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ENTRE 1983 E 1985, DURANTE
A OCUPA��O DO L�BANO POR ISRAEL

OM HASSAN CONSEGUIU ATRAVESSAR
A FRONTEIRA DUAS VEZES

PARA ENCONTRAR
OS SEUS NA GALIL�IA

Ano passado, revi
a casa do meu pai.

Meu irm�o tinha angina
e n�o podia levar-me a Koueykat

Eu, naturalmente,
n�o podia ir sozinha.

Fui a Deir el Assad, a Chaab.

Mas daquela vez foi diferente.
Meu irm�o levou-me a Koueykat

E ent�o, tia?

O qu�? N�o vejo nada.

� que voc� envelheceu.

Calma devagar.

- Todas as casas foram destru�das.
- Onde est� a minha casa?

� aqui.

Shalom.
Somos de Koueykat, do tempo...

Mas por que falar hebraico?
Fale �rabe

- Voc� � �rabe, n�o �?
- N�o, n�o sou.

Aprendeu �rabe?

N�o. Aprendi hebraico
sem esquecer o �rabe.

A senhora morava aqui, n�o �?

Estava aqui, quando chegamos.
N�o uso.

Se quiser levar, leve.

N�o.

Obrigada.

Dou a voc�

Obrigada.

Sou parteira

Aprendi com minha av� Mariam.

Tenho certificado oficial
do governo ingl�s.

Desde que casei, sou parteira
de toda a regi�o de Acra.

� a bayyara � como chamamos
o pomar, as laranjeiras.

�. � a bayyara.

Onde est� minha fonte?

Meu Deus, como � doce.
� mais doce que mel.

N�o...

n�o vamos com�-la.

� a Palestina.

FILME DE YOUSRY NASRALLAH

APORTADO SOL

SEGUNDA PARTE
O RETORNO

BEIRUTE, CHATILA - VER�O 1994
Com os acordos de Oslo, e Arafat

que instala
a Autoridade em Gaza e Jeric�

- O que querem fazer?
- Todos os palestinos

voltar�o para casa na Palestina
A Palestina � a casa dos palestinos.

- E voc�? Voltar�?
- Eu n�o quero continuar no L�bano.

Os acordos de Oslo s� valem para
os palestinos da Faixa de Gaza

Oslo n�o me importa
Nada disto importa

A Palestina s� existir�
com a paz de Abra�o

para seus filhos mu�ulmanos.
Sem isto, n�o h� Palestina

� rid�culo, � imposs�vel aceitar
os acordos de Oslo.

O ministro Shamir de Israel
disse que negociariam por anos e anos

at� que os palestinos esquecessem
que t�m direito de voltar � Palestina.

Resiste, povo da Palestina.

At� derrotarmos o ocupante!

N�o �s col�nias,
N�o �s expuls�es de palestinos!

N�o h� Oslo! N�o h� Madrid!

Feche esta janela.

Oslo � melhor que nada.

O que voc� acha, Yunes?

E nem uma palavra sobre os cinco
milh�es de refugiados palestinos.

Arafat acha que, com a Autoridade
em Gaza, a paz estar� feita?

Isto vai dar em nada.

- E como �? N�o acaba nunca?
- Est� quase pronto.

Carta de sua m�e.

Minha m�e � voc�.

- Voc� viu minha m�e?
- N�o. Esta carta veio de Ram�llah.

Ela me abandonou.
Ainda era pequeno.

O que ela quer comigo?

Minha m�e � voc�

e meu pai.
Minha fam�lia inteira.

Sua m�e sofreu demais.

Acredite em mim.

Ela foi obrigada
a abandonar voc�

Teu av� morreu.
Sua av� p�s-se a persegui-la

E ela fugiu.

Tente compreender.

Fique com ele, Khalil.

� um velho,
que voltou a ser beb�

Ent�o, agora, vou contar
a minha hist�ria.

Voc� sempre disse que meu amor
por Chams era s� ilus�o

porque ela n�o me amava.
Voc� n�o me deixava falar sobre ela.

Como se voc� fosse
o �nico especialista em amor!

E como se n�s, reles mortais...
fossemos todos loucos.

Mas, o que voc� poderia saber
sobre amor e ilus�o?

Por que voc� se cobriu?

Pudor.

Por que fala chin�s?

� Imro El Kaysse, o maior
poeta �rabe pr�-isl�mico.

Compara os seios de sua amada
a espelhos que brilham.

- Nada mais bonito que isto.
- � horr�vel.

Deve ser pederasta teu poeta.

V� o pr�prio rosto,
nos seios de sua mulher.

- E ama-se sozinho, s� ele
- N�o, n�o, Chams.

Ele v� o mundo, nos seios dela

Todo o mundo.

Diga espelho, espelho meu!
Quem � no mundo, mais belo do que eu?

Eu ou o meu Khalil?

Teu Khalil, � claro.

Case comigo, Chams.

E voc� me espancar�,
como meu ex-marido?

Uma palavra sua, e corto minha
m�o direita e a esquerda

E eles foram felizes para sempre
e voltaram � Palestina

e tiveram muitos filhos lindos...

N�o quero filhos.

Tenho medo de que morram
antes de mim.

Se voc� quiser, vamos a Amman,
e buscamos sua filha Dalal.

Buscar Dalal?

Eu s� me casarei com um combatente.

- E ele me ajudar� a trazer Dalal.
- Mas eu sou combatente.

N�o, Khalil.
Voc� foi combatente

Hoje, voc� � m�dico.

Voc� n�o nasceu para casar.

� um amante maravilhoso.
Quero que continue assim.

Nos teus bra�os, sinto-me
uma rainha

Nos bra�os de todos os
homens do mundo.

Deixe-me cozinhar.

- Gostou dos jeans?
- Adorei.

Sabe quando vesti jeans
pela primeira vez?

Depois do massacre de Tal El Zaatar.

Meu marido me proibia de usar cal�as.
Eu vivia sob terror.

Os fascistas de direita da Falange
tomaram o campo. Ele me abandonou.

"Leve-me daqui. Tenho medo dos
Falangistas!

Eles violam as mulheres."

E ele disse:
"Medo de ser violada, puta suja?!"

Pare�o uma "puta suja".

Voc� � um anjo.

N�o sou anjo.

Vesti um jeans
e fui encontrar os fedayhin.

Deram-me um fuzil
e parti com eles.

Quando os tiros come�aram
no sop� da colina

nos disseram que fiz�ssemos
o que fosse preciso.

Eu n�o sabia o que era preciso...

e fiquei sozinha.

Depois, um homem atirou-me ao ch�o,
atr�s de um rochedo.

Um jovem. Ahmad Kiyali.

Fez-me coisas que homem algum
jamais fizera. Beijou meus seios.

E descobri o prazer.

Em Hamana, nos perdemos
entre os refugiados.

Encontrei meu marido Fuaz,
e ele levou-me para um hotel s�rdido.

Amea�ou-me com o chicote
depois me levou para a cama.

Nossa casa, no campo de Bel�m,
era assim. Latas e latas de conserva.

Meu pai trabalhava numa f�brica
de massas. S� com�amos macarr�o.

Nosso apelido era "os italianos".

Os italianos de telhado de papel�o.

Tudo de papel�o,
paredes de papel�o.

Um forno no ver�o.
E geladeira, no inverno.

Mas a casa era colorida.

Como um cartaz de publicidade.

Depois nos transferiram
para um campo em Aman.

Ali, era cimento.
S� cimento.

E sempre o forno, no ver�o;
a geladeira no inverno.

Eu gostava da casa de papel�o.

Quando ca�a uma parede,
meu pai trocava

Meu marido prendia-me assim
contra a parede

Eu tinha de ficar assim,
e se aliviava em cima de mim

da cabe�a aos p�s.
Eu ficava muda de terror.

Depois, ele batia a cabe�a na parede
at� sangrar. E depois me beijava

Depois, a louca sou eu.

De qualquer modo,
o pior foi quando casei com ele.

Tinha 15 anos e nenhum homem
jamais me tocara.

O pai dele levou-me
a Tal El Zaatar.

E a primeira frase
que ouvi dele foi "V� se lavar."

Mas depois me levou
�quele hotel s�rdido

Queria me lavar antes, mas n�o deixou

e jogou-me na cama e come�ou

eu ainda sentia
em mim o cheiro de Ahmad.

Depois de deixarmos Beirute, em 1982...
N�o, n�o deixamos Beirute:

Fomos expulsos.
Voltamos a Aman.

Moramos com meus sogros.

Passei 15 dias sozinha

Eu trabalhava Esqueci aquele marido.
At� que ele voltou.

Havia sa�do do I�men.
E ajudava o pai na loja. Muito gentil.

N�o se atrevia a abrir a boca
diante do pai.

S� sussurrava.

Engravidei de Dalal.

Pouco depois, o pai dele morreu.
Da� em diante

meu marido tornou-se um monstro.

Inventou coisas novas.

Eu era amarrada � parede, como antes,
Mas, agora...

Na Jord�nia ele n�o se atreveria
� um Estado verdadeiro.

Ele apontava um dedo para mim,
e fingia que atirava

Depois, me espancava

J� n�o me espanca.

Um dia, no caf� da manh�

s� para ele, porque
a m�e dele e eu serv�amos a mesa.

N�o sei como falei, mas disse
"Me d� o div�rcio. N�o suporto mais".

As palavras saltaram-me da boca.

Ele me olhou e disse:
"Eu me divorcio".

"Volte para a casa de sua m�e
e diga l� que eu repudiei

a puta que me deram."

Corri � procura de Dalal.
Mas minha sogra arrancou-a de mim.

Parti.
Fui para o L�bano, para Tr�poli.

Uni-me � OLP.

Quando tive certeza de que teria
uma filha, chamei-a "Esperan�a", Amal.

Mas, no parto, meu marido
decidiu que seria Dalal.

Nome da prima,
por quem era apaixonado.

E eu pensava "Amal morreu!"
E chorava.

Depois, habituei-me com Dalal.

E gostei.

Tenho de encontrar um modo
de tir�-la de l�

Ela � t�o linda!

Morena olhos grandes,
c�lios longos.

� a mais linda do mundo.

Mataram Amal
e roubaram Dalal.

Sameh Abou Diab!

Des�a.

O que quer com ele?

Feche a janela megera.
Chamei seu marido.

- Ele prometeu-me casamento.
- Parem com este esc�ndalo!

Caso-me com voc�!

Chams!

Assassina! Ela o matou!
Puta! Saiu da casa do Dr. Khalil.

Ela chamou meu marido.
Quando ele saiu

ela atirou tr�s vezes.

Puta suja!

Que desgra�a!

Que grande honra! Entrem.

- Dr. Khalil?
- Sou eu.

Khalil Aiub.

Abou Assem?

Voc� lembra?

Voc� vem como visita, ou...

Venha Acompanhe-me.

O hospital � controlado
pela seguran�a palestina

N�o vamos dificultar as coisas.

Tire o jaleco.

Nome?

Khalil Aiub.

Pai?

Yassim Aiub.

M�e?

Que brincadeira � esta?
Voc� me conhece muito bem.

Responda por favor.

Nome de sua m�e?

Najwa.

Resid�ncia?

Disseram que est� em Ram�llah,
mas n�o tenho certeza.

Sim, Ram�llah.

Sua resid�ncia.
Sua m�e n�o me interessa.

- Moro no campo de Chatila.
- Voc� conhece Sameh Abou Diab?

N�o.

Voc� sabe que Chams o matou?

O que h�?
N�o consegue ficar em p�?

Voc� sabia que ela tra�a voc�?

Eu n�o diria "trair"...

N�o.

Chams � infiel e assassina.

Voc� tamb�m foi amante dela.

Se ela amasse voc�,
voc� estaria morto.

No m�nimo, ela teria tentado.

Ou ent�o foi voc� que a levou
a mat�-lo.

N�o tente me convencer, Doutor

de que se esconde atr�s do cad�ver
de Yunes, sem motivo algum.

Quem se esconde, tem alguma culpa.

Yunes n�o est� morto.

Por favor, n�o falemos dele.

Bem...
Por que voc� n�o se casou com Chams?

Porque ela n�o quis.

N�o. Porque n�o quero ter filhos.

N�o sei.

- Propus casamento a ela Discutimos.
- Sobre Sameh? Voc� sabia?

N�o.

Ela sofreu muito.

O marido a espancava.

- E voc�? Voc� n�o a espancava?
- N�o.

Veja!
H� um que n�o espanca a mulher!

Tudo bem. E, se voc� n�o a espancava,
fazia o qu�?

Eu a amava

E, porque a amava,
voc� a ajudou a matar Sameh.

N�o sou assassino.

Um combatente que n�o mata?

Combatente Fui do batalh�o
"Filhos da Galil�ia".

Foi.

Desculpe

Esqueci.

Por isto voc� n�o consegue
manter-se em p�.

Para concluir, voc� n�o conhece Sameh
e � inocente

Pode jurar diante de Deus?

Juro diante de Deus que nada sei nem
sobre Sameh nem sobre o assassinato.

Pensava que voc� fosse ateu.

- Isso n�o � verdade
- Sim, �

Em julho de 1969

quando o homem caminhou
na superf�cie da Lua

voc� estava num campo de treinamento,
no sul do L�bano.

E voc� disse,
aos seus companheiros de batalh�o

que, dado que o homem caminhava na Lua
estava provado que Deus n�o existe.

- Voc� disse isto ou n�o disse?
- Disse

- Era uma crian�a...
- Voc� tinha 16 anos.

Um homem se casa com 16 anos.

Reconhece este homem?

Sou eu.

Engra�ado.
A�, voc� tem pelos nas costas.

E este? � voc�?
Ou � Sameh Abou Diab?

Khalil

voc� foi humilhado por uma prostituta
Todo o campo foi humilhado.

Vamos esquecer Sameh.
Esque�o sua cumplicidade no crime.

Liberto voc�
Basta dizer onde est� Chams.

N�o sei.

- Por que n�o procuram na Jord�nia?
- Eu fa�o as perguntas.

Ela fez algum contacto?

- N�o tive nenhuma not�cia dela
- Em 1977, voc� esteve na China

para um per�odo de treinamento militar.
L�, descobriram uma v�rtebra fraturada.

Sim.

Fizeram-me estudar medicina.

N�o. Voc� fez um est�gio de 3 meses,
como enfermeiro.

Quando voltou,
passou a ser chamado de "Doutor".

Voc� acreditou.

Verdade ou mentira?

N�o ouvi bem.
Quer repetir?

Verdade

Depois, voc� abandonou os companheiros
em Berjaui.

Fui ferido na batalha de Berjaui.

Nas costas, porque fugiu do combate

E agora, est� escondido atr�s
do cad�ver do combatente Yunes.

Deem-lhe um len�o.

N�o estou chorando.

Onde est�o os outros, do
Batalh�o dos Filhos da Galil�ia?

- Entre a Tun�sia e a Arg�lia
- E voc�, Sua Alteza, est� em Beirute

N�o quis partir sob prote��o
de israelenses e norte-americanos.

Yunes concordou comigo.

Quer dizer que os que partiram,
s�o traidores?

N�o disse isto!

Eu n�o pude.

Conversa, conversa...

Ou�a bem.

Voc� mereceria ser condenado � morte
cem vezes, pelo que fez.

Mas vamos solt�-lo.

Espere, Khalil.

Entenda bem o que vai acontecer:
Chams ser� executada

Os cl�s est�o reunidos; todos est�o
convocados para o campo de Miya Miya.

Ela ser� executada quando chegar.

Um homem de cada cl� palestina
atirar�. Ela n�o ser� vingada.

Se voc� nos ajudar a encontr�-la ela
ter� julgamento. Ser� condenada e presa.

Depois, ser� o que Deus quiser.
� isto. Suma daqui.

- E o pelot�o de Chams?
- Partiu ontem.

- Chams foi com o pelot�o?
- N�o.

Chams foi para o campo
de Miya Miya.

CAMPO DE MIYA MIYA

Irm�o!

- Sabe onde est� Abou Ali Alaa?
- N�o.

Suma da minha frente!
Tenho idade para ser sua av�!

Bem-vinda Om Hassan!

Que prazer!

Solte Khalil.

Sen�o solt�-lo, trago para c�
toda a resist�ncia

N�o tem mais o que fazer,
al�m de prender Khalil

persegui-lo, atorment�-lo?
� meu filho. Respondo por ele

Levante-se!
Khalil, afilhado de Yunes.

Onde estavam voc�s, quando
ele combatia no Sul?

Voc�s nem tinham nascido!
Eu trouxe voc�s ao mundo.

Malditos sejam!

� uma vergonha! Uma vergonha!

Como se atrevem a prender um homem
que foi torturado pelos israelenses?

Quando ele lutava
durante a invas�o

Voc�s se refestelavam no norte,
em Tr�poli.

Leve isto,
para esconder os cornos.

N�o ou�a o que ele diz.
Vamos.

Om Hassan,
quero dizer-lhe algo importante.

As m�es sabem pouco sobre os filhos.

Khalil n�o � seu filho.

E n�o � homem de honra

V�

Sumam daqui!
Bando de mal nascidos.

Cornudo! Cornudo!

N�o ligue!
N�o ou�a o que dizem!

Deixe-os. Eles t�m raz�o.

Amei uma mulher infiel.
Que n�o me amou.

Chams amava voc�!

Voc� � que n�o quis casar com ela
nem quer ter filhos.

Sameh zombou dela
Ela o matou.

Sou mulher, mas compreendo muito bem.
Entre no carro.

Mundo mais sujo!

Vamos.

Esconda os chifres!

Zenaib!

- Quem desligou o soro de Yunes?
- Ordem do Dr. Amgad.

- Amine!
- Ele sumiu.

Controle-se. Venha

Onde est� Amine?
Por que tirou o soro de Yunes?

Amine sumiu.

Este sumi�o est� ligado
ao assassinato de Kayed

que respondia pelo Fatah em Beirute.

Voc� sabe que Kayed
era casado com uma curda

Foi ela quem organizou tudo.

Uma espi�.

Eles casam-se
e compram carros de luxo.

O dinheiro � da revolu��o.
Podiam ter ajudado o hospital.

A mulher � jordaniana
N�o � curda.

E n�o � traidora
E que rela��o tem isto com Amine?

A rela��o � entre Amine e ela.

Ela vinha encontr�-lo
aqui no hospital.

- E da�?
- Da�, nada

Eu tamb�m conheci uma curda
que me telefonava todos os dias.

Ela me descrevia as calcinhas,
gemendo...

- As curdas s�o todas iguais.
- Que curdas?

Voc� � repugnante

Se tem uma conhecida curda
que fala de calcinhas

o que os demais curdos
t�m a ver com isto?

Por que isto incomoda voc�?
Sua Chams era curda?

Cachorro!

Suma do campo!
Aqui � um hospital, n�o � bordel!

Chams e a jordaniana
t�m mais honra que voc�!

- Chams � puta!
- Se eu o vir no campo, mato voc�

Filho de uma cadela.

Falo de Yunes,
e ele me diz que Chams � puta.

Chams j� est� do outro lado.
Para l� iremos todos.

Esque�a tudo isto.
Lembre s� que voc� a amou.

Ontem, o anjo da morte
falou ao meu ouvido

que est�o me esperando.

Falou em que ouvido?
Direito ou esquerdo?

Correu atr�s de mim.
E quase morro de rir!

Tire Yunes deste campo.

Ou�a meu conselho.
Leve-o para a Galil�ia

Foi teu pai.
Agora � teu filho.

N�o esque�a de onde voc� veio.
Lembre-se de sua m�e.

"Filho querido,

� a primeira carta que escrevo
em minha vida.

Sua amiga Samia contou-me que
voc� trabalha num hospital em Chatila.

N�o ria. Eu tamb�m.
Sou enfermeira em Ram�llah.

Atualmente, muita gente
tem vindo de Beirute.

Escreva e mande um n�mero
de telefone, para que eu possa ligar.

Tenho tanto a contar.
E quero abra��-lo antes de morrer.

Procurei voc� por toda parte.
Quando Israel invadiu o L�bano,

e todos foram para T�nis,
fui � OLP e perguntei por voc�.

Disseram que seu nome
estava na lista dos que partiam.

Mas que depois
voc� desapareceu.

Pensei no pior.
Mas tenho f� em Deus

E agora o encontrei, meu querido.
O meu telefone �:

0097-2

2954322

Sua m�e. Najwa.

OLP � EXPULSA DE BEIRUTE
AGOSTO, 1982

Tiros, arroz, flores,
l�grimas, um sonho.

N�s, os palestinos,
damos tiros para o ar

nos casamentos e nos enterros
Naquele dia, atir�vamos por qu�?

Para n�o deixar muni��o?
De raiva? Ou de alegria?

Procuro um rosto conhecido,
na multid�o.

Om Hassan ou Norah,
que era minha noiva.

Quer saber a verdade, Yunes?
Procurava voc�.

Mas voc� n�o estava l�.

Mohamed El Chaaby.

- Para o I�men.
- Obrigado.

Khalil!

Espere, Abou Ali!

Khalil Aiub. T�nis.

- Onde estava?
- J� estava l�

Est� vendo como acabamos? Expulsos
sob prote��o americano-israelense

Foi nossa primeira guerra direta
contra Israel.

- Perdemos.
- Eu nada perdi. E voc�?

Vai para onde?

- Para T�nis. E voc�?
- I�men.

- Todos os combatentes.
- Vamos.

Para os caminh�es

com destino ao porto...

Aonde vai?

N�o quero partir.

Vou ficar aqui.

Partiram.
Todos partiram.

Sente-se

Partiram

Como se fosse sonho

Sabe-se l� em que montanhas

Ancorar�o seus barquinhos
Luminosos

Voc� parece acostumada

- Por que voc� n�o foi?
- Por qu�?

Porque ningu�m
veio dar-me a Deus.

Meu marido foi para o I�men.
Eu devo ir para a Jord�nia

Eu fico aqui.

Sou m�dico. Se voc� quiser,
consigo trabalho para voc�.

N�o pode ser.
Tenho medo do meu marido.

Mesmo ausente.

H� muito arroz a�!

Todas as mulheres
v�o para a Jord�nia?

- Sua mulher est� na Jord�nia?
- N�o. N�o sou casado.

Minha m�e me abandonou.
Casou com 14 anos. Uma crian�a

Casei com 15 anos.

Estava apaixonada?

Nem conhecia meu marido.

E ainda n�o conhe�o at� hoje.

Quem cuidou de voc�?

- Minha av�.
- E teu pai?

Morreu em 1958.
Eu tinha 6 anos.

- Ent�o, voc� tem exatamente...
- 30 anos.

- Tem cabelos brancos?
- � o arroz.

- Como � seu nome?
- Chams. E o seu?

- Amar. Lua
- � seu nome?

N�o. Sou Khalil.
Voc� � que � bela como a Lua

Tenho de ir.

Estranha esta chuva,
em pleno ver�o.

Minha m�e dizia que

a chuva s�o l�grimas de Deus,
que chora por n�s.

Ela dizia tamb�m que l�grimas
fazem bem para os olhos.

L�grimas fazem bem aos olhos,
Khalil.

Yassin... venha c�.

N�o o chame de Yassin.
� Khalil.

N�o. Ele chama-se Yassin.
Como o pai dele

Yassin, est� com fome?

Estou, mam�e.

Sua m�e sou eu, Khalil.

Vov�, onde est� mam�e?

Foi para a Jord�nia,
para a fam�lia dela.

Por que papai morreu?

O servi�o secreto assassinou-o
porque era combatente.

Eu perdi um filho.
Voc� perdeu o pai.

Agora voc� ser� meu filho.

E voc� ser� um her�i.
Como seu pai.

Voc� jogou-me na revolu��o.

Nada mais belo, no mundo
que a revolu��o.

Tudo se explica, tudo muda.

Pode-se abra�ar o mundo e
compreender o universo.

Ser livre. O homem deixa de ser
o lobo do homem.

Nada mais nos separa,
nem ra�a, nem religi�o, nem classe.

A revolu��o? � o mundo,

� a Palestina,
terra da liberdade.

Eu lutava,
e o mundo lutava comigo.

Neste mundo, todos �ramos her�is.

Todos m�rtires. S� certezas
Nenhuma d�vida.

Esqueci m�e e av�,

tornei-me Khalil,
cujo pai tem cem nomes

Da fam�lia de Mao,
Che Guevara, Ho Chi Minh,

Nasser, Lumumba, Arafat,

Georges Habache e todos estes

Nos tornamos deuses.

Agora somos deuses

Agora somos deuses

Quem disse isso?

Quem disse:
"Agora somos deuses"?

Eu.

Voc� � �mpio!

Ser comiss�rio pol�tico
n�o � pretexto

para ser �mpio.

N�s te ensinaremos a ser humilde.

Entregue seu fuzil.

Voc� envergonha seu batalh�o.

De joelhos.

Ensinarei a curvar-se
diante de Deus, cachorro imundo.

Rasteje!

E diga "S� h� um Deus, Al�!"

- "S� h� um Deus, Al�!"
- Mais forte!

- "S� h� um Deus, Al�!"
- Mais forte!

1976,
a Guerra do L�bano.

O campo de Tal El Zaatar
foi cercado.

Atacamos o quarteir�o crist�o,
para escapar ao cerco.

Ocupamos uma casa, cujo propriet�rio,
Georges, era comunista

e simpatizante da nossa luta.

Mas alguns camaradas desconfiam dele,
porque � crist�o.

Ainda n�o cortaram alinha.

Espi�o sujo.

- � bom sujeito.
- N�o �. � espi�o.

Abu George!

Teus filhos telefonam?

Uma vez por semana

Voc� os encontra?

E abandono minha casa?
Para ser invadida?

- Malditos sejam.
- Que fazem, seus filhos da puta?

A guerra do L�bano
nos converteu em criminosos.

Achei que acabaria logo,
como na Jord�nia,

mas durou muito.

Dia ap�s dia, eu via Beirute
explodir, decompor-se.

Pass�vamos de alian�a a alian�a.

Com mu�ulmanos, com crist�os...

Massacre da Quaresma
Batalha dos hot�is,

Massacre de Chatila, pelos ex�rcitos
do L�bano e de Israel.

Campos sitiados pela mil�cia xiita,
os s�rios e Amal...

A Palestina ia-se afastando,
cada vez mais distante,

uma imagem, uma quimera.

Quando n�o se ouvem as bombas

� porque as bombas est�o a caminho.

Estas a�, j� ca�ram.

- E agora?
- N�o estou ouvindo...

Estive entre os mortos.

Depois, soube que meus
quatro companheiros morreram.

O medo tomou conta de mim.

Tinha medo de estar morto sem saber.

Ande at� aqui.

Sofri um ferimento
na coluna vertebral.

Pensei que ficaria paral�tico.

Mas a cirurgia salvou-me.
Escapei.

Logo sa� do hospital
e voltei ao front

na montanha de Sanina.

No meio daquela neve,
odiei esta guerra do L�bano.

E amei aquela montanha branca.

L� aprendi
que o horizonte prolonga o homem.

Que n�o se pode viver sem horizonte,

ou o pr�prio corpo
passa a ser um ata�de.

Eu n�o sabia que
logo deixaria Sanina.

E que partiria para treinamento
de guerrilha na China.

De Sanina, para a China.
Busca o saber, mesmo na China.

Aten��o,

todos os combatentes

pela liberdade e
pelo socialismo no mundo!

Devem despir-se

para o exame m�dico.

Avante! Pela revolu��o!
At� a vit�ria.

De quando � este ferimento?

Depois disto, fiz um est�gio
de medicina revolucion�ria

Revolucion�ria Abou Salem,
a minha medicina!

Hoje, finita a revolu��o

e finita a medicina revolucion�ria
Hoje, � a medicina para os m�dicos.

Agora, voc� est� outra vez
cheirando como beb�!

Faltam sete meses,
para renascer.

Estamos no sexto m�s;
Mais um m�s

voc� acordar�
e iremos juntos para a Galil�ia.

Muito bem.
Agora temos de andar.

Andar!

Vamos andar.

Isso, assim...

Estamos sem antibi�ticos.
O que faz a� no ch�o?!

Tive medo dos tiros.
Que tiros s�o estes?

Estes malditos.
O bando de Abou Ali Jumbo.

N�o h� perigo.

Vamos, Yunes.

Levei um susto.

Pensei que a fam�lia
de Chams vinha me matar.

A m�e de Chams veio ontem,
buscar as coisas dela.

Ela morreu ao chegar ao campo,
No bloqueio.

A m�e j� voltou � Jord�nia

Gostava muito de Chams, que descanse
em paz. Conheci-a em Tal El Zaatar.

Todos no campo sab�amos
como o marido a tratava

Fouaz era louco, sem cora��o.

Tratava-a como se n�o fosse
sua mulher.

Dif�cil imaginar aquele comportamento.

Dizia que tirava o diabo da
Cabe�a dela

Ningu�m podia fazer nada

S� se ouviam os gritos
e as l�grimas de Chams.

Zeinab,
voc� falou de antibi�ticos...

� que acabaram. N�o h� mais.
Antibi�ticos, soro, tudo.

N�o sei o que faremos.

Darei jeito nisto.
N�o se preocupe

H� mais uma coisa.

Vou para a Alemanha
ficar com meu filho.

Voc� tem filhos?

Pensou que eu fosse solteirona?
Eu n�o nasci manca!

Meu marido morreu como her�i.
Fui ferida em Tal El Zaater

fugindo com meus filhos.
Meu filho, que Deus o guarde

conseguiu o visto. Casou com
uma refugiada curdo-iraquiana

Gra�as a ela,
obteve nacionalidade alem�.

Vivem l�.
E est�o esperando um beb�.

Refugiado casa com refugiada

eu, tamb�m refugiada,
vou encontr�-los na Alemanha.

Onde nascer� meu neto refugiado.

Cada um com suas cicatrizes, Khalil.
S� Deus cura os feridos.

Doutor Khalil, eu o considero muito.
Me escute, v� conhecer o mundo.

Basta de viver fechado aqui.
Saia daqui.

Venham ver o milagre!

Meus filhos!

Eu estou com o p� na tumba!

Papai...

Meus filhos...

Tive seis esposas!

Cada uma deu-me um meio idiota.

Agora quero outra, que me d�
um idiota inteiro.

As mulheres foram minha perdi��o.

Ajudem!

Papai est� doente!
Ajudem!

Ele est� doente!
Ajudem!

Ele renasceu!
Aten��o!

Recuperou a virilidade!

� barato!
A juventude voltar�!

Xampu para o corpo e
para usar L�!

Meu nome � Selim Assaad.
E o seu, amigo?

Doutor Khalil Aiub.

Ah, ent�o � voc�?
E quer comprar meu produto?

Voc� � eg�pcio?

Palestino.
Arafat tamb�m tem sotaque eg�pcio.

E voc� estudou o qu�?

Estudei o que estudam
os Filhos da Revolu��o.

Tr�s anos de luta armada

Dois anos de nada.
Dois anos nos EUA e expuls�o.

Agora, minha m�e conseguiu
o visto permanente. Volto para l�

Os americanos t�m medo de cabelos
brancos. Minha m�e encontrou uma sa�da.

Tamb�m tenho cabelos brancos.

� sexy. E o sexo.
Te interessa?

- O que quer de mim?
- Ao Hospital...

Por interesse paternal ou...

N�o, voc� vai trabalhar comigo.

O interesse paternal me comove.

- E o sal�rio? Quanto?
- Vamos ver. Depender� do seu trabalho.

Sua m�e ent�o vive nos EUA?

Sim. Em "Little Italy".

- Onde?
- Nova Iorque, cara!

Onde Al Pacino filmou "O Chef�o".

E sua m�e fala ingl�s,
no telefone?

Eu falo com ela Pela Internet.

Consegue conectar-se do campo?

� que quero telefonar
para minha m�e em Ram�llah.

Aqui temos de tudo!
Pittsburgh, Ohio

Haifa Jaffa...
Com a internet, tudo � poss�vel.

Vamos ver.

Vamos tentar por Israel.

Est� ocupado.

Acabaram-se os antibi�ticos
no hospital.

Na reserva secreta ao lado do leite.
Uma das caixas de papel�o. Pegue l�

Tentemos por Chipre.

Aviso que algu�m l� chame sua m�e.
E ela liga para c�, neste n�mero.

Caramba.

Alinha est� mais engarrafada
que a rua Sabra.

- Adeus.
- Como, "a Deus"?!

- Voc� me deve 10.000 libras.
- Como assim?

Meu trabalho!
Paguei a conex�o de Internet.

Est� bem. Obrigado.

E os antibi�ticos?

"Por conta da casa",
para a Revolu��o.

- E bye-bye
- Para o diabo! S�o 300 d�lares!

Um, dois

tr�s, quatro...

O que voc� fez?!

Zeinab, querida.

Eu posso sentir
seu "Perfume de mulher"!

Dance comigo.

Enlouqueceu? Sou manca!

E eu sou cego.

Imagine se me veem!

Like Al Pacino!

Dance with me, Zeinab!

Que fez voc�
com o cabelo dele?!

Devolvi-lhe a juventude

Que est�o fazendo?

Para divertir seu doente.

Roubar rem�dios, sim!
Molecagens n�o!

Com Yunes, n�o!
Estou cuidando dele!

Que cuidados?!
Ele est� cheio de escaras!

E eu n�o roubo.
Eu troco antibi�ticos por drogas.

Fair is fair. Elas por elas.

E este colch�o?
Ele precisa de um colch�o d"�gua.

Este lugar � sinistro.

Uma cama hidr�ulica, um filme porn�...
a�, sim, ele ressuscitar�!

Ele voltar� � vida

Colch�o d"�gua...

"Ao te amar, eu conheci
o prazer da servid�o

Em teus olhos s� vejo
beleza e magia.

Teu corpo � magia, � mist�rio..."

Primeiro os p�ssaros.

"� feiticeira t�o bela

t�o excitante!

Devagar, devagar!

- De onde vem tudo isto?
- Peguei com Eveline

a prostituta.

N�o se preocupe,
desinfetei o colch�o.

N�o v� que ele est� morrendo?

E ainda fala em dinheiro?

Agora, s� falta o tango!

E meu sal�rio, doutor?

Estamos quebrados. Desde que
a Autoridade Palestina est� em Gaza

os hospitais do L�bano
ficaram esquecidos.

Dinheiro, s� para policiais, espi�es...

E tamb�m, claro, para os comerciantes
e businessmen.

- Selim!
- N�o fale mais comigo!

Espere!

Espere!

Ent�o v�!
E n�o apare�a mais por aqui!

Bom-dia Apresento-me:

Georges Baroudy.
Escritor e jornalista

Muito prazer. Doutor Khalil.

� a c�lebre atriz francesa
Catherine Sylvain.

E seu noivo,
diretor Fasy Barraj.

- Bom-dia senhor.
- Bom-dia

Vou direto ao ponto.
Represento uma entidade cultural

e temos muitos projetos.

Como um monumento
�s v�timas de Sabra e Chatila

Nossos amigos franceses
chegaram a Beirute

para montar
uma adapta��o de Jean Genet

que ter� o t�tulo de
"Quatro horas em Chatila".

O projeto me interessa pessoalmente

Vivo na Fran�a desde 1975.
Estou voltando ao L�bano.

E quero que minha noiva
conhe�a meu pa�s.

Em resumo: Queremos visitar
o hospital onde trabalha o Dr. Amgad.

Que tratou das v�timas
do massacre

O Dr. Amgad j� n�o est� aqui.

Podemos visitar o campo.
Catherine � artista.

Artistas precisam impregnar-se
de fatos. Respirar o ar local...

Georges, mas onde est�o as mulheres?

- O que disse?
- Disse que as mulheres mu�ulmanas

n�o saem de casa.

N�o, n�o � isto.
H� poucas mulheres aqui.

N�o h� fam�lias aqui. Oper�rios s�rios
e eg�pcios, xiitas do sul do L�bano.

- E palestinos.
- Muito poucos.

Partiram h� dez anos.
E instalaram-se nos campos do sul.

Foram expulsos.

Pelos israelenses.

Pelos libaneses e pelos s�rios.

Todos!

� estranho. Uma pris�o-domic�lio.

Est� vendo a bandeira?

� a embaixada do Kwait.

Atr�s de n�s,
o Est�dio Municipal.

Chatila � muito perto daqui.

Os israelenses ocuparam os dois locais.
Fizeram-se de desentendidos.

Como conseguiu escapar?

Por milagre. Disse em ingl�s que
era turco. E deixaram-me passar.

Vamos almo�ar num restaurante simp�tico
em Beirute Leste. Quer vir?

- Na parte Leste?
- A guerra acabou.

Venha conhecer de perto
os seus alvos.

Se se examina atentamente um morto,
observa-se um fen�meno curioso.

- � texto de Genet.
- Conhe�o a pe�a

� aus�ncia total de vida num cad�ver,
corresponde a aus�ncia total de cad�ver.

� aus�ncia total de vida num cad�ver,
corresponde a aus�ncia total de cad�ver.

Como for�as que lutam
para libertar a p�tria

da praga reacion�ria
e dos imperialistas

que visam a nos enfraquecer
na longa luta que temos de lutar

contra os sionistas e colonizadores

reafirmamos que
rejeitamos totalmente

as pol�ticas de opress�o
que visam a dispersar e desgra�ar

o povo da Palestina

Nossas divisas s�o imut�veis:

N�o � falsa paz da humilha��o

N�o � capitula��o, � coexist�ncia
com a ocupa��o sionista

Pode traduzir, Doutor.

O povo palestino sofreu e lutou.

N�o � poss�vel!
S� uma frase?!

A l�ngua inglesa � concisa.

Assim sendo, todos nossos
sacrif�cios passados e futuros

n�o afetar�o nossa determina��o
inquebrant�vel.

Que eloqu�ncia!

Seremos sempre inquebrant�veis,
e o futuro nos sorrir�!

Os palestinos continuar�o a sofrer
ainda por muito tempo.

Traduza...

N�o sei traduzir "determina��o
inquebrant�vel". N�o ensinam na escola!

Em resumo, vai tudo muito mal,
mas vai tudo muito bem.

Camarada, os camaradas franceses
conhecem bem nossa causa

e est�o do nosso lado.

Temos pouco tempo
e precisamos de sua valiosa ajuda.

Tudo pela causa.

Querem ouvir depoimentos
dos que fugiram de Chatila.

Deviam ter dito logo!
Querem ouvir as v�timas.

Selim!

Venha at� aqui.

Selim foi criado pelo partido.
Perdeu a m�e aos cinco anos.

Isso mesmo.

Quer dizer que sua m�e est� nos EUA?!
E vai mandar o green card?!

Eu sou livre! Fa�o o que quero.

Vendo o Xampu.
Do velho nasce o jovem.

Isso mesmo.

Bom para o amor!

Bom para o sexo!

Bom pra transar!

Para beijar e...

3.000 mil libras libanesas.

Dois d�lares!

Baratinho! Compre!

Pare de fazer cena

Ele finge que sabe ingl�s,
mas s� repete falas de filmes.

Viveu com oper�rios eg�pcios
e copiou o sotaque.

- Como o chefe de Estado da Palestina
- Conte como voc� foi massacrado.

E os senhores, a casa � sua.
Fiquem � vontade

Suspendi a respira��o
e pensaram que eu estivesse morto.

As balas zuniam � minha volta.
Um cad�ver caiu sobre mim.

At� que pararam os tiros,
e abri os olhos.

Estava cercado de cad�veres.

E meu cabelo ficou branco.

Tudo ent�o ficou negro

assim como voc� est� vendo.

Afrancesa pode ajudar voc�
a telefonar para sua m�e

Basta pedir
o n�mero dela em Paris.

Depois, ent�o,
voltei � Palestina.

Aqui estamos no centro de Beirute.

Durante a guerra a linha de
demarca��o passava por este bairro.

E ent�o, Dr. Khalil?
Est� contente?

- Nunca estive aqui.
- Mas voc� nasceu aqui.

- N�o. Nasci num campo de refugiados.
- E o campo n�o fica no L�bano?

- Para voc�s, n�o.
- Esta � a sua vis�o pol�tica.

Nada o impede de conhecer o L�bano.

Metade dos libaneses
estavam a favor dos palestinos

A outra metade achava que eles
representavam um perigo a ser eliminado.

H� uma lista de 72 tipos
de trabalho, no L�bano,

que s�o proibidos para
os palestinos

N�o t�m pleno direito ao trabalho.

Como todos os �rabes,
somos pela causa da Palestina,

tanto quanto detestamos
os palestinos

Estamos entrando no quarteir�o
crist�o de Beirute

N�o foi nada.
O her�i trope�ou.

Ele se comporta como se estivesse
em territ�rio inimigo.

Engra�ado, aquele s�mbolo.
O que �?

Das for�as libanesas.

Nem todas participaram do massacre
de Sabra e Chatila.

E, seja como for,
tudo isto � passado.

E ent�o, doutor?
Algum problema?

N�o, nada Tudo bem.

� sua sa�de.

Podemos falar um pouco?
Preciso pedir-lhe um favor.

Claro. Encontre-me daqui
a duas horas, no hotel.

Como vai a pe�a?

N�o sei.

Nesta cidade entende-se
mais facilmente a morte que o amor.

A morte � mais f�cil
de compreender.

N�o quis dizer isto.
De qualquer modo, a pe�a est� andando.

Estou muito cansada.

De qualquer modo � estranho. A pe�a
s� fala de morte E voc�s querem viver.

Interessante.

Tenho de pedir-lhe um favor.

�... minha m�e...

Preciso telefonar
para minha m�e

Voc� poderia ligar,
de seu n�mero de Paris?

Ela vive na Palestina
N�o podemos ligar de telefones daqui.

- Sua m�e vive em Israel?
- Na Palestina. Ram�llah � na Palestina

Ram�llah � capital da nova Palestina.
Estamos cuidando disto.

J� destru�ram Beirute
Agora, v�o tratar de Ram�llah.

Voc�s n�o gostam de n�s.

Fa�a-me a gentileza de
calar a boca

Sua m�e vive na Palestina?

Estamos separados h� muito tempo.

N�o h� linhas telef�nicas
entre Israel e o L�bano.

Mas ela vive na Palestina
ou em Israel?

Em Ram�llah.

Telefone para ela
de seu n�mero de Paris

e passe a ela o n�mero
do hospital, onde estou.

L� ela me encontrar�.

- J� falou com ela?
- N�o.

O governo cortou as linhas.

Neste telefone,
pode falar j�.

Voc� acha isto normal?
Homem feito, falando com a mam�e?

Tamb�m � estranho que seja
pouco sens�vel � sua beleza

Que bobagem.

Vamos ver...

Najwa?

� Khalil.

Como vai, m�e?

Gra�as a Deus
tamb�m vou bem.

Trabalho no hospital.
M�dico.

"Hospital da Galil�ia",
em Chatila

Por que, m�e?

Por qu�?

M�e, n�o chore

N�o chore

Sua voz continua bonita.

Fale. Diga alguma coisa.

M�e?

Fale mais.

Obrigado.
Tenho de voltar ao hospital.

Sirva uma bebida por favor.

Sua m�e... em Israel...

Na Palestina
Ela vive na Palestina, n�o esque�a

Voc�s, Palestinos, n�o conseguem
reconhecer o sofrimento dos libaneses.

Como querem que reconhe�amos...

Como disse?!

Eu disse "Uma s� na��o �rabe,
do Golfo ao Oceano", certo?

Porque n�s vivemos assim.

� nossa vida
� a di�spora dos palestinos.

Eu n�o tenho direito de visitar
a Palestina

Voc� est� muito pr�ximo de seu pa�s.

Eu ficaria contente de ajuda-lo
a leva-lo � Jord�nia.

N�o, n�o. � a "Autonomia".

N�o se pode visitar Gaza
nem a Cisjord�nia

sem autoriza��o dos israelenses.

E a autoriza��o �
praticamente imposs�vel.

Voc� � muito calma, madame
Os palestinos, infelizmente

s�o muito agitados.
Por isto, t�m de ficar no L�bano.

Pode, por favor, n�o se intrometer?
Traga-nos um vinho branco.

Aos quinze anos, passei tr�s meses
num kibutz em Israel.

- Na Galil�ia.
- Sim, na Galil�ia

Minha av� � judia
Isto o incomoda?

N�o.

Os palestinos n�o somos
antissemitas.

Traga dois sandu�ches,
por favor.

Queria fazer uma pergunta.
Sobre Sabra e Chatila.

Entre as v�timas, n�o havia mulheres
judias casadas com palestinos?

Em cada massacre, eles inventam
alguma nova v�tima judia

Como?

Estou com fome.
Vamos comer.

Hoje pela manh�,
senti-me culpada em Chatila

Culpada de todas as desgra�as
do mundo.

Mas n�o me venha com ares
de superioridade moral.

Eu poderia voltar � Palestina

Meu pai foi para Israel.

E sua m�e?

A hist�ria dela � simples.

O marido sumiu.
Ela ficou s�, com um menino.

E uma sogra que a detestava

Ent�o ela fugiu.

- E abandonou voc�?
- A culpa foi do meu pai.

Ele a abandonou.

Meu pai tamb�m abandonou minha m�e

Mas ningu�m jamais me abandonou.

- Vou contar a hist�ria de Adnan.
- Seu pai?

N�o.

Meu pai chamava-se Yassin.

Adnan foi como um pai para mim.

- Como Yunes.
- Quem � Yunes?

Outro. Como pai para mim.

Yunes est� em coma.

E cuido dele, no hospital.

Mas j� � outra hist�ria

Pare!

Adnan Abu Aude foi condenado,
em 1961, acusado de pertencer

a uma organiza��o
que organizava a��es terroristas

no territ�rio do Estado de Israel.

30 anos de pris�o.

Voc�s realmente acreditam que
o Estado de Israel durar� 30 anos?

N�o, n�o durar�

30 anos.

Esta terra � a terra dos meus
antepassados. E � minha terra.

Nasci aqui, cresci aqui.

Meu pai tamb�m.
Meu av� est� enterrado aqui.

N�o sou nem terrorista,
nem clandestino.

Tenho o direito de voltar
para minha casa.

30 anos?

Em dez anos as coisas
j� ser�o diferentes do que s�o hoje.

Adnan passou 22 anos
nas pris�es de Israel.

Em 1983

foi libertado
numa troca de prisioneiros.

Bem-vindo o nosso her�i.

Abracem-no.
Respirem o ar da Palestina

Louco! Louco!

Malditos!

C�es imundos!

C�es imundos!

Tudo o que vi

Ningu�m mais viu

E n�o te vejo

Perdi meu cora��o

C�es malditos.

Eu te declaro m�rtir.

Ele o matou?

N�o. Infelizmente n�o.

Ele merecia...

Ele merecia morrer como m�rtir,
n�o num hosp�cio.

Foi tratado como criminoso

como se tivesse de ser escondido. Foi
tratado como se tiv�ssemos vergonha dele

E depois?

Ele morreu.

Mas n�o o mataram.

N�o.

O deixamos morrer como
um cachorro.

Sabe, mo�a?

Este homem tem excesso de pais.

N�o disse quase nada � minha m�e.

Ela n�o disse nada.
Voc� n�o diz nada.

N�o sei que loucura � esta
N�o sei o que fa�o aqui.

Menti a ela.
Matamos Adnam e choramos.

Estamos � espera, impotentes.
Presos e � espera

Estou esgotado. Voc� tamb�m.

Voc� morreu, no dia
em que Nahila morreu.

Ah, sim. Voc� quer ser
uma hist�ria de amor eterno, sem fim.

Yunes e Nahila e os filhos deles.

Cada um com sua hist�ria inventada

Menos eu.
N�o quero hist�ria inventada

S� queria ser eu.
Para poder viver.

Nahila tamb�m disse isto
a voc�, na �ltima vez.

E voc� n�o quis ouvir.

Depois, est� tarde

- machucou a cabe�a?
- N�o � nada

Coma alguma coisa

Estou sem fome

Hoje, estou com o cora��o pesado.

Voc� nada v� e tem de me ouvir.

Abra os olhos e veja.

Eu te amo.

Eu tamb�m te amo.
Mas n�o se trata de amor.

Esperei voc� por mais de um ano.

N�o � f�cil atravessar a fronteira
� uma batalha.

H� os feddayin na fronteira
e h� a guerrilha

e sou o respons�vel militar
pelo setor.

Eu sei.
Mas, hoje, quem fala sou.

Voc�, ou�a.

O problema n�o � esperar.
Esperei sempre

- � a luta, a situa��o.
- A situa��o n�o me interessa.

Tenho de falar. Ou�a.

Voc� n�o sabe de nada.

Para voc�, o mundo
s�o estas colinas onde voc� vive

E voc� chega
com seu cheiro de lobo.

Voc� � o lobo da Galil�ia.
Mas e eu?

Voc�s abe o que somos?

Passei toda a minha vida � espera
de ouvir voc� bater na janela.

Sabe o que n�s somos?

Sabe em que nos transformamos?

Teu pai nos guiou para c�

Para viver que vida?

Voc� acredita mesmo
que um xeique cego

pode cuidar de uma fam�lia
de sete filhos?

N�o me entenda mal.

O xeique sempre foi muito mais
que um pai, para mim.

No final da vida, ele falava
com o esp�rito da irm� dele, j� morta

Olhava para mim,
mas falava com ela.

Dizia tudo o que sentia.

Se f�ssemos irm� e irm�o, voc� poderia
dizer tudo e eu diria tudo.

� como se o c�u tivesse desabado
sobre a terra.

Fomos ca�ados. Expulsos.

E os que ficaram tornaram-se
estrangeiros na pr�pria terra

Voc� entende isto?
Somos estrangeiros.

E n�o h� homens.

Porque ningu�m tem terra
nem fuzis nem cavalos.

Tomaram nossas terras.

Nos tornamos ladr�es uns dos outros,
para comer.

Depois, tivemos de trabalhar
para os judeus

nas terras que roubaram de n�s.

O que mais sent�amos era vergonha.

Ningu�m mais conseguia
olhar o pr�prio rosto no espelho.

Ningu�m olhava ningu�m nos olhos.

Depois, vivemos sob lei marcial,
toques de recolher, pris�es.

Eu disse ao oficial que me interrogou:
Por que estou aqui? Sou livre

Nem sei como tive coragem
de abrir a boca Mas disse

"Eu sei que voc�s, judeus,
sofreram muito.

Mas isto n�o lhes d� raz�o
para tamb�m nos fazerem sofrer."

Depois, perguntou
sobre minhas gravidezes.

E eu disse a ele: "Engravido da
minha pr�pria dor."

E ele disse: "V� reunir-se
ao seu marido no L�bano."

Eu respondi: "Por que voc� n�o volta
� Pol�nia? Se quer ficar, fique.

Mas deixe-nos viver em paz."

Eu falava e pensava
"Se Yunes estivesse aqui

Ele falaria ainda mais!"

E eu imaginava
que voc� estava ali.

Falei at� de Saladino

E ele disse:

"Voc�s, �rabes,
sonham acordados."

Entendi muito bem
este "sonhar acordado", mas disse:

"N�o somos �rabes."

"Quando querem, voc�s falam de
libaneses, eg�pcios, jordanianos...

S� os palestinos s�o "�rabes",
para voc�s?

Somos da Palestina.
Somos palestinos.

Falei de prop�sito.

Eu sei que somos �rabes.

Quer saber de uma coisa:
Viramos os �rabes dos �rabes

e os judeus dos judeus.

Voc� nem pergunta
como sobrevivemos.

As crian�as cresceram,
gra�as a Deus.

Falam hebraico melhor
que os judeus.

Salim � mec�nico
numa garagem em Acra

Marwan trabalha com ele

Ahmad escreve poemas.

E Salma � �tima em ingl�s.

Saleh e Nizar
ainda s�o pequenos.

E Nour logo casar�.

Gostaria de comprar uma garagem aqui
para Salem e Marwan.

O que acha da ideia?

Voc� pode nos ajudar?

Pode nos conseguir 3.000 d�lares?

N�o � grave
Daremos um jeito.

Nem deveria ter falado sobre isto.

N�o pense nisto.
Falei para desafogar.

Eu disse ao oficial que me
interrogou:

"O braseiro em que voc�s nos jogaram

os queimar� tamb�m." Vamos
arrast�-los para a mesma fogueira.

Mas o que ele disse, que
"sonhamos acordados"

n�o me saiu da cabe�a.
Nossa vida n�o foi s� sonho?

No passado, voc� contava hist�rias
de Saladino e de Nasser

e eu acreditava em tudo.

Eu sonhava.

E sonhava. E imaginava que,
em cada crian�a, voc� estava.

Quis ser algu�m.

Passei a representar
um papel para os outros.

Encarnei um personagem: A hero�na.

Representei o papel
da mulher do her�i.

Mas todos estes pap�is
me esgotaram.

Um personagem, quando
me interrogavam, outro em casa.

E teu pai dizia:
"Nossas mulheres n�o devem trabalhar."

Eu respondia
E eu mentia sempre, � claro.

Porque tinha de trabalhar.

E nem contei a voc� sobre minha
�nica vit�ria no tribunal israelense

O advogado israelense autorizou
que eu desse o seu nome �s crian�as.

Sempre esquecia de contar,
quando voc� aparecia.

Voc� sempre tinha tantas coisas
a contar.

Eu calava, para ouvi-lo falar

porque queria viver os sonhos
nos quais voc� vivia.

N�o quero mais viver assim.

Seu pai morreu, sua m�e morreu,
estou s�.

S� eu, para cuidar
do futuro das crian�as.

Quero que tenham fam�lia
e que trabalhem.

Estou cansada de representar,
de viver de ilus�es.

Sabe quantos anos tem esta �rvore?

O nome dela � "rom�",
porque ela viu os romanos.

Estas oliveiras s�o pequenas,
mas s�o as melhores que h�.

Deus!

S�o hist�rias
que voc� me contou!

Mais uma vez, s� lembro das suas
hist�rias e n�o lembro das minhas.

Que houve?

N�o vai beber?

N�o gosto.
Detesto arak.

Detesta
mas sempre bebeu comigo.

- Por qu�?
- Para n�o contrariar voc�

Acho que nunca entendi voc�.

No fim da vida
seu pai misturava todas as ideias.

Mas nunca esqueceu dois versos
de um poema

Eu me aproximava dele e dizia:

"Diga que teu cora��o est�
onde o amor deseja estar..."

E ele completava:

"O amor sempre est�
onde est� o primeiro amor."

Voc� n�o quer saber
sobre os camaradas?

Ah, se voc� os visse!
Que coragem!

E o mundo est� mudando.
A OLP n�o � a guarni��o de Chaab!

Eles dizem "Tio Abu Salem..."

Chamam-me de tio, e meu cora��o
� mais jovem que eles!

"Conte sobre a guerra de 1948."
E o que posso contar a eles?

Que faz�amos a guerra
sem compreender aquela guerra?

Que defend�amos as vilas, contra
um ex�rcito de judeus organizados?

N�o.

Ent�o, desenhei uma lua no ch�o

E disse que s� h� lua cheia
uma vez por m�s.

Durante todo o resto do tempo,
alua muda

Alua aumenta, a lua diminui.

Mudar sempre
Esta � a regra do mundo.

As coisas s� ficam paradas, fixas,
por um segundo.

Em seguida,
� crescer, diminuir...

Voc� entende?

- E eu?
- Voc� � como a lua

Por que envelheci?

�. Como a lua.

Meia hora.

Quero dormir meia hora.

Cansei voc�,
com tantas hist�rias.

Voc� voltou a ser um beb�.

Estamos com voc� h� seis meses
e tr�s semanas.

Mais uma semana,
e ser�o sete meses.

Voc� vai nascer outra vez
Pelo amor de Deus, n�o morra.

Mais uma semana
e recome�amos do zero.

Voc� dizia que o homem morre
quando morre o que ele ama.

Nahila j� morreu.
E voc� est� morrendo.

Mas n�o morra assim.

Quer mais hist�rias?

Acabaram.
N�o tenho mais hist�rias

E estou perdido,
entre a sua hist�ria e a minha.

Espere aqui. Vou procurar umas
fotografias.

De Nahila, Salem,
Marwan, Nizar,

Nur, Salma e Ahmad
e os filhos deles.

Vou traz�-las

E voc� me dir� como contar
a hist�ria das fotografias deles

Que tal, Abu Salem?
Falta uma semana para renascer,

voltar para casa
e p�r um fim nesta hist�ria.

Boa-noite

Boa-noite

Procuro a casa de Elie, o Romano.
Voc� o conhece?

Onde fica a casa dele?
Trago uma carta da mulher dele.

Tem certeza de que � aqui?
Estamos em Chatila

- N�o conhe�o ningu�m com este nome.
- � aqui, sim.

A mulher dele
� de Ain El Zeltun.

Entrego a carta e parto.

Estou s� e n�o conhe�o
ningu�m aqui.

Desculpe, mas n�o posso ajud�-la

- Venha c�.
- O qu�?

Deixarei a carta com voc�.
Voc� a entrega

- Mas n�o conhe�o.
- Procure e encontre-o.

Tenho de dormir aqui.
H� algum hotel no campo?

No campo, n�o.
H� hot�is em Beirute

Tenho de passar a noite no campo.

Pode passar a noite na minha casa
Tenho dormido no hospital.

O que aconteceu?
Os israelenses bombardearam sua casa?

Sinto muito. Mas a casa � sua.
Fique � vontade.

- At� amanh�.
- Aonde vai?

Ao hospital.

Estou com fome.

Fiz longa viagem. Parei aqui
S� halva � pouco.

Tome um banho,
antes de ir para o hospital.

Agora, vou cozinhar.

Tem arak?

Claro.

Pensei que todas
as casas fossem de lona

Um forno no ver�o
e geladeira no inverno.

Voc� tem gelo?

N�o temos eletricidade.

Quem gosta de arak,
gosta de gelo.

Detesto arak.

N�o gosto.

Coma.

Tenho de ir.

- H� um doente � minha espera.
- Depois.

Yunes.

"Em nome de Deus,
Misericordioso, Iassin..."

Pelo Al Cor�o da Sabedoria

"Tu �s O Mensageiro

Numa via de retid�o

� uma revela��o para todos

"Deus misericordioso..."

Agora v�o lav�-lo.

"Para Eli, o Romano,
de sua esposa Nahila El Chawah

Yunes, meu amor...

Yunes, meu amor...

em breve reencontrarei
o nosso Criador.

Reuni � minha volta
os meus netos, de nome, Yunes.

Yunes, filho de Nur,
Yunes, filho de Salem,

Yunes, filho de Marwan,
Yunes, filho de Nizar.

Contei a eles nosso segredo:
Bab El Chams, a Porta do Sol.

Mandei-os at� l�
para pegar nossas coisas.

E para fecharem a entrada.

Aquela � a �nica terra libertada,
na Palestina.

Nenhum israelense
jamais pisou aquele ch�o.

Recomendei
que n�o abram a caverna sen�o quando

Yunes lbrahim El Assadi,
o av�, voltar."