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ONDE H� D�VIDA, A SUA VERDADE
� A SUA SOMBRA

AMBROSE BIERCE

Um dia estava no trabalho,
tinha acabado de almo�ar.

Recebi uma chamada da A.K.,
ela estava a ligar de casa.

Ela disse, resumidamente,

"Lembras-te do sonho que tive?

Bem, est�o problemas para acontecer."

Duas ou tr�s horas depois da chamada

ouvi de um amigo em Katzrin
que uma rapariga estava desaparecida

e que a cidade toda estava � procura dela.

Nessa altura, estava muito preocupado que
isto n�o fosse uma das brincadeiras dela,

era mesmo real.

Quando cheguei a casa
por volta das oito da noite,

alguns amigos que conhecera em Katzrin
estavam l�.

Sent�mo-nos e convers�mos,

e durante esse tempo eu receava que...

EX NAMORADO DE A.K.
A H

... o que a A.K. fez se soubesse

e ela ali sentada
a falar indiferentemente.

S� cerca da uma da manh�,
quando todos se foram embora,

perguntei-lhe frontalmente,
se tinha sido ela a faz�-lo.

Ela levou-me

para outro compartimento da casa.

Mostrou-me uma mala.

Mostrou-me as roupas que usara,

a peruca, a faca.

Estava tudo

ensopado em sangue.

Numa noite de abril de 2012

recebi uma chamada de um cliente

ADVOGADO DE A.H.

que me queria ver urgentemente.

Conhecia o cliente e a fam�lia
h� v�rios anos.

S�o normais,

pessoas confi�veis,

sem raz�es para inventarem uma hist�ria

que n�o era verdade.

Falei com ele por muitas horas
e ouvi a hist�ria por ele.

Por momentos fiquei estupefato,

porque a ser verdade, esta hist�ria

significa que um homem
que foi condenado por homic�dio

e que est� preso

� inocente.

O advogado Yaron Former ligou-nos,
um reconhecido advogado criminal,

e disse, "Est� aqui um homem
no meu escrit�rio

PROMOTOR P�BLICO ROMAN

que diz saber quem � o verdadeiro
homicida de Tair Rada

e quer ir � pol�cia.

Por favor venham dizer-me
se o que ele diz faz sentido,

se se enquadra com as provas."

No escrit�rio estava
o advogado Yaron Forer,

o jovem, cujas iniciais eram A.H.,

e o seu pai.

E ele disse que a namorada dele,

uma rapariga chamada A.K.,

uma rapariga que,

ponhamos desta forma,
tinha alguns problemas.

Ela adora ver sangue.

Ela est� convencida que � uma "loba"

chamada Mildew,

e que esta loba dentro dela
a faz querer cortar pessoas

e tirar-lhes as entranhas.

Por acaso, vivem em Katzrin.

Ela formou-se na Escola Nofey Golan,

e ele afirma que ela lhe contou
que foi a essa escola,

esperou pela rapariga na casa de banho,

e quando uma rapariga entrou,
ela simplesmente

assassinou-a.

O primeiro impulso � ligar � pol�cia.

N�o sei porque � que n�o o fiz.

Quando est�vamos deitados na cama,
no escuro,

come�amos a sussurrar
o mais baixinho poss�vel.

Tinha receio que os vizinhos ouvissem, que

algu�m que passasse na rua
ouvisse o que tinha acontecido.

Perguntei-lhe,

"O que aconteceu ao certo?"

Foi tudo muito bem planeado.

Quando ela entrou na escola

p�s uma roupa ao peito
para firmar um enchuma�o.

Ela usou as minhas cal�as bege

e por cima de tudo, um sweat preta,

uma peruca que costum�vamos usar,

um chap�u,

e uma mochila grande da JanSport,

e dentro da mochila estavam

luvas de silicone,

uma faca de ca�a que ela tinha comprado
numa loja local,

e uma muda de roupa.

Quando ela entrou na escola,
foi direta para a casa de banho.

Esperou nos compartimentos
quase duas horas.

E quando ouviu algu�m a entrar sozinho

saiu de faca em punho.

Agarrou a Tair pela camisa
e arrastou-a para o compartimento.

Imagino que tenha havido uma luta, mas...

A Tair n�o teve hip�teses.

Ela disse-me que quando come�ou a despir
a Tair, algu�m entrou.

Uma delas bateu na porta do compartimento

e a A.K. disse que estava ocupado.

Ela come�ou a tapar a abertura
em baixo do compartimento

para que o sangue n�o sa�sse.

Quando percebeu que sa�ram
da casa de banho

ela trepou para o outro
compartimento e fugiu.

Quando chegou a casa, foi tomar banho,

e quando saiu do banho

ligou-me para o meu emprego.

Disse-me que n�o conseguia
esquecer o cheiro do sangue.

Devo dizer que

quando ouve uma hist�ria destas
pela primeira vez,

soa a bizarro, surreal.

Por outro lado, continuei a pensar
no caso de homic�dio de Asaf Steierman.

Nesse, tamb�m, a pessoa
que desvendou o mist�rio

era a esposa do assassino.

Ele confessou-lhe e ela contou � pol�cia

e eles tiveram uma discuss�o,

Eu sou o anjo da morte

por isso, h� parecen�as.

Respira normalmente.
Faz de conta que est�s a ver TV.

D�-me este dedo.

PARA ATESTAR A VERACIDADE
DA HIST�RIA DE A.K.

OS ESPECIALISTAS MANDARAM-NO
FAZER UM TESTE DO POL�GRAFO.

O TESTE FOI CONDUZIDO
PELO VICTOR COHEN,

ANTIGO CHEFE DE INVESTIGA��O
DA SHIN BET,

E EXAMINADOR DE POL�GRAFOS
DE ISRAEL.

- As perguntas s�o claras?
- Sim.

Devo l�-las outra vez, ou voc� lembra-se?

- Eu lembro-me.
- Boa. Vou come�ar.

- Nasceu em Israel?
- Sim.

- Est� agora em Tel Aviv?
- Sim.

Pretende responder a todas as perguntas
sobre o assassinato da Tara com verdade?

Sim.

� verdade que na tarde do assassinato,
a pessoa X disse-lhe,

"Lembras-te do meu sonho?
Problemas est�o a chegar"?

Sim.

� verdade que na meia noite desse dia,
a pessoa X mostrou-lhe

roupas ensopadas em sangue
que estavam numa mala?

Isso mesmo.

� verdade que na meia noite desse dia,

a pessoa X mostrou-lhe uma faca de serra
ensopada em sangue?

Sim.

O A.H. PASSOU POR TR�S RONDAS DE PERGUNTAS

O RESULTADO FOI QUE RESPONDEU
A TODAS COM VERDADE.

O ADVOGADO VICTOR COHEN
INSTITUTO DO POL�GRAFO ISRAELITA

ABRIL DE 2012

OS ADVOGADOS DE ROMAN ZADOROV
E A.H. PEDIRAM AO PROMOTOR

PARA INICIAR UMA INVESTIGA��O POLICIAL
CONTRA A.K.

No dia da independ�ncia,

recebi uma chamada da pol�cia
da Regi�o Norte

a pedir-me para marcar uma reuni�o
entre eles e o meu cliente.

Detetive: "Advogado Yaron Forer?

Como est�? Este � o Detetive X
da pol�cia da Regi�o Norte.

Quem � esse A.H.
e como posso contact�-lo?"

Eles insistiram para que eu deixasse tudo
e fosse,

na v�spera do dia da independ�ncia,

ao meu escrit�rio buscar o contacto dele.

"V�o mesmo ligar ao meu cliente
para interrogat�rio agora?"

Eles reponderam, "Sim, agora,
estamos � espera dele."

"At� o comiss�rio est� envolvido."

Sou advogado h� d�cadas

e nunca vi a pol�cia

com tanta pressa para interrogar algu�m.

Fiquei feliz e percebi,

"Boa, a pol�cia vai iniciar
uma investiga��o.

Est�o mesmo interessados."

Tr�s detetives chegaram � minha porta

fizeram o que � chamado,
um testemunho espont�neo.

Detetive: (escreve ao computador)
O que nos quer contar?

A.H.: Informa��es sobre a morte de Tair.

Detetive: Prossiga.

A.H.: A minha namorada dos �ltimos
dez anos,

matou a Tair.

Detetive: (escreve no computador)
Comecemos pelo in�cio.

A.H.: No dia do assassinato?

Detetive: N�o. Antes disso.
Mesmo do come�o, est� bem?

Est�vamos juntos � cerca
de seis meses e meio antes do crime.

Se tivesse de descrever a A.K.,
rapidamente, diria

algo entre uma alma atormentada
e um monstro.

PINTURAS DE A.K.

A A.K. n�o era feliz em Katzrin.

Ela n�o encontrou o espa�o dela

em termos profissionais ou na vida social,

mesmo crescendo aqui na zona.

Tentou suicidar-se duas vezes.

Andava depressiva a maior parte do tempo.

A A.K. ia para s�tios dentro
da sua imagina��o para relaxar.

S� que esses lugares eram...

... ela imaginava-se numa piscina
cheia de sangue.

Em crian�a, o av� dela
levava-a a ver lutas.

O av� dela era um general
do ex�rcito russo.

Foi-lhe diagnosticado esquizofrenia.

Ele era muito s�dico.

Ela diz que se lembra
de gritos e tiroteios.

Lembra-se de ter muito frio.

Evidentemente, estava nua.

Lembra-se de certas alturas que ele

a punha num local quente,

aparentemente, um cad�ver de um lobo

ou de uma pessoa,

por isso, � esse o lugar
para onde ela vai para relaxar.

Detetive: N�o compreendo.

A.H.: Ela sempre teve todo o tipo
de pervers�es,

a nadar numa piscina de sangue.

Ela acreditava que havia uma "loba"
chamada Mildew, dentro dela.

E que essa "loba" a fazia querer
continuar a fazer estas coisas.

Detetive: Sabe o que � ser c�mplice
de um assassinato?

A.H.: Percebi que fui c�mplice
por ter omitido isto,

se � isso que me est� a perguntar.

Detetive: Ent�o, tem no��o disso?

A.H.: Sim.

Detetive: E est� disposto
a pagar a fatura?

A.H.: Sim.

A pol�cia pegou nos registos
de telefone do A.H.,

e realmente viu que a A.K. ligou-lhe
nesse dia �s duas da tarde

quando ele estava no trabalho,
tal como ele dissera.

Eventualmente, a pol�cia levou-o
para interrogat�rio.

Esta rapariga loira

que parece completamente inofensiva

veio para interrogat�rio e diz,
"O qu�? Eu gosto de sangue?

Tenho uma "loba" dentro de mim?
Quero cortar pessoas? Que disparate!"

E devo dizer,
ela pareceu-me muito convincente.

Detetive: Temos provas
que voc� matou a Tair Rada em Katzrin.

O que tem a dizer em rela��o a isso?

A.K.: Tretas!

A.K.: Um monte de mentiras.

Um monte de mentiras de um gajo
por vingan�a.

Detetive: O A.H. testemunhou
que voc� lhe disse que matou a Tair.

A.K.: Eu?

Detetive: E que lhe mostrou
a arma do crime

e as roupas que usou naquele dia.
O que diz disso?

A.K.: Isso � de loucos.
Nem sei o que lhe chamar,

mentira, loucura,
ele � louco, mas n�o interessa.

Detetive: Porque � que acha que o A.H.
diria estas coisas sobre si?

A.K.: Ele � louco,
ficou maluco quando o deixei.

(Risos) Ele quer-me de volta.

Ele adoraria prender-me numa cela
e dar-me de comer de vez em quando.

Detetive: O A.H. disse � pol�cia
que voc� queria matar mais pessoas.

O que me diz a isso?

A.K.: (Risos) Ele � louco.
Talvez ele queira magoar pessoas.

Quer dizer, foda-se, deveriam prend�-lo,
ele imagina sangue.

A.K.: Come�ou a falar comigo
sobre intestinos.

A.K.: Ele tinha ci�mes
e costumava bater-me.

A.K.: E, claro, violou-me duas vezes.

Invas�o de privacidade. Amea�as.
Agress�o com marcas.

Viola��o.

Agarrou-me pelos cabelos.

Arrastou-me para a casa de banho.

Urinou em cima de mim e pontapeou-me

e for�ou-me a ter sexo com ele.

E eu chorei e implorei para parar.

DEPOIS DA INVESTIGA��O, A.H. E A.K.
FORAM POSTOS EM PRIS�O PREVENTIVA.

Desde que tenho conhecimento deste caso

PROMOTORA CHEFE
SHILA INBAR

pessoas sem conta disseram-me
que sabiam que tinha matado a Tair Rada,

inclusive pessoas que tiveram sonhos,

uma vez, uns mi�dos fizeram
uma sess�o de espiritismo

onde duendes apareceram
e lhes disse que era o assassino,

incluindo o nome e o n�mero.

E um deles � um homem

que de repente se lembra,
seis anos depois do crime,

que a sua ex namorada o fez, e lhe contou.

Fodes com qualquer um
e depois vens dormir aqui.

Vai � merda, sua puta!
J� estou farto desta merda.

�s louca e imaginas coisas.

Este � um casal
com uma rela��o complicada.

Nenhum deles � muito est�vel

e tiveram todo o tipo de problemas
inclusive viol�ncia.

Houve alturas em que rezava
e chorava para que parasses,

mas est�s acostumado a l�grimas, certo?

E n�o te magoas?

Mascaste-me, violaste-me,
como posso continuar assim?

A nossa rela��o sexual

ia sempre para a viol�ncia.

Era sempre tirado do mundo da fantasia,

havia sempre todos os jogos de poder,

elementos de submiss�o.

A rela��o entre A.H. e A.K.

era muito turbulenta e incomum,

e as queixas contra A.H.
eram que em certos casos

ele a violava.

N�o encontr�vamos uma raz�o porque um
homem cuja namorada cometeu um crime

guardaria essa informa��o seis anos

at� a namorada lhe dizer que o vai deixar,

e depois uma rela��o doentia come�a

porque ele a quer de volta.

N�o aguento estes interrogat�rios.
Deixa de ser obsessivo.

Estou a fazer-te o que fizeste a mim

at� perceberes que n�o me podes
tratar como lixo e deitar fora.

Fiquei muito magoado com aquilo tudo.

Um dia, do nada, ela disse,

"N�o quero mais isto."

Liguei-te 200 vezes.
N�o ouviste o telefone?

A forma como me tens tratado ultimamente
� degradante. Para de me ignorar.

N�o quero falar contigo
porque tu assustas-me,

porque fazes-me parecer um monstro.

E isso foi o final de tudo.

Qualquer um pode acusar outro
de assassinato

e agora que tenho um suspeito
que foi condenado com provas s�lidas,

n�o posso reabrir o caso.

Sempre que algu�m diz,
"O meu amigo � o assassino",

isto nunca ter� fim.

Por favor, n�o v�s.

Vou sim. Adeus.

Depois h� um ponto crucial que se d�,
na minha opini�o,

que mostra que a pol�cia
deveria ter levado o A.H. a s�rio.

Estive em pris�o domicili�ria
por cinco dias.

Na sexta � noite entrei no Facebook
e vi o estado que a A.K. postou.

Estado que

que me fez suspeitar
que ela iria fazer alguma coisa.

Ela falou que um monstro a atormentou,

e falou de pedras preciosas.

Era como ela falada da Tair,
"o meu top�zio."

Ele disse que roubou um top�zio
e p�-lo no ba� do tesouro.

Liguei para o gabinete encarregue
da investiga��o

e disse-lhes que tinha receio
que ela fosse magoar mais algu�m.

N�o devolveram a chamada.

A A.K. foi ter com o novo namorado

nos dormit�rios do col�gio local,

e atacou-o com uma garrafa partida

e tentou mat�-lo.

Estava no dormit�rio

quando ela chegou de manh�,

a pedir para entrar e ter sexo.

Ela disse que a vida dela
estava arruinada e terminada

e parecia estar b�bada.

Eu disse n�o.

Ela trazia um objeto suspeito.

Ela encostou o objeto na minha garganta.

Mais tarde soube que era
um peda�o de vidro.

Ela fez muita for�a.

Fiquei estupefacto.

Dei o meu melhor para lhe tirar o objeto

para que ningu�m se magoasse.

As pessoas que por aqui andavam
ouviram e vieram ajudar-me.

Chamaram a pol�cia

e ela pontapeou, gritou
todo o tipo de coisas,

e fez todo o tipo de sons.

Quando a pol�cia chegou,

a A.K., que estava a ter, aparentemente,
uma esp�cie de ataque,

tentou arrancar � dentada um peda�o
do pesco�o do pol�cia,

como ela diria.

Agress�o e amea�as.

Tenho fome das coisas boas.

Depois da tentativa de assassinato,

parece que a A.K. saiu de casa
nesse dia com uma faca.

N�o era a primeira vez que a A.K.
fora apanhada com uma arma branca.

Crime: Posse de faca

Em junho de 2006, seis meses antes
do assassinato da Tair,

ela foi presa em Katzrin por um pol�cia
que encontrou-a com uma faca de ca�a.

Eles questionaram-na e ela confirmou
tudo que o A.H. disse sobre ela.

Ela admitiu que adorava sangue,

que quer cortar as pessoas ao meio,

que v� as pessoas
como hamb�rgueres ambulantes.

Ela quer mesmo cortar as pessoas,
tirar-lhes as entranhas,

e ir ao corpo delas
porque s� isso a consola.

E eles perguntaram-lhe,
"J� fizeste isto antes?"

Ela disse, "N�o quero falar disso."

Detetive (mulher):
Estou a interrog�-la, olhe para mim.

A.K.: N�o quero responder.

Detetive: Quer falar primeiro
com um advogado?

A.K.: N�o quero nada com essa escumalha.

Detetive: Est� bem, pergunto-lhe sobre
como entrou no dormit�rio e tentou...

A.K.: N�o aconteceu nada.

Detetive: Est� bem, e sobre
o que quase aconteceu.

O que queria que acontecesse. Certo?

A.K.: Sim. Mas n�o escreva isso.

Detetive: Ent�o, o que aconteceu hoje?
Acordou aqui em Katzrin hoje?

A.K.: Sim, e ri-me porque foi muito bom.

Detetive: O que � que foi t�o bom?
O que a fez sentir t�o feliz?

A.K.: Acordei com a sensa��o de estar
num lugar quente

com sangue e entranhas � minha volta.

Sabe, um local seguro.

Detetive: E depois disse que saiu
com a faca, certo?

A.K.: Sim, como � que se lembra?

Detetive: N�o d� para esquecer.
Onde arranjou a faca?

A.K.: Tinha a faca em casa.

Detetive: Tem interesse
especial nesta faca?

A.K.: N�o. Em pessoas.

Detetive: Est� bem.

A.K.: E no que est� dentro delas.

Detetive: E depois o que � que fez?

A.K.: Fui embora.

� cansativo, matar algu�m, brincar,

tirar tudo para fora,
e respira isso, tocar,

como eu imagino, eu quero. (risos).

Detetive: Pensei que s� queria arrancar
as entranhas deles.

A.K.: Sim, isso demora muito.

Detetive: E depois,
tirar e mexer l� dentro?

A.K.: Sim.

Detetive: Isso f�-la sentir feliz?

A.K.: Sim, por fim, tenho paz.

Detetive: Porque tentou morder
o pol�cia que a prendeu?

A.K.: Pensei em agarrar
um pouco de carne fresca,

alguma coisa, raios!

Detetive: E porque � que tentou
agarrar a arma do pol�cia?

A.K.: Porque n�o quero viver.
N�o tem gra�a.

Detetive: N�o?

A.K.: N�o. Morrer de fome todos os dias

e ver sandes a andarem por a�, sabe?

Detetive: E nunca ningu�m achou
isto estranho? Ex namorados?

A.K.: Sim, o meu ex.
Contei-lhe sobre isso.

Detetive: E o que � que ele disse?
Ele achou estranho?

A.K.: N�o, ele compreendeu-me.

Detetive: H� mais alguma coisa
que queira contar?

Algo que a fa�a sentir-se stressada?

A.K.: Porque haveria de querer contar-lhe?

Detetive: Perguntei-lhe sobre
casos passados

mas disse que n�o queria falar sobre isso,

mas eu preciso de saber.

A.K.: Quero ir para casa.

Porque n�o me solta? Sou boa pessoa.

TRIBUNAL DE MAGISTRADOS

Descrita como uma entidade de fora,
uma "loba" que a controla

e manda que ela ataque outros.

Acredita que tem um dem�nio dentro dela.

Imagina-se a cortar pessoas.

N�o me interessa que a pessoa
que eu corto viva ou morra,

preciso de entrar no corpo dela.

VEREDITO
N�o pode ser julgada

Ir� para institui��o psiqui�trica.

Depois algo acontece, o que eu acho
muito perturbante, muito severo.

O cliente � preso.

A.H. FOI PRESO NA QUINTA FEIRA
DE MANH�, 5-03-2012,

POUCAS HORAS DEPOIS
DA PRIS�O DE A.K.

Prenderam-me por obstru��o � justi�a

e acusa��es sexuais baseadas
nas queixas de A.K.

E quando tentei dizer-lhes
que ela fez as queixas

porque eu disse que ia contar � pol�cia,

eles riram-se de mim.

N�o levaram a s�rio o que eu disse
sobre a morte da Tair Rada.

Detetive: Sabe porque � que est� aqui?

A.H.: � um encobrimento.

Detetive: O que � um encobrimento?

A.H.: Est�o a tentar calar-me
porque deram cabo do caso da Tair.

Vim at� v�s com informa��o

e escolheram ignor�-la.

Escolheram acusar-me de coisas.

Detetive: Est�s metido
em grandes sarilhos,

� bom que tenha isso em mente.

A.H.: Admito que a tratei mal

e lhe mandei milhares de mensagens,

e que publiquei fotos dela nua.

E tamb�m admito que ela
contou-me sobre a morte da Tair.

A pol�cia prendeu-o

e a �nica culpa dele

foi entregar informa��o.

Foi s� o que ele fez.

Levaram-me para a pris�o Tzalmon.

Decidiram que eu devia passar
a minha primeira noite ali

com as minhas m�os e p�s atados � cama.

N�o me podia virar,

os meus bra�os estavam acima da cabe�a,

as minhas pernas atadas aos p�s da cama,

e era suposto dormir assim.

Um sentimento de

impot�ncia que nunca tinha experienciado.

Em vez de verificar a hist�ria dele
e tentar ver se era verdade,

puseram a energia toda
em faz�-lo admitir que mentiu.

Os investigadores gozaram com ele,
insultaram-no, amea�aram-no,

e ainda o amea�aram lev�-lo
a um hospital psiqui�trico

se ele n�o mudasse o testemunho.

Continuaram a dizer-lhe,
"Est� tolo da cabe�a.

�s um falhado, n�o tens auto estima."

Uma vez o detetive disse-lhe,
"H� um ditado marroquino,

'Quem traz um pau
acaba sendo atingido por ele.'"

Ele queixa-se,
"Porque me tratam assim t�o mal?"

Eles respondem, "Porque �s uma merda.
� melhor estares calado.

Vou enterrar-te com este caso.

Irei acusar-te de coisas novas
de dez em dez minutos,

farei da tua vida um inferno."

"Ningu�m quer saber a verdade.

Eles n�o querem saber a verdade.

Temos o assassino,

e algu�m que contradiga a nossa teoria,

n�o acreditamos.

Queremos livra-nos dele.

"� uma pedra no nosso sapato."

Detetive: � melhor lidar com isso
nesta sala

para quando sair fique aqui entre n�s.

Num dos interrogat�rios
foi-me dito de caras,

"Muda o teu testemunho

e anularemos todas as queixas
dela contra ti,

e ir�s para casa
e nunca mais te chatearemos."

A.H.: Vou suicidar-me e escrever
a sangue que a A.K. matou a Tair.

Se for preciso uma explos�o
para o p�blico saber

que a A.K. matou a Tair Rada,
estou disposto a ser essa explos�o.

DEPOIS DE 11 DIAS DE PRIS�O A.H.
FOI LIBERTADO PARA PRIS�O DOMICILI�RIA

RECUSOU-SE A MUDAR O TESTEMUNHO.

O TESTEMUNHO DO A.H. FOI
APRESENTADO NO SUPREMO TRIBUNAL

NO RECURSO DE ZADOROV.

O TRIBUNAL CONSIDEROU-O INADMISS�VEL,
COM A QUEIXA DO PROMOTOR.

EM 2012, A.K. FOI ENCARCERADA

NUM HOSPITAL PSIQUI�TRICO.

TR�S ANOS DEPOIS

A SUA COLEGA DE QUARTO, ANAT,
SUICIDOU-SE.

POUCO DEPOIS

CONTACTAMOS A AMIGA DE ANAT,
MAY PELEG.

Estou?

- Ol�, May.
- Ol�.

Por favor, apresente-se,
e conte-nos como conhece a A.K.

Est� bem.

Sou a May Peleg, grande amiga de Anat.

A Anat foi hospitalizada com a A.K.

Um dia a Anat veio ter comigo

e contou-me a hist�ria
que a A.K. lhe contou.

Disse que ela tinha uma r� na barriga

que tinha sede de sangue, sangue humano,

e que mataria por isso.

A A.K. contou-lhe que ela tentou
matar uma pessoa,

mas que foi apanhada.

Mas houve outro caso
em que ela n�o foi apanhada.

Est� bem, conte-nos sobre isso.

Foi assim.

No dia em que a Tair Rada foi morta

ela veio � escola,
vestida de uniforme e tudo

com uma mochila
para que ningu�m suspeitasse dela.

Na mochila tinha a faca com que matou

e uma muda de roupa.

Liceu Nofey Golan

Foi � casa de banho das meninas
e esperou por algu�m entrar.

Ningu�m em particular,
n�o lhe interessava quem.

A Tair foi � casa de banho,

e a A.K. puxou da faca e apanhou por tr�s.

Ela cortou-lhe a garganta
enquanto tapava a boca dela

e lutava com ela.

A A.K. foi para outro compartimento,
mudou de roupa,

e saiu da escola

sem que ningu�m soubesse
o que tinha acontecido.

Naturalmente, a Anat ficou chocada
ao ouvir isto

e n�o sabia o que fazer.

Porque n�o foi � pol�cia?

Ela perguntou-me o que fazer,
a quem se dirigir,

� pol�cia, aos advogados do Roman Zadorov.

Infelizmente, quando ainda o discut�amos,
a Anat suicidou-se.

Considero isso o �ltimo testamento
e vontade de Anat,

um testamento por escrever que eu deveria
tratar de uma vez por todas.

Muito obrigado, May.

Falemos na pr�xima semana
e marcamos um encontro.

- Obrigada.
- Obrigado.

DOIS DIAS DEPOIS DA CHAMADA,

MAY PELEG SUICIDOU-SE.

ELA E A.H. NUNCA SE FALARAM
OU ENCONTRARAM.

Diz-me, como saberemos
que n�o inventaste esta hist�ria toda?

Eu sei o que aconteceu.

Sei o que vi.

Mesmo agora, dois anos e meio depois
de trazer isto � baila,

mesmo depois de tudo o que passei
com a pol�cia,

mesmo depois dos interrogat�rios,

a tortura,

da oculta��o for�ada a mim,

tudo o que eu quero
� que se saiba a verdade.

Estivemos juntos dez anos.

Ele acha-se muito esperto,
muito inteligente,

ele sabe como falar, mas ele...

ele n�o � o que parece ser.

A cara dele � uma m�scara.

Ele sabia da minha doen�a,

das minhas hist�rias,

sabia do meu problema,

ele prometeu que arruinaria
a minha vida de qualquer forma.

A POL�CIA LEVOU UMA AMOSTRA DE DNA DA A.K.

MAS S� COMPARADA COM AMOSTRAS
DEBAIXO DAS UNHAS DA TAIR,

SABENDO QUE NUNCA FOI ENCONTRADO
DNA NAQUELE LOCAL.

N�O COMPARARAM A AMOSTRA

COM NENHUM DNA
ENCONTRADO NA CENA DO CRIME.

EM 2015

A A.K. FOI LIBERTADA
DO HOSPITAL PSIQUI�TRICO.

ROMAN ZADOROV EST� PRESO H� DEZ ANOS.

ELE AINDA ALEGA INOC�NCIA.

SHMUEL RADA MORREU DE CANCRO
EM JANEIRO DE 2016,

DEPOIS DO DIA DA DEDICA��O
DE UMA SINAGOGA COM O NOME DE TAIR.

ILANA RADA AINDA LUTA

PARA TER A MORTE DA SUA FILHA
ABERTA A NOVA INVESTIGA��O.

APESAR DE MUITAS TENTATIVAS,

A POL�CIA DE ISRAEL RECUSOU
COOPERAR COM ESTA S�RIE.

Tradu��o: Nuno Castro
Sincroniza��o: remasta