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12 DE AGOSTO DE 1944

Pfennig.

Venha.

Ent�o,

voc� vai na frente.

Se ela tiver c�mplices,
voc� morre primeiro.

Se estiver sozinha, � voc�
que ter� o prazer de mat�-la.

Pegue.

Pegue!

Com uma comunica��o,

posso ordenar que sua irm�
seja jogada aos c�es da SS.

Ap�s os treinadores de c�es
acabarem com ela.

Anda.

Anda!

Isso mesmo.

Parado!

- Marie!
- Ela est� segura. Eu prometo.

Voc� atirou no seu comandante.

� uma longa hist�ria.

Marie! N�o preocupe.
Est� tudo bem!

A fechadura da porta quebrou!

Vai precisar p�r
a tranca por dentro.

Os americanos est�o a caminho.
� s� uma quest�o de dias.

Suas transmiss�es ajudam
a guiar o bombardeio.

Aguente firme mais um pouco.

A instru��o de hoje est�
na porta, na altura da tranca.

Nossos aliados far�o o resto.

Ajude aqui.

Vamos deixar os corpos aqui?

Tenho amigos
que v�o recolher o lixo.

V�o buscar o carro
e dar os corpos �s gaivotas.

�timo.

Ent�o o nome dela � Marie.

N�o quero o nome
dela na boca de alem�o.

N�o sei quem voc� �,

mas quero ouvir
sua longa hist�ria.

Tire esse casaco.

Voc� vem comigo.

Marie! Estou fechando a porta!
Des�a para trancar.

Vamos.

Cap�tulo 22.

Parte 2.

BASEADA NO ROMANCE
DE ANTHONY DOERR

QUER SE JUNTAR A N�S?
E-MAIL | loschulosteam@gmail.com

QUATRO ANOS ANTES

Surpresa!

Daniel?

Tia Manec, esta � minha menina,
Marie. De quem tanto falei nas cartas.

Muito prazer, Madame Manec.

Que enorme prazer conhecer voc�.

- Entrem.
- Obrigada.

- Obrigado.
- D� aqui.

Mais uma.

O tio Etienne n�o gosta
de visita, mas aqui estamos.

Meu irm�o vai se adaptar.
Venham!

- Onde estamos?
- Na cozinha.

- Ele est� em casa?
- Claro que est�.

Est� no s�t�o
mexendo no r�dio dele.

Etienne?

Tio Etienne?

Ele n�o vai ouvir.
Usa fone de ouvido.

Que tipo de r�dio ele tem?

Um r�dio muito irritante que o absorve
24 horas por dia e controla a mente dele,

mas � melhor do que ficar
contemplando o mar,

que � o outro
h�bito que ele tem.

Daniel.

Espero que diga todo dia
como ela � bonita.

Tia Manec,
ela � cega, n�o surda.

Eu vou ser
o espelho na parede dela,

e eu que vou dizer a ela
quando deixar de ser bonita

e se tornar linda.

Tia Manec,
perdoe a indelicadeza,

mas estamos
na estrada h� tr�s dias

vivendo � base
de folhas e p�o dormido.

- Ovos roubados e carro roubado.
- Certo�

Eu at� dirigi o carro.

Ela n�o precisa saber detalhes.

Agora preciso saber
dos detalhes! Venham, sentem!

Procurem abrigo!

V� alguma coisa?

- � g�s?
- Que � aquilo?

G�s!

Etienne!

Ponham a m�scara!
A m�scara est� dentro do estojo!

Etienne! N�o sei o que fazer.
N�o sei como funciona.

Tudo bem.

Tudo certo!

Ponham a merda da m�scara�

Etienne!

Tio Etienne!

- Sou eu! Daniel!
- Sim! Estou aqui.

Posso entrar?

A porta est� trancada.
Um segundo.

Eu sei que n�o gosta
de surpresas.

- Daniel.
- �.

Faz tanto tempo.

Posso entrar?

N�o.

Ou melhor,
acho que n�o vai querer.

Deixo a janela fechada
por causa do barulho.

Tomo susto f�cil.

Enfim, o ar deve estar
impregnado com a minha presen�a.

S� sinto cheiro de lil�s.

� minha col�nia.
A �ltima tolice que me resta.

Vou descer.

O que ouve o dia inteiro?

Voc� sabe, o mundo falando
consigo mesmo como um louco bravo.

Para que usa o microfone?

Tio Etienne, fazer
transmiss�o de r�dio � ilegal.

- D� pena de morte.
- �?

N�o costumo ler jornal.

Espere�

Sinto o cheiro
de um omelete famoso.

Que honra a sua.

Ela est� usando
alecrim e tomilho.

Acho que a honra n�o � pra mim.

N�o vim sozinho.

Ent�o,

vou contar sobre meu irm�o,
Etienne.

Soube que gosta de r�dios.

Vou contar sobre ele.

O tio Etienne foi
her�i de guerra.

Ele ganhou muitas medalhas,
e jogou todas no mar.

O mar que voc� v� pela janela.

N�o posso ver o mar,
Madame Manec.

Nossa. Me perdoe.

Ele � her�i de guerra.

As coisas que viu na guerra,
n�o consegue deixar de ver.

Ele v� quando fecha os olhos,

principalmente quando h�
barulhos altos ou inesperados.

Carros e grasnidos de gaivotas.

Ent�o, durante 20 anos,

quase desde o dia
em que voltou da guerra,

ele fica aqui,
dentro desta casa.

Ele nem vai � praia?

Ele nem vai � praia.

Ele diz que viaja
o mundo pelos livros,

mas raramente o vejo lendo,

e pelo r�dio, do qual
raramente o vejo sair de perto.

Falo sobre ar fresco e luz.

- Sabe o que ele responde?
- O qu�?

Ele diz

que a luz mais importante no mundo
� toda luz que voc� n�o pode ver.

Marie�

este � meu tio Etienne.

Etienne,
esta � minha filha, Marie.

Marie, est� tudo bem?

Est�.

Seu pai contou que fizeram
uma viagem curiosa at� aqui.

Desculpe.

N�o escutei. Poderia repetir?

Seu pai contou que fizeram
uma viagem curiosa.

Foi uma viagem curiosa mesmo.

Tem um r�dio?

Tenho.

O senhor faz transmiss�es?

Etienne, eles est�o famintos.
Corte umas fatias de p�o.

Bem-vinda, Marie.

O p�o, Etienne.

Tudo bem?

O caf� da manh� est� servido.
Comam!

Cheirinho de "enfim em casa",
Marie. Coma.

ST. MALO AGOSTO DE 1944

Tudo bem, Henri.
Ele est� comigo.

Empurre aqui.

Longe do forno, alem�o.

Seu pa�s gosta de fornos,
n�o gosta?

Ter� mais ataque a�reo � noite.
H� muito a fazer.

V� tentar dormir um pouco.

- E voc�?
- Vou interrogar o prisioneiro.

Quando eu disse que voc� atirou
no seu comandante,

explicou que era
uma longa hist�ria.

Voc� disse ter interesse
no nome da mo�a na casa.

Marie. � um nome bonito.

Por que tem interesse nela?

� a mesma longa hist�ria.

Voc� rastreou o transmissor
que ela est� usando.

Onda curta 13.10.

O que tem ela?

Quando garoto, a onda
curta 13.10 era minha esperan�a.

A onda curta 13.10

era minha fuga.

Meu ref�gio.

Acho que o senhor
n�o entenderia.

Tente explicar.

Os bombardeiros
s� v�m ao p�r do sol.

Sempre tive interesse em r�dio.

E, quando garoto,
isso me meteu em muita encrenca.

Que encrenca?

INSTITUTO NACIONAL DE
EDUCA��O POL�TICA MAIO DE 1942

N�o pensem!

N�o parem para pensar!

Receberam uma ordem
e v�o executar com gosto!

O pensamento mata a a��o!

Friedrich Nietzsche diz
que n�o precisamos considerar nossos atos!

N�s devemos simplesmente agir!

Seu pai � o F�hrer,
e ele mandou pular!

Pule!

Venha c�!

Venha.

O que � a dor? A dor n�o � nada!

Continuem!

Em cada caixa,

voc�s v�o encontrar todos os componentes
de um transceptor de r�dio simples.

Voc�s t�m uma hora para montar
um r�dio que funcione

a partir de agora.

Somos ca�adores, n�o ca�a!

O le�o n�o � livre
para se tornar cordeiro!

R�pido!

Os fortes n�o s�o livres
para serem fracos!

Os fortes devoram os fracos!

Andem!

R�pido!

Mozart, Vivaldi, Bach,

nenhum deles fez tanto pela ra�a
humana quanto Otto Grottingen,

o inventor alem�o
do r�dio acess�vel.

O pr�prio Goebbels
disse: "Sem o r�dio,

o partido nazista
n�o teria chegado ao poder."

O que est�o montando
� uma arma de guerra.

Cinquenta e tr�s segundos.

Volkheimer, v� at� a floresta.

V� at� onde der em dez minutos,
depois ligue o transceptor.

V�.

Comece.

N�o.

Guarde isso.

Quando estiver
na Frente Oriental,

nem sempre ter� papel e caneta
para fazer c�lculos.

Frente Oriental?
N�o sou muito jovem?

A Alemanha precisa de g�nios.

Aqui, pegue.

Fa�a os c�lculos na lama.

O Volkheimer
est� 1,2 quil�metros

ao su-sudeste daqui.

Werner,

idade � s� um n�mero.

A genialidade � um talento.

Depois disso, foi r�pido.

Entrei no corpo de sinaleiros

e, por fim,
fui para a Frente Oriental.

E l� perseguiu guerrilheiros�

O que houve quando cheguei l�
tamb�m � uma longa hist�ria.

As coisas que vi�

Elas me assombram.

V� para o por�o.

Os outros voltam � noite,
e ter� um julgamento.

Explicarei que voc� foi enviado
contra sua vontade.

S� v�o querer saber o que fez
depois que se tornou soldado.

Eu fiz coisas ruins.

Muitas coisas ruins.

Tamb�m fiz coisas ruins.

Obrigado.

Voc� nunca explicou�

Qual � o seu interesse
nessa garotinha cega

que o machucou tanto?

N�o � t�o garotinha.

A vadia quase
quebrou meu cr�nio.

Ela est� com algo
que n�o � dela.

Posso perguntar o que �?

� um diamante.

Deve valer muito.

Vale mais que dinheiro para mim.

Tr�s anos atr�s,
recebi o diagn�stico.

Meu corpo est� se consumindo.

Um pouquinho por dia.

E um diamante � a cura?

Creio que sim.

Faz tr�s anos
que estou atr�s dele.

Tr�s anos.

MUSEU DE HIST�RIA NATURAL
PARIS - MAIO DE 1941

- Quem levou?
- N�o fa�o ideia.

V� at� este endere�o.

Se tiver mulher e crian�a,
fuzile-as

se o homem
n�o chegar em 30 minutos.

N�o.

Agora � o rel�gio que manda.

Vamos come�ar de novo.

Se disser a verdade,

chegar� em casa
a tempo de salvar sua fam�lia.

Quem levou as joias
que estavam neste cofre?

Ele se chama Daniel.

Daniel LeBlanc.

O chaveiro do museu.
Deus me perdoe.

Aonde ele foi?

Juro que n�o sei. Ele n�o disse.

Mas as joias que procura

v�o para Genebra.

Est�o escondidas dentro
da cabe�a de um dinossauro.

Se avisar aos soldados
no posto de controle

no per�metro da cidade,

todas as joias que estavam aqui
ser�o suas.

Agora, eu posso ir para casa?

Por favor.

Segundo o arquivo,

havia uma pedra
em especial neste cofre

que valia mais
que todas as outras juntas.

O nome dela � Mar de Chamas.

Era guardada aqui?

Sim, mas nunca foi exposta.

Existe uma supersti��o.

Uma maldi��o.

Esse Daniel LeBlanc tocou
a pedra com as pr�prias m�os?

Ele n�o cr� em maldi��es.
� um homem da ci�ncia, como eu.

S� n�s dois peg�vamos na pedra.

- S� ele e voc�.
- Por favor.

Por favor, me deixe ir.

- Ele estava s� quando levou as joias?
- Sim.

N�o. Estava com a filha.

Uma mulher?

Garota.

Ela � cega.

Ele tem uma filha que � cega?

Ent�o talvez o Daniel LeBlanc,
homem da ci�ncia,

devesse rever
o desd�m pela supersti��o.

Aonde Daniel LeBlanc e essa garota
cega amaldi�oada foram?

J� disse que n�o sei.
Juro que n�o sei! Juro por Deus!

Juro pela vida dos meus filhos.
Eu n�o sei, senhor, aonde ele foi!

Sabe qual � a maldi��o
do Mar de Chamas?

Por favor. S�o pelo menos
15 minutos at� em casa.

Por favor, me deixe ir!

Quem o possui vive para sempre.

Por favor, senhor�

Mas seus entes queridos
sofrem uma terr�vel desgra�a.

Voc� devia, ao menos,
ter usado luva.

N�o! Ainda d�
tempo de chegar em casa!

Por favor,
me deixe salvar minha fam�lia!

Achamos a cabe�a de dinossauro.

Mas o Mar
de Chamas n�o estava l�.

Acha que est� com a garota cega?

Sabe,
quando os americanos chegarem,

o povo daqui vai me arrastar
pra rua como traidora

por me deitar com alem�es.

V�o raspar minha cabe�a,
me cobrir de piche

e jogar travesseiros cheios
de penas em cima de mim.

Depois v�o me enforcar.

Todos enfrentaremos o destino
quando os americanos chegarem.

Consegue me tirar da cidade?

Por que eu faria isso?

Porque sei onde
a garota cega mora.

Assim termina o cap�tulo 22, parte
dois, de Vinte Mil L�guas Submarinas.

Papai, se estiver ouvindo,

quase fui morta ontem � noite
por causa de uma pedra.

Estou procurando o Mar
de Chamas! Onde est�?

N�o sei quanto tempo tenho
at� aquele alem�o me encontrar.

Mas, at� l�, continuarei aqui,

onde tudo come�ou.

Depois de todas as bombas,

de toda a fuma�a,

ainda sinto o cheiro de lil�s.

S�o cinco degraus.

Virando � esquerda.

S� deixo voc� entrar
porque n�o pode ver a bagun�a

e n�o vai me julgar.

Lil�s?

O cheiro de lil�s
me remete a tempos felizes,

quando eu era
jovem e meio d�ndi.

- Sabe o que � d�ndi?
- N�o.

�timo. Sente aqui.

Certo.

Isso. Est� sentada
na frente do meu r�dio.

Se eu ligar aqui�

Aqui � o receptor,

e esse bot�o me leva
ao mundo todo em segundos.

Num instante estou na �frica,

depois Cuba, Austr�lia,

depois a bateria acaba,

e preciso buscar
uma nova no por�o.

Para que � o microfone?

O microfone �
conectado ao transmissor,

e �s vezes uso para acrescentar
minha voz ao vozerio.

O que o senhor diz quando fala?

Digo: "O mundo
n�o � um lugar lindo?"

Depois pergunta:

"Ent�o por que o destru�mos?"

N�o � isso que diz?

�s vezes, quando falo,
as palavras se escolhem sozinhas.

Etienne�

Posso cham�-lo de Etienne?

Porque "tio-av� Etienne"
parece nome de imperador.

Sou um imperador,
mas s� dentro deste s�t�o.

Etienne, parece que j� conhe�o
voc�, s� que n�o por esse nome.

Marie, voc� deve descer.

Seu pai quer
levar voc� at� o mar.

- N�o quer vir junto?
- N�o.

Por que n�o?

Porque v� coisas
que n�o est�o l�, n�o � mesmo?

Coisas que n�o esquece.

Marie, seu pai a espera.

Quando o ouvi falando l� embaixo,
tive certeza de que conhecia sua voz.

Durante grande parte da minha vida,
escutei as transmiss�es de um homem

que se chama de professor
na onda curta 13.10.

Voc� � o professor.

Que absurdo.

Tenho cara de professor?

N�o sei como � sua cara,

mas conhe�o vozes
como se fossem rostos.

Voc� � o professor.

Eu nunca soube com certeza
se tinha algu�m escutando.

Eu estava sempre escutando.

Acho que muitos de n�s.

Bom,

o professor j� era.
Eu o aposentei

e agora uso o r�dio
pra coisas mais importantes.

O que pode ser mais importante
do que tudo que nos disse?

Marie, ou�a.

N�o conte isso a ningu�m,
entendeu?

Sim.

O seu pai est� esperando.

Aqui.

Obrigada.

- Cuidado na escada.
- Eu sei.

- Cinco degraus.
- Na verdade, seis.

� esquerda.

� esquerda.

O que achou do mar?

Parece a respira��o
de algu�m dormindo.

Sempre achei que parecia o mundo
recuperando o f�lego repetidamente.

Recuperando o f�lego.

Gostei.

Talvez precisemos ficar
aqui um tempo. Gosta da ideia?

- Adoro.
- �timo.

Madame Manec disse que o tio
Etienne foi her�i de guerra,

mas ele n�o parece
her�i de guerra pra mim.

Se voc� prender um tigre
numa caixa de metal,

vai parecer uma caixa de metal.

Estou pensando em come�ar na rua
da orla e terminar na pra�a da cidade.

Come�ar o qu�?

Vou construir uma maquete
pra voc� explorar com os dedos.

Do contr�rio,
vai ficar presa em casa.

Vai virar o tio Etienne.

Quando eu souber de cor,

vou levar o tio pra passear, vou
mostrar a cidade a ele. O senhor ver�.

N�o duvido,
mas agora preciso trabalhar.

Pronto.

Como voc� vai
medir a cidade inteira?

Um passo de cada vez.

E o louco sou eu.

312, 313, 314,

315, 316, 317,
318, 319, 320, 321,

322, 323, 324.

Aqui est� a madeira.
Segure aqui.

E pode lixar. Pronto.

Chega de caf�, tio Etienne.
Estou no fim.

N�o, � pra mim,

e � conhaque.

A medi��o das ruas j� acabou,
certo?

Quase. Por qu�?

Madame Manec foi ao a�ougue.

Ela ouviu gente falando
do homem que conta os passos.

� uma cidade pequena, Daniel.

Qual � o problema?

Outra mulher cochichou que ele
tinha sotaque parisiense,

e uma terceira ouviu dizer

que o parisiense misterioso
tinha vindo ajudar a resist�ncia.

E media a cidade
para os bombardeiros dos EUA.

� melhor levar
a Marie l� pra baixo.

A Gestapo est� aqui.

- Merda!
- N�o se preocupe.

Se fosse pelo r�dio,
viriam centenas deles.

S� vieram conferir
o boato do estranho de Paris.

Diga a verdade. Mostre
os documentos, e tudo certo.

N�o fez nada de errado.

Ou fez, Daniel?

Etienne,
tem coisas que n�o contei.

Que coisas?

Alguns segredos
n�o devem ser revelados.

N�o espero que entenda.

Voc� n�o � �nico
que tem segredos.

Melhor abrir a porta
antes que arrombem.

N�o fale de nada, ouviu?

N�o fale do museu,
do r�dio, do microfone.

Eu sei.
N�o devemos mostrar medo.

N�o devemos.

- N�o temos medo.
- N�o temos.

Esta � a garota e o pai.

Voc� � cega?

Sim, senhor.

- Ei!
- Est� tudo bem.

Nossos amigos alem�es
querem confirmar a cegueira.

- O que tenho na m�o?
- N�o sei, senhor.

Seu pai foi visto medindo
as ruas e as cal�adas.

- Sim, senhor.
- "Sim, senhor." Que gracinha.

Medindo para fazer um mapa
para quem pretende vir aqui.

Estou construindo uma maquete

para minha filha
conhecer as ruas.

O que seu pai disse � verdade?

Sim, senhor. E, quando moramos em Paris,
ele fez uma maquete de l� tamb�m.

Um,

dois�

Dois olhos bonitos.

Dois olhos imprest�veis.

Primeira parte confirmada.

Mostre o que construiu.

Marie.

- Veio de Paris?
- Sim.

O que fazia em Paris?

Era carpinteiro, como pode ver.

Por que veio aqui?

Para tirar minha filha da cidade
e mudar de ares.

Qual � seu nome?

Claude. Claude Dugarry.

Mostre os documentos,
Sr. Dugarry.

Agora.

Enviarei seu documento a Paris.
Para verifica��o.

Tem muita habilidade.

E uma desgra�a terr�vel.

N�o � uma desgra�a.
� uma b�n��o.

N�o acredito. Voc� entregou
documento falso pra Gestapo.

� bem-feito.

O chefe de restaura��o
de arte do museu fez para mim.

Por que isso
n�o me deixa mais tranquilo?

Prepare-se para o jantar.
Precisamos falar com Madame Manec.

Ent�o, Etienne, quanto ele sabe?

Sobre o qu�?

- Vou levar Marie pra cama.
- N�o quero ir pra cama.

- Marie�
- � um segredo.

Eu ou�o nas vozes deles.

Por isso precisa ir pra cama.

Marie, por favor.

Venha.

J� que est� morando aqui,

� melhor que saiba a verdade.

Em Saint-Malo,
existe uma organiza��o.

Algumas pessoas de dentro da cidade
trazem informa��es para mim

sobre os movimentos das tropas, trens,
navios que aportam e saem da costa.

- E eu�
- O r�dio.

Antes da chegada dos alem�es, eu
usava o r�dio para pregar a paz.

E agora �
um instrumento de guerra.

Um instrumento muito valioso.

Envio essas informa��es
a Londres por c�digos e cifras.

Se precisar,
fa�o o que quiserem.

No momento, precisamos que voc�
n�o atraia aten��o para esta casa de novo.

Est� claro?

Ent�o,

o tigre ainda patrulha
dentro da caixa de metal.

Vive la France.

Vive la France.

- � como se estiv�ssemos debaixo do mar.
- Sim. Eu sempre vinha nas f�rias.

E descia aqui na Fortaleza
Grotto para colher ostras.

Etienne estava aqui nessa �poca?

Claro, ele era rapaz.

- Segure aqui.
- Sim.

Antes da guerra transform�-lo.

Antes disso, sim.

O que � isso?

� a ostra mais fresca
que voc� vai comer na vida.

� at� melhor que as de Paris.

Como ele era? O Etienne.

Ele usava perfume

e levava as mo�as
na garupa da moto.

Elas gritavam.
� o que eu lembro.

Ele era incr�vel.

Qu�? Foi uma onda.

N�o foi uma onda. Foi o senhor.

Foi o senhor.

- Foi uma onda gigante.
- Cad�?

Cad� as belezinhas?

Pode ver que sacrifiquei
a roupa toda por elas.

Pode se servir.

As ostras da Fortaleza Grotto
eram as melhores do mundo.

E ainda s�o!

Que perfei��o!

Faz 20 anos, Daniel.

Se gosta tanto assim, por que nunca
foi colher voc� mesmo?

- � uma caminhadinha na praia.
- Marie, por favor.

Papai, se parar de perguntar,
vira normal.

Quem sabe da pr�xima vez
voc� possa ir com a gente.

Quando aprender as ruas,
eu mesma levo.

Perd�o, tio Etienne,
minha filha � muito franca.

Marie,

acho que voc�
sabe por que n�o saio.

Mas n�o faz sentido.

O passado j� passou.

N�o acredita na ci�ncia?

- Marie, pare.
- N�o, Daniel. Tudo bem.

Marie, imagine que eu sou
como uma destas ostras.

Estou preso na concha.

Mas voc� n�o � uma ostra,
Etienne.

Onde j� se viu uma ostra
usar perfume de lil�s

e andar de moto
com mo�as aos gritos?

Pronto. Voc� conseguiu.
Deixou seu tio muito nervoso.

Talvez fosse necess�rio.

- Marie�
- Sim?

Continue me chamando
pra ir com voc�.

E um dia, se for um convite seu,
talvez eu aceite.

Que bom.

Est� resolvido.

Sim.

N�o.

Chega de ostras. N�o vai
sobrar para Madame Manec.

�, bem lembrado.
N�o devemos comer mais.

Eu consigo ouvir.

- � s� a concha.
- Sou cega. Tenho �tima audi��o.

- Tudo bem.
- Muito obrigada.

Daniel, muito em breve,

conhecer� o Comit� de Intelig�ncia
da Resist�ncia de Saint-Malo.

Sabe os nossos segredos.
Deve contar os seus.

Marie deve sair?

Marie provou ser
mais inteligente que n�s dois.

Ela deve ficar.

Trouxemos doces! E guloseimas.

- Ol�.
- Ol�.

Tia Manec, por favor, me perdoe.

Mas faremos uma reuni�o secreta.

Realmente faremos.

Voc�s s�o a resist�ncia?

Garoto esperto.

Posso apresentar o Clube de Resist�ncia
das Senhoras de Saint-Malo?

Mulher guarda segredo bem melhor
do que homem, querida.

Elas observam
os passos das tropas

e os navios
que chegam e saem do porto.

Compramos peixe na mureta do porto.
Tr�s idosas. Acima de qualquer suspeita.

As listas de compras
s�o os nomes dos torpedeiros.

Levamos caf�
para os soldados alem�es,

e se abrem
como se f�ssemos as m�es.

Contam tudo.

Genial.

Minha irm�
me convenceu a ser o membro

- masculino honor�rio.
- Foi her�i nas trincheiras.

N�o � mais simples
ser her�i no s�t�o?

O Etienne contou
que temos um problema.

Sim.

No Museu de Hist�ria Natural
de Paris, onde trabalhei,

recolhi as pedras preciosas
e enviei a Genebra

antes que os alem�es pegassem.

Muito bem!

Mas com certeza
meu nome est� numa lista.

Daniel deu documento
falso pra Gestapo.

Ele diz que � bem-feito.

Sim, mas ainda sou um parisiense
com uma filha cega.

Talvez os alem�es n�o tenham
tempo de fazer essa liga��o.

S�o alem�es.

Ter� uma unidade dedicada
� recupera��o das pedras preciosas.

Mas eles n�o est�o atr�s de mim.

� algo que est� comigo.

Uma joia em especial.

A joia mais famosa da Fran�a.

A da maldi��o terr�vel,
segundo as revistas?

O tipo de pedra
que atrai loucos.

Est� aqui? Nesta casa?

Sim, n�o tive escolha.

Se eu soubesse
do que estavam fazendo,

n�o teria trazido esse problema.

Se quiserem, n�s vamos embora.

Em tempos de guerra, Daniel,

as prioridades mudam.

Voc� � da fam�lia, tem nosso
sangue, e o sangue � eterno.

Mas, agora,
nosso dever � para com a Fran�a,

e isso significa que precisamos
despistar os alem�es.

N�o temos tempo a perder.

Passagem de volta a Paris, dinheiro
e um endere�o onde voc� estar� seguro.

Marie, n�o se aflija.

Por que me afligiria?

Marie, seu pai vai voltar.
Temos um plano.

Que plano?

Pedimos aos nossos amigos
da resist�ncia parisiense

que divulguem pelos informantes

que Daniel LeBlanc
foi visto em Paris.

Amanh�,

serei fotografado num caf�
lendo o jornal de amanh�.

E eles v�o dar
um endere�o aos alem�es.

Mas quando chegarem ao endere�o�

V�o encontrar
coisas minhas e suas.

Est�o na minha mala.

Deixarei
no apartamento para acharem

e, depois, serei visto
e fotografado em Bordeaux.

Bordeaux?

- S�o s� tr�s horas de trem.
- S� por um dia.

E em Bordeaux
nossos amigos divulgar�o

que um homem e a filha cega
cruzaram a fronteira pra Espanha.

E pagaram
com um diamante enorme,

que agora �
contrabando na Espanha.

- Se o plano der certo�
- Como assim, "se"?

Se der certo,
chego em casa em seis dias.

Por que n�o leva
a joia amaldi�oada a Paris

e a deixa l� para os alem�es
acharem e pararem de procurar?

Porque os alem�es s�o nossos inimigos
e a pedra n�o pertence a eles.

Pertence � Fran�a,
e n�s somos o povo da Fran�a.

N�o podemos dar nossa joia
mais valiosa a esses monstros.

Preciso ir pra despist�-los,
pra manter voc� segura.

Marie, preciso pegar o trem.

Etienne vai deixar
voc� usar o r�dio.

Fale comigo e, onde quer que eu
esteja, escutarei e estarei com voc�.

Pode deixar.

Continuarei falando,
n�o importa quanto tempo passe.

E estarei com o senhor.

Papai, ainda estou aqui. Ainda
estou falando com o senhor.

Sei que pode me ouvir.

ST. MALO AGOSTO DE 1944

Est� esperando os americanos
chegarem pra voltar pra casa.

Eu sei.

Boa noite, papai.

Eu amo o senhor.

Chegou a hora.

Achei que ia tentar fugir.

Fiquei porque confio no senhor.

Por que confiaria em mim?

Ontem achei que tinha
reconhecido sua voz.

Ent�o percebi�

que o senhor conhece a garota
que transmite na onda curta 13.10.

Conhece a casa.

O senhor � ele.

O senhor � o professor.

Sou um soldado. Voc� �
um soldado. O passado n�o importa.

Sente.

E ent�o?

Ele � jovem,
� operador de r�dio.

- O nome dele � Werner�
- Nome n�o importa.

Foi tirado
de um orfanato � for�a

e lotado no corpo de sinaleiros.

Quantos homens,
mulheres e crian�as voc� matou?

Meu trabalho era localizar
r�dios que transmitiam mensagens.

E quando eram localizados?

Fa�a uma estimativa.

Quantos homens,
mulheres e crian�as voc� matou?

Senhor,
quero terminar a hist�ria.

Quero explicar o que houve.

N�s sabemos!

Nossos camaradas na Normandia
e na B�lgica contaram.

Quem estivesse com um r�dio era
executado pelo seu regimento.

As fam�lias tamb�m eram executadas.
Os vizinhos eram executados.

Homens,
mulheres e crian�as executadas.

Ele s� encontrava
as frequ�ncias.

- Professor, por favor.
- Professor?

N�o interessa o que tem a dizer,
alem�o.

E n�o temos
como manter prisioneiros!

Eu cuido dele.

Ele n�o � seu filho!

- Cuidar?
- Eu me responsabilizo.

Por que voc� faria isso?

- O veredicto � simples! Morte!
- Voc�s n�o entendem!

- Quem vai executar a senten�a?
- Eu vou. Eu mesma atiro.

- N�o! Jacqueline, n�o!
- Etienne, v� pra casa!

N�o era bomba de avi�o.

N�o. � artilharia.

Artilharia americana.

Os americanos est�o no port�o!

- Papai, a liberdade est� chegando. Enfim.
- S�o os americanos!

- Etienne, saia!
- Ele � bom!

� inimigo! Saia da frente.

Saia da frente, Etienne!

Etienne, agora!

N�o! Desperdicei a vida
me escondendo dos meus medos.

Voc� deve ser corajoso!

Etienne, n�o vou repetir!

- Saia, Etienne!
- Rapaz�

- Etienne!
- Eu sou o professor.

Marie?

N�o vou repetir!

Sei que est� a�, Marie!

Ou�a, como ouviu um dia.

Saia da frente!

N�o vai poder fugir!

Corra!

Legendas: Eduardo Castro