All language subtitles for When.We.Were.Bullies.2021

N�o � t�o f�cil...

como me lembrava.

- Lembra-se de fazer isto?
- N�o...

mas eu j� fui mais jovem.

Esta � minha escola fundamental
no Brooklyn, PS 194.

� s�bado,
e os port�es est�o trancados.

Droga. Essa � uma boa ideia.

E este sou eu.

E este sou eu na quinta s�rie.

Mas vamos come�ar
a hist�ria no meio.

Este sou eu, em 1992.

Estou morando em S�o Francisco.

E fazendo um filme:
"The Smell of Burning Ants",

que � sobre meninos
e crescer sendo homem.

A ideia do filme surgiu

quando vi esta cena de um filme
educativo de 1960.

Mas o momento que me cativou

foi quando um terceiro garoto
d� um soco r�pido.

Quando vi este "colaborador",

vi a mim mesmo,

e uma lembran�a me sacudiu.

Uma lembran�a em que n�o havia
pensado desde a quinta s�rie.

Eram s� tr�s quadros de filme,

um �nico segundo.

Se tivesse piscado,

n�o estaria contando esta hist�ria.

Vou adiantar dois anos.

Ainda estou trabalhando nesse filme

e procuro algu�m
para fazer a narra��o,

porque n�o gosto
do som da minha voz.

Na �poca, eu dava aula de cinema.

Os alunos mostravam
os trabalhos finais,

e a voz de um filme em particular
me atraiu.

O filme � sobre um gato.

O gato caiu.

O narrador chamava-se Richard.

Ele morava perto, em Berkeley.

E nos encontramos na casa dele.

Ele olhou meu roteiro

e observou a seguinte frase:

"Ele foi criado no concreto,

bola, bast�o,

soco, tapa."

Ent�o, Richard me perguntou:

"Voc� � de Nova York?"
Ele disse que sim.

Faz�amos coisas t�picas de l�.
"De onde voc� �?" "Brooklyn."

"De onde? De que parte?"

"Sheepshead Bay."
"S�rio? Nossa!"

"Onde estudou?"
E voc� disse...

algo, mas perguntei onde
voc� fez ensino fundamental,

que � uma pergunta estranha,
mas voc� disse: "PS 194".

E pude sentir a eletricidade,

porque eu estudei l�.

E perguntei sua idade,

e voc� disse que era
a mesma que a minha.

E eu falei...

"Qual � seu nome?"
Voc� disse: "Rosenblatt". E eu...

"E sua professora na quinta s�rie?"
"Sra. Bromberg."

Fiquei em choque,
porque tivemos a mesma aula.

Me lembrei de voc�

e estava tremendo.
E sua rea��o foi parecida.

Ambos est�vamos assim.
A� voc� disse algo,

tipo: "Vire a p�gina".

Virei a p�gina do roteiro,
e a primeira linha era "na quinta s�rie".

E parecia que...

O qu�?

Foi como se uma inunda��o
de lembran�as de coisas

nas quais n�o pensava h� d�cadas,

d�cadas, estivessem na p�gina.

E foi simplesmente

formid�vel pensar

que algu�m mais

escrevia algo sobre uma coisa
da qual participei em 1965,

a 5.000km, e aqui estamos,

a meio metro um do outro.

E Richard focou
naquele exato momento

que desencadeou a ideia do filme.

Na �poca,
provoc�vamos o outro Richard,

Richard...

Quero dizer,

ele poderia ter escrito
o que estava lendo.

Para mim, a lembran�a era vaga.

S� tinha certeza
de que tinha acontecido

e que eu participei.

Sim,

mais uma coisa.

Fomos flagrados.

Richard se lembrava de detalhes

que eu tinha esquecido
ou apenas bloqueado.

Como a Sra. Bromberg insistindo
para fazermos sil�ncio total

e sentarmos atentos
com as m�os juntas,

antes de nos deixar ir embora.

Mas neste dia em particular
foi diferente.

A Sra. Bromberg

usava m�o de ferro.

E ela n�o ia tolerar brincadeira.

Ent�o, quando ela disse:

"Ningu�m vai sair,

quero sil�ncio total.

Vou decidir quando v�o sair."

E todos ficamos meio...

E estava demorando muito.

Geralmente, leva um minuto.

Eu, como professor,
sei que voc� s� quer

um minuto, e a� termina.

E a coisa continuou.

Finalmente, ela disse: "Podem ir.
Teriam sa�do antes,

mas Richard estava conversando."

Fiquei indignado.
Eu n�o estava conversando.

Ent�o,

eu notei que achavam que era eu.
E que seria castigado por isso.

N�o queria que ficassem
com raiva de mim.

Ent�o pegamos nossas coisas,

e me ocorreu

que devia ter sido o outro Richard
na classe que cham�vamos de Dick.

Esse era o nome dele no quarto ano,

quando havia quatro Richards

na classe da Sra. Wiedman.

Tinha Richard, eu era Richie,
tinha o Rich,

e o outro cara
que chamamos de Dick.

E, na hierarquia

da quarta e quinta s�ries,

isso n�o � algo bom.

�. Ent�o,

enquanto guard�vamos as coisas,

passei por Michael Sarrel,

que estava na minha frente, e disse:

"Foi o Dick.

Pegue o Dick.

Passe adiante."
E o recado foi sendo passado

pela fila toda, enquanto sa�amos,

e todos ficaram sabendo.

Quando sa�mos do pr�dio,

ele deve ter ouvido tamb�m,
porque come�ou a correr,

mas n�s, como uma massa,
descemos a escada correndo

e o cercamos, pulando sobre ele.

Pulei sobre ele,
Michael Sarrel pulou sobre ele,

� disso que mais me lembro.

As meninas pularam sobre ele.

Estava tudo sem controle,
mas est�vamos bravos com ele.

Agora vamos retomar
de onde paramos.

No port�o trancado da PS 194.

Meu Deus!

N�o gosto disso, Richard.

N�o sei onde apoiar o p�.

Se puder abaixar esse p�

e passar o outro por cima,

se puder levar as m�os
at� a cerca, onde der...

N�o des�a depressa.

� quase como se pudesse ver o local.

Acho que foi aqui.

Tem alguma coisa aqui.
Foi onde o cercamos.

Alguns garotos cuspiram nele,
todos o provocavam

com...

o que todos queriam fazer,

parecia que todos tinham livre arb�trio

para fazer o que achavam
que ele merecia.

E � quando me lembro, a esta altura,

de ser um pouco agitador.
Lembro de ficar de joelhos

de alguma forma,
e olhar para tr�s, aqui,

onde talvez o espanquei,
posso ter cuspido nele.

Talvez gritando.
N�o me lembro dos detalhes que fiz,

mas sei que Michael Sarrel,

outro aluno,
estava perto de mim,

porque todos paramos, olhamos para cima
e vimos, descendo a escada,

a Sra. Bromberg e o Dr. Pincus,
o diretor.

Todos se levantam
e come�am a correr.

Lembro que, no dia seguinte,

quando chegamos,
a Sra. Bromberg mandou

o Dick sair

para fazer algo. E ela se virou
para a classe e disse:

"Voc�s s�o animais." E isso nos deu

uma sensa��o de... �.

Ent�o...

Pela minha perspectiva, foi...

Eu tentei ficar

afastado

da ira da classe e o acusei.

Esta experi�ncia
claramente afetou n�s dois.

E, quanto mais mergulho nisso,

mais chateado fico
por ter me envolvido.

E, como logo aprendi,

n�o est�vamos sozinhos
nesta lembran�a.

O CHEIRO DAS FORMIGAS
EM CHAMAS

Ent�o, finalmente terminei meu filme

e parece que ele irritou algu�m.

Um jornal local quer uma mat�ria
de capa sobre mim e meu trabalho.

Uma hora,
acabei falando com o redator

sobre a estranha coincid�ncia
com meu narrador Richard.

Ele ficou cativado pela hist�ria.

Tanto que ela se torna
um grande tema do artigo dele.

Duas d�cadas depois,

enquanto fazia este filme,

perguntei a ele por qu�.

Vou ser sincero.
Eu era um garoto

que sofria bullying.
Eu era o gordinho da escola.

A ideia de ser aquele

quarto garoto chamado Dick,
que era o alvo

de constantes

abusos, humilha��o, sabe...

Quando voc� � esse garoto,
� como morrer lentamente.

N�o � s� um incidente, � como

estar naquele estado.
E voc� n�o sabe, naquela idade,

quando � aquele garoto,

quando vai se livrar disso.

Ele at� pesquisa o incidente.

Encontrei um site dedicado
totalmente � PS 194.

E havia fotos de turma para cada ano,

mas, por alguma raz�o,
a foto do meu quinto ano

estava faltando.

Ent�o,

recebi um e-mail de uma mulher
chamada Wendy.

Ela tinha estudado comigo.

Na verdade,
crescemos no mesmo pr�dio.

Lembro que, com cinco anos,
brinc�vamos

de "mostre o seu, que mostro o meu",
no arm�rio do quarto dela.

Enfim,

ela soube pelo site
que eu tinha feito um filme

que envolvia a PS 194, e que eu
procurava fotos do nosso quinto ano.

E eu tinha a foto.
Ent�o a mandei para voc�.

E ela perguntou:

Se isto tinha algo a ver
com o incidente de bullying

que aconteceu com Richard...
no p�tio da escola.

Que evento foi esse

que todos focamos nossa aten��o?

Ele se sentava � minha frente,
na diagonal,

e costumava se sentar
em uma posi��o estranha.

Ele sempre esticava a m�o
e apoiava na minha mesa.

Eu n�o gostava, mas ele fazia isso.

Ele fez isso v�rias vezes.

Deve ter sido v�rias vezes,

porque, um dia,
levei um alfinete para a escola.

Ele p�s a m�o na minha mesa,
e lhe dei uma leve

espetadinha.
E ainda me lembro do olhar dele.

Ele n�o sabia
que eu tinha feito algo.

Ele ficou em choque

e puxou r�pido a m�o.

Mas me sinto culpada at� hoje
por ter feito algo assim.

Dois anos depois,

recebi o e-mail que, no fundo,
eu sempre temi receber.

Era de Dick.

Ele escreveu:

"Soube que fez um filme sobre mim."

Escrevi de volta

que n�o era exatamente sobre ele,
mas sim,

havia uma hist�ria nele
da qual ele fazia parte.

Garanti a ele que mudei seu nome.

Ele escreveu de volta dizendo
que gostaria de ver o filme.

Disse a ele que odiaria trazer
lembran�as dolorosas

que ele j� enterrara.

Ele disse que era produtor de TV
h� 20 anos

e que teve muito sucesso.

Em outras palavras, ele suportaria.

Mandei um DVD para ele

e nunca mais tive not�cias.

Dezesseis anos se passaram,

quando, do nada,

recebo um convite
para um anivers�rio de 50 anos

da PS 194.

� o universo tentando me dizer algo?

E, naquele momento, caiu a ficha

de que teria que falar
com outros colegas de classe

sobre o que aconteceu
naquela sexta-feira, na quinta s�rie.

Decido rastrear

quem eu pudesse encontrar.

Richard e eu estamos aqui

para ir a reuni�o de 50 anos

da PS 194,

que deve concordar que � estranho

que fa�am uma reuni�o
para uma escola prim�ria.

- Sim, � estranho.
- Eu n�o sei.

Transformou-se em um pouco mais
que isso, mas � estranho.

Eu sei, mas nunca ouvi falar
que as pessoas fazem isso.

Ent�o me pergunto se isto � �nico
ou se estamos

- por fora.
- Acho que � �nico.

- Sim.
- N�o consigo imaginar.

Certo.

FOI LOUCURA PENSAR
QUE PODERIA FILMAR AQUI.

Embora n�o tenha podido
filmar na reuni�o,

encontrei uma colega
que veio da Fl�rida.

Ela me disse que h� alguns anos

a Sra. Bromberg
foi ao consult�rio do oftalmologista

onde ela trabalha.

Ela me disse que a Sra. Bromberg
mudou-se de volta e ainda est� viva.

E...

se ofereceu para me ajudar
a encontr�-la.

Mas, primeiro, queria falar
com meus colegas de classe

para ver do que se lembravam.

Puxei do fundo
das minhas lembran�as

para ver se isto aparecia,
se eu recordava,

mas vou lhe dizer
que n�o me lembro de nada.

N�o, porque acho que n�o estava l�.

Tenho uma vaga lembran�a
de que algo aconteceu

no p�tio da escola.

N�o me lembro de nada
especificamente ap�s a aula,

mas com certeza
me lembro de Richard.

Ele sempre me soou
como algu�m meio duvidoso.

Lembro que ele era estranho,

n�o ficava muito � vontade.

Acho que foi no p�tio da escola.

Lembro que fizeram um c�rculo
em volta dele,

e a cantoria.

E me lembro de ele fugir,

conseguir sair

do c�rculo e correr para casa.

Acho que ningu�m era amigo dele.

A pior coisa que voc� pode fazer
� excluir algu�m,

o que aprendi com os anos
trabalhando na educa��o.

Excluir algu�m isola a pessoa
de todos os la�os sociais

e, de muitas maneiras,
foi o que fizemos com Richard.

N�s o exclu�mos. Ent�o...

se voc� fosse amigo dele,

seria exclu�do tamb�m.

Lembro que era irritante.

Ele me fez chegar ao ponto

em que tive de soc�-lo no rosto,
no p�tio,

para ele se afastar de mim,
para me deixar em paz.

Com certeza ele tinha
um comportamento diferente.

Mas n�o �ramos gentis com ele.

Eu lembro que ele explodia

e a� sa�a chorando
por qualquer coisa.

Pelo menos, no nosso caso,

pegamos no p� dele, porque ele

parecia vulner�vel.

N�s �ramos amigos.

Fui � casa dele, ele foi � minha casa.

Lembro de fazer trabalhos com ele.

Sabe, eu me lembro

da coisa mais triste de todas,
que era seu irm�o.

Sim.

Lembro-me disso

e que deve ter sido

uma inf�ncia dif�cil para voc�.

Lembro que ele era muito inteligente.

Quando falava, ele n�o parecia
crian�a. Falava como um adulto.

Al�m de sua idade por um lado,
e muito imaturo por outro.

Lembro que ele nunca usava
a palavra "banheiro".

Lavat�rio.

Lembro de ele jogar

o caderno e o l�pis na professora.

E me lembro que fiquei chocada
com esse comportamento.

Sabe, tipo: "Puxa, quem fez isso?"

Lembro que voc� teve a infelicidade
de perder seu irm�o

em uma idade muito jovem.

Lembro que ele era
uma crian�a desagrad�vel,

mas eu tamb�m era assim.

Lembro de a classe toda

ser punida por alguma coisa.

Mas n�o era corajosa o suficiente
na �poca para dizer que n�o � justo.

E lembro que a resposta dela foi:
"Azar".

A Sra. Bromberg
poderia ser intimidadora.

Ou poderia ter sido
uma professora muito r�gida.

Eu fiquei ligada a voc�, porque senti

o que acredito ser sua tristeza,

e n�o me lembro se seu irm�o
era mais velho ou n�o.

Ele era mais novo.

- Dois anos mais novo.
- Certo.

Eu me lembro
de ser um garoto chato.

Ent�o eu n�o tinha problema

em provocar outra pessoa.

Naturalmente,
tamb�m estava na quinta s�rie.

E, nessa s�rie,

voc� � muito inseguro ainda.

Quando voc� � inseguro,

sempre tenta parecer melhor
humilhando outra pessoa.

Sei que houve vezes em que eu,

sorrateiramente,
dava um cutuc�o emocional nele

ou algo assim.

E, agora, para mim,

fazer bullying
� uma das coisas mais horr�veis

que algu�m poderia fazer.

Isso me incomoda,

porque ele era nervoso, e contribu� mais
para o nervosismo dele.

E isso me incomoda bastante.

Como classe, todos testemunhamos.
Alguns se lembram

e outros, n�o. E Richard

tem sua pr�pria hist�ria.
E me interessei bastante

por isso. Ele pode estar bem.

Era um tempo diferente.

Eu pediria desculpas
e teria mais compaix�o por ele,

pois, pela gra�a de Deus,

ele poderia ter sido
um dos meus filhos ou netos.

Mas, naquela �poca,
o pobre Richard foi deixado,

sabe como �, em uma ilha.

E Deus sabe o quanto deve ter sido
doloroso para ele.

Certo, al�m de Dick,
entrevistei todos que encontrei.

Infelizmente,

tr�s dos meus colegas de classe
j� faleceram.

Eddie, meu melhor amigo
na escola prim�ria,

morreu aos 50 anos,
de c�ncer de garganta,

e ainda sinto falta dele.

Marilyn

morreu aos 60 anos,
de c�ncer ovariano.

E Jerry morreu poucos meses depois
que o entrevistei,

aos 64 anos,

de um infarte.

Mande lembran�as a todos
com quem falar.

Diga a eles que nos falamos

e que mando lembran�as.

Eis o que aprendi at� agora.

Um:

de certa forma,
ainda me sinto culpado

e tenho que me perguntar:

estou tentando reparar algo

ao fazer este filme?

Dois:

nunca percebi
o quanto a Sra. Bromberg

nos chamando de "animais"
me afetou,

e agora me lembro
da vergonha que senti.

Tr�s:

questiono se somos programados
a detectar vulnerabilidade.

Quatro:

embora achasse
que tinha escondido de todos,

meus colegas de classe
lembraram que meu irm�o morreu

quando eu estava na quarta s�rie,
e me fechei e fiquei inacess�vel.

Cinco:

preciso muito encontrar
a Sra. Bromberg.

Por favor, deixe um recado.

Al�? Sra. Bromberg, sou Jay Rosenblatt,
um ex-aluno seu.

Do ano de 1965 e 1966.

Eu adoraria falar com a senhora.

Ligarei novamente
e espero fazermos contato.

Espero que esteja bem. Falarei logo
com a senhora. Obrigado. Tchau.

Por favor, deixe um recado.

Por favor, deixe um recado.

Por favor, deixe um recado.

- Al�?
- Oi, Sra. Bromberg.

Aqui � Jay Rosenblatt.

Imaginei que fosse.

Eu lhe pedi que ligasse esse hor�rio.

� uma boa hora?

Muito boa.

Certo, perfeito.

Como a senhora est�?

Estou bem.

Moro em um residencial para idosos.

Tenho 92 anos.

Nossa! Isso � �timo. �timo.

Mas ainda estou aqui.

Estou muito feliz de ouvir isso.

Obrigada.

O que posso fazer por voc�?

TR�S SEMANAS DEPOIS

BRONX, NOVA YORK

- Ol�!
- Oi, Sra. Bromberg.

Esque�a o "Sra. Bromberg".

Oi!

Oi.

� bom v�-la.

Voc� est� muito bem.

Ent�o me diga.

O que o traz aqui?

- Essa � voc�.
- Sim, eu era loira.

A senhora era.

Antes, eu era morena.

Acho que n�o reconhe�o

ningu�m.

A senhora se lembra de algum

- epis�dio de bullying?
- Algum o qu�?

- Bullying.
- Bullying?

Sim.

N�o exatamente.

N�o.

- Voc� lembra?
- Sim, vou lhe contar sobre isso.

- Vou chegar l�.
- Meninas tendem a ser maldosas.

Mesmo em uma tenra idade.

Com os meninos. Se voc� consegue
lan�ar e pegar uma bola, isso basta.

E se fosse um menino
que n�o consegue lan�ar uma bola?

Depende da idade.
Poderia ser um grande problema.

- Voc� conseguia lan�ar uma bola?
- Eu lan�ava bem.

Mas conheci meninos

que n�o podiam,
nem faziam isso bem.

- E eles tiveram problemas.
- Sim.

Porque meninos s�o

assim mesmo, desse jeito.
Meninas s�o sempre maldosas.

- Meninos tamb�m sabem ser cru�is.
- � diferente.

� diferente de ser maldoso.

Est� falando de bullying.

Estou curioso. Por que acha
que as crian�as escolhem os fracos?

As crian�as s�o focadas nisso

da maneira mais estranha.

As crian�as veem alguma coisa

que os adultos n�o conseguem.

Um sexto sentido ou algo assim.

E isto acontece o tempo todo.

- Certo.
- Aconteceu com minha filha.

Ela sofreu bullying?

Ela nunca conseguiu

se envolver

com as crian�as.

Por fim, nessa longa caminhada,

ela cometeu suic�dio, eu acho.

Porque obesidade m�rbida...

e ela trabalhava
com terapia respirat�ria.

Ent�o ela certamente
sabia dos riscos.

Alguma coisa estava errada,

e acho que ela sabia disso.

Mas...

eu n�o sabia.

- Lamento por sua perda.
- Ei...

Contei todo o epis�dio do bullying
para ver se ela se recordava.

Alguma coisa lhe soa familiar?

Nada?

- Acontecia muito disso?
- Exato.

Todos os anos.

Aconteceu com voc�,
por isso voc� se lembra.

O que acha da hist�ria
que lhe contei, no geral?

Quero dizer...

sobre este incidente de bullying.
E o filme que estou fazendo.

Alguma ideia? Ou perguntas?
A senhora tem alguma pergunta?

N�o, sei o que acontece.

Minha filha sofreu bullying.

Sei que isto acontece.

No filme, n�o sei
se as pessoas querem ver isto.

N�o sei mesmo.

Acham que as pessoas
n�o v�o querer ver meu filme?

Acho que n�o.

Mas � a minha opini�o.

Bem, a senhora pode estar certa.

Mas tamb�m depende
de como ele � apresentado.

E...

n�o sei.

Poderia ser chato.

Poderia ser muito entediante

de assistir.

A Sra. Bromberg estava certa.

Eu me lembro disso porque participei.

Por que eu n�o disse "pare"?

Se voc�

pudesse

dizer algo

para o outro Richard,

- se tivesse a chance...
- Certo.

O que diria?

Primeiro, eu diria:

"Voc� se lembra de mim?

E voc� se lembra que n�s

estudamos juntos
na quarta e quinta s�ries?"

Ficaria curioso
sobre o que ele se lembra,

porque a preocupa��o que eu teria

� que n�o significou nada para ele.

Isto fez parte de sua experi�ncia
de crescimento.

� mais uma coisa,

e eu teria transformado
em algo muito grande,

quer tenha sido uma desculpa
ou reconhecimento,

e n�o teria sido necess�rio.

Agora � a parte do filme

onde voc� espera conhecer Dick,

o outro Richard.

Isto faz sentido.

Na verdade,

esse era meu plano original,

o grande cl�max no final.

Todos ter�amos not�cias de Dick

e ver�amos que, felizmente,
ele acabou ficando bem.

Ver�amos o quanto os humanos
podem ser resilientes.

E, talvez, n�o sent�ssemos
tanta culpa ou vergonha.

Afinal de contas,

�ramos apenas crian�as.

Essas coisas acontecem.

Quem sabe?

Talvez ele nem se lembre
do incidente no p�tio.

Enfim, n�o haver� um Dick
encerrando este filme.

Em vez disso,

decidi escrever uma carta a ele.

Caro Richard,

fiz um filme sobre quando fizemos
bullying com voc� na PS 194.

Entrevistei todos que pude encontrar

da classe da quinta s�rie,
para ver do que se lembravam.

O que n�o esperava � que a maioria
s� tinha uma vaga lembran�a

daquele incidente,
mas todos se lembraram de voc�.

Minha inten��o era
encerrar o filme

com uma entrevista cara a cara
com voc�.

Mas quanto mais
me envolvi no projeto,

menos certeza tinha
de trazer voc� para ele.

Enquanto entrevistava todos,

comecei a sentir
que est�vamos reencenando

o incidente de bullying
de 50 anos atr�s.

Pode ser dif�cil acreditar nisso,

mas quando comecei a fazer o filme

n�o considerei como ele
faria voc� se sentir.

Acho que n�o sou t�o sens�vel
quanto pensei.

Enfim,

na remota possibilidade
de voc� me contatar um dia e dizer:

"Soube que fez um filme sobre mim,"

por favor, saiba

que o filme n�o � exatamente
sobre voc�, mas sobre n�s.

O que ficou claro para mim

� que todos carregam dor.

Se pensar a respeito,

muito da vida envolve
esconder nossas vulnerabilidades.

No meu caso,

foi perder meu irm�o
quando estava na quarta s�rie,

e a intensa culpa que carreguei

e tentei esconder.

Por�m, atrav�s da dor,

agora posso ver a sua,

e nisso est� nossa conex�o.

Ao encerrar, Richard,

o que posso lhe dizer

� que todos com quem falei
lhe desejaram tudo de bom

e se sentiram mal
pelo modo como foi tratado.

E, finalmente,

simplesmente quero dizer...

Me desculpe.