All language subtitles for Stories.of.a.Generation.With.Pope.Francis.S01E03.Struggle.1080p.NF.WEB-DL.DDP5.1.H.264-KHN

CIDADE DO VATICANO

Confio no seu entusiasmo.

Vamos continuar.

O senhor gosta da palavra "luta"?

O que ela sugere a você?

Se me perguntar se sou lutador,
eu digo: "Não, sou preguiçoso."

Sou mais preguiçoso
do que lutador por natureza.

Se posso evitar uma luta, eu evito.

Inclusive, às vezes,
quando tenho que fazer justiça,

que é um ato violento,

castigar uma pessoa…

Isso me custa horrores porque é uma luta.

Onde parece que há
vencedores e perdedores…

Justiça!

…a luta é uma realidade.

Não gosto disso,

mas não pode haver vida sem luta.

É algo intrínseco a nós.

Para sobreviver, temos que lutar.

UMA SÉRIE DOCUMENTAL NETFLIX

COM BASE NO LIVRO
SABEDORIA DAS IDADES

LUTA
COM PAPA FRANCISCO

Lutamos ao longo do século 20
por uma África do Sul unida,

uma África do Sul sem divisão racial.

Sthembiso teve
um papel importante na minha vida.

Meu nome é Omar Badsha.

Tenho 75 anos.

Sou fotógrafo.

Eu estava dando uma olhada no meu arquivo

quando vi a fotografia,

e pensei em Sthembiso.

Ele vinha todos os dias
e trabalhava na câmara escura,

até que um dia ele me disse:

"Quero que tire uma foto minha.

Vou embora hoje de noite.

Vou me juntar ao movimento lá fora."

Ele disse: "Confio em você.

Se algo acontecer comigo,
entregue a foto à minha família."

Mas isso não aconteceu.

VINTE FOTÓGRAFOS SUL-AFRICANOS

Particularmente, eu fazia
parte da rede clandestina…

JOVEM OMAR

…contra o que chamavam de "apartheid".

Naquela época,

muitos sabiam que podiam ser banidos…

ou assassinados.

As coisas eram muito difíceis mesmo.

A violência…

Eu também virei alvo diversas vezes,

e estive à beira de ser assassinado.

Nós negamos quem éramos.

Nós negamos as perdas.

Nós nos reprimimos.

Eles voltaram depois para nos assombrar.

Seria bom voltar hoje a Durban,
para cumprir minha promessa

de entregar a foto para a família dele.

É uma forma de homenagear
a vida de Sthembiso.

Essa era a essência da nossa luta.

Lutei a vida toda contra o oceano.

Foi uma luta contra a força da natureza.

Contra o medo, contra mim mesmo.

Meu nome é Felipe Pomar.

Tenho 77 anos.

Nasci em Lima, no Peru.

Ganhei o 1º campeonato
mundial oficial de surfe.

Felipe Pomar, o único peruano na final,

desafiando os melhores do mundo.

Depois de ganhar o campeonato mundial,

faltava demonstrar

que eu era o melhor surfista
de ondas grandes do mundo.

Naquele tempo,

não havia uma competição oficial
referente a isso.

Só alguns poucos loucos queriam surfar
ondas de dez metros de altura.

Um dia, surfando sozinho
numa praia chamada Laniakea…

percebi que a onda ia cair em cima de mim
e que essa onda era muito grande.

Naquele momento,
eu me senti transportado para outro lugar.

E o que eu vi foi uma luz.

E, ao longe, vi um corpo flutuando.

Pensei: "De quem será esse corpo?"

Nesse momento, o corpo se virou…

VIVA MUITO, SEJA FORTE

…e tinha o meu rosto.

Pensei: "Acho que isso é muito sério."

Comecei a dar braçadas
para tentar subir e respirar.

"Só aguento mais uma braçada.

Vou respirar ou me afogar."

Respirei e, por sorte,
tomei um pouco de ar.

Tive um corte aqui.

Pedi ao médico

se podia colocar algo em mim
para deixar a ferida à prova d'água.

O médico respondeu:
"Por quê? Não pode entrar na água."

Eu, na hora, disse:
"Doutor, não vamos perder tempo.

Vou voltar a entrar no mar."

Depois de vários meses,

eu estava pronto para ir atrás
da maior onda de todos os tempos.

Um tsunami gigante.

CIDADE DO VATICANO

As pessoas que não têm medo me preocupam.

As pessoas que se deixam

dominar pelo medo me preocupam.

Você precisa dialogar com o medo.

Lembro que fomos ao cinema
assistir a um filme sobre paraquedas.

Um homem saltava com um guarda-chuva…

como se fosse um paraquedas.

Quando chegamos em casa, meu quarto irmão,

que era muito novo,

saltou do terraço com um guarda-chuva.

Ele quebrou o braço.

Quer dizer, ele não pensou no medo.

Ele não teve medo.
E, naquele momento, era preciso ter medo.

LÍBANO
BEIRUTE

Venham, meninas.

Oi!

Este prato é o kebab de cereja, de Alepo.

É um prato muito conhecido. É palestino.

Sírio de Damasco.

É uma expressão da nossa região.

Foi isso que cozinhamos.

Estamos esperando Gisèle chegar
antes de começarmos.

Vamos, Gisèle! Estamos esperando Gisèle!

Gisèle!

GISÈLE ASSOUAD SABBAGH
87 ANOS

Meu nome é Gisèle Assouad Marie Sabbagh.

Nasci na Síria, em Alepo.

Vim para Beirute
por causa de uma guerra em Alepo.

Beirute é agora meu segundo país.

Moro no Líbano há dez anos.

Infelizmente,
tenho que ir embora em alguns dias.

Vou morar na França com minha filha.

Muito bem, Gisèle.

Não quero, mas somos refugiadas.

Até as jovens que chegam aqui

para bordar
e fazer trabalhos de alfaiataria…

Às vezes, elas começam a chorar.

"O quê? Vai nos deixar?

"Como vamos fazer isso sem você?"

Vamos lá!

Divirtam-se.

Estou indo embora de Beirute
com grande tristeza,

porque eu gosto da vida que levei aqui.

As montanhas, as pessoas.

Gosto de como pensam,
de como vivem a vida.

A bela Beirute,

a Beirute que eu amei

virou uma Beirute sob ataque,

uma Beirute destruída.

BEIRUTE
4 DE AGOSTO DE 2020

A centenas de metros da zona portuária,

nada parece ter resistido à explosão.

Os edifícios mais próximos
foram reduzidos a ruínas.

A cidade mudou muito.

Agora, é muito difícil pagar o aluguel,

comprar o que precisamos.

Não só para nós, mas para todos.

As pessoas não têm mais dinheiro
para comprar comida.

Isso me deixa muito triste.

Mas foi o que aconteceu.

Na próxima segunda,
vamos voar para a França.

A vida é uma luta constante.

Agora a luta está ficando mais difícil.

DURBAN
ÁFRICA DO SUL

CHEGADAS DOMÉSTICAS

Para mim, era importante vir a Durban,

encontrar a família do Sthembiso.

Sthembiso é uma pessoa
importante para mim,

mas ele também é um símbolo de Durban

da década de 1980,

uma época muito difícil,

de muita dor,

mas também de muita expectativa.

Aqui é a área onde eu cresci.

Quando crianças, corríamos por aqui.

Morávamos em um gueto bastante diverso.

A rua onde eu morava

ficava a uma rua de distância
de onde a comunidade branca começava,

então praticamente havia uma divisão.

O novo governo do apartheid
iniciou sua política de apartheid.

JOVEM OMAR E AMIGOS

Quando íamos ao parque,

não podíamos usar os balanços.

Eram para os brancos.

Todos os hotéis, restaurantes
e parques de diversões…

JOVEM OMAR E IRMÃOS

…eram segregados.

Enquanto crescíamos,
sempre éramos lembrados

de que estávamos lutando pela liberdade.

Tenho sentimentos contraditórios
vindo a este edifício,

mas também tenho boas lembranças.

Aqui ficavam nossos escritórios.

A primeira porta à sua esquerda
era a câmara escura.

Um dia, um camarada veio bater
na minha câmara escura

e me apresentou ao Sthembiso dizendo:

"Por favor, cuide dele."

Só isso. Sem perguntas.

Ele veio e trabalhou comigo,

na clandestinidade,

para executar uma luta armada
para derrubar o Estado.

Em 1974,

houve um grande terremoto em Lima.

Um amigo e eu decidimos entrar no mar,

para surfar as ondas
criadas pelo terremoto.

São chamadas de ondas de tsunami.

Para mim, era uma oportunidade
de surfar a maior onda do mundo.

Nunca tinha visto nada assim.

Um mar enlouquecido.

Ondas vindo de todos os lados
ao mesmo tempo.

De repente, de um lado,

vi uma onda jogando um barco de pesca,

que voou pelo ar

e se chocou contra uma rocha.

Num instante, o barco se transformou
em pedacinhos de madeira.

Sempre tinha pensado no mar como um amigo.

Foi aí que me dei conta

de que o mar não me entende,
não me ama e não é meu amigo.

É pura natureza.

Foi quando o medo veio me ajudar.

Eu disse ao meu amigo:
"O plano é o seguinte.

Temos que pegar a primeira onda,
surfá-la o maior tempo possível

e chegar à praia.

Talvez seja a última onda da sua vida."

Comecei a surfar e peguei a onda toda

até virar espuma.

Chegando em terra firme,
ficamos tão felizes

que começamos a nos abraçar
e a dançar juntos.

Enquanto dançávamos,

olhei para o mar
e percebi que estava recuando.

Disse ao meu amigo: "Corra!"

Saímos correndo.
Não sabíamos o que o mar ia fazer.

A sabedoria que obtive
de tantos anos no mar é muita.

O mar ensina humildade,

porque, não importa quem você seja,

o mar vai humilhá-lo.

BEIRUTE
LÍBANO

- Alô.
- Alô, Youssef. Como vai?

Oi, vou bem. E você?

Muito bem. Quero te ver logo.

Está pronto para nos receber?

- Sim, quero ver vocês logo.
- Quer nos ver logo, habibi!

- Boa sorte com os preparativos.
- Claro.

Mal posso esperar para ver vocês.

Muito bem. Tchau, amor.
Até logo. Tchau, habibi.

Youssef é filho da Zena

e é engenheiro em Nantes.

Zena decidiu ir ficar com o filho.

Sim, é lindo.

Sou obrigada a ir com ela,
porque não quero ficar sozinha.

A parte mais difícil é a mudança.

É a segunda mudança na minha vida.

Esta aqui sou eu. Eu era muito jovem.

Vivíamos em Alepo como princesas.

Andávamos de bicicleta,
íamos ao cinema com os amigos.

Eu adorava dançar e nadar.

Eu adorava rir.

A Síria é minha alma.

Infelizmente, não posso mais voltar.
É muito perigoso.

A guerra destruiu tudo de bonito em Alepo.

ALEPO
SÍRIA

Fomos arrancadas de nossas raízes,
mas aceitamos.

Temos que continuar vivendo.

Não me sinto velha.

Eu me sinto jovem.

Mas não quero ser
um fardo para minha filha

nem para o meu neto.

Minha avó nos contava uma história.

Em seu dialeto,
ela nos ensinou muitas coisas.

Havia uma bela família com crianças.

O avô morava com eles, um viúvo,
e começou a envelhecer…

À mesa, a mão dele tremia,
ele comia e se babava ou se sujava…

Claro, não podiam convidar
as pessoas para comer com eles,

por causa do avô, que fazia um papelão.

Então, o pai disse: "Vejam bem."

Ele explicou à família:

"A partir de amanhã,
o vovô vai comer na cozinha."

Ele o descartou.

"Assim, poderemos convidar amigos
e comer em paz."

Concordaram sem discutir.

Alguns dias depois, ele chegou do trabalho

e viu seu filho de seis anos

brincando com martelos, pregos, madeiras…

"O que está fazendo?"

"Uma mesa."

"Para quê?"
"Para você, para quando ficar velho."

Bom dia, companheiras e companheiros.

Lembramos que ainda estão sintonizados
na nossa rádio comunitária,

Rádio La Voz Lenca,

e estamos enviando mensagens de carinho

à nossa companheira
Austra Bertha Flores López,

que está fazendo 88 anos.

Meu nome é
María Austra Bertha Flores López.

Sei muito da vida.

Fui prefeita do município
de La Esperanza três vezes.

Também fui governadora.

Depois, deputada no Congresso Nacional.

É muito importante criar lutas
para defender os mais fracos.

Parabéns pra você

Nesta data querida

Muitas felicidades

Muitos anos de vida

E agora…

Bravo!

- Saúde!
- Saúde!

Que ela faça 120 anos!

Vamos torcer por 100 anos!

Não tenho medo de nada,
nem da morte, nem de nada.

JUSTIÇA PARA BERTA

Tenho que ser corajosa,

para que capturem os responsáveis,

aqueles que pagaram,

aqueles que ordenaram
o assassinato da Bertinha,

que era minha filha caçula.

Não podemos ser ingênuos
contra esse poder.

Fora!

À humanidade dos companheiros
nesse processo de recuperação de terras.

Bertinha foi um exemplo de lutadora,

uma lutadora contra o poder econômico,

para que os povos indígenas fossem vistos
e não fossem discriminados.

Às 2 da manhã, alguém me ligou.

Eu me lembro bem da hora.

Ouvi o telefone tocar e atendi.

Só disseram: "Dona Bertha,
Bertinha foi assassinada."

E desligaram.

E você pode imaginar.
Eu estava sozinha. Enlouquecida.

Por volta da meia-noite,
entre 2 e 3 de março de 2016,

nossa companheira e líder Berta Cáceres

estava na casa dela, em La Esperanza,

quando os assassinos forçaram a porta

e um grupo armado de assassinos
dispararam e tiraram sua vida.

Justiça!

Eu não vou morrer
sem ver a verdadeira justiça.

DURBAN
ÁFRICA DO SUL

Nos anos 1980, começamos a criar bases

para montar grupos armados.

Alguns líderes se exilaram,

para treinar pessoas
para uma guerra de longo prazo.

Outros se envolveram em montar redes lá,

para que pudessem infiltrar
soldados no país.

Uma noite,

bateram na minha porta.

Lá estava um homem.

Ele era velho, tinha cabelos brancos.

Ele me perguntou: " Você é o Omar?"
Eu respondi que era.

"Sou pai do Sthembiso."

Ele me disse

que Sthembiso tinha morrido.

Ele foi morto pela polícia.

Ele era um amigo, um amigo próximo,
mas foi morto e estava morto.

Como se lida com uma situação assim?

Eu não queria contar
que conhecia o filho dele.

Eu não tinha certeza de quem ele era.
Poderia ser um informante da polícia.

Era preciso ter muito cuidado.

Foi um choque.

Mostrar qualquer empatia,

ou sinal de fraqueza, de choro ou de luto…

Esse é o preço que se paga

e a dor que se é submetido.

Essas coisas traumatizaram muitos de nós.

Não conseguíamos lidar
com a vida normal depois disso,

porque vivenciamos muitas situações assim.

Estamos indo para onde Sthembiso morava.

Os pais dele faleceram.

Vou visitar a sobrinha dele.

É difícil explicar o sentimento.

"Entusiasmo" não é a palavra certa.

Só espero que dê tudo certo.

Boa tarde. Como vai?

Jovem.

Olhe…

Dona Austra Bertha Flores López, prefeita,

declarou a sessão aberta.

Sim, tem todas as assinaturas.

Quando fui prefeita,

havia seis mulheres comigo
como vereadoras.

Trabalhei muito.

Primeiro, contra a discriminação racial.

Na época, os indígenas
eram tratados de forma depreciativa.

As mulheres indígenas
eram completamente invisíveis.

Eu me dei conta
de que precisava erguer a cabeça

para participar da política,

e acreditar que não servíamos
apenas para cozinhar,

para parir filhos,

mas que também tínhamos
que lutar por nossos direitos.

Bertinha me ajudava muito na política.

E essa foi a origem da grande luta dela.

Não só pelos direitos das mulheres,
mas também dos indígenas.

Temos denunciado constantemente

a discriminação e o racismo
que foram cometidos

contra o povo lenca,

por não reconhecerem
seus direitos históricos

de defender os rios,
como o sagrado Rio Gualcarque.

Por muito tempo,
ela recebeu ameaças de morte,

foi insultada e maltratada
pelas autoridades

que protegem as empresas
das grandes represas

que estão construindo no Rio Gualcarque.

Bertinha tinha saído daqui
havia poucos dias.

Eu perguntei:
"Bertinha, por que vai embora?

Você foi minha companheira a vida toda.

Você não me incomoda aqui.
Pelo contrário."

Ela disse: "Não, mãe.
Não quero pôr a senhora em risco."

Ela me disse que queriam matá-la.

Pelo que está lutando?

É pelos seus filhos?

Como luta pelos seus filhos?

Você luta pelos seus pais,
não pela herança financeira,

mas pela herança cultural,
pelas raízes da sua vida, não?

Lute para manter as raízes,

lute pela tradição,

que não significa tradicionalismo.

Uma tradição crescente.

A tradição estática não serve.

Essa é a verdadeira tradição,
não aquela que te prende,

mas aquela que te inspira,
aquela que te empurra para a frente.

Lute pelas suas raízes.

É só isso.

BEIRUTE
LÍBANO

É difícil dizer adeus a elas.

Quando as mulheres chegaram,

nem mesmo as bordadeiras
sabiam segurar uma agulha.

Vai ser muito difícil para mim,
muito triste.

Mas não quero mostrar a elas
o quanto isso está me afetando.

Vou me comportar normalmente,

mas vai partir meu coração.

Quero mudar meu coração.

Quero levá-lo para a França,

para viver uma vida feliz.

NANTES
FRANÇA

Se continuarmos chorando
e pensando no passado,

não vai dar certo.

Eu tenho que lutar
para continuar vivendo uma vida melhor

com minha família.

Eu amo muito o Youssef.

Eu o criei quando ele era criança.

Eu o ensinei a cantar.

Ele dormia do meu lado.

Oi!

Oi!

- Oi, Youssef!
- Oi!

Bem-vinda!

Obrigada. Sua casa é bonita.

Como vai?

Não estou cansada, porque estou feliz.

É assim que eu vivo.

Eu vivo cheia de esperança.

Dedico este prêmio à minha mãe.

Aos mártires pela defesa
dos bens da natureza.

Muito obrigada.

PRÊMIO AMBIENTAL

Este é o Prêmio Goldman.

Fui com ela para recebê-lo nos EUA,

como defensora da Mãe Terra.

Bertinha era uma amiga, uma companheira,

uma filha muito amorosa,

uma lutadora incansável.

Poucos meses depois que ela saiu daqui,
ou talvez semanas, ela foi assassinada.

Isso marcou a minha vida
de uma forma horrível.

- Berta vive!
- A luta continua.

- Sangue de mártires!
- Justiça e liberdade!

Após o assassinato da Bertinha,
achei que ia morrer de tristeza,

mas logo eu disse "não".

O sangue que ela derramou
tem que ser um exemplo de coragem.

Justiça!

Se você não luta,

fica paralisado ou é um perdedor.

Justiça!

Meus netos e netas que sofreram
com o assassinato da mãe deles

também seguiram meu exemplo
de participação na política.

Para mim, isso é uma recompensa.

depois de tanta luta, tanto trabalho
e sofrimento que passei na vida.

Mas isso não me fez baixar a guarda.
Continuo na luta.

Oi. Como vai?

- Que bom ver você! É um prazer.
- Prazer em vê-lo!

Faz muito tempo.

Seus avós faleceram?

Preciso mostrar uma coisa.

Trouxe algumas fotos,

que eu tirei…

Fico feliz por ter tirado esta foto

do Sthembiso.

Pois é.

Pois é.

É.

- Triste.
- Muito.

Esta aqui é…

Não quero falar disso. É…

Eu sei. Não é fácil.

- Traz lembranças…
- É como se tudo…

- É uma história de família.
- Exato.

Quando terminei de tirar as fotos,

ele me disse:
"Camarada, vou embora hoje de noite.

Vou embora do país."

Eu disse: "Sthembiso,
você não devia me contar isso.

Devia ser segredo.

Está quebrando a regra.

Ele disse: "Não, mas preciso te contar.

Você é mais velho que eu
e confio em você."

Ele pediu, caso algo acontecesse,
que entregasse para a família dele.

Era fácil de trabalhar com ele?

Era uma criança fácil de se lidar,
mas era tão tímido!

Ele não era agressivo nem nada.
Ele era muito gentil.

Dá para ver só de olhar as fotos dele
que ele não era uma pessoa ríspida.

Sabe quando só conhece
a pessoa de ouvir falar?

"Ele morreu de tal forma
e foi assim que aconteceu."

Pois é, então…

Isto é muito lindo.

- Sim.
- É bem lindo.

Eu só queria dizer

que estou agradecida.

- É muito importante.
- Não, eu que agradeço por me receber.

Também temos que comemorar a vida deles,

porque eles deram a vida deles…

Verdade.

…pela luta.

- Por isso estamos aqui.
- Sim.

Você nunca está velho demais

para lutar pelo que tem dentro de você
e pelo que arriscou sua vida,

se tiver a alma aberta,

se tiver o coração aberto.

Agora, se seu coração
está endurecido e fechado,

você já ficou velho.

E há jovens de 50 anos que já são velhos.

Há jovens de 30 anos que são velhos,
porque têm um coração endurecido.

Impermeável, nada entra.

Quem não tem memória não sabe lutar.

Não podemos nos esquecer
de quem faz história.

Sthembiso Nzuza
é uma linha num artigo de jornal.

Precisamos escrever uma nova história.

Não uma história
de grandes nomes e de figurões,

mas uma história de pessoas comuns.

São elas que fazem história.

Esse é um legado que devemos manter vivo.

Qualquer luta no mundo
é uma luta pela mudança.

Santo Padre,
vamos ao último tema: trabalho.

O trabalho é o que torna alguém digno.

Sem trabalho, não há dignidade.