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1
00:00:21,226 --> 00:00:24,089
A maioria dos filmes foram
dirigidos por homens.
2
00:00:24,190 --> 00:00:28,690
A maioria dos ditos cl�ssicos
foram dirigidos por homens.
3
00:00:29,675 --> 00:00:34,165
Mas h� 13 d�cadas, em todos os seis
continentes onde se fazem filmes,
4
00:00:34,266 --> 00:00:37,304
milhares de mulheres tamb�m
t�m dirigido filmes.
5
00:00:39,560 --> 00:00:41,550
Alguns dos melhores.
6
00:00:43,404 --> 00:00:45,150
Que filmes elas fizeram?
7
00:00:45,390 --> 00:00:47,729
Que t�cnicas usaram?
8
00:00:49,121 --> 00:00:52,110
O que podemos aprender
sobre cinema com elas?
9
00:00:52,506 --> 00:00:57,415
Vamos revisitar os filmes atrav�s
dos olhos das diretoras.
10
00:00:58,960 --> 00:01:02,529
Vamos fazer um novo
road movie pelo cinema.
11
00:01:06,060 --> 00:01:08,489
MULHERES FAZEM CINEMA
12
00:01:08,590 --> 00:01:12,960
UM NOVO FILME DE ESTRADA
ATRAV�S DO CINEMA.
13
00:01:19,655 --> 00:01:20,954
Enquadramento e tracking
14
00:01:21,055 --> 00:01:24,388
s�o centrais � linguagem
fotogr�fica do cinema,
15
00:01:24,722 --> 00:01:27,221
mas o meio depende de um ingrediente
16
00:01:27,322 --> 00:01:30,821
proveniente de uma arte
mais antiga: O teatro.
17
00:01:30,922 --> 00:01:34,222
Esse ingrediente � a encena��o.
18
00:01:37,755 --> 00:01:41,855
9 - ENCENA��O
19
00:01:42,969 --> 00:01:44,202
Como uma boa diretora
20
00:01:44,303 --> 00:01:48,003
p�e pessoas e coisas
no espa�o em frente � c�mera?
21
00:01:48,717 --> 00:01:52,000
Como ela trata esse espa�o como um palco?
22
00:01:52,398 --> 00:01:54,658
Como faz com que as pessoas
se movimentem dentro dele,
23
00:01:54,759 --> 00:01:57,098
e faz nossos olhos se moverem
ao longo do espa�o?
24
00:01:59,666 --> 00:02:04,066
Foi voc� que me ligou.
25
00:02:05,270 --> 00:02:06,702
N�o fui n�o.
26
00:02:06,803 --> 00:02:10,703
Essa cena � um grande exemplo
de uma das formas mais simples.
27
00:02:11,303 --> 00:02:12,769
Duas pessoas se encontram.
28
00:02:12,870 --> 00:02:15,936
Ambas foram trazidas a esse lugar
sob falso pretexto.
29
00:02:16,503 --> 00:02:19,236
T�mida, ela sai andando.
30
00:02:22,447 --> 00:02:25,969
Seus p�s indo na sua dire��o,
para a esquerda.
31
00:02:26,070 --> 00:02:28,970
Os p�s dele andando para
a direita, o caminho dele.
32
00:02:31,903 --> 00:02:33,536
Mas a� ela para.
33
00:02:35,670 --> 00:02:39,136
E ele tamb�m, e ele vira para a esquerda.
34
00:02:41,499 --> 00:02:44,265
Ser� que ela o ouve se aproximar,
sente sua aproxima��o?
35
00:02:46,171 --> 00:02:48,005
Uma tomada dos dois.
36
00:02:57,297 --> 00:02:59,563
A lua est� linda.
37
00:03:01,097 --> 00:03:03,030
�, est� mesmo.
38
00:03:03,997 --> 00:03:06,297
Mas a� a c�mera olha para a esquerda.
39
00:03:08,830 --> 00:03:11,597
Em seguida para a direita,
e a� ele vira novamente.
40
00:03:14,130 --> 00:03:16,062
Para a direita e andando.
41
00:03:16,163 --> 00:03:19,297
Mas a� ela vira-se, parada.
42
00:03:21,563 --> 00:03:25,263
S�o duas rota��es em uma linha horizontal.
43
00:03:25,630 --> 00:03:29,462
A encena��o � como as pessoas
s�o movimentadas no espa�o.
44
00:03:29,563 --> 00:03:32,763
Ao fazerem isso, elas d�o forma ao espa�o.
45
00:03:34,891 --> 00:03:37,358
A diretora Kinuyo Tanaka destramente,
46
00:03:37,459 --> 00:03:39,321
de maneira hitchcockiana,
47
00:03:39,422 --> 00:03:41,891
nos leva a imaginar uma linha
esquerda-direita,
48
00:03:41,992 --> 00:03:45,308
o que na matem�tica � chamado de eixo X.
49
00:03:45,454 --> 00:03:49,454
� o eixo das persegui��es
de carros e dos duelos.
50
00:03:50,162 --> 00:03:55,061
Mas na encena��o cinematogr�fica,
um outro eixo, o eixo Z,
51
00:03:55,162 --> 00:03:57,162
� mais fascinante.
52
00:04:06,595 --> 00:04:09,595
Essa cena de �As Faces
de Toni Erdmann� mostra o motivo.
53
00:04:10,429 --> 00:04:14,528
� direita est� a mulher que vimos
antes, tentando tirar o vestido.
54
00:04:14,629 --> 00:04:17,194
Ela est� em um restaurante chique,
com suas colegas de trabalho.
55
00:04:17,295 --> 00:04:20,529
Est�o rindo de um homem rid�culo
que conheceram mais cedo.
56
00:04:20,995 --> 00:04:24,730
As colegas n�o sabem que
o homem � o pai da mulher.
57
00:04:24,831 --> 00:04:26,931
Ele est� se passando por um idiota,
58
00:04:27,032 --> 00:04:29,232
tentando desconcertar sua filha.
59
00:04:34,351 --> 00:04:39,118
Ela est� olhando pra tr�s e vemos
uma mesa se movendo pra frente.
60
00:04:41,729 --> 00:04:43,762
Ele continua ali.
61
00:04:45,525 --> 00:04:51,091
A diretora Maren Ade planta sua piada,
a bomba, o pai, no pano de fundo.
62
00:04:52,947 --> 00:04:59,613
O eixo, dessa vez, n�o � esq-dir,
o X, mas dentro-fora, o Z.
63
00:05:01,347 --> 00:05:03,612
Ela move nossos olhos
para baixo no quadro.
64
00:05:03,713 --> 00:05:06,547
Ela encena a cena em profundidade.
65
00:05:10,080 --> 00:05:12,180
-Voc� comeu o carpaccio?
-Comi sim.
66
00:05:13,347 --> 00:05:14,913
O polvo presta?
67
00:05:16,505 --> 00:05:19,841
A diretora russo-ucraniana-
-romena Kira Muratova
68
00:05:19,942 --> 00:05:22,542
� uma mestra do eixo Z.
69
00:05:23,047 --> 00:05:26,512
Um transl�cido set de apartamento
bloqueia nossa vis�o do fundo,
70
00:05:26,613 --> 00:05:28,280
at� que ela desce.
71
00:05:37,280 --> 00:05:40,029
E vemos, atrav�s da estrutura em madeira,
72
00:05:40,130 --> 00:05:43,930
que as pessoas que falam na cena
est�o no distante eixo Z.
73
00:05:44,076 --> 00:05:45,210
Elas falam.
74
00:05:45,311 --> 00:05:48,142
Eu n�o sei, eu n�o sei.
75
00:05:48,243 --> 00:05:49,279
E quem sabe?
76
00:05:49,380 --> 00:05:52,445
Talvez tenha sido o Igor,
talvez Yura, quem sabe Gisha,
77
00:05:52,546 --> 00:05:56,180
talvez Pasha. Eu n�o tenho
nada a ver com isso.
78
00:05:57,113 --> 00:05:59,512
Muratova faz uma tracking para a direita.
79
00:05:59,613 --> 00:06:02,912
Quando isso vai acabar?
80
00:06:03,013 --> 00:06:05,397
Destru�ram minha cena inteira de novo.
81
00:06:05,546 --> 00:06:07,679
O p�blico riu de mim.
82
00:06:07,780 --> 00:06:10,303
N�o leve isso t�o a s�rio!
N�o aconteceu nada t�o ruim.
83
00:06:11,180 --> 00:06:14,545
Estou fazendo um papel s�rio
e o p�blico riu de mim.
84
00:06:14,646 --> 00:06:17,079
Mostre-lhes o dedo e eles rir�o.
85
00:06:17,180 --> 00:06:19,945
Eu fiquei mal no palco!
86
00:06:20,046 --> 00:06:23,180
E quantas vezes ser� que
terei de lhe perguntar?
87
00:06:23,746 --> 00:06:27,113
E a�, um dos personagens
avan�a em nossa dire��o.
88
00:06:28,613 --> 00:06:32,012
Seu movimento parece fazer
a tomada retroceder.
89
00:06:32,113 --> 00:06:35,245
Ao faz�-lo, os verdadeiros
interlocutores s�o revelados.
90
00:06:35,346 --> 00:06:38,346
Eles estiveram atr�s
da imagem o tempo todo.
91
00:06:38,880 --> 00:06:41,379
E por que voc� est�
questionando o meu trabalho?
92
00:06:41,480 --> 00:06:42,845
N�o estou lhe dizendo como
voc� deve fazer o papel!
93
00:06:42,946 --> 00:06:43,912
Como se pudesse...
94
00:06:44,013 --> 00:06:46,745
Ele n�o o ensina a interpretar o papel.
95
00:06:46,846 --> 00:06:48,929
Uma encena��o wellesiana.
96
00:06:49,030 --> 00:06:52,830
Uma cena que n�o soaria estranha
em seu filme �A Marca da Maldade�.
97
00:06:57,913 --> 00:07:00,662
Essa cena de �Garotas�, de C�line Sciamma,
98
00:07:00,763 --> 00:07:03,729
combina encena��es nos eixos X e Z.
99
00:07:03,833 --> 00:07:06,345
Primeiro vem um radical eixo Z.
100
00:07:06,446 --> 00:07:09,746
A a��o vem diretamente
de encontro � lente.
101
00:07:12,580 --> 00:07:15,380
Em seguida estamos
no interior, numa escada.
102
00:07:18,580 --> 00:07:21,485
Mas, em seguida, esse corte
para a garota e a parede,
103
00:07:21,586 --> 00:07:23,753
que bloqueia o pano de fundo.
104
00:07:25,413 --> 00:07:26,846
E o garoto chega.
105
00:07:27,646 --> 00:07:31,380
E novamente estamos em esquerda-
-direita, como o casal japon�s.
106
00:07:36,046 --> 00:07:39,380
E a�, quando se beijam,
as luzes se apagam,
107
00:07:40,239 --> 00:07:42,488
e praticamente n�o conseguimos ver nada.
108
00:07:42,748 --> 00:07:45,314
O diretor Jean-Luc Godard
disse que a escurid�o
109
00:07:45,415 --> 00:07:48,148
� o �fora do quadro por outros meios�.
110
00:08:04,873 --> 00:08:08,340
E, quando a luz se acende
de novo, ouvimos vozes.
111
00:08:12,107 --> 00:08:14,806
O casal n�o quer ser visto
por essas pessoas.
112
00:08:14,907 --> 00:08:18,640
Elas est�o fora do quadro,
outro tipo de encena��o.
113
00:08:25,773 --> 00:08:27,572
Essa cena mostra o qu�o eficaz
114
00:08:27,673 --> 00:08:30,440
o fora de quadro pode ser
para a encena��o.
115
00:08:32,107 --> 00:08:36,506
Jovens espalhados � beira
de uma piscina no eixo X.
116
00:08:36,607 --> 00:08:39,539
Uma casa antiga como
pano de fundo teatral.
117
00:08:39,640 --> 00:08:42,573
Ouvimos uma briga vindo da casa.
118
00:08:42,940 --> 00:08:45,227
O personagem interpretado
por Tom Hiddleston
119
00:08:45,328 --> 00:08:48,962
est� tomando uma bronca do pai,
por ter batido com seu carro.
120
00:08:50,823 --> 00:08:53,106
Eu me importo porque
o carro foi inutilizado
121
00:08:53,207 --> 00:08:55,739
e quatro vidas correram perigo!
122
00:08:55,840 --> 00:08:59,307
As pessoas ao redor da piscina
t�m sua parcela de culpa.
123
00:08:59,707 --> 00:09:02,873
O pai que est� gritando
poderia estar culpando-as.
124
00:09:04,007 --> 00:09:06,673
Voc� � um mimadinho indigno!
125
00:09:07,840 --> 00:09:09,506
N�o quero voltar a v�-lo!
126
00:09:09,607 --> 00:09:13,339
Se voc� me bater,
eu baterei em voc�, t� bem?
127
00:09:13,440 --> 00:09:17,640
Nossos olhos est�o livres para
vagar por esse palco externo.
128
00:09:37,640 --> 00:09:40,139
Falar em mover os olhos
atrav�s de um palco
129
00:09:40,240 --> 00:09:45,907
parece soar como coreografia,
e a encena��o � um tipo disso.
130
00:09:47,873 --> 00:09:52,239
Esse filme argentino sobre uma
famosa poeta/freira do s�culo 17
131
00:09:52,340 --> 00:09:55,507
� um bom exemplo
de encena��o coreografada.
132
00:09:55,978 --> 00:09:59,445
As freiras est�o votando,
mas movem-se como cobras.
133
00:10:04,107 --> 00:10:06,473
Em seguida, corta para uma
tomada de grua � esquerda.
134
00:10:07,873 --> 00:10:09,639
Uma fileira move-se para a esquerda,
135
00:10:09,740 --> 00:10:13,373
mas outras est�o descendo pelas
escadas, movendo-se para a direita.
136
00:10:14,807 --> 00:10:16,672
A diretora Maria Lu�sa Bemberg
137
00:10:16,773 --> 00:10:20,940
faz a encena��o como se fosse
uma rotina de dan�a teatral.
138
00:10:32,607 --> 00:10:34,040
E que tal essa?
139
00:10:34,407 --> 00:10:35,706
Estamos na Ucr�nia.
140
00:10:35,807 --> 00:10:39,340
Um menino corre em c�mera
lenta ao longo do eixo X.
141
00:10:39,773 --> 00:10:42,940
Os fazendeiros ceifando s�o
coreografados em conjunto.
142
00:10:49,527 --> 00:10:50,972
E de novo.
143
00:10:51,073 --> 00:10:53,940
A estepe como um vasto palco.
144
00:10:57,373 --> 00:10:59,806
A diretora Yuliya Solntseva contrasta
145
00:10:59,907 --> 00:11:03,223
o mundo dos trabalhadores,
ceifando flores selvagens,
146
00:11:03,536 --> 00:11:06,775
com o menino livre,
que passa correndo por eles.
147
00:11:07,927 --> 00:11:11,561
Ainda n�o lhe pertence o rigor
encenado da vida adulta.
148
00:11:25,006 --> 00:11:28,740
Aqui, v�rios elementos
da encena��o se unem.
149
00:11:29,240 --> 00:11:34,340
Os codiretores Agn�s Varda e JR
est�o sentados em cont�ineres.
150
00:11:34,673 --> 00:11:38,240
Eles observam uma obra de arte
que fizeram sendo montada.
151
00:11:38,873 --> 00:11:44,273
� como se os artistas observassem
empilhadeiras dan�ando no palco.
152
00:11:44,740 --> 00:11:46,572
Eles fotografaram
as esposas dos estivadores,
153
00:11:46,673 --> 00:11:49,373
e as imagens imensas
est�o se materializando.
154
00:11:49,973 --> 00:11:53,539
A�, no ritmo da m�sica, esse corte...
155
00:11:53,640 --> 00:11:57,606
e a c�mera sobe
e a empilhadeira est� planando.
156
00:12:04,073 --> 00:12:07,039
E � como se Agn�s conduzisse
todo esse movimento,
157
00:12:07,140 --> 00:12:08,806
toda essa encena��o.
158
00:12:09,206 --> 00:12:13,206
E agora, plataformas inteiras
parecem dan�ar ao redor deles.
159
00:12:18,740 --> 00:12:21,240
Uma sequ�ncia magistralmente encenada.
160
00:12:27,619 --> 00:12:30,739
Mulheres-totem, sim.
Mas audaciosas tamb�m.
161
00:12:30,840 --> 00:12:35,073
Preparadas para sentar-se
dentro de seus pr�prios cora��es.
162
00:12:55,773 --> 00:12:58,372
A influ�ncia do teatro
na iconografia cinematogr�fica
163
00:12:58,473 --> 00:13:01,539
� ainda mais acentuada
em um filme como esse,
164
00:13:01,640 --> 00:13:04,006
�The Girls� de Mai Zetterling.
165
00:13:06,631 --> 00:13:09,931
Um grupo est� em viagem
para o norte da Su�cia.
166
00:13:10,406 --> 00:13:12,340
Um corredor em eixo Z.
167
00:13:14,473 --> 00:13:16,340
Uma mulher abre uma porta
168
00:13:20,706 --> 00:13:24,106
e nos desvenda o espa�o mais
teatral at� o momento.
169
00:13:27,173 --> 00:13:30,906
As roupas s�o despidas como se
as pessoas fossem interligadas.
170
00:13:31,540 --> 00:13:34,239
O filme de Zetterling � sobre
esse tipo de interconex�o,
171
00:13:34,340 --> 00:13:37,140
sobre como a experi�ncia
pode ser coletiva.
172
00:13:38,206 --> 00:13:42,540
N�o indiv�duos, mas uma companhia
se entrecruzando no quarto.
173
00:13:52,506 --> 00:13:56,572
E, finalmente, veja
esse complexo entrecruzar,
174
00:13:56,673 --> 00:13:58,272
essa encena��o.
175
00:13:58,373 --> 00:14:00,872
Uma tomada de oito minutos e meio.
176
00:14:00,973 --> 00:14:03,140
A tomada final do filme.
177
00:14:04,773 --> 00:14:05,939
Um quarto.
178
00:14:06,040 --> 00:14:08,273
A borda da cama est� � esquerda.
179
00:14:12,106 --> 00:14:14,273
Mas de onde v�m as vozes?
180
00:14:22,651 --> 00:14:24,851
E de onde emana o choro?
181
00:14:28,288 --> 00:14:30,122
A� n�s vemos essa mulher...
182
00:14:36,273 --> 00:14:39,873
e notamos que h� um espa�o
� esquerda da tomada.
183
00:14:40,273 --> 00:14:41,840
E atr�s da tomada.
184
00:14:42,440 --> 00:14:44,973
O espa�o est� se reavivando.
185
00:14:56,106 --> 00:14:58,940
Em seguida, a mulher
abre a porta do arm�rio.
186
00:14:59,573 --> 00:15:02,206
O espelho nos mostra quem est� na cama.
187
00:15:02,573 --> 00:15:05,673
O personagem principal
do filme, Stefan Zweig.
188
00:15:06,312 --> 00:15:07,546
Ele est� morto.
189
00:15:16,606 --> 00:15:22,039
A� as pessoas saem e, genialmente,
a porta vira ainda mais,
190
00:15:22,140 --> 00:15:25,173
como se estivesse fazendo uma
panor�mica em tomada est�tica,
191
00:15:27,273 --> 00:15:32,073
e vemos outra porta, a porta
que sai do quarto, do filme.
192
00:15:39,263 --> 00:15:40,795
Encena��o em profundidade.
193
00:15:40,896 --> 00:15:46,229
Eixo Z, eixo X e a geometria
no meio deles.
194
00:15:46,763 --> 00:15:50,596
Um momento comovente,
espetacularmente encenado.
195
00:16:21,596 --> 00:16:23,728
Para onde v�o essas pessoas?
196
00:16:23,829 --> 00:16:27,595
Nosso pr�ximo cap�tulo
faz a mesma pergunta.
197
00:16:27,696 --> 00:16:31,429
10 - JORNADA
198
00:16:34,396 --> 00:16:38,328
Vimos como filmes s�o estabelecidos
e como eles s�o visualizados.
199
00:16:38,429 --> 00:16:41,128
Mas o cinema � feito
de quadros em movimento, claro.
200
00:16:41,229 --> 00:16:42,795
As pessoas se movem nele.
201
00:16:42,896 --> 00:16:45,062
Elas partem em jornadas.
202
00:16:47,829 --> 00:16:50,595
Como se faz uma boa jornada no cinema?
203
00:16:50,696 --> 00:16:52,896
Como elas funcionam no cinema?
204
00:16:53,829 --> 00:16:57,229
Algumas das jornadas mais simples
do cinema s�o m�gicas.
205
00:17:07,929 --> 00:17:11,696
Voltamos a �The Enchanted Desna�,
de Yuliya Solntseva.
206
00:17:13,296 --> 00:17:18,462
Um menino, uma �rvore, m�sica
suave, como o suave cheiro da flor.
207
00:17:20,162 --> 00:17:23,895
A c�mera de Solntseva enxerga
as �rvores como um devaneio.
208
00:17:23,996 --> 00:17:28,095
O menino pausa para ver tudo,
em seguida parte.
209
00:17:28,196 --> 00:17:30,062
Sua jornada tem in�cio.
210
00:17:33,429 --> 00:17:35,802
Ele � como a Polegarzinha
de Lotte Reiniger,
211
00:17:35,903 --> 00:17:38,496
encantada pela sinfonia da natureza.
212
00:17:44,696 --> 00:17:47,362
Mas aqui Reiniger
acrescenta um novo elemento.
213
00:17:48,462 --> 00:17:50,762
A borboleta puxa a garota.
214
00:17:51,262 --> 00:17:54,595
Uma personagem � puxada
para uma jornada, ou empurrada?
215
00:17:54,696 --> 00:17:56,262
Ou ambos?
216
00:18:11,396 --> 00:18:14,895
A pequena Nana, que vimos antes
brincando com um coelho morto,
217
00:18:14,996 --> 00:18:16,728
agora est� na estrada.
218
00:18:16,829 --> 00:18:20,196
Sua m�e desapareceu,
mas n�o sabemos para onde.
219
00:18:20,862 --> 00:18:24,395
A Polegarzinha foi puxada,
mas talvez Nana seja empurrada,
220
00:18:24,496 --> 00:18:28,762
para encontrar comida, agora que
sua m�e n�o lhe d� mais nada.
221
00:18:30,829 --> 00:18:33,129
Estamos est�ticos atr�s dela.
222
00:18:34,696 --> 00:18:38,796
A diretora Val�rie Massadian foi
assistente da fot�grafa Nan Goldin,
223
00:18:40,029 --> 00:18:43,162
e aqui � como se ela estivesse
tirando uma s�rie de fotos.
224
00:18:43,629 --> 00:18:46,272
Nana pula por cima do fosso e nos faz rir,
225
00:18:46,373 --> 00:18:48,640
mas tamb�m existe um risco nele.
226
00:18:49,829 --> 00:18:52,662
Uma dica dos perigos das jornadas.
227
00:18:54,129 --> 00:18:57,128
Como ele p�de ter feito isso,
se s� consertou os ossos?
228
00:18:57,229 --> 00:19:00,296
Ele � muito flex�vel. �timo.
229
00:19:04,962 --> 00:19:06,861
Fant�stico, incr�vel!
230
00:19:06,962 --> 00:19:10,028
O genial �S�ndrome Ast�nica�,
de Kira Muratova,
231
00:19:10,129 --> 00:19:12,095
tem v�rias dessas jornadas.
232
00:19:12,196 --> 00:19:15,629
Aqui, uma mulher em p� balan�a.
233
00:19:16,496 --> 00:19:19,796
Que conversa � essa?
234
00:19:21,029 --> 00:19:22,995
O �nibus chegou.
235
00:19:23,096 --> 00:19:25,561
De novo com essas flores secas.
236
00:19:25,662 --> 00:19:27,562
Sobe em um bonde.
237
00:19:28,062 --> 00:19:30,262
Voc� n�o vai conseguir.
Essa � a �ltima parada.
238
00:19:30,996 --> 00:19:32,762
Uma viajante solit�ria.
239
00:19:33,829 --> 00:19:38,368
Nessa tomada, os sons eletr�nicos
e as sombras do bonde
240
00:19:38,469 --> 00:19:41,207
fazem-nos sentir como se
estiv�ssemos dentro de sua cabe�a.
241
00:19:48,262 --> 00:19:51,862
� o ve�culo que se movimenta ou � o sol?
242
00:20:20,096 --> 00:20:23,728
Em seguida, um empurr�o igual, e
ao contr�rio, para descer do bonde.
243
00:20:23,829 --> 00:20:26,961
-Ajude-me.
-Permita-me, senhorita.
244
00:20:27,062 --> 00:20:28,861
Ela est� com raiva das pessoas...
245
00:20:28,962 --> 00:20:30,928
-Ajude-me.
-Vai.
246
00:20:31,029 --> 00:20:32,529
E da modernidade.
247
00:20:39,860 --> 00:20:41,327
Em seguida, trilhos.
248
00:20:52,960 --> 00:20:55,076
Aguardando uma nova jornada?
249
00:20:55,273 --> 00:20:58,055
E ela fica em p�, balan�ando de novo.
250
00:20:58,156 --> 00:21:01,156
O mundo a empurra rumo ao desespero.
251
00:21:26,062 --> 00:21:29,061
Nesse filme pouco visto de Marva Nabili,
252
00:21:29,162 --> 00:21:33,062
ela recusa-se a se casar
e tira o len�o debaixo da chuva.
253
00:21:35,603 --> 00:21:37,761
Ela segue seu pr�prio caminho.
254
00:21:37,862 --> 00:21:41,328
Carrega folhas como se fossem
as asas de anjos.
255
00:21:43,795 --> 00:21:46,203
J� se passaram 34 minutos de proje��o,
256
00:21:46,304 --> 00:21:48,394
mas ainda n�o vimos seu rosto.
257
00:21:48,495 --> 00:21:50,595
Uma viajante misteriosa.
258
00:22:10,328 --> 00:22:12,762
-Qual o problema?
-Tenho de deixar entrar ar frio.
259
00:22:13,256 --> 00:22:16,056
Mikey e Nicky s�o bem menos misteriosos.
260
00:22:16,157 --> 00:22:19,227
E h� dois deles. Dois na estrada.
261
00:22:19,328 --> 00:22:21,327
Est�o partindo em uma jornada.
262
00:22:21,428 --> 00:22:26,394
Como Nana e a mulher iraniana,
s�o empurrados do quarto de hotel.
263
00:22:26,495 --> 00:22:28,261
Algu�m os persegue.
264
00:22:29,161 --> 00:22:30,927
-Vamos.
-Voc� vai acordar todo mundo.
265
00:22:31,028 --> 00:22:33,027
Por onde, escada ou elevador?
266
00:22:33,128 --> 00:22:34,594
Elevador.
267
00:22:34,695 --> 00:22:35,994
Escada. Vamos!
268
00:22:36,095 --> 00:22:37,995
Elevador ou escada?
269
00:22:39,361 --> 00:22:42,294
Elaine May nos mostra
a ansiedade da partida,
270
00:22:42,395 --> 00:22:44,160
a indecis�o de come�ar,
271
00:22:44,261 --> 00:22:46,661
um come�o de jornada acidentado.
272
00:22:59,428 --> 00:23:01,260
-Voc� � rid�culo.
-Voc� sairia primeiro?
273
00:23:01,361 --> 00:23:04,260
-Sim, eu saio primeiro.
-Voc� vai sair primeiro?
274
00:23:04,361 --> 00:23:08,228
Sim, eu saio primeiro.
Mas n�o tem ningu�m l�.
275
00:23:08,561 --> 00:23:09,894
Eu sou o �nico que sabe
que voc� est� aqui.
276
00:23:09,995 --> 00:23:13,228
-Ent�o por que n�o sai primeiro?
-Eu vou sair primeiro.
277
00:23:20,995 --> 00:23:22,827
Outra dupla na estrada.
278
00:23:22,928 --> 00:23:24,958
Eles t�m vinho e flores.
279
00:23:25,059 --> 00:23:26,626
Como vimos antes,
280
00:23:26,727 --> 00:23:29,627
ela � de classe m�dia
e ele de classe oper�ria.
281
00:23:31,095 --> 00:23:33,728
Uma trombeta soa
a desaprova��o desse homem.
282
00:23:39,595 --> 00:23:41,495
Agora est�o de m�os dadas,
283
00:23:51,161 --> 00:23:53,895
mas um pintor tamb�m os desdenha.
284
00:24:02,261 --> 00:24:04,528
Em seguida esse homem, um contrabaixo.
285
00:24:05,798 --> 00:24:07,360
Um padr�o se constr�i.
286
00:24:07,461 --> 00:24:09,561
A cidade toda os julga.
287
00:24:11,961 --> 00:24:14,927
Est�o em exposi��o, uma jornada moral.
288
00:24:15,028 --> 00:24:18,361
S�o rebeldes sociais. Bonnie e Clyde.
289
00:24:19,728 --> 00:24:21,513
A jornada os une.
290
00:24:21,614 --> 00:24:23,947
A viagem � uma esp�cie de cola.
291
00:25:05,228 --> 00:25:06,794
Para al�m de empurrar e puxar,
292
00:25:06,895 --> 00:25:10,095
para al�m das aventuras solit�rias
e de duplas nas estradas,
293
00:25:11,295 --> 00:25:14,227
h� um dos grandes tropos
do cinema de entretenimento,
294
00:25:14,328 --> 00:25:16,028
a cena de persegui��o.
295
00:25:17,528 --> 00:25:20,394
A persegui��o dinamiza o eixo X.
296
00:25:20,495 --> 00:25:23,261
E isso desde o come�o do cinema.
297
00:25:24,593 --> 00:25:28,059
Alice Guy-Blach� foi uma
das primeiras diretoras,
298
00:25:28,160 --> 00:25:30,159
das primeiras diretoras de fic��o,
299
00:25:30,260 --> 00:25:35,326
e foi diretora art�stica do maior
est�dio pr�-Hollywood dos EUA.
300
00:25:35,427 --> 00:25:39,108
Aqui ela mostra um cachorro
que roubou v�rias salsichas.
301
00:25:39,209 --> 00:25:40,609
Algu�m o persegue.
302
00:25:40,710 --> 00:25:42,186
E a� outra pessoa.
303
00:25:42,287 --> 00:25:45,587
Em seguida, metade da cidade.
Eles est�o furiosos.
304
00:25:49,515 --> 00:25:51,549
E a� o cachorro pula por uma janela.
305
00:25:53,749 --> 00:25:55,881
Uma mulher estava tirando
as penas de um ganso.
306
00:25:55,982 --> 00:25:58,015
Ela ignora o que est�
prestes a arrebat�-la.
307
00:25:59,815 --> 00:26:01,749
A sociedade em persegui��o.
308
00:26:06,049 --> 00:26:08,215
As penas por todos os lados.
309
00:26:14,515 --> 00:26:16,248
O ganso se transforma na arma dela.
310
00:26:16,349 --> 00:26:17,782
Caos.
311
00:26:19,015 --> 00:26:22,449
Uma boa persegui��o
� cheia dele. Ela cresce.
312
00:26:23,815 --> 00:26:26,749
Encontra obst�culos
e acaba com os obst�culos.
313
00:26:32,702 --> 00:26:34,935
Agora estamos em um trilho.
314
00:26:37,015 --> 00:26:38,715
O que poderia dar errado?
315
00:27:09,549 --> 00:27:11,414
Em seu primeiro filme como diretora,
316
00:27:11,515 --> 00:27:15,682
Kinuyo Tanaka nos brindou com
uma persegui��o lenta e emotiva.
317
00:27:17,482 --> 00:27:19,248
Um homem procura uma mulher.
318
00:27:19,349 --> 00:27:22,982
Ele soube que ela usa um conjunto
xadrez e luvas brancas.
319
00:27:24,982 --> 00:27:28,182
O vislumbre de tal conjunto
por tr�s. Seria ela?
320
00:27:38,215 --> 00:27:42,281
Eles chegam � esta��o.
O conjunto de novo. E as luvas.
321
00:27:42,382 --> 00:27:44,049
Com certeza � ela.
322
00:28:05,231 --> 00:28:06,247
Michiko!
323
00:28:06,348 --> 00:28:10,148
Em seguida, ela est� num trem
e vira a cabe�a. � ela.
324
00:28:10,782 --> 00:28:12,015
Michiko!
325
00:28:17,548 --> 00:28:19,014
Ela abandona sua jornada.
326
00:28:19,115 --> 00:28:21,082
Eles se impelem um para o outro.
327
00:28:30,082 --> 00:28:32,214
Em seguida, essa tomada lateral dele.
328
00:28:32,315 --> 00:28:35,481
Ela entra no quadro e, de repente,
n�s estamos dentro do trem,
329
00:28:35,582 --> 00:28:38,447
e aquela bela porta a bloqueia
por um instante,
330
00:28:38,548 --> 00:28:40,315
em seguida, o trem parte.
331
00:28:40,948 --> 00:28:44,715
Uma pequena aula magna
de como filmar uma persegui��o.
332
00:28:54,082 --> 00:28:57,381
83 anos ap�s o cachorro
correndo com as salsichas,
333
00:28:57,482 --> 00:29:01,182
Kathryn Bigelow aproveitou
v�rias de suas ideias visuais.
334
00:29:02,982 --> 00:29:05,214
Um sujeito segurando
uma mangueira � derrubado.
335
00:29:05,315 --> 00:29:07,148
A c�mera corre com eles.
336
00:29:10,082 --> 00:29:13,047
Uma bicicleta, um caminh�o,
como o trem de Guy-Blach�,
337
00:29:13,148 --> 00:29:14,648
outras duas bicicletas.
338
00:29:18,715 --> 00:29:20,747
Diversos cortes. C�mera na m�o.
339
00:29:20,848 --> 00:29:22,948
A vida como um curso de ataque.
340
00:29:26,848 --> 00:29:30,648
Em seguida, entra numa casa
com uma mulher como a do ganso.
341
00:29:34,915 --> 00:29:36,714
Chicotes e mais corrida.
342
00:29:36,815 --> 00:29:39,247
S�o quantas portas, paredes
e becos at� agora?
343
00:29:39,348 --> 00:29:41,248
Uma d�zia? Mais?
344
00:29:55,960 --> 00:29:58,815
O vidro � estilha�ado.
Outra mulher do ganso.
345
00:30:02,348 --> 00:30:05,382
Uma persegui��o � como
uma vida em rota��o r�pida.
346
00:30:13,492 --> 00:30:17,657
Viajantes solos, duplos, persegui��es.
347
00:30:17,758 --> 00:30:21,757
Essas estradas nos levam,
claro, para os carros no cinema,
348
00:30:21,858 --> 00:30:23,824
em especial no cinema americano.
349
00:30:23,925 --> 00:30:26,857
Um carro � como uma c�mera.
350
00:30:26,958 --> 00:30:31,592
Mais uma vez, a base vem do cinema mudo.
351
00:30:32,499 --> 00:30:36,198
A pioneira escritora-diretora-
-produtora canadense Nell Shipman
352
00:30:36,299 --> 00:30:39,999
amava carros e adorava filmar externas.
353
00:30:40,365 --> 00:30:42,840
D�cadas antes do programa �Top Gear�,
354
00:30:42,941 --> 00:30:45,641
ela codirigiu uma cena assim.
355
00:30:46,999 --> 00:30:48,731
Um carro como aventureiro,
356
00:30:48,832 --> 00:30:51,464
um brinquedo testado at� a destrui��o.
357
00:30:51,565 --> 00:30:55,132
O ato de dirigir como um teste
de vontade e de coragem.
358
00:31:24,165 --> 00:31:28,298
Nessa cena de �Docinho da Am�rica�,
de Andrea Arnold, em contraste,
359
00:31:28,399 --> 00:31:30,764
o carro � um lugar seguro.
360
00:31:30,865 --> 00:31:33,564
Um quarto e um reduto sobre rodas.
361
00:31:33,665 --> 00:31:37,199
uma alcova onde voc� encontra
com os amigos para falar e rir.
362
00:31:38,732 --> 00:31:41,398
Um microcosmo, uma carona roqueira.
363
00:31:41,499 --> 00:31:43,498
Yeah, yeah
364
00:31:43,599 --> 00:31:45,431
Eu tiro da lama
365
00:31:45,532 --> 00:31:47,498
Yeah, yeah, yeah
366
00:31:47,599 --> 00:31:49,464
Veja como eu quebro meu pulso
367
00:31:49,565 --> 00:31:51,264
Fa�o esse chicote de �gua
368
00:31:51,365 --> 00:31:53,031
Estico-o e o viro
369
00:31:53,132 --> 00:31:55,032
S� penso nas batatinhas
370
00:31:55,632 --> 00:31:58,631
Os pensamentos dos jovens
de Arnold logo se viram para o sexo,
371
00:31:58,732 --> 00:32:01,431
assim como os de muitos viajantes
em carros no cinema.
372
00:32:01,532 --> 00:32:05,332
Os carros eram comercializados
como m�quinas de sexo.
373
00:32:10,365 --> 00:32:12,264
No primeiro longa de Kathryn Bigelow,
374
00:32:12,365 --> 00:32:14,331
codirigido por Monty Montgomery,
375
00:32:14,432 --> 00:32:18,332
essa cena disseca
o aspecto visual dos carros.
376
00:32:20,233 --> 00:32:21,992
Um carro quebrado.
377
00:32:22,093 --> 00:32:24,198
Um momento arquet�pico de jornadas.
378
00:32:24,299 --> 00:32:27,199
Sua porta aberta enquadra o motociclista.
379
00:32:28,865 --> 00:32:30,532
� o Willem Dafoe.
380
00:32:33,093 --> 00:32:34,560
A c�mera faz um tracking.
381
00:32:38,032 --> 00:32:41,099
Vemos uma mulher. Ela fecha a porta.
382
00:32:41,965 --> 00:32:44,332
Ela est� enquadrada, assim como ele.
383
00:32:45,499 --> 00:32:48,432
Os olhos dela o seguem
em torno da casa de vidro.
384
00:32:49,774 --> 00:32:51,607
Os p�s dele...
385
00:32:53,099 --> 00:32:56,899
Eu podia jurar que os pneus desses
carros se trocavam sozinhos.
386
00:32:58,165 --> 00:32:59,264
�.
387
00:32:59,365 --> 00:33:02,264
A�, um espelho lateral
permite que ela o veja.
388
00:33:02,365 --> 00:33:05,064
O carro � como uma cabine.
Em seguida, a m�o dele.
389
00:33:05,165 --> 00:33:07,599
Quer me dar as chaves do porta-malas?
390
00:33:08,032 --> 00:33:11,499
Um instante depois, o primeiro
olhar trocado entre os dois.
391
00:33:13,932 --> 00:33:17,531
Em seguida, estamos dentro
do carro, o local seguro dela.
392
00:33:17,632 --> 00:33:20,997
O espa�o de vis�o dela,
a porta os separa...
393
00:33:21,098 --> 00:33:22,731
N�o vou ficar esperando o trem.
394
00:33:22,832 --> 00:33:24,597
como um guich� de compra de passagens.
395
00:33:25,298 --> 00:33:29,298
� como se ele estivesse vendendo, ou ela.
396
00:33:42,565 --> 00:33:44,532
A� ele vai embora de novo,
397
00:33:45,798 --> 00:33:48,965
mas ela usa o retrovisor
para olhar para tr�s.
398
00:33:53,098 --> 00:33:55,631
Pulamos para Buenos Aires
399
00:33:55,732 --> 00:33:59,565
e o filme �Chuva�, da diretora
argentina Paula Hern�ndez.
400
00:34:00,198 --> 00:34:02,698
Essa mulher est� morando em seu carro.
401
00:34:04,798 --> 00:34:07,748
Um lugar de seguran�a de novo,
depois da chuva.
402
00:34:07,882 --> 00:34:09,464
Uma lanchonete.
403
00:34:09,565 --> 00:34:11,064
Ela est� presa no tr�nsito,
404
00:34:11,165 --> 00:34:13,997
mas uma como��o tem in�cio,
e ela olha para todos os lados.
405
00:34:14,098 --> 00:34:16,148
O carro, novamente, � uma casa de vidro.
406
00:34:16,249 --> 00:34:18,282
Mas a� ocorre uma viola��o.
407
00:34:23,973 --> 00:34:27,064
A necessidade de seguran�a dele
parece maior do que a dela.
408
00:34:27,165 --> 00:34:28,664
Ela sente medo.
409
00:34:28,765 --> 00:34:31,465
O carro n�o protege tanto
quanto ela imaginava.
410
00:34:33,165 --> 00:34:35,498
Ser� que agora ser�o dois na estrada?
411
00:34:45,698 --> 00:34:46,931
Em �O Bababook�,
412
00:34:47,032 --> 00:34:50,897
Jennifer Kent empurra
a ansiedade automotiva ao limite.
413
00:34:50,998 --> 00:34:53,231
Uma mulher respira com dificuldade.
414
00:34:53,332 --> 00:34:57,631
Em seguida, vidros quebrados,
e luzes se movendo ao redor.
415
00:34:57,732 --> 00:35:00,032
Ela � uma esp�cie de astronauta.
416
00:35:11,526 --> 00:35:15,056
Virando ao ritmo de seus temores.
Incr�dula.
417
00:35:15,157 --> 00:35:16,957
Ela v� seu homem.
418
00:35:17,298 --> 00:35:20,398
E sobrev�m a luz branca... da morte?
419
00:35:20,832 --> 00:35:23,098
Em seguida, de alguma forma,
ela est� caindo.
420
00:35:24,132 --> 00:35:25,664
Foi um pesadelo?
421
00:35:25,765 --> 00:35:27,832
A jornada como pesadelo?
422
00:35:28,865 --> 00:35:30,066
M�e!
423
00:35:31,032 --> 00:35:34,965
Sim, parcialmente. Mas o contr�rio tamb�m.
424
00:35:35,332 --> 00:35:39,631
As jornadas que vimos tiveram
ansiedade, desd�m, fantasia,
425
00:35:39,732 --> 00:35:43,046
adrenalina, brincadeira e terror.
426
00:35:43,147 --> 00:35:46,731
Jornadas cinematogr�ficas
querem tocar seu inconsciente.
427
00:35:46,832 --> 00:35:49,297
� isso que a Polegarzinha faz,
428
00:35:49,398 --> 00:35:52,897
e o que o menino ucraniano
nas �rvores tamb�m tem como alvo:
429
00:35:52,998 --> 00:35:55,931
O m�tico, o nacionalista, quem sabe.
430
00:35:56,032 --> 00:35:57,826
Algo fora do mundo.
431
00:35:57,927 --> 00:36:02,627
Nossos �ltimos tr�s exemplos
tocam nessas coisas.
432
00:36:03,398 --> 00:36:06,997
Nessa cena, Claire Denis
nos mostra um condutor de trem.
433
00:36:07,098 --> 00:36:10,331
Estamos � direita da cabe�a dele,
e em seguida vem um t�nel,
434
00:36:10,432 --> 00:36:12,264
e estamos � esquerda da cabe�a dele.
435
00:36:12,365 --> 00:36:14,731
E a� aparece um cavalo nos trilhos.
436
00:36:14,832 --> 00:36:18,164
N�o exatamente, porque
ele est� montado no cavalo.
437
00:36:18,265 --> 00:36:19,781
Com sua filha.
438
00:36:20,061 --> 00:36:24,197
Ent�o, essa � uma lembran�a,
uma imagem on�rica.
439
00:36:24,298 --> 00:36:27,198
A rela��o deles t�m sido
dif�cil, mas tenra.
440
00:36:34,328 --> 00:36:36,348
Em seguida, estamos de volta no trem.
441
00:36:36,449 --> 00:36:38,749
O devaneio acabou.
442
00:36:39,965 --> 00:36:43,432
�s vezes precisamos fugir
das pr�prias jornadas.
443
00:36:44,165 --> 00:36:46,065
Ou elas podem nos hipnotizar.
444
00:36:47,298 --> 00:36:49,332
Especialmente as vazias.
445
00:37:01,132 --> 00:37:03,931
Aqui, Kelly Reichardt nos mostra uma jovem
446
00:37:04,032 --> 00:37:06,898
que acaba de visitar a mulher
por quem est� se apaixonando.
447
00:37:08,498 --> 00:37:10,064
Houve pouca reciprocidade.
448
00:37:10,165 --> 00:37:12,731
Ela est� em seu carro, o lugar seguro,
449
00:37:12,832 --> 00:37:14,698
sua casa de vidro, dirigindo.
450
00:37:19,898 --> 00:37:23,925
A c�mera est� nela.
N�o acontece muita coisa.
451
00:37:24,432 --> 00:37:28,064
Ela talvez esteja se recuperando,
esperando que o caminho,
452
00:37:28,165 --> 00:37:31,808
que a cena que se passa em ondas,
453
00:37:32,528 --> 00:37:34,394
a hipnotize.
454
00:37:44,965 --> 00:37:48,131
Para al�m da excita��o.
ou do medo de viajar,
455
00:37:48,232 --> 00:37:52,565
Reichardt nos mostra a quietude,
uma de suas assinaturas.
456
00:38:07,518 --> 00:38:09,268
Uma �ltima cena.
457
00:38:09,418 --> 00:38:13,184
� sobre o rescaldo de uma viagem,
sobre o que sobrou.
458
00:38:13,732 --> 00:38:16,312
Uma fam�lia de n�mades
est� seguindo caminho.
459
00:38:16,413 --> 00:38:18,913
Seu yurt deixou um c�rculo na relva,
460
00:38:19,014 --> 00:38:21,147
e eles est�o fazendo uma oferenda nele.
461
00:38:22,232 --> 00:38:25,598
A jornada deixa para tr�s
o fantasma de onde estiveram.
462
00:38:25,932 --> 00:38:28,465
O rosto ansioso de uma das filhas.
463
00:38:30,065 --> 00:38:32,865
A ansiedade que Mikey e Nicky sentiram.
464
00:38:40,265 --> 00:38:43,965
Em seguida, eles se perdem
na paisagem, como a Polegarzinha.
465
00:38:45,704 --> 00:38:47,731
O que mais eles deixar�o para tr�s?
466
00:38:47,832 --> 00:38:49,531
Que pele descamar�o?
467
00:38:49,632 --> 00:38:53,598
Em que a menina se transformar�
no novo lugar para onde ir�o?
468
00:38:58,627 --> 00:39:00,510
Como ela se transformar�?
469
00:39:00,699 --> 00:39:02,799
O que ela descobrir�?
470
00:39:13,965 --> 00:39:17,098
11 - DESCOBERTA
471
00:39:20,665 --> 00:39:23,164
Alguns dos momentos mais famosos do cinema
472
00:39:23,265 --> 00:39:25,031
s�o sobre descobertas.
473
00:39:26,298 --> 00:39:29,830
Luke Skywalker descobre
que Darth Vader � seu pai.
474
00:39:29,931 --> 00:39:34,465
Descobrimos o que � Rosebud ao
final do �Cidad�o Kane� de Welles.
475
00:39:35,431 --> 00:39:39,164
Mas, para al�m dos momentos
famosos, h� muita humanidade,
476
00:39:39,265 --> 00:39:41,931
engenho e insight na descoberta.
477
00:39:42,365 --> 00:39:44,864
H� aprendizados e encontros
ao longo de nossas vidas,
478
00:39:44,965 --> 00:39:51,165
portanto vejamos exemplos
da inf�ncia, maturidade e velhice.
479
00:39:51,798 --> 00:39:53,131
Primeiro a inf�ncia.
480
00:39:59,398 --> 00:40:03,231
Essas duas irm�s t�m economizado
dinheiro em seu cofrinho.
481
00:40:03,665 --> 00:40:06,264
Closes. Luz natural.
482
00:40:06,365 --> 00:40:07,697
Telefoto.
483
00:40:07,798 --> 00:40:11,730
A mais nova gastou uma moeda
grande, recebendo outras pequenas.
484
00:40:11,831 --> 00:40:15,249
Ela acha que descobriu algo
que o mundo desconhece.
485
00:40:15,350 --> 00:40:19,216
Ela n�o se d� conta que as
moedinhas valem bem menos.
486
00:40:19,317 --> 00:40:21,140
O naturalismo delas.
487
00:40:21,241 --> 00:40:23,341
Sua alegria na descoberta.
488
00:40:24,798 --> 00:40:28,498
Elas economizam dinheiro para
que sua m�e volte pra casa.
489
00:40:31,374 --> 00:40:33,698
Uau, j� temos um mont�o.
490
00:40:42,198 --> 00:40:44,364
Esse menino � s� um pouco mais velho,
491
00:40:44,465 --> 00:40:46,664
mas ele est� num mundo bem diferente.
492
00:40:46,765 --> 00:40:48,498
Um mundo surreal.
493
00:40:50,698 --> 00:40:53,365
Ele � como um vagalume iluminando a noite.
494
00:40:58,231 --> 00:41:00,031
Ent�o, estamos atr�s dele.
495
00:41:05,065 --> 00:41:06,598
O foco muda.
496
00:41:07,565 --> 00:41:11,631
A descoberta � uma mudan�a de foco,
uma mudan�a em como n�s vemos.
497
00:41:12,765 --> 00:41:16,430
Em seguida, ele olha por cima
de um penhasco e... uau!
498
00:41:16,531 --> 00:41:18,598
Mulheres se contorcendo.
499
00:41:18,998 --> 00:41:21,165
S�o como focas encalhadas.
500
00:41:25,201 --> 00:41:26,964
A c�mera se aproxima.
501
00:41:27,065 --> 00:41:30,298
� ansiedade ou algo sexual?
502
00:41:30,731 --> 00:41:35,364
A descoberta dele � chocante,
fantasmag�rica ou er�tica?
503
00:41:35,465 --> 00:41:38,364
Ele est� descobrindo uma nova esfera?
504
00:41:38,465 --> 00:41:40,797
A esfera do corpo, do toque?
505
00:41:40,898 --> 00:41:43,365
Ou algo mam�fero?
506
00:41:52,755 --> 00:41:53,956
Josh!
507
00:41:54,731 --> 00:41:56,064
A c�mera faz um tracking para frente,
508
00:41:56,165 --> 00:41:59,631
nesse vislumbre bem distinto
do futuro de um garoto.
509
00:42:00,098 --> 00:42:02,898
Um garoto de 12 anos desejou ser maior.
510
00:42:03,431 --> 00:42:06,097
Vamos, dorminhoco,
voc� vai perder o �nibus
511
00:42:06,198 --> 00:42:07,797
e hoje n�o posso lev�-lo.
512
00:42:07,898 --> 00:42:11,031
Em seguida, vemos pernas. Pernas adultas.
513
00:42:14,798 --> 00:42:18,565
E o ch�o treme quando ele pousa,
como se fosse um gigante.
514
00:42:25,931 --> 00:42:27,931
A m�e do menino n�o o v�,
515
00:42:33,231 --> 00:42:35,264
mas a� vem uma cena de espelho.
516
00:42:35,365 --> 00:42:38,398
H� muitos espelhos
nas descobertas cinematogr�ficas.
517
00:42:39,031 --> 00:42:40,798
Ele tem uma rea��o
518
00:42:53,701 --> 00:42:56,464
e descobre como � o queixo de um homem.
519
00:42:56,565 --> 00:42:59,398
E outras partes do corpo masculino.
520
00:43:01,361 --> 00:43:05,636
Ele em seguida pula,
como o menino em �Evolution�.
521
00:43:07,265 --> 00:43:11,631
Penny Marshall d� corda no rel�gio
para frente em �Quero Ser Grande�.
522
00:43:13,898 --> 00:43:18,930
Mas, nas origens do cinema,
Alice Guy-Blach� fez o contr�rio.
523
00:43:19,031 --> 00:43:22,730
Ela pegou uma das propriedades
b�sicas do cinema, - o tempo, -
524
00:43:22,831 --> 00:43:27,130
e o retrocedeu. O dia se desfazia.
525
00:43:27,231 --> 00:43:31,365
Paris caminhava e rodava
para tr�s at� o amanhecer.
526
00:43:31,898 --> 00:43:34,430
O cineasta Robert Bresson
aconselhou as pessoas
527
00:43:34,531 --> 00:43:38,298
a mostrarem aquilo que,
sem elas, nunca seria visto.
528
00:43:38,931 --> 00:43:43,430
Alice Guy fez isso. E foi uma descoberta.
529
00:43:43,531 --> 00:43:45,965
Olhar com novos olhos.
530
00:43:51,198 --> 00:43:52,897
No cap�tulo sobre enquadramento,
531
00:43:52,998 --> 00:43:56,697
vimos �Di�rio para Minhas Crian�as�.
de M�rta M�sz�ros.
532
00:43:56,798 --> 00:44:01,964
Aqui, a jovem �rf� do filme tamb�m
descobre um sentido de beleza.
533
00:44:02,065 --> 00:44:05,830
Um espelho de descoberta.
Ela experimenta o batom.
534
00:44:05,931 --> 00:44:08,764
A descoberta de si mesma.
535
00:44:08,865 --> 00:44:11,164
Tracking para outro espelho,
536
00:44:11,265 --> 00:44:14,030
e tem uma foto de uma estrela
de cinema no canto.
537
00:44:14,131 --> 00:44:16,230
Em seguida, esse belo corte.
538
00:44:16,331 --> 00:44:19,431
E uma pausa, antes de ela se vestir.
539
00:44:34,115 --> 00:44:36,881
Em seguida, ela est� no cinema.
540
00:44:37,364 --> 00:44:41,098
O cinema est� ajudando-a
a descobrir o glamour em si mesma.
541
00:44:43,231 --> 00:44:44,863
Inf�ncia e adolesc�ncia
542
00:44:44,964 --> 00:44:48,364
parecem momentos de constante
descoberta e revela��o,
543
00:44:48,731 --> 00:44:52,131
mas o processo continua na idade adulta.
544
00:44:53,522 --> 00:44:56,094
A campainha da casa de uma m�e foi tocada.
545
00:44:56,195 --> 00:45:00,994
Sua filha, como vimos antes,
est� brincando como menino.
546
00:45:01,095 --> 00:45:02,850
Mas a m�e ignora isso.
547
00:45:02,951 --> 00:45:04,027
Eu n�o entendo.
548
00:45:04,128 --> 00:45:06,156
Ele disse que seu filho fez isso com ele.
549
00:45:06,257 --> 00:45:08,294
Voc� deve estar equivocada.
550
00:45:08,395 --> 00:45:11,495
Foi ele... o Mik�el.
551
00:45:12,228 --> 00:45:15,795
A cabe�a dela vira ao mesmo
tempo em que ela descobre...
552
00:45:18,128 --> 00:45:20,528
Sim, � verdade. Fui eu.
553
00:45:20,933 --> 00:45:22,794
A c�mera est� est�tica,
554
00:45:22,895 --> 00:45:25,694
mas n�o h� nada est�tico
nos pensamentos da m�e.
555
00:45:25,795 --> 00:45:27,128
Eles est�o a mil.
556
00:45:27,628 --> 00:45:29,625
� quase como uma cena de espelho.
557
00:45:29,726 --> 00:45:32,758
Ela v� sua filha sob uma nova luz.
558
00:45:32,859 --> 00:45:35,392
Os segredos das crian�as.
559
00:45:35,493 --> 00:45:38,225
Os segredos que os adultos descobrem.
560
00:45:38,326 --> 00:45:41,059
-N�o vai acontecer de novo.
-N�o vai acontecer de novo.
561
00:45:43,693 --> 00:45:46,726
Obrigado. Tchau.
562
00:45:56,636 --> 00:46:01,018
Como espelhos, portas s�o lugares
de descobertas no cinema.
563
00:46:01,183 --> 00:46:04,083
Eis uma das maiores.
564
00:46:04,626 --> 00:46:07,392
No cap�tulo sobre
encontros de personagens,
565
00:46:07,493 --> 00:46:11,859
vimos um cl�rigo extasiado
com vislumbres de uma mulher.
566
00:46:12,293 --> 00:46:16,592
Nessa cena, o pr�prio cl�rigo
est� prestes a ser descoberto.
567
00:46:16,693 --> 00:46:20,259
N�s avan�amos em dire��o
a uma porta on�rica.
568
00:46:20,993 --> 00:46:25,193
Momentos mais tarde, um general
a atravessa em c�mera lenta.
569
00:46:26,793 --> 00:46:29,659
O que ele est� descobrindo?
O que ele est� vendo?
570
00:46:32,833 --> 00:46:34,958
A nuca do cl�rigo.
571
00:46:35,059 --> 00:46:36,792
Em seguida, essa marcha.
572
00:46:36,893 --> 00:46:40,059
A descoberta como uma marcha
em dire��o � revela��o.
573
00:46:57,759 --> 00:46:58,858
Em seguida, a cabe�a de novo,
574
00:46:58,959 --> 00:47:01,972
e o que s�o esse l�quido
e o vidro quebrando?
575
00:47:03,926 --> 00:47:07,293
E quem � esse no teto?
� um filme de vampiro?
576
00:47:14,193 --> 00:47:18,093
O general est� pendurado,
invadindo o quadro.
577
00:47:28,069 --> 00:47:29,969
Em seguida, a parte de tr�s de uma orelha.
578
00:47:31,926 --> 00:47:34,026
A montagem fazendo descobertas.
579
00:47:35,226 --> 00:47:37,334
A descoberta, aqui, � cubista.
580
00:47:37,435 --> 00:47:40,725
Foi isso que a m�e de �Tomboy� sentiu?
581
00:47:40,826 --> 00:47:43,293
Em seguida, a revela��o.
582
00:47:43,759 --> 00:47:47,559
O rosto do cl�rigo e o l�quido estranho.
583
00:47:53,885 --> 00:47:56,625
Outra descoberta na idade adulta.
584
00:47:56,726 --> 00:48:00,203
Uma mulher chega em casa.
A porta est� trancada.
585
00:48:00,304 --> 00:48:01,803
N�o � algo normal.
586
00:48:01,904 --> 00:48:04,804
L� dentro, uma tela negra.
587
00:48:05,812 --> 00:48:07,242
Em seguida, seu marido.
588
00:48:07,343 --> 00:48:11,076
Ele est� com outra mulher.
Uma tomada fugaz dela.
589
00:48:19,079 --> 00:48:20,879
Desculpe por ter me atrasado.
590
00:48:22,340 --> 00:48:23,603
Sem problemas.
591
00:48:23,704 --> 00:48:25,971
Estava com visita?
592
00:48:26,546 --> 00:48:28,179
Quem era?
593
00:48:30,359 --> 00:48:34,259
O rigor dos enquadramentos
nos filmes de Kinuyo Tanaka.
594
00:48:37,292 --> 00:48:39,459
Em seguida, a amante dele
d� umas batidinhas.
595
00:48:41,959 --> 00:48:44,258
A economia dessa tomada da bolsa.
596
00:48:44,359 --> 00:48:46,459
Mas a esposa ouviu.
597
00:48:54,492 --> 00:48:57,324
Timing. Olhares. Ritmo.
598
00:48:57,425 --> 00:49:01,559
A descoberta � uma s�rie
de momentos, um colar de p�rolas.
599
00:49:10,859 --> 00:49:14,692
Uma tomada mais longa,
no ch�o, agora que ela sabe.
600
00:49:16,192 --> 00:49:19,525
Voc� mentiu pra mim!
601
00:49:19,859 --> 00:49:21,425
Aquela mulher!
602
00:49:25,725 --> 00:49:28,158
Em seguida, ela v� as pantufas da amante.
603
00:49:28,259 --> 00:49:29,258
Provas.
604
00:49:29,359 --> 00:49:31,859
A descoberta se faz aos poucos.
605
00:49:35,125 --> 00:49:37,292
A percuss�o no t�mpano.
606
00:49:48,897 --> 00:49:51,664
E veja onde se encontra
o foco nessa tomada.
607
00:50:06,925 --> 00:50:08,792
As pantufas s�o arremessadas.
608
00:50:09,325 --> 00:50:11,492
N�o precisamos v�-la jogando-as.
609
00:50:27,892 --> 00:50:31,424
Corpos, ideologia, beleza,
individualidade, segredos,
610
00:50:31,525 --> 00:50:33,157
tudo com um visual cubista.
611
00:50:33,258 --> 00:50:36,825
H� tanto a descobrir,
a ver com novos olhos.
612
00:50:46,458 --> 00:50:49,991
Essa � uma das amazonas criadas por Zeus
613
00:50:50,092 --> 00:50:52,992
para proteger a humanidade,
nada menos do que isso.
614
00:50:53,425 --> 00:50:56,324
Ela j� � uma hero�na, uma guerreira?
615
00:50:56,425 --> 00:50:57,791
Ainda n�o.
616
00:50:57,892 --> 00:51:00,625
Ela ainda tem que escalar a fortaleza.
617
00:51:01,125 --> 00:51:03,791
H� grandes barreiras
para as descobertas m�ticas.
618
00:51:03,892 --> 00:51:05,392
Muralhas.
619
00:51:10,858 --> 00:51:14,058
Quando ela est� l� dentro,
as armas surgem r�pido.
620
00:51:17,792 --> 00:51:20,258
A espada � em h�lice dupla.
621
00:51:34,258 --> 00:51:38,124
Ela a ergue com facilidade,
assume a posi��o de guerreira.
622
00:51:38,225 --> 00:51:40,291
N�o h� uma luta arturiana.
623
00:51:40,392 --> 00:51:43,408
A luta ainda est� por vir.
624
00:51:43,604 --> 00:51:48,570
Mas, antes de partir para a guerra,
ela tem de fazer outra descoberta.
625
00:51:49,025 --> 00:51:51,658
Ela nunca viu um homem nu.
626
00:51:52,358 --> 00:51:53,792
Pausa.
627
00:51:55,226 --> 00:51:57,192
N�o a vi entrar.
628
00:51:58,858 --> 00:52:01,725
A fala hesitante da descoberta.
629
00:52:02,925 --> 00:52:05,792
Voc� diria que �
630
00:52:06,658 --> 00:52:08,991
um exemplo t�pico do seu sexo?
631
00:52:09,092 --> 00:52:12,758
E uma piada sobre olhar e g�nero.
632
00:52:14,625 --> 00:52:16,125
Acima da m�dia.
633
00:52:17,425 --> 00:52:19,691
Uma sacudidela no olhar masculino.
634
00:52:19,792 --> 00:52:21,458
O que � isso?
635
00:52:23,025 --> 00:52:24,492
�, hum...
636
00:52:26,492 --> 00:52:27,693
Ah...
637
00:52:30,058 --> 00:52:31,592
� um rel�gio.
638
00:52:32,225 --> 00:52:34,591
E o que acontece quando
a guerreira faz sua descoberta,
639
00:52:34,692 --> 00:52:37,058
quando o rel�gio est� fazendo tique-taque?
640
00:52:41,192 --> 00:52:43,157
Dedos percorrendo uma linha.
641
00:52:43,258 --> 00:52:44,224
Closes.
642
00:52:44,325 --> 00:52:45,991
N�o vemos o rosto dele.
643
00:52:46,092 --> 00:52:49,225
Mas ouvimos seus p�s
nas pedras e a respira��o.
644
00:52:54,858 --> 00:52:57,691
A� ele � envolto por uma cerca distante.
645
00:52:57,792 --> 00:52:59,792
Ele move-se um pouco � frente,
646
00:53:00,658 --> 00:53:02,492
para algo que desconhecemos.
647
00:53:05,925 --> 00:53:06,991
Secund�rio.
648
00:53:07,092 --> 00:53:08,958
A um instante dele.
649
00:53:14,125 --> 00:53:17,724
Em seguida estamos no alto,
e � como se ele estivesse na lua.
650
00:53:17,825 --> 00:53:20,158
A solid�o de sua descoberta.
651
00:53:20,725 --> 00:53:22,292
Em seguida, a resolu��o.
652
00:53:26,258 --> 00:53:27,925
Ai meu Deus.
653
00:53:28,758 --> 00:53:32,824
As bombas s�o desenterradas,
todas apontando para ele.
654
00:53:32,925 --> 00:53:36,058
Sua curiosidade pode ser fatal.
655
00:53:39,192 --> 00:53:41,024
O instinto guerreiro ressurge
656
00:53:41,125 --> 00:53:45,224
nessa cena visualmente sutil
de �Silent Waters�,
657
00:53:45,325 --> 00:53:49,425
premiado filme paquistan�s,
ambientado em 1979.
658
00:53:49,892 --> 00:53:53,725
Homens sikhs discutem o que
ocorreu com mulheres da aldeia.
659
00:53:54,216 --> 00:54:00,224
Ouvi dizer que algumas de nossas
mulheres foram deixadas para tr�s.
660
00:54:00,325 --> 00:54:03,546
Quem disse isso? Como ele se chama?
661
00:54:03,647 --> 00:54:05,224
Um lento tracking para frente.
662
00:54:05,325 --> 00:54:07,124
Como eu vou saber seu nome?
663
00:54:07,225 --> 00:54:12,891
Besteira. Nenhuma sobreviveu.
Elas foram pra casa do meu tio,
664
00:54:12,992 --> 00:54:17,902
e disseram, �matem-nos�.
Ele come�ou a atirar.
665
00:54:18,258 --> 00:54:22,657
Todas as 22 mulheres.
Nossa honra foi salva.
666
00:54:22,758 --> 00:54:26,791
N�s as matamos. Os mu�ulmanos
n�o tocaram nelas.
667
00:54:26,892 --> 00:54:28,924
Muitas foram raptadas.
668
00:54:29,025 --> 00:54:32,691
Por anos elas tentaram voltar.
Ningu�m as queria.
669
00:54:32,792 --> 00:54:36,524
Algumas devem ter ficado aqui.
Pode ser que estejam vivas.
670
00:54:36,625 --> 00:54:42,492
Alguns homens e n�s, a plateia,
descobrimos que foram mortas.
671
00:54:43,425 --> 00:54:45,757
Assassinadas por quest�o de honra
pelos seus pr�prios homens,
672
00:54:45,858 --> 00:54:48,392
para que os mu�ulmanos n�o tocassem nelas.
673
00:54:48,992 --> 00:54:51,225
A� surge um flashback em preto e branco...
674
00:54:53,825 --> 00:54:58,025
-Filha de um infiel!
-O que h� com voc�? Para.
675
00:54:58,358 --> 00:54:59,692
Come isso.
676
00:55:00,892 --> 00:55:05,087
em seguida, um close de Ayesha,
a personagem principal do filme.
677
00:55:05,188 --> 00:55:08,755
A lembran�a dela. A perspectiva dela.
678
00:55:24,058 --> 00:55:26,991
E que tal a descoberta na velhice?
679
00:55:27,092 --> 00:55:28,725
Dois exemplos.
680
00:55:29,358 --> 00:55:33,729
O primeiro no document�rio
�Walking in the Land of the Old�.
681
00:55:33,830 --> 00:55:36,964
Essa mulher nunca viu o mar.
682
00:55:37,291 --> 00:55:40,924
E a primeira vez que est� aqui
e a c�mera faz uma panor�mica,
683
00:55:41,025 --> 00:55:44,269
mas � n�tido que ela n�o est�
muito impressionada.
684
00:55:45,101 --> 00:55:50,200
Ela nunca vira o mar, por isso
realizamos esse sonho,
685
00:55:50,301 --> 00:55:56,101
e para ela foi maravilhoso
descobrir o mar aos 92 anos.
686
00:55:57,601 --> 00:56:02,168
E, no mesmo filme, essa mulher
anda de moto pela primeira vez.
687
00:56:09,301 --> 00:56:13,067
Filmado do meio da rua,
em toda a sua gl�ria.
688
00:56:20,913 --> 00:56:25,480
E a�, essas mulheres falando sobre
a descoberta do orgasmo vaginal.
689
00:56:26,635 --> 00:56:29,140
O estilo mais simples
de filmagem document�ria
690
00:56:29,241 --> 00:56:32,567
e a revela��o de conversar
sobre esse tipo de coisa.
691
00:56:32,668 --> 00:56:36,467
Dormimos juntos na primeira noite,
ambos apreensivos,
692
00:56:36,568 --> 00:56:39,334
porque ficamos imaginando
como aquilo seria e, na verdade,
693
00:56:39,435 --> 00:56:44,483
foi maravilhoso, e posso dizer que
foi quando descobri o amor real,
694
00:56:44,584 --> 00:56:48,984
e o puro amor carnal,
porque digo que aos 60 anos,
695
00:56:49,085 --> 00:56:52,184
eu ainda n�o conhecera o desejo carnal.
696
00:56:52,285 --> 00:56:56,384
Eu havia feito sexo, tive um
marido, e j� tinha uma crian�a,
697
00:56:56,485 --> 00:57:00,951
tive alguns relacionamentos
e, claro, senti prazer.
698
00:57:01,052 --> 00:57:04,617
Mas voc� n�o devia dizer que n�o
conheceu o verdadeiro amor carnal.
699
00:57:04,718 --> 00:57:06,117
N�o, mas...
700
00:57:06,218 --> 00:57:10,884
Porque voc�... como dizemos hoje?
Bem... �gozou�.
701
00:57:10,985 --> 00:57:17,117
Hoje falamos sobre orgasmo.
Voc� tinha sentido isso?
702
00:57:17,218 --> 00:57:19,584
Sentido sim, porque sou bem vaginal.
703
00:57:19,685 --> 00:57:21,917
Bem, j� tive os dois...
704
00:57:22,018 --> 00:57:27,385
Mas sendo mais vaginal, claro que
senti muita satisfa��o no ato,
705
00:57:27,486 --> 00:57:30,863
mas nunca conhecera outra coisa.
706
00:57:39,954 --> 00:57:44,854
E a� temos �Mr. Pascal�, na bela
anima��o de Alison De Vere.
707
00:57:45,488 --> 00:57:47,020
Ele est� sentado sozinho.
708
00:57:47,121 --> 00:57:49,787
Um v�o sino bate ao ritmo de sua solid�o.
709
00:57:49,888 --> 00:57:53,920
Mais a�, a imagem se funde
e seus olhos est�o pensativos.
710
00:57:54,021 --> 00:57:57,153
Ele olha para cima. Descobre algo.
711
00:57:57,254 --> 00:57:59,888
E ele parte. Para onde?
712
00:58:01,421 --> 00:58:02,820
Ele � um sapateiro.
713
00:58:02,921 --> 00:58:05,201
Antes o vimos com sua esposa.
714
00:58:05,302 --> 00:58:06,902
Mas ela partiu.
715
00:58:09,188 --> 00:58:10,953
N�s o vimos em ruas movimentadas.
716
00:58:11,054 --> 00:58:12,620
Ningu�m falava com ele.
717
00:58:12,721 --> 00:58:14,687
E o que ele est� fazendo agora?
718
00:58:14,788 --> 00:58:17,254
Sua ideia parece energiz�-lo.
719
00:58:24,788 --> 00:58:26,488
Em seguida, uma tempestade.
720
00:58:27,121 --> 00:58:30,988
Ele encontrou um amigo. Um amigo Cristo.
721
00:58:39,321 --> 00:58:42,220
Oi, meu nome � Joyce e isso � legal.
722
00:58:42,321 --> 00:58:45,621
Pelo amor de Deus, essa � a voz dela?
723
00:58:47,919 --> 00:58:49,353
Deus do c�u.
724
00:58:49,454 --> 00:58:52,388
E que tal essa descoberta
depois da vida terminar?
725
00:58:53,088 --> 00:58:54,754
Isso � poss�vel?
726
00:58:55,754 --> 00:58:57,154
Que tal isso...
727
00:58:57,521 --> 00:59:01,687
Uma galeria de pessoas, todas
filmadas em cabe�a e ombros,
728
00:59:01,788 --> 00:59:04,620
todas contra um pano de fundo brilhante.
729
00:59:04,721 --> 00:59:08,221
Cortes. Rea��es. Descobertas.
730
00:59:10,466 --> 00:59:13,015
Oi, meu nome � Joyce e isso � legal.
731
00:59:13,321 --> 00:59:15,121
Ela est� mascarando a voz.
732
00:59:16,621 --> 00:59:19,188
Isso traz tantas lembran�as.
733
00:59:19,932 --> 00:59:22,965
Oi, meu nome � Joyce e isso � legal.
734
00:59:25,321 --> 00:59:26,920
De onde isso veio?
735
00:59:27,021 --> 00:59:31,087
O filme de Carol Morley � sobre
uma mulher, Joyce, que morreu,
736
00:59:31,188 --> 00:59:35,620
e cujo corpo permaneceu
no apartamento por dois anos.
737
00:59:35,721 --> 00:59:39,253
Um dos grandes filmes sobre
coisas que n�o s�o descobertas.
738
00:59:39,354 --> 00:59:42,754
�, � ela mesma, gostava de flertar.
739
00:59:43,488 --> 00:59:45,820
Ela n�o era sexy? Ela era sexy.
740
00:59:45,921 --> 00:59:48,420
Quando ela diz �Meu nome � Joyce�,
soa direitinho como ela.
741
00:59:48,521 --> 00:59:52,520
N�o no in�cio, mas em seguida,
sabe, � bem curto.
742
00:59:52,621 --> 00:59:56,387
E a� parece que ela quer falar
com um sotaque de rua,
743
00:59:56,488 --> 00:59:58,621
mas n�o consegue passar isso.
744
00:59:59,754 --> 01:00:02,987
� quase irreconhec�vel, mas, de resto,
745
01:00:03,088 --> 01:00:06,521
voc� pega um pouco
da ess�ncia da voz dela ali.
60169
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