

para mostrar ao mundo da Fórmula 1
que ele ainda estava lá

e ainda no comando de tudo.

Mas ele não participou de nada

e foi somente para aparecer.

Meu pai só foi na sexta-feira,
no dia do treino.

Foi só que ele pôde aguentar fisicamente.

Deu vermelho e largaram!

Piquet está liderando.
Mansell em segundo na reta Clearways…

Os dois carros da Williams
brigando pela pole,

grudados, lado a lado,
quase uma roda na outra.

Nelson e Nigel começaram
a competir feio um contra o outro.

Nigel não tinha medo de estar
a centímetros de alguém

se fosse preciso. Ele ia.

Era uma disputa séria entre
os dois pilotos da Williams Honda.

E aí vai Nigel Mansell
em primeiro no GP da Inglaterra,

passando o seu maior concorrente.

Piquet vai tentar passar
descendo pela Paddock.

E Mansell guarda sua posição na corrida.

Não existe ordem entre esses dois.

Acho que foi a primeira vez
que eu não curti ver a corrida,

as minhas mãos estavam suadas

pensando no que aconteceria entre eles.

E acho que o Frank estava vendo pela TV,

talvez tão nervoso
quanto o resto da equipe.

Piquet tenta passar por dentro,
mas foi bloqueado.

E Mansell continua na liderança.
Inacreditável!

MOSTRE PARA ELES, NIGEL

Nigel Mansell na última curva,
passa pela largada

e Mansell vence a corrida.

Maravilhoso! Bela corrida.

Nigel deu máximo de si, fez o impossível.

Ele agora é o líder no campeonato mundial.

Ouçam a multidão!

Depois da corrida,
não era normal um gerente de equipe

ou representante subir ao pódio,

mas nesta ocasião,
porque o Frank participou do treino,

e por ser o Nigel e em Brands Hatch,

convidaram a Ginny
a aceitar troféu de construtor…

em nome do Frank.

Agora, atrás de Alain Prost,
a mulher é Ginny Williams.

Vocês logo a verão.

Ginny Williams e Patrick Head,
designer do carro vencedor da Williams.

Que grande dia.

Lá está a Ginny segurando o troféu.

Esta é a minha foto predileta da Ginny

porque a expressão no rosto dela é de:
“É isso aí!”.

Foi um momento incrível
por causa do que a Ginny passou,

pois o acidente não aconteceu
só com o Frank, aconteceu com todos.

A pessoa mais íntima
a sofrer com isso foi a esposa.

Oi, Preston.

NO INÍCIO DA TEMPORADA DE 1987,

FRANK VOLTOU AO TRABALHO
PELA PRIMEIRA VEZ APÓS O ACIDENTE

-Tudo bem, Jimmy Jock the Noo?
-Tudo, Frank.

Biggles no comando aí?
Trabalho duro, hein?

A melhor terapia para o Frank
foi voltar ao escritório

com um telefone que ele ganhou do Nelson,

que permitia a ele tocar números na tela.

Ele tinha um fone de ouvido
para fazer ligações.

Para ele mesmo dizia:
“Enquanto estiver ao telefone,

enquanto puder falar, estarei na corrida.”

É na Rua Basil Hill.

Como acha que a deficiência
afetou a cabeça do Frank?

Perguntei a ele algumas vezes
quando estávamos a sós

se ele pensava em correr de novo
e coisas assim.

Mas ele disse que não pensa mais nisso.

Ele está em paz com a situação.

Ele passa essa impressão.

Ele não fica pensando: “Merda,
eu deveria ter…”

É ir para frente.

Digo de verdade, não é me gabar,

eu tinha um grande negócio em mente.

-É como viver a vida com uma ereção.
-É mesmo?

Você não inveja o que faço?

Gerenciar e ser dono de uma equipe do GP.

Gerencio carros de corrida
e pilotos famosos o tempo todo.

É um enorme privilégio.

Sabe que é aniversário do Jamie hoje?

Pai,
escolha o cartão que quer dar para ele.

-Está aqui. Tem 28?
-Ele tem 32 agora, pai.

Verdade?

Essa é a minha assinatura.

Parece de bêbado…

Pode escrever: “Papai levou
duas horas para fazer isto, Jamie.”

Meu pai sempre nos dá dinheiro
de aniversário.

Vou dar dinheiro? Cadê?

Vai dar dinheiro para ele.

Se meu pai pudesse,

mas ele não sabe mais o valor do dinheiro,

pois não entra numa loja há 45 anos,

ele nos daria 50 libras.

-Temos de fazer isso por ele.
-É mentira.

É verdade. Você não sabe o preço de nada.

-Não.
-Quanto custa um jornal?

Uns 15 pence.

Quinze?

Eu quero dizer, pessoalmente,
aqui com o meu pai,

que agradeço a todos pelo trabalho
que realizaram este ano.

Sei que foi
uma longa temporada para todos.

Sei que talvez haja certa decepção

por não ter sido melhor,

mas acho que todos devem
se lembrar de onde viemos.

Há apenas dois anos
estávamos em nono no campeonato.

Quando a Williams pegou
terceiro em Abu Dhabi,

entrei na garagem no final da corrida

e fiquei esperando as câmeras
terminarem com a Claire.

E disse: “Acho que sua mãe está aqui,

cuidando de você,
e ela está feliz da vida.”

Disse ao meu pai: “Parece que
ela se foi faz uma eternidade.”

Ela teria sido uma gerente brilhante.

Acho que ela teria sido

a melhor gerente de equipe
de Fórmula 1, se permitissem.

Acho que ela teria adorado essa função.

Nelson é um excelente engenheiro
de corrida, conhece o carro.

Talvez todo mundo tenha
transmissão automática nova,

mas em outras coisas pode estar
sempre um passo atrás.

Virginia teve o câncer diagnosticado
no verão de 2010.

Acho que no fundo ela sabia
que ele a atingiria,

era uma questão de quando.

Ninguém nunca imaginou isso com ela,

pois ela era saudável, em forma,
e o Frank não.

Então acho que ninguém pensou

que ela era tão vulnerável assim.

Sinto falta dela. Era uma bela mulher.

Não sei como o Frank vive sem ela,

pois ele não tem muita gente
com quem conversar em casa.

É muito triste.

Acho que o afetou profundamente,

talvez muito mais do que ele imagina.

E acho que depois da morte dela

que ele foi perceber o quanto a amava.

Ela era o pilar da vida do Frank
fora das pistas.

Era a única coisa.

Ele dizia: “Nem quero mais ir para casa,
a Ginny se foi.”

Ele dormia no apartamento da fábrica.

Ele não ia para casa. Para quê?

Eu durmo lá no corredor quase toda noite.

Lá na sua fábrica?

-Como se sente?
-Bem, só com um pouco de frio.

Mas está ótimo e quentinho aqui, pai.

Aqueci mais a casa.

-Você não leu o livro, não é?
-Não. Preciso fazer esse esforço.

Deveria fazer um esforço.
É um livro incrível.

-Você tem de ler.
-Vou ler, sim.

Deveria mesmo. Embora seja bem triste.

“Às vezes sonho com o Frank
correndo em Berkshire.

E tudo está bem.

E cedo, naquela fração de segundo
entre dormir e acordar,

eu às vezes me esqueço,
como esquecemos qual é o dia,

que o Frank está paralítico.

A faca afiada da realidade
se retorce em mim,

me devolvendo ao presente.

Como deve se sentir o Frank
nesse momento de semiconsciência?

Que pesadelo acordar
prisioneiro do próprio corpo,

sem nem poder sair da cama
até alguém vir tirar você.

Frank também sonha.
Ele diz que também corre nos sonhos.

Sua recuperação foi mágica

e estão todos felizes
de vê-lo voltar a correr

e se viram para vê-lo passar.

Nós sempre tivemos
personalidades bem diferentes.

Frank nunca perdeu tempo
remoendo o passado.

É um de seus predicados.

O passado não é nada,

seja um campeonato ganho ou perdido,

ou um acidente que o paralisou…
foi ontem, é entediante.

O que conta é o hoje e o amanhã.

Eu, ao contrário,
sou mais feliz no passado.

Prefiro o passado ao futuro.
Isso hoje me assusta.

Aonde foram meus sonhos?

Queria envelhecer com ele,
morrer nos braços do Frank.”

Vou começar a chorar.

“Nós amadurecemos com a experiência,

mas se uma fada
oferecesse um condão mágico

que nos levasse de volta a tudo
quando me casei com Frank,

eu não hesitaria um segundo.

Eu trocaria, feliz, as casas,

os jatos executivos, quartos de hotel,
Rolexes de ouro,

por apenas uma noite
num quartinho qualquer no mundo

com o homem egoísta, engraçado,
antipático, carismático com quem me casei.

Eu rio muito mais hoje.
Me ajuda a parar de chorar.”

-É tão triste.
-Não pare de ler.

Não leio desde que ela morreu,

e ele fala da dor que levará com ela

pelo que aconteceu com você.

Você deve ter orgulho.

Ainda acho que ele era mais feliz
nos dias difíceis

do que naqueles com bandeiradas,
quando ganhávamos toda corrida.

Parece estranho dizer,
mas acho que ele precisa de um desafio.

Acho que com isso ele cresce.

Ele está na corrida para correr.

Entrou nisto por amor.

E ir às corridas?

Acha que vai poder ir aos GPs deste ano?

Por que não?

Não sei. Ordens médicas?

Estou bem.
Estou paralítico, mas acho que eu…

Eu não tenho um dia de folga há anos.

Eu nunca fico doente, nunca fiquei.

A personalidade do Frank não mudou.

Sua capacidade física mudou,

mas sua abordagem com a corrida,

o amor e a obsessão pela Fórmula 1,

são iguais hoje
como tem sido desde que o conheço.

Como un hombre se retira?

Que no se retirará. Die trabajo.

Frank nunca parará. Sólo cuando cierras los ojos una vez.

¿Usted piensa que un día verá el Williams en la cima de nuevo?

Claro que es posible.

Subtítulos: Katia Pirozzi